Apocalíptica: literatura de resistência

Os desastres se sucederão. Haverá boato sobre boato.

Na segunda-feira, 29, no Segundo Ano de Teologia do CEARP, começamos o estudo da literatura apocalíptica judaica, item da Literatura Pós-Exílica.

É uma introdução ao tema, com exemplos do livro de Daniel e de alguns apócrifos.

A citação acima é de Ezequiel. Falando da crise que se aproxima no confronto com a Babilônia, no século V a.C., o profeta alerta: “Os desastres se sucederão; haverá boato sobre boato. Buscar-se-á uma visão de profeta, mas a lei fará falta ao sacerdote, e o conselho aos anciãos” (Ez 7,26).

Acabei de ler um artigo sobre a pesquisa do livro de Daniel nos últimos 20 anos.

Recomendo:

MERRILL WILLIS, A. C. A Reversal of Fortunes: Daniel among the Scholars. Currents in Biblical Research, Vol. 16(2), 2018, p. 107­–130.

Quem é Amy C. Merrill Willis?

Amy C. Merrill Willis

 

Geocodificação: localidades bíblicas no Google Earth

Bible Geocoding: The location of every identifiable place mentioned in the Bible.

Bible Geocoding

Complete Bible. Also available: KMZs arranged by book and by chapter. Turn book or chapter layers on and off to see patterns across the Bible. Use Google Earth to open KML and KMZ files.

Atlas: the atlas lists all the places alphabetically, complete with thumbnails, verses, and photos (when available).

Overlays: overlays for Google Earth let you see how maps of ancient and modern Jerusalem fit satellite imagery.

Bodies of Water: download a KML with outlines of the most of the bodies of water in the Bible.

Photos: about 10,000 photos of places in the Bible. These photos use the Flickr and Panoramio APIs and are thus of varying quality—many of them just happen to be of people or places near the ancient locations. But a lot of the photos are quite helpful: see Beersheba, Capernaum, and Ur, for example. I recommend BiblePlaces.com for professional-quality photos of places in the Holy Land. Todd Bolen has done a fantastic job taking and collating photos.

O que é geocodificação?

A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período, tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.

Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon.com.br. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.

DAVIES, P. R. ; RÖMER, T. (eds.) Writing the Bible: Scribes, Scribalism and Script. Abingdon: Routledge, 2014, 224 p.

5. A época persa – The Persian Period and Beyond

A época persa tem sido extensamente reavaliada nos estudos da última década. Se há uma mudança de paradigma nos estudos, é aqui que ela acontece. Propostas estão sendo abandonadas, como a de uma “revolução religiosa” no Yehud ou, pelo menos parcialmente, a teoria da Autorização Imperial Persa. Estas propostas podem ser conferidas em E. Stern, 1999, 2006, 2010; Christian Frevel et alii, 2014; James W. Watts, 2001.

Constata-se que na época persa surgiu um significativo interesse pelo passado, presente na visão bíblica da história que então se desenvolveu. Assim, têm sido publicados muitos estudos recentes sobre o período persa, considerado como época crucial para a formação textual de todos os tipos, incluindo o Tetrateuco, Pentateuco, Hexateuco e Eneateuco, bem como de outros materiais que tentam pensar a identidade judaica.

Por exemplo: Erhard Blum, em T.B. Dozeman ; K. Schmid (eds.), A Farewell to the Yahwist? The Composition of the Pentateuch in Recent European Interpretation (2006) e em  T. B. Dozeman ; T. Römer ; K. Schmid (eds.), Pentateuch, Hexateuch or Enneateuch? Identifying Literary Works in Genesis through Kings (2011); J. C. Gertz, em T. B. Dozeman ; K. Schmid (eds.), A Farewell to the Yahwist? The Composition of the Pentateuch in Recent European Interpretation (2006); Thomas Römer, em Joel S. Baden (ed.), The Strata of the Priestly Writings: Contemporary Debate and Future Directions (2009); Konrad Schmid, 2007, 2012a e 2012b; Thomas Römer & M.Z. Brettler, 2000; E. Ben Zvi, 2011; David S. Vanderhooft, 2011; J. Berquist, 2006.

A Obra do Cronista também tem sido reavaliada. O Cronista sempre foi relegado a segundo plano, quando comparado com a Obra Histórica Deuteronomista quanto à sua peculiar reconstrução histórica. Mas hoje, como sugere E. Ben Zvi, em 2009, podemos avaliar o seu poderoso senso de centralidade “etnocultural”, que parece ter sido uma característica da época persa. O Cronista queria apresentar aos seus leitores uma visão diferente da perspectiva Deuteronomista. Por isso suas divergências.

Outros chamam a atenção para os erros e contradições do livro de Esdras, ao mesmo tempo em que defendem a historicidade das memórias de Neemias (Ne 1,1-7,5; 12-13). Assim, Lester L. Grabbe, 1998; David M. Carr, 2011; J. Blenkinsopp, em James W. Watts (ed.), Persia and Torah: The Theory of Imperial Authorization of the Pentateuch (2001).

Tudo isso nos mostra que, para compreendermos a reconstrução pós-exílica, devemos olhar menos o período imediato após a ascensão de Ciro, no século VI a.C., e muito mais o final da época persa, ou seja, o final do século V e o começo do seculo IV a.C. Nesta época é que teria ocorrido a “recuperação” do passado de Israel pelos autores bíblicos.

Observa-se, então, que os principais estudos da época persa não buscam a descoberta de novos dados, embora isto também tenha ocorrido, mas a interpretação de dados já conhecidos com métodos mais adequados. Como observa Ian D. Wilson, em 2016, a questão não é se alguns corpora bíblicos contêm material que remonta à Idade do Ferro, o que já foi demonstrado, mas como este material está representado nas formas discursivas pós-monárquicas. O que parece ser urgente é a construção de um modelo mais eficaz que consiga relacionar a história das tradições bíblicas com a construção de sua narrativa em um tempo determinado por um limitado grupo de atores.

Neste sentido trabalha K. L. Noll, em 2008, quando questiona o alcance das tradições bíblicas: em que proporção as tradições bíblicas chegaram às pessoas que viveram naquela época e naquela região? Parece cada vez mais claro, por exemplo, que muitas tradições nunca chegaram em Elefantina. Philip R. Davies e Thomas Römer, em 2014, também discutiram isso. Os ensaios desta obra tratam da divulgação de textos, da formação de livros e cânones e dos efeitos sociais e políticos da escrita e do conhecimento textual. As questões centrais discutidas incluem o status do escriba, a natureza da “autoria”, a relação entre copiar e redigir e o status relativo do conhecimento oral e escrito.

Quanto tempo demorou para a Bíblia se tornar, não apenas canônica, mas “sagrada”? Quer dizer: tratada com o respeito devido às Escrituras como autoridade última e como algo que não poderia mais ser alterado. Datas limites para a canonização têm sido apresentadas de maneira consistente, mas a questão da “sacralidade” está apenas começando a ser tratada. Michael L. Satlow, em 2014, aborda isso.

