Guerra preventiva é um crime contra a humanidade

“Acredito que a ‘guerra preventiva’ é uma forma de crime contra a humanidade. Ela não será a primeira batalha de uma 3ª Guerra Mundial, mas o primeiro passo para uma espécie de guerra civil globalizada (…) É uma ameaça verdadeira contra a humanidade”, disse Paul Virilio [Paris, 1932], urbanista e filósofo francês, em entrevista à Folha em 06.04.2003.

A guerra enganadora de Israel, de 2014

Gideon Levy – Haaretz, em Carta Maior 29/07/2014

Afinal de contas, como uma guerra preventiva pode ser justificada? E como pode alguém pensar estar agindo corretamente diante do show de horrores das imagens de Gaza?

Começa como uma guerra de escolhas: uma política israelense diferente nos últimos meses teria evitado o conflito, que evoluiu para uma guerra sem sentido. Já é bastante óbvio que isso não resultará em qualquer conquista de longo prazo. Pode ainda deteriorar-se acabando em desastre, e no final, ser uma guerra de enganos – Israel mentiu para si mesmo até arruinar-se.

O primeiro engano foi o de que não havia alternativa. É verdade, quando vários foguetes caem em Israel, tornou-se o caso. Mas e os passos que levaram a eles? Foram passos para os quais houve outras opções. Não é difícil imaginar o que teria acontecido se Israel não tivesse suspendido as conversações de paz; se não tivesse lançado uma guerra total contra o Hamas na Cisjordânia, no rastro do assassinato de três adolescentes israelenses; se não tivesse deixado de realizar a transferência de recursos destinados ao pagamento de salários na Faixa de Gaza; se não tivesse se oposto ao governo de unidade palestina; se tivesse atenuado o bloqueio da Faixa de Gaza.

Os foguetes Qassam foram uma resposta às escolhas de Israel. Depois que os objetivos se acumularam, como sempre ocorre em guerras, – parar os foguetes, encontrar e destruir túneis, desmilitarizar Gaza – eles podem bem continuar a crescer, para sabe-se lá o que mais. “O silêncio será recebido com calma”. Lembram-se disso? Na sexta-feira, Israel rejeitou a proposta de cessar-fogo do Secretário de Estado John Kerry.

O segundo engano é que a ocupação da Faixa de Gaza acabou. Imagine um enclave sitiado, cujos habitantes estão aprisionados, com a maioria dos seus negócios e atividades controlados por um outro estado – da manutenção do registro populacional ao comando de sua economia, inclusive proibindo exportações e restringindo a pesca, e que voa no seu céu e ocasionalmente invade o seu território. Isso não é ocupação?

O terceiro engano é a afirmação de que as Forças de Defesa de Israel “fazem tudo o que está ao seu alcance” para evitar a morte de civis. Já passamos dos primeiros mil civis mortos, um número assustador deles de crianças, com uma vizinhança que foi destruída e 150 mil pessoas desalojadas e sem lugar para onde escapar. Tudo isso torna essa afirmação nada mais que uma piada cruel.

A afirmação de que o mundo apoia a guerra e reconhece sua justeza também é um engodo israelense. Embora seja verdade que os políticos ocidentais reiterem que Israel tem o direito de se defender, os corpos que vão se empilhando e os refugiados desesperados estão decepcionando o mundo e gerando ódio contra Israel. Finalmente, até os estadistas que apoiam Israel lhe deram as costas.

O próximo engodo é que a guerra mostrou ser “o Povo de Israel”  uma “nação maravilhosa”. Essa campanha mentirosa, intoxicante e autocongratulatória e melosa já dura há tempo. A nação se moveu para dar suporte às tropas, e assim vai. Mas além das vans cheias de doces e de caminhões com pacotes de roupas íntimas, e funerais para soldados cujas famílias vivem no exterior, que milhares de israelenses acompanharam, e das demonstrações de preocupação com os feridos, essa guerra também expôs outros comportamentos, em toda a sua feiura. Os “soldados do comitê de bem estar” que são o Povo de Israel, expuseram indiferença em relação ao sofrimento do outro lado. Nem um gesto de compaixão, nem um pingo de humanidade, nenhum choque, nenhuma empatia por sua dor. As imagens horríveis de Gaza – elas não são nada menos que horríveis – são recebidas aqui entre um bocejo e uma comemoração. Um povo que se comporta assim não merece os elogios que acumula sobre si. Quando as pessoas estão morrendo em Gaza e, em Tel Aviv as pessoas estão desinteressadas, não há razão para se ter ânimo.

