When did exegetes lose interest in theology?

No Biblia Theologica, de A. B. Caneday, é interessante ler o post A Multiculturalist’s Rant against the Society of Biblical Literature, e toda a discussão que gira em torno do artigo de Hector Avalos, The Ideology of the Society of Biblical Literature and the Demise of an Academic Profession no SBL Forum.

Creio, entretanto, que em nosso meio – quero dizer, Brasil, América Latina – a discussão possa ser colocada em termos um pouco diferentes, mas ver o que “eles” estão debatendo também valerá a pena…

Por outro lado, defendo que muitos dilemas apresentados no debate mencionado já foram superados por nós ou não fazem sentido para nós, que temos problemas maiores “lá fora”, no mundo real dos homens, vivendo seus conflitos e suas contradições!

Ora, para que se lê a Bíblia? Para permanecer no âmbito do Religioso (da Bíblia à Igreja) ou para fazer a passagem para o Político (da Bíblia à Sociedade)?

Interessante site sobre a história da Antiga Mesopotâmia

Chuck Jones nos dá ciência, na lista de discussão ANE-2, de interessante site sobre a história da Antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Criado com propósitos educativos, o site Ancient Mesopotamia: This History, Our History vale uma cuidadosa visita. O material usado foi escolhido entre os artefatos arqueológicos da coleção do Museu Mesopotâmico do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, USA.

RBL publica resenha da versão inglesa da História de Israel de Mario Liverani

Em 18 de dezembro de 2005 anunciei aqui o lançamento da versão inglesa da História de Israel de Mario Liverani, Oltre la Bibbia. Storia Antica di Israele, Roma-Bari, Laterza, 2003 [2005 – 4. ed.], 526 p.

Agora, com data de primeiro de julho de 2006, leio uma interessante resenha desta versão inglesa do livro Israel’s History and the History of Israel, London, Equinox Publishing, 2005. Foi feita por Nadav Na’aman, Professor da Universidade de Tel Aviv, Israel, e publicada pela Review of Biblical Literature (RBL). São 11 páginas em pdf e merece uma atenta leitura.

O resenhista chega a dizer, em determinado ponto, que somente um estudioso do porte de Liverani poderia produzir um livro com tal abrangência, originalidade e perspectiva. Chega mesmo a recomendá-lo como mais adequado para professores da área do que para estudantes de graduação.

Li o livro de Mario Liverani no ano passado, no original italiano, e fiz amplo uso de suas intuições em meu artigo sobre O Contexto da Obra Histórica Deuteronomista, que saiu em Estudos Bíblicos n. 88. Permito-me discordar de N. Na’aman, recomendando-o também para os nossos estudantes de graduação, pois são raras no Brasil obras com tal qualidade sobre a História de Israel. O problema é que ninguém ainda a traduziu para o português. Contudo: se não se lê o italiano ou o inglês, ninguém poderá dizer que é incapaz de ler a versão espanhola…

Transcrevo, abaixo, o final da resenha de Nadav Na’aman:

