Lançado o Big Linux 12.04 Final

BigBruno anunciou no fórum que foi lançado hoje, 13.08.2012, o último iso do Big Linux: BigLinux 12.04 Final.

BigLinux 7.10

Como sabemos, o BigLinux parou na versão 12.04.

Mas há novidades: BigLinux 19.04.1

BigLinux foi originalmente baseado no Kubuntu, mas a partir de 2017 a distribuição renasceu baseada no deepin. Em seguida, ofereceu dois ambientes de desktop – Cinnamon e Deepin. Em 2021 a distribuição trocou novamente de base e ambiente de desktop, migrando para Manjaro Linux rodando KDE Plasma.

 

Conheça a história do BigLinux em

Resumo do BigLinux, de 2004 a 2019 – Por BigBruno: 31 de agosto de 2019

De vez em sempre recebo alguma mensagem perguntando sobre a história do BigLinux, existe muito mais conteúdo no antigo fórum, mas por estar espalhado e ter milhares de mensagens no fórum, não é muito prático encontrar o conteúdo.

Então fiz um “pequeno” resumo da história do BigLinux, da primeira versão até a 19.04. O texto ainda assim ficou longo, pois, são 15 anos de história. Se fosse citar detalhadamente tudo que aconteceu em todo esse período, seria um livro, ou melhor, um big livro.

O primeiro BigLinux surgiu em 2004, era uma modificação do Kurumin, que era feito para funcionar em mini CD, que suporta apenas 180 MB, então o sistema tinha poucos programas instalados.

Então vamos lá, de 2004 a 2019:

1.x

O BigLinux começou sendo feito para CD normal, que cabe até 700 MB, mas no começo não utilizava tudo, nas primeiras versões ocupava pouco mais de 500 MB, porém, a lista de programas já era muito maior, com suíte Office completa, suporte a programas em java, editor de imagens e etc.

2.x

O BigLinux 2.0 teve um destaque muito grande por ser a primeira distribuição a disponibilizar um desktop 3D, aonde as janelas poderiam ser rotacionadas ou usar semi transparência. Isso fez a distribuição, que era disponibilizada só em português, virar notícia em diversos países. Na época o Google Translator ainda não existia, então eu não consegui identificar sequer em que língua estavam escritas algumas notícias sobre o BigLinux.

A versão 2.0 também foi lançada em uma revista que vinha com o CD incluso, uma curiosidade é que eu não fui informado do lançamento e sequer tive o nome mencionado na revista, apenas incluíram o CD, fizeram uma matéria falando sobre e lançaram nas bancas.

Na versão 2.1 ocorreram algumas melhorias e foi a primeira distribuição a ter opção de chamadas com o uso da webcam no MSN. Nessa época existia praticamente um monopólio do MSN como comunicador online e esse recurso era muito procurado.

Em pouco tempo começaram a ocorrer diversos problemas nas atualizações, essa foi a versão do BigLinux com o maior número de programas instalados, só navegadores WEB eram 4, tinha emuladores, servidor apache + mysql + php…

3.x

Então na versão 3.0 o caminho foi diferente, mudança de base do Debian para Ubuntu e um sistema com menos programas, porém, muito mais estável.

Nessa época o sistema de live-CD do Ubuntu era muito lento, então utilizei o mesmo método de live-CD utilizado no Knoppix, como ocorreu nas versões anteriores do BigLinux, porém, com repositórios Ubuntu.

Em relação aos recursos, manteve a opção do desktop 3D, incluiu um Desktop de uma empresa aqui do Brasil, o TDE, que não existe mais a muitos anos, teve uma grande redução nos programas já instalados, mas incluiu com forma fácil de instalá-los. Também adicionou suporte a escrita em partições NTFS, uma novidade na época.

Vale um parágrafo específico para o discador incluso no BigLinux 3.0, nessa época a internet discada ainda era muito popular, haviam provedores de internet discada entregando CDs por toda parte, porém, eles não funcionavam em Linux, era preciso descobrir o número do telefone do provedor e fazer a configuração manualmente, para esse lançamento do BigLinux nós fizemos o discador que deve ter sido o maior cadastro de número de provedores do Brasil, contava com diversos provedores de todos os estados, bastava o usuário escolher o seu estado e aparecia uma lista de números informando qual o provedor, ao selecionar a configuração era feita automaticamente, eu fiz a parte de programação e o principal cadastrador de números foi o Victor F. R. Neto, que contribuiu com o BigLinux por um bom tempo.

4.x

O BigLinux 4 foi uma evolução do 3, mas contou principalmente com a ajuda do Lunimare, um usuário do fórum que contribuiu muito com o visual do sistema, criou o logotipo que é utilizado até hoje e ajudou a fazer diversas ferramentas para o BigLinux 4. Essa versão possuía 8 opções de temas disponíveis já na hora de ligar o computador, além de uma ferramenta que facilitava a criação de outros temas, o Big-Desktop.

Essa foi a última versão com opção do desktop 3D, mas também tinha opção de usar o compiz, que gerava diversas animações ao abrir, fechar, mover ou minimizar as janelas, um dos efeitos que as pessoas mais gostavam era ver a janela pegar fogo ao ser fechada.

Essa versão foi lançada em 2008, realmente foi um trabalho extremamente detalhista, até hoje de vez em quando recebo alguma mensagem dizendo que foi o melhor sistema que já utilizaram.

11.10 e 12.04

Então veio o fim do KDE3 e com ele o fim do Kommander, a principal ferramenta usada no desenvolvimento do BigLinux, inviabilizou que uma próxima versão fosse simples de se fazer, versões de teste já estavam sendo feitas em 2009, mas só em janeiro de 2012 foi lançado um novo BigLinux.

Dessa vez no lugar do Kommander foi utilizado o BigBashView, uma ideia que tive de fazer shellscript e o resultado ser renderizado em um navegador WEB. Eu não consegui fazer funcionar, porém, falei com um amigo, o Thomaz dos Reis e ele criou o BigBashView, que é utilizado até hoje no BigLinux.

Atