Em Notícias do Dia do IHU

Quatro textos que li hoje em Notícias do Dia do IHU e que merecem destaque, penso eu: III Fórum Mundial de Teologia e Libertação, Hans Küng sobre a política norte-americana, Libânio sobre Hugo Assmann, o custo absurdo da guerra no Iraque.

:: III Fórum Mundial de Teologia e Libertação será em Belém e começam os preparativos

:: Hora de mudança radical. Artigo de Hans Küng

:: Hugo Assmann (1933-2008). Um artigo de João Batista Libânio

:: Três trilhões de dólares é o custo da guerra no Iraque, afirma Joseph Stiglitz

Um susto, logo cedo

Pois é. Minha cabeça está lá no antigo Israel, pois estou lendo FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, 220 p. – ISBN 9781589832770 e GRABBE, L. L. Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? London: T & T Clark, 2007, 328 p. – ISBN 9780567032546.

Mas, ainda muito cedo, quis me informar sobre a situação do Kosovo e sua tão celebrada (em nossos jornais) independência. Apesar de ser a renúncia de Fidel Castro à Presidência de Cuba a grande manchete do dia.

Sobre o Kosovo, leio um bom artigo em Carta Maior, de Flávio Aguiar, publicado ontem: Uma guerra atrás da esquina. A chamada diz: “A União Europeia, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, no afã de conter uma ‘Grande Sérvia’, potencial aliada de uma Rússia em vias de recuperação e sob a liderança com ares de neoczarismo de Vladimir Putin, podem estar fomentando o nascimento de uma ‘Grande Albânia'”.

E Flávio Aguiar menciona o texto de Simon Tisdall, A great leap in the dark [Um grande salto no escuro], em The Guardian, que vale a leitura. A análise tem a data de 14 de fevereiro: “The EU is setting a dangerous precedent by ignoring international law in its support for Kosovo’s independence”.

Procuro me situar melhor, inclusive geograficamente, já que a região é um verdadeiro mosaico de países “recentes”, e vou ao Le Monde diplomatique, em francês, onde encontro, além de um mapa, vários textos que analisam a situação da região.

Cito, como exemplo, a análise de Jean-Arnault Dérens, La boîte de Pandore des frontières balkaniques [A Caixa de Pandora das fronteiras balcânicas], na qual se diz: “Statut du Kosovo, impasse politique en Bosnie-Herzégovine… Tous les éléments d’une nouvelle crise régionale semblent réunis, sanctionnant l’échec des politiques menées depuis quinze ans par la ‘communauté internationale’. Dans ce contexte délétère, la vieille idée de redéfinir les frontières des Balkans refait surface. Alors que peuples, minorités et revendications s’entremêlent, cette approche pourrait plonger la région dans le chaos”.

Então resolvo ver se há algo sobre o assunto no Le Monde diplomatique Brasil. Ainda não há.

Mas levo um susto, logo cedo, pois li ali afirmações que eu nem sabia que podiam ser ditas assim às claras…

Em A nau dos dinossauros, o jornalista Johann Har explica que embarcou “em um navio de um branco ofuscante, dotado de dois restaurantes, cinco bares e quinhentos assinantes da National Review. Aqui, a guerra do Iraque é um ‘sucesso notável’. O aquecimento global ‘não existe’. A Europa está se transformando em um califado. E não tem para onde fugir”.

Confuso? A chamada do jornal diz: “No crepúsculo da Era Bush, centenas de neo-conservadores norte-americanos embarcam num cruzeiro marítimo, durante o qual debatem o ‘sucesso notável’ dos EUA no Iraque, a ‘inexistência’ do aquecimento global e o ‘risco iminente’ de dominação muçulmana sobre a Europa. Nosso repórter estava com eles”.

Só o tema mudou. Não a atitude, pois o pensamento das “viúvas de Bush” tem tudo a ver com a política internacional para os Bálcãs… e, penso, com a ala conservadora da arqueologia bíblica, denunciada por Finkelstein em The Quest for the Historical Israel, na página 10:

In the early days, conservative scholars deployed archaeology to help defeat the higher criticism of scholars such as […] But the truth of the matter is that archaeology was not given center stage in the debate. It was used only in order to support a preconceived theory. Archaeology played the role of supplying decorative evidence for a history that was a modern, almost word-for-word rewriting of the biblical story. By doing that, scholars of the conservative school promoted historical and archaeological reconstructions that had no actual support in the finds, or were trapped in circular argumentation.

