Reflexões sobre o Conselho criado pelo Papa Francisco

O jornalista norte-americano John L. Allen Jr., responsável pela cobertura do Vaticano para a publicação online National Catholic Reporter, fez, em 14/04/2013, uma análise preliminar sobre o Conselho de 8 cardeais criado pelo Papa Francisco para aconselhá-lo no governo da Igreja universal e para estudar um projeto de revisão da Constituição Apostólica Pastor Bonus sobre a Cúria romana.

Escrevendo apenas 24 horas após a criação do Conselho, ele destaca, em seu texto, cinco pontos que considera importantes.

O artigo tem o título de Cinco pensamentos sobre o novo ‘G8’ do Papa – Five thoughts on the pope’s new ‘G8’.

Resumidamente, ele diz que:
1. Mais do que reformar a Cúria, a função primordial do grupo é aconselhar o Papa no governo da Igreja
2. Os escolhidos têm personalidades fortes e não são “vaquinhas de presépio” que vão dizer apenas o que o Papa quer ouvir
3. Na escolha dos cardeais há uma evidente ampliação da colegialidade na Igreja, pelo menos em três níveis. As Conferências Episcopais, por exemplo, podem estar recuperando sua importância na linha do Vaticano II
4. A Secretaria de Estado tem, assim, suas asas cortadas, ficando, como se previa, muito mais enfraquecida
5. E, finalmente, percebe-se uma inversão de papeis no “quem é quem” do Vaticano, com a importância que, a partir de agora, assumem cardeais como Maradiaga e O’Malley

Recomendo a leitura completa do artigo, do qual transcrevo apenas trechos. E, se entendi direito, penso que os conservadores já podem ficar preocupados com a orientação descentralizadora de alguns dos nomes do Conselho…

Diz John L. Allen Jr. (veja o texto em português aqui):

1. A Cabinet, not a blue-ribbon commission
In some early reporting, the mission of this body has been described as helping Francis to reform the Roman Curia. Yet reading Saturday’s announcement, that’s not what it says. The key line states that Francis has assembled this group “to advise him in the government of the universal church,” and only then “to study a plan for revising the Apostolic Constitution on the Roman Curia, Pastor Bonus.” In other words, curial reform is only the second task. The first is to advise the pope on decisions about the universal church, meaning there’s almost nothing that falls outside its purview…

2. Not ‘yes’ men
Looking at the list of eight cardinals Francis picked, they’re strong personalities rather than ‘yes’ men inclined simply to tell the pope what he wants to hear…

3. Collegial on multiple levels
The decision to assemble this group of advisers comes off as an act of collegiality, meaning shared authority, on at least three levels (…) First (…) this is a way of implementing the call for greater collegiality that goes all the way back to the Second Vatican Council (1962-65). Second, this group is clearly designed to be geographically representative, including at least one cardinal from each continent (…) Third (…) those picks were unlikely to have been accidents. They suggest a revitalization of the role of bishops’ conferences, both nationally and regionally…

4. Clipped wings for the Secretariat of State
Since the election of the new pope, there has been a steady drumbeat of speculation in Rome about whom Francis might pick as the next Secretary of State, with that choice usually styled as the key first test of how serious Francis may be about reform. In light of Saturday’s announcement, however, it now seems less critical who takes over from Bertone because the role of the Secretariat of State seems destined to be diminished under Francis. Rather than being the über-dicastery where all the important decisions about church governance are made, it may function more like a support staff to the pope and his body of eight advisers…

5. Role reversals for Rodriguez Maradiaga and O’Malley
There’s nothing like the election of a new pope to reshuffle the deck in the church in terms of who’s up and who’s down, and the choice of Francis clearly illustrates that principle for two of the cardinals named to this “G8”: Rodriguez Maradiaga of Honduras and O’Malley of Boston. Not so long ago, the consensus among church-watchers was that Rodriguez Maradiaga was basically dead in the water…

Francisco cria Conselho para a reforma da Cúria

Los “hombres” del Papa: Bertello, Errázuriz, Gracias, Marx, Pasinya, O’Malley, Pell, Maradiaga, Semeraro… Con representación de los cinco continentes, y sin presencia del aparato curial… Se acabaron los gestos, comienza la limpieza (Jesús Bastante).