Os estudos de Eva Mroczek, de 2015 e 2016, sobre a cultura literária extrabíblica, em épocas em que tipicamente se presumia uma “hegemonia do bíblico”, são importantes. Thomas Römer também estudou, em 2012, a relação entre as narrativas bíblicas e o mundo mais vasto dos textos judaicos posteriores.

No último parágrafo do artigo, Andrew Tobolowsky nos diz que estes estudos não apenas descrevem o que está sendo pesquisado sobre a época persa e sua literatura, mas nos indicam o rumo que as pesquisas estão tomando. Devemos continuar enfrentando estas questões, tentando descobrir o que significa uma visão bíblica de história criada em um contexto específico por um conjunto específico de razões. E são diferentes interpretações de uma mesma história. Mais: histórias que levaram algum tempo para se tornar um relato significativo das vivências de Israel. Conhecer isso determinará o modo como contaremos a história, ou melhor, as histórias de Israel. Isto está apenas começando.

SATLOW, M. How the Bible Became Holy. New Haven: Yale University Press, 2014, 416 p.

No period in the traditional sequence of biblical history has undergone a greater paradigm shift in the last decade than the Persian period. While various more dramatic proposals about it seem to have been largely set aside (e.g., Stern’s theory of a ‘Religious Revolution’ in Yehud and to a certain degree the so-called Persian Imperial Authorization theory [Stern 1999; 2006; 2010; Frevel, Psychny, and Cornelius 2014; Watts 2001]), many of the relevant developments have to do with reassessments of what has actually long been visible.

It now seems likely that the late Persian period did feature the kind of revival of interest in the ancient Israelite past that might explain its importance as the locus in which the biblical vision of history finally emerged (Lipschits and Vanderhooft 2006, 2014; Vanderhooft 2011: 540; Frevel and Pyschny 2014; Leith 2014; Bocher and Lipschits 2013; Wyssmann 2014). There have therefore been a number of studies recently on the Persian period as the crucial site for textual formation of all sorts, including of the Tetrateuch, Pentateuch, Hexateuch, and Enneateuch, as well of other materials focused on the formation of familiar biblical ways of thinking about ethnic identity at that time (Blum 2006; 2011; Gertz 2006; Römer 2009; Schmid 2007, 2012a, 2012b; Römer and Brettler 2000; Ben Zvi 2011a, 2011b; Knoppers 2001, 2003; Vanderhooft 2011; Berquist 2006).

Indeed, as Ben Zvi (2009: 60) suggests, the composition of Chronicles, Ezra, and Nehemiah may even have been motivated by an explicit desire ‘to shape, communicate, and encourage its readers to… vicariously relive through their reading a somewhat different past than the one shaped…through the reading of the deuteronomistic history, and for that matter, the Primary History’ (2009: 60). As a composition, it is ‘strongly shaped by the powerful sense of “ethnocultural” centrality that characterized the postmonarchic and most likely Persian-period works that eventually became included in the HB’ (2009: 77).

Others, in reconstructing the overall shape of Persian-period interactions with the biblical past, have drawn attention to the ramifications of the historiographical errors (and contradictions) in the account of the immediate aftermath of the Persian conquest in the book of Ezra. By contrast, there is also a growing consensus with respect to the plausibly historical character of the so-called ‘Nehemiah Memoir’, usually located in Neh. 1.1–7.5 and 12–13 (Grabbe 1998: 122-23, 152; Carr 2011: 205-208; Blenkinsopp 2001: 57). The combination of these factors, demonstrating that the late sixth and much of the fifth century bce were remembered rather poorly by biblical authors and that Jerusalem was apparently still essentially a ruin by the middle of the fifth century, suggests that scholars should look to the late fifth and early fourth centuries bce —and not the immediate aftermath of Cyrus’s conquest—for the major locus of the Yehudite ‘recovery’ of an Israelite past.

So, again, the major trends operating in the study of the Persian period today do not have as much to do with the uncovering of new data, although this has also occurred, as they do with the replacement of flawed models of tradition inheritance and representation with approaches more in tune with contemporary theorizing. As Wilson notes, the overall issue is not whether any biblical corpora contain material that dates to the Iron Age, as it seems clear that many do. Instead, it is that nevertheless their repetition in biblical form is primarily ‘representative of distinctly postmonarchic discursive formations’ (2016:6).

What now seems most necessary in confronting the biblical account of the past—as intimated in this article’s introductory discussion of theoretical trends—is the development of a new and more active model of the relationship between the history of biblical traditions and their construction into a comprehensive narrative account within a fairly limited time horizon by a fairly limited number of actors.

In this vein, Noll’s (2008) recent discussion of the flaws in typical approaches to doctrinal dissemination is very valuable. As he points out, despite nearly constant assumptions to the contrary, it is actually quite difficult to explain how biblical traditions would ever have reached most of the people who had lived in the region historically, and it now seems increasingly clear that many such traditions had not reached, for example, the Persian garrison at Elephantine. A similar discussion has also been produced by Davies, in a collection dealing generally with crucial issues in the writing of biblical literature (Davies 2014; Davies and Römer 2014). Obviously, what we can say about scribal culture, and when, must determine in large part how we reconstruct the reception of biblical and pre‐biblical texts throughout Israelite and Judahite history.

Michael Satlow (2014) has recently drawn attention to how very long it was before the Hebrew Bible was, in his term, ‘holy’, by which he means not just canonized but treated with the respect appropriate to scripture as an ultimate authority and as something that could no longer be altered. The late frontier of the former has been acknowledged consistently for some time, but the importance of the late date of the latter is just now beginning to be appreciated.

Towards that end, Eva Mroczek’s (2015; 2016) recent studies of extra-biblical literary culture, demonstrating its considerable creativity with respect to biblical subjects well into periods in which, in her term, the ‘hegemony of the biblical’ had been presumed, is of special importance.

Thomas Römer (2012) has also studied the possibility that biblical narratives were influenced by the wider world of Jewish textuality in later periods. In other words, neither the worlds of biblical textuality nor extrabiblical textuality were closed to each other or clearly dominated by the other until much later than has typically been supposed.

Not only do these studies represent crucial developments with respect to thinking about the Persian period and its literature, they are also intimations of where this field of study is generally likely to go. We will and must keep grappling with what it means that the biblical vision of history was ultimately created in a specific context, for a specific set of reasons; that it would not have matched everyone’s vision of the same history at that time or previously; and that, once completed, it did not immediately (or quickly) become the pre‐eminent account of  Israelite history. What this will do to how we tell the history—rather histories—of Israel is just now coming into view.

A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV

:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período, tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.

Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon.com.br. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008.

