A dor daqueles que doem toda a vida

O senhor sabe: tanta pobreza geral, gente no duro ou no desânimo. Pobre tem de ter um triste amor à honestidade. São árvores que pegam poeira – Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.

O teatro do horror

Se você tivesse um ente querido entre os mortos do avião da TAM, mediria consequências na hora de soltar os gritos de desespero? Se chegasse a câmera para registrar o seu choro convulsivo, e mostrasse a toda a nação o momento de maior fraqueza e desolação da sua vida…

O show da Grande Mídia alcançou números estratosféricos nos últimos dias, turbinado pelas lágrimas dos parentes dos mortos. A agonia em carne viva foi mostrada por ser um apelo necessário, ou tão somente porque esse tipo de imagem prende a atenção do espectador e rende uma fortuna no mercado midiático?!

Bonner nunca esteve tão bem vestido, nunca tão poderoso como durante o furo de reportagem Global apresentado por ele sobre as trapalhadas dos técnicos da TAM. Foi um momento de glória para a emissora. Apesar da evidente falha técnica, os informativos seguintes não se cansaram de mostrar as manifestações que associam o desastre às questões crônicas do transporte aéreo e, por conseguinte, ao governo Lula. Instigados pelos meios de comunicação, aqueles acostumados a perder horas nos aeroportos aproveitaram para juntar tudo num mesmo pacote de protesto.

QUESTÃO DE JUSTIÇA
A aviação comercial brasileira ganhará investimentos vultosos nos próximos anos. Não por ser esta uma questão de justiça, mas porque os reclamantes são poderosos. Se fosse pela justiça, o governo deixaria de se preocupar com aqueles que dormem nos corredores dos aeroportos por algumas noites, aquele povo bem servido que tem sofrido nas filas de chek-in, e trataria de multiplicar seus programas aos famintos da nação. Procuraria diminuir a dor daqueles que doem toda vida. Buscaria aquecer o frio daqueles que tremem em todo inverno. Daria abrigo àqueles que dormem mal toda noite.

É provável que muitos discordem, ou que me odeiem por dizer isso. Provavelmente já passaram horas no saguão de Congonhas, tendo somente as mochilas como travesseiros. Mas será que já experimentaram as carências extremas?

Tenho muitos amigos, companheiros de velhas batalhas que, depois de alcançarem uma certa posição econômica e social, botaram um tapume entre si e a favela. Viajam todas as férias para as praias do Nordeste, adquiriram dois ou três carros novos nos últimos cinco anos, construíram mais alguns quartos no velho sobrado e passam a vida malhando o nosso “iletrado” presidente, que estaria governando para os miseráveis e os banqueiros.

Milhares de calhambeques e carroças trafegam em estradas brasileiras que nunca foram asfaltadas e ninguém parece preocupado com isso. Caminhoneiros atravessam o país em viagens que duram dias, tocados à base de café e rebite, morrendo em desastres horríveis, e disso pouco se fala. A TV prefere mostrar aquelas justas manifestações nos aeroportos pedindo providências urgentes. Uma ou duas horas de atraso nos vôos e as senhoras de casaco de pele ficam histéricas. Os filhinhos de papai que nunca ergueram uma palha do chão querem bater nos aeroviários. A dentista que nunca lavou as próprias meias está possessa porque perdeu a abertura do congresso em Salvador. O estudante de medicina que comprou vaga no vestibular está catatônico porque não poderá chegar à tempo à festa de aniversário do namorado.

Perdoe-me, leitor, o povo merece, sim, voar com dignidade para visitar os parentes na Europa e fazer compras em Miami. Sim, ninguém deveria enfrentar aquelas filas horríveis. Mas, por favor, não me diga que essa é uma questão de justiça. O que temos aqui é uma questão de poder. O apagão aéreo, como repetem diuturnamente os papagaios tucanos, tornou-se notícia permanente porque mexeu com gente graúda. Por esse motivo, e só por isso, em breve o problema será resolvido.

(Obviamente, nem todos os que voam são graúdos, mas parece que todos os graúdos voam. Inclusive eu, que sonho ser graúdo para nunca mais olhar a miséria que ronda minha casa. Não quero nunca mais ver essas mães tentando cobrir os filhos com trapos, nem quero ver seus filhos juntando comida no latão de lixo. Que gente desclassificada! Ui! Parecem animais!).

Temos um ano de conflito aeroviário, e temos quinhentos anos de exploração escrava, mas qual é o assunto em pauta? Quando a grande mídia publicará em seus editoriais o fato de que a remuneração pelo trabalho do carregador portuário que anda de bicicleta deve ser, por justiça, igual ao do empreiteiro que anda de avião? Quando faremos as contas para constatar que a empregada doméstica realiza um trabalho mil vezes mais difícil que a senhora dona da loja de bijuterias do shopping e que, por isso, deve receber, quando menos, o mesmo salário?

Não se fala mais nisso, pois o capitalismo venceu, e quem tem coragem de defender Marx ou o socialismo? Talvez Oscar Niemeyer!? A revista Veja não se cansa de dizer que os marxistas não conseguiram provar as teorias do mestre, o que comprova que o ser humano é mesmo uma besta, um capitalista nato. Quem pode mais chora menos, é essa a humanidade que estamos construindo, é com essa coisa horrível que temos de nos conformar!

