Os nomes dos Magos

Três reis magos: Melquior, Baltazar e Gaspar?

PANAINO, A. I nomi dei magi evangelici. Un’indagine storico-religiosa. Con contributi di Andrea Gariboldi, Jeffrey Kotyk, Paolo Ognibene e Alessia Zubani. Milano: Mimesis, 2020, 150 p. – ISBN 9788857571171.

Embora os nomes e o número dos Magos não apareçam em Mateus 2,1-12, as tradições apócrifas estabeleceram que eram três e se chamavam Gaspar, Melquior e Baltazar. Mas estesPANAINO, A. I nomi dei magi evangelici. Un'indagine storico-religiosa. Con contributi di Andrea Gariboldi, Jeffrey Kotyk, Paolo Ognibene e Alessia Zubani. Milano: Mimesis, 2020 não são nem os únicos nem os mais antigos nomes destes célebres personagens. Este livro em italiano propõe uma investigação preliminar sobre a história das origens desta complexa tradição onomástica atestada em diferentes línguas e culturas, tanto no Oriente quanto no Ocidente.

Sumário
. Antonio Panaino: I nomi dei Magi Evangelici
. Alessia Zubani: Nomina nuda tenemus. L’onomastica dei Magi Evangelici
. Andrea Gariboldi: Le monete indo-partiche di Gondophares
. Jeffrey Kotyk: La nascita di Cristo e i portatori di doni persiani nelle fonti cinesi medievali
. Paolo Ognibene: Mt 2,1-12 in osseto

 

Sebbene i nomi propri dei Magi non compaiano affatto nella pericope di Matteo 2,1-12, le tradizioni apocrife ne hanno fissati in particolare tre, Gaspare, Melchiorre e Baldassarre, che però non sono affatto né gli unici, né, in tale versione, i più antichi; così come il numero dei Magi non è mai indicato nel Vangelo, lo stesso dicasi per i loro nomi, che vanno da tre a dodici. Il presente saggio propone un’indagine preliminare sulla storia delle origini di tale complessa tradizione onomastica attestata in lingue e culture diverse, tra Oriente e Occidente, nel mondo Tardo Antico e Medievale, sulle tracce di intricati percorsi della spiritualità antica e della propaganda cristiana, che proprio grazie alla figura dei Magi evangelici poté elaborare un importante mezzo di dialogo e di promozione interculturale. Il testo è corredato di tavole sinottiche (a cura di A. Zubani) e di un’appendice sul testo osseto di Matteo 2,1-12 (P. Ognibene), nonché di due brevi saggi, uno sulla monetazione indo-partica dei Gondofaridi (A. Gariboldi), la cui storia risulta connessa alla figura di Gaspare, l’altro sull’immagine dei Magi evangelici nella ricezione cinese (J. Kotyk).

 

Although the proper names of the Magi do not appear at all in Matthew 2,1-12, the apocryphal traditions have established three names in particular, Gaspar, Melchior and Balthazar. However, they are by no means the only ones, as the number of the Magi was never indicated in the Gospels, the same applies to their names, which range from three to twelve. The present essay proposes a preliminary investigation into the history of the origins of this complex onomastic tradition attested in different languages and cultures, between East and West, in the Late Ancient and Medieval world, on the traces of intricate paths of ancient spirituality and Christian propaganda, which thanks to the figure of the evangelical Magi was able to develop an important means of dialogue and intercultural promotion. The text is accompanied by synoptic tables (edited by A. Zubani) and an appendix on the Ossetian text of Matthew 2,1-12 (P. Ognibene), as well as two short essays, one on the Indo-Parthian coinage of the Gondofaridi (A. Gariboldi), whose history is linked to the figure of Gaspar, the other on the image of the Evangelical Magi in the Chinese reception (J. Kotyk).

Antono Panaino is Full Professor of Iranian Studies at the University of Bologna, Italy, Department of Cultural Heritage, since 2000.

Antonio Clemente Domenico Panaino é Professor de Estudos Iranianos na Universidade de BolonhaAntonio Clemente Domenico Panaino (1961- ), Itália. Especialista em filologia, linguística e história político-religiosa do Irã pré-islâmico. Sobre os Magos, publicou também I Magi evangelici. Storia e simbologia tra Oriente e Occidente (2004) e I Magi e la loro stella. Storia, scienza e teologia di un racconto evangelico (2012).

 

Em meu artigo A visita dos Magos: Mt 2,1-12, publicado em 2002, escrevi, entre outras coisas, o seguinte:

Três reis magos: Melquior, Baltazar e Gaspar? Os presentes dos magos em Mt 2,11 – ouro, incenso e mirra – representam para o evangelista as riquezas orientais. É possível que Mateus não visse aqui nenhum simbolismo especial na escolha de cada um deles (…) Mas a tradição posterior desenvolveu toda uma história sobre os magos a partir dos presentes.

Os Padres da Igreja, por exemplo: Tertuliano os chama de reis, Justino Mártir, Tertuliano e Epifânio, sabedores da origem dos presentes, dizem que eles vêm da Arábia… (embora outros Padres achem que eles vêm da Pérsia, como Clemente de Alexandria, Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Orígenes…).

Os Evangelhos Apócrifos expandem muito a tradição sobre os magos (…) Um texto siríaco do século VI, chamado A Caverna dos Tesouros, nomeia os magos como Hormizdah, rei da Pérsia, Yazdegerd, rei de Sabá e Perozadh, rei de Seba. O Excerpta Latina Barbari, um manuscrito latino traduzido do grego, do século VI, conservado na Biblioteca Nacional de Paris, nomeia os magos como Bithisarea, Meliquior e Gathaspa. Um tratado atribuído a Beda, O Venerável (monge do mosteiro de Jarrow, Inglaterra, ca. 673-735), chamado Excerpta et Collectanea chama os magos de Melquior, Gaspar e Baltazar. E foram estes os nomes que prevaleceram. O Evangelho Armênio da Infância [23] diz em V,10: “Os reis dos magos eram três irmãos: o primeiro Melquior (Melcon), reinava sobre os persas; o segundo, Baltazar, reinava na Índia; o terceiro, Gaspar, reinava no país dos árabes”.

Nas pinturas, em alguns momentos os magos foram representados pelos cristãos como sendo doze, em outros quatro, em outros ainda dois… Acabaram tornando-se santos, como no famoso mosaico do século VI da igreja de Santo Apolinário Novo em Ravenna, na Itália, onde acima de suas figuras se lê SCS. (= Sanctus) Baltazar, SCS. Melquior, SCS. Gaspar.

Quando o veneziano Marco Polo (ca.1254-ca.1324) viajou para a Pérsia, as tumbas dos magos lhe foram mostradas, com seus corpos perfeitamente conservados… Competindo com esta tradição, diz outra que o Imperador Zeno recuperou as relíquias dos magos em 490, em Hadramaut, na Arábia do sul. De Constantinopla elas foram para Milão. Quando o Imperador alemão Frederico I Barba-Ruiva (1152-1190) conquistou Milão, seu chanceler Reinald von Dassel, conseguiu levar as relíquias dos magos para sua cidade natal, Colônia. Assim, os magos, depois de tantas andanças, descansam em paz na famosa catedral gótica de Colônia, Alemanha, desde 1164…

As Regras da Comunidade de Qumran

HEMPEL, C. The Community Rules from Qumran: A Commentary. Tübingen: Mohr Siebeck, 2020, 371 p. – ISBN 9783161570261

Charlotte Hempel oferece, neste volume, o primeiro comentário abrangente sobre todos os doze manuscritos antigos das Regras da Comunidade, obras que contêm asHEMPEL, C. The Community Rules from Qumran: A Commentary. Tübingen: Mohr Siebeck, 2020 descrições mais importantes da organização e dos valores atribuídos ao movimento associado aos Manuscritos do Mar Morto. A cópia mais bem preservada deste trabalho (1QS) foi um dos primeiros manuscritos a ser publicado e ainda domina a avaliação acadêmica das Regras. A abordagem adotada neste comentário é capturar a natureza distinta de cada um dos manuscritos com base em uma tradução sinótica que apresenta todos os manuscritos em um só olhar. Notas textuais e comentários lidam com a imagem derivada de todos os manuscritos preservados. A publicação dos manuscritos da Gruta 4 em 1998 pode ser comparada a uma erupção vulcânica que desafiou as noções predominantes das Regras da Comunidade que foram fundadas no status quase arquetípico da cópia da Gruta 1 publicada em 1951. Desde então, a fumaça se dissipou e, conforme as peças começam a se acomodar, vemos brotos verdes emergindo no debate acadêmico. Este comentário abrange a paisagem pós-vulcânica das Regras da Comunidade, que é cuidadosamente peneirada em busca de pistas para estabelecer uma nova leitura do material em conversa com o últimas pesquisas sobre os pergaminhos. A evidência sugere que algumas das práticas descritas como o coração pulsante da organização do movimento refletem as aspirações de uma subelite privilegiada do final do Período do Segundo Templo.

In this volume, Charlotte Hempel offers the first comprehensive commentary on all twelve ancient manuscripts of the Rules of the Community, works which contain the most important descriptions of the organisation and values ascribed to the movement associated with the Dead Sea Scrolls. The best preserved copy of this work (1QS) was one of the first scrolls to be published and has long dominated the scholarly assessment of the Rules. The approach adopted in this commentary is to capture the distinctive nature of each of the manuscripts based on a synoptic translation that presents all the manuscripts at a glance. Textual notes and Commentary deal with the picture derived from all preserved manuscripts. The publication of the Cave 4 manuscripts in 1998 can be likened to a volcanic eruption that challenged prevalent notions of the Community Rules that were founded on the quasi-archetypal status of the Cave 1 copy published in 1951. Since then the smoke has lifted and, as the pieces have begun to settle, we see green shoots emerging in the scholarly debate.. This commentary embraces the post-volcanic landscape of the Community Rules, which is carefully sifted for clues to establish a fresh reading of the material in conversation with the latest research on the Scrolls. The evidence suggests that some of the practices described as the beating heart of the movement’s organization reflect the aspirations of a privileged sub-elite from the late Second Temple Period.

Charlotte Hempel: Professor of Hebrew Bible and Second Temple Judaism at the University of Birmingham, UK.

Recursos de geografia antiga

Roundup of Resources on Ancient Geography – AWOL: Most recently updated 18 November 2020Mapa Mundi Babilônico encontrado por Hormuzd Rassam em Abu Habba (Sippar) - aprox. século VI a.C. - British Museum: BM 92687

Esta é uma lista de links para projetos digitais que tratam da geografia e do mundo antigo. Não tem a pretensão de ser completa ou abrangente, mas quer dar aos leitores uma noção da variedade de materiais atualmente acessíveis.

Included in the following list are links to digital project dealing with geography and the ancient world. It is an eclectic list, culled mostly from entries in AWOL. It has no pretentions of being complete or comprehensive, but is offered to give readers a sense of the range of materials currently accessible.

Uma introdução ao Antigo Testamento por Billon

BILLON, G. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2020, 160 p. – ISBN 9786555040265. Coleção  “ABC  da  Bíblia”.BILLON, G. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Loyola, 2020

Sobre a coleção ABC da Bíblia:

Trata-se de uma verdadeira “caixa de ferramentas” que ajudará o leitor a fazer uma leitura sistemática e esclarecida dos livros da Bíblia. Cada volume desta coleção identifica o autor, ou autores, de determinado livro bíblico ou de um conjunto de escritos, apresenta seu contexto histórico, cultural e redacional, analisa-o literariamente, mostra sua estrutura, resume-o, aborda seus grandes temas, estuda sua recepção, influência e atualidade, e fornece um léxico de lugares e pessoas, tabelas cronológicas, mapas e bibliografia.

O original francês é de 2018.

Gérard Billon é professor no Institut Catholique de Paris, presidente da Aliança Bíblica Francesa e diretor do Serviço Bíblico Evangelho e Vida e da revista Cahiers Évangile.

Gérard Billon

C’est Gérard Billon, prêtre, enseignant à l’Institut catholique de Paris, président de l’Alliance biblique française, directeur du Service biblique Évangile et Vie et de la revue Cahiers Évangile, qui se fait ici votre guide pour entrer dans l’Ancien Testament. Identification de l’auteur ou des auteurs, contexte scripturaire, historique, culturel et rédactionnel, analyse littéraire, structure et résumé, examen détaillé des grands thèmes, étude de la réception, de l’influence et de l’actualité, lexiques des lieux et des personnes, chronologie, cartes géographiques, bibliographie : les plus grands spécialistes de l’Écriture se font votre tuteur. “Mon ABC de la Bible”, ou la boîte à outils d’une lecture informée et vivante du Livre des Livres.

O trauma da segunda onda da Covid-19

O trauma da segunda onda. Quando cresce o medo do futuro – Massimo Recalcati – IHU Online: 01.11.2020

Massimo Recalcati (Milão, 29 de novembro de 1959) - psicanalista

A segunda onda estava escrita nos livros de história da medicina e das epidemias, mas nunca aconteceria conosco. Com esse exorcismo inconsciente, quisemos esquecer o mais rápido possível o horror que vivemos. Nesse aspecto, a segunda onda parece ainda mais terrível do que a primeira, porque implica o luto da cura. É o caráter traumático que acompanha toda recaída, constata Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das universidades de Pavia e de Verona, em artigo publicado por la Repubblica, em 30.10.2020.

