Resenhas na RBL: 28.08.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Scott A. Ashmon
Birth Annunciations in the Hebrew Bible and Ancient Near East: A Literary Analysis of the Forms and Functions of the Heavenly Foretelling of the Destiny of a Special Child
Reviewed by Paola Mollo

Matthew W. Bates
The Hermeneutics of the Apostolic Proclamation: The Center of Paul’s Method of Scriptural Interpretation
Reviewed by Robert B. Foster

Gareth Lee Cockerill
The Epistle to the Hebrews
Reviewed by Gabriella Gelardini
Reviewed by Kevin B. McCruden

Dean B. Deppe
All Roads Lead to the Text: Eight Methods of Inquiry into the Bible
Reviewed by Nijay Gupta

Timo Nisula
Augustine and the Functions of Concupiscence
Reviewed by Anthony Dupont

Dennis Pardee
The Ugaritic Texts and the Origins of West-Semitic Literary Composition: The Schweich Lectures of the British Academy 2007
Reviewed by Jeremy M. Hutton

Ryan S. Schellenberg
Rethinking Paul’s Rhetorical Education: Comparative Rhetoric and 2 Corinthians 10-13
Reviewed by Fredrick J. Long
Reviewed by Duane F. Watson

Samuel Vollenweider and Eva Ebel, eds.
Wahrheit und Geschichte: Exegetische und hermeneutische Studien zu einer dialektischen Konstellation
Reviewed by Mark W. Elliott

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Messianismo, fundamentalismo e mercado

O maior risco que o Brasil pode correr é a chegada, algum dia, de um fundamentalista ao Palácio do Planalto. Disse alguém, em incerto dia.

Leia o artigo abaixo. É muito lúcido.

Messianismo, fundamentalismo religioso e poder para o mercado financeiro

Acreditava que no Brasil não havia o risco de um novo salvador. Afinal, o momento em que Collor apareceu como candidato da nova política parece distante.

Flávia Biroli – Carta Maior: 02/09/2014

A candidata do PSB, Marina Silva, se apresenta como a representante da “nova política”.

A política não seria feita de acordos e disputas entre partidos políticos e grupos na sociedade, mas de uma reunião das pessoas “de bem”. Quem define quem faz parte da “nova política” é a própria candidata, com uma sabedoria que, ao que parece, viria da pureza de quem está fora da política e imbuída de uma missão.

Acreditava que no Brasil de hoje não havia o risco de um novo salvador. Afinal, o momento em que Collor apareceu como candidato da “nova política”, contra a política dos marajás, parece não apenas distante, mas de algum modo aquém do patamar em que as disputas se colocaram desde então.

Estava enganada. Temos hoje novamente uma candidata que se apresenta como a representante da “nova política”.  A recusa da dinâmica política aparece como a solução, os partidos e as instituições são vistos como entraves, mas sua candidatura só foi possível porque seguiu a rota mais convencional do casuísmo, tomando carona em um partido que nada tem a ver com a agenda que parecia ser a sua. E tudo para garantir que não ficaria de fora da disputa eleitoral, mesmo não acreditando nos caminhos desta política.

Marina Silva também se apoia em concepções da economia que nada têm de novas, que são defendidas há décadas pelos banqueiros e pelos economistas que estão com ela – eles tiveram, aliás, lugares bem pagos e de prestígio em consultorias, bancos e em governos anteriores.

Maior controle do mercado sobre o Banco Central (a independência do BC), ajustes na economia para restabelecer a “confiança” dos investidores, é assim o “novo” de Marina Silva. Ela é “nova” financiada pelo Itaú, fazendo acordos com o agronegócio e com uma agenda econômica produzida por André Lara Resende (quem não se lembra dele, pode lançar no Google confisco da poupança no governo Collor, grampo do BNDES, banco Matrix, privatização da Telebras etc.) e Eduardo Gianetti (que repete a fórmula dos “ajustes duros” e da autonomia do Banco Central, além de elogios à política econômica de Fernando Henrique Cardoso).

O fundamentalismo religioso a coloca numa posição em que a crença supera os direitos individuais. Já falou a favor do criacionismo, recusando o conhecimento científico. É contrária aos direitos dos homossexuais e prefere diluir os problemas em noções vagas de diferença a enfrentar o fato de que sua posição colabora para a recusa da cidadania e para a violência contra tantas pessoas. É mulher na política, mas retirou a palavra “sexismo” do seu programa de governo. Afinal, conflitos são coisa do passado.