4. Os dois reinos, Israel e Judá, e o exílio babilônico – The Period of the Dual Monarchies and the Exile

Qual pesquisador ousaria, cinquenta anos atrás, escrever uma história que resgata o reino “esquecido” de Israel Norte como uma realidade totalmente distinta e independente de Judá? A falência da ideia de uma monarquia unida, vista no item anterior, ajudou a encaminhar a pesquisa nesta direção. Quer um bom exemplo? Israel Finkelstein em seu livro Le Royaume biblique oublié, de 2013, em francês, publicado no mesmo ano também em inglês como The Forgotten Kingdom: The Archaeology and History of Northern Israel, e em português, em 2015, como O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. A mesma coisa pode ser dita de Daniel E. Fleming, 2012.

Abordagens que usam fontes extrabíblicas, especialmente neoassírias, são as que mais claramente recuperam Israel Norte como um lugar historicamente distinto de Judá. Assim Mario Liverani, em 2003 [Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008] e Axel Knauf & Philippe Guillaume, 2016.

Muitos ensaios apresentados em congressos têm sido publicados. Por exemplo, as obras coordenadas por Lester L. Grabbe, em 2007 e 2011, resultantes das discussões do Seminário Europeu de Metodologia Histórica que durou 16 anos reunindo um grupo seleto de especialistas e que abordou algumas das questões mais importantes da História de Israel [confira as muitas publicações do Seminário nesta bibliografia aqui]. Sem nos esquecermos das várias obras do próprio Lester L. Grabbe, como, por exemplo, Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? London: T & T Clark, 2007 [Revised Edition: 2017].

Valiosas contribuições sobre os séculos X e IX a.C. estão também na obra coordenada por H. G. M. Williamson, em 2007. Para o século VII a.C., vale conferir os estudos de C. L. Crouch, publicados em 2014 (aqui e aqui).

Para a época do exílio e além, Oded Lipschits publicou, com outros autores, uma série de estudos sobre Judá e os judeus da época neobabilônica (2003 e 2005) e da época persa (2006 e 2011). Ainda sobre o exílio e a restauração: Brad E. Kelle et alii, 2011; Gary N. Knoppers et alii, 2009; Bob Becking et alii, 2009.

É importante notar que o mito da terra vazia foi denunciado em vários estudos. A ideia de que com o exílio dos judaítas para a Babilônia em 586 a.C. o território de Judá teria ficado vazio não se sustenta. Isto foi abordado desde 1996 por Hans M. Barstad. O tema voltou a ser tratado por ele, em 2008, e por outros, como Bob Becking et alii, em 2009; J. A. Middlemas, em 2009; Oded Lipschits &  J. Blenkinsopp, em 2003. O mito da terra vazia com a destruição do reino do norte em 722 a.C. também começa a ser estudado, como mostram M. Dijkstra & K. Vriezen, em 2014.

Finalmente, para terminar este item, o autor chama a atenção para o estudo de Uriah Y. Kim, Decolonizing Josiah: Toward a Postcolonial Reading of the Deuteronomistic History, de 2005. Ele denuncia a influência de nosso modo de fazer história moderna no Ocidente sobre o modo como entendemos a historiografia deuteronomista. O propósito do Deuteronomista jamais teria sido o de narrar os fatos tais como aconteceram, mas muito mais o de afirmar o espaço, talvez muito subjetivo, conquistado por Josias e sua corte no contexto do imperialismo assírio.

GRABBE, L. L. Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It?. London: T&T Clark, 2007; Revised Edition: 2017, 352 p.

The importance of recognizing the separate aspects of Judah’s history and development, then, has also meant the importance of reassessing what we think we know about Israel. Finkelstein’s recent The Forgotten Kingdom is an example of this genre, since only contemporary approaches even permit the conclusion that the kingdom of Israel has been ‘forgotten’ (2013). The same can be said about Fleming’s The Legacy of Israel in Judah’s Bible (2012). The necessity of sorting through ‘Judah’s Bible’ for traces of inherited legacy is a thoroughly contemporary exigency that would hardly have occurred to scholars fifty years ago.

More commonly, the recovery of Israel as a historical place distinct from Judah has found its expression in so-called scientific approaches that pursue the Israelite kingdom through extrabiblical evidence and an outward-looking organizational frame in order to avoid the subjectivity of Judahite memories of Israel. Liverani’s treatment certainly reflects more significantly on the imperial background of Israelite history than many earlier histories did (2005: 143-202). Notably, Knauf and Guillaume begin their discussion of the monarchy with sections titled ‘Saul to Jeroboam I’ and ‘Omri to Jeroboam II’ but continue, after these, with ‘From Tiglath-Pileser to Ashurbanipal’ and ‘From Nabopolassar to Nebuchadnezzar’ (2016: 103-68).

Perhaps the most notable result of the growing recognition that we know less about both the dual monarchical period and the Judahite exile is the appearance in recent years of an extraordinary number of volumes of essays, often produced from conference proceedings, aimed in part at revisiting questions thathad once seemed settled. For the monarchical period, Grabbe has been a particularly important figure in terms of organizing and publishing these collections (Grabbe 2011; Becking and Grabbe 2011). The volume Ahab Agonistes is particularly worthy of note as a contribution to the study of the Omride period (Grabbe 2007a)… Grabbe himself has been particularly interested in how biblical scholars know what they know, what the evidence really allows, and what needs to be reassessed (Grabbe 1997; 2007b; 2007c; 2007d).

Another collection, organized by Williamson, Understanding the History of Ancient Israel, also presents a number of valuable contributions particularly towards greater understanding of the tenth and ninth centuries bce (2007).

For the seventh century bce, recent studies by Crouch of the ethnic dynamics of the entire region in that period, and their results especially for considering the formation of deuteronomistic materials, are also worthy of note and provide a counter‐weight to the increasing tendency to date most biblical material much later than had previously been supposed (2014a; 2014b).

For the exilic period and beyond, Lipschits has been a crucial figure as editor and author. Specifically, he has collaborated with a number of scholars on the production of a series of volumes, published by Eisenbrauns, dealing sequentially with the state of Judah and Judeans from the Neo-Babylonian period onwards (Lipschits and Blenkinsopp 2003a; Lipschits 2005; Lipschits, Oeming, and Knoppers 2011; Lipschits and Oeming 2006). Other important collections dealing with the exilic period include Interpreting Exile: Interdisciplinary Studies of Displacement and Deportation in Biblical and Modern Contexts (Kelle, Ames, and Wright 2011); Exile and Restoration Revisited: Essays on the Babylonian and Persian Periods in Memory of Peter R. Ackroyd (Knoppers, Grabbe, and Fulton 2009); and From Babylon to Eternity: The Exile Remembered and Constructed in Text and Tradition (Becking, Cannegieter, and van der Pol 2009).

In terms of general trends relating to the exilic period, one issue that seems likely to be of crucial importance going forward is the so-called Myth of the Empty Land—that is, the idea that all Judahites, or even all wealthy and influential Judahites, were exiled to Babylon between 597 and 586 bce , leaving the land empty. This has been recognized widely as a myth since at least the 1996 study of Hans M. Barstad, but has since received a number of useful treatments by Barstad and others exploring the ramifications (Barstad 1996; Becking, Cannegieter, and van der Pol 2009; Middlemas 2009; Lipschits and Blenkinsopp 2003b; Barstad 2008: 135-60). One new front, which will likely also be of increasing importance, is the recognition that the conquest of Israel in 722 bce also produced a myth of empty land, as explored in a study by Dijkstra and Vriezen (2014).