Nem há causa para ânimo no incidente da campanha contra meia dúzia de pessoas que se opõem à guerra. Do gabinete de ministros e membros do parlamento, para as ruas e os caras da internet, um vento doente está soprando. Somente cidadãos obedientes. “Unidade israelense”? “A nação é uma grande família”? Isso é uma piada. Assim como é piada a cobertura midiática israelense em tempos de guerra, uma rede de propaganda cujos membros emitem notícias para si mesmos, a título de autoelogio ou exortação, para incitar e instigar, e para fechar os próprios olhos.

E a maior piada de todas, a mãe de todos os enganos: a crença na retidão de seus métodos. O slogan da “guerra justa” é repetido com tanta frequência, ad nauseam, que se começa a suspeitar que até aqueles que o entoam em alta voz começam a duvidar. Não fosse assim, não estariam gritando tão alto e não combateriam tão facilmente os poucos que tentam expressar uma opinião diferente. Afinal de contas, como uma guerra preventiva pode ser justificada? E como pode alguém pensar estar agindo corretamente diante do show de horrores das imagens de Gaza?

Talvez o chão esteja queimando também sob os pés dos membros desse coro de legitimadores da guerra. Talvez eles também tenham entendido que, quando as batalhas acabam, o quadro real se torna claro. É assim que sempre ocorre em guerras enganadoras. E é assim que a guerra de 2014 também vai se mostrar.

Tradução: Louise Antônia León

 

Israel’s war of deception 2014 – By Gideon Levy: Haaretz  27/07/2014

How can a preventable war be justified? And how can one wrap oneself in its rightness in the presence of the horror-show images from Gaza?

It began as a war of choice: A different Israeli policy in the last few months might have prevented it. It evolved into a pointless war. It’s already pretty obvious that it will not result in any long-term achievements. It could still deteriorate into a disaster, and in the end will turn out to have been… 

 

Quem é Gideon Levy?

Gideon Levy (Tel-Aviv, 1953), jornalista israelense, é membro da direção do jornal Haaretz. Crítico em relação à política do governo de Israel quanto aos territórios ocupados, Levy publica semanalmente, na sua coluna Twilight Zone, uma crônica sobre violações de direitos civis dos palestinos. Denuncia o recurso sistemático à violência por parte do governo de Israel e a manipulação da opinião pública do seu país, que desumaniza tanto o povo israelense como os seus adversários. Levy já recebeu vários prêmios por sua atuação na defesa de direitos humanos.

Gideon Levy is a Haaretz columnist and a member of the newspaper’s editorial board. Levy joined Haaretz in 1982, and spent four years as the newspaper’s deputy editor. He is the author of the weekly Twilight Zone feature, which covers the Israeli occupation in the West Bank and Gaza over the last 25 years, as well as the writer of political editorials for the newspaper. Levy was the recipient of the Euro-Med Journalist Prize for 2008; the Leipzig Freedom Prize in 2001; the Israeli Journalists’ Union Prize in 1997; and The Association of Human Rights in Israel Award for 1996. His new book, The Punishment of Gaza, has just been published by Verso Publishing House in London and New York.

Leia Mais:
Gideon Levy: Eu não fui para Gaza
As trombetas da guerra em Israel
Antropólogo judeu denuncia genocídio de Netanyahu
Corações, mentes e corpos

Seminário do PIB para professores de Bíblia em 2015

Sobre a iniciativa, leia:
. PIB cria seminário para professores de Bíblia
. Cássio: Diário do Seminário no Bíblico 23.01.2012
. Seminário do PIB para professores de Bíblia em 2014

O seminário de 2014 foi sobre o Pentateuco.