Segundo ele, a segunda onda mostra que o verdadeiro trauma não está no passado, mas no futuro. Ao destruir a ilusão da retomada da vida em que todos acreditávamos, ampliou o horizonte do pesadelo. O segundo tempo do trauma é mais traumático do que o primeiro, porque mostra que o mal não se esgotou, mas ainda está vivo entre nós. As esperanças alimentadas pelo verão foram destroçadas. Essa desilusão é o sentimento que hoje prevalece.

O artigo

Ansiedade diante dos possíveis fechamentos. O aspecto traumático acompanha todas as possíveis recaídas.

A primeira onda foi um soco na cara. Com dificuldade suportamos e superamos sua violência. O verão foi vivido como o anúncio do fim de um pesadelo. Por isso, a segunda onda foi tão inesperada quanto a primeira. Ninguém a esperava. Apenas algumas Cassandras insistiam em nos advertir. Mas o ar que respiramos era, sem dúvida, o de um retorno à vida. A privação de liberdade se inverteu em sua mais obtusa reafirmação sem considerar a presença, embora aparentemente silenciosa, do vírus ainda entre nós. A remoção do mal prevaleceu. Não apenas nos negacionistas, mas, basicamente, em todos nós. O parêntese de terror estava se fechando. Estávamos convencidos disso.

A segunda onda estava escrita nos livros de história da medicina e das epidemias, mas nunca aconteceria conosco. Com esse exorcismo inconsciente, quisemos esquecer o mais rápido possível o horror que vivemos. Nesse aspecto, a segunda onda parece ainda mais terrível do que a primeira, porque implica o luto da cura. É o caráter traumático que acompanha toda recaída.

O inevitável despreparo que caracterizou a primeira onda revela-se, portanto, também na segunda, mas, desta vez, com o agravante da culpa: sabíamos, mas quisemos ignorar o que sabíamos. Fomos novamente pegos de surpresa, embora a segunda onda já estivesse toda escrita na primeira. A miopia da vida que quer viver para além de sua proteção é uma forma do que Freud chamava de pulsão de morte. A renúncia à prudência que caracterizou nosso verão mostra a alma-cigarra do ser humano que nosso tempo escolheu patrocinar numa única direção.

Cada tímido chamado à cautela era vivenciado como um abuso de poder, expressão de uma ditadura sanitária com traços sádicos. Mas a reafirmação da liberdade sem limites nos jogou de volta no drama. Poderemos aprender alguma coisa com esta lição? Ao ouvir meus pacientes durante a primeira onda, o sentimento que prevalecia era o de perplexidade diante do desconhecido. O sintoma mais comum era o da fuga fóbica e do isolamento social diante do avanço da epidemia. Esse sintoma coincidia com as medidas sanitárias necessárias para desacelerar a propagação maligna do vírus (distanciamento, confinamento, quarentena, rastreamento). Confrontados com a iminência e a incerteza do perigo, encontrar fronteiras seguras teve para muitos um efeito des-angustiador.

Na segunda onda, o quadro clínico parece profundamente modificado. O pânico que havia caracterizado as primeiras manifestações sintomáticas individuais e coletivas – o assalto a trens e supermercados – parece assumir nuances mais escuras. Não é mais apenas a resposta ao sentimento de se sentir preso e sem saída (primeira onda), mas é a sensação de se jogar no vazio sem nenhuma rede de proteção, abandonados a si mesmos, sem mais futuro. É um pânico entrelaçado com uma experiência profundamente depressiva.

A segunda onda mostra que o verdadeiro trauma não está no passado, mas no futuro. Ao destruir a ilusão da retomada da vida em que todos acreditávamos, ampliou o horizonte do pesadelo. O segundo tempo do trauma é mais traumático do que o primeiro, porque mostra que o mal não se esgotou, mas ainda está vivo entre nós. As esperanças alimentadas pelo verão foram destroçadas. Essa desilusão é o sentimento que hoje prevalece.

É sempre mais difícil levantar-se da segunda queda do que da primeira. É uma lição clínica: o retorno do trauma – sua recorrência – pode ser mais traumático do que da primeira vez. O pânico da segunda onda traz consigo o sentimento de nunca mais poder voltar à vida. Por esse motivo, creio, muitos de meus pacientes deprimidos pedem expressamente para poderem fazer as sessões pessoalmente e não remotamente, como costumava acontecer durante a primeira onda. Eles sentem a necessidade de reduzir a distância, de não se sentirem caindo no vazio da tela. É a condição em que se encontram todas as subjetividades mais frágeis e mais duramente provadas pela crise econômica. Eles tem a necessidade de uma presença tangível que lhes dê apoio imediato, um cuidado sem demora.

