Kloppenborg, J. S. The Tenants in the Vineyard: Ideology, Economics, and Agrarian Conflict in Jewish Palestine. Tübingen: Mohr Siebeck, 2006, xxix + 651 p. ISBN 3-16-148908-X
Minha dissertação de Mestrado foi sobre uma parábola, a de Mt 25,1-13, a Parábola das Dez Virgens, sob orientação de Ugo Vanni. Desde a década de 90 nunca mais estudei as parábolas, por estar me dedicando somente à Bíblia Hebraica, e hoje nem sei qual é a orientação dominante dos estudos da área. Estudei muito, na época, na linha de Joachim Jeremias, e também tive a oportunidade de ser aluno de Jacques Dupont.
Agora, me deparo com o livro de John S. Kloppenborg, o grande especialista em Quelle, professor da Universidade de Toronto, Canadá, que escreveu, neste ano um livro de 651 páginas sobre a Parábola dos Vinhateiros, em Mc 12,1-12 e Evangelho de Tomé 65.
O título do livro é: Os Meeiros da Vinha: ideologia, economia e conflito agrário na Palestina judaica.
O autor diz que o conflito que a parábola descreve não era incomum na época, e ele a situa de maneira sólida no contexto das práticas da viticultura antiga. Mas o mais interessante é que Kloppenborg mostra que esta parábola, que foi contada por Jesus contra a elite dominante da época, acabou sendo lida, pela exegese e pela pregação, como sustentação do status quo.
Veja a descrição do livro na página da editora Mohr Siebeck:
John S. Kloppenborg gives a detailed analysis of one of the most difficult of Jesus’ parables, the parable of the Tenants (Mark 12:1-12; Gospel of Thomas 65). He examines the ways in which Christians have typically read and mis-read the parable, and places the parable firmly in the context of the practices of ancient viticulture. The author models a new approach to the interpretation of the parables of Jesus. First, he critically engages the history of interpretation of the text, inquiring into the ideological interests that the parable has engaged during the history of its use in Christian churches and in political discourse. Second, he reconstructs the social world in which the parable was first told, in particular the economic, social, and legal aspects of ancient viticulture. He demonstrates that the parable of the Tenants has mostly been interpreted from the standpoint of those who wield social and political power, a strange irony considering the social status of the Jesus of history and the literary uses of the parable. All of the features common to the parable as it is told by Mark and the Gospel of Thomas make it a perfectly realistic story. It is only Mark’s editing of the story that takes it beyond the realistic idiom characteristic of Jesus’ other parables. The book concludes with a dossier of 58 papyrus documents relating to various aspects of viticulture and agrarian conflict.
Quem é John S. Kloppenborg?
Born 1951; M.A. and Ph.D. at the University of St. Michael’s College; Professor and Associate Chair of the Department for the Study of Religion, University of Toronto, Canada. John S. Kloppenborg is a specialist in Christian origins and second Temple Judaism, in particular the Jesus tradition (the canonical and non canonical gospels), and the social world of the early Jesus movement in Jewish Palestine and in the cities of the eastern Empire. He was written extensively on the Synoptic Sayings Gospel (Q) and the Synoptic Problem, and is currently writing on the parables of Jesus, the letter of James, and cultic, professional, and ethnic associations in the Graeco-Roman world. He has taught and conducted research in Toronto, Windsor, Jerusalem, Cambridge, UK, Calgary, Helsinki, and Claremont, Calif. Is one of the general editors of the International Q Project.
Flávio Santos (o anônimo):
John S. Kloppenborg me surpreende pelo trabalho tão revelador de como se encontra tão distante da compreensão requerida pelos evangelhos, canônicos ou não.
Volta e meia o evangelho, seja o de Mateus ou de outro, faz um sublinhado, seja como narrante: “que o leitor entenda/quem lê entenda”, ou pela boca de Jesus: “Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça”. O entendimento ou ouvido requeridos para compreender as parábolas, por exemplo, bem como contextualização de todo um livro, são sempre os de natureza espiritual.
Essa distinção mereceu abordagem detalhada de Paulo, em 1º Coríntios, capítulo 2, sendo de ressalvar o versículo 14: “O homem psíquico/natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”
O entendimento espiritual é aquém do racional e do eXotérico, é transracional. Por isso mesmo Paulo dizia (1Coríntios, 1:22-24) que o Cristo crucificado, ou Sabedoria de Deus, é escândalo para os judeus (cuja apreensão, via de regra, é eXotérica das Escrituras, seguido pelos “cristãos” e “muçulmanos” convencionais) e loucura para os gregos (cuja instrumentalização mental estriba-se na Razão).
A parábola da vinha é outra de muitas sobre o Reino de Deus; necessita, em vista disso, do apuro espiritual, e não técnicas de ciência histórica para contextualizar conflitos de classes, que é de gosto de muitos teólogos, que agem no domínio do psíquico/natural.
Viúva, órfãos, vinha e muitas outras, são palavras simbólicas com conteúdo espiritual. Em Isaías, 5:7, temos da vinha: “Pois bem, a vinha de Iahweh dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são sua plantação preciosa…”
Há muitas coisas a comentar aqui, do paralelismo com outras parábolas do chamado Novo Testamento, bem como das passagens do erroneamente denominado Antigo, da função que as personagens criticadas exercem etc.
Em “Viver Através do Zen”, Daisetz Teitaro Suzuki, ressalta a peculiariadade dessa mesma percepção espiritual/universal abordada por Paulo: “O plano satoriano (chamaríamos de Crístico) nunca pode ser alcançado através do plano racionalista, entretanto, habilmente, ele pode ser tocado.”
John S. Kloppenborg, com certeza, não será prioridade em meus estudos.
Flávio,
Estou à procura de uma resenha séria do livro de J. S. Kloppenborg, The Tenants in the Vineyard, mas até agora nada encontrei, talvez por ser a obra relativamente recente. Quando a encontrar, colocarei indicações no blog.
Jesus viveu historicamente, lidando com pessoas (racionais bem como subjetivas) entremeadas nas congruências e condições históricas da vida, incluindo as econômicas, políticas, sociológicas, culturais, bem como às aspirações transcedentes.
Logo, pregar um Jesus docético, lidando com pessoas-sombra, etéreas, não é nada "espiritual". Inclusive, o significado de "espiritual" por Paulo não é o anacronismo exotérico-dicotômico. Tanto que referiu-se a "corpo espiritual" como um corpo físico de propriedades não-degenerativas e propensões morais boas.
Joachim Jeremias e John S. Kloppenborg, são contribuições explêndidas para quem quer ser fiel ao "quem lê entenda", e não "quem lê vaporize".
Outro ótimo com uma abordagem integrada e profícua é Kenneth E. Bailey