Finally, in dealing with the monarchical period and the exile generally, Uriah Y. Kim’s study, Decolonizing Josiah: Toward a Postcolonial Reading of the Deuteronomistic History deserves special mention (2005). This work asks crucial questions about the effects of viewing the Deuteronomistic History, and by extension other aspects of the biblical narrative, through a set of expectations conditioned and produced by western ways of thinking about histories and nations themselves (…) In this light, for example, the common assumption that the deuteronomistic historian would have diligently pursued archival material because the purpose of the history was to describe the past as accurately as possible is revealed as a projection of western concepts of history. As an alternative, Kim suggests noticing that ‘Josiah’s kingdom was located in the ideological landscape of Assyrian imperialism where it was viewed as other’ (2005: 206). The Deuteronomistic History may have been written in part to assert the subjectivity of Josiah and his court themselves.

A História de Israel e Judá na pesquisa atual III

:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período, tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.

Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon.com.br. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.

FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, 220 p.

3. O Israel primitivo e a monarquia unida – Early Israel and the United Monarchy

Poucos estudiosos ainda dão algum valor histórico às narrativas bíblicas sobre épocas anteriores ao aparecimento de Israel em Canaã. São memórias vagas e distorcidas. As discussões sobre o período pré-monárquico também foram caracterizadas nos últimos anos por uma crescente hesitação em fazer afirmações concretas sobre a natureza das realidades étnicas anteriores à monarquia. Poucos duvidam de que a Estela de Merneptah seja uma forte evidência de que um grupo chamado Israel existia nas montanhas de Canaã já no começo da Idade do Ferro I, mas agora há um acordo quase unânime de que esse Israel era apenas um dos muitos grupos ativos naquela região e naquela época. Assim, por exemplo, Daniel E. Fleming, 2012; Amihai Mazar, 2007; Ann E. Killebrew, 2005. No entanto, enquanto para alguns essa maneira de pensar sobre etnia geralmente significa que um Israel pré-monárquico é muito difícil de ser reconstruído, para outros este “proto-Israel” está claramente relacionado com o Israel monárquico.

A controvérsia sobre a monarquia unida começou quando Israel Finkelstein publicou, em 1996, um estudo sobre as datações feitas com radiocarbono em vários sítios arqueológicos importantes da região, propondo o que se convencionou chamar de “cronologia baixa“. Ou seja: o que se atribuía ao século XI é da metade do século X e o que era datado na época de Salomão deve ser visto como pertencendo ao século IX a.C. Isto gerou grande debate no meio acadêmico e numerosos estudos foram publicados. Posições a favor e contra podem ser vistas no livro de 2007 que traz o debate entre Israel Finkelstein e Amihai Mazar. Esta é uma área complexa, pois envolve detalhes técnicos sobre datação por radiocarbono, difíceis para quem não é especialista. E também porque as discordâncias de Finkelstein e Mazar são sobre as interpretações dos dados e não sobre os dados em si.

Enfim, a “cronologia baixa” de Finkelstein sugere que não existiu uma monarquia unida, enquanto a “cronologia convencional modificada” de Mazar sugere uma monarquia unida na forma de um Estado incipiente e não um poderoso reino como diz a narrativa bíblica. Lembrando que muitos estudiosos têm se posicionado sobre esta questão com soluções variadas. Como Mahri Leonard-Fleckman em 2016 e Ze’ev Herzog & Lily Singer-Avitz em 2006.

Como Megan Bishop Moore e Brad E. Kelle observaram em 2011, não há evidência clara de Davi ou de sua atividade fora da Bíblia. Se ele existiu, terá sido apenas mais um chefe local na região montanhosa da Judeia. Talvez um dia Davi desapareça da história como desapareceram patriarcas, matriarcas e êxodo, mas atualmente ele continua a ser tratado pelos historiadores como um personagem real, embora bem menor do que aparece nos relatos bíblicos.

O personagem Davi e seu papel na literatura bíblica, muito mais do que o Davi histórico, tem ocupado alguns pesquisadores, como Ian D. Wilson em 2016. Ou a Jerusalém da época de Davi, como Daniel Pioske em 2015. Sem esquecer John Van Seters que, em 2009, investiga as razões da reinvenção da saga de Davi por autores da época persa.

MOORE, M. B.; KELLE, B. E. Biblical History and Israel’s Past: The Changing Study of the Bible and History. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2011, xvii + 518 p.

Very few scholars suggest that biblical descriptions of the periods prior to the appearance of Israel in Canaan contain more than vague, distorted memories, and potentially nothing of historical value. Discussions of the pre-monarchical period have also been characterized in recent years primarily by a growing hesitance to make concrete assertions about the nature of ethnic realities prior to the monarchy. Few doubt that the Merneptah Stele is hard evidence that a group called Israel existed in the highlands of Canaan already by the beginning of the Iron I, but there is now nearly as universal an agreement that Israel was only one of many groups active in that region and time (Fleming 2012: 254; Mazar 2007a:91; K. Sparks 1998: 11; Killebrew 2005). However, while for Fleming, Miller, and others, this and new ways of thinking about ethnicity generally mean that, in Miller’s words, a ‘pre-monarchic Israel’ is ‘simply too difficult to reconstruct with any confidence’ (J. Miller 2008: 176). For many others, this ‘proto-Israel’ is clearly related to monarchical Israel in crucial and foundational ways (Faust 2006: 173; R. Miller 2004: 63; Killebrew 2005).

As for the united monarchy, the current controversy began with the 1996 publication of the first major radiocarbon study of key sites by Finkelstein (1996). These findings have particularly to do with the date of the first Iron IIA foundations in the lowlands of Israel, which was traditionally set at around 1000 bce and attributed to the building programs of David and Solomon (see especially Yadin 1970). Finkelstein and Mazar are perhaps the individuals most associated with what seem currently to be the best accepted rival positions, and a valuable collection of their thoughts on each period has recently been produced by Schmidt (Mazar and Finkelstein 2007). Mazar and Finkelstein (and others associated with each position) have produced a voluminous body of scholarship over the last ten years that is hard to address for two reasons. First, much of their work has advanced alongside a series of radiocarbon studies, some of which they have been personally involved with and some not, whose science is difficult for the non-specialist to grasp and that in any case can only offer ranges of dates that often start in periods that might suggest one conclusion and end in periods that suggest another. Second, Mazar and Finkelstein frequently agree, at least broadly speaking, on the hard facts, but disagree about their subjective interpretation.