Sobre o seminário de 2015:
:: Tema: Os evangelhos sinóticos: Marcos e Mateus
:: Data: 26-30 de janeiro de 2015
:: Coordenador para o Evangelho de Marcos: Jean-Noël Aletti
:: Coordenador para o Evangelho de Mateus: Massimo Grilli
:: Inscrição: até 10 de outubro de 2014

No site do PIB se lê em italiano [ou English]:

Seminario 2015: dal 26 al 30 gennaio 2015

Tema del seminario: I vangeli sinottici: Marco e Matteo

Coordinatore per il Vangelo di Marco: Prof. Jean-Noël Aletti, S.J.
Coordinatore per il Vangelo di Matteo: Prof. Massimo Grilli

La modalità di attuazione sarà la stessa dei seminari precedenti, con lezioni frontali al mattino (dove sarà possibile comunque intervenire con domande e chiarimenti) e sedute seminariali nel pomeriggio. Il seminario sarà in italiano. In base alla provenienza degli iscritti si potrà tener presente la possibilità di qualche seduta pomeridiana in altre lingue.

Condurranno il seminario i professori:
:: Jean-Noël Aletti, S.J., professore emerito di esegesi del Nuovo Testamento al PIB [terrà le lezioni introduttive: Il perché della narrativizzazione. Racconti d’allora e anagnôrisis — Nuove sfide all’esegesi e all’insegnamento di Mc].
:: Marc Rastoin, S.J., professore di Nuovo Testamento al «Centre Sèvres – Facultés jésuites de Paris» [La cristologia di Mc — Difficoltà e tendenze attuali].
:: Paolo Mascilongo, professore di Nuovo Testamento presso lo Studio teologico Collegio Alberoni di Piacenza [La situazione dei discepoli in Marco nella prospettiva dell’analisi narrativa].
:: Klemens Stock, S.J., professore emerito di esegesi del Nuovo Testamento al PIB [I discepoli di Gesù secondo Marco. Il loro ruolo “rivelatore”, ecclesiale, missionario].
:: Ulrich Luz, professore emerito di Nuovo Testamento dell’Università di Berna [Matteo e il giudaismo del suo tempo].
:: Massimo Grilli, professore di Nuovo Testamento alla Pontificia Università Gregoriana (Roma) [Matteo nel conflitto delle interpretazioni].
:: Altri Docenti verranno attivati per dirigere i seminari pomeridiani, in funzione del numero degli iscritti.

Iscrizioni
Chi fosse interessato è pregato di dare la propria adesione entro il 10 ottobre 2014, inviando una e-mail all’indirizzo: pibsegr@biblico.it.

Ai partecipanti viene chiesto un contributo di € 120.
Per gli iscritti all’associazione ex-alunni PIB il contributo sarà invece di € 100.

Tale contributo potrà essere versato all’inizio del seminario. Non è necessario inviare alcuna somma al momento dell’iscrizione; si chiede però gentilmente di inviare la propria adesione solo se realmente si prevede di partecipare, proprio perché l’organizzazione finale della settimana dipenderà anche dal numero dei partecipanti.

Per ulteriori informazioni rivolgersi a: Segretario Generale PIB (pibsegr@biblico.it).

Mês da Bíblia 2014: O Evangelho de Mateus

:: Mês da Bíblia 2014: Discípulos Missionários a partir do Evangelho de Mateus. Brasília: CNBB, 2014, 40 p. – ISBN 9788579723070.

:: CENTRO BÍBLICO VERBO, Deus conosco: O messias da justiça e da misericórdia. Entendendo o evangelho de Mateus. São Paulo: Paulus, 2014, 128 p. – ISBN 9788534939188.

:: SAB, Ide, fazei discípulos e ensinai: Discípulos missionários a partir do evangelho de Mateus. São Paulo: Paulinas, 2014, 64 p. – ISBN 9788535637137.

:: VIDA PASTORAL n. 298, set.-out. 2014: Mês da Bíblia: Evangelho de Mateus.

:: Página do Mês da Bíblia 2014 no SAB – Paulinas

Sobre o Mês da Bíblia, leia aqui e aqui.

