RBL bloqueia o acesso gratuito às suas resenhas

Lamento informar aos meus leitores que o acesso às resenhas da RBL (Review of Biblical Literature) está, desde 6 de janeiro de 2016, bloqueado para quem não for membro da SBL (Society of Biblical Literature). Todos os links para as resenhas divulgadas em meu blog, ficam, assim, inúteis.

Algumas reações de membros da SBL abordam pontos importantes desta decisão. Fazem a gente pensar.

Por exemplo:

:: Dear SBL: A Paywall Will Bring Neither Prestige nor Progress – By Carrie Schroeder – January 5, 2016

:: RBL being put behind paywall – By Christian Brady – 5 Jan, 2016

:: Let’s not hide Review of Biblical Literature from the public! – By Steve Walton – 7 January 2016

O comunicado que recebi por e-mail, no dia 5 de janeiro, assinado por Bob Buller, diz, entre outras coisas, o seguinte:

Com o objetivo de fortalecer o status da RBL como um valioso recurso produzido principalmente por membros da SBL para os membros da SBL, estaremos exigindo [para o acesso às resenhas] um login de membro da SBL. Assim, a partir de 6 de janeiro, usuários que desejarem ler resenhas publicadas precisarão fazer login com uma ID [= identidade] de membro da SBL…

In order to solidify RBL’s status as a valuable resource produced primarily by SBL members for SBL members, we will be moving RBL behind the SBL member login. Thus, beginning 6 January users who wish to read published reviews will need to log in with an SBL member ID in order to do so. Other parts of the RBL site will remain open to the public, and users not logged in will be able to see who has reviewed a given book; however, in order to read that review a user will be required to enter his or her SBL ID. As a nonmember subscriber to RBL, I imagine that you find this news somewhat troubling…

Preparando meus programas de aula para 2016

Como faço todos os anos, estou, nestes dias, preparando meus programas de aula de Bíblia para 2016.

Mas, desta vez, não achei necessário reescrever tudo novamente. Apenas atualizei os programas de 2015.

De vez em quando, pessoas interessadas me pedem o conteúdo das aulas. Na verdade, para algumas disciplinas, faço apenas roteiros de aula, não textos completos, por isso a transferência de conteúdo não é viável.

Lembro, entretanto, que há exceções:

:. A História de Israel que utilizarei neste ano é exatamente a que está na Ayrton’s Biblical Page e que foi atualizada no ano passado. Meus alunos, por exemplo, poderão acessar o texto online, ou através dos arquivos em html ou pdf que disponibilizo para eles.

Aliás os visitantes da página podem baixar a História de Israel em pdf, imprimir ou até mesmo enviá-la por e-mail utilizando o plugin para WordPress Print Friendly and PDF Button que está presente no final de cada página. Incentivo o seu uso para fins educacionais. No caso do formato pdf, tenho deixado o “tamanho do texto” em 80%, pois fica melhor.

:. A Língua Hebraica Bíblica está disponível na página através do download de Noções de Hebraico Bíblico.

:. A Literatura Profética tem como base o meu livro A Voz Necessária: Encontro com os profetas do século VIII a.C., que pode ser baixado em pdf na versão atualizada em 2011.

:. Além disso, alguns artigos, faqs sobre os profetas, resenhas e posts serão utilizados. E só examinar os programas e ir até a página destes textos.

Terminei a atualização da Ayrton’s Biblical Page em 02.12.2015.

Clique aqui e veja os programas. Links para as 6 disciplinas que leciono, no final, em “Leia Mais”.

Os samaritanos na pesquisa recente

Um artigo que pode interessar foi publicado em dezembro por The Bible and Interpretation:

The Samaritans in Recent Research

By Reinhard Pummer – Department of Classics and Religious Studies, University of Ottawa – December 2015

We now know from the Dead Sea discoveries that texts similar to the Samaritan Pentateuch were circulating together with texts that foreshadow the Masoretic text and the Septuagint. No “sectarian” differences are present in these manuscripts, which means that the so-called pre-Samaritan texts were used side by side with the other versions. Thus, in its substance, the Pentateuch was common to Yahwistic Samarians and and Yahwistic Judeans long before the Samarian Yhwh worshipers parted company with the latter.

E um livro:

PUMMER, R. The Samaritans: A Profile. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2016, 376 p. – ISBN 9780802867681.

 

Reinhard Pummer, The Samaritans: A Profile

Publicação prevista para 18.02.2016.

