João Madeira está na IHU On-Line

Escolástica. Uma filosofia em dialogo com a modernidade

Escolástica. Uma filosofia em diálogo com a modernidade é o tema de capa da edição 342 da IHU On-Line, de 06/09/2010. Contribuem para o debate João Madeira, Paula Oliveira e Silva, Jorge Alejandro Tellkamp, Alessandro Ghisalberti, Alfredo Culleton, Francisco Suarez, Giuseppe Tosi, Alfredo Storck, Luís Alberto De Boni, José Luís Herreros, Santiago Orrego, Ludger Honnefelder, Jacob Schmutz, Jaqueline Hamesse e Angel Poncela González.

João Madeira, meu amigo e ex-aluno, mineiro, está neste número.

Graduado em Filosofia pelas Faculdades Claretianas de Batatais e em Teologia pelo Centro de Estudos da Arquidiocese de Ribeiro Preto, João Madeira é especialista em Filosofia Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), mestre em Filosofia pela Universidade Católica de Louvain-la-Neuve e doutor em Filosofia pela mesma instituição, com a tese Pedro da Fonseca’s Isagoge Philosophica and the Predicables from Boethius to the Lovanienses. Fez pós-doutorado em História das Ciências na Universidade de São Paulo (USP). Membro do Centro de Filosofia Brasileira (CEFIB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é professor de História da Filosofia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

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Madeira defende sua tese de doutorado em Filosofia em Leuven, Bélgica

Stephen Hawking, Deus e a origem do Universo

Si lo dice un científico, va a misa


Los investigadores están divididos: unos son creyentes y otros piensan que Dios es incompatible con la ciencia – ¿Es cometido de los laboratorios demostrar la existencia divina?

Mónica Salomone – El País: 05/09/2010

Antes de decidirse a hacer el primer trasplante de órganos entre humanos, en 1954, el cirujano Joseph E. Murray, Nobel de Medicina en 1990, consultó a varios líderes religiosos: “Parecía lo natural”, ha dicho Murray. Es solo uno de los múltiples ejemplos del vínculo entre religión y ciencia. Un nexo tan vigente aún hoy como encendidos han sido los debates sobre la investigación con células madre o la enseñanza de la teoría de la evolución -no en España pero sí en Estados Unidos-. Para muchos, estos asuntos trazan una frontera clara entre los científicos, que buscan respuestas con un método en teoría blindado a las propias creencias, y otra parte de la sociedad. La comunidad científica -vienen a decir- crece y se desarrolla al margen (a salvo) de la fe; la ciencia va a lo que va y no se ocupa de eventuales conflictos entre hechos demostrados experimentalmente y la religión. Pero entonces llega el físico Stephen W. Hawking, escribe que no hace falta Dios para explicar el Universo … y se produce una tormenta mediática. ¿Por qué? ¿No se consideraba este tema una prueba superada?

Leia o texto completo.

 

O livro: HAWKING, S.; MLODINOW, L. The Grand Design. New York: Bantam, 2010, 208 p. – ISBN 9780553805376.

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Stephen Hawking excluye a Dios como creador del Universo

El Gran Designio
Inventando o Universo: pensar Deus a partir da Nova Física
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Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Mercedes Lopes

LOPES, M. O livro de Jonas: Uma história de desencontro entre um profeta zangado e um Deus brincalhão. São Paulo: Paulus, 2010, 72 p. – ISBN 9788534931885

Por Tibério Teixeira da Silva Filho

Mercedes Lopes cursou Teologia e Bíblia na Universidad Bíblica Latinoamericana, em San José, Costa Rica (1995) e é Doutora em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2007). Além de outros grupos, assessora o CEBI.

Este livro sobre Jonas, preparado para o Mês da Bíblia, possui uma Introdução de 13 páginas e 8 roteiros para círculos bíblicos. Em cada roteiro ou encontro, temos:
. acolhida e oração inicial
. leitura da vida
. leitura do livro de Jonas
. momento orante
. organização do próximo encontro
. ampliação do assunto do livro de Jonas

Mercedes Lopes começa explicando que, embora colocado entre os livros proféticos, o livro de Jonas é uma novela que combina muito bem fábulas e realidade.