Governo de Israel perdeu a compostura

É evidente que o governo brasileiro não busca a relevância que a chancelaria israelense tem ganhado nos últimos anos. Menos ainda a relevância militar que está sendo exibida vis-à-vis populações indefesas. A irresolução da crise palestina alimenta a instabilidade no Oriente Médio e leva água ao moinho do fundamentalismo, ameaçando a paz mundial.

O que está em jogo na Faixa de Gaza – Marco Aurélio Garcia: Opera Mundi 24/07/2014

O governo brasileiro reagiu em dois momentos à crise. Na sua nota de 17 de julho “condena o lançamento de foguetes e morteiros de Gaza contra Israel” e, ao mesmo tempo, deplora “o uso desproporcional da força” por parte de Israel. Em comunicado de 23 de julho e tendo em vista a intensificação do massacre de civis, o Itamaraty considerou “inaceitável a escalada da violência entre Israel e Palestina” e, uma vez mais, condenou o “uso desproporcional da força” na Faixa de Gaza. Na esteira dessa percepção, o Brasil votou a favor da resolução do Conselho de Direitos Humanos da ONU (somente os Estados Unidos estiveram contra) que condena as “graves e sistemáticas violações dos Direitos Humanos e Direitos Fundamentais oriundas das operações militares israelenses contra o território Palestino ocupado” e convocou seu embaixador em Tel Aviv para consultas. A chancelaria de Israel afirmou que o Brasil “está escolhendo ser parte do problema em vez de integrar a solução” e, ao mesmo tempo, qualificou nosso país como “anão” ou “politicamente irrelevante”. É evidente que o governo brasileiro não busca a “relevância” que a chancelaria israelense tem ganhado nos últimos anos. Menos ainda a “relevância” militar que está sendo exibida vis-à-vis populações indefesas.

Leia o texto completo.

Resenhas na RBL: 18.07.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Jason D. BeDuhn
The First New Testament: Marcion’s Scriptural Canon
Reviewed by Richard I. Pervo

Joseph Blenkinsopp
David Remembered: Kingship and National Identity in Ancient Israel
Reviewed by Walter Dietrich
Reviewed by Ralph K. Hawkins

Claudia V. Camp
Ben Sira and the Men Who Handle Books: Gender and the Rise of Canon-Consciousness
Reviewed by Ibolya Balla

Esther G. Chazon and Betsy Halpern-Amaru, eds.
New Perspectives on Old Texts: Proceedings of the Tenth International Symposium of the Orion Center for the Study of the Dead Sea Scrolls and Associated Literature, 9–11 January, 2005
Reviewed by Bennie H. Reynolds III

Terence E. Fretheim
Reading Hosea–Micah: A Literary and Theological Commentary
Reviewed by David W. Baker

W. Edward Glenny
Hosea: A Commentary based on Hosea in Codex Vaticanus
Reviewed by Richard G. Smith

Giovanni B. Lanfranchi, Daniele Morandi Bonacossi, Cinzia Pappi, and Simonetta Ponchia, eds.
Leggo! Studies Presented to Frederick Mario Fales on the Occasion of His 65th Birthday
Reviewed by Michael S. Moore

Néstor O. Míguez
The Practice of Hope: Ideology and Intention in 1 Thessalonians
Reviewed by Raymond F. Collins

Jane Dewar Schaberg; Holly E. Hearon, ed.
The Death and Resurrection of the Author and Other Feminist Essays on the Bible
Reviewed by Susanne Scholz

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Resenhas na RBL: 14.07.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Thomas L. Brodie
Beyond the Quest for the Historical Jesus: Memoir of a Discovery
Reviewed by Benjamin I. Simpson

Richard J. Clifford
Wisdom
Reviewed by Lawrence M. Wills

David J. A. Clines and J. Cheryl Exum, eds.
The Reception of the Hebrew Bible in the Septuagint and the New Testament: Essays in Memory of Aileen Guilding
Reviewed by Benjamin J. M. Johnson

Joan E. Cook
Genesis
Reviewed by Jonathan L. Huddleston

Avraham Faust
Judah in the Neo-Babylonian Period: The Archaeology of Desolation
Reviewed by Gert T. M. Prinsloo

