Linchamento verbal

Quando as pessoas partem para o xingamento verbal ou virtual, demonstram completa ausência de argumentos para rechaçar as ideias com as quais não concordam. Não sabendo como argumentar, xingam.

Confira aqui, aquiaqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Como disse Kant (1724-1804), quando questionado sobre o significado da Aufklärung – O que são as Luzes [ou Esclarecimento]:

Sapere aude [Ouse saber]! Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento. Eis a divisa das Luzes.

No original alemão: Sapere aude! Habe Mut, dich deines eigenen Verstandes zu bedienen! ist also der Wahlspruch der Aufklärung.

Citando o texto mais ampliado:

Esclarecimento (Aufklärung) significa a saída do homem de sua menoridade, pela qual ele próprio é responsável. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu próprio entendimento sem a tutela de um outro. É a si próprio que se deve atribuir essa menoridade, uma vez que ela não resulta da falta de entendimento, mas da falta de resolução e de coragem necessárias para utilizar seu entendimento sem a tutela de outro. Sapere aude! Tenha a coragem de te servir de teu próprio entendimento, tal é portanto a divisa do Esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma parte tão grande dos homens, libertos há muito pela natureza de toda tutela alheia (naturaliter maiorennes), comprazem-se em permanecer por toda sua vida menores; e é por isso que é tão fácil a outros instituírem-se seus tutores. É tão cômodo ser menor (Immanuel Kant, Resposta à pergunta: O que é o Esclarecimento?  Traduzido por Luiz Paulo Rouanet). O texto continua…

Aufklärung ist der Ausgang des Menschen aus seiner selbstverschuldeten Unmündigkeit. Unmündigkeit ist das Unvermögen, sich seines Verstandes ohne Leitung eines anderen zu bedienen. Selbstverschuldet ist diese Unmündigkeit, wenn die Ursache derselben nicht am Mangel des Verstandes, sondern der Entschließung und des Mutes liegt, sich seiner ohne Leitung eines andern zu bedienen. Sapere aude! Habe Mut, dich deines eigenen Verstandes zu bedienen! ist also der Wahlspruch der Aufklärung. Faulheit und Feigheit sind die Ursachen, warum ein so großer Teil der Menschen, nachdem sie die Natur längst von fremder Leitung freigesprochen (naturaliter maiorennes), dennoch gerne zeitlebens unmündig bleiben; und warum es anderen so leicht wird, sich zu deren Vormündern aufzuwerfen. Es ist so bequem, unmündig zu sein.

Para quem quiser ler o original em alemão:

Immanuel Kant, Beantwortung der Frage: Was ist Aufklärung? (eBook gratuito para Kindle na amazon.com.br)

Ou em português:

KANT, I. Immanuel Kant: textos seletos. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2012, 112 p. – ISBN 9788532631923.

Para entender o contexto da afirmação de Kant, dê uma olhada em meu texto O discurso socioantropológico: origem e desenvolvimento.

Um dos tantos comentários interessantes que encontrei na web:

O Esclarecimento Kantiano – Anderson Rodrigo de Oliveira

Toda a presente dissertação do filósofo moderno Immanuel Kant gira em volta da resposta à pergunta sobre o esclarecimento (Aufklärung). Kant começa pelo próprio termo esclarecimento, que «é a saída do homem de sua menoridade». O que produz tal menoridade é o próprio homem, que não consegue sair de sua condição medíocre e tomar coragem de servir-se de si mesmo sem necessitar da ajuda de alheios. A menoridade do homem o afeta em todos os campos: na política, na sociedade, no trabalho etc. O processo para se sair desse estado de menoridade está no autocontrole e na liberdade que cada indivíduo deve cultivar. Somos convidados a não nos acomodar, a sair em busca do saber, por isso usa o termo latino: Sapere aude! (Ouse saber). Somente através dessa ousadia é que podemos sair de nossa condição. Essa ousadia implica a «coragem de fazer uso de teu próprio entendimento», o que é como que o slogan do esclarecimento. As principais causas que impedem o esclarecimento estão no comodismo, na preguiça e na covardia. Com tais causas, o homem permanecerá sempre em sua menoridade. Para as pessoas acostumadas a ‘receberem as coisas nas mãos’ (Kant enumera alguns: ter um livro que faz as vezes de nosso entendimento; um diretor espiritual que tem consciência em nosso lugar; um método que decide a nossa dieta etc.), torna-se difícil e perigoso renunciar sua menoridade (o texto continua).