Most people associate the term “Samaritan” exclusively with the New Testament stories about the Good Samaritan and the Samaritan woman at Jacob’s well. Very few are aware that a small community of about 750 Samaritans still lives today in Palestine and Israel; they view themselves as the true Israelites, having resided in their birthplace for thousands of years and preserving unchanged the revelation given to Moses in the Torah.

Reinhard Pummer, one of the world’s foremost experts on Samaritanism, offers in this book a comprehensive introduction to the people identified as Samaritans in both biblical and nonbiblical sources. Besides analyzing the literary, epigraphic, and archaeological sources, he examines the Samaritans’ history, their geographical distribution, their version of the Pentateuch, their rituals and customs, and their situation today. There is no better book available on the subject.

Feliz 2016

Desejo a todos os visitantes do Observatório Bíblico e da Ayrton’s Biblical Page um Feliz 2016!

Bonne Année!

Buon Anno!

Ein Gutes Neues Jahr!

Feliz Año Nuevo!

Happy New Year!

Doncovim? Oncontô? Proncovô?

“Divagarzim” vamos ampliando a visão de onde estamos. Quem sabe um dia descobrirei, de fato, doncovim, oncotô, proncovô. Afinal, sou mineiro!

Pois acabei de conhecer isto aqui, que deve ser de qualidade, sendo reproduzido até pela NASA:

The Scale of the Universe 2 – A Escala do Universo – By Cary Huang – 2012

Clique aqui, escolha a língua portuguesa e bom divertimento.

E, se apreciar um belo texto, veja este, em espanhol:

El sexto día di órdenes a mi Sabiduría para que creara al hombre, partiendo de siete elementos, a saber: su carne de la tierra, su sangre de rocío y del sol, sus ojos del abismo de los mares, sus huesos de piedra, su pensamiento de la celeridad angélica y de las nubes, sus venas y sus cabellos de hierbas de la tierra, su alma de mi propio espíritu y del viento. Y le doté de siete sentidos: oído en relación con la carne, vista para los ojos, olfato para el alma, tacto para los nervios, gusto para la sangre, consistencia para los huesos y dulzura para el pensamiento. Y me ingenié para que hablara palabras sagaces. Creé al hombre partiendo de la naturaleza visible e invisible, de ambas a la vez, muerte y vida; y la palabra  conoce la imagen lo mismo que a cualquier otra criatura, pequeña en  lo grande y grande en lo pequeño. Y le dejé establecido en la tierra como un segundo ángel, honorable, grande y glorioso. Y le constituí como rey sobre la tierra, teniendo a su disposición un reino gracias a mi Sabiduría. Y entre mis criaturas no había nada parejo a él sobre la tierra. Y le asigné un nombre que consta de cuatro elementos: Oriente, Occidente, Norte y Sur. Y puse a su disposición cuatro estrellas insignes, dándole por nombre Adán. Le doté de libre albedrío y le mostré dos caminos, la luz y las tinieblas. Entonces le dije: “Mira, esto es bueno para ti y aquello malo” (11,57-65).

Afinal, que texto é esse?

É um trecho do relato da criação do homem segundo o Livro Eslavo de Henoc.

Este é um apócrifo apocalíptico proveniente da Palestina ou do Egito. Foi escrito por um autor judeu ou judeu-cristão do século I d.C.  A língua original era o grego. A versão que temos está em eslavo antigo.

Esta tradução em espanhol está no IV volume, de 1984, p. 177-178, da obra de DIEZ MACHO, A.; PIÑERO, A. (eds.) Apócrifos del Antiguo Testamento I-VI. Madrid: Cristiandad, 1982-2009. A tradução, do original, é de A. de Santos Otero.

Para entender melhor o contexto, confira o meu artigo Apocalíptica: busca de um tempo sem fronteiras. Sobre o Livro Eslavo de Henoc, confira, neste artigo, especialmente aqui.

Revistas online sobre o mundo antigo

Uma lista com 197 revistas online e livre acesso.

Em português, espanhol e catalão.

Dedicadas ao estudo das civilizações do mundo antigo.

La siguiente lista incluye los títulos de 197 revistas de acceso libre en español, catalán, y portugués cuyo enfoque es el estudio de las civilizaciones del mundo antiguo. Esta lista ha sido tomada de la lista completa de AWOL.

The following list includes the titles of 197 open access periodicals in the Spanish – Catalan – Portuguese languages focusing on the study of the ancient world. It is a extracted from AWOL’s full List of Open Access Journals in Ancient Studies.