Para que? Para reagir ao nacionalismo fechado de Esdras e Neemias, “cujo projeto de reconstrução estava baseado em um tripé centralizador: a lei, a raça e o templo” (p. 5). Projeto que tinha o apoio do Império Persa, mas também de alguns profetas e sacerdotes. Então, diz Mercedes, “o livro de Jonas reage a esse fechamento de maneira muito bem-humorada, mostrando como era ridículo o fechamento do profeta Jonas e como era ampla e misericordiosa a postura de Javé diante dos estrangeiros” (p. 5).

Por tudo isso é que Mercedes já coloca, na primeira página de seu estudo, a data da escrita do livro de Jonas: século V a.C., quando existiam vários projetos de reconstrução de Jerusalém e Judá e variadas tendências estavam em confronto.

Mercedes vai dizer que, contra o projeto oficial de Esdras e Neemias, uma das tendências que então se destaca é a antiga tradição de mulheres contadoras de histórias. Um dos mais importantes livros da época que reporta esta tradição da luta das mulheres em seu cotidiano, defendendo o seu espaço e o espaço do povo mais pobre, é o livro de Rute.

Mas esta tradição, para Mercedes Lopes, pode ser vista também no livro de Jonas, “embora cada uma dessas histórias tenha seu enfoque próprio. Em Rute, a estrangeira amiga, o enfoque é o resgate dos direitos dos pobres. Em Jonas, o profeta fechado e mesquinho, o enfoque é a visão de Javé como Deus de ternura e misericórdia, que acolhe tanto judeus como estrangeiros” (p. 7).

Ao perguntar, em seguida, quem é Jonas, Mercedes vai dizer que a citação de Jonas, filho de Amati, da época do rei Jeroboão II, três séculos antes, é obviamente um recurso para dar autoridade a este escrito que denuncia o fechamento dos chefes religiosos que tentavam separar os judaítas de todas as pessoas de origem estrangeira. “Como havia profetas que apoiavam o projeto de Neemias e Esdras, o povo do interior de Judá começou uma reação bonita, bem refletida e bem-humorada, para fazer uma crítica a esse tipo de profecia” (p. 8).

Em seguida a autora descreve o enredo da novela de Jonas, para chegar à famosa conclusão aberta, pois a história de Jonas não tem um final padrão, como seria de se esperar para este gênero literário.

Mas, exatamente por isso, o livro tem uma força didática significativa, pois, sem ser uma parábola no sentido estrito, ele contém, no final, uma provocação ao estilo das parábolas “que ficam na memória da gente, questionando e intrigando (…) A historieta de Jonas (…) não somente faz pensar, mas tem cabides na memória do povo, onde as imagens ficam penduradas, provocando perguntas e levando todos a descobrir um sentido novo para suas vidas” (p. 11).

Cabides? Os navios que navegavam para longe, para Társis [na atual Espanha], as tempestades ameaçadoras e os constantes naufrágios, o grande peixe, o tamanho de Nínive e seu enorme poder, o implacável calor da região, a teimosia de Jonas, a misericórdia de Javé… Esta realidade era bem conhecida da vivência dos ouvintes e/ou das histórias que vinham dos antigos.

O esquema do livro é usado, com habilidade, pela autora para clarear a história, pois o livro é muito bem elaborado e estruturado. Mas, chamo a atenção para as 4 chaves de leitura sugeridas para o livro de Jonas:
. superação de preconceitos e fechamentos: gentios abertos – marinheiros e ninivitas – e judaítas, simbolizados por Jonas, fechados
. ser fonte de bênção para todos os povos: estão lembrados de Abraão em Gn 12?
. quando a gente é pequeno, tudo é grande: Judá era um minúsculo território dentro do enorme Império Persa… a palavra “grande” aparece com frequência, mas a grandeza de Javé, em sua misericórdia, é que, finalmente, se impõe
. momentos orantes expressam experiências profundas: marinheiros oram, Jonas ora, os ninivitas, violentos e opressores, que se convertem de suas más ações

Vi também, com interesse, os títulos de cada uma das ampliações existentes nos oito encontros, pois eles nos ajudam a compreender o enfoque dado ao estudo de Jonas por Mercedes Lopes:
. quem eram esses odiados “ninivitas”?
. a misericórdia é a expressão maior da fé
. as ressonâncias bíblicas da oração de Jonas
. a importância do perdão
. espiritualidade profética
. violência e paz
. amor – faísca de Deus – que nos transforma a partir de dentro (Ct 8,6)
. as relações de gênero presentes no livro dos Provérbios (uma das imagens femininas de Deus é a da Sabedoria em Provérbios)

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Compare com o mês de julho de 2010.

Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo o Centro Bíblico Verbo

CENTRO BÍBLICO VERBO Levanta-te e vai à grande cidade: Entendendo o livro de Jonas. São Paulo: Paulus, 2010, 128 p. – ISBN 9788534926362

Por Anderson Luís Moreira

Há alguns anos o Centro Bíblico Verbo vem produzindo junto com a editora Paulus a Coleção “Do povo para o povo”, sempre com os livros bíblicos indicados pela CNBB para o Mês da Bíblia. As obras da coleção apresentam uma introdução geral ao livro bíblico e cinco encontros a serem realizados como círculo bíblico. A cada encontro sempre há uma explanação geral do texto bíblico com sua contextualização histórica e social, discussão do texto bíblico pelos participantes, momento celebrativo e um anexo em que são discutidos os aspectos exegéticos, históricos e teológicos de maneira mais aprofundada.

Neste breve texto pretende-se apresentar alguns pontos relevantes acerca do livro de Jonas levantados na obra “Levanta-te e vai a grande cidade: entendendo o livro de Jonas”. Maria Antônia Marques e Shigeyuki Nakanose, assessores do Centro Bíblico Verbo, são os responsáveis pelo texto.

Não se sabe ao certo a autoria do livro de Jonas. Ele não seria do círculo dos sacerdotes, pois não cita o Templo, nem os cultos e sacrifícios. Provavelmente foi construído pelos sábios de Israel, que conheciam a tradição do seu povo e dos povos estrangeiros, sendo-lhes favoráveis. Quanto à sua data, é provável que seja do final da época persa, já que possui várias palavras de origem aramaica, língua oficial do período persa; por causa da teologia e da compreensão universalista de Deus, surgida apenas no pós-exílio; e por causa da alusão a costumes persas. Quanto ao estilo, o livro possui elementos próprios de novela, parábola, sátira e midraxe.

Em relação à estrutura do livro, o livro de Jonas pode ser visualizado em duas cenas paralelas uma com a outra. Assim temos:

:: Primeira cena – capítulos 1 e 2: no mar
A – 1,1-3: Javé envia Jonas para pregar em Nínive, mas ele foge.
B – 1,4-16: A tempestade no mar: Javé, Jonas, o capitão, os marinheiros.
C – 2,1-11: A oração de Jonas e a resposta de Javé: pela palavra e pela natureza.

:: Segunda cena – capítulos 3 e 4: em terra
A – 3,1-4: Novamente Jonas é enviado para Nínive e lá prega a destruição.
B – 3,5-10: A ação dos ninivitas – homens, mulheres, rei e animais – e o perdão de Deus.
C – 4,1-11: A oração de Jonas e o questionamento de Javé a Jonas.

Em relação à mensagem do livro, o autor de Jonas ironiza o comportamento do judeu nacionalista e tem um olhar favorável aos estrangeiros. A resistência de Jonas representa aqueles grupos que não aceitam que Javé seja misericordioso com os povos estrangeiros. Deus, ao contrário, é apresentado como alguém que vê e se arrepende do mal, que não é insensível à vida do povo, mas que se deixa comover, da mesma maneira que o Deus do êxodo.

Porém, para melhor compreendermos a mensagem da obra é necessário que nos detenhamos no contexto em que ela foi produzida, como já dissemos, no final da época persa. É neste período que os exilados voltam para casa e têm a permissão e o apoio para a reconstrução do Templo (em 515, sob Dario I).

O grupo que voltou do cativeiro veio com o apoio do Império. Eles se consideravam o verdadeiro Israel e legítimos donos da terra. Em Judá eles acabaram entrando em conflito com o povo que ficou na terra, e com outros grupos, como moabitas e amonitas. Neste período se consolidou a compreensão teológica de que o povo de Israel era o único povo santo, escolhido e privilegiado por Deus. Porém, somente o grupo que voltou do exílio poderia ser considerado o verdadeiro Israel. A visão nacionalista acabava por excluir os estrangeiros e os pobres que haviam ficado na terra.

