Sobre os estudos feministas de Oseias 1-3

Brad E. Kelle, no citado artigo, explica as abordagens feministas de Oseias 1-3 que emergiram especialmente a partir da década de 80 do século XX. Cito trechos das páginas 197-199:

Beginning in the 1980s, the rising tide of feminist criticism swept into Hosea scholarship alongside the primary currents of historical, comparative, and theological studies (for general surveys, see Boshoff 2002; Baumann 2003: 8-23; Sherwood 2004: 254-322). Within a few short years, gender-based studies came virtually to dominate Hosea scholarship, and chs 1–3 quickly became one of the primary foci of feminist biblical criticism in general.

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The emergence of feminist-critical studies marked a significant shift in Hosea scholarship. As seen above, prior to the 1980s, scholars largely explored Hosea’s marriage metaphor under a theological and historical rubric, emphasizing the experiences of Hosea and the nature of Yahweh’s love (cf. the continuation of this approach in Seifert 1996). Since the rise of feminist criticism, the metaphor has increasingly been examined under topics like pornography and sexual violence (Baumann 2003: 8).

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The basic feminist critique of Hosea 1–3 focuses on both the text’s content and implications, especially the ideological constructions of the imagery and how they shape women’s experiences: the discourse objectifies female sexuality, denies any significant subjectivity to the woman, establishes a hierarchical relationship that equates the divine with male and the sinful with female, and legitimates physical and sexual violence against a woman.

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Another strand of feminist criticism of Hosea 1–3 offers a critique not only of the content of the chapters, but also of the ways in which ancient and modern, especially male, biblical commentators have identified with the text’s imagery, adopted its ideological biases, and reinscribed its misogyny. These critiques often make the observation that commentators have traditionally sympathized almost completely with the purportedly abandoned husband, and ignored Gomer and the children.

 

 

A partir da década de 1980 a crescente onda de críticas feministas invadiu os estudos de Oseias, juntamente com as principais correntes de estudos históricos, comparativos e teológicos. Dentro de poucos anos os estudos baseados em gênero virtualmente dominaram a abordagem acadêmica de Oseias, e os capítulos 1 a 3 tornaram-se rapidamente um dos principais focos da crítica bíblica feminista em geral.

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O surgimento de estudos feministas críticos marcou uma mudança significativa nos estudos de Oseias. Antes dos anos 80 os estudiosos exploraram amplamente a metáfora do casamento de Oseias sob uma ótica teológica e histórica, enfatizando as experiências de Oseias e a natureza do amor de Iahweh. Desde o surgimento da crítica feminista, a metáfora tem sido cada vez mais examinada em tópicos como pornografia e violência sexual.

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A crítica feminista básica de Oseias 1-3 estuda o conteúdo e as implicações do texto, especialmente as construções ideológicas do imaginário e como elas moldam as experiências das mulheres: o discurso objetifica a sexualidade feminina, nega qualquer subjetividade significativa à mulher, estabelece uma relação hierárquica que iguala o divino ao masculino e o pecaminoso ao feminino e legitima a violência física e sexual contra uma mulher.

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Há muitas e diferentes abordagens feministas de Oseias. Uma vertente, por exemplo, faz uma crítica não apenas ao conteúdo dos capítulos, mas também às maneiras pelas quais os comentaristas bíblicos antigos e modernos, especialmente os masculinos, identificaram-se com as imagens do texto, adotaram seus preconceitos ideológicos e reinscreveram sua misoginia. Essas críticas muitas vezes observam que os comentaristas tradicionalmente simpatizavam quase completamente com o marido supostamente abandonado, e ignoraram Gomer e os filhos. Tais comentaristas, ao olhar para Gomer em Oseias 1-3, oscilam entre a fantasia erótica e a condenação moralista.

Ainda sobre a pesquisa de Oseias 1-3 no século XX

Brad E. Kelle em seu artigo, p. 182, indicado aqui, sintetiza a pesquisa sobre Os 1-3 ao longo do século XX da seguinte maneira:

From the early 1900s to the 1980s, the primary interpretive trends of Hosea 1–3 focused on the biography of the prophet and the historical-, form-, and text-critical analysis of the text’s language and imagery (e.g., Harper 1905). Investigations prior to the 1930s dedicated much energy to reconstructing the details of Gomer as an unfaithful wife, while scholarship from the 1930s forward increasingly emphasized the purported background of a sexualized Baal cult in eighth-century Israel, with an increasing emphasis on identifying comparative ancient Near Eastern traditions that shed light on the text’s imagery. Beginning in the 1980s, feminist-critical readings and gender-related issues came to the fore. In subsequent years, a particular focus on metaphor, literary, and symbolic analyses have joined the variety of gender-focused treatments, resulting in new literary and socio-historical readings that revisit older issues and offer previously unseen ways of conceptualizing the book of Hosea as a whole, as well as the marriage metaphor with which it begins.

De 1900 até por volta de 1980, as principais tendências interpretativas de Oseias 1–3 priorizaram a biografia do profeta e as análises histórico-crítica, formal e textual da linguagem e das imagens do livro. Investigações anteriores à década de 30 dedicaram muita energia à reconstrução dos detalhes de Gomer como uma esposa infiel, enquanto a pesquisa a partir da década de 30 enfatizou cada vez mais o suposto pano de fundo de um culto sexualizado de Baal no Israel do século VIII a.C., com ênfase crescente na comparação com tradições do antigo Oriente Médio que esclarecem as imagens do texto. A partir dos anos 80, as leituras crítico feministas e as questões relacionadas a gênero vieram à tona. Nos anos subsequentes, um enfoque particular nas análises metafóricas, literárias e simbólicas juntaram-se à variedade de tratamentos focados no gênero, resultando em novas leituras literárias e sócio-históricas que revisitam questões antigas e oferecem maneiras nunca antes vistas de conceituar o livro de Oseias como um todo, assim como a metáfora do casamento com a qual ele começa.