:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual I
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual II
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual III
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual IV
:. A História de Israel e Judá na pesquisa atual V
TOBOLOWSKY, A. Israelite and Judahite History in Contemporary Theoretical Approaches. Currents in Biblical Research, Vol. 17(1), 2018, p. 33-58.
Este artigo de Andrew Tobolowsky, História israelita e judaíta em abordagens acadêmicas contemporâneas, analisa a evolução do estudo das histórias de Israel e Judá, com ênfase nos últimos dez anos. Durante esse período, tem havido um interesse crescente em evidências extrabíblicas como o principal meio de construir histórias abrangentes, e um renascimento do interesse em teorias pós-modernas. Este estudo oferece uma discussão geral sobre as tendências da última década, considerando a possibilidade dos autores judaítas só terem assumido uma identidade israelita após a queda de Israel [= reino do norte]. Depois de mostrar as principais tendências nos estudos da Bíblia e da História de Israel de modo genérico, o autor aborda o período pré-monárquico, a monarquia unida, os dois reinos de Israel e Judá e o exílio babilônico e, por fim, a época persa.
This article surveys developments in the study of the histories of ancient Israel and Judah with a focus on the last ten years. Over that period there has been an increased focus on extrabiblical evidence, over biblical text, as the primary means of constructing comprehensive histories, and a revival of interest in post-modern and linguistic-turn theories with respect to establishing what kinds of histories should be written. This study offers a general discussion of the last decade’s trends; an inquiry into the possibility that Judahite authors only assumed an Israelite identity after the fall of Israel; and an era-by-era investigation of particular developments in how scholars think about the various traditional periods of Israelite and Judahite history. The latter inquiry spans the pre-monarchical period to the Persian period.
Andrew Tobolowsky: Visiting Assistant Professor at the College of William and Mary in Williamsburg, Virginia, USA.
Sempre que o assunto tiver sido tratado em minha página, Ayrton’s Biblical Page, ou neste blog, Observatório Bíblico, colocarei um link. As principais obras citadas terão links para a Amazon.com.br. O texto em português é um resumo e uma tradução livre minha. O texto em inglês na parte final do post é citação do artigo. A publicação será feita em 5 postagens.
3. O Israel primitivo e a monarquia unida – Early Israel and the United Monarchy
Poucos estudiosos ainda dão algum valor histórico às narrativas bíblicas sobre épocas anteriores ao aparecimento de Israel em Canaã. São memórias vagas e distorcidas. As discussões sobre o período pré-monárquico também foram caracterizadas nos últimos anos por uma crescente hesitação em fazer afirmações concretas sobre a natureza das realidades étnicas anteriores à monarquia. Poucos duvidam de que a Estela de Merneptah seja uma forte evidência de que um grupo chamado Israel existia nas montanhas de Canaã já no começo da Idade do Ferro I, mas agora há um acordo quase unânime de que esse Israel era apenas um dos muitos grupos ativos naquela região e naquela época. Assim, por exemplo, Daniel E. Fleming, 2012; Amihai Mazar, 2007; Ann E. Killebrew, 2005. No entanto, enquanto para alguns essa maneira de pensar sobre etnia geralmente significa que um Israel pré-monárquico é muito difícil de ser reconstruído, para outros este “proto-Israel” está claramente relacionado com o Israel monárquico.
A controvérsia sobre a monarquia unida começou quando Israel Finkelstein publicou, em 1996, um estudo sobre as datações feitas com radiocarbono em vários sítios arqueológicos importantes da região, propondo o que se convencionou chamar de “cronologia baixa“. Ou seja: o que se atribuía ao século XI é da metade do século X e o que era datado na época de Salomão deve ser visto como pertencendo ao século IX a.C. Isto gerou grande debate no meio acadêmico e numerosos estudos foram publicados. Posições a favor e contra podem ser vistas no livro de 2007 que traz o debate entre Israel Finkelstein e Amihai Mazar. Esta é uma área complexa, pois envolve detalhes técnicos sobre datação por radiocarbono, difíceis para quem não é especialista. E também porque as discordâncias de Finkelstein e Mazar são sobre as interpretações dos dados e não sobre os dados em si.
Enfim, a “cronologia baixa” de Finkelstein sugere que não existiu uma monarquia unida, enquanto a “cronologia convencional modificada” de Mazar sugere uma monarquia unida na forma de um Estado incipiente e não um poderoso reino como diz a narrativa bíblica. Lembrando que muitos estudiosos têm se posicionado sobre esta questão com soluções variadas. Como Mahri Leonard-Fleckman em 2016 e Ze’ev Herzog & Lily Singer-Avitz em 2006.
Como Megan Bishop Moore e Brad E. Kelle observaram em 2011, não há evidência clara de Davi ou de sua atividade fora da Bíblia. Se ele existiu, terá sido apenas mais um chefe local na região montanhosa da Judeia. Talvez um dia Davi desapareça da história como desapareceram patriarcas, matriarcas e êxodo, mas atualmente ele continua a ser tratado pelos historiadores como um personagem real, embora bem menor do que aparece nos relatos bíblicos.