Should the authors of biblical historiography be called “historians” and their works “history”? Did the biblical authors make an effort to assemble all the available sources, verbal and written, and did they utilize them in their own compositions? Liverani does not directly address these questions, but the book as a whole suggests that his answer is clearly no. In my opinion, this issue is the watershed between the so-called “maximalists” and “minimalists,” and in this sense Liverani’s work should be classified as a kind of minimalism. This does not mean that he shares the other assumptions of “minimalist” scholars. On the contrary, there is an enormous gap between Liverani’s work, which rests on the assumption that biblical historiography was written by the descendants of the Jewish community in Babylonia on the basis of its old Judahite roots, and P. R. Davies’s book, which rests on the assumption that the history was written by the “ruling caste” of Yehud and its government, which employed a host of scribes to invent a myth of origin so as to create a national identity for the mixed community that the Persians settled in Yehud. Nor is there much in common between Liverani, who dates the biblical historiography to the first half of the Persian period, and N. P. Lemche, who dates it to the Hellenistic period. Similar differences separate conservative and critical “maximalists,” and no clear line can be drawn between scholars who support either approach. The only line that can be drawn is between good and bad historians, and both kinds are to be found on either side of the scholarly debate. In my monograph on biblical historiography (The Past That Shapes the Present: The Creation of Biblical Historiography in the Late First Temple Period and after the Downfall [Hebrew] [Jerusalem, 2002]), I devote a chapter to the way the Deuteronomist treated his sources and conclude that he made an effort to assemble as many sources as he could and wrote his work on the basis of these oral and written sources. I therefore regard myself as a “maximalist,” but when it comes to the analysis of the biblical texts and reconstructing history, my conclusions are much closer to that of Liverani than to those of conservative “maximalists.” Liverani’s book is dense, replete with data relating to all regions of the Near East, covers the history of the lands on both sides of the Jordan for about eight hundred years, and is not easy to read. It is mainly intended for scholars and, in my opinion, is not meant for undergraduate students. The work is stimulating, original in all its parts, and contains many original insights that will no doubt fertilize all future discussions about the Bible as a source for the history of ancient Israel.

Teologia, Sociedade, Universidade: qual é o lugar da Teologia em um mundo fragmentado?

O mais recente fascículo da revista internacional de teologia Concilium – n. 315 (2006/2) -, publicada no Brasil pela Vozes, discute a relação da Teologia com a Sociedade e o Conhecimento atuais em 160 páginas e tem por título: Teologia num mundo de especialização. O editorial é assinado por Erik Borgman e Felix Wilfred. A temática é, no meu entender, da maior relevância. Por isso, recomendo a discussão a todos os interessados.

O fascículo tem 4 partes:
Parte I – Fragmentação e especialização – Situação social e acadêmica (dois artigos, de Karl Gabriel e de Felix Wilfred)
Parte II – Fragmentação e especialização – Questões para a Teologia (4 artigos, assinados por Sheila Greeve Davaney, Elaine Wainwright, Christoph Baumgartner e Willem Frijhoff)
Parte III – Fragmentação e especialização – Tentativas de reconectar (3 artigos, respectivamente, de Mary Grey, Diego Irarrazaval e Marcella Maria Althaus-Reid)
Parte IV – Fragmentação e especialização – Teologia e Interdisciplinaridade (4 artigos: Palmyre M. F. Oomen, Richard H. Roberts, Stephan Van Erp e Erik Borgman).

Transcrevo a síntese que se encontra na última capa.

Nosso mundo é um mundo de fragmentação. Os seres humanos de hoje estão sujeitos àquilo que a teoria social chama de ‘diferenciação funcional’: o que antes era um mundo vital unificado dividiu-se numa diversidade de estruturas funcionais que têm, cada qual, sua própria forma intrínseca de racionalidade. Em conseqüência disso, abordagens tradicionalmente consideradas abrangentes e holísticas são hoje vistas como limitadas e especialistas. A religião tornou-se uma forma especializada de comportamento entre outras, com suas próprias funções limitadas e lógica específica. Este comportamento pode ser descrito, estas funções e esta lógica podem ser analisadas, o que transforma o estudo da religião numa disciplina acadêmica entre outras. Este fascículo de Concilium começa com uma descrição desta situação sociocultural, uma análise de seu pano de fundo e uma referência às suas conseqüências. Focaliza também como a teologia trata desta situação de fragmentação e como a ela reage. No entanto, a fragmentação acadêmica e a especialização causam danos também à teologia. Há diversas tendências atuando ao mesmo tempo, Na parte final, apresentam-se diversas tentativas de reconectar a teologia a outras disciplinas e campos de conhecimento. Enfim, Teologia num mundo de especialização deixa claro que as atuais fragmentações e diferenciações em curso na sociedade e na universidade constituem não só um grande desafio à teologia, mas também proporcionam à teologia a oportunidade de adquirir uma nova importância no mundo de hoje.