No exílio, os sacerdotes que organizavam parte dos sobreviventes na Babilônia eram sadoquitas. Quando retornaram para Jerusalém construíram uma teocracia ao redor do Templo reconstruído. No pós-exílio, a figura do sumo sacerdote se tornou muito importante.

A cidade de Jerusalém e o Templo tornaram-se o centro de poder político e econômico (o Templo era o único lugar da manifestação de Deus). A Lei de Deus se tornou lei real e apropriada pelos grupos sacerdotais oficiais do Templo (sadoquitas), tornando-se, dessa maneira, instrumento de opressão política, religiosa e econômica. Os sacrifícios se multiplicaram e as leis da pureza assumem um rigorismo jamais visto e atinge a todas as pessoas (ser puro significava pertencer ao povo eleito e cumprir todas as exigências da Lei, principalmente as leis da pureza). Jonas representa as pessoas que acreditavam que o Templo era o único lugar da presença de Deus e defendiam a teologia oficial: a eleição do povo de Israel, a centralização da vida judaica no Templo, as leis da pureza e a teologia da retribuição (Deus abençoa uma pessoa pura com riqueza, saúde, vida longa e descendência, e a pessoa impura é castigada com pobreza, doença e sofrimento).

É no pós-exílio que começa um processo de exclusão até chegar à eliminação do estrangeiro. A idéia de povo eleito e santo, que inicialmente possibilitou manter a coesão e a identidade do judeu no exílio, agora provoca o fechamento e isolamento de outros povos e do povo judeu que havia ficado na terra. Contudo, sempre houve uma corrente contrária à exclusão dos estrangeiros, como podemos perceber nos livros de Jó, Jonas, Rute, do Terceiro Isaías (Is 56-66) e em alguns salmos.

Assim, a teologia presente no livro de Jonas está na contramão da teologia oficial. O livro surge como resposta aos conflitos gerados pela oficialização da teologia racial e nacionalista em Jerusalém, no pós-exílio. Jonas representa o grupo nacionalista de Jerusalém, bem estabelecido economicamente, que discrimina os estrangeiros convertidos. Por isso, desde o início do livro, Jonas tenta fugir da presença de Deus e de sua missão.

No trecho de Jn 1,4-16 Javé é concebido como uma divindade universal, já que age fora de Israel e através dos elementos da natureza. Jonas é insensível aos acontecimentos e às pessoas, só deseja fugir de sua missão. Enquanto isso, os marinheiros e o capitão são descritos como pessoas íntegras e justas.

Em Jn 2,1-11, temos a oração de Jonas, que deve ter sido acrescentada ao livro posteriormente, já que sua teologia é diferente daquela do resto do livro. Ser engolido pelo peixe (ou ‘peixe fêmea’ – é no ventre de uma fêmea o lugar onde se gera uma nova vida) mostra que a descida para dentro de si mesmo não foi suficiente para Jonas mudar o seu ponto de vista. Uma boa ironia: nem o peixe aguentou Jonas.

Em Jn 3,1-10, Jonas é convocado por Javé para a missão com as mesmas palavras do primeiro capítulo. Nínive era símbolo da opressão e violência das potências estrangeiras. Quando o livro foi escrito, ela já não existia há mais de dois séculos, podendo, dessa forma, ser identificada com qualquer centro estrangeiro da época.

Em seu anúncio, Jonas não menciona o nome de Javé. O texto não fala de ninguém que tenha abandonado seus deuses. Na verdade, é a vida que precisa ser transformada, é o abandono do caminho perverso e da violência de suas mãos. O relato de Jonas tem assim a intenção de provocar a conversão na cabeça de seus ouvintes. É um chamado para os israelitas aceitarem que o seu Deus é Deus de todas as nações e não fechar o diálogo com as cidades estrangeiras do final do Império Persa, que poderão se converter de sua maldade e violência.

