A Bíblia e seu tempo em DVD

No site da Revista História Viva, publicada pela Duetto, como noticiado em The Bible Unearthed em DVD: agora no Brasil e em A Bíblia e seu tempo, já estão disponíveis os dois DVDs de

A Bíblia e seu tempo – um olhar arqueológico sobre o Antigo Testamento.

Vol. 1: Os patriarcas – O êxodo
Vol. 2: Os reis – “O livro”

Preço [em 19.01.2013]: R$ 39,90 + frete. Os DVDs são vendidos também nas bancas.

Nota em 11.12.2019: esgotados, os DVDs devem ser procurados no Mercado Livre.

A Bíblia e seu tempo

No site da Revista História Viva, publicada pela Duetto, como noticiado ontem no post The Bible Unearthed em DVD: agora no Brasil, já está está disponível o primeiro DVD de A Bíblia e seu tempo – um olhar arqueológico sobre o Antigo Testamento.

Preço: R$ 24,90 + frete. Mas, veja também nas bancas.

Trechos dos dois DVDs podem ser vistos no site.

Sobre o conteúdo, diz o site:
De onde veio o povo de Israel? O que realmente sabemos sobre os patriarcas Abrão, Isaac e Jacó? O êxodo realmente aconteceu? Quando e por que o Antigo Testamento foi escrito? Por que a Bíblia registrou tudo isso? A resposta a todas essas questões está na série de dois DVDs que História Viva traz com exclusividade ao Brasil. O documentário apresenta pesquisas arqueológicas realizadas em Israel, na Jordânia e no Egito, além de estudos realizados na Suíça, França e Estados Unidos. Em um trabalho de dez anos de investigação, os pesquisadores Israel Finkelstein, do Instituto de Arqueologia da Universidade de Tel Aviv, e o arqueólogo e historiador Neil Silberman, ambos autores do best-seller A Bíblia não tinha razão [The Bible Unearthed], revelam quais são as evidências históricas por trás dos textos sagrados.

The Bible Unearthed em DVD: agora no Brasil

Em 2 de novembro de 2006 escrevi o post The Bible Unearthed de Finkelstein e Silberman vira filme. Releia, por favor.

Depois, leia este outro post, escrito em 18 de janeiro de 2007: Jim West resenha The Bible Unearthed em DVD. Resenha que prossegue aqui, aqui, aqui e aqui.

Ontem recebi de Cláudia A. P. Ferreira, Professora da UFRJ, a notícia de que o documentário foi traduzido para o português e está sendo lançado pela Duetto Editorial em 2 DVDs com o título A Bíblia e seu tempo – um olhar arqueológico sobre o Antigo Testamento.

Além da loja da Duetto, onde estará disponível, o documentário será vendido também nas bancas, pois é parte da revista História Viva.

Por enquanto, é só isso que sei. A data prevista para o lançamento era ontem, mas no site da Duetto não há, ainda, nenhum anúncio. Quando conseguir mais informações, colocarei aqui.

Este será um excelente instrumento para as aulas de História de Israel.

O primeiro DVD já está à venda. Clique aqui.

Congresso Internacional de Assiriologia de 2008

O Quinquagésimo Quarto Congresso Internacional de Assiriologia será realizado em Würzburg, Alemanha, de 21 a 25 de julho de 2008. O tema: Organization, Representation and Symbols of Power in the Ancient Near East.

Veja o programa, os participantes, as palestras na página do Congresso (em alemão, inglês e francês), que diz:

We are honored to invite you to Würzburg for the 54e Rencontre Assyriologique Internationale. The convention will take place July 21-25, 2008, in the facilities of the University of Würzburg. The Department for Ancient Near Eastern Studies of the Julius-Maximilians-Universität Würzburg is responsible for the coordination.

Aproveite e visite a Homepage do Rencontre Assyriologique InternationaleCongresso Internacional de Assiriologia -, que lista os congressos já realizados e futuros.

Toda a História de Israel caberia em dez páginas

Philip Davies afirma, em artigo publicado por The Expository Times 2007 119: 15-21, The History of Ancient Israel and Judah, que uma história política do Antigo Israel, que preencha os requisitos da moderna historiografia, caberia em apenas dez páginas. Mas isto teria um custo: o abandono da Bíblia, o produto cultural mais importante (de Israel)…

“… [a] modern political history of Ancient Israel [which would] satisfy modern criteria of history writing … might stretch to ten pages. But the cost is to abandon the most important historical product, the Bible, and to leave it without explanation.”

Coloque este trecho do artigo no contexto da dificuldade em identificar o Israel bíblico com o Israel histórico, já discutido por Philip R. Davies em seu livro In Search of ‘Ancient Israel’, e a polêmica afirmação começa a ficar mais clara.

E não se esqueça dos dois livros de Philip Davies que serão publicados em breve.

Cito o resumo do artigo The History of Ancient Israel and Judah de Philip R. Davies, publicado por The Expository Times, Edimburgo, Escócia:

Writing a `history of Israel’ is a task that is vastly different to writing history of modern events, yet this distinction is often not recognized. There are limitations in the written sources, the archaeological record is unable to locate a `biblical Israel’ in differentiation from the various cultures that inhabited Palestine in the same period and the bible itself was written with a particular theological agenda many centuries after the events it purports to report. Rather what is preserved in the biblical texts is a collection of snapshots of how Israel has been remembered. This `cultural history’ allows for the appropriation of the stories of communities of faith. It is within such layers of memory that the resources can be found to refashion the understanding of the biblical story in a way that finds meaning for successive generations.

Egiptologia no Brasil

Está na ANBA – Agência de Notícias Brasil-Árabe, assinada por Isaura Daniel, a seguinte notícia: Egiptólogos brasileiros se reúnem em Curitiba [Obs.: link quebrado].

“Pesquisadores brasileiros vão dividir a partir de hoje (30), em Curitiba, os seus conhecimentos a respeito do Egito Antigo. Até o sábado (01) o Centro Universitário Campos de Andrade (Uniandrade) vai receber egiptólogos e estudiosos do assunto vindos de várias partes do Brasil. Eles vão participar do 2° Encontro Nacional de Estudos Egiptológicos. O tema será a religião no cotidiano do Egito Antigo. Segundo o coordenador do encontro, Moacir Elias Santos, são esperadas cerca de 150 pessoas. Serão abordados, por exemplo, como os faraós associavam sua propaganda política à religião, o culto aos animais que ocorria na época e os textos dos sarcófagos, antigas tumbas. Também farão parte dos painéis temas extras ao assunto principal, como a herança dos obeliscos egípcios na atualidade, elementos das charges e caricaturas egípcias na imprensa brasileira e a presença do Egito Antigo na literatura infanto-juvenil. De acordo com Santos, que também é professor adjunto e responsável pela disciplina de História Antiga e Arqueologia do curso de História da Uniandrade, o encontro terá como conferencistas grandes autoridades em egiptologia, como Juan José de Castilhos, do Instituto Uruguaio de Egiptologia, e Maurício Elvis Schneider, do Círculo Brasileiro de Egiptologia. Participarão do encontro como palestrantes especialistas de universidades dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná”.

Leia a notícia completa. Versão em inglês: Egyptologists from Brazil to meet in Curitiba [link quebrado].

Agradeço a Andie, do Egyptology News, pela dica.

Debate entre Finkelstein e Mazar em livro

Está para sair em livro, agora em setembro de 2007, o debate entre os arqueólogos Israel Finkelstein e Amihai Mazar ocorrido em outubro de 2005 no International Institute for Secular Humanistic Judaism – IISHJ – de Farmington Hills, MI, USA.

FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, 220 p. ISBN 9781589832770.

FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007Three decades of dialogue, discussion, and debate within the interrelated disciplines of Syro-Palestinian archaeology, Israelite history, and Hebrew Bible on the question of the relevance of the biblical account for reconstructing early Israel’s history have created the need for a balanced articulation of the issues and their prospective resolutions. This book brings together for the first time and under one cover, the currently emerging “centrist” paradigm as articulated by Israel Finkelstein and Amihai Mazar, two leading figures in the field of early Israelite history and archaeology. Although these two authors advocate distinct views of early Israel’s history, they nevertheless share the position that the material cultural data, the biblical traditions, and the ancient Near Eastern written sources are all significantly relevant to the historical quest for Iron Age Israel. The results of their research are featured here in accessible, parallel syntheses of the historical reconstruction of early Israel with the aim of facilitating comparison and contrast of their respective interpretations. The two histories presented in Quest are based on invited lectures the authors delivered in October 2005 at the International Institute for Secular Humanistic Judaism’s Sixth Biennial Colloquium in Detroit, Michigan.