Há espaço para a questão bíblica: Elaine Wainwright, professora de estudos bíblicos e diretora da Escola de Teologia da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, aborda a questão da multiplicidade dos métodos de leitura da Bíblia hoje existentes em seu artigo Muitos empreenderam… também eu decidi: uma só história ou muitas histórias? Na conclusão de seu artigo de nove páginas (p. 45-53), diz:

A análise de movimentos e desdobramentos ocorridos nos estudos bíblicos ao longo das três últimas décadas revelou que, como outras áreas de atividade humana, também esta tornou-se ao mesmo tempo mais especializada e mais diferenciada. Um grande leque de novos profissionais, tanto acadêmicos como das camadas populares, entraram em campo; a proliferação de metodologias e hermenêuticas levou a uma crescente especialização; e as hermenêuticas com objetivo de transformação social e cultural reuniram acadêmicos e intérpretes das camadas populares de uma forma que está desafiando tanto as Igrejas quanto a sociedade. Existe uma grande variedade de maneiras como as várias interpretações emergentes desta diferenciação podem ser testadas. Embora nem todo intérprete compartilhe necessariamente a perspectiva que reconhece um amplo leque de interpretações dentro do texto bíblico, verifica-se, no entanto, uma considerável aceitação da premissa de que a diversidade na interpretação contemporânea pode ser vista como bíblica. É esta intuição, junto com sua multiplicidade de interpretações, que os estudos bíblicos trouxeram como contribuição para a teologia contemporânea (p. 53).

Teologia e Sociedade: trabalhos apresentados no Congresso da SOTER em 2005

O Congresso da SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – de 2005 teve como tema Relevância e Funções da Teologia na Sociedade. O livro que recolhe os trabalhos apresentados na ocasião foi organizado por Maria Carmelita de Freitas, Presidente da SOTER. Veja:

DE FREITAS, M. C. (org.) Teologia e Sociedade: relevância e funções. São Paulo: Soter/Paulinas, 2006, 496 p.

“O volume contém os textos das diversas intervenções feitas na reunião comemorativa dos vinte anos de fundação da SOTER. Todos eles refletem sobre a situação da teologia nos dias de hoje. Os problemas levantados, porém, revelam um duplo foco de preocupações. Por um lado, a situação em que se encontra a Teologia da Libertação atualmente e os rumos a seguir na sua renovação ou atualização; por outro, o estatuto epistemológico, mas sobretudo prático, da teologia na universidade, fortemente atraída, senão até mesmo dominada, pela Ciência da Religião. Ao lado de posicionamentos clássicos da Teologia entendida como ciência, isto é, como saber a respeito da realidade, à luz da fé, fazem-se presentes posicionamentos que isolam esse tipo de Teologia como sendo eclesiástica, no sentido restrito, e buscam uma Teologia em diálogo em pé de igualdade com as ciências exatas e humanas, na busca de soluções para os grandes problemas sociais, econômicos, políticos, culturais, religiosos e, até certo ponto, espirituais, que hoje enfrentamos no Brasil ou, até mesmo, no mundo todo” (da apresentação na página da editora).

A origem de Israel nos séculos 12 e 11 a.C.: comentando um livro de Volkmar Fritz

Como comentei aqui, uma das resenhas do terceiro fascículo de 2005 da RIBLA, feita por Nelson Kilpp, foi sobre o livro escrito por Volkmar Fritz, com o título Die Entstehung Israels im 12. und 11. Jahrhundert v.Chr. [A origem de Israel nos séculos 12 e 11 a.C.], publicado em Stuttgart em 1996 pela editora Kohlhammer.

Este tema é do maior interesse para os meus estudos e por isso quero deixar aqui um pouco do que pensam Volkmar Fritz e seu resenhista na RIBLA, Nelson Kilpp, Professor da Escola Superior de Teologia da IECLB, de São Leopoldo, RS.

Volkmar Fritz, à época da escrita do livro, era o Diretor do Instituto Protestante Alemão de Arqueologia na Terra Santa (Deutsches Evangelisches Instituts für Altertumswissenschaft des Heiligen Landes). V. Fritz é arqueólogo, com dedicação especial às áreas de topografia, demografia e arquitetura dos inícios de Israel.