No trecho de Jn 4,1-11, Jonas sente um grande desgosto e fica irado. Sendo inteligente, ele compreende que a misericórdia do Deus de Israel se estende a todos os povos, apesar de não conseguir aceitar essa realidade. Depois, Jonas apieda-se de uma planta. Ora, como ele pode ter pena de uma planta, que é considerada um objeto, e Javé não pode ter pena dos habitantes de uma cidade inteira e dos animais? A pergunta fica sem resposta. O final aberto do último versículo é um convite para o leitor continuar a reflexão e se posicionar.

Assim, como Jonas foi chamado a ir à grande cidade e ali anunciar, também somos chamados a anunciar o Reino de Deus nas nossas realidades, e, principalmente, nos grandes centros urbanos. O livro do Centro Bíblico Verbo vem ajudar-nos, iluminando-nos com o texto bíblico, a confrontar nossas vidas com a Palavra de Deus, levando-nos também à missão “na grande cidade” do mundo.

Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo Schökel e Sicre

SCHÖKEL, L. A.; SICRE DIAZ, J. L. Profetas II. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2002, p. 1037-1062. – ISBN 8534919917

Por Paulo Martins Junior

Luís Alonso Schökel nasceu em Madri, Espanha, em 1920 e faleceu em 10.07.1998. Doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1957) foi Professor no mesmo Instituto de 1957 a 1995. José Luiz Sicre nasceu em Cádiz, Espanha, em 1940, doutorou-se em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma (1978) e leciona na Faculdade de Teologia da Universidade de Granada, Espanha, e no Pontifício Instituto Bíblico de Roma. Este comentário aos profetas, em dois volumes, foi publicado originalmente em espanhol em 1980 e traduzido para o português em 1991.

É bastante comum datar a redação do livro de Jonas no período pós-exílico. Entretanto, alguns estudiosos a situam no século V, como reação ao nacionalismo exagerado de Esdras e Neemias, enquanto outros a situam mais tarde, alegando que elementos folclóricos nela presentes só se difundiram depois da campanha de Alexandre Magno. É certo que a redação teve termo antes do ano 200 a. C., uma vez que nessa época já integrava o conjunto dos Doze Profetas Menores.

Schökel e Sicre Diaz iniciam o trecho sobre o livro de Jonas afirmando que poucos personagens do Antigo Testamento são tão conhecidos e tão mal interpretados quanto Jonas. Geralmente se confunde a mensagem do livro com o episódio da “baleia”, deixando-se de lado todo o seu rico conteúdo teológico. O livro de Jonas é um dos mais estudados e comentados da Bíblia, embora não se tenha chegado a uma interpretação unânime. Alguns poucos comentaristas consideram o relato como histórico, outros como alegoria, e outros, ainda, como parábola.

A interpretação de Jonas como personagem histórico com missão concreta a respeito de Nínive, parece sugerida pelo próprio autor do livro que o identifica como filho de Amati. Profeta de mesmo nome aparece durante o reinado de Jeroboão II, no século VIII a. C. Antigos exegetas identificaram os dois personagens e até mesmo Jesus teria refletido a convicção generalizada em sua época no sentido de que Jonas seria personagem histórico, segundo Mt 12,38-42 e Lc 11,29-32.

Esta interpretação, porém, encontra sérias dificuldades. Jonas, filho de Amati, seguramente nada tinha a ver com o protagonista do livro de mesmo nome. Além disto, Nínive não era a capital da Assíria na época de Jeroboão II, nem tinha as dimensões extraordinárias narradas no livro. Também se sabe que Nínive nunca se converteu ao javismo. Todos estes condicionamentos levaram muitos comentaristas a abandonar esta interpretação.

A interpretação alegórica, em sentido estrito, também teve seus adeptos. Tentando transferir todos os elementos do relato para o plano da realidade, estudiosos apresentam Nínive como símbolo do mundo gentio; Jonas seria Israel em sua recusa para cumprir sua tarefa missionária; o grande peixe representaria o exílio; a segunda ordem de partida para Nínive seria a confirmação da mesma missão para Israel; o mal-estar de Jonas seria aquele do Povo de deus, que não aceita o perdão dos gentios, como se vê também em Neemias, Esdras, Joel e Abdias.