At present, the latest iteration of Finkelstein’s ‘Low Chronology’ suggests that there was no united monarchy, that the crucial Iron IIA period did not begin until around 920 bce , with a second and larger phase beginning already in the early ninth century, and that the urban foundations associated with David and Solomon were instead built by the Omrides (Finkelstein 2013: 7-8; 2010). Mazar acknowledges much of the same evidence, with slightly earlier radiocarbon dates, but his ‘Modified Conventional Chronology’ nevertheless argues for various reasons that the Iron IIA began around 980 bce , and that the united monarchy was ‘a state in an early stage of evolution, far from the rich and widely expanding state portrayed in the biblical narrative’, but nevertheless a puissant regional force (Mazar and Finkelstein 2007: 122; Mazar 2010: 52).

There are, of course, plenty of other scholars who have by now contributed to this debate. We can single out for notice the recent studies of Leonard-Fleckman (2016) and Herzog and Singer-Avitz (2004; 2006).

Generally, then, as Moore and Kelle note, it is the case that there is no clear evidence of David or his activity outside the Bible, and it now seems that if he existed, ‘the long view of archaeology indicates that David may have been one in a line of many highland chieflike rulers’ (2011: 242-43). As they also note, however, while someday David ‘may disappear from histories in the same way the patriarchs, the matriarchs, and the exodus have done’, at present the vast majority of historians continue to describe David as a real historical figure who did something similar to what the Bible says he did, if most often in rather reduced form (2011: 242-43).

What one might call a ‘third way’ in contemporary history is, however, well-represented in discussion of David, Jerusalem, and his monarchy as well. The treatments of Wilson and Pioske, Kingship and Memory in Ancient Judah and David’s Jerusalem: Between Memory and History, belong under this heading (Wilson 2016; Pioske 2015). In both cases, as the titles suggest, the question of David’s historicity and the historicity of his rule are entertained, but are very much secondary to inquiries into the role memories of both play in biblical literature and beyond, especially in the period in which the biblical account was taking shape.

John Van Seters’s investigation into the biblical story of David’s life also deserves mention alongside these (2009)…This book is most valuable as an inquiry into the ways David’s story may have been utterly reinvented by Persian-period authors, and the reasons they may have done so.

A História de Israel e Judá na pesquisa atual II

:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período, tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.

Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon.com.br. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.

2. Sentimento pan-israelita e o período pré-monárquico – Panisraeliteism and the Pre-Monarchical Period

A ideia, que tem atraído um bom número de pesquisadores, é a seguinte: enquanto Israel existia, ou pelo menos na maior parte de sua existência, os judaítas não se consideravam etnicamente israelitas. Os judaítas teriam se apropriado da identidade israelita em algum momento após a queda de Israel [Samaria caiu em 722 a.C.].

Esta proposta bastante radical foi feita por estudiosos de origens diferentes e, no mínimo, podemos dizer que é extremamente difícil desmenti-la. De uma perspectiva TOBOLOWSKY, A. The Sons of Jacob and the Sons of Herakles: The History of the Tribal System and the Organization of Biblical Identity. Tübingen: Mohr Siebeck, 2017, 283 p.extrabíblica, como notaram Daniel E. Fleming, em 2012, e Schneider, em 2002, nenhuma inscrição descreve claramente uma relação entre os reinos independentes de Israel e Judá. Isto é particularmente surpreendente no caso dos materiais neoassírios porque, como observa Schneider, os assírios já estavam controlando a região havia uns 130 anos.

Também parece que a maioria do material bíblico datado de períodos anteriores à queda de Israel exibe uma falta similar de declarações claras a esse respeito. Mas a questão é terrivelmente complexa por disputas contínuas sobre a datação de textos bíblicos. Um estudioso que defenda a opinião de que a história da ascensão de Davi ao trono é essencialmente um texto do século IX, por exemplo, dificilmente abraçaria essa história reconstruída de sentimentos étnicos. Ainda assim, em materiais proféticos, parece haver uma diferença notável entre como e com que frequência a relação entre Judá e Israel é descrita em textos supostamente mais antigos e como essas coisas são apresentadas nos livros de Jeremias, Ezequiel e, mais tarde, partes de Isaías. E o autor defende que este sentimento pan-israelita pode ser entendido em paralelo com o pan-helenismo que deu uma identidade grega a grupos regionais independentes.

Esta ideia aparece em Philip R. Davies, 2007, e em Axel Knauf, 2006. Mas eles entendem que isto ter-se-ia dado após o exílio babilônico, resgatando uma identidade israelita mantida viva na região de Benjamin. Entretanto, K. P. Hong, em 2013, e outros autores pensam que isto pode ter acontecido logo após a queda de Israel, portanto, ainda no século VIII a.C.

Mas há pouco consenso quanto aos detalhes. Assim:

. alguns argumentam que embora o pan-israelismo tenha ocorrido após a queda de Israel, suas raízes já aparecem na relação histórica entre os dois reinos de Israel e Judá: H. G. M. Williamson, 2001;  Reinhard G. Kratz, 2005; Daniel E. Fleming, 2012

. outros dizem que este fenômeno foi desencadeado pela chegada dos refugiados de Israel no sul: Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, 2001 e Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, 2006

. e há os que negam a existência desses refugiados: Nadav Na’aman, 2014; P. Guillaume, 2008

. alguns sugeriram que a primeira história pan-israelita – isto é, a primeira composição a fornecer um mito para a afirmação de Judá sobre a identidade israelita – é o resultado do entrelaçamento das tradições do norte sobre Saul com as tradições do sul sobre Davi: Israel Finkelstein, 2013; J. L. Wright, 2014

. Andrew Tobolowsky, em 2017, argumenta que as narrativas monárquicas e patriarcais unidas, tanto quanto a narrativa do êxodo, foram originalmente produzidas como mitos independentes explicando as origens do pan-israelismo. No entanto, este trabalho também sugere que eles apareceram na forma bíblica como história familiar somente após o desenvolvimento do conceito das tribos como “filhos de Jacó”, que teria acontecido apenas no final da época persa, permitindo uma narrativa coerente de um passado étnico compartilhado.

As noted above, we will start our chronological discussion of developments in the study of the Bible and the past with a relatively new but potentially quite disruptive proposal that has begun to gather a fair share of adherents. This is the idea that Judahites never considered themselves to be ethnically Israelite while Israel still existed, or at least for most of the time that Israel existed, but instead appropriated Israelite identity at some point after Israel fell. This quite radical proposal has been advanced by scholars from rather diverse backgrounds and at the very least we can say that it is remarkably difficult to disprove. From an extrabiblical perspective, as both Fleming and Schneider have noted, no inscriptional material clearly describes a relationship between the independent kingdoms of Israel and Judah (Fleming 2012: xii; Schneider 2002). This is particularly surprising in the case of the Neo-Assyrian materials because, as Schneider notes, they were closely ‘engaged in the area for more than 130 years’ (2002: 14).

It also seems as if most biblical material dated to periods prior to the fall of Israel exhibits a similar lack of clear statements in this regard. What this should be understood to mean depends, of course, on where we decide to put the burden of proof, and the issue is made terribly complex by ongoing disputes about the dating of biblical texts. A scholar espousing the view that the History of David’s Rise is essentially a ninth-century text, for example, would be unlikely to embrace this reconstructed history of ethnic sentiments. Still, in prophetic materials there seems to be a notable difference between how and how frequently the relationship between Judah and Israel is described in texts usually presumed to be early and how those things are presented in the books of Jeremiah, Ezekiel, and later parts of Isaiah.