A obra Die Entstehung Israels im 12. und 11. Jahrhundert v.Chr. está dividida em 4 capítulos: I. A visão bíblica da época (Das biblische Bild der Epoche); II. Reconstrução histórica da época (Historische Rekonstruktion der Epoche); III. A literatura da época (Die Literatur der Epoche) e IV. O significado teológico da época (Die theologische Bedeutung der Epoche). Aliás, todas as obras da série alemã Biblische Enzyklopädie (12 Bände, Stuttgart, Kohlhammer, 1996-), da qual o livro de V. Fritz é o volume 2, têm esta estrutura. Além disso é característico desta série a crescente tendência de confrontar a visão bíblica com os resultados arqueológicos da época, como mostrei em meu artigo sobre A História de Israel no debate atual.

A resenha de N. Kilpp é bem detalhada, ocupando as p. 198-209 da RIBLA. Mas vou me deter apenas em poucos pontos.

Depois de repassar o tema do capítulo I (A visão bíblica da época) ele mostra como V. Fritz irá fundamentar sua reconstrução histórica na arqueologia e em fontes extrabíblicas, já que considera os textos bíblicos como detentores de pouca credibilidade histórica. Nas palavras de V. Fritz: “Die Dürftigkeit der literarischen Quellen erschwert zwar die Rekonstruktion der Epoche, macht sie aber nicht unmöglich. Da biblische Texte kaum zur Verfügung stehen, muss eine Darstellung des geschichtlichen Ablaufs alle weiteren Hilfsmittel historischer Arbeit benutzen. Dazu gehört in erster Linie die Heranziehung der Ergebnisse archäologischer Forschung (…) Weiterhin können und müssen die wenigen ausserbiblischen Quellen ausgewertet werden, die ein Licht auf die Epoche werfen, auch wenn sie nich unmittelbar auf die israelitischen Stämme bezogen sind” (p. 62).

O segundo capítulo – Reconstrução histórica da época – é o mais longo e mais interessante do livro. Ocupa 116 das 223 páginas do livro, ou seja, 52% da obra. Após os quadros cronológicos da época, o autor mostra que no final da Idade Recente do Bronze (1550-1200 a.C.), ou seja nos séculos XIV e XIII, pode-se perceber um declínio de Canaã: cidades abandonadas, cerâmica e comércio internacional menos intensos, fortalezas destruídas, diminuição da população. Os motivos para a crise são desconhecidos, mas podemos pensar em uma conjunção de fatores, como guerra, pestes, fome, tributação excessiva. O fato é que o sistema cananeu de cidades-estado termina por volta de 1200 a.C., mesmo havendo continuidade demográfica, o que demonstra a sobrevivência de parte da população.

Na página 75 o autor começa a tratar do repovoamento da terra no início da Idade do Ferro, ou seja, entre 1200 e 1000 a.C. e traz dados interessantes. Este repovoamento é praticamente simultâneo à crise do sistema de cidades-estado cananeias, e se faz na forma de povoados que aparecem na região montanhosa, onde até então não havia cidades. E isso é significativo: na Galileia se passa de 9 cidades na Idade do Bronze para 51 povoados no início da Idade do Ferro; na Transjordânia há um aumento de 15 para 73; nas montanhas de Efraim, onde antes havia 6 cidades, agora há 115 povoados… E a forma dos povoados também chama a atenção: sem fortificações, sem planejamento, sem prédios públicos! O autor conclui: os povoados têm características agrárias, pois seus habitantes cultivam as terras ao redor e criam animais (“Alle Siedlungen der frühen Eisenzeit tragen eindeutig agrarischen Charakter. Die Bewohner bewirtschafteten das umliegende Land und triben Viehzucht” – p. 91).