Fonte: Chico Guil – Carta Maior: 30/07/2007

> Este é o post de número 1000 do Observatório Bíblico.

Esquizofrenia informativa da mídia de oposição

A mal tiempo, peor cara de Lula –  Página/12 – 24/07/2007

El clima no le da tregua a la crisis aérea brasileña. A una semana del accidente que dejó cerca de 200 muertos y de un fin de semana con vuelos atrasados y cancelados, la intensa lluvia volvió caótico el aeropuerto de Congonhas, en el centro de San Pablo. En medio de esta tensión, el presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dirigió a los familiares de las víctimas y les pidió fuerza para superar ese momento. El gobierno brasileño quiere esperar a que la investigación avance antes de tomar alguna decisión. Mientras las informaciones sobre el accidente del avión de TAM siguen siendo confusas, la Aeronáutica sostuvo ayer que el apagón energético que causó los retrasos el sábado pasado fue causado por una falla humana. Con esto descartarían la versión del lunes, que hablaba de un boicot de los controladores aéreos.

Presionado por los medios y por la oposición, Lula salió a enfrentar las cámaras. “Les pido a las familias fuerza y mucha fe en Dios, porque yo sé por lo que están pasando y sé de su sufrimiento”, aseguró el presidente, intentado acercarse a los familiares de las víctimas, que el domingo protestaron para pedir una investigación y una sanción a los responsables. “No existe ninguna hipótesis de que la verdad no venga a luz”, agregó. La de ayer fue la segunda aparición pública de Lula desde el accidente del martes pasado.

Aunque el presidente siempre se dirigió a los familiares de las víctimas, también aprovechó para criticar solapadamente a la oposición. “Es necesario que tengamos la prudencia de investigar correctamente con la seriedad que una investigación de esta magnitud merece”, sostuvo. En los últimos días, los medios opositores han difundido infinitas versiones sobre la causa por la cual el avión de TAM siguió de largo por la pista central de Congonhas, atravesó una avenida y se estrelló contra un depósito.

El diputado del derechista Partido Demócrata Efraim Filho, que viajó a Washington para seguir las pericias a la caja negra, confirmó que el piloto tuvo problemas para frenar el avión. Para el legislador opositor eso descartaría la hipótesis de que el piloto intentó “arremeter”, es decir, que aterrizó, recorrió una porción de la pista y luego intentó volver a levantar vuelo. En cambio, ganaría fuerza la versión que responsabiliza al estado de la pista por las complicaciones.

En el Palacio del Planalto tomaron esta información como todas las que estuvieron surgiendo durante los últimos días: con pinzas. No sólo porque provino de un diputado de la derecha, sino también porque existen otros indicios que ponen en duda esta versión. La empresa TAM reconoció la semana pasada que el avión tenía un desperfecto en una de las turbinas.

Esa misma esquizofrenia informativa se vive con respecto a los cada vez más habituales apagones aéreos. El domingo los principales medios brasileños sostenían que los retrasos y las complicaciones que paralizaron durante horas los aeropuertos brasileños el sábado habían sido provocados por un boicot de los controladores aéreos, grupo que desde hace meses demanda que el sector pase a manos civiles. Según la cúpula militar, los controladores habrían trabajando a reglamento, causando importantes retrasos y hasta algunas suspensiones.

Los controladores inmediatamente rechazaron la acusación. “No somos terroristas”, aseguraron, acompañando el tono dramático que rodea a toda la crisis aérea desde el accidente. Ayer, la Aeronáutica salió a rectificarse con tanta sutileza que no llegó a aceptar su error. “Fue provocado por una falla humana”, le comunicó el comandante de la fuerza, Juniti Saito, a la presidencia. De todas maneras, en estos días nada se descarta ni se comprueba en Brasil. Lo único que hay son especulaciones.

 

E a imprensa arremeteu – Gilson Caroni Filho – Observatório da Imprensa: 24/07/2007

O que estava em causa na cobertura da mídia após o acidente da TAM era a construção da “crônica da tragédia anunciada”. Ao incluir as vítimas fatais no seu cálculo político, mais uma vez a mídia folhetinizou um drama real, banalizando a vida.

 

A fumaça ainda escapava dos escombros do prédio onde funcionava o terminal de cargas da TAM. Os bombeiros tentavam conter as chamas e ainda não haviam conseguido chegar ao avião. Era impossível determinar o número de pessoas mortas. Ainda assim, sem qualquer possibilidade de precisar os fatos, o jornal da família Marinho, com edição fechada poucas horas depois da tragédia, chegava às bancas na quarta-feira (18/7) com as causas do desastre elucidadas.

‘Dez meses depois do que tinha sido o maior acidente da aviação brasileira, um Airbus A-320 da TAM, com 176 pessoas a bordo – 170 passageiros e seis tripulantes – explodiu por volta das 18h50m de ontem, após derrapar na pista principal do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, tentar arremeter, atravessar a movimentada Avenida Washington Luís e se chocar, do outro lado da pista, contra um prédio onde há um depósito de combustível da própria TAM.’ (O Globo, 18/7/2007)

O texto não deixava qualquer margem para dúvidas.