Leituras sobre futebol

A Copa do Mundo 2014 no Brasil é uma ótima desculpa para estudar a fundo a estrela da ocasião: o futebol. 

Nós, brasileiros, temos uma relação especial com esse esporte, gostando dele ou não. A bola rolando em solo nacional revela, historicamente e socialmente, um contexto de afinidade entre técnica, arte e superação. Compreendê-lo dá outras dimensões ao tema, e para atingi-las há uma série de livros imperdíveis, já lançados ou quase, à disposição, diz Camila Moraes: Opera Mundi – 31/05/2014, em

Leituras para a (e apesar da) Copa

E recomenda:

:: São raros os títulos de ficção envolvendo futebol que realmente toquem o leitor mais exigente. Mas um livro lançado no ano passado pela Companhia das Letras mudou esse paradigma. O Drible, de Sergio Rodrigues, conta uma história de reaproximação entre pai e filho: o primeiro é Murilo Filho, um cronista de futebol aposentado e à beira da morte, e o segundo, Neto, é um revisor de livros de autoajuda solitário, que coleciona quinquilharias dos anos 70 e relações amorosas descartáveis – e que sempre se sentiu preterido pelo pai famoso. Entremeado com esse relato está o livro que Murilo Filho escreve sobre um extraordinário jogador dos anos 60, que teria sido “maior que Pelé”, se seu final não tivesse sido trágico. De uma maneira envolvente e inclusive carregada de suspense, o autor constrói vários universos ao mesmo tempo – o familiar, o pessoal, o futebolístico –, chegando a retratar a época de ouro do futebol brasileiro com uma riqueza imaginativa que só a ficção poderia garantir.

:: Na seara da não ficção, por outro lado, os horizontes são mais amplos e incluem paradas obrigatórias. Para começar, ninguém jamais será capaz de entender como nasce o futebol-arte no Brasil sem se debruçar sobre o clássico O Negro no Futebol Brasileiro, de Mario Filho. Reeditado recentemente pela editora Mauad (agora também em inglês, com vistas à chegada de jornalistas estrangeiros e turistas leitores), ele é pioneiro ao ressaltar a importância dos africanos para a originalidade do esporte mais popular do país. Foi publicado em 1947 com prefácio de Gilberto Freyre, que se declarou admirador do trabalho de Mario – cronista de O Globo por muitos anos.

:: Em uma linha parecida, está Veneno Remédio – O Futebol e o Brasil, de José Miguel Wisnik, pela Companhia das Letras. O livro aborda as questões políticas, sociais, econômicas e comportamentais em torno do futebol sem deixar de lado o jogo em si, que é o que finalmente cativa com tanta força as pessoas, seja no Brasil ou onde for.

:: Para provar que os brasileiros não estão sozinhos quando o assunto é a devoção ao futebol, especialmente na América Latina, Eduardo Galeano contribui à discussão com Futebol ao Sol e à Sombra, editado aqui pela L&PM. O escritor uruguaio é fã de futebol e acredita que, com a bola rolando, exacerbam-se conflitos e paixões. Por isso, o compara com o teatro e a guerra em histórias contadas com maestria.

:: Há ainda, no cenário dos grandes escritores, alguns títulos essenciais: A pátria de chuteiras, de Nelson Rodrigues, lançado no final de 2013 pela Ediouro com 40 textos do grande dramaturgo (e cronista de futebol também, contemporâneo de Mario Filho), escritos entre 1950 e 1970 [ver também de Nelson Rodrigues, Somos o Brasil]. Ebooks gratuitos na amazon.com.br.

::  Quando é dia de futebol, com escritos de Carlos Drummond de Andrade sobre futebol em suas múltiplas variantes, publicados em sua maioria nos jornais Correio da Manhã e Jornal do Brasil e reunidos em livro agora pela Companhia das Letras.

::  Os Garotos do Brasil – Viagem à identidade secreta dos nossos craques, de Ruy Castro, que delineia, segundo o autor “o lado humano de atletas como Belini, Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo ‘Fenômeno’ e o goleiro Julio Cesar” – e que deverá sair em breve.

:: Como, no Brasil, falar desse esporte tão grande e de seus grandes craques é impossível sem citar Pelé, dois lançamentos do Rei do Futebol devem entrar pra lista. O primeiro é A importância do futebol, de título bem didático, que Pelé escreveu com o jornalista Brian Winter.

:: O outro, As joias do rei Pelé, reúne fotos de objetos que marcaram sua carreira estelar, como troféus, cetros e coroas, mas também um velho rádio e uma rudimentar caixa de engraxate. Ambos são editados no Brasil pela Realejo Livros, uma editora de Santos que também é livraria, onde futebol é assunto tratado com toda o conhecimento e dedicação que merece [só para os “corajosos”… livro caro demais!].

:: Finalmente, mas não por último, as crianças podem se divertir com outro título de ficção que merece entrar pra biblioteca da família. La cancha de los deseos, do maior escritor mexicano da atualidade, Juan Villoro, chegará ao Brasil por essas épocas (provavelmente como “O estádio dos desejos”) em edição da Terceiro Nome. O livro fala de Arturo, um menino que adora futebol, sonha em ser jogador, vai ao estádio com o pai e é feliz. Para ser ainda mais feliz, ele se dedica – junto ao pai cientista – a descobrir uma fórmula que faça o time de seu país ganhar, já que ele vivia perdendo.

Leia o texto completo.

Oriente Médio: sinais emblemáticos de Francisco

Na diplomacia, você vive de sinais emblemáticos (Lejeune Mirhan)

O encontro promovido pelo papa Francisco entre os presidentes de Israel, Shimon Peres, e da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, no Vaticano, para falar sobre a paz, e a visita papal à Terra Santa no final do mês passado são emblemáticos, avalia o sociólogo, professor, escritor e arabista Lejeune Mirhan, em entrevista a Opera Mundi. Para ele, Francisco “avançou mais do que qualquer outro líder do Vaticano” para fomentar o diálogo entre israelenses e palestinos. O fato de Francisco ter quebrado o protocolo ao descer do papamóvel e rezar pedindo paz no muro da Cisjordânia, conhecido como “Muro da Vergonha”, que separa Israel da Palestina, durante sua visita à região, “carrega muito significado. Esta atitude vale por dez anos de intifada”, disse Lejeune, referindo-se ao tipo de protesto comum na Palestina, em que pessoas atiram pedras contra o muro.

Leia: Visita do papa a ‘Muro da Vergonha’ vale por dez anos de intifada palestina, diz especialista

Fonte: Vanessa Martina Silva: Opera Mundi – 10/06/2014

Resenhas na RBL: 04.06.2014

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Elie Assis
The Book of Joel: A Prophet between Calamity and Hope
Reviewed by Stephen Breck Reid

John Granger Cook
Roman Attitudes toward the Christians: From Claudius to Hadrian
Reviewed by Warren Carter

Jason von Ehrenkrook
Sculpting Idolatry in Flavian Rome: (An)Iconic Rhetoric in the Writings of Flavius Josephus
Reviewed by Jeff Jay

John C. Endres
First and Second Chronicles
Reviewed by Michael Avioz

Jack R. Lundbom
Deuteronomy: A Commentary
Reviewed by Glen A. Taylor
Reviewed by Timothy M. Willis

Lukasz Niesiolowski-Spanò
The Origin Myths of Holy Places in the Old Testament: A Study of Aetiological Narratives
Reviewed by Ralph K. Hawkins

Peter R. Rodgers
Exploring the Old Testament in the New
Reviewed by Michael Labahn

Beth M. Sheppard
The Craft of History and the Study of the New Testament
Reviewed by Ken Olson
Reviewed by Joseph E. Sanzo

Visite: Review of Biblical Literature Blog

O complexo de vira-latas – The mongrel complex

Por “complexo de vira-latas” entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. Isto em todos os setores e, sobretudo, no futebol (Nelson Rodrigues).


By “mongrel complex” I call the inferiority in which Brazilians put themselves, voluntarily, before the rest of the world. This happens in all areas and, especially, in soccer (Nelson Rodrigues).

Nelson Rodrigues: Brasil vacila entre o pessimismo mais obtuso e a esperança mais frenética: Manchete Esportiva, 31/5/1958.

Confira o livro Somos o Brasil – Edição bilíngue, português-inglês, ebook Kindle na Amazon e reproduzido em pdf em vários outros locais [digite no Google: Nelson Rodrigues e o complexo de vira-latas].

Tenho um amigo que é um dos tais brasileiros rubros de vergonha. Dizia-me: — “Junto da europeia, a nossa paisagem faz vergonha.” Mas ele dizia isso porque jamais olhara a nossa paisagem (Nelson Rodrigues).


I have a friend who is one of such Brazilians who are crimson with shame. He told me: — “In comparison with the European landscape, ours is a shame.” But he said that because he had never looked at our landscape (Nelson Rodrigues).

Nelson Rodrigues: Brasileiro, da cabeça aos sapatos : O Globo, 14/7/1966 – Esta crônica está no mesmo livro citado acima.

Sobre a polêmica atual gerada pelo ressuscitado complexo de vira-latas usado como arma política, confira:

Por causa da Copa, a velha mídia reforça “complexo de vira-latas” – Vermelho: 08/06/2014

Documentário: O Complexo de Vira-latas –  Dirigido por Leandro Carproni, produção da Cabrueira Filmes e Sem Cortes Filmes

Muitos blogs católicos são conservadores

Muitos blogs católicos são conservadores – Tanti blog cattolici sono conservatori

Por trás disso, também há partes da hierarquia que preferem… se expressar indiretamente em muitos blogs conservadores… — Dietro ci sono anche pezzi di gerarchia che preferiscono … esprimersi indirettamente sui tanti blog conservatori… (Marco Politi)

Isto merece um debate!

Francisco entre lobos

POLITI, M. Francesco tra i lupi: Il segreto di una rivoluzione. 2. ed.  Roma-Bari: Laterza, 2014, 260 p. – ISBN 9788858110799.

Um livro para se prestar atenção. Do experiente vaticanista Marco Politi.

A um ano da eleição, o papa ainda está bastante sozinho dentro da estrutura eclesiástica. Isso explica a sua extraordinária determinação. Ele goza de um consenso muito amplo entre os fiéis e na opinião pública agnóstica e não crente, mas na Cúria não se manifesta, por enquanto, um forte partido pró-Bergoglio. Ao contrário, há quem espere que o papa argentino seja uma exceção transitória… Um papa obtém obediência quase absoluta quando age ao longo dos trilhos da tradição. Se, ao invés, quer mudar e reformar, são infinitos os modos grandes e pequenos de lhe opor obstáculos… Os setores conservadores apontam para o desgaste do papa argentino, alavancam a fadiga que pode surgir com a repetição das suas exortações. Difundem o temor de que Francisco está construindo uma “outra Igreja”, saindo dos trilhos da tradição, da doutrina e da reta interpretação da palavra de Deus… Há quem se rebele contra a ideia de que Francisco diminui a “sacralidade da pessoa papal”. Quando Francisco condena a fofoca e a circulação de calúnias dentro dos aparatos, ele pensa nos sabotadores que falam em voz baixa… Não se deve subestimar nem mesmo a oposição inerte daqueles que na Cúria estão incertos em relação ao seu futuro e ao seu papel, e sentem que a estabilidade dos ditames tradicionais vacila… Há quem liquide com desencanto as suas palavras, especialmente sobre o tema da pobreza. Há uma rede subterrânea de interesses ramificados, que olha com suspeita e incômodo para as reformas… (do livro de Marco Politi, Francesco tra i lupi)

Do livro, diz a editora, em italiano:
È il leader più influente del pianeta. Si è prefisso un’impresa gigantesca: riformare la curia e rinnovare la Chiesa. Ma dietro le quinte la lotta è sempre più aspra. Il tempo è poco. La posta in gioco è la fisionomia del cattolicesimo di domani. Ha spezzato l’immagine di una Chiesa matrigna, ha rifiutato la pompa imperiale, non conosce barriere tra credenti e non credenti, nessun pontefice europeo ha vissuto come lui la miseria degli emarginati, è vicino alle angosce di uomini e donne di ogni credo. È immerso nella modernità, pratica la tenerezza e la compassione. Ma in Vaticano crescono le resistenze ai suoi audaci programmi di rifondazione della Chiesa come la partecipazione dei vescovi al governo ecclesiale, l’inserimento di donne ai vertici decisionali, l’approccio nuovo a divorziati e omosessuali. Ripulire lo Ior e le finanze vaticane è una fatica immane. L’episcopato italiano è un problema per il papa argentino. La rivoluzione è agli inizi: l’esito è incerto e il tempo non è molto. “Francesco tra i lupi” è la storia, mai raccontata prima, delle sfide nascoste alla rivoluzione di Bergoglio e dell’opposizione al papa più popolare dei nostri tempi, con particolari inediti sulla sua elezione. 

:: Os lobos de Francisco. Entrevista com Marco Politi – Notícias: IHU On-Line 08/06/2014
Uma ampla conversa com o vaticanista Marco Politi, autor de Francesco tra i lupi: Il segreto di una rivoluzione. Consensos verdadeiros, consensos da boca para fora, oposições amplas e latentes. Muitos blogs católicos são conservadores. O papa está consciente das resistências dentro do mundo católico. Uma estratégia inclusiva. Os meios de comunicação como instrumento para provocar o debate. O afastamento dos jovens, especialmente das garotas, com previsíveis dificuldades graves na transmissão da fé. A reportagem é de Giuseppe Rusconi, publicada no sítio Rosso Porpora em 04/06/2014 (link para o original italiano logo abaixo).