O que ela teria de distinto, sua identidade de ambientalista, vai rapidamente pelo ralo. Afinal, é preciso garantir a “confiança”. E como não há conflitos na sociedade dos discursos de Marina Silva, as dúvidas sobre os transgênicos se resolvem definindo áreas de plantio para transgênicos e não-transgênicos: um caminho para a paz entre o agronegócio e os ambientalistas, afinal! E o etanol se transforma em aliado do ambientalismo, garantindo um lugar para os usineiros no pacote da “nova política”.

O messianismo garante que Marina Silva seja “líder nata” sem propostas e com a entrada mais tradicional no jogo político. Ela está acima das disputas e dos conflitos. E os acordos… bem, os acordos são feitos à velha moda, nos bastidores, enquanto ela repete “nova política”, “nova política”, “nova política”.

Sabemos, no entanto, que os conflitos sociais não desaparecem e os apoios de banqueiros, investidores e empresários são cobrados depois. Sabemos também que por mais complicado que seja governar com instituições democráticas, sem elas nós todos nos tornamos reféns do que nos reservam as boas intenções ou a vontade de uma “iluminada”.

Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília.

Marina e a leitura fundamentalista da Bíblia

Marina passou para um cristianismo pietista e fundamentalista que tira o vigor do engajamento e se basta com orações e leituras literalistas da Bíblia (Leonardo Boff).

:: Bispo de SP: Marina traz risco de ‘fundamentalismo’ – Brasil 24/7 — 03/09/2014
O bispo de Jales (SP), dom Demétrio Valentini vê com temor a possível vitória na eleição presidencial da ex-ministra Marina Silva (PSB), uma evangélica da Assembleia de Deus. “Agora, a gente tem medo do fundamentalismo que ela pode proporcionar. Existe na Marina uma tendência ao radicalismo, pela convicção exagerada ao defender seus valores e suas motivações, que pode derivar para o fundamentalismo”, disse ele em entrevista ao Valor. Para o bispo, Marina traz o risco de fazer da religiosidade um instrumento de ação política. Ele vê sua ascensão nas pesquisas como uma situação “irreversível”. A não ser que haja uma reviravolta em que comecem a pesar as fragilidades de Marina, que não estão no fato de ela não ser católica. Estão em ela ter pouca articulação política e portanto existirem dúvidas sobre como ela vai governar. Dom Demétrio ainda lamentou o fato de a presidente Dilma Rousseff não ter estabelecido “muitas pontes” com a Igreja. “A Dilma tem um estilo mais autoritário, ela pouco nos convocou. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva o fazia com muita frequência”, disse.

:: Leonardo Boff ao 247: “Dilma é a melhor opção” – Brasil 24/7 — 02/09/2014
Questionado a avaliar a mudança de Marina Silva desde que a conheceu, no Acre, até 2014, quando se candidata à Presidência da República pelo PSB, Boff observa, como primeiro ponto, a mudança de religião. “De um cristianismo de libertação, ligado aos povos da floresta e aos pobres, passou para um cristianismo pietista e fundamentalista que tira o vigor do engajamento e se basta com orações e leituras literalistas da Bíblia”. Para Boff, a candidatura da ex-senadora “representa uma volta ao velho e ao atrasado da política, ligada aos bancos e ao sistema financeiro. Seu discurso de sustentabilidade se tornou apenas retórico”. Em sua visão, Marina não possui a habilidade de articulação. “Se vencer, oxalá não tenha o mesmo destino político que teve Collor de Mello”, prevê. Na entrevista, ele comenta ainda sobre o pessimismo generalizado no País – “grande parte induzido por aqueles que querem a todo custo e por todos os meios tirar o PT do poder” – e dá sua opinião sobre a mídia: “hoje, com a oposição fraca, eles se constituíram a grande oposição ao governo do PT”. Entrevista concedida ao jornalista Paulo Moreira Leite.