Mas também aqui, na interpretação alegórica, encontramos sérios obstáculos, pois alguns elementos da narrativa não admitem uma transposição. O que significariam os marinheiros? Israel partiu voluntariamente para o exílio como Jonas pediu para ser atirado ao mar? Que significado teria a mamoneira? Estes problemas sem solução tornam esta interpretação pouco digna de crédito e são poucos os exegetas que ainda hoje a sustentam.

Muitos comentaristas atualmente consideram o livro de Jonas como parábola, renunciando a estabelecer qualquer tipo de paralelismo entre ele e a história de Israel e limitando-se a considerar o relato como uma excelente narração com fins didáticos. Ainda assim estes comentaristas também não chegam a um acordo quanto ao objetivo do livro. O que Jonas pretende ensinar? Uns afirmam que seria a relação entre eleição e universalismo. Outros, a atitude que Israel deve ter ante os povos gentios. Para outros o livro tenta justificar a Deus, que não cumpriu as antigas ameaças contra Nínive. Outros ainda veem como chave do relato as relações entre o profeta e Deus, enquanto outros veem o chamado à conversão ou à atividade missionária. Uma opinião entre todas estas, segundo Schökel e Sicre Diaz, parece sobressair entre as demais: aquela que apresenta o livro de Jonas como um chamado ao universalismo, ante o nacionalismo e à xenofobia do período pós-exílico.

É importante também citar a visão dos autores sobre a aplicação cristológica da narrativa de Jonas. Apenas a permanência de Jonas no ventre do peixe pode ser considerada como tipo de descida de Cristo ao seio da terra (cf. Mt 12,38-42). Com algum esforço pode-se também relacionar o enfrentamento de Jonas com os ninivitas com o enfrentamento de Jesus com seus contemporâneos. Mas o paralelismo não vai além disso, porque Jesus jamais fugiu de Deus ou da sua palavra, não opôs resistência ao mandato de Deus, não desceu ao ventre da terra pelos seus pecados, não se magoou com Deus. Jesus é totalmente contrário à figura de Jonas, o anti-Jonas como disseram Schökel e Sicre Diaz.

Os dois exegetas espanhóis consideram o livro de Jonas uma obra-prima. No entanto, afirmam que a ciência bíblica não deixou de descobrir nele uma série de problemas, alguns ainda não solucionados. Entre estes problemas estão os aparentes tropeços na narração, as diversas maneiras de se nomear Deus, o salmo recitado por Jonas no ventre do peixe e a relação entre os capítulos 1-2 e 3-4.

Cito como exemplo o salmo recitado por Jonas no ventre do peixe. É quase unanimidade entre os comentaristas que não pertenceria à obra original, de acordo com os seguintes argumentos: o salmo não se ajusta ao contexto; a linguagem usada é diferente; a atitude de Jonas no salmo não concorda com a que demonstra no restante da obra. Alguns comentaristas, porém, classificam o salmo como sendo original, pertencente à obra e escrito pelo mesmo autor do relato.

A mensagem de Jonas, segundo os autores do estudo, está centrada na escolha de Nínive como objeto da misericórdia de Deus. De fato, a capital do Império Assírio ficou na consciência de Israel como símbolo do imperialismo, da agressividade mais cruel contra o povo de Deus. Os ninivitas eram os maiores opressores de todos os tempos, e é a eles que deve se dirigir Jonas para os exortar à conversão e mais: é a eles que Deus concede seu perdão! Para Alonso Schökel e Sicre Diaz a mensagem do livreto é que Deus ama também os opressores, “faz nascer o sol igualmente sobre maus e bons e cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).

É na perspectiva de opressão e de injustiça que se entende a reação dos ninivitas à mensagem de Jonas. O autor do relato bíblico não diz que eles se converteram ao Deus verdadeiro, mas simplesmente deixaram suas más ações e sua violência. A injustiça é que desapareceu do meio deles. Na mensagem há, portanto, dois aspectos: os opressores devem se converter e Israel deve aceitar que Deus os perdoe. Jonas representa aqui o povo oprimido, que sofreu exploração, perseguição e exílio na mão dos opressores. Por isso ele, Jonas, esperava a terrível intervenção de Deus contra seus inimigos. O livro de Jonas deixa claro que isto não acontecerá, pois com a conversão vem também o perdão.