África? Desde que as potências ocidentais…

Jim West fala hoje, em seu blog, da violência na África, em ‘God Left Africa A Long Time Ago’ [Obs.: blog falecido, link sepultado] e, entre outras coisas, menciona:
“Sudan, Chad, Kenya, and other ‘death zones’ keep Africa in the news- and not in a good way. What’s going on there? Are death and violence simply the way disputes are best settled? Clearly not. So why, then, are they the chosen means by so many in Africa?”

Acabo de ler um artigo em Carta Maior: A questão do Quênia. Escrito por Flávio Aguiar no dia 31.01.2008. Recomendo. Nada entendo da África. Mas gostaria de entender.

Minha compreensão é que devemos falar da África no plural: há muitas “Áfricas”, geográfica, étnica, cultural e politicamente distribuídas no continente africano. Não se pode simplificar. Depois, há o que Tim Bulkeley já escreveu como comentário ao post do Jim: a violência hoje existente na África é resultado, em grande parte, da intervenção colonialista e imperialista do Ocidente. Por onde passaram as potências capitalistas, exacerbou-se o rastro de ódio. Muitos especialistas dizem ser esta a causa maior, embora não a única, das guerras atuais.

O que choca um ocidental dos Estados Unidos ou da Europa é que lá a guerra é “suja”. Como diz Flávio Aguiar:
[O que vemos no Quênia são] “massacres mútuos entre Kikuyus e Luos, perpetrados a golpes de machete, de porretes, ou com pneus em chamas presos aos pescoços das vítimas. São imagens de uma ‘guerra suja’, em contraste com as ‘guerras limpas’, intervenções cirúrgicas e assépticas para os interventores, apesar dos milhares de mortos do outro lado, que as potências do mundo hoje costumam patrocinar e praticar”.

Mas toda guerra, para os derrotados, é suja. Como diz Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas: “Guerra diverte – o demo acha”. Ou guerra é “só o contrário do que assim não seja”.

Mas deve existir, Jim, algumas centenas de bons livros, em inglês, que analisam com competência a situação das várias “Áfricas” e contextuam historicamente os correntes conflitos.

 

O artigo de Flávio Aguiar, A questão do Quênia

Por entre o crescente frenesi em torno da terça-feira, 5 de fevereiro, onde primárias democratas e republicanas ocorrerão em duas dezenas de estados norte-americanos, a imprensa europeia de hoje está tomada por relatos sobre a situação do Quênia, que se deteriora no que é descrito já como campanhas de massacres ou enfrentamentos étnicos, entre Kikuyus, grupo do atual presidente, Mwai Kibaki, e Raila Odinga, da oposição, dos Luo.

É difícil penetrar mais a fundo em diferenças programáticas – se existem – entre esses dois candidatos que se enfrentaram nas eleições presidenciais do fim do ano passado e que foram o estopim dos atuais enfrentamentos, sob acusações de que o presidente Kibaki teria comandado uma fraude eleitoral para ser declarado vencedor.

Toda a descrição da cena remonta a citação de massacres mútuos entre Kikuyus e Luos, perpetrados a golpes de machete, de porretes, ou com pneus em chamas presos aos pescoços das vítimas. São imagens de uma “guerra suja”, em contraste com as “guerras limpas”, intervenções cirúrgicas e assépticas para os interventores, apesar dos milhares de mortos do outro lado, que as potências do mundo hoje costumam patrocinar e praticar.

Como quase toda nação africana moderna, o Quênia tem um passado confuso e complexo de intervenções vindas de fora. É necessário inicialmente compreender que estamos falando de um dos berços da humanidade. Os traços de humanoides, hominídeos, australopitecos e demais antepassados ou primos distantes do homo sapiens remontam respectivamente a 20, 6, ou 2 milhões de anos.

Desde milhares de anos as terras do Quênia foram cenário de caravanas e povos invasores, desde os árabes, depois os europeus: primeiro os portugueses, depois os alemães e finalmente os ingleses, que ocuparam os planaltos interiores com plantações de chá.