Propostas de Marina são autofágicas e inviáveis

Wanderley Guilherme ao 247: “Marina é inviável” – Brasil 24/7 – 01/09/2014

Cientista político diz que cada proposta da candidata do PSB é feita para um país diferente: “Como é possível desprezar o pré-sal, manter os empregos em toda a cadeia produtiva ativada pela Petrobras e investir fortemente na educação e na saúde?”, questiona; professor diz não acreditar que medidas “sejam sérias”; “Não se trata apenas de que as ofertas compõem um programa obscurantista, criacionista, mas de que a proposta, tudo somado, é autofágica, inviável”, afirma; ao blog de Paulo Moreira Leite, ele diz que o “fator emocional” dessas eleições, resultado do acidente com Eduardo Campos e do oportunismo seletivo da mídia, deixa a disputa irracional; não fossem esses fatos, Aécio Neves se afirmaria como o “representante consistente” da oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, diz.

CNBB promove debate com presidenciáveis

Promovido pela CNBB e pela TV Aparecida, o debate com os presidenciáveis ocorrerá no dia 16 de setembro, a partir das 21h30. Para o evento, foram convidados mais de 350 bispos da CNBB, que irão colaborar com sugestão de perguntas que poderão ser incluídas no debate.

No primeiro bloco, os convidados irão responder a uma única pergunta elaborada pela presidência da Conferência dos Bispos, em ordem já definida por sorteio na presença dos representantes dos partidos. Cada candidato terá dois minutos para resposta.

Durante o segundo bloco do debate os candidatos irão responder a perguntas propostas pelos bispos indicados pela CNBB, sobre temas como saúde, educação, habitação, reforma agrária, reforma política e lei do aborto.

No terceiro bloco, os convidados responderão a perguntas de jornalistas das mídias católicas.

O quarto bloco será de embate entre os candidatos à presidência do Brasil.

O último bloco será dedicado às considerações finais dos convidados.

O mediador do debate será  o jornalista Rodolpho Gamberini. Todas as emissoras católicas de TV transmitirão o debate.

O retorno dos jihadistas

Como a ‘Guerra ao Terror’ criou o grupo terrorista mais poderoso do mundo – Patrick Cockburn: TomDispatch, em Opera Mundi 25/08/2014

Há elementos extraordinários na política atual dos Estados Unidos em relação ao Iraque e à Síria que estão atraindo uma atenção surpreendentemente baixa. No Iraque, os EUA estão perpetrando ataques aéreos e mandando conselheiros e treinadores para ajudarem a conter o avanço do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (mais conhecido como Estado Islâmico) na capital curda, Arbil. Os EUA presumidamente fariam o mesmo se o EI cercasse ou atacasse Bagdá. Mas, na Síria, a política de Washington é exatamente oposta: há muitos opositores do EI no governo sírio e curdos sírios em seus enclaves do norte. Ambos estão sendo atacados pelo EI, que já tomou cerca de um terço do país, incluindo a maior parte de suas instalações de óleo e gás.

Mas a política dos EUA, da Europa Ocidental e do Golfo Pérsico é derrubar o presidente Bashar al-Assad, que vem a ser a política do EI e de outros jihadis na Síria. E se Assad cair, o EI será o beneficiário, já que será questão de vencer ou absorver o resto da oposição armada síria. Há uma falsa ideia em Washington e outros lugares de que existe uma oposição “moderada” síria sendo ajudada pelos EUA, pelo Qatar, pela Turquia e pelos sauditas. É, apesar disso, fraca e está enfraquecendo a cada dia. Logo o califado pode se estender da fronteira iraniana até o Mediterrâneo e a única força que pode possivelmente impedir que isso aconteça é o exército sírio.

A realidade da política dos EUA é apoiar o governo do Iraque, mas não a Síria, contra o EI. Mas uma razão para o grupo ter sido capaz de se tornar tão forte no Iraque é que ele pode extrair seus recursos e combatentes da Síria. Nem tudo o que deu errado no Iraque foi culpa do primeiro-ministro Nouri al-Maliki, como agora se tornou o consenso político e midiático no Ocidente. Os políticos iraquianos têm me dito nos últimos dois anos que o apoio estrangeiro à revolta sunita na Síria inevitavelmente desestabilizaria o país deles também. Isso agora aconteceu.

Ao continuar com essas políticas contraditórias em dois países, os EUA garantiram que o EI pudesse fortalecer seus combatentes no Iraque por meio da Síria e vice-versa. Até agora, Washington teve sucesso em não levar a culpa pelo crescimento do EI e em colocar toda a culpa no governo iraquiano. Na verdade, criou uma situação na qual o EI pode sobreviver e pode inclusive prosperar (continua).