 

Il trauma della seconda ondata. Se cresce la paura del futuro – Massimo Recalcati – La Repubblica: 30 Ottobre 2020

L’ansia in vista delle possibili chiusure. Il carattere traumatico accompagna ogni possibile recidiva.

La prima ondata è stato un pugno in faccia. A fatica abbiamo sopportato e superato la sua violenza. L’estate è stata vissuta come l’annuncio della fine di un incubo. Per questa ragione la seconda ondata era inattesa tanto quanto la prima. Nessuno se l’aspettava così. Solo qualche Cassandra insisteva nell’ammonirci. Ma l’aria che abbiamo respirato era indubitabilmente quella di un ritorno alla vita. La privazione della libertà si è capovolta nella sua più ottusa riaffermazione senza considerare la presenza, sebbene apparentemente silente, del virus ancora tra noi. Ha prevalso la rimozione del male. Non solo nei negazionisti, ma, in fondo, in tutti noi. La parentesi del terrore si stava chiudendo. Ne eravamo convinti.

La seconda ondata era scritta nei libri di storia della medicina e delle epidemie ma non sarebbe mai capitata a noi. Con questo esorcismo inconscio abbiamo voluto dimenticare il prima possibile l’orrore che abbiamo vissuto. La seconda ondata appare in questo ancora più tremenda della prima perché implica il lutto della guarigione. È il carattere traumatico che accompagna ogni recidiva.

L’impreparazione inevitabile che ha caratterizzato la prima ondata si rivela, dunque, anche nella seconda ma, questa volta, con l’aggravante della colpa: lo sapevamo ma abbiamo voluto ignorare quello che sapevamo. Siamo stati di nuovo colti di sorpresa sebbene la seconda ondata era già tutta scritta nella prima. L’ottusità della vita che vuole vivere al di là della sua protezione è una forma di quella che Freud definiva pulsione di morte. La rinuncia alla prudenza che ha caratterizzato la nostra estate mostra l’anima-cicala dell’umano che il nostro tempo ha scelto di sponsorizzare a senso unico.

Ogni timido richiamo alla cautela è stato vissuto come un abuso di potere, espressione di una dittatura sanitaria dai tratti sadici. Ma la riaffermazione di una libertà senza limiti ci ha fatti ripiombare nel dramma. Potremmo imparare qualcosa da questa lezione? Nell’ascolto dei miei pazienti nel corso della prima ondata il sentimento prevalente era quello dello smarrimento di fronte all’inaudito. Il sintomo più diffuso era quello della fuga fobica e del ritiro sociale di fronte all’avanzata dell’epidemia. Questo sintomo coincideva con le misure sanitarie resesi necessarie a rallentare la corsa maligna del virus (distanziamento, confinamento, quarantena, tracciamento). Di fronte all’incombenza e all’indeterminatezza del pericolo ritrovare dei confini sicuri ha avuto per molti di loro un effetto de-angosciante.

Nella seconda ondata il quadro clinico appare profondamente mutato. Il panico che aveva caratterizzato le prime manifestazioni sintomatiche individuali e collettive — l’assalto ai treni e ai supermercati — sembra assumere tinte più fosche. Non è più solo la risposta al sentirsi intrappolati e senza vie di fuga (prima ondata), ma è il sentimento di essere lasciati cadere senza alcuna rete protettiva, abbandonati a se stessi, senza più avvenire. È un panico intrecciato a un vissuto profondamente depressivo.

La seconda ondata mostra che il vero trauma non è al passato ma al futuro. Distruggendo l’illusione della ripresa della vita alla quale tutti abbiamo creduto essa ha dilatato l’orizzonte dell’incubo. Il secondo tempo del trauma è più traumatico del primo perché mostra che il male non si è esaurito ma è ancora vivo tra noi. Le speranze alimentate dall’estate si sono infrante. Questa delusione è il sentimento oggi prevalente.

È sempre più difficile rialzarsi dalla seconda caduta che dalla prima. È una lezione clinica: il ritorno del trauma — la sua recidiva — può essere più traumatico della sua prima volta. Il panico della seconda ondata porta con sé il sentimento di non poter più ritornare alla vita. Per questa ragione, credo, molti dei miei pazienti depressi chiedono espressamente di potere fare le sedute in presenza e non da remoto come accadeva abitualmente durante la prima ondata. Hanno necessità di ridurre la distanza, di non sentirsi cadere nel vuoto dello schermo. È la condizione nella quale si trovano tutte le soggettività più fragili e più duramente provate dalla crisi economica. Hanno la necessità di una presenza tangibile che dia loro un sostegno immediato, una cura senza differimenti.