Observo que o livro está disponível em pdf para download gratuito no Projeto ICI da SBL.

Religião e formação de classes na antiga Judeia – Bibliografia

A bibliografia, quando possível, foi atualizada e traduções para o português, quando encontradas, foram preferidas nas citações.

Nesta bibliografia, com duas exceções, são citados apenas autores mencionados no resumo. No livro a bibliografia ocupa as páginas 167-173.

 

BACHOFEN, J. J. Der Mythus von Orient und Occident: eine Metaphysik der alten Welt. München: Beck, 1956.

CAUSSE, A. Du groupe ethnique à la communauté religieuse: le problème sociologique de la religion d’Israël. Paris: Librairie Félix Alcan, 1937.

DROYSEN, J. G. Geschichte des Hellenismus. München: Deutscher Taschenbuch Verlag, 1986. ISBN 9783423059763

DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ISBN 853361022X

EDDY, S. K. The King is Dead: Studies in the Near Eastern Resistance to Hellenism 334-31 B.C. Lincoln: University of Nebraska Press, 1961.

FORTES, M. Kinship and the Social Order: The Legacy of Lewis Henry Morgan. London : Routledge, 2004. ISBN 9780415330091.

FRIED, M. The Evolution of Political Society: An Essay In Political Anthropology. New York: McGraw-Hill, 1967. ISBN 9780075535799.

GARCÍA MARTÍNEZ, F. Textos de Qumran: edição fiel e completa dos Documentos do Mar Morto. Petrópolis: Vozes, 1995.

GODELIER, M. Ökonomische Anthropologie: Untersuchungen z. Begriff d. sozialen Struktur primitiver Gesellschaften. Reinbek (bei Hamburg): Rowohlt, 1982. ISBN 9783499250439.

HENGEL, M. The Zealots: Investigations into the Jewish Freedom Movement in the Period from Herod I Until 70 A.D. London: T & T Clark, 2000. ISBN 9780567293725.

KREISSIG, H. Die sozialen Zusammenhänge des judäischen Krieges: Klassen und Klassenkampf im Palästina des 1. Jahrhunderts v.u. Z. Berlin: Akademie-Verlag, 1970.

LÉVI-STRAUSS, C. As estruturas elementares do parentesco. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2003. ISBN 8532628583.

MAUSS, M. Ensaio sobre a dádiva. Lisboa: Edições 70, 1989. ISBN 9789724402260.

MEYER, E. Die Entstehung des Judentums: eine historische Untersuchung. Hildesheim: G. Olms, 1987. ISBN 3487009951.

MORGAN, L. H. Ancient Society for Researches in the Lines of Human Progress from Savagery through Barbarism to Civilization. New Brunswick, NJ: Transaction Publishers, 2000. ISBN 9780765806918.

PATAI, R. Sitte und Sippe in Bibel und Orient. Frankfurt am Main: Ner-Tamid-Verlag, 1962.

PEREIRA DE QUEIROZ, M. I. Réforme et révolution dans les sociétés traditionnelles: histoire et ethnologie des mouvements messianiques. Paris : Éditions Anthropos, 1968.

POLANYI, K. Trade and Market in the Early Empires: Economies in History and Theory. New York: The Free Press, 1957.

SAHLINS, M. D. Sociedades tribais. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.

SCHOLEM, G. Über einige Grundbegriffe des Judentums. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1996. ISBN 3518133179

THACKERAY, H. St. J./MARCUS, R./WIKGREN, A./FELDMAN, L. H. Josephus I-X, Cambridge: Harvard University Press, 1926-1965.

TOV, E. (ed.) The Dead Sea Scrolls Electronic Library, a CD-Rom edition. Leiden: Brill, 2006. ISBN 9789004150621.

WEBER, M. Ancient Judaism. New York: The Free Press, 1967. ISBN 9780029341308. Original: Das antike Judentum. Max Weber, Gesammelte Politische Schriften. Potsdamer Internet-Ausgabe (texto online).

________ Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva, Vols. 1 e 2. Brasília: Editora da UnB, 2004. ISBN 852303142X e 8523003908.

 

Leia em seguida:

Introdução

Capítulo 1: Solidariedade e formação de classes à luz da etnologia – Solidarität und Klassenbildung aus ethnologischer Sicht

Capítulo 2: O sistema judaico de parentesco – Das judäische Verwandtschaftssystem

Capítulo 3: Condições da economia na região montanhosa da Judeia no tempo do domínio persa – Bedingungen des Wirtschaftens im judäischen Bergland in persische Zeit

Capítulo 4: Crise agrária, revolta dos camponeses e reforma de Neemias – Agrarkrise, bäuerlicher Widerstand und die Reform Nehemias

Capítulo 5: Arrendamento estatal grego e luta dos Macabeus pela liberdade – Griechische Staatspacht und makkabäischer Freiheitskampf

Capítulo 6: Apresentação de sociedades asiáticas em etnografia helenística – Zur Interpretation asiatischer Gesellschaften in hellenistischer Ethnographie

Capítulo 7: A evolução de um domínio sem tradições na Judeia e a revolta crescente contra ele – Die Progression einer traditionsfreien Herrschaft in Judäa und des Widerstandes gegen sie

Capítulo 8: Estabelecimento da antiga relação de classes na Judeia – Die Etablierung der antiken Klassenverhältnisse in Judäa

Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik

Religião e formação de classes na antiga Judeia 9

9. Oposição da religião à política

9.1. J. J. BACHOFEN louva a vitória do Ocidente sobre o Oriente nas derrotas de Cartago e Jerusalém.

Obs.: este capítulo vai analisar três metas dos judeus nas suas revoltas contra o domínio helenístico-romano:
. a dos essênios
. a da revolução de Bar Kosiba
. a da libertação dos escravos por dívida

:: Renovação da aliança com Deus
9.2. Segundo o Documento de Damasco, a comunidade essênia rompeu com a ordem social dominante nos séculos II a.C./I d.C. e se organizou internamente segundo princípios alternativos. O princípio constitutivo do grupo de Damasco não era o parentesco, mas a livre união. Importante é que o conteúdo de solidariedade do grupo de parentesco agnático se tornou independente e foi racionalizado em normas éticas, cuja validade fica assegurada através de um pacto.

9.3. A relação com os estrangeiros implica em não fazer nenhum negócio com eles: nada lhes deve ser vendido ou deles comprado. As relações comerciais se limitam à troca.

9.4. O conteúdo das relações sociais com os outros judeus, os de fora do grupo, aparece no Documento como expressão de um mundo que vive de acordo com outra lei. Sua separação dos outros e a sua condenação deles é justificada com o conceito de aliança Iahweh-Israel.

9.5. “Os conceitos religiosos do Manuscrito de Damasco têm pois seu fundamento não numa orientação para aquilo que vem, mas supõem a condição social de uma sociedade de classes e, contrastando com suas instituições impessoais e assimétricas, insistem nas relações pessoais e recíprocas” (p. 147) [Die religiösen Konzepte der Damaskusschrift beruhen daher nicht auf einer Orientierung am Überkommenen, sondern haben die gesellschaftliche Bedingung einer Klassengesellschaft zur Voraussetzung und insistieren kontrafaktisch zu deren unpersönlichen und reziproken Beziehungen].

9.6. Comparando o Documento de Damasco e Qumran (Regra da Comunidade):
. Damasco: pressupõe a propriedade privada e subordina a determinadas regras a circulação e consumo dos produtos; provavelmente se espelha nas regras de distribuição da hierocracia; é uma união de chefes de família
. Qumran: subordina não só a circulação e o consumo, mas também a produção (no campo e na oficina) às regras da comunidade; segue o modelo corporativo do clã (mishpâhâ); é uma comunidade (yhd) muito complexa na sua organização (há uma hierarquia comandada pelos sacerdotes aaronitas)
. Em Qumran as relações internas seguem o princípio do dom e da retribuição, o princípio da reciprocidade, enquanto as relações para fora se reduzem à compra e venda

9.7. O autor conclui:
. o tradicionalismo dos essênios reconstruiu as tradições
. não como leis (nómoi) político-utópicas
. mas com ênfase nos aspectos coletivos da tradição que legitimavam a formação de grupo religioso de concepção corporativa
. e motivaram a resistência à mudança social

> “O interesse dos essênios nas tradições foi determinado tendo como pano e fundo a emancipação da sociedade helenística das tradições coletivistas, e tinha como meta a conservação destas tradições como normas das relações sociais” (p. 150).