Sem dispor de qualquer informação confiável, a matéria, intitulada ‘Tragédia anunciada’, é uma demonstração cabal de como se faz jornalismo quando a pauta sobredetermina a apuração e a edição. Mesmo não dispondo das imagens da torre de controle e de dados retirados da caixa-preta devidamente periciados, a imprensa não hesitou em inserir o acidente numa suposta crise gerencial do setor aéreo.

Tratava-se de encontrar a ranhura que atingisse o governo. O que estava em causa era a construção da ‘crônica da tragédia anunciada’. Ao incluir as vítimas fatais no seu cálculo político, mais uma vez a mídia folhetinizou a tragédia, banalizando a vida. O desrespeito aos mortos e a falta de solidariedade às famílias estiveram presentes em quase tudo que se leu, falou ou ouviu na imprensa nativa, horas depois do acidente.

Falha mecânica

O bordão ‘quase 350 mortes em dez meses’, repetido à exaustão por quase todos os veículos, busca dar por comprovada uma grave crise na aviação comercial brasileira sem, no entanto, estabelecer os nexos causais que o demonstrem. Se em 2006, a direita golpista e sua mídia não consumaram a tentativa de golpe institucional, as tentativas não cessarão na guerra declarada no segundo mandato.

Passados três dias, as imagens mostraram que o Airbus da TAM pousou no ponto ideal, porém, em vez de perder velocidade, acelerou de tal forma que atravessou em três segundos determinado trecho da pista. Onde está a derrapagem do parágrafo transcrito acima?

É bem verdade que a TV Globo deu a informação sobre a falha no reversor da turbina direita do avião. Cumprindo a liturgia do Jornal Nacional, programa de maior intensidade dramatúrgica da emissora, William Bonner anunciou, na edição de quinta-feira (19/7), com a habitual locução dramática:

‘O avião da TAM que se chocou contra o prédio da empresa, em Congonhas, tinha um defeito no reversor da turbina direita desde o dia 13, sexta-feira passada. O problema tinha sido detectado pelo sistema eletrônico de checagem do próprio avião, mas o avião da TAM continuou a voar, nos dias seguintes, com o reversor direito desligado.’ (…) ‘A confirmação de que o avião prefixo MBK, destruído na tragédia de terça-feira, foi o mesmo que quase se acidentou na véspera, reforça a hipótese de que o acidente tenha sido consequência de falha mecânica.’

‘…e não se sabe o que houve’

Respondendo ao repórter César Tralli sobre a contribuição da pista molhada para o acidente,o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe da comissão que investiga o acidente, afirmou tratar-se de ‘chuva leve, que daria uma camada de 0,6mm na pista. Então a probabilidade de que água na pista tenha influenciado nesse acidente é pouco provável, mas ainda assim é uma hipótese a ser considerada’.

O que temos, então? A primeira notícia do Globo, dada como fato irrefutável, é uma hipótese pouco provável. Como explicar a grave derrapagem da imprensa brasileira? Falta de grooving na apuração e edição? Desligamento do transponder ético? Ou problema no reversor da turbina que instrumentaliza politicamente a dor de mais de 200 famílias que choram seus mortos?

Qual será o foco agora? O gesto feito por Marco Aurélio Garcia, assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, e rapidamente interpretado como sendo de comemoração? Com seu campo de ação no episódio ficando menor que a pista de Congonhas, para onde nossa imprensa vai arremeter? Qual o próximo choque com a verdade?

O momento pede consternação e não gestos rápidos. A manchete de quinta-feira (19/7) do Globo foi emblemática: ‘Infraero, Anac, Decea, Cindacta, FAB… e não se sabe o que houve’. Como não se sabe? Os editoriais estão carregados de certezas.

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PS: Este artigo foi concluído na sexta-feira (20/07), às 19h. É provável que até sua publicação neste Observatório novas informações tenham surgido. Nada que altere as ideias centrais nele contidas.

 

Mídia eleva tom contra Lula. Ministro do STM sugere golpe – Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior: 24/07/2007

Editoriais e colunistas falam em “colapso do lulismo”, “corriola governamental” e incapacidade de governar o país. Ministro do Superior Tribunal Militar diz que “pessoas de bem vão se pronunciar como já fizeram em um passado não muito distante”.

 

O tom das críticas ao governo Lula, em função da crise no setor aéreo, vem subindo crescentemente na mídia. O editorial do jornal O Estado de S. Paulo, nesta terça-feira (24), fala em “governo desacreditado” e “colapso do lulismo em matéria de permitir, em última análise, que o país funcione”. O Estadão refere-se ao Presidente da República como “o inexperiente Lula, o qual na irrefutável constatação de Orestes Quércia, em 1994, nunca dirigiu nem um carrinho de pipoca, antes de ambicionar o Planalto”. Na mesma direção, o colunista Clóvis Rossi, pergunta hoje, na Folha de S. Paulo: “se o país é incapaz de segurar um avião na pista, vai segurar o quê?”.

O jornal O Globo, também em editorial, diz que “a crise é mais profunda do que se quer fazer crer”. Também no Globo, Dora Kramer diz que “à corriola governamental tudo é permitido: agredir o público com grosseria, com leviandade, com futilidades, com fugas patéticas ao cumprimento dos deveres, com indiferença, vale qualquer coisa se a anarquia tem origem nas hostes governistas”. “Corriola”, em seu uso informal, significa “grupo de pessoas que agem desonestamente ou de forma inescrupulosa; quadrilha”.