I and others have referred to the possible assumption of Israelite identity by Judahites as the development of ‘Panisraelite sentiment’ and in my opinion the term is valuable for its ready comparison with Panhellenism—the rather slow building of the familiar, embracing the concept of Greek identity out of originally independent regional identities, often through narrative expansion.

FINKELSTEIN, I. O reino esquecido: arqueologia e história de Israel Norte. São Paulo: Paulus, 2015, 232 p.As with many ideas of this sort, the concept of ‘Panisraeliteism’ has its origins in the work of Philip Davies, who has used it at various points to evolve his conception of the way the biblical text ‘invents’ his so-called Ancient Israel (1992)… In his formulation, Israelite traditions and ethnic ideas were kept alive in the region of Benjamin well after the fall of the north, but separately from the rest of the south, and were not in fact adopted into Judahite literature for the most part until after the exile (2007a:168-71). This is also, roughly, the argument of Knauf (2006: 316-19). Hong has also praised Davies’s argument, but cautiously, and ultimately advances what is currently the much more common position—‘that Judeans’ identity reconfiguration all began with reflections on their northern neighbor’s fall and their own miraculous survival’ (2013: 288; 2011). Most scholars who embrace the Panisraelite possibility believe at least an early form of the concept appeared in the immediate aftermath of Israel’s destruction.

This is very much an emerging topic of interest and there is as yet little consensus on the particulars. In addition to the approaches described above, some argue that while full-blown Panisraeliteism was indeed a post-Israel development, it had its roots in certain aspects of the historical relationship between the two kingdoms (Williamson 2001: 90; Kratz 2005: 306; Fleming 2012: 45). Some suppose the crucial development originating Panisraeliteism was the arrival in the south of northern refugees (Finkelstein and Silberman 2001: 243-44; Finkelstein and Silberman 2006: 129-38) and some have denied even the existence of such refugees (Na’aman 2014a; Guillaume 2008). Some have suggested the first Panisraelite story—that is, the first composition to provide a charter myth for Judah’s claim on Israelite identity—is the result of the interweaving of northern traditions about Saul with southern traditions abut David (Finkelstein 2013: 153;Wright 2014), while Na’aman has focused on the Jacob story, and Hong on the patriarchal stories more generally (Na’aman 2014b; Hong 2011; 2013). Indeed, in Na’aman’s opinion, Saul and Benjamin were both originally southern entities (2009a; 2009b). Tobolowsky (2017) argues that both the united monarchical and patriarchal narratives, as well as the exodus narrative, were originally produced as independent charter myths explaining the origins of Panisraeliteism. However, this work also suggests that they appeared in familiar biblical form only after the development of the concept of the tribes as the ‘sons of Jacob’, which provided a complex genealogical framework within which they could be made coherent with each other. In short, Panisraelite arguments remain a work in progress.

A História de Israel e Judá na pesquisa atual I

:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e acontece um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.

Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon Brasil. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.

Andrew Tobolowsky

1. Principais tendências no estudo da Bíblia e da História de Israel – Major Trends in the Study of the Bible and History

O autor começa explicando que muito do que está acontecendo hoje na pesquisa da história de Israel e Judá (ou seja, “História de Israel”) pode ser entendido como consequência e evolução do debate dos anos 90 do século XX entre “minimalistas“, aqui representados por estudos de Davies, Thompson, Lemche e Whitelam, e “maximalistas”, aqui representados por uma obra de Provan, Long e Longman, A Biblical History of Israel, 2003 (Uma história bíblica de Israel, São Paulo: Vida Nova, 2016).

Sobre a posição “maximalista” ele comenta que não é muito comum ver hoje em dia uma defesa explícita da confiabilidade dos textos bíblicos como base para a história, mas há autores que defendem posições “positivistas”, dizendo, por exemplo, como Amihai Mazar, em 2010, que a Obra Histórica Deuteronomista pode ter se servido de fontes antigas e preservado núcleos de relatos vindos de templos e palácios.

Já sobre o “minimalismo” ele diz que a preferência dada aos dados extrabíblicos, em detrimento dos textos bíblicos, faz com as “histórias de Israel” sejam mais “científicas”. “Teorias e dados” ocupam, assim, o lugar de “histórias e fontes”. E o controle externo das fontes se torna mais necessário. A. Knauf e P. Guillaume escreveram uma abrangente história de Israel nesse sentido em 2015.

Mas há uma “terceira via” nas pesquisas atuais, inspirada por teorias pós-modernas da história e novas perspectivas da linguística. Há teorias pós-modernas que dizem ser impossível, de fato, escrever uma história convencional de Israel. Mas pode ser possível escrever “histórias” e não uma história de Israel. Mesmo não havendo “história”, ainda pode haver “histórias”, ou pelo menos, narrativas contendo fatos precisos e sentidos históricos. O fato da Bíblia estar mais próxima da literatura não a torna menos representativa de realidades passadas, explica Hans M. Barstad em 2008.

Resumindo as três abordagens acima:
1. Há um empenho em refinar os métodos tradicionais de narrar o passado israelita
2. Há um empenho em recontar o passado israelita através de “meios científicos”
3. Há um empenho em descobrir tipos alternativos de histórias nos textos bíblicos

Estas três posturas fornecem, genericamente, a geografia das abordagens históricas contemporâneas. E entre elas ainda não há vencedor claro.

Muitos estudiosos, talvez a maioria, continuam a argumentar que a acessibilidade básica de uma visão real do passado ainda é uma fronteira que vale a pena. Muitos que acreditam nisto hoje também acreditam que o texto bíblico pode não ser a melhor maneira de acessá-lo. E muitos reconhecem as preocupações de todas as três abordagens ao tentar oferecer histórias novas, mas tradicionalmente estruturadas.

O esforço de Liverani, 2003 [Para além da Bíblia: história antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008], que percorre os grandes tópicos políticos dos vários períodos, mas também explora as dimensões da “história inventada”, é um exemplo importante dessa tendência. Assim também é o enfoque de Megan Bishop Moore e Brad E. Kelle em 2011.

Em outros casos, no entanto, historiadores influenciados por preocupações pós-modernas começaram, de fato, a se concentrar diretamente nas razões pelas quais uma determinada história está codificada em textos bíblicos e o que isso significa.

Um estudo de 2013 de Reinhard Gregor Kratz, por exemplo, explora as ramificações do status da história bíblica como “história sagrada”, produzida por razões baseadas em contextos sagrados específicos.

Uma coleção de ensaios de Giovanni Garbini, um pouco mais antiga, de 2003, também explora o significado da possibilidade de que as raízes da visão bíblica da história estejam no período pós-exílico.

A recente investigação de Ian D. Wilson, de 2016, sobre realeza e memória na antiga Judeia traça este curso, explicitamente abordando a natureza do projeto de memória do período persa como uma força na criação da visão bíblica do passado.