:: Restauração de Israel
9.8. G. SCHOLEM (1970) acredita que as ideias apocalípticas dos judeus são em sua essência e origem uma teoria da catástrofe. Eles querem a destruição e a superação da História. O Messias transcende assim as relações sociais e a História.

9.9. M. I. PEREIRA QUEIROZ (1968) diz que todo movimento messiânico tem três elementos:
. coletividade oprimida e descontente
. a esperança na chegada de um enviado de Deus que colocará fim ao tempo de sofrimento
. crença em paraíso que é ao mesmo tempo santo e profano

> Por que surgem estes elementos?
Quando há reciprocidade de condições socioeconômicas e de sistemas simbólicos político-culturais, nos quais as figuras religiosas tradicionais tomam intensidade messiânica e se tornam motivação de revolta contra o regime dominante

> Por que símbolos tradicionais passam a ser revolucionários?
O exame será baseado na revolta de Bar Kosiba

9.10. O conceito de liberdade era a meta dos três grandes levantes judaicos (Macabeus em 167-142 a.C.; guerra de 66-73 d.C.; revolta de Bar Kosiba em 132-135 d.C.). Os documentos comprovam o que se entendia por liberdade: autonomia política, exercício da justiça, suspensão dos tributos, cobrança dos impostos pelos próprios judeus e cunhagem de moeda própria.

> Mas existe um conceito sicário-zelota de liberdade que é diferente deste: é também religioso: “Israel não pode reconhecer o domínio romano, pois Deus é o seu Senhor” (p. 153). Esta seria uma oposição ao culto aos césares.

9.11. Ao lado do conceito de liberdade existe o de ge’ulla (= resgate da terra) que deve ser traduzido por “reconstrução” ou “restauração”. Mas quem a realiza? Iahweh é o goel na literatura bíblica… mas agora Bar Kosiba é o restaurador, segundo os documentos da revolta. “Nos documentos de Bar Kosiba, o símbolo religioso foi adaptado ao político e significa libertação do domínio estrangeiro através de revolta organizada” (p. 155).

9.12. O título de nâsî (= príncipe), aplicado a Bar Kosiba: o senhorio do nâsî se legitima pela obediência às tradições. “O senhor não está acima da lei, e nem como pessoa inteligente é fonte de justiça, mas ele se legitima justamente pela harmonia de suas ordens com as tradições” (p. 156).

> “Também a aceitação do título de nâsî deve-se à dialética das condições político-sociais e aos modelos explicativos da tradição, em cujos processos o título de senhor transmitido tornou-se símbolo do senhorio orientado pela tradição, e expressava a consciência da contradição existente com a estrutura de poder do helenismo” (p. 157).

:: Grito de libertação
9.13. Outro importante conceito é o da proclamação do ano de libertação (Dt 15,2 etc.). O Código de Hammurabi: relação entre anduraru e derôr (= libertação)…

> “A importância de derôr não pode, através de construções literárias artificiais, ser desviada do seu sentido coletivo social. Do mesmo modo como observamos no conceito de ge’ulla, também este conceito serviu para criar regras de solidariedade segmentária e exigências normativas, e com isso dar definição prática ao acontecimento do tempo de salvação. Norma segmentária, e não consolo de culto, torna-se paradigma do tempo de salvação” (p. 163).

:: Resumo
9.14. “O problema principal da história da religião é a relação entre a ideia religiosa e a ação social” (p. 165).

. Os três elementos discutidos se devem à resistência contra relações sociais:
> os essênios: têm “como meta realizar relações de fraternidade, reciprocidade e solidariedade. Assim, a nova sociedade nasce contra a sociedade de classes helenístico-romana (…) Os essênios retomam como motivação desta sociedade a idéia de aliança divina com o grupo de parentesco israelita” (p. 165).