Ministro do STM sugere golpe
O tom das palavras sobe também em alguns setores da sociedade. Além da desqualificação do governo federal, com o uso de adjetivos cada vez mais pesados, começam a aparecer também discursos de caráter golpista. Um exemplo:

“O que podemos dizer a esses ilustres jovens militares. Não desistam. Os certos não devem mudar e sim os errados. Podem ter certeza de que milhares de pessoas estão do lado de vocês. Um dia, não se sabe quando, mas com certeza esse dia já esteve mais longe, as pessoas de bem desse País vão se pronunciar, vão se apresentar, como já fizeram em um passado não muito longe, e aí sim, as coisas vão mudar, o sol da democracia e da Justiça brasileira vai voltar a brilhar”.

A declaração foi feita pelo ministro do Superior Tribunal Militar, Olympio Pereira da Silva Junior, durante a entrega de espadins a alunos que ingressaram nas academias militares do Exercito, Marinha e Aeronáutica, em julho deste ano. Ao saudar os novos alunos, Olympio Junior critica a situação política do país, faz uma apologia da honra, da moral e do patriotismo, lamentando que os jovens cadetes não poderão manusear os instrumentos militar que conhecerão no treinamento. Ele diz:

“Aqueles jovens, ainda puros, não sabem que vão estudar (e como vão estudar, durante toda a carreira) tudo sobre a arte da guerra e do combate e vão conhecer e aprender tudo sobre equipamentos e instrumentos militares, os mais modernos do mundo, mas que na realidade nunca irão manusear porque, no nosso País, não se acredita ser necessário a compra de armamento/equipamento militar para ficarmos em igualdade bélica a outras nações”. E critica a condição dos militares em relação aos demais funcionários públicos:

“Preparam-se, por toda a carreira, para dedicarem-se e ser fiel à Pátria, cuja honra, integridade e instituições deverão ser defendidas mesmo com o sacrifício da própria vida e têm, mesmo assim, seus vencimentos tão diferenciados de outros funcionários públicos que nunca deram nem vão dar nada ao País, pois dele só querem benesses, vantagens e lucros e o que é pior, porque ninguém faz nada a respeito e calam-se diante dessa imoralidade”.

O texto do ministro foi publicado em sites nacionalistas de direita como “A verdade sufocada” e “Terrorismo nunca mais”. Bacharel em Direito, Olympio Junior ingressou na carreira do Ministério Público Militar em 1976, tendo sido designado pelo então presidente, general Ernesto Geisel, para assumir a Procuradoria junto à Auditoria da Justiça Militar, em Juiz de Fora (MG). Desde 18 de novembro de 1994, é ministro do STM.

O ministro do STM, que já presidiu o órgão, é um velho conhecido do presidente da República. Há 23 anos, Olympio Junior, então na condição de promotor militar, pediu a prisão preventiva de Lula, então líder metalúrgico, por crime contra a segurança nacional em razão de um discurso feito no Acre em companhia de Chico Mendes.

Qual é mesmo o papel da Justiça Militar no Brasil? Segundo o site do STM, é julgar “apenas e tão somente os crimes militares definidos em lei”. O texto de apresentação do órgão faz um elogio da “independência, altivez e serenidade do órgão”: “no período de regime militar de 1964 a 1984, levou juristas famosos na luta em defesa dos direitos humanos, como Heleno Fragoso, Sobral Pinto e Evaristo de Morais, a tecerem candentes elogios à independência, altivez e serenidade com que atuou o Superior Tribunal Militar na interpretação da Lei de Segurança Nacional e na aplicação dos vários Atos Institucionais”.

Há um caldo de cultura perigoso formando-se no ambiente político brasileiro.

 

Novas reflexões sobre a tragédia do Airbus – Bernardo Kucinski – Carta Maior: 24/07/2007

Primeira nova reflexão
Confirmou-se por completo e ganhou musculatura a tese central do meu primeiro comentário, então apenas intuída, de que o desastre da TAM deu-se num contexto de maximização de lucros. A estratégia das companhias, que fez de Congonhas um centro nacional de redistribuição de passageiros (hub), foi explicada por Daniel Ritter no jornal Valor da sexta (20) e confirmada elo executivo da TAM José Hélcias, no Estadão desta terça (24):

O modelo de negócios em vigor aproveitamento de até 14 horas por dia das aeronaves para oferecer tarifas que nos últimos anos ficaram congeladas e até caíram – só se sustenta com o uso de hubs, escreveu Daniel Ritter. A centralização em Congonhas, com conexões para todo o país, permitia um maior aproveitamento das aeronaves, estávamos voando 14 horas por dia, contra 7 horas na década passada, disse José Hélcias.

Nosso leitor Valdisnei diz que as companhias reduziram drasticamente o número de mecânicos de manutenção por aeronave. O Airbus da TAM voava há uma semana sem consertar o reverso, apesar do manual da empresa e normas da Anac obrigarem seu uso em pistas molhadas. Nem dava tempo de consertar. Só naquele dia, o avião já havia feito seis vôos, dois deles pousando em Congonhas. Em uma única semana, o Airbus A320 prefixo MBK fez nada menos que 43 vôos.

Nosso leitor Marco Nabuco lembra o cartaz exibido orgulhosamente pela TAM anos atrás, com os sete mandamentos do Comandante Rolim, fundador da empresa: Nada substitui o lucro, dizia o primeiro mandamento. Nessa lista, a segurança vinha em terceiro lugar. E o quarto mandamento falava de novo em lucro: a maneia mais fácil de ganhar dinheiro é não perder.

Esses mandamentos expressam o que os executivos modernos denominam missão da empresa. Eles mostram que a TAM foi instrumental na introdução da filosofia que transformou as concessões de serviços púbicos de transporte, na era neoliberal, em máquinas de fazer dinheiro.

Segunda nova reflexão
Ao anunciar a desativação de Congonhas como hub, o governo admite que, mesmo depois de instalado o caos na malha aérea, continuava aceitando criticamente o sistema deixado pelo governo anterior no qual as companhias definiam a política pública para o setor. Essa passividade estava implícita no meu primeiro comentário, mas não suficientemente enfatizada.

É o papel de um governo democrático impor limites ao mercado. Essa guinada de 180 graus, junto com outras recentes, entre as quais a valorização da caderneta de poupança (contra vontade dos bancos) e a proibição ao plantio de cana no Pantanal, pode sinalizar um novo modo de governar, liberto da ideologia neoliberal.

A tragédia trouxe assim o governo Lula à sua encruzilhada maior: ou parte para uma política verdadeiramente desenvolvimentista, que atropele a burocracia, ou será por ela atropelado de morte. Esse tipo de administração está obsoleto. Bastam os números do tráfego aéreo, que cresce a taxas de 20% ao ano.

Os mesmos jornais que apóiam os cortes no orçamento em nome do superávit primário trazem números constrangedores de como o contingenciamento instrumento principal dessa política neoliberal trava o PAC e impediu até mesmo a aplicação dos dois fundos aeronáuticos, com mais de R$ 2 bilhões em caixa oriundos de taxas já recolhidas para melhoria do setor.

Exacerba-se a contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas e uma administração burocrática amarrada por leis e regulamentos concebidos duas décadas atrás para administrar a estagnação e não o crescimento. Na crise aérea, o governo Lula já é tratado como um estorvo.

Terceira reflexão
Desde o primeiro momento, deu-se a exploração político-partidária da tragédia, pela mídia e pelos principais líderes tucanos, José Serra e Tasso Jereissati. Assim como desastre se dá no contexto de uma crise generalizada do tráfego aéreo, sua politização também é uma extensão natural do processo de linchamento do governo Lula que vem desde o mensalão.

O ataque começou no momento mesmo da tragédia, quando os âncoras, sem informação suficiente para comentar as cenas espetaculares do incêndio, fixaram-se obsessivamente no problema da pista. Mesmo porque a pista foi liberada ainda sem as ranhuras previstas no projeto e o caos aéreo já durava dez meses.

Mas já naquela noite, os repórteres do Estadão ficaram sabendo que o avião voava há uma semana com o reverso travado: Na noite do acidente , quatro comandantes confidenciaram à reportagem do Estado que o Airbus 320, destacado para o Vôo JJ3054, de Porto Alegre par São Paulo, voava com um dos reversos travado ou ´pinado´, no jargão dos pilotos.

Só que o Estadão preferiu desprezar esse verdadeiro furo de reportagem que poderia mudar o rumo do noticiário. A Folha nem sabia do defeito no reverso. No dia seguinte, quarta-feira, Eliane Cantanhêde mandou à redação um primeiro diagnóstico que sensatamente apontava para: falhas humanas e de equipamentos como causas prováveis do desastre, num contexto de falta de ranhuras na pista, caos no transporte aéreo, stress dos pilotos e ganância das companhias. Mas os editores preferiam acusar Lula diretamente pelas mortes em chamada de primeira página da edição da quinta.

Nessa quinta à noite, o Jornal Nacional decide dar o destaque merecido à informação de que o avião voava com defeito no reverso. É como se tivesse havido um racha na frente midiática que protegia a imagem da empresa. Mais do que isso: reafirma-se o caráter do Jornal Nacional como instituinte da agenda nacional de debates. O deu no Jornal Nacional obrigou os dois jornais paulistas a darem manchete na sexta ao defeito do avião.

Mas a frente anti-Lula se recompõe parcialmente no sábado. William Bonner só faltou pedir desculpas pelo furo do dia anterior. E os dois jornais desprezaram o laudo do IPT divulgado na tarde do dia anterior, atestando que a pista nova estava em condições perfeitas de funcionamento, com índices de aderência e compactação muito acima dos limites mínimos exigidos pelas normas. A Folha deu num canto de página interna. O Estadão nem deu.

Felizmente, não é da natureza do jornalismo numa democracia omitir informações relevantes, menos ainda numa tragédia que matou mais de 200 pessoas. Aos poucos, a narrativa única e deliberadamente imprecisa que culpa a pista e poupa a TAM vai fissurando. A própria Folha traz mais e mais informações, numa narrativa paralela, de que avião voava com defeito e que esse defeito era relevante. A última é de um especialista em Airbus criticando a pouca importância dada a defeitos no reverso pelos manuais do fabricante do avião. Só que, nesse ínterim, o sensacionalismo do noticiário sobre as condições da pista levou ao boicote total das duas pistas em dia de chuva, pelos pilotos, ampliando ainda mais a crise.

 

Vôo TAM 3054 – Especial da Folha Online

Golpistas!

Plano dos EUA antecipou ação dos militares
Na série de documentos sobre o envolvimento dos EUA no golpe militar de 1964 no Brasil, que o governo norte-americano vem liberando nos últimos tempos [sublinhado meu] e transformando em arquivo eletrônico em respeito a uma lei de liberdade de informação, há um plano que mereceu apenas citação e só pode ser consultado fisicamente, depois de um processo trabalhoso. Chama-se “A Contingency Plan for Brazil” (um plano de contingência para o Brasil). É de 11 de dezembro de 1963 e foi escrito por Lincoln Gordon, então embaixador dos EUA no país, e Benjamin H. Head (1905-1993), então secretário-executivo do Departamento de Estado. Nele, diplomatas elencam desfechos possíveis para a crise institucional e política do Brasil e sugerem possíveis ações do governo americano. Uma delas chama a atenção por ser quase uma proposta de ação para os militares revoltosos… Leia o texto completo de Sérgio Dávila na Folha Online de 15/07/2007 – 12h19.

Veja também:
Leia a íntegra do documento “Um plano de contingência para o Brasil” – Folha Online: 14/07/2007 – 17h30

Pesquisa diz que Lula obteria terceiro mandato

Ontem

Pesquisa do PSDB diz que Lula obteria terceiro mandato

Para desgosto de “Zóia” e assemelhadas!

Escrito por Josias de Souza em 24/06/2007 às 02h23

 

Hoje

Datafolha: Lula tem 48% no primeiro turno, contra 22% de Bolsonaro, 9% de Moro, 7% de Ciro e 4% de Doria

G1 – 16/12/2021

Petista venceria a eleição no primeiro turno se o pleito fosse hoje. A pesquisa ouviu 3.666 pessoas entre os dias 13 e 16 de dezembro em 191 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

 

Silva

‘Vavá está sendo linchado’, escreve Elio Gaspari

Genival Inácio da Silva, o Vavá, está sendo covardemente linchado porque é irmão do presidente da República. Ele é acusado de tráfico de influência sem que até hoje tenha aparecido um só nome de servidor público junto ao qual tenha traficado qualquer pleito que envolvesse dinheiro do erário (…) Desqualificá-lo por lambari, deseducado ou pé de chinelo é parte do linchamento. Ele é um cidadão, ponto. Seus atos vêm sendo investigados e serão levados à apreciação da Justiça. Podia ser membro da Academia Brasileira de Letras, dava na mesma. Antes da conclusão do inquérito policial, Vavá foi irremediavelmente satanizado a partir de indícios, suspeitas e manipulações. Seu linchamento não busca o cidadão metido com vigaristas. Busca a jugular do irmão.

O artigo está no blog do Josias – 17/06/2007

Poder de agenda: assusta, mas não surpreende

O jornalismo vale-tudo

** ‘Máfia dos caça-níqueis. Vavá usou nome de Lula; 13 presos são liberados’

A chamada acima estava no portal do UOL, um dos maiores provedores de acesso à internet do Brasil, na tarde de sábado (10/6). É mais um exemplo do ‘jornalismo vale-tudo’ que tem sido praticado no país desde a eleição do presidente Lula, em 2002. Uma mistura deliberada de informação com opinião. Característica de uma imprensa que há muito trocou seu papel de fiscal dos poderes pelo de partido de oposição. Clara demonstração daquilo que os especialistas em comunicação chamam de ‘poder de agenda’: capacidade de, por sucessivas edições dos fatos, criar na opinião pública uma percepção dominante da sociedade em que vive. E, como escreveu Giancarllo Summa em excelente matéria na revista CartaCapital (edição 477, de 6/6/2007), ‘manter o governo refém das capas de jornais e revistas e dos títulos do Jornal Nacional‘.

A técnica empregada induz o leitor a pensar, em um primeiro momento, que o irmão do presidente, valendo-se de tráfico de influência, obteve a soltura de 13 presos. Tal procedimento teria cabimento em publicações que se propõem a obter sucesso, explorando um tipo de humor controverso, calcado em boatos e truques que se prestam a pregar peças no ‘respeitável público’.

Golpista e conservadora

Quando não é esse o objetivo, o texto truncado revela coisa distinta: a ação conjugada das 13 famílias que dominam a mídia nativa em manter o governo dentro do metro de seus interesses. Dispõem, para esses fins, de articulistas engajados e de uma aliança estratégica com parcela da classe média. Como formuladores (não confundir com formadores) de opinião, os primeiros contam com a cumplicidade do leitor de extração conservadora. Não se trata de colonização de imaginário ou moldagem de consciência, mas da formatação textual de uma visão de mundo anterior à leitura.

Nesse quadro, todos os procedimentos são válidos. Reportagens condicionadas à orientação editorial da publicação ou emissora; negligência investigativa, seleção e organização de informações com vistas a criar crises que nada mais são que simulações produzidas por recortes de mídia; divulgação, ao arrepio da lei, de informações de inquérito sob segredo de justiça. Tudo isso somado é alicerce da democracia ou instrumento de instabilidade institucional?

Sem qualquer receio de se deslegitimar como práxis ética, aposta no esquecimento como fonte de validação de seus enunciados. Uma mídia, em suma, que é, desde a origem, golpista e conservadora. E tem dado sobejas demonstrações disso nos últimos dias.

Texto passa batido

Quem acompanha o noticiário desde a decisão do presidente Hugo Chávez de não renovar a concessão da Radio Caracas Televisión (RTVC) pôde assistir a toda sorte de sofismas. Feita dentro de preceitos constitucionais e respaldada por mecanismos administrativos que, em momento algum, feriram o Estado democrático de Direito, a ação do presidente venezuelano foi tachada, pela imprensa brasileira, como inequívoco desejo de controlar a mídia privada.

Em entrevista à Folha de S.Paulo (8/6), o presidente Lula foi claro ao dizer que, respeitando a soberania do país vizinho, as especificidades de cada formação política não autorizavam temores manifestos em colunas e editoriais. ‘A diferença com o Brasil é que conseguimos colocar na Constituição que isso passa pelo Congresso. Não é uma decisão unilateral do presidente. Lá, é. Faz parte da democracia deles.’

Não foi o suficiente para quem teme efeito demonstração. O jornalista Ruy Fabiano não titubeou em sair em defesa de quem o emprega. Em artigo que beira o primarismo, escreveu que ‘transpondo o raciocínio para o Brasil, pode-se dizer que, se amanhã a concessão da Rede Globo findar e o governo simplesmente não a renovar, estará sendo legalista e democrático. Ora, assim como a concessão de um canal de TV não pode ser ato pessoal de vontade do governante, muito menos sua supressão’. Fabiano, ao se tornar porta-voz do monopólio, esqueceu que, no Brasil, tal decisão teria que contar com o consentimento do Senado para ser efetivada. Distorcendo a fala do presidente, caiu em equívoco, e fechou simbolicamente o Congresso.

Não deve ficar preocupado. O texto passará batido. O jornalismo ‘vale-tudo’ cadencia a evolução. A recorrência dos métodos assusta, mas não surpreende.

Fonte: Gilson Caroni Filho – Observatório da Imprensa: 12/06/2007

Morte no canavial

Cortadores de cana têm vida útil menor que a dos escravos: esta foi a manchete da Folha de São Paulo em 29/04/2007.

Leia mais no Blog do Sakamoto, no post A cana e o trabalho escravo.

Um trecho:

A vida útil do cortador de cana está diminuindo. De acordo com pesquisa da professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Maria Aparecida de Moraes Silva, nas décadas de 80 e 90 esse trabalhador rural permanecia na atividade por 15 anos. Hoje, ela acredita que esse prazo tenha diminuído para 12. Uma pessoa chega a cortar mais de 15 toneladas de cana por dia, sob o sol forte, o que ao longo dos anos vai destruindo o seu corpo. Como o ganho é por produtividade, quem corta mais pode levar mais dinheiro para casa no final da safra. O problema é que os exames admissionais não são feitos com o cuidado que merecem e, muitas vezes, trabalhadores que não têm condições físicas para a tarefa acabam sendo contratados. Só nos últimos três anos, 19 pessoas morreram durante o corte da cana no interior do Estado de São Paulo … Em reportagem publicada hoje, a Folha de S. Paulo utiliza dados do historiador Jacob Gorender para comparar o cortador de cana de hoje com o trabalhador escravo da época colonial e imperial, que tinha vida útil de 10 a 12 anos. O próprio editorial do jornal exortou que “os empresários que recebem os crescentes lucros da atividade têm a responsabilidade de zelar pelas condições de trabalho de seus empregados – sejam eles contratados direta ou indiretamente. Caso contrário, o Brasil continuará a ser o país dos lamentáveis contrastes, produzindo o combustível do século 21 com base em estatísticas sociais do século 19”. Já abordei várias vezes aqui neste blog como a expansão da cana está sendo feita em cima do sangue e suor dos trabalhadores rurais (cont.)


Cremare
Cremo, as, ávi, átum, áre ‘queimar, abrasar, consumir pelo fogo’, (…) por um hipotético *caimare, do lat. peninsular, por influxo do gr.tar. káïma ‘queimadura, calor ardente’; ver queim-; f.hist. 1065 keitmar, 1152 queimena, sXIII queimar, sXIII quemar, sXIV queymar.

Abrasar, acender, adurir, afoguear, atear, calcinar, causticar, incender, incendiar, inflamar… Assim, a queimada da cana.

É que explica o Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, dezembro de 2001.

Etanol banhado a sangue, suor e morte

BID e irmão de Bush vão lançar pacote pró-etanol – Sérgio Dávila – Folha Online: 27/03/2007

O Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Comissão Interamericana do Etanol lançam na segunda-feira, em Washington (EUA), a pedra fundamental para a formação de um mercado latino-americano de biocombustíveis.

A base para que esse mercado regional floresça será o investimento privado; entidades como o banco regional e a comissão multinacional entrariam apenas com amparo nas pesquisas e parcerias em projetos de melhoria de infra-estrutura.

O anúncio será feito pelo colombiano Luis Alberto Moreno, do BID, o ex-governador da Flórida Jeb Bush (irmão mais novo do presidente norte-americano) e o ex-ministro da Agricultura brasileiro Roberto Rodrigues na palestra “Em direção a um mercado hemisférico de biocombustíveis – O caminho à frente para o investimento privado”, no banco regional.

Os três criaram a comissão em dezembro último. Na ocasião, o trio divulga ainda amplo estudo encomendado pelo BID à Garten Rothkopf, empresa de consultoria baseada na capital norte-americana e comandada por David Rothkopf, ex-assessor econômico de Bill Clinton.

Intitulado “A Blueprint for Green Energy in the Americas” (Um Plano para a Energia “Verde” nas Américas), o relatório ainda está sendo mantido em sigilo, mas foi considerado por quem o leu como o mais amplo até agora já realizado sobre o assunto. Nele, a empresa faz um levantamento atual da situação da indústria latino-americana do biocombustível, indica como esse mercado deve estar em 2020 e faz recomendações estratégicas para que o setor cresça e se mantenha competitivo até lá.

Alguns dados já se tornaram públicos. O estudo estima, por exemplo, o total de investimento que será necessário para que o mercado avance globalmente, e quais países são candidatos prováveis para o novo dinheiro. No primeiro campo, a cifra foi revelada pelo próprio autor.

Segundo David Rothkopf, será preciso investir US$ 200 bilhões até 2020 para que os biocombustíveis consigam responder por 5% do mercado global de combustíveis –hoje, essa fatia não chega a 1%.

Para efeito de comparação, o plano anunciado no começo do ano pelo norte-americano George W. Bush, batizado “20 em 10”, prevê que 20% de toda a gasolina consumida nos Estados Unidos tenha sido substituída por biocombustíveis até 2010.

De acordo com o levantamento, desde que feitos os ajustes necessários, a região mais propícia a receber esse investimento será a América Latina. De novo, o próprio Rothkopf deu dicas recentes sobre essa conclusão. “Nesse sentido, a América Latina será o golfo Pérsico dos biocombustíveis, com a diferença, é claro, de que a região é um foco muito mais estável de energia”, comparou o analista durante reunião anual do BID, há alguns dias, na cidade da Guatemala.

De 50 países pesquisados, a consultoria diz que a maioria (39) já possui leis específicas que beneficiam algum tipo de biocombustível e mais da metade (27) conta com legislação prevendo a mistura do produto à gasolina, como no Brasil.

Fundo para etanol

Moreno deve anunciar que revisará a estratégia do BID para energias renováveis e o planejamento do trabalho do banco em países com grande potencial bioenergético, especialmente pequenos países latino-americanos.

Na reunião da Guatemala, Moreno havia adiantado que estudava a criação de um fundo especial para financiamento de projetos de biocombustíveis. “Vemos que nosso papel é apoiar projetos de infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento”, afirmou então.

O alvo são principalmente os países da América Central e do Caribe. Há um interesse estratégico do BID e de outras instituições multilaterais de barrar o avanço de Hugo Chávez numa região que tem despertado o interesse do venezuelano.

Já Jeb Bush deve defender mais uma vez a derrubada da tarifa de importação que os EUA cobram do etanol brasileiro, de R$ 0,30 por litro, em vigor até 2009.

 

Biocombustíveis são fraude, diz colunista do “Guardian” – BBC Brasil: 27/03/2007

Em artigo publicado nesta terça-feira no jornal britânico “The Guardian”, o jornalista e ativista ambiental George Monbiot afirma que utilizar biocombustíveis –como o álcool– para combater o aquecimento global “é uma fraude”.

“Se quisermos salvar o planeta, precisamos adiar por cinco anos os projetos em biocombustível”, defende Monbiot, conhecido por suas posições contrárias à globalização.

Para o jornalista, os programas de incentivo “são uma fórmula para desastres ambientais e humanitários”.

“Em 2004, eu alertava que biocombustíveis estabeleceriam uma competição entre os carros e as pessoas. As pessoas inevitavelmente perderiam: aqueles que podem pagar para dirigir são mais ricos que aqueles à beira da fome”, escreve Monbiot.

Para o autor, o Brasil é um exemplo que ilustra o “impacto” de se transformar recursos naturais em combustíveis.

“Produtores de cana-de-açúcar estão avançando sobre o cerrado no Brasil, e plantadores de soja estão destruindo a floresta amazônica. Agora que o presidente (americano, George W.) Bush acabou de assinar um acordo de biocombustíveis com o presidente Lula, deve piorar.

Bush no Brasil

Bush chega tarde e com pouco à América Latina – Caio Blinder, na BBC Brasil, 08/03/2007
…O atual presidente americano é muito impopular na América Latina. Ele não deverá ser tratado efusivamente pelas multidões…

Relações Brasil-EUA – Especial da BBC Brasil

Bush não é bem-vindo no Brasil – Verena Glass e Bia Barbosa, na Agência Carta Maior, 08/03/2007
Enquanto o Air Force One e outros seis aviões sobrevoavam a América Latina rumo ao Brasil, trazendo a bordo George Bush e sua comitiva, todas as críticas ao presidente dos EUA se concentraram em um caldo grosso de revolta, repúdio e desafio que entornou na Avenida Paulista e sacudiu as paredes do centro financeiro do país com uma mensagem clara: Bush não é bem-vindo no país.

O que Bush vem fazer no Brasil? – Bernardo Kucinski, na Agência Carta Maior, 08/03/2007
Onze razões para não confiar no dirigente americano.