Preparando meus programas de aula para 2023

Estou, nestes dias, preparando meus programas de aula de Bíblia para 2023. Começo a publicá-los no Observatório Bíblico. A intenção é de que possam servir, para além de meus alunos, a outras pessoas que, eventualmente, queiram ter uma noção de como se estuda a Bíblia em determinadas Faculdades de Teologia. Ou, pelo menos, parte da Bíblia, porque posso expor apenas os programas das disciplinas que leciono. Tomo aqui como referência o currículo do CEARP, onde trabalho. Já fiz isso em outros anos.

Quatro elementos serão levados em conta, em uma leitura da Bíblia que eu chamaria de sócio-histórica-redacional:

:: contextos da época bíblica
:: produção dos textos bíblicos
:: contextos atuais
:: leitores atuais dos textos

O sentido da Escritura, segundo este modelo, não está nem no nível dos contextos da época bíblica e/ou dos contextos atuais, nem no nível dos textos bíblicos ou da vivência dos leitores, mas na articulação que se forma entre a relação dos textos bíblicos com os seus contextos, por um lado, e entre os leitores atuais e seus contextos específicos.

Ou seja: “Da Escritura não se esperam fórmulas a ‘copiar’, ou técnicas a ‘aplicar’. O que ela pode nos oferecer é antes algo como orientações, modelos, tipos, diretivas, princípios, inspirações, enfim, elementos que nos permitam adquirir, por nós mesmos, uma ‘competência hermenêutica’, dando-nos a possibilidade de julgar por nós mesmos, ‘segundo o senso do Cristo’, ou ‘de acordo com o Espírito’, das situações novas e imprevistas com as quais somos continuamente confrontados. As Escrituras cristãs não nos oferecem um was [que], mas um wie [como]: uma maneira, um estilo, um espírito. Tal comportamento hermenêutico se situa a igual distância tanto da metafísica do sentido (positivismo) quanto da pletora das significações (biscateação). Ele nos dá a chance de jogar a sério o círculo hermenêutico, pois que é somente neste e por este jogo que o sentido pode despertar” explica BOFF, C. Teologia e Prática: Teologia do Político e suas mediações. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1993, p. 266-267.

As disciplinas de Bíblia no curso de graduação em Teologia podem, segundo este modelo, ser classificadas em três áreas:

1. Disciplinas Contextuais:
:: História de Israel I e II

2. Disciplinas Instrumentais:
:: Introdução à Sagrada Escritura
:: Hebraico Bíblico
:: Grego Bíblico

3. Disciplinas Exegéticas:
:: Pentateuco
:: Literatura Profética I e II
:: Literatura Deuteronomista
:: Literatura Sapiencial
:: Sinóticos e Atos dos Apóstolos
:: Literatura Paulina
:: Literatura Joanina
:: Apocalipse

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Destas disciplinas, leciono:

No primeiro semestre:
:: História de Israel I: 2 hs/sem.
:: Hebraico Bíblico: 2 hs/sem.
:: Literatura Profética I: 2 hs/sem.
:: Literatura Deuteronomista: 2 hs/sem.

No segundo semestre:
:: História de Israel II: 2 hs/sem.
:: Pentateuco: 4 hs/sem.
:: Literatura Profética II: 2 hs/sem.

Uma história de Israel

NAKANOSE, S.; DIETRICH, L. J. (orgs.) Uma história de Israel: leitura crítica da Bíblia e arqueologia. São Paulo: Paulus, 2022, 360 p. – ISBN 9786555626551.

Neste livro sobre a história de Israel, procuramos pôr em prática as perspectivas desse nosso mestre [Milton Schwantes]. Procuramos, a partir das transformações e dasNAKANOSE, S.; DIETRICH, L. J. (orgs.) Uma história de Israel: leitura crítica da Bíblia e arqueologia. São Paulo: Paulus, 2022 novas interpretações dos achados arqueológicos – feitas de modo mais firmemente amparado em uma vasta gama de ciências, e com autonomia diante da narrativa bíblica – e dos estudos críticos da Bíblia, elaborar uma história de Israel com os mais recentes achados e descobertas desses campos.

Sabedores da precariedade de todas as histórias que são construídas, nossa pretensão é tão somente expor nossas ideias e reflexões como mais uma contribuição nas áreas da história de Israel e da história da Bíblia, desde séculos estremecidas pelos métodos críticos e ultimamente mais abaladas pelas novas interpretações arqueológicas.

O livro inicia com uma introdução a respeito da necessidade de novas elaborações sobre a história de Israel e a da Bíblia. E, nos capítulos seguintes, aborda diferentes períodos dessas histórias.

O primeiro capítulo procura levantar o que se pode afirmar sobre os inícios do povo de Israel, partindo de datas ao redor dos anos 1300 a.C.

O segundo capítulo faz o mesmo para as primeiras experiências monárquicas, porém sem a pressuposição das doze tribos unidas no grande Império Davídico-Salomônico, noções a tempo descartadas pela arqueologia.

O terceiro capítulo apresenta a história dos reinos de Israel Norte e de Judá como duas entidades políticas que nunca estiveram unidas e que foram bastante desiguais, pois Israel Norte, durante todo o tempo que existiu, foi sempre mais forte do que Judá, tendo Judá somente alcançado peso e importância sociopolítica na região dentro do período assírio, após a destruição da Samaria.

O quarto capítulo aborda o período da dominação babilônica, mostrando que as deportações não deixaram a Judeia como uma “terra vazia” e desarticulada, e descreve as organizações remanescentes na terra; expõe também as diferenças entre o primeiro grupo de deportados e o segundo, bem como suas relações entre si e com os remanescentes.

O quinto capítulo se debruça sobre o período persa, especialmente sobre as diferentes propostas e projetos de reconstrução política e teológica dos vários grupos que retornam do exílio e as relações que propõem estabelecer com os remanescentes que ficaram na terra, na então província de Yehud.

Por último, o sexto capítulo procura dissecar a história e os movimentos religiosos de adaptação e de resistência ao domínio grego e à cultura helênica. A par dos impactos sociais e econômicos, a religião e a sabedoria, em suas diferentes perspectivas e espiritualidades, serão fortemente desafiadas nesse período. Novelas e escritos apocalípticos estão entre os textos canônicos, deuterocanônicos e extracanônicos que nascem nesse contexto.

Em todos os capítulos, procura-se situar o surgimento de narrativas, textos e livros bíblicos, colocando-se os elementos do contexto que consideramos as chaves de leitura essenciais para a compreensão das narrativas bíblicas e a formação da própria Bíblia.

Este livro resulta de trabalho em grupo, em mutirão, como tudo o que aprendemos no CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos) e no CBV (Centro Bíblico Verbo), que nos reuniu e nos acolheu, visto que, além do Prof. Milton Schwantes, aprendemos também com frei Carlos Mesters, Prof. Gilberto Gorgulho, Profa. Ana Flora Anderson e tantos outros e em tantos outros lugares nascidos na esteira da leitura popular da Bíblia.

Leia a apresentação e veja o sumário do livro em pdf, clicando aqui.

Feliz 2023

Desejo a todos os visitantes do Observatório Bíblico e da Ayrton’s Biblical Page um Feliz 2023!

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