Como a cultura material encontrada é de tradição cananeia, os habitantes destes novos povoados no início da Idade do Ferro só podem ter sido ou os cananeus das antigas cidades ou grupos não-sedentários que viviam em torno delas. Como estes grupos não vieram subitamente de fora, mas já viviam em contato com as cidades-estado cananeias, embora fossem nômades, Volkmar Fritz vai chamar esta convivência de simbiose. Que chega ao fim no século XII, quando estes mesmos nômades, por não terem mais acesso ao produtos agrícolas com a falência das cidades, vão construir casas e povoados e desenvolver sua própria agricultura. Nas palavras do autor, o fim da simbiose: “Mit dem Zusammenbruch der kanaanitischen Stadtstaaten während des 12. Jh. brach auch die Symbiose zwischen den verschiedenen Bevölkerungsgruppen mit unterschiedlicher Lebensweise zusammen” (p. 92).

Na agricultura praticada na região montanhosa e nas estepes circunvizinhas privilegiava-se a plantação da cevada e do trigo. Sendo o solo muito favorável à plantação da cevada, esta era usada também para alimentar o gado. Do trigo possuíam várias espécies, do qual faziam farelo e farinha.

Chuvas: de outubro a abril. Semeava-se de dezembro a fevereiro e colhia-se a partir de abril nas planícies e a partir de maio nas montanhas, terminando tudo em junho. Ferramentas: arado, foice, trenó de trilhar puxado por bois. Frutas produzidas: uvas, figos, olivas, romãs, tâmaras, pistácias e amêndoas. Lentilhas eram igualmente cultivadas. Animais criados: asnos, bois, cabras e ovelhas. Caça: gazelas, porcos do mato e cervos.

Em seguida, o autor nos fornece informações sobre a estrutura social, a família patrilinear, a divisão do trabalho, a estrutura do clã como grupo consanguíneo e, finalmente, da tribo como a unidade social maior deste grupo que é identificado com o Israel pré-estatal.

Sobre a arquitetura das casas, o autor anota a predominância de residências de 3 ou 4 cômodos, sobre a cerâmica, diz que é dependente, mas inferior à cananéia, sobre a escrita já há testemunhos de pleno desenvolvimento da escrita alfabética no século XI. Em seguida, o autor expõe algumas das hipóteses sobre as origens de Israel, assunto que já tratamos em outro lugar.

Bem, quanto ao restante… vamos deixar para o leitor curioso o trabalho de ir até às páginas da RIBLA: a religião javista, Sinai ou não, santuários, povos vizinhos… são ainda alguns dos assuntos tratados neste capítulo.

A avaliação final de Nelson Kilpp é a seguinte: além de sentir falta de mais fotos e gravuras, com explicações, o resenhista diz que, por não mencionar o grupo do êxodo, fica difícil explicar de onde surgiu o javismo… E: “Em muitos aspectos, V. Fritz enquadra-se entre os historiadores ‘minimalistas’, que supõem que nada ou quase nada de histórico se preserva nos textos bíblicos” (p. 209). Terminando com um alerta: a ideia de que Israel sempre esteve na região pode legitimar, mesmo que de modo inconsciente, a pretensão atual do Estado de Israel de ser o único senhor de todo o território da Palestina.

Porém, aqui devo mencionar que, em termos de mau uso da História de Israel, considero bem pior a ideia da conquista da terra (semelhante à narrada em Josué), que ainda tem seus defensores nos meios conservadores e/ou ortodoxos. Conquista militar que legitima ações como as que ocorrem desde os anos 50 do século passado para cá.

E, por último, chamo a atenção: Israel volta a ocupar militarmente parte do território palestino – de onde já havia se retirado – como explica a notícia de hoje: Israel expande ação em Gaza e cria zona de segurança na região.

Pode estar com os dias contados o princípio da neutralidade da rede

Você sabe o que é o Ato de Oportunidade, Melhora e Promoção das Comunicações de 2006, ou Cope – Communications Opportunity, Promotion and Enhancement Act?

Pois fique informado, porque parece que pode mexer com todos os internautas…

 

Novas leis nos EUA poderão cobrar “pedágio” na internet

A notícia fez tremer as bases de empresas como Google e Microsoft: uma emenda em um projeto de lei que trará mudanças nas regras seguidas pelas empresas de telecomunicação nos EUA não foi aprovada. Com a rejeição, os provedores de acesso à internet via cabo deram um importante passo para entrar nos mercados de TV e de serviços via rede, podendo até filtrar quais os tipos de dados que poderão ser recebidos e enviados pelos computadores.