Spanish/Catalan/Portuguese Open Access Journals on the Ancient World

Fonte: AWOL – The Ancient World Online

Mais de 470 livros de Bíblia gratuitos

Chamo a atenção dos interessados em estudos bíblicos para o Projeto ICI (International Cooperation Initiative) da SBL.

No momento estão disponíveis para download gratuito, em pdf, 471 livros (Online Books in the Program as of December 31, 2015).

E são bem recentes.

Só de publicações feitas em 2013 há 32 livros. E em 2014? São 27 livros. 2015 ainda não entrou na lista.

Clique aqui ou aqui.

Herodes e o menino Jesus indígena

Herodes Magno governa o povo judeu durante 34 anos (37-4 a.C.).

Herodes  se equilibra no delicado jogo do poder porque sabe ser servil a Roma. Primeiro apoia Antônio, mas quando este é vencido por Otaviano na famosa batalha naval de Áccio, no ano 31 a.C., Herodes vai imediatamente visitar o vencedor, que está na ilha de Rodes, e, em gesto teatral, depõe a coroa a seus pés.

Resultado: volta para casa reconfirmado rei por Otaviano e ainda consegue favores: como o engrandecimento de território, a exoneração de tributo a Roma, a isenção de tropas de ocupação, a autonomia interior para as finanças, a justiça e o exército.

Latuff: O Menino Jesus Indígena e o Herodes do Agronegócio

 

Herodes luta com decisão para consolidar o seu poder. Isto significa, antes de mais nada, que ele elimina, através de assassinatos e intrigas várias, adversários seus, inclusive alguns membros de sua família – como esposa e filhos.

Consolidado o poder, constrói obras grandiosas na Judeia. Templos, teatros, hipódromos, ginásios, termas, cidades, fortalezas, fontes. Reconstrói totalmente o Templo de Jerusalém, a partir do inverno de 20-19 a.C.

Reconstrói Samaria, dando-lhe o nome de Sebaste, feminino grego de Augusto, em homenagem ao Imperador romano; constrói um importante porto, Cesareia Marítima; Mambré, lugar sagrado ligado a Abraão, recebe uma grande construção que o valoriza; fortalezas são reedificadas ou totalmente construídas como Alexandrium, Heródion, Massada, Maqueronte, Hircania etc. Jericó é embelezada e torna-se sua residência favorita.

Observemos os nomes de suas construções, reveladores de seu espírito político:

. Sebaste (Samaria), em homenagem a Augusto
. Cesareia (Marítima), em homenagem a César Augusto
. Antipátrida, em homenagem a seu pai Antípater
. Fasélida, em homenagem a seu irmão Fasael
. Cipros, em homenagem a sua mãe
. Heródion, em homenagem a si mesmo
. fortaleza Antônia (em Jerusalém), em homenagem a Marco Antônio.

Valorizando o culto, Herodes Magno ganha para si o povo. Construindo fortalezas, controla possíveis revoltas. Matando seus inimigos, seleciona seus herdeiros. Apoiando a cultura helenística, aparece diante do mundo. Servindo fielmente a Roma, conserva-se no poder.

Entretanto, Herodes não tem legitimidade judaica, pois descende de idumeus e sua mãe é descendente de árabe. Assim, por ser estrangeiro, não tem para com os judeus nenhuma relação de reciprocidade e sua legitimidade se funda na própria estrutura do poder exercido.

Quando vence os seguidores de Antígono, Herodes constrói uma estrutura de poder independente da tradição judaica:

. nomeia o sumo sacerdote do Templo: destitui os Asmoneus e nomeia um sacerdote da família sacerdotal babilônica e, mais tarde, da alexandrina
. exige de seus súditos um juramento que obriga a pessoa a obedecer às suas ordens em oposição às normas tradicionais; se a pessoa recusar o juramento, é perseguida
. interfere na justiça do Sinédrio
. manda vender os assaltantes e os revolucionários políticos capturados como escravos no exterior, sem direito a resgate
. a venda à escravidão e a execução pessoal (a morte) tornam-se normas comuns do arrendamento estatal.

Mas, se ele viola assim a tradição, como consegue legitimidade?