A ocupação inglesa provocou uma série de revoltas e sedições desde o começo do século XX, todas reprimidas com notória brutalidade pelos ocupantes. Foi assim na década de 20 com os movimentos de reivindicação trabalhistas, e foi assim logo depois da Segunda Guerra, quando surgiu o primeiro movimento organizado de independência nacional e luta pela terra, conhecido com o nome, dado pelos ocupantes, de a Revolta dos Mau Mau, que, entre eles, chamavam-se de “combatentes da liberdade”. Em todas essas revoltas, inclusive a dos Mau Mau, a participação dos Kikuyus foi preponderante.

A repressão contra os Mau Mau foi notória e espetacular. Houve, primeiro, uma repressão simbólica. Declarados um grupo terrorista, de fanáticos assassinos de fazendeiros brancos, os Mau Mau foram estigmatizados na literatura e no cinema. O mais famoso filme dessa laia, que assisti aterrorizado (pelos “cruéis Mau Mau”) numa matinê dominical do cinema Capitólio, em Porto Alegre, foi Safari, com Victor Mature no papel principal, como um fazendeiro branco que tem o filho e o resto da família assassinados pelos “fanáticos” e se dedica ao seu extermínio, o que consegue depois de muita perseguição e assassinatos.

Informações mais equilibradas dizem hoje que de fato houve violência dos Mau Mau contra famílias de fazendeiros ingleses, mas que ela foi esporádica. Havia mais perseguições contra africanos que colaboravam com os ingleses, o que não elimina nem absolve violências praticadas. Mas os Mau Mau se caracterizavam sobretudo por serem independentistas, por desejarem atrair outras etnias para sua causa, e por lutar pela posse da terra, esbulhados que se sentiam pelos colonos europeus.

Em compensação, a repressão britânica foi exemplar. Oficialmente, de 1952 a 1959, ano em que a rebelião foi considerada extinta, houve 13 mil mortos em consequência das ações militares ou da repressão política. Dos Mau Mau, morreram 10.173, sendo que destes, 1.574 foram mortos por enforcamento. O número de prisões passou de 70 mil, grande parte sem processo nem julgamento.

Entre as consequências dessa repressão em meio a uma luta desigual, descrevem-se hoje 1) a conclusão a que os britânicos chegaram de que seria impossível no Quênia estabelecer um governo de minoria branca, como queriam os fazendeiros; daí abrirem caminho para a independência liderada por um governo formado por africanos, o que se efetivou em dezembro de 1963, sob a liderança de Jomo Kenyatta, um Kikuyu que fora preso e condenado a 7 anos por ocasião da revolta dos Mau Mau; 2) a independência se fez num país em que a repressão, como não é incomum nesses casos, se assentou sobre rivalidades e perseguições tribais, impedindo a formação de um sentimento de unidade nacional mais profundo.

Desde a independência, a luta política no Quênia vem se dando no interior do grupo que “sucedeu” a Kenyatta, centrado nos políticos herdeiros da frente liderada por ele onde predominaram os de origem Kikuyu. Esses grupos, a começar pelo próprio Kenyatta, exerceram uma repressão dura contra seus oponentes, aponto de num dado momento, o Quênia tornar-se um país de partido único. Isso que, aparentemente seguiria um modelo comunista, se dava, no entanto, num país pobre, em que a maioria da população vive com menos de 1 dólar por dia, e integrado, durante e depois dos anos 90, às vagas das políticas neoliberais que impediam a concentração de possibilidades de reerguimento estatal para alavancar um desenvolvimento. O resultado desses quadros sucessivos foi o agravamento da “tribalização” das lideranças políticas, seguidas denúncias de corrupção, o que aparece como uma luta por um botim de verbas públicas, de financiamentos estrangeiros e até das ajudas humanitárias provindas de organismos internacionais e de ongues sobretudo religiosas e europeias, e uma concentração de poderes cada vez maior nas figuras presidenciais, Daniel Moi, que sucedeu Kenyatta, e ficou anos no poder, e agora Kibaki, que sucedeu Moi. Tudo isso num cenário de miséria e favelização crescente das cidades, sobretudo de Nairóbi, cuja estimativa populacional fala em 4 milhões de habitantes, mas cuja estimativa não oficial fala em mais de 6 milhões. Kibera é uma das maiores e mais pobres favelas do mundo, e ali, em meio às lutas com machetes e porretes, disputam-se tanto migalhas e barracos mínimos quanto o poder que isso representa, em termos locais e em termos de obtenção de favores dos “de cima”. Teme-se que logo depois dos machetes venham as metralhadoras, e que o país possa dividir-se num sul Kikuyu e num norte Luo.