Enquanto o estudo de Daniel Pioske, de 2015, Davi de Jerusalém: entre memória e história, explora o que a relação entre espaço físico e memória ao longo do tempo significa para a nossa apreciação das realidades passadas.

Outros, como a investigação de Carol Meyers sobre as mulheres israelitas, de 2013, ou o estudo de Rainer Kessler, de 2006 (História social do antigo Israel. São Paulo: Paulinas, 2010) sobre a história social israelita, continuam a investigar histórias que ainda não foram adequadamente contadas e que habitualmente foram obscurecidas por abordagens tradicionais do passado israelita.

TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.

To a certain extent, much of what has happened in the field of Israelite and Judahite history in recent years can be understood as an evolution of the debate in the 1990s between ‘minimalists’ and ‘maximalists’. These are designations that refer essentially to the extent the biblical text itself is supposed to be useful to reconstructing history. Whenever references are made to ‘minimalists’, it is usually scholars such as Davies, Thompson, Lemche, and Whitelam who are being indicated (…) Meanwhile, even today, some scholars still pursue what we might call ‘maximalist’ histories, as in the relatively recent study of Provan, Long, and Longman, A Biblical History of Israel (2003).

It is not particularly common to see an explicit defense of the reliability of the biblical account of quite this sort these days, but many scholars certainly do continue to embrace what we might call ‘positivist’ positions—that biblical traditions generally encode the realities of the periods they describe in some way—as in Mazar’s suggestion that ‘the most justified’ view is the one that holds that the Deuteronomistic History ‘preserved kernels of ancient texts and realities… components of geo-political and socio-economic realia… [and that] the authors and redactors must have utilized early source materials, such as temple and palace libraries and archives’ (2010: 29).

The minimalist position, by contrast, may be said to be represented by so‐called scientific histories of ancient Israel, in which the biblical account at least takes a backseat to the supposedly harder—therefore more ‘scientific’—extrabiblical evidence. In these studies, as Knauf recently put it, ‘data and theories’ take the place of ‘histories and sources’ (2011: 49). Knauf and Guillaume recently produced a new comprehensive history of Israel along these lines (2016), and most recent histories are at least influenced by the need for external controls. Therefore, it is the case now as it was twenty years ago that the major vectors of inquiry into ancient Israelite history are how much or how little to believe biblical texts, and how to privilege biblical or extrabiblical evidence respectively.

There is, however, now a ‘third way’, so to speak, in contemporary inquiries into Israelite history that is essentially inspired by post-modern and linguistic-turn related theories of history (…) Post‐modern theories suggest, in a term specifically used by Moore, Barstad, and Becking, that writing a conventional history of Israel might actually be ‘impossible’ (Moore 2006: 9; Barstad 2008: 3; Becking 2011: 4). However, as at least Moore and Barstad acknowledge, we must be very specific about what it means to say that writing ‘history’ may have become impossible, and the use of ‘history’ rather than ‘histories’ is instructive to this end (…) There is no ‘history’; there may yet be ‘histories’, or at least, narratives containing both accurate facts and historical understandings (…) Or, as Barstad puts it, ‘[t]he fact that the Bible has come much closer to literature…does not necessarily make it less “historical”, less representing past reality.

At present, then, efforts to refine traditional methods of relating the Israelite past; efforts to retell the Israelite past through ‘scientific means’; and efforts to discover alternate kinds of histories within biblical texts collectively provide the geography of contemporary historical approaches. And among them, there is as yet no clear winner. Many scholars, perhaps most, continue to argue that the basic accessibility of a real vision of the past is still a worthwhile frontier. Many who believe this way today also believe that the biblical text may not be the best way to access it. And many acknowledge the concerns of all three approaches while attempting to offer new but traditionally structured histories. Liverani’s effort, which pursues the grand political threads of the various periods but also explores the dimensions of ‘invented history’ at some length, is an important example of this trend (2005). So is Moore and Kelle’s effort, which looks at the traditional periodization largely through the lens of trends in the study of Israelite history (2011).

In other cases, however, would-be-historians influenced by post‐modern concerns have indeed begun to focus quite directly on whose history is encoded in biblical texts and what that means—a distinctly post‐modern concern. A 2013 study by Reinhard Kratz, for example, translated into English in 2016, explores the ramifications of the status of biblical history as ‘sacred history’, produced for reasons based in specific sacred contexts (2013; 2016). A slightly earlier col-ection of essays by Garbini also explores the meaning of the possibility that the roots of the biblical vision of history lie in the post-exilic period (2003). Wilson’s recent investigation of Kingship and Memory in Ancient Judah plots this course by explicitly addressing the nature of the Persian-period memory project as a force in creating the biblical vision of the past, while Pioske’s study, David’s Jerusalem: Between Memory and History, explores what the relationship between physical space and memory over time means for our appreciation of past realities (Wilson 2016; Pioske 2015). Others, as in Meyers’s inquiry into ancient Israelite women or Kessler’s study of Israelite social history, continue to pursue histories that have not yet been adequately told and that have habitually been obscured by traditional approaches to the Israelite past (Meyers 2013; Kessler 2006; 2008).

Currents in Biblical Research – October 2018

Vim consultar a revista atraído pelo artigo sobre História de Israel, mas encontrei outras coisas interessantes.

Currents in Biblical Research Volume 17 Issue 1, October 2018 

Currents in Biblical Research Volume 17 Issue 1, October 2018

Dream Accounts in the Hebrew Bible and Ancient Jewish LiteratureLaura Quick

The study of dreams and their interpretation in the literary remains from antiquity have become increasingly popular access points to the phenomenological study of religious experience in the ancient world, as well as of the literary forms in which this experience was couched. This article considers the phenomenon of dreaming in the Hebrew Bible and ancient Jewish literature. I consider treatments of these dream accounts, noting the development in the methodological means by which this material has been approached, moving from source criticism, to tradition history, and finally to form-critical methods. Ultimately, I will argue that form criticism in particular enables scholars to discern shifts and developments across diachronic perspectives. Study of dream accounts is thus illuminating not only for the understanding of dream phenomena, but also for the development of apocalyptic and the method and means of early Jewish biblical interpretation.

Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical ApproachesAndrew Tobolowsky

This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.

Jesus as Goat of the Day of Atonement in Recent SynopticHans Moscicke

Do the Synoptic passion narratives portray Jesus (and Barabbas) as one (or both) of the goats of the Day of Atonement? This question currently has no consensus in biblical scholarship but four contrasting positions: The evangelists portray (1) Jesus as the abused scapegoat in his maltreatment by the Roman soldiers (Mk 15.16-20 parr.); (2) Jesus as a pharmakos-like scapegoat patterned after Hellenistic motifs of redemptive suffering; (3) Barabbas as the scapegoat and Jesus as the immolated goat (Mt. 27.15-26 parr.); and (4) Jesus as neither goat, but the typological fulfillment of alternative (suffering) figures: Isaiah’s Servant, the Psalms’ Righteous Sufferer, the Son of Man, and the divine warrior. This article reviews and evaluates these four positions, suggesting avenues for future research.