A estrutura de poder do Estado sob Herodes é bem diferente da estrutura da época dos Macabeus:

. o rei é legitimado como pessoa e não por descendência
. o poderio não se orienta pela tradição, mas pela aplicação do direito pelo senhor
. o direito à terra é transmitido pela distribuição: o dominador a dá ao usuário: é a “assignatio
. a base filosófica helenística é que legitima o poder do rei, quando diz que o rei é “lei viva” (émpsychos nómos), em oposição à lei codificada, ou seja: o rei é a fonte da lei, porque ele é regido pelo “nous“: o rei tem função salvadora e, por isso, dá aos seus súditos uma ordem racional, através das normas do Estado.
. o poder militar de Herodes se baseia em mercenários estrangeiros que ficam em fortalezas ou em terras dadas aos mercenários (cleruquias) por ele (terras no vale de Jezrael), e nas cidades não judaicas por ele fundadas, a cujos cidadãos ele dá como posse o território que as rodeia, com os camponeses dentro!

Douglas E. Oakman, em um estudo sobre as condições de vida dos camponeses palestinos da época de Jesus, mostra que a violência que sofriam era brutal. Fraudes, roubos, trabalhos forçados, endividamento, perda da terra através da manipulação das dívidas atingiam a muitos. Existia uma violência epidêmica na Palestina.

Cerca de 1/3 das crianças que ultrapassavam o primeiro ano de vida morriam até os 6 anos de idade. Cerca de 60% dos sobreviventes morriam até os 16 anos. Por volta dos 26 anos 75% já tinha morrido e aos 46 anos, 90% já desaparecido, chegando aos 60 anos de idade menos de 3% da população.

Um pobre no Império Romano, no século I de nossa era, tinha uma expectativa de vida de 30 anos, quando muito. Estudos feitos por paleopatologistas indicam que doenças infecciosas e desnutrição eram generalizadas. Por volta dos 30 anos a maioria das pessoas sofria de verminose, seus dentes tinham sido destruídos e sua vista acabado. 50% dos restos de cabelo encontrados nas escavações arqueológicas tinham lêndeas.

E é neste contexto que Douglas E. Oakman propõe uma leitura radical do Pai Nosso. Ele sugere que o pedido perdoa-nos as nossas dívidas (Mt 6,12) refere-se aos processos nos quais os camponeses perdiam sua terra para os credores urbanos que sistematicamente exploravam as condições econômicas precárias em que viviam. Além disso, argumenta Oakman, a prece final (Mt 6,13) não nos ponha em teste – normalmente traduzida com a ideia anacrônica de não cair em tentação – é o apelo do camponês para que não seja levado a um tribunal de cobrança de dívidas e colocado diante de um juiz corrupto (mas livra-nos do Maligno) cujo veredicto daria à expropriação de sua terra força de lei.

Obs.: os autores e  os textos podem ser conferidos nas fontes indicadas abaixo.

Fontes:
História de Israel: o domínio romano
Leitura socioantropológica do Novo Testamento
O Pai Nosso trata da fome, do endividamento, da opressão

Ditadura impediu Dom Helder de ganhar Nobel da Paz

Dossiê revela que militares impediram dom Helder Camara de ganhar o Nobel da Paz

PASCOM da Arquidiocese de Olinda e Recife – 18.12.2015

Não restam mais dúvidas: o Governo Militar interferiu diretamente para que o ex-arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Camara, não recebesse o prêmio Nobel da Paz. A manobra foi comprovada através de documentos inéditos obtidos pela Comissão Estadual da Memória e Verdade (CEMVDHC). O quarto volume dos Cadernos da Memória e Verdade, que revela detalhes do caso, foi lançado nesta sexta-feira, 18, durante solenidade ocorrida no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco.

O Dom da Paz foi indicado em três oportunidades à premiação no início nos anos 1970. Tido como favorito, o ex-arcebispo foi intensamente procurado na época pela imprensa internacional, que dava como certa a conquista.

De acordo com o coordenador da Comissão da Verdade PE, Fernando Coelho, o dossiê apresenta correspondências oficiais obtidas com o Ministério de Relações Exteriores e adentra numa esfera pouco explorada em relação à Ditadura: a área da diplomacia. O material foi obtido durante os dois anos de atuação da CEMVDHC. “Publicamos dezenas de documentos oficiais, correspondências, por exemplo, do ministro das Relações Exteriores para os embaixadores, do embaixador para o ministro dando instruções e dando conta das providências tomadas para impedir que dom Helder recebesse o Nobel. O conteúdo é objetivo, claro e determinante e traz providências e prestação de contas”, revela Coelho.

Leia o texto completo.  Também aqui.

A documentação obtida e produzida pela comissão pode ser acessada através do site da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Leia Mais:
Dom Helder Câmara