O Quênia é um país de paisagens extraordinárias. Quando lá estivemos, em janeiro de 2007, para cobrir a 7a. jornada do Fórum Social Mundial, além da cobertura fizemos (a Carta Maior – veja nossas reportagens e crônicas) uma viagem ao parque Masai, o sudoeste de Nairóbi, onde conhecemos alguns dos membros desse povo-pastor, antigamente nômade. Lá conversei longamente, junto com o Marcel Gomes, com Maripet Ole Nkoile, um pastor de cabras, ovelhas e reses, a quem carinhosamente apelidei de “filósofo”.

Maripet tentava entender as mudanças por que passavam seu país e seu povo, com a crescente chegada do turismo e seus fornidos dólares, com a educação sendo aberta para todos e para as meninas, e me confessava olhar tudo isso com esperança, mas também com temor. Ficamos amigos, prometi mandar-lhe um postal de S. Paulo, onde eu morava então. Cumpri a palavra, mandei. Espero que ele possa me responder. Com mais esperança do que medo.

Reforma tributaria e pacote do governo

Entidades lançam movimento por reforma tributária e defendem pacote do governo
Várias entidades de representação da sociedade civil, da igreja e movimentos sociais lançaram hoje uma campanha em defesa do que chamam de uma “reforma tributária justa”. O documento do movimento foi enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), e para deputados e senadores. No documento, essas entidades defendem as medidas anunciadas pelo governo para compensar o fim da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), como a elevação das alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e da CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) das instituições financeiras. “Foi uma medida acertada e justa, pois atinge os mais ricos e sobretudo os bancos, o sistema financeiro e empresas estrangeiras.” O documento diz que “as classes ricas do Brasil se articularam com seus políticos no Senado Federal e conseguiram derrubar a CPMF”. “A CPMF era um imposto que penalizava os mais ricos e 70% dele provinha de grandes empresas e bancos. Os seus mecanismos de arrecadação impediam a sonegação e permitiam que a Receita Federal checasse as movimentações financeiras com o imposto de renda, evitando fraudes e desvios.” As entidades criticam o PSDB, DEM e outras entidades que criticaram a elevação das alíquotas do IOF e da CSLL. “As forças conservadoras voltaram a se articular para condenar essas medidas, tendo à frente Fiesp [Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Febraban (Federação Brasileira de Bancos].” Entre os signatários do movimento estão…

Fonte: Folha Online: 10/01/2008 – 12h55

CPMF

:: O PSDB perdeu – Kennedy Alencar na Folha Online: 13/12/2007

:: Conheça a história da CPMF – Folha Online: 15/08/2007 – 19h46

:: Fim da CPMF põe pressão sobre finanças brasileiras, diz ‘FT’ – BBC Brasil: 13 de dezembro, 2007 – 09h22 GMT (07h22 Brasília)

:: Governo descarta reduzir meta de superávit primário com fim da CPMF – Folha Online: 13/12/2007 – 09h11

 

A batalha e a guerra da CPMF – Flávio Aguiar – Carta Maior: 12/12/2007

Fico pensando como devem ser as reuniões de pauta dos grandes jornalões brasileiros. Antes se perguntava: o que vamos publicar? Agora se perguntam: o que não vamos publicar? Imagino que deva haver uma prioridade na agenda, assim estabelecida: 1) o que não podemos nem devemos publicar de jeito nenhum; 2) o que não publicaremos a não ser que seja muito vergonhoso; 3) o que não tem jeito, temos que publicar; 4) o que queremos publicar, contra o governo Lula e a esquerda, etc. E por aí vai. No caso em pauta, a votação da CPMF, é por aí.