Military Forces in Judaea 6–130 ce : The status quaestionis and Relevance for New Testament StudiesChristopher B. Zeichmann

The study of the military in the Roman provinces of Judaea is not the most accessible topic. Though the data upon which scholars rely is familiar (e.g., epigraphs, papyri, ancient historians), its study requires significant methodological deviations from biblical studies. This article summarizes key points relevant for scholars of both Jewish antiquity and early Christianity. First, it provides a summary of recent developments in the social history of the Roman army in the Near East, attending especially to the question of the role and function of soldiers in that region. Second, this article provides a brief social history for all military units in Judaea before it was renamed Syria Palaestina in 130 ce (four legions, 14 infantry cohortes, and five cavalry alae), based on the latest discoveries. Finally, the article concludes with a section discussing two issues specific to New Testament studies: the presence of an Italian cohort in Judaea (Acts 10) and the issue of the Augustan cohort in Judaea and Batanaea (Acts 27).

Sobre a revista

This peer-reviewed journal summarizes the spectrum of recent research on particular topics or biblical books. Each article provides an inclusive treatment of its subject, without in most cases being exhaustive. Articles cover specific biblical books or clusters of books, ancillary ancient literature, archaeology, historical studies, as well as new and developing areas of study. Each article concludes with an extensive bibliography that provides a basic knowledge of significant articles and books on the topic being treated, and provides sufficient information to launch a thorough investigation of the topic.

O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil

O ebook do livro O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil, de vários autores, organizado por Esther Solano Gallego, pode ser baixado aqui.

GALLEGO, E. S. (org.) O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018, 128 p. – ISBN 9788575596548.

GALLEGO, E. S. (org.) O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018, 128 p.

Diz o blog da editora Boitempo:

Livro organizado por Esther Solano Gallego faz raio-x do avanço das direitas no Brasil e ajuda a traçar estratégias para combater Bolsonaro antes que seja tarde demais.

O ódio como política, organizado por Esther Solano, chega às livrarias durante o período eleitoral, no momento em que o campo progressista assiste perplexo à reorganização e ao fortalecimento político das direitas. “Direitas”, “novas direitas”, “onda conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo”, “neoconservadorismo” são algumas expressões que tentam conceituar e dar sentido a um fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje, após seguidas vitórias dessas forças dentro do processo democrático. Trump, Brexit e a popularidade de Bolsonaro integram as complexas dinâmicas das direitas que a coletânea busca aprofundar a partir de ensaios escritos por grandes pensadores da atualidade. Tendo como foco central o avanço dos movimentos de direita, os textos analisam sob as mais diversas perspectivas o surgimento e a manutenção do regime de ódio dentro do campo político.

Luis Felipe Miguel abre o livro apresentando os três eixos da extrema-direita brasileira: o libertarianismo, o fundamentalismo religioso e o revival do anticomunismo. Silvio Almeida continua o raciocínio discorrendo sobre a distinção entre o conservadorismo clássico e o neoconservadorismo atual, para o qual a democracia não passa de um detalhe incômodo. Carapanã tenta responder à pergunta de como chegamos a este cenário de recessão democrática analisando os ataques ao Estado na América Latina e no Brasil. Flávio Henrique Calheiros Casimiro trabalha a cronologia da reorganização do pensamento e da ação política das direitas brasileiras, buscando suas raízes nos anos 1980. Camila Rocha questiona a caracterização das novas direitas brasileiras como militância ou como resultado do financiamento de organizações que articulam think tanks globalmente.

Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco analisam as transformações da juventude periférica, que migrou da esperança frustrada para o ódio bolsonarista na última década. Ferréz também traça um retrato das periferias e do reacionarismo contido nelas, com uma linguagem forte e poética. Rubens Casara escreve sobre a direita jurídica de tradição antidemocrática, marcada por uma herança colonial e escravocrata. Edson Teles reflete sobre a militarização da política e da vida, e sobre a dinâmica da dualidade “inimigo interno” versus “cidadão de bem”.

Na economia, Pedro Rossi e Esther Dweck analisam alguns mitos do discurso da austeridade, enquanto Márcio Moretto conduz-nos a uma dimensão de vital importância para as direitas na atualidade: as redes sociais e como estas organizam o debate político. Já o pastor Henrique Vieira aborda o fundamentalismo religioso e como este se traduz em ações truculentas e em projetos de poder, como a Frente Parlamentar Evangélica. Ainda sobre os perigos do discurso da moral e dos bons costumes, Lucas Bulgarelli analisa a oposição aos direitos LGBTI nos últimos anos, e Stephanie Ribeiro apresenta as ameaças da retórica antifeminista no ideal da mulher submissa, “bela, recatada e do lar”. Por fim, Fernando Penna reflete sobre o caráter reacionário do projeto Escola sem Partido, que fomenta um clima de perseguição inquisitorial em muitas escolas brasileiras sob o lema de um suposto pensamento neutro.

Sumário

Apresentação, Esther Solano Gallego
A reemergência da direita brasileira, Luis Felipe Miguel
Neoconservadorismo e liberalismo, Silvio Luiz de Almeida
A Nova Direita e a normalização do nazismo e do fascismo, Carapanã
As classes dominantes e a nova direita no Brasil contemporâneo, Flávio Henrique Calheiros Casimiro
O boom das novas direitas brasileiras: financiamento ou militância?, Camila Rocha
Da esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista, Rosana Pinheiro-Machado e Lucia Mury Scalco
Periferia e conservadorismo, Ferréz
A produção do inimigo e a insistência do Brasil violento e de exceção, Edson Teles
Precisamos falar da “direita jurídica”, Rubens Casara
O discurso econômico da austeridade e os interesses velados, Pedro Rossi e Esther Dweck
Antipetismo e conservadorismo no Facebook, Márcio Moretto Ribeiro
Fundamentalismo e extremismo não esgotam experiência do sagrado nas religiões, Henrique Vieira
Moralidades, direitas e direitos LGBTI nos anos 2010, Lucas Bulgarelli
Feminismo: um caminho longo à frente, Stephanie Ribeiro
O discurso reacionário de defesa de uma “escola sem partido”, Fernando Penna

Einstein

Alice: “So how did you get so smart anyway?”Albert Einstein: 14 de março de 1879 - 18 de abril de 1955

Albert: “I have no special talent, but I am very, very curious, Alice. All I do is ask questions, just like you do. Anybody can do that.” (Genius – A vida de Einstein)

Recomendo:

:: A história de Albert Einstein – Documentário do History Channel sobre a vida de Albert Einstein. Vídeo no Youtube publicado em 12 de maio de 2011.

:: Dentro da Mente de Einstein – O Enigma do Tempo e Espaço – Documentário publicado no Youtube em 7 de dezembro de 2017. Este documentário está também na Netflix.

:: Genius – A vida de Einstein – Série do National Geographic em 10 episódios iniciada em 25 de abril de 2017. Pode ser encontrada na web.