:: Marco Politi: I lupi di Francesco? Non vengono da Gubbio – Giuseppe Rusconi: Rosso Porpora – 4 Giugno 2014
Ad ampio colloquio con il vaticanista Marco Politi, autore di “Francesco tra i lupi. Il segreto di una rivoluzione”. Consensi veri, consensi a fior di labbra, opposizioni latenti ed estese. Tanti blog cattolici sono conservatori. Il Papa è consapevole delle resistenze all’interno del mondo cattolico. Una strategia inclusiva. I media come strumento per lanciare il dibattito. L’allontanarsi dei giovani, in particolare delle ragazze, con prevedibili difficoltà gravi nella trasmissione della fede.

Leia Mais:
Francisco

Biblistas Mineiros publicam a Estudos Bíblicos 120

Acabo de receber o n. 120 da revista Estudos Bíblicos, de out/dez de 2013, produzida pelos Biblistas Mineiros, grupo do qual faço parte. São 10 artigos que ocupam quase 200 páginas.

Seu título: A volta de Babel: a Bíblia e os megaprojetos

Escreve Telmo José Amaral de Figueiredo no editorial: “As contribuições de nossos colegas biblistas, neste número de Estudos Bíblicos, procuram mostrar como a Bíblia é crítica em relação aos projetos imperialistas ou governativos que não visam o benefício do povo, mas o aumento e perpetuação do poder, da riqueza e da fama dos que comandam a sociedade”.

O que dizem os artigos desta Estudos Bíblicos?

:: Grandes projetos na Bíblia e a resistência do povo – Gilvander Luís Moreira
Gilvander nos apresenta um amplo leque de grandes e impopulares projetos descritos em perspectiva crítica pela Bíblia, como a construção da torre de Babel, o bezerro de ouro, o gigante de pés de barro do livro de Daniel, o mercado no entorno do Templo de Jerusalém, o comércio ao redor da deusa Ártemis em Éfeso e o dragão do Apocalipse. O comum a todos estes textos é, justamente, a resistência popular aos megaprojetos idolátricos que visam não o bem das populações camponesas, da periferia dos grandes centros urbanos e das nações submetidas ao poder imperial.

:: Gn 11,1-9: Contramito torre de Babel ao mito da fundação de Babilônia – Jacir de Freitas Faria
Jacir propõe-nos o “contramito” de Gn 11,1-9, a torre de Babel, como crítica ao poderio babilônico. O destino dos impérios assassinos e opressores está nas mãos de Deus. A “confusão” e o conflito são subjacentes aos projetos que deixam o povo de fora e tentam impor a visão e a interpretação dos poderosos.

:: A sabedoria do pobre salva a cidade. Leituras de Eclesiastes 9,14-16 – Wolfgang Gruen
Gruen nos mostra que, como antídoto contra a megalomania  dos poderosos, a Bíblia em Ecl 9,14-16 nos apresenta a sabedoria do pobre, a qual difere totalmente daquela dos que planejam a “cidade” (a sociedade) sem levar em conta o seu povo. A sabedoria, diz Gruen, “é mais que acumulação de saberes, sabenças. É um saber depurado: prioriza o que importa e, nele, seu sentido e relevância”. O pobre possui aquela desconfiança sábia que lhe faz ter a prudência necessária perante os grandes e ricos projetos. O sábio pobre tem como enxergar a situação, e dar passos para furar o cerco, cultivando a utopia e a esperança.

:: Jeremias, profeta crítico do poder imperial. A hegemonia e a grandeza babilônica, numa leitura profética da história, à luz da fé – Jaldemir Vitório
Vitório nos ajuda a compreender a atitude do profeta Jeremias diante da dominação babilônica e as tentações de pactos equivocados com outros poderes, neste caso, o Egito. Diante das ameaças e perigos de dois grandes impérios, como agir, qual critério adotar? Jeremias propõe não se encantar nem se amedrontar por demais diante dos impérios. Eles não são eternos, seus projetos não duram para sempre. Quanto maior for a tirania deles, maior será sua queda. No entanto, ele não defende uma atitude inconsequente e suicida contra a Babilônia. Nesse caso, a prudência cheia de esperança é a alternativa.

