André Wénin: eu proponho a Bíblia para pensar

Estes não são textos de catecismo, nem são dogmáticos. Mas são histórias. Eu proponho a Bíblia para pensar. Em outras palavras, eu diria que tais textos não nos dão certezas. Eu me distancio da dogmatização desses textos, no sentido do que eles pretensamente diriam a verdade acabada. Os textos não são teologia, mas são relatos de questões teológicas. Servem para nos ajudar a refletir sobre tais questões teológicas, e não para nos dar certezas. 

“Um trabalho de exegese e de transposição para compreender a Bíblia em nossos dias. Esse é um dos grandes esforços empreendidos pelo exegeta belga André Wénin, que está na Unisinos de 18 a 20 de março [de 2013] ministrando diversas atividades ligadas a uma análise do primeiro livro bíblico, o Gênesis. O evento faz parte do cronograma da 10ª Páscoa IHU – Ética, arte e transcendência, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. ‘É preciso ter em consideração que em suas origens a Bíblia foi escrita em hebraico, portanto se trata de uma matriz cultural radicalmente diferente da grega, latina e mesmo europeia’, disse na manhã desta segunda-feira, na abertura do curso Aprender a ser humano. Um estudo de Gênesis 1–4.

(…) Ao iniciar sua fala, André Wénin assinalou que os textos a serem estudados não são ‘textos de catecismo, nem são dogmáticos. Mas são histórias’. E acrescentou: ‘Eu proponho a Bíblia para pensar. Em outras palavras, eu diria que tais textos não nos dão certezas. Eu me distancio da dogmatização desses textos, no sentido do que eles pretensamente diriam a verdade acabada’. Os textos, continuou, não são teologia, mas são relatos de questões teológicas. Servem para nos ajudar a refletir sobre tais questões teológicas, e não para nos dar certezas. A leitura que Wénin propõe se baseia numa leitura narrativa dos textos.  Não se trata de uma exegese histórica, portanto. O que interessa mais a esse pesquisador é lê-los como relatos e o apreender o que eles têm a dizer sobre os humanos em sua existência”.

Leia o texto completo:
O verdadeiro poder de Deus é o poder de reter-se. André Wénin, exegeta belga, analisa Gênesis 1-4.

Em Notícias: IHU On-Line – 19/03/2013. A reportagem é de Márcia Junges.

Publicações de André Wénin na Loyola:

. O homem bíblico: Leituras do primeiro Testamento (2006)
. De Adão a Abraão ou as errâncias do humano: Leituras de Gênesis 1,1-12,4 (2011)
. José ou a invenção da fraternidade: Leitura narrativa e antropológica de Gênesis 37-50 (2011)
. O rei, o profeta e a mulher: Olhares sobre os primeiros reis de Israel (2018)

Leia Mais:
Decálogo, a revelação de Deus e caminho para felicidade? com André Wénin
Bibliografia de André Wénin

Resenhas na RBL – 17.03.2013

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Resenhas na RBL – 08.03.2013

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Ultraconservadores em estado de choque com o Papa Francisco

A insatisfação dos católicos ultraconservadores começou na noite de quarta-feira, no mesmo instante em que o nome de Jorge Mario Bergoglio foi anunciado como Papa Francisco. Desde então, fóruns tradicionalistas na internet veem como apocalíptico o futuro da Igreja nas mãos do argentino.

A reportagem de Andrei Netto foi publicada em O Estado de S. Paulo, hoje, 19/03/2013. O título: Estilo informal do papa revolta ultraconservadores.

O mesmo papa que será celebrado por milhares de pessoas na Praça São Pedro na manhã de hoje já é desprezado por grupos ultraminoritários da Igreja. Cristãos que romperam com Roma desde a aprovação do Concílio Vaticano II, há 50 anos, os “tradicionalistas” estão em estado de choque com a escolha de Francisco como novo líder católico.

A reportagem é de Andrei Netto e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 19-03-2013.

Para eles, um papa que se define como “bispo de Roma”, e não como sumo pontífice, que pede a bênção dos fiéis antes de lhes conceder a sua, que troca a cruz de ouro pela de ferro e prega uma Igreja “pobre e para os pobres” não é digno de ser o sucessor de Pedro.

A insatisfação dos católicos ultraconservadores começou na noite de quarta-feira, no mesmo instante em que o nome de Jorge Mario Bergoglio foi anunciado como papa Francisco. Desde então, fóruns tradicionalistas na internet veem como apocalíptico o futuro da Igreja nas mãos do argentino. Entre os mais moderados, as palavras são de decepção profunda. Para os mais radicais, Bergoglio não será jamais reconhecido como papa, por ser visto como reformador, progressista e ligado à Teologia da Libertação.

Francisco também é criticado por sua disposição ao diálogo com judeus, muçulmanos e por supostamente ser “amigo” dos “sectos” maçônico e protestante. Não bastasse, o novo pontífice tem sido acusado de ser “inimigo da Santa Missa” e da “santa doutrina católica” por ser defensor do Concílio Vaticano II, o verdadeiro vilão aos olhos dos tradicionalistas.

Nos fóruns online, os textos não falam Habemus Papam, mas Habent Papam (“Eles têm um papa”). “O trono de Pedro continua vago”, diz o site Catholique Sedevacantiste, da França, em um artigo denominado Bergoglio, amigo íntimo dos judeus, inimigo de Nosso Senhor. Tradicionalista francês, Clément Lecuyer se refere a Francisco como “João Paulo IV”, herdeiro de uma linhagem de “falsos papas” formada por João XXIII, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI.

“Não é só sua linguagem, mas todo o seu passado. O problema é de adesão aos valores do catolicismo. O que é grave é sua linha miserabilista e terceiro-mundista, que é inaceitável. Na Itália e na Europa vamos viver em breve uma fuga imensa de fiéis”, disse ao Estado Maurizio Ruggiero, secretário do Comitata Antirisorgimentali, um grupo ultraconservador italiano.

Ruggiero é um dos porta-vozes de um movimento chamado Sedevacantista, uma referência à Sé Vacante, o período em que o Vaticano não tem papa.

Para esses ultraconservadores, nenhum papa desde o Concílio Vaticano II é reconhecido como tal, por “violarem” os ritos do catolicismo tradicional, como a missa em latim. A cada novo conclave, grupos como o Comitata Antirisorgimentali esperam pela nomeação com a esperança de que o novo pontífice suspenda as regras do Concílio e encerre o diálogo com outras religiões.

Para eles, Francisco é o oposto do que se espera do líder católico. “É impossível não ser um sedevacantista com Francisco no Vaticano”, afirma Ruggiero. “Se pensar que um papa católico vai se encontrar com judeus e muçulmanos, como nos representará, se está escrito no nosso evangelho que só a Igreja Católica salva?”

A desilusão com Francisco é compartilhada por Michael Brendan Dougherty, jornalista e correspondente da revista The American Conservative. Para ele, Francisco é um retrocesso em relação a Bento XVI, que liberou a missa tradicional em latim. “As medidas não foram aplicadas na diocese do cardeal Bergoglio.”

O vaticanista italiano Marco Politi adverte para o fato de que os grupos mais tradicionalistas estão perdendo a paciência. “Eles já ficaram extremamente irritados quando Bento XVI renunciou, já que reduziu a imagem do papa, transformando-o em apenas mais um dos cardeais”, lembrou. “Agora, Francisco mantém a tendência de se mostrar mais próximo do povo, dispensando e mudando ritos.”

Fonte: Estadão: 19/03/2013. O texto pode ser lido também em IHU On-Line – 19/03/2013.