O personagem Davi e seu papel na literatura bíblica, muito mais do que o Davi histórico, tem ocupado alguns pesquisadores, como Ian D. Wilson em 2016. Ou a Jerusalém da época de Davi, como Daniel Pioske em 2015. Sem esquecer John Van Seters que, em 2009, investiga as razões da reinvenção da saga de Davi por autores da época persa.
Very few scholars suggest that biblical descriptions of the periods prior to the appearance of Israel in Canaan contain more than vague, distorted memories, and potentially nothing of historical value. Discussions of the pre-monarchical period have also been characterized in recent years primarily by a growing hesitance to make concrete assertions about the nature of ethnic realities prior to the monarchy. Few doubt that the Merneptah Stele is hard evidence that a group called Israel existed in the highlands of Canaan already by the beginning of the Iron I, but there is now nearly as universal an agreement that Israel was only one of many groups active in that region and time (Fleming 2012: 254; Mazar 2007a:91; K. Sparks 1998: 11; Killebrew 2005). However, while for Fleming, Miller, and others, this and new ways of thinking about ethnicity generally mean that, in Miller’s words, a ‘pre-monarchic Israel’ is ‘simply too difficult to reconstruct with any confidence’ (J. Miller 2008: 176). For many others, this ‘proto-Israel’ is clearly related to monarchical Israel in crucial and foundational ways (Faust 2006: 173; R. Miller 2004: 63; Killebrew 2005).
As for the united monarchy, the current controversy began with the 1996 publication of the first major radiocarbon study of key sites by Finkelstein (1996). These findings have particularly to do with the date of the first Iron IIA foundations in the lowlands of Israel, which was traditionally set at around 1000 bce and attributed to the building programs of David and Solomon (see especially Yadin 1970). Finkelstein and Mazar are perhaps the individuals most associated with what seem currently to be the best accepted rival positions, and a valuable collection of their thoughts on each period has recently been produced by Schmidt (Mazar and Finkelstein 2007). Mazar and Finkelstein (and others associated with each position) have produced a voluminous body of scholarship over the last ten years that is hard to address for two reasons. First, much of their work has advanced alongside a series of radiocarbon studies, some of which they have been personally involved with and some not, whose science is difficult for the non-specialist to grasp and that in any case can only offer ranges of dates that often start in periods that might suggest one conclusion and end in periods that suggest another. Second, Mazar and Finkelstein frequently agree, at least broadly speaking, on the hard facts, but disagree about their subjective interpretation.
At present, the latest iteration of Finkelstein’s ‘Low Chronology’ suggests that there was no united monarchy, that the crucial Iron IIA period did not begin until around 920 bce , with a second and larger phase beginning already in the early ninth century, and that the urban foundations associated with David and Solomon were instead built by the Omrides (Finkelstein 2013: 7-8; 2010). Mazar acknowledges much of the same evidence, with slightly earlier radiocarbon dates, but his ‘Modified Conventional Chronology’ nevertheless argues for various reasons that the Iron IIA began around 980 bce , and that the united monarchy was ‘a state in an early stage of evolution, far from the rich and widely expanding state portrayed in the biblical narrative’, but nevertheless a puissant regional force (Mazar and Finkelstein 2007: 122; Mazar 2010: 52).
There are, of course, plenty of other scholars who have by now contributed to this debate. We can single out for notice the recent studies of Leonard-Fleckman (2016) and Herzog and Singer-Avitz (2004; 2006).
Generally, then, as Moore and Kelle note, it is the case that there is no clear evidence of David or his activity outside the Bible, and it now seems that if he existed, ‘the long view of archaeology indicates that David may have been one in a line of many highland chieflike rulers’ (2011: 242-43). As they also note, however, while someday David ‘may disappear from histories in the same way the patriarchs, the matriarchs, and the exodus have done’, at present the vast majority of historians continue to describe David as a real historical figure who did something similar to what the Bible says he did, if most often in rather reduced form (2011: 242-43).
What one might call a ‘third way’ in contemporary history is, however, well-represented in discussion of David, Jerusalem, and his monarchy as well. The treatments of Wilson and Pioske, Kingship and Memory in Ancient Judah and David’s Jerusalem: Between Memory and History, belong under this heading (Wilson 2016; Pioske 2015). In both cases, as the titles suggest, the question of David’s historicity and the historicity of his rule are entertained, but are very much secondary to inquiries into the role memories of both play in biblical literature and beyond, especially in the period in which the biblical account was taking shape.
John Van Seters’s investigation into the biblical story of David’s life also deserves mention alongside these (2009)…This book is most valuable as an inquiry into the ways David’s story may have been utterly reinvented by Persian-period authors, and the reasons they may have done so.