Mês da Bíblia 2010: Jonas, segundo o SAB

SAB Levanta-te, vai à grande cidade (Jn 1,2): Introdução ao estudo do profeta Jonas. São Paulo: Paulinas, 2010, 48 p.

Por Thiago Cezar Giannico

Este é um roteiro para o Mês da Bíblia estruturado em 4 encontros, precedidos por uma Introdução e seguidos por uma Celebração de Encerramento. O SAB, Serviço de Animação Bíblica, tem como proposta ajudar as pessoas, grupos e comunidades a ler a Bíblia no contexto onde ela nasceu e, à sua luz, iluminar a realidade da vida do povo facilitando o diálogo criativo e transformador entre Palavra e vida.

Os quatro encontros, no centro do livro, tratam dos seguintes temas:
1. O chamado e a fuga de Jonas: O profeta resistente
2. Três dias de retiro com Jonas: Na fuga, Jonas encontra a salvação
3. Levanta-te e vai à grande cidade: “Vai e anuncia a mensagem que eu te disser”
4. Deus rico em misericórdia: A salvação é para todos.

Inserido entre os livros proféticos por preferir um oráculo de Deus, o livro de Jonas possui uma forma narrativa, aproximando-se mais de um conto ou de uma lenda popular, por seus elementos míticos e fabulosos e, especialmente, por seu conteúdo sapiencial.

Ao chamar o personagem de “Jonas, filho de Amitai” em 1,1, o anônimo autor está usando uma ficção literária ao colocar em cena um antigo profeta com este nome do tempo de Jeroboão II, citado em 2Rs 14,25.

Além disso, “o Jonas deste livro não é um herói, não faz nenhuma façanha, não é um santo; ao contrário, ele desobedece a Deus, contesta suas ações e nem de longe é o principal ator na cena. Deus é realmente o personagem central da história” (p. 5-6). É ele quem comanda todas as ações.

Jonas, por outro lado, foge de Deus porque deve levar uma mensagem a um povo estrangeiro, inimigo e opressor dos israelitas. Jonas tem uma atitude nacionalista, é intolerante. Para ele, só a nação judaica tem salvação. Ele não quer entender que a misericórdia de Deus se estende a todos aqueles que se convertem de suas más ações.

Esta atitude de Jonas, somada a outros elementos teológicos e linguísticos, nos indica que o livro pode ser datado por volta do século IV A.E.C. [= Antes da Era Comum]. “É um escrito pós-exílico e representa uma corrente mais aberta, tolerante e universalista do judaísmo que se formou neste período. Pode ser uma reação à política nacionalista de Esdras e Neemias” (p. 8), que chegou a desmanchar os casamentos dos israelitas com mulheres estrangeiras.

A história de Jonas acabou ficando muito famosa por causa do “grande peixe” – que na imaginação popular virou uma “baleia” – mandado por Deus para salvá-lo. No ventre do peixe, diz o conto, Jonas refletiu sobre sua situação, sua infidelidade e sua covardia e sobre a salvação de Deus que é para todos.

Ao prosseguir em sua missão em Nínive, Jonas fica muito descontente com a misericórdia divina que perdoa até o pior inimigo, desde que ele mude de vida. Enquanto os marinheiros e os ninivitas se comportam como autênticos javistas, Jonas, adorador de Javé, representando a comunidade israelita fechada e nacionalista que se considerava como a única escolhida, não se converte até o final.

Assim entendido, o livro deixa um recado claro, “presente na oposição entre a atitude de aversão de Jonas contra os ninivitas, ou seja, dos israelitas contra os estrangeiros, e a atitude misericordiosa de Deus para com toda a humanidade” (p. 34-35). O relato de Jonas mostra, como mensagem maior, que Deus ama incondicionalmente a todos e quer que todos sejam salvos.

Sheffield Biblical Studies: um blog que promete

Sheffield Biblical Studies: um blog que, hoje, 1 de setembro de 2010, se propõe ser:

A blog dedicated to ideas from, and news about, the Department of Biblical Studies, University of Sheffield.

E:

This blog will be a mix of news, events, book reviews and anything relating to biblical studies in general. There will be a range of contributors, including students, associated with the Department of Biblical Studies at Sheffield.

Por James Crossley e outros.