> a revolução de Bar Kosiba: usa a geu’lla como conceito de mudança revolucionária. “A reconstrução de Israel tem em mira uma reviravolta que renova a união pessoal, assegura a solidariedade dos irmãos e realiza uma ordem econômica coletiva” (p. 166).

> a instituição da libertação dos escravos por dívida: “Tornou-se paradigma do tempo de salvação, no qual as relações atuais são medidas e julgadas” (p. 166).

9.15. A observação de M. WEBER (1920) sobre o judaísmo antigo: o sofrimento de um povo e não de indivíduos tornou-se o objeto de esperanças de salvação religiosa. Foi a tradição religiosa que serviu como elemento crítico face às situações novas criadas pela helenização, fazendo da salvação o direito dos oprimidos.

9.16. O cristianismo primitivo:
. supõe, como Qumran, a crise da organização israelita tradicional da solidariedade, abalada pela entrada da propriedade privada e pela apropriação do excedente
. mas, diferente de Qumran, o cristianismo primitivo não se segregou num resto fiel e nem partiu para uma revolução política
. o cristianismo “transferiu para mais tarde a crise da lealdade ao parentesco” (p. 166), diz o autor citando Mt 19,29. “O cristianismo primitivo contradisse ao mesmo tempo conteúdos essenciais da tradição judaica e fez da decisão subjetiva a base da ação” (p. 166).

 

Leia em seguida:

Bibliografia – Literatur

Religião e formação de classes na antiga Judeia 8

8. Estabelecimento da antiga relação de classes na Judeia

8.1. A conclusão a que se chegou até aqui é a de que sob o controle romano a base do domínio não era mais a tradição, mas o direito abstrato. Como aprofundar esta conclusão? Pesquisando a alteração das instituições sociais nesta época romana. Documentos: documentos de Murabba’at (encontrados no deserto de Judá e que foram levados para lá pelos partidários da revolta de Bar Kosiba entre 132-135 d.C.), NT e tradição tanaíta (os Tannaim são os rabinos que escreveram a Mishnah no séc. II d.C.).

:: Da fiança ao arremate da propriedade
8.2. O direito de hipoteca se baseava na regra da penhora (= ‘ârab): o devedor insolvente tem que trabalhar para seu credor (= escravidão por dívida – 6 anos) ou entregar seus bens para pagar a dívida: isto funcionava no tempo de Neemias. Qumran ainda conhece este direito: 1Q22 III 4-6; 11QMelquisedec e 4QOrdb 513.

8.3. A literatura rabínica (Mishna Shebî`it 10) e o NT (Mt 5,25-26/Lc 12,58) mostram outra norma: não é mais o credor, mas é o juiz que é considerado o responsável em cobrar a dívida contra o devedor. Se o devedor não pode pagar, fica preso até que algum familiar o faça.

8.4. Há também o caso, documentado na literatura rabínica, do prozbol: caso houvesse execução da dívida, as terras do devedor passavam definitivamente para a posse do credor (e não por um tempo determinado como era antigamente a lei israelita). Esta regra está documentada em Murabba’at. “Esta concessão pertence à tradição jurídica greco-romana [prosbolê, em grego] e representa novidade no direito judaico de penhora, novidade esta que possibilitava contratos de dívida entre judeus e estrangeiros” (p. 130). Também o ano de perdão caiu, segundo Mur 18. E os juros aparecem também em Lc 16,6-7 (ver nota a da Bíblia de Jerusalém (2002) a Lc 16,8). E o caso da casamento onde a ketubbâ substituiu o mohar (= dote).

:: As consequências da insolvência
8.5. Prisão por dívida fiscal já era conhecida antes da era helenística (Esd 7,26), mas agora há prisão por dívida particular como testemunha a parábola do servo cruel (Mt 18,23-25). O Estado agora protegia os contratos particulares, porque o credor não era mais o pequeno camponês vizinho (e parente, dentro do clã), mas o daneistês, o profissional de empréstimos ou o administrador de grandes propriedades. Antigamente, o vizinho credor aceitava como pagamento o trabalho do devedor (= escravidão por dívida); agora, não se aceita mais o trabalho, porque a mão de obra era abundante [consequência do tipo de cultivo e da tomada da terra pelos grandes investidores] e o credor queria era dinheiro ou terras

8.6. A conclusão é que há duas diferenças entre o pré-exílio e a época romana:
. o empréstimo antes do exílio era assegurado pela mão de obra (= escravidão por dívida); no pós-exílio (época persa/grega), o empréstimo era garantido pelo terreno e pela mão de obra; agora (época romana) o empréstimo é garantido pelo fator de produção terra e dinheiro, porque este é o interesse dos credores

. não se emprestavam somente víveres para plantação e consumo (como no pré-exílio), mas emprestava-se dinheiro. E o credor podia declarar a terra do devedor insolvente como sua propriedade particular, para compensar o empréstimo.