Por exemplo, os jornalões não podem publicar o que a imprensa internacional alardeia, que Lula é recebido no mundo inteiro como o representante legítimo do 3° Mundo. Não é Chávez, não é Evo, é Lula. Não podem publicar que a descoberta das novas jazidas petrolíferas na costa brasileira é um acontecimento tão ímpar quanto os achados de Monteiro Lobato na década de 30. Não podem publicar que o país vai dando certo, apesar de seus problemas, aliás provocados pelas políticas e governos (inclusive os ditatoriais) que esses mesmos jornalões sempre apoiaram.

Imagino as crises de gastrite e úlcera nestas redações ao se constatar que não só Lula sobreviveu aos ataques do suposto mensalão, como sua popularidade continua em alta, e vai bem obrigado. Que o que garantiu a reeleição de Lula foram as políticas sociais do governo, que sem elas ele estava fora, e que com elas ele saltou por cima das campanhas para derrubá-lo na curva de 2006.

O mesmo acontece agora com relação à CPMF.

Não se pode noticiar que há uma batalha e uma guerra em torno da CPMF. Mais ou menos como se segue.

Os DEMos descobriram um campo de batalha. Eles são fortes no Senado. Pobres coitados nas alianças executivas com o PSDB, na Câmara Alta eles são fortes, e podem travar batalhas decisivas. Como são fracos nos executivos estaduais, podem rifar este caráter institucional da sua representação. Afinal, os senadores representam estados, por isso a representação numérica deles é igualitária, e Sergipe, constitucionalmente, tem tantos senadores quanto São Paulo. Mas os DEMos se sentem acima disso, rifam a sua representação institucional e constitucional e passam a agir em função de seus próprios interesses. Se sentem fortalecidos, porque nos estados e no plano federal, em termos executivos, são acaudilhados pelo PSDB. Mas no Senado podem ensaiar uma disputa para 2010, quando dois cargos do Senado, por estado, estarão em jogo, em pé de igualdade com seus aliados/adversários do PSDB. O PSDB se vê forçado a tergiversar na questão. Seus governadores, inclusive o menino dos olhos José Serra, quer a verba do imposto. Mas as alianças com os DEMos tanto em S. Paulo como no Rio periclitam. O que fazer?

Bom, uma coisa que podem fazer é recomendar moderação a seus arautos na imprensa. Outra não tem sido a posição dos jornalões, pela primeira vez surpresos numa crise que não sabem administrar completamente. Pior que isso, só na eleição de 2006, quando o povo atropelou-os na maior. Os editoriais do Estadão (4 e 7/12) e da Folha (3/12) sobre o assunto têm sido modelares na cautela. A Folha é conhecidamente serrista, e privar Serra da CPMF, inclusive pensando no futuro, é um problema. Já o Estadão foi mais claro, e disso logo trataremos. Os DEMos, como já se disse aqui, estão travando a batalha da CPMF: querem garantir seu espaço em 2010, que é no Legislativo, e no Senado, câmara alta cujo valor corporativo para si descobriram, rifando o caráter constitucional da sua representação. Acaudilham o PSDB, que se sente fraco para contrariá-los, pois precisa do seu apoio nas gestões estaduais que mantém, embora nelas precisem da CPMF.

Mas há uma guerra da CPMF, a velha guerra de classes. Isso, Estadão e FIESP representam. Vejam só. São 40 bilhões de reais num ano. A alíquota representa só 0,38% das transações com cheques e transferências bancárias. Graças a isso, as grandes empresas se vêm obrigadas a contratar profissionais caríssimos, especialistas em tributração, para driblar a CPMF. O editorial do Estadão foi claro: se for para garantir o superávit primário (para pagar a dívida pública, 80% dela em mãos de 15 mil clãs familiares), tudo bem quanro à arrecadação. Se for para “investimentos menos rentáveis”, leiam-se, os sociais, coisa que os jornalões não têm coragem de escrever, não.

Aí, nós estamos na guerra, isto é, na velha e querida luta de classes. 72% da CPMF é paga por pessoas jurídicas, sobretudo as grandes empresas. 28% pelas pessoas físicas. Dentro dos 28%, 22% são da classe média.