:: Religião e formação de classes na antiga Judeia – Airton José da Silva
Existem, quer concordemos ou não, classes em nossa sociedade. Airton resume e comenta o livro de H. G. Kippenberg, Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. Os sistemas persa, grego e romano, ao imporem leis em conflito com as tradições familiares de Israel, são geradores de escravidão, favorecendo a concentração de terras, a expropriação e o empobrecimento da maioria da população rural na antiga Judeia. Kippenberg nos mostra como, face a tal situação, a tradição religiosa judaica se uniu a duas tendências antagônicas: a tendência à formação de classes, por um lado, e, por outro lado, a tendência à solidariedade, formando, assim, dois complexos divergentes de tradição que fundamentam os conteúdos religiosos dos movimentos judaicos de resistência contra o domínio imperial estrangeiro.

:: Resistindo à globalização: os Macabeus – Neuza Silveira de Souza e Maria de Lourdes Augusta
Neusa e Maria de Lourdes, por sua vez, nos apresentam a revolta dos Macabeus como símbolo da reação anti-imperial. O modo de vida e a organização social promovidos pelo helenismo são o foco da atenção dos livros dos Macabeus, nos quais se mostra que nem todos os projetos de progresso e desenvolvimento político e econômico se traduzem em reais melhorias para a vida das pessoas, especialmente dos pobres. A fidelidade à aliança e às tradições alimentará e definirá a resistência a esses projetos autoritários.

:: O cego Bartimeu e a pastoral do espetáculo – José Luiz Gonzaga do Prado
José do Prado analisa a cena do cego Bartimeu em Mc 10,46-52.  Numa sociedade do espetáculo, dos projetos faraônicos e do consumismo, os indivíduos acabam por assumir essa ideologia em suas próprias vidas. Ele destaca que o nome desse cego pode significar “filho da honra/glória”. Portanto, alguém fanático pelo prestígio, pelo aplauso, pela vontade de brilhar, colocar-se em evidência. Ele é cego “porque não vê o outro, não enxerga outra coisa que não a própria glória; é mendigo porque vive mendigando aplausos; está sentado porque não anda, não dá um passo, nada faz que não sirva para a própria glória; e está à beira do caminho, porque fica à margem da história”. Esse cego seria uma projeção dos discípulos de Jesus, que estão sujeitos às tentações propostas por essa sociedade. A libertação das pessoas é passar a “ver”, a enxergar o Messias que está diante delas.

:: Paulo, os jogos e a linguagem esportiva – Zuleica Aparecida Silvano
O esporte representa, sem dúvida, um dos principais componentes do mundo do espetáculo em todos os tempos e era muito valorizado no mundo helênico. Zuleica nos mostra como Paulo soube utilizar com maestria a terminologia esportiva em suas cartas. Ela constata que o “uso da linguagem e imagens desportivas, em Paulo, é semelhante ao uso simbólico-metafórico que verificamos no livro da Sabedoria, mormente pra ilustrar elementos do agir cristão”. Paulo faz uso da linguagem que apela para a luta, a conquista, a competição, a fim de descrever a atitude que deve mover o cristão em sua missão evangelizadora.

:: Espetáculos de derrota no século XXI – Tereza Virgínia Ribeiro Barbosa
Tereza Virgínia, por sua vez, trabalha com a noção de “o caminho dos frágeis” presente no pensamento paulino. Seu propósito é contradizer a lógica da competição que há no mundo atual, a qual privilegia o campeão, o vencedor, mostrando que na fraqueza encontra-se algo da excelência humana, isto é, sua vulnerabilidade. Ela conclui que “somos responsáveis uns pelos outros, e as nossas fragilidades podem ser nossa fortaleza”.

:: A Prostituta Babilônia – Leitura de Apocalipse 17 e 18 – Johan Konings
Konings, no último artigo da revista, faz uma leitura dos capítulos 17 e 18 do Apocalipse no contexto do atual domínio exercido pelo mercado sobre a sociedade mundial, de modo especial na América Latina, considerando igualmente o contexto que originou estas páginas. Estes dois capítulos celebram a condenação de “Babilônia”: o 17 a associa ao nunca nomeado império romano, enquanto o 18 insere a derrota do império na tradição profética de denúncia das grandes cidades dominadoras. Segundo Konings, o “Apocalipse nos ensina a ver a figura idolátrica por detrás do sistema do comércio mundial, e não precisamos de muita imaginação para ver a mesma coisa hoje”.