. “Os dois momentos apontam para uma sociedade na qual terra e trabalho tornaram-se meios abstratos da produção de valores, e na qual também o empréstimo servirá a este fim” (p. 133) [Beide Momente verweisen auf eine Gesellschaft, in der Land und Arbeit zum abstrakten Mittel der Produktion von Werten geworden waren und in der auch das Darlehen diesem Zweck diente]

:: Do patrimônio à propriedade particular
8.7. Os contratos de venda encontrados entre os documentos de Murabba’at e os evangelhos (Mt 13,44;Lc 14,18) mostram que a limitação da venda da terra pela prerrogativa agnática não vale mais. Acaba-se também o direito de herança agnática.

:: Relações de produção
8.8. Nesta época na Palestina havia: o pequeno agricultor [Kleinbauerntum], o arrendatário (colono) [Pachtverhältnis – Kolonat] e a oikos (trabalhada por escravos ou operários) [Sklaverei und Lohnarbeit basierenden Oikos]. Na literatura rabínica há três formas de arrendamento:
. o sôker, que arrenda a terra por uma quantia de dinheiro
. o hôker, que arrenda a terra por uma quantidade de mantimentos
. o ‘arîs, que é arrendador parcial.

8.9. O arrendamento parcial…

8.10. A oikos…

8.11. O arrendamento por uma quantia de dinheiro ou mantimentos…

8.12. Bar Kosiba arrendou as terras (que ele confiscou de Roma)…

8.13. O que se nota, nesta época, é a decadência do pequeno agricultor, porque o sistema de arrendamento tomou conta. Como as famílias não conseguiam pagar a parte da colheita devida ao Estado, suas terras eram desapropriadas. A economia familiar tradicional era imprópria para a produção de excedentes lucrativos para os novos senhores e a nova ordem econômica. “É na racionalidade deste economia que se funda a razão de os grupos familiares não terem mais grande importância no tempo dos romanos” (p. 141) [In dieser ökonomischen Rationalität ist es begründet, daß die Familienbetriebe in der römischen Zeit keine allzu große Bedeuteng mehr hatten].

:: Nova racionalidade econômica nas parábolas evangélicas
8.14. As parábolas usam, como símbolos, elementos da ordem social da Galileia: Mc 12,1-11; Mt 20,1-15; Mt 25,14-28; Lc 12,57-59. A colheita era tempo de alegria no AT: agora em o NT não o é mais: Mt 25,24; Jo 4,37; Mt 13,30; Jo, 4,36.

. “A relação trabalho/produto cedeu à mediação que simboliza a situação escatológica: a relação do homem com suas necessidades é transmitida através do poder” (p. 142).

. “A interpretação da relação de Deus como não recíproca, recorre ao tipo de senhorio prebendal de terras” (p. 142). Isto é uma consequência teológica (indireta) das relações sociais…

8.15. As fontes histórico-sociais da época romana testemunham:
. a submissão dos agricultores livres ao sistema de apropriação do excedente
. a perda da força das instituições antigas, que protegiam a sociedade judaica da formação de classes
. que o novo proprietário da terra hipotecada pode dispor livremente dela e que os parentes agnatos perdem seus direitos de herança, enquanto o devedor insolvente vai para a cadeia
. o progresso social realizou-se contra as antigas tradições da solidariedade [Die Ausrichtung der Ökonomie auf Rentabilität war möglich nur als Widerspruch zu den egalitären religiösen Traditionen – p. 155 da edição de 1978]. O complexo tradicional rural-sacerdotal, sancionado por Neemias, como resistência à formação de classes, perdeu definitivamente sua força.

 

Leia em seguida:

Capítulo 9: Oposição da religião à política – Opposition der Religion gegen die Politik

Bibliografia – Literatur