Papa cria comissão de cardeais para reformar a Cúria – Notícias: IHU On-Line 13/04/2013

O papa Francisco acaba de anunciar, na manhã de hoje, 13/04/2013, a criação de um Conselho de Cardeais para reformar a Cúria Romana. No mesmo dia em que Jorge Mario Bergoglio cumpre um mês da sua eleição como Papa, o Bispo de Roma cumpre um dos compromissos assumidos nas congregações gerais prévias do Conclave: a reforma da Cúria Romana. Segundo Jesús Bastante, diretor do sítio Religión Digital, “acabaram-se os gestos, começa a limpeza”.

A sala de imprensa do Vaticano, na manhã de hoje, publica a seguinte informação:

Il Santo Padre Francesco, riprendendo un suggerimento emerso nel corso delle Congregazioni Generali precedenti il Conclave, ha costituito un gruppo di Cardinali per consigliarLo nel governo della Chiesa universale e per studiare un progetto di revisione della Costituzione Apostolica Pastor Bonus sulla Curia Romana.

O Santo Padre Francisco, seguindo uma sugestão surgida no decorrer das Congregações gerais que precederam o conclave, constituiu um grupo de cardeais para aconselhá-lo no governo da Igreja universal e para estudar um projeto de revisão da Constituição Apostólica Pastor Bonus sobre a Cúria Romana. O Conselho será coordenado por Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras. A primeira reunião coletiva do grupo será realizada nos dias 1 a 3 de outubro de 2013.

O grupo é constituído pelos seguintes cardeais:

  • Cardeal Giuseppe Bertello, Presidente da Governadoria do Estado da Cidade do Vaticano
  • Cardeal Francisco Javier Errázuriz Ossa, Arcebispo emérito de Santiago do Chile
  • Cardeal Oswald Gracias, Arcebispo de Bombaim – Índia
  • Cardeal Reinhard Marx, Arcebispo de München [Munique] e Freising – Alemanha
  • Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo di Kinshasa – República Democrática do Congo
  • Cardeal Sean Patrick O’Malley, Arcebispo de Boston – USA
  • Cardeal George Pell, Arcebispo di Sydney – Austrália
  • Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, Arcebispo di Tegucigalpa – Honduras, que coordenará o Conselho
  • Dom Marcello Semeraro, Bispo di Albano – Itália, secretário do Conselho

El Papa crea una comisión de cardenales para reformar la Curia –  Jesús Bastante: Religión Digital 13/04/2013

Maradiaga será el coordinador de la misma. Bertello se perfila como futuro Secretario de Estado. Con representación de los cinco continentes, y sin presencia del aparato curial. Se acabaron los gestos: Francisco acaba de anunciar la creación de un consejo de cardenales para reformar la Curia Romana. El mismo día en que Jorge Mario Bergoglio cumple un mes de su elección como Papa, el Obispo de Roma cumple con uno de los compromisos que ya apuntó en las congregaciones previas al Cónclave: la reforma del aparato curial. Comienza la limpieza.

Paulus começa a vender livros digitais

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Lá está dizendo que a Paulus vai trabalhar em parceria com a Amazon, Iba, Livraria Cultura e Saraiva.

Mas, por enquanto, há poucos dados. Quando souber mais, direi!

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Os não-católicos e o Papa Francisco

É extremamente duvidoso que venhamos a ter outro João XXIII. Mas também era extremamente duvidoso que fôssemos ter o primeiro João XXIII.