Ou seja, as grandes empresas, representadas nominalmente ou pela ação política da FIESP, não querem que 35 bilhões de reais de sua contribuição corram o risco de ir para investimentos sociais, nem mesmo para seus apaniguados sob a forma de retorno ao capital financeiro através dos títulos da dívida pública. É uma luta de classes que ninguém confessa, mas todo mundo faz.

Uma coisa nisso tudo nos surpreende: os defensores do governo no Congresso, no Senado, nos partidos, foram incapazes de produzir um discurso coerente sobre a CPMF. Um sinal: lá atrás, se opuseram a ela porque era “dinheiro para o FHC”, não por uma visão estratégica do tributarismo brasileiro. As esquerdas não têm proposta para a reforma tributária, essa é a verdade verdadeira. Tudo fica na dependência das ações de Lula darem certo. Tomara que deem. 40 bilhões de reais nas mãos do primeiro governo distributivista de renda desde Vargas não é de jogar fora.

Terceiro mandato?

Erro de avaliação
Leitores indagam as razões para este jornalista não acreditar que Lula tentará um terceiro mandato seguido. Resposta: Lula é um político muito melhor do que imaginam setores da política e da mídia. É um erro subestimá-lo. O petista não quer um terceiro mandato em 2010 e sabe que não deve querer.

Trecho da “Pensata” de Kennedy Alencar A venezuelização do Brasil, na Folha Online de 23/11/2007.

Armando arapuca

Ardil
Acepções:
1. ação que se vale de astúcia, manha, sagacidade; ardileza
2. ação que visa iludir, lograr (pessoa ou animal); armação, cilada

Sinônimos/Variantes:
aboiz, adulteração, alçapão, alça-pé, alicantina, andrômina, arapuca, arara, ardileza, armada, armadilha, arola, arriosca, arteirice, artifício, artimanha, astúcia, baldroca, barganha, batota, blefe, borla, branquinha, brete, bucha, burla, burlaria, cabe, cábula, cacha, cachimana, cachimanha, cambalacho, cambapé, cavilação, caxixe, chicana, cilada, conluio, defraudação, deslisura, dolo, embaçadela, embaçamento, embaimento, embeleco, embroma, embromação, embrulho, embuste, embusteirice, embustice, endrômina, engano, engenho, engenhoca, engodo, engrimanço, enredo, esparrela, esperteza, espiga, estrangeirinha, estratagema, falcatrua, falsificação, farsa, finura, forjicação, fraudação, fraude, fraudulência, futico, futrico, fuxico, garatusa, golpe, guilha, impostura, indústria, insídia, intriga, intrujice, invenção, inzona, lábia, lambança, logração, logramento, logro, ludíbrio, má-fé, magicatura, malas-artes, malícia, manganilha, manigância, manivérsia, manha, manobra, manta, maquinação, maranha, marosca, maroteira, meneio, mentira, mofatra, mulita, mutreta, obra, pabulagem, pandilha, pantomima, papa, papironga, patifaria, pelotica, perfídia, rabiosca, raposia, raposice, ratoeira, rede, rediosca, ronha, sagacidade, sancadilha, santola, sapa, socapa, solapa, solércia, taboca, traça, traficância, traição, trama, tramoia, trampa, trampolina, trampolinada, trampolinagem, trampolinice, tranquiberna, tranquibérnia, tranquibernice, trapaça, trapaçaria, trapalhada, trapalhice, tratantada, treita, trempe, treta, truque, vaselina, velhacada, velhacagem, velhacaria, versúcia; ver tb. sinonímia de subterfúgio

Fonte: Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0 – Dezembro de 2001

 

Está bem identificado? Então, leia:

Congresso que substituir TSE no controle das urnas
… Em bom português, os deputados estão questionando a isenção da Justiça Eleitoral. E, a pretexto de resolver o suposto problema, sugerem que as regras do processo eleitoral eletrônico passem a ser definidas pelos próprios deputados e senadores, reunidos numa Comissão Eleitoral. Esquecem-se de um detalhe relevante: o congressista é parte interessada, muito interessada, interessadíssima no resultado das urnas. É como atribuir à raposa a gerência do galinheiro. A esperteza começou a andar em fevereiro de 2007…

Fonte: Nos bastidores do poder, blog de Josias de Souza – 18/11/2007 – 18h34

Ramonet avalia a Internet

Folha: “Que balanço o senhor faz da revolução das comunicações produzida pela internet nos últimos 15 anos?”