James E. Harding
The Love of David and Jonathan: Ideology, Text, Reception
Reviewed by Katherine Low

Charles E. Hill and Michael J. Kruger, eds.
The Early Text of the New Testament
Reviewed by Amy M. Donaldson

Irene Nowell
Numbers
Reviewed by Timothy R. Ashley

Naomi Steinberg
The World of the Child in the Hebrew Bible
Reviewed by Karin Finsterbusch

Joshua Marshall Strahan
The Limits of a Text: Luke 23:34a as a Case Study in Theological Interpretation
Reviewed by Claire Clivaz

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

O território palestino está sendo deletado

Pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está apagando-a do mapa – Eduardo Galeano: Carta Maior 21/07/2014

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria e as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito de eleger os seus governantes. 

Para justificar-se, o terrorismo de Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo os seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los. Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem sequer respirar sem autorização. Têm perdido a sua pátria, as suas terras, a sua água, a sua liberdade, tudo. Nem sequer têm direito de eleger os seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se numa ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou legitimamente as eleições em 2006 (…) São filhos da impotência os rockets caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desleixada pontaria sobre as terras que tinham sido palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à orla da loucura suicida, é a mãe das ameaças que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está a negar, desde há muitos anos, o direito à existência da Palestina. Já pouca Palestina resta. Pouco a pouco, Israel está a apagá-la do mapa. Os colonos invadem, e, depois deles, os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam o despojo, em legítima defesa. Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva (…)  Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina, e os almoços continuam. O repasto justifica-se pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita. Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, o que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, o que escarnece das leis internacionais, e é também o único país que tem legalizado a tortura de prisioneiros. Quem lhe presenteou o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está a executar a matança em Gaza?

Leia o texto completo e observe o mapa. O texto pode ser lido também aqui.

Ya poca Palestina queda. Paso a paso, Israel la está borrando del mapa – Eduardo Galeano: Sin Permiso 20/07/2014

Desde 1948, los palestinos viven condenados a humillación perpetua. No pueden ni respirar sin permiso. Han perdido su patria, sus tierras, su agua, su libertad, su todo. Ni siquiera tienen derecho a elegir sus gobernantes.

Para justificarse, el terrorismo de Estado fabrica terroristas: siembra odio y cosecha coartadas. Todo indica que esta carnicería de Gaza, que según sus autores quiere acabar con los terroristas, logrará multiplicarlos. Desde 1948, los palestinos viven condenados a humillación perpetua. No pueden ni respirar sin permiso. Han perdido su patria, sus tierras, su agua, su libertad, su todo. Ni siquiera tienen derecho a elegir sus gobernantes. Cuando votan a quien no deben votar, son castigados. Gaza está siendo castigada. Se convirtió en una ratonera sin salida, desde que Hamas ganó limpiamente las elecciones en el año 2006. Algo parecido había ocurrido en 1932, cuando el Partido Comunista triunfó en las elecciones de El Salvador. Bañados en sangre, los salvadoreños expiaron su mala conducta y desde entonces vivieron sometidos a dictaduras militares. La democracia es un lujo que no todos merecen. Son hijos de la impotencia los cohetes caseros que los militantes de Hamas, acorralados en Gaza, disparan con chambona puntería sobre las tierras que habían sido palestinas y que la ocupación israelí usurpó. Y la desesperación, a la orilla de la locura suicida, es la madre de las bravatas que niegan el derecho a la existencia de Israel, gritos sin ninguna eficacia, mientras la muy eficaz guerra de exterminio está negando, desde hace años, el derecho a la existencia de Palestina. Ya poca Palestina queda. Paso a paso, Israel la está borrando del mapa. Los colonos invaden, y tras ellos los soldados van corrigiendo la frontera. Las balas sacralizan el despojo, en legítima defensa. No hay guerra agresiva que no diga ser guerra defensiva. Hitler invadió Polonia para evitar que Polonia invadiera Alemania. Bush invadió Irak para evitar que Irak invadiera el mundo. En cada una de sus guerras defensivas, Israel se ha tragado otro pedazo de Palestina, y los almuerzos siguen. La devoración se justifica por los títulos de propiedad que la Biblia otorgó, por los dos mil años de persecución que el pueblo judío sufrió, y por el pánico que generan los palestinos al acecho. Israel es el país que jamás cumple las recomendaciones ni las resoluciones de las Naciones Unidas, el que nunca acata las sentencias de los tribunales internacionales, el que se burla de las leyes internacionales, y es también el único país que ha legalizado la tortura de prisioneros. ¿Quién le regaló el derecho de negar todos los derechos? ¿De dónde viene la impunidad con que Israel está ejecutando la matanza de Gaza? (continua)

Quem é Eduardo Galeano? Confira aqui.