Na prática, ferramentas populares, como Skype, podem ter a velocidade limitada para beneficiar o serviço de uma empresa parceira do provedor. Outra ameaça são os provedores cobrarem mais caro para os usuários que desejam ter mais velocidade nos serviços de voz e de vídeo on-line. No lugar de exigir mensalidades mais caras de acordo com a velocidade de conexão, as empresas poderão dividir seus planos de acordo com o tipo de dados que os usuários trocam pela rede.

A emenda rejeitada exigia que a nova lei trouxesse regras que garantissem a neutralidade da internet, ou seja, qualquer informação trocada entre os micros, como voz, vídeo ou texto, tivesse tratamento igual.

A decisão final ainda não foi tomada, mas a discussão nunca foi tão intensa. De um lado da disputa estão os portais, que precisariam gastar mais para garantir a qualidade de seus serviços e sofreriam grande concorrência dos provedores. Do outro, ficam alguns gigantes das telecomunicações, que teriam o controle dos canais por onde transitam informações de voz, de texto e de vídeo. No meio de tudo isso, os internautas do mundo todo, que, direta ou indiretamente, devem sentir no bolso os reflexos das mudanças que estão por vir.

Fonte: Juliano Barreto – Folha de S. Paulo: 05/07/2006

 

Operadoras de banda larga obtêm vitória importante nos EUA

Em setembro, o Senado dos EUA deverá aprovar o Ato de Oportunidade, Melhora e Promoção das Comunicações de 2006, ou o Cope (Communications Opportunity, Promotion and Enhancement Act). Entre as propostas desse conjunto de leis, está a abertura para que operadoras de telefonia que já oferecem acesso à rede possam também explorar a transmissão de TV via cabo.

Com as mudanças, empresas de telecomunicação, como a Verizon e a AT&T, poderão controlar praticamente toda a estrutura da internet e aproveitá-la para experimentar novas formas de controlar e de cobrar pelo acesso a serviços on-line.

Segundo especialistas na defesa dos direitos do consumidor, tal cenário poderia trazer problemas sérios para pequenas empresas que mantêm sites e, principalmente, para quem assina serviços de banda larga. O princípio da neutralidade da rede, que garante a igualdade no trato das informações, poderia ser desrespeitado sem obstáculos.

Possíveis mudanças

Atualmente os pacotes de dados que trafegam pela rede mundial têm a mesma prioridade e não há discriminação em relação aos seus conteúdos. Os dados transferidos para um programa de transmissão de vídeo, como o Windows Media Player, percorrem o mesmo caminho que as informações contidas em um e-mail.

O protocolo de rede envia os bits da forma mais rápida possível. Os downloads têm tratamento neutro, são limitados apenas pela velocidade da conexão.

Com os provedores controlando totalmente a entrega de conteúdo, porém, seria possível determinar que tipo de dados têm a preferência.
Programas de voz e de vídeo pela internet poderiam ser beneficiados pela técnica, mas empresas apoiadas pelos provedores poderiam ter sites e serviços acessados de forma mais rápida do que os de seus concorrentes.

A votação

Para evitar possíveis abusos das empresas de telecomunicações, uma emenda para o Cope foi proposta por dois senadores, a republicana Olympia Snowe e o democrata Byron Dorgan. A proposta foi negada e deu força para os provedores, mas a decisão final ainda pode ser diferente.

“Qualquer legislação sobre telecomunicações adotada pelo Senado deve preservar a liberdade da internet. Eu continuarei a pressionar meus colegas para refletir”, defende Dorgan.

A senadora republicana diz que, sem uma regulamentação que garanta a neutralidade, a internet caminha “para ser algo limitado”, no qual “as operadoras de banda larga escolherão os vencedores e os derrotados”.

Fonte: Juliano Barreto – Folha de S. Paulo: 05/07/2006