Ramonet – “A internet modificou muito fortemente a comunicação e ainda não assistimos a todas as modificações que ainda pode produzir não só na comunicação como em outros setores como o comércio e a cultura de massas. No setor da comunicação a internet suscitou uma grande ilusão, de uma comunicação democrática, relativamente barata, fácil de conseguir e planetária. Hoje vivemos uma certa decepção. Não conheço o caso do Brasil, mas em geral os sites de internet mais freqüentados, os dez primeiros em cada país, já pertencem aos meios dominantes desse país. Há um alinhamento quase total [sublinhado meu]. Claro que sempre resta a alternativa individual de criar um site, um blog, mas isso também tínhamos antes com a fotocópia. Hoje a internet massivamente utilizada está dominada pelos grandes grupos de comunicação” [sublinhado meu].

Este trecho está em entrevista concedida à Folha de São Paulo por Ignacio Ramonet, diretor de Le Monde Diplomatique, publicada, sob o título América Latina renova esquerda, diz diretor do “Monde Diplomatique”, na Folha Online: 18/11/2007 – 02h30.

Leia toda a entrevista, que é muito interessante.

Mídia, poder e democracia em debate

Fórum internacional debate mídia, poder e democracia

Encontro será realizado de 12 a 14 de novembro, em Salvador, reunindo profissionais e pesquisadores da área da comunicação. Fórum quer debater atuação da mídia, suas relações com o poder e sua importância para a consolidação da democracia.

Observe, na reportagem citada, quem está lá: Emir Sader, Marilena Chauí, Mino Carta, Ignácio Ramonet, Bernardo Kucinski, Renato Rovai… e muitos outros!

 

De 12 a 14 de novembro, o Fórum Internacional: Mídia, Poder e Democracia reunirá, em Salvador (BA), pesquisadores brasileiros e estrangeiros, profissionais, representantes do governo, organizações da sociedade civil do Brasil, América Latina e Europa. O evento será realizado no Salão Atlântico do Hotel Tropical da Bahia, no Campo Grande. Durante os três dias do encontro serão realizadas seis mesas-redondas com as temáticas: Mídia e Democracia no Brasil, Democracia e TV Pública, O Papel dos Observatórios de Mídia, Impactos da Mídia sobre a Democracia e a Política, A Sociedade Civil e a Democratização da Comunicação e Mídia e Eleições na América Latina.

O objetivo do Fórum Internacional: Mídia Poder e Democracia é promover o debate sobre sobre a atuação da mídia, suas relações com o poder e sua importância para a consolidação da democracia na atualidade. O encontro tem como público-alvo pesquisadores, professores, estudantes universitários e cidadãos interessados no tema. As inscrições custam R$ 20 para estudantes e R$ 40 para profissionais e podem ser feitas na Fapex, ou nos dias do evento.

O Fórum é promovido pelo Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT), pelo Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PÓS-CULTURA) da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia e pelo Observatório Brasileiro de Mídia / Media Watch Global. Maiores informações podem ser obtidas nos seguintes endereços:

Site do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT)
Endereço eletrônico: cult@ufba.br
Telefone 71 3283 6198.

 

A programação completa do Fórum é a seguinte:

12 de novembro de 2007
8h30 – Abertura
9h30 – Mesa-redonda: Mídia e Democracia no Brasil
Albino Rubim (CULT – UFBA) – coordenador

EXPOSITORES:
Emir Sader (CLACSO/UERJ)
Juca Ferreira (MINC)
Marilena Chauí (USP)
Tereza Cruvinel (TV Brasil)
Mino Carta (Carta Capital) – a confirmar

DEBATEDORES:
Carlos Navarro Filho (Assessor de Comunicação do Tribunal de Justiça)
Bob Fernandes (Terra Magazine)
Pola Ribeiro (IRDEB)

18h – Mesa-redonda: Democracia e TV Pública
Robinson Almeira (AGECOM – BA) – coordenador

EXPOSITORES:
Beth Carmona (TVE-RJ)
Big Richard
Laurindo Leal Filho (TV Câmara – USP – Casper Líbero)
Walter Pinheiro (Deputado Federal)
(MINC) – a confirmar