Uma coisa que vale a pena assinalar é que mesmo aqueles católicos proeminentes que foram tratados mais duramente pela Igreja ou que estão mais desiludidos com o estado da Igreja – estou a pensar em Frei Betto do Brasil, Ernesto Cardenal da Nicarágua, Hans Küng da Alemanha, ou Garry Wills dos Estados Unidos – não renegam a sua pertença à Igreja. Continuam a tentar transformá-la ou, no seu ponto de vista, a trazê-la de volta à sua original e verdadeira missão. Nós, os restantes, não podemos “desistir” do Vaticano, como não o podemos fazer em relação à China ou aos Estados Unidos ou a qualquer outro lugar que seja uma sede de comportamento humano e de potencial transformação social.

Leia o artigo de Immanuel Wallerstein: Os não-católicos devem se preocupar com um papa? Em Carta Maior: 07/04/2013.

Leia Mais:
Francisco é um novo João XXIII? O debate entre os historiadores
Quem Francisco poderá ser com base no que Bergoglio foi

Resenhas na RBL – 01.04.2013

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Matthew A. Collins
The Use of Sobriquets in the Qumran Dead Sea Scrolls
Reviewed by Ian Werrett

Philip R. Davies and Diana Vikander Edelman, eds.
The Historian and the Bible: Essays in Honour of Lester L. Grabbe
Reviewed by George C. Heider

Kristina Dronsch
Bedeutung als Grundbegriff neutestamentlicher Wissenschaft: Texttheoretische und semiotische Entwürfe zur Kritik der Semantik dargelegt anhand einer Analyse zu zu [akouein] in Mk 4
Reviewed by Sidney A. Martin II

Radcliffe G. Edmonds III
The “Orphic” Gold Tablets and Greek Religion: Further along the Path
Reviewed by Edmund P. Cueva

Robert Gnuse
No Tolerance for Tyrants: The Biblical Assault on Kings and Kingship
Reviewed by James M. Bos

Douglas Harink
Paul, Philosophy, and the Theopolitical Vision: Critical Engagements with Agamben, Badiou, Zizek, and Others
Reviewed by Troels Engberg-Pedersen

Hayim Lapin
Rabbis as Romans: The Rabbinic Movement in Palestine, 100-400 CE
Reviewed by Steven Fine

Anne Pasquier, Daniel Marguerat, and André Wénin, eds.
L’intrigue dans le récit biblique: Quatrième colloque international du RRENAB, Université Laval, Québec, 29 mai-1er juin 2008
Reviewed by Johanna Brankaer

Martin C. Salter
The Power of Pentecost: An Examination of Acts 2:17-21
Reviewed by Chris L. de Wet

Davis A. Young and Ralph F. Stearley
The Bible, Rocks and Time: Geological Evidence for the Age of the Earth
Reviewed by David M. Maas

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Resenhas na RBL – 25.03.2013

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

John E. Anderson
Jacob and the Divine Trickster: A Theology of Deception and Yhwh’s Fidelity to the Ancestral Promise in the Jacob Cycle
Reviewed by Koog P. Hong

Walter Brueggemann; Carolyn J. Sharp, ed.
Disruptive Grace: Reflections on God, Scripture, and the Church
Reviewed by S. D. Giere

Frank Lothar Hossfeld and Eric Zenger
Psalms 3: A Commentary on Psalms 101-150
Reviewed by Leonard P. Maré

Pirjo Lapinkivi
The Neo-Assyrian Myth of Istar’s Descent and Resurrection
Reviewed by James R. Getz Jr.

Wali van Lohuizen
A Psycho-Spiritual View on the Message of Jesus in the Gospels: Presence and Transformation in Some Logia as a Sign of Mysticism
Reviewed by John DelHousaye

B. H. McLean
New Testament Greek: An Introduction
Reviewed by Hennie Stander

Jordan M. Scheetz
The Concept of Canonical Intertextuality and the Book of Daniel
Reviewed by Philippus J. Botha
Reviewed by Don Collett

Janet Smith
Dust or Dew: Immortality in the Ancient Near East and in Psalm 49
Reviewed by Ilaria L. E. Ramelli

Susan Sorek
Remembered for Good: A Jewish Benefaction System in Ancient Palestine
Reviewed by Carrie Elaine Duncan

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Dom Demétrio: não faltará nosso apoio a Francisco

“De certa maneira, dá para dizer que o Papa Francisco, nesses seus primeiros dias de Bispo de Roma, escolheu as referências que traçam a linha do seu pontificado. Usou gestos e palavras, que servem de parâmetro, para ‘formatar’ esta linha.