* O verbo inglês delete, ‘apagar, excluir, remover, suprimir’ – aquele do teclado dos nossos computadores! –  vem do latim deleo, ‘destruir, apagar, suprimir’. Entrou no inglês no século XV e, no português, o uso de deletar pode ser datado por volta de 1975, segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss de 2009. É o mesmo verbo usado na expressão latina Carthago delenda est.

Gaza delenda est

Chuva de fogo e destruição em Gaza

Um bom título para hoje, 20/07/2014?

Não. Já foi usado em 19/11/2012.

E outros também.

Para os senhores da guerra em Tel Aviv não existem civis em Gaza, mas uma perigosa comunidade de um milhão e meio de terroristas, que precisam ser massacrados, de preferência, a partir de poucos meses de idade.

Tal como os romanos sobre Cartago.

Rubem Alves (1933-2014)

Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos.

Escritor e educador Rubem Alves morre em Campinas aos 80 anos – G1: 19/07/2014
O escritor Rubem Alves, de 80 anos, morreu no fim da manhã deste sábado (19) em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o Centro Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O óbito ocorreu às 11h50. O corpo do escritor será velado a partir das 19h na Câmara Municipal de Campinas (continua).

Rubem Alves foi um dos pioneiros da Teologia da Libertação.

Túnel do Tempo – Do site Instituto Rubem Alves

Nasci no dia 15 de setembro de 1933. Sobre o meu nascimento veja a crônica Que bom que eles se casaram. Faça as contas para saber quantos anos não tenho. Que “não tenho”, sim; porque o número que você vai encontrar se refere aos anos que não tenho mais, para sempre perdidos no passado. Os que ainda tenho, não sei, ninguém sabe. Nasci no sul de Minas, em Boa Esperança que, naquele tempo, se chamava Dores da Boa Esperança. Depois tiraram o “Dores”. Pena, porque dores de boa esperança são dores de parto: há dores que anunciam o futuro. Boa Esperança é conhecida mais pela serra que o Lamartine Babo, ferido por um amor impossível, transformou em canção: “Serra da Boa Esperança”, que você ouviu logo que entrou na minha casa.

Meu pai era rico, quebrou, ficou pobre. Tivemos de nos mudar. Dos tempos de pobreza só tenho memórias de felicidade. Albert Camus dizia que, para ele, a pobreza (não a miserabilidade) era o ideal de vida. Pobre, foi feliz. Conheceu a infelicidade quando entrou para o Liceu e começou a fazer comparações. A comparação é o início da inveja que faz tudo apodrecer. Aconteceu o mesmo comigo. Conheci o sofrimento quando melhoramos de vida e nos mudamos para o Rio de Janeiro. Meu pai, com boas intenções, me matriculou num dos colégios mais famosos do Rio. Foi então que me descobri caipira. Meus colegas cariocas não perdoaram meu sotaque mineiro e me fizeram motivo de chacota. Grande solidão, sem amigos. Encontrei acolhimento na religião. Religião é um bom refúgio para os marginalizados. Admirei Albert Schweitzer, teólogo protestante, organista, médico, prêmio Nobel da Paz. Quis seguir o seu caminho.

Tentei ser pianista. Fracassei. Sobrava-me disciplina e vontade. Faltava-me talento. Há um salmo que diz: “Inútil te será levantar de madrugada e trabalhar o dia todo porque Deus, àqueles a quem ama, ele dá enquanto estão dormindo.” Deus não me deu talento. Deu todo para o Nelson Freire, que também nasceu em Boa Esperança. Estudei teologia. Fui pastor no interior de Minas. Convivi com gente simples e pobre. Lá um pastor é uma espécie de “despachante” para resolver todos os problemas. Mas já naquele tempo minhas idéias eram diferentes. Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos. Claro que minhas idéias foram recebidas com desconfiança… Em 1959 me casei e vieram os filhos Sérgio (XII.59) e Marcos (VII.62). Em 1975 nasceu minha filha Raquel. Inventando estórias para ela descobri que eu podia escrever estórias para crianças.Fui estudar em New York (1963), voltei um mês depois do golpe militar. Fui denunciado pelas autoridades da Igreja Presbiteriana, à qual pertencia, como subversivo. Experimentei o medo e fiquei conhecendo melhor o espírito dos ministros de Deus… Minha família e eu tivemos de sair do Brasil. Fui estudar em Princeton, USA, onde escrevi minha tese de doutoramento, Towards a Theology of Liberation, publicada em 1969 pela editora católica Corpus Books com o título A Theology of Human Hope. Era um dos primeiros brotos daquilo que posteriormente recebeu o nome de Teologia da Libertação. Se você quiser saber um pouco sobre o que aconteceu comigo nesses anos, leia o ensaio Sobre deuses e caquis (O quarto do mistério, p 137). O tempo passou, mudou meu jeito de pensar, voltei ao Brasil em 1968, demiti-me da Igreja Presbiteriana. Com um Ph.D. debaixo do braço e sem emprego. Foi o economista Paulo Singer, que fiquei conhecendo numa venda de móveis usados em Princeton, que me abriu a porta do ensino superior, indicando-me para uma vaga para professor de filosofia na FAFI de Rio Claro, SP. Em 1974 transferi-me para a UNICAMP, onde fiquei até me aposentar.

Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma. Ciência é fogo e panela: coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta… Quando jovem, Albert Camus disse que sonhava com um dia em que escreveria simplesmente o que lhe desse na cabeça. Estou tentando me aperfeiçoar nessa arte, embora ainda me sinta amarrado por antigas mortalhas acadêmicas. Sinto-me como Nietzsche, que dizia haver abandonado todas as ilusões de verdade. Ele nada mais era que um palhaço e um poeta. O primeiro nos salva pelo riso. O segundo pela beleza.

Com a literatura e a poesia comecei a realizar meu sonho fracassado de ser músico: comecei a fazer música com palavras. Leituras de prazer especial: Nietzsche, T. S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado, Manoel de Barros. Pintura: Bosch, Brueghel, Grünnenwald, Monet, Dali, Larsson. Música: canto gregoriano, Bach, Beethoven, Brahms, Chopin, César Franck, Keith Jarret, Milton, Chico, Tom Jobim.

Sou psicanalista, embora heterodoxo. Minha heterodoxia está no fato de que acredito que no mais profundo do inconsciente mora a beleza. Com o que concordam Sócrates, Nietzsche e Fernando Pessoa. Exerço a arte com prazer. Minhas conversas com meus pacientes são a maior fonte de inspiração que tenho para minhas crônicas.

Já tive medo de morrer. Não tenho mais. Tenho tristeza. A vida é muito boa. Mas a Morte é minha companheira. Sempre conversamos e aprendo com ela. Quem não se torna sábio ouvindo o que a Morte tem a dizer está condenado a ser tolo a vida inteira.

Leia Mais:
Bibliografia de Rubem Alves no WorldCat

Quem contará a história de Gaza?

A história de Gaza que os israelenses não contam – Robert Fisk: Vi o mundo 17/07/2014

A história do direito de autodefesa de Israel é a de sempre. Mas como e por que, para início de conversa, há 1,5 milhão de palestinos apertados em Gaza? 

Passemos para a história de Gaza que, a esta altura, ninguém vai contar. Trata-se da terra.

 

The true Gaza back-story that the Israelis aren’t telling this week – Robert Fisk: The Independent:  9 July 2014

A future Palestine state will have no borders and be an enclave within Israel, surrounded on all sides by Israeli-held territory.

But now for the Gaza story you won’t be hearing from anyone else in the next few hours. It’s about land.