DEBATEDORES:
Leandro Fortes (Carta Capital)
Lula Oliveira (Associação Baiana de Cinema e Vídeo)
Washington de Souza Filho (UFBA)

13 de novembro de 2007
9h – Mesa-redonda: Os Observatórios de Mídia e a Democracia
Carlos Tibúrcio (MWG – OBM) – coordenador

EXPOSITORES:
Ignácio Ramonet (Le Monde Diplomatique – Media Watch Global)
Bernardo Kucinski (Observatório Brasileiro de Mídia)
Clovis de Barros Filho (ESPM)
Rogério Cristofoletti (Rede Nacional de Observatórios da Imprensa)

DEBATEDORES:
Edson Miranda (Sindicato dos Jornalistas da Bahia)
Fábio Castro (UFPA – Coordenação de Comunicação do Pará)
Luiz Lassere (A Tarde)

18h – Mesa-redonda: Impactos da Mídia sobre a Democracia e a Política

Leonardo Boccia (PÓS-CULTURA) – coordenador

EXPOSITORES:
Emiliano José (UFBA)
Luiz Nova (UFRB)
Marcus Figueiredo (IUPERJ)
Roberto Amaral (PSB)

DEBATEDORES:
Carlos Sarno (Engenho Novo)
Joviniano Neto (APUB)
Levi Vasconcelos (A Tarde)

14 de novembro de 2007
9h – Mesa-redonda: Sociedade Civil e a Democratização da Comunicação

EXPOSITORES:
Berenice Mendes (Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação)
Jonas Valente (INTERVOZES)
José Lopez Feijóo (CUT)
Lúcia Kluck Stumpf ou Jeferson Conceição (UNE – UEB)
Sérgio Amadeu (Casper Libero)

DEBATEDORES:
Bernardo Carvalho (FTC)
Edson Lopes Cardoso (jornalista)
Eduardo Guimarães (Movimento dos Sem Mídia)

18h – Mesa-redonda: Mídia e Eleições na América Latina

Fernanda Papa (Fundação Friedrich Ebert) – coordenadora

EXPOSITORES:
Camilo Tamayo (Colômbia)
Carlos Correa (Venezuela) – a confirmar
Maria O’Donnell (Argentina)
Mario Lubetkin (Diretor Geral da Inter Press Service/IPS – Itália)
Renato Rovai (Revista Fórum)

DEBATEDORES:
Carlos Gustavo Yoda (Cultura e Mercado)
Leandro Colling (UFBA)
Paulo Fábio (UFBA)

Fonte: Carta Maior – 09/11/2007

Direito à Memória e à Verdade

Brasil merece “comissão da verdade” sobre 64

A regra de que a História sempre é escrita pelos vitoriosos foi quebrada pelo livro Direito à Memória e à Verdade, obra que relata os 11 anos de trabalho da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. Pela primeira vez, um documento oficial do governo federal conta a história dos derrotados pela ditadura militar de 1964 (…) O Estado brasileiro assume a versão de que a repressão política decapitou, esquartejou, estuprou, torturou e ocultou cadáveres, entre outros atos cruéis, de opositores da ditadura que já estavam presos e que não tinham como reagir. “A maioria das mortes se deu na prisão, sob intensas torturas”, afirma o livro, que é produzido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. A obra será divulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto (…) Em 1995, o então presidente Fernando Henrique Cardoso teve a coragem de editar uma lei que fez o Estado brasileiro assumir a responsabilidade pela morte de “causas não naturais” dos opositores da ditadura. Foi um grande avanço. Lula, que tinha feito muito menos nessa área do que o antecessor, dá agora um passo importante ao bancar um livro que diz com todas as letras como aconteceram essas mortes de “causas não naturais” (…) O livro traz um resumo sobre 475 casos. Desses, 339 foram apreciados pela comissão de mortos e desaparecidos (…) Editado com tiragem de 5.000 exemplares e 500 páginas, o documento…

Leia o texto completo escrito por Kennedy Alencar na Folha Online de 26/08/2007.

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Livro relata abusos sexuais contra presos da ditadura – Folha Online: 26/08/2007 – 08h43