Ele emitiu sua mensagem cifrada. Tentemos decifrá-la, para entender bem seu recado.

Sua jogada estratégica começou pela escolha do nome. Foi sua primeira decisão, depois de ter aceito sua eleição. Isto mostra que desde o seu primeiro momento como novo Bispo de Roma, foi logo traçando um rumo para a missão que acabava de abraçar.

Tendo São Francisco como referência, e como escudo para neutralizar possíveis resistências, foi colecionando gestos e palavras que foram cimentando as primeiras impressões positivas a respeito de sua pessoa e de suas intenções.

(…)

João XXIII teve a grande oportunidade de convocar um Concílio, para o qual canalizou as simpatias pessoais que ele tinha angariado, convocando a todos para o grande mutirão em que se constituiu o Concílio [Vaticano II].

Qual será o novo mutirão que o Papa Francisco vai desencadear, para justificar as grandes esperanças que ele despertou com sua insistente convocação nestes dias de Semana Santa?

Depois da Páscoa, a Igreja leva sua fé para o cotidiano da vida. Depois dos gestos e das palavras animadoras, o Papa Francisco precisa tomar suas primeiras iniciativas práticas.

Como pediu nossas orações, não lhe faltará nosso apoio para implementar suas decisões”.

Leia o texto completo de O papa e a páscoa, publicado por Dom Demétrio Valentini, Bispo de Jales, SP, na Adital em 28/03/2013. Também aqui.

A utopia de Boff: Francisco inaugura o 3º milênio?

A Igreja é chamada a sair de si mesma e ir para as periferias, não apenas geográficas, mas também as periferias existenciais: as do mistério do pecado, da dor, das injustiças, das ignorâncias e recusa religiosa, do pensamento, de toda miséria. Quando a Igreja não sai de si mesma para evangelizar torna-se autorreferencial e então adoece. Os males que, ao longo do tempo, se dão nas instituições eclesiais têm raiz na autorreferencialidade, uma espécie de narcisismo teológico.

Papa Francisco: inaugura o terceiro milênio?

O primeiro milênio do Cristianismo foi marcado pelo paradigma da comunidade. As igrejas possuíam relativa autonomia com seus ritos próprios: a ortodoxa, a copta, a ambrosiana de Milão, a moçárabe da Espanha e outras. Veneravam seus próprios mártires e confessores e tinham suas teologias como se vê na florescente cristandade do norte da África com Santo Agostinho, São Cipriano e o leigo teólogo Tertuliano. Elas se reconheciam mutuamente e, embora em Roma já se esboçasse uma visão mais jurídica, predominava a presidência na caridade. O segundo milênio foi caracterizado pelo paradigma da Igreja como sociedade perfeita e hierarquizada: uma monarquia absolutista centrada na figura do Papa como suprema cabeça (cefalização), dotado de poderes ilimitados e, por fim, infalível quando se declara como tal em assuntos de fé e moral (…) Este modelo de Igreja, tudo indica, se encerrou com a renúncia de Bento XVI (…) A eleição do Papa Francisco, vindo “do fim do mundo” como ele mesmo se apresentou, da periferia da cristandade, do Grande Sul, onde vivem 60% dos católicos, inaugura o paradigma eclesial do Terceiro Milênio: a Igreja como vasta rede de comunidades cristãs, enraizadas nas diferentes culturas (…) Será praticamente impossível de se falar em paróquias territoriais; mas, em comunidades de vizinhança de prédios ou de ruas próximas. Esse cristianismo terá como protagonistas…

Leia o artigo completo de Leonardo Boff na Adital – 28/03/2103. Em pdf, aqui.