Análise narrativa da Bíblia: o método

VITÓRIO, J. Análise narrativa da Bíblia: primeiros passos de um método. São Paulo: Paulinas, 2016, 144 p. – ISBN 9788535640922.

Análise narrativa da Bíblia: primeiros passos de um método faz parte do estudo da Bíblia como literatura e, como o próprio título evidencia, serve de introdução aoVITÓRIO, J. Análise narrativa da Bíblia: primeiros passos de um método. São Paulo: Paulinas, 2016 método de análise narrativa, ainda pouco explorado por estudiosos da Bíblia.

Esta obra explicita os elementos da narração bíblica, centrando-se na tríade narrador-texto-leitor. Como afirma o autor, Jaldemir Vitório, “as perguntas de fundo são: como o narrador trabalhou para produzir o texto a ser oferecido aos leitores? Que recursos literários utilizou para transmitir a mensagem aos leitores destinatários? Como arquitetou o texto que o leitor tem em mãos?”

As explicitações possibilitadas pela análise narrativa dão margem a uma leitura mais rica dos textos bíblicos, para colher da forma mais acertada sua mensagem.

O autor toma o livro de Rute, uma narrativa curta e de grande riqueza, como base para a aplicação do método. Os leitores, dessa forma, terão um primeiro exemplo de como aplicá-lo.

Por sua vez, os exercícios práticos, no final de cada capítulo, são incentivos para o trabalho de descoberta pessoal dos ricos filões de sentido das narrações bíblicas. Quanto mais o leitor se exercitar, tanto mais progredirá na arte de entrar nos meandros do Primeiro e do Segundo Testamento.

A linguagem clara e acessível permitirá a um público muito amplo aproveitar do trabalho de Jaldemir Vitório. Com a leitura atenta desta obra, mesmo pessoas não iniciadas na análise das narrativas bíblicas poderão adentrar o mundo da Bíblia, muito lida, porém mal interpretada pela falta de métodos adequados.

Jaldemir Vitório nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo. É jesuíta. Mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e Doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Professor de Sagrada Escritura na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Leia Mais:
Leitura socioantropológica do livro de Rute

Sobre o mito

O mito é uma narrativa que pode ser contada por qualquer pessoa, com infinitas variações, e ainda assim ser reconhecida.

As linhas gerais dos mitos são reapropriadas por cada nova geração. O mito é um instrumento que possibilita às pessoas simplificar, racionalizar e recontar vivências sociais complexas. É um meio para transpor o abstrato, o global e o relativo para o reino do concreto, do local e do absoluto. É uma maneira de reafirmar a fé em determinados valores.

Se aqueles que tentam interpretar o mundo, fazem-no apenas do ponto de vista de pensadores profissionais, ignorando a persistência do mito no pensamento e na expressão cotidiana, insuficientes, com certeza, são suas conclusões.

Myth is a story that can be retold by anyone, with infinite variation, and still be recognisable as itself. The outline of surviving myth is re-recognised in the lives of each generation. It’s an instrument by which people simplify, rationalise and retell social complexities. It’s a means to haul the abstract, the global and the relative into the realm of the concrete, the local and the absolute. It’s a way to lay claim to faith in certain values. If those who attempt to interpret the world do so only through the prism of professional thinkers, and ignore the persistence of myth in everyday thought and speech, the interpretations will be deficient.

Fonte: James Meek: Robin Hood in a Time of AusterityLondon Review of Books, vol. 38 n. 4  – 18 February 2016, p. 3-8.

Observo que na Bíblia encontramos o mito com muita frequência.

Ler a Bíblia em época de crise global

WORTHINGTON, B. (ed.) Reading the Bible in an Age of Crisis: Political Exegesis for a New Day. Minneapolis: Fortress Press, 2015, 363 p. – ISBN 97814514828671.

Reading the Bible in an Age of Crisis: Political Exegesis for a New Day

We live in an age in which economic, ecological, and political crises are not the exception, but the rule. The Cold War polarities that shaped an earlier “political exegesis” have been replaced; Bruce Worthington argues that increasingly, crisis is the engine of a global “turbo-capitalism.” In this volume, edited by Worthington, biblical scholars and activists describe and exemplify the shape of a biblical interpretation that takes contemporary crisis seriously as its most important context. Succinct opening essays summarize the salient aspects of our critical situation, especially in relation to the dominance of capitalism and its pervasive values; in later parts, contributions address themes of economic, political, and environmental crisis in dialogue with texts from the First and Second Testaments. Throughout the volume, the authors are careful to describe the basis for making interpretive analogies across historical, cultural, and socioeconomic distances between the world of the Hebrew Bible, the New Testament, and our own. Richard A. Horsley writes a postscript pointing to next steps in political interpretation.

Preparando meus programas de aula para 2016

Como faço todos os anos, estou, nestes dias, preparando meus programas de aula de Bíblia para 2016.

Mas, desta vez, não achei necessário reescrever tudo novamente. Apenas atualizei os programas de 2015.

De vez em quando, pessoas interessadas me pedem o conteúdo das aulas. Na verdade, para algumas disciplinas, faço apenas roteiros de aula, não textos completos, por isso a transferência de conteúdo não é viável.

Lembro, entretanto, que há exceções:

:. A História de Israel que utilizarei neste ano é exatamente a que está na Ayrton’s Biblical Page e que foi atualizada no ano passado. Meus alunos, por exemplo, poderão acessar o texto online, ou através dos arquivos em html ou pdf que disponibilizo para eles.

Aliás os visitantes da página podem baixar a História de Israel em pdf, imprimir ou até mesmo enviá-la por e-mail utilizando o plugin para WordPress Print Friendly and PDF Button que está presente no final de cada página. Incentivo o seu uso para fins educacionais. No caso do formato pdf, tenho deixado o “tamanho do texto” em 80%, pois fica melhor.

:. A Língua Hebraica Bíblica está disponível na página através do download de Noções de Hebraico Bíblico.

:. A Literatura Profética tem como base o meu livro A Voz Necessária: Encontro com os profetas do século VIII a.C., que pode ser baixado em pdf na versão atualizada em 2011.

:. Além disso, alguns artigos, faqs sobre os profetas, resenhas e posts serão utilizados. E só examinar os programas e ir até a página destes textos.

Terminei a atualização da Ayrton’s Biblical Page em 02.12.2015.

Clique aqui e veja os programas. Links para as 6 disciplinas que leciono, no final, em “Leia Mais”.

Os refinados caminhos dos estudos bíblicos

Por ser um campo de pesquisa cujo principal foco é um conjunto fixo e finito de dados, os estudos bíblicos inovam menos por descobrir novos objetos de estudo do que encontrando novas maneiras – ou refinando velhos caminhos – de examinar seu tema básico. Estudiosos investigam através da elaboração de categorias de análise e interpretação que levam à compreensão. A avaliação regular do valor dessas categorias – que podem parecer obscuras para aqueles que não são da área – provoca a autoconsciência acadêmica e, assim, reforça a qualidade da investigação e o conhecimento avança.

As a field of research whose primary focus is a fixed and finite set of data, biblical studies innovates less by discovering new objects of study than by finding fresh ways—or refining old ways—to examine its basic subject matter. Scholars investigate by designing categories of analysis and interpretation to achieve understanding. Regular assessment of the value of these categories—however recondite it may appear to a field’s outsiders—provokes scholarly self-consciousness and thereby strengthens the quality of research and advances knowledge.

Este texto está na Introdução de CALLENDER JR., D. E. (ed.) Myth and Scripture: Contemporary Perspectives on Religion, Language, and Imagination. Atlanta: SBL Press, 2014, 322 p. – ISBN 9781589839618.

A introdução Scholarship between Myth and Scripture é assinada por Dexter E. Callender Jr. and William Scott Green.

Vejo, entre os autores, nomes muito interessantes como J. W. Rogerson, Mark S. Smith, Susan Ackerman, Marvin A. Sweeney, Adela Yarbro Collins…

SBL 2015 em Buenos Aires: uma contribuição brasileira

A new agenda for rethinking inspiration: How Latin American hermeneutics can help

Program Unit: Gospel of Mark

Cássio Murilo Dias da Silva, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

The pursuit of the significant convergence between the biblical context and the current context requires a new way of thinking about inspiration. For Latin American Biblical hermeneutics, the fundamental identity of meaning is more important than the analogy between situations. Thus, the “apologetic” approach, which uses the concept of inspiration to prove that Holy Scripture comes from God, has long proven to be inadequate and insufficient. For the Latin American reading, that the Bible is the “Word of God” is an assumption: the problem is not “if” Scripture is the “Word of God,” but “how” it is so. The issues raised by the search for identity of sense refer to how (and why) texts of human authors are received and assumed as Word “of God.” So, hermeneutical reflection about inspiration should stop thinking about the causality of Scripture, and instead begin thinking about the “adequacy” of the text: How do different literary and language strategies express theological differences of parallel texts or about the same subject? How does each text intend to convince and persuade the reader, and what praxis does it intend to lead? How and why is a text, written to another people, another culture, other historical and social circumstances, assumed to be valid for us? How and why do we see ourselves in the biblical text? Is the biblical text the only inspired text or are there others? What makes the biblical text unique? To answer these and other questions, biblical hermeneutics needs the help of linguistics, semantics, semiology / semiotics and other sciences of literature and communication. Several texts of Mark’s Gospel provide good case studies to demonstrate what it means to read the biblical text with a new concept of “inspiration.”

Fonte: 2015 International Meeting, Buenos Aires, Argentina, Meeting Abstracts

Vale a pena ler os profetas hoje?

Vale a pena ler os profetas hoje? Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000. A bibliografia foi atualizada em 2015.

Ainda vale a pena ler os profetas hoje? Que valor têm as suas palavras para nós hoje? O mundo mudou muito, e nós o que temos a ver com os problemas e as propostas de profetas israelitas que viveram há mais de 2500 anos?

O mundo mudou muito, mas as crises vividas pelos profetas ainda acontecem. Em contextos diferentes, é claro. Entretanto, os problemas da opressão, do domínio, do poder despótico, da manipulação da religião, da falsa consciência são mais atuais do que nunca. E é aí que entram os profetas: eles podem, com suas palavras tão antigas e tão atuais, nos ajudar a enfrentar as agudas situações de crise neste terceiro milênio.

Isto depende, porém, de um enfoque correto, de uma abordagem adequada dos textos dos profetas israelitas. O que nem sempre é fácil. Persistem ainda muitos obstáculos. Que, curiosamente, não vêm da antiguidade e da complexidade dos textos dos profetas. Vêm de nossa época e de nosso olhar: são os condicionamentos culturais ocidentais os que mais nos afastam de uma leitura proveitosa dos profetas.

É toda uma mentalidade, uma secular visão de mundo que nos domina, de tal modo que quase sempre a sobrepomos ao texto bíblico, ocultando o seu sentido original e inutilizando-o frente aos problemas reais do mundo atual.

Por isso, o que aqui proponho é a abordagem de alguns dos obstáculos hermenêuticos mais comuns, nos quais constantemente tropeçamos. Obstáculos hermenêuticos são armadilhas do pensamento. Isto servirá de alerta e alarme para nós. Pois só uma constante vigilância ideológica manterá aberta a nossa mente para a experiência do nascimento do sentido que acontece na operação de leitura dos textos proféticos.

O filósofo francês da ciência Gaston BACHELARD trabalhou de maneira muito interessante a questão dos obstáculos epistemológicos, noção na qual me inspirei para falar de obstáculos hermenêuticos. O texto de Bachelard está em sua obra La formation de l’esprit scientifique: contribution à une psychanalyse de la connaissance objective. 15. ed. Paris: Vrin, 2000, mas pode ser lido, em português, em BACHELARD, G. A formação do espírito científico: contribuição para uma psicanálise do conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 2003.

Este texto foi adaptado de meu livro Nascido Profeta: a vocação de Jeremias. São Paulo: Paulus, 1992, p. 110-122.

Leitura socioantropológica do Novo Testamento

Leitura socioantropológica do Novo Testamento. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000.

1. A Antropologia do Mundo Mediterrâneo e o NT

No outro artigo falamos só da Bíblia Hebraica e das questões que ela propõe a uma leitura sociológica. Mas se considerarmos mais especificamente o Novo Testamento hoje com o auxílio da antropologia, perceberemos que o mundo mediterrâneo no qual ele foi gestado tem muito menos em comum com o Ocidente moderno do que imaginamos. É que costumamos olhar o texto com os parâmetros sociais atuais e não conseguimos, frequentemente, perceber a diferença do mundo antigo.

Considerações deste gênero são feitas, por exemplo, por Richard L. Rohrbaugh, na Introdução de um volume sobre “As Ciências Sociais e a Interpretação do Novo Testamento”, obra escrita por membros do The Context Group, “uma associação de estudiosos interessados no uso das Ciências Sociais como um instrumento heurístico na interpretação do Novo Testamento” que ao longo de mais de uma década vem trabalhando com a questão da antropologia do mundo mediterrâneo, visto como uma unidade cultural onde foi escrito o NT.

O autor nos oferece alguns exemplos que apontam para o risco da projeção de nossa visão moderna de mundo para o universo do NT. Tomemos a questão da expectativa de vida hoje nos países ricos e nas cidades pré-industriais do Império Romano: “Cerca de 1/3 daqueles que ultrapassavam o primeiro ano de vida (não contabilizados, portanto, como vítimas da mortalidade infantil) morriam até os 6 anos de idade. Cerca de 60% dos sobreviventes morriam até os 16 anos. Por volta dos 26 anos 75% já tinha morrido e aos 46 anos, 90% já desaparecido, chegando aos 60 anos de idade menos de 3% da população”.

É claro que estes dados não são uniformemente distribuídos por toda a população da época. Os que mais sofriam pertenciam às classes mais pobres das cidades e povoados, já que um pobre em Roma, no século I de nossa era, tinha uma expectativa de vida de 30 anos, quando muito. E o autor acrescenta: “Estudos feitos por paleopatologistas indicam que doenças infecciosas e desnutrição eram generalizadas. Por volta dos 30 anos a maioria das pessoas sofria de verminose, seus dentes tinham sido destruídos e sua vista acabado (…) 50% dos restos de cabelo encontrados nas escavações arqueológicas tinham lêndeas”*.

Continue a leitura clicando aqui. A bibliografia, no final do texto, foi atualizada em 2012.

Lembro que este texto está presente também no seguinte livro:

DIAS DA SILVA, C. M., com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bíblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 355-450.

* Três notas de rodapé foram omitidas neste trecho aqui transcrito.

Origem do discurso socioantropológico

O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento. Artigo publicado na Ayrton’s Biblical Page em 2000. 

O objetivo deste artigo é esboçar um panorama da origem e do desenvolvimento de duas ciências sociais que estão sendo hoje muito utilizadas na leitura da Bíblia. Trata-se da Sociologia e da Antropologia Cultural ou Social, somadas no discurso que caracterizamos como Socioantropológico. Em inglês, a terminologia comumente utilizada é Social-Scientific Criticism.

Continue a leitura clicando aqui. A bibliografia, no final do texto, foi atualizada em 2015.

Lembro que este texto está presente também no seguinte livro:

DIAS DA SILVA, C. M., com a colaboração de especialistas, Metodologia de exegese bblica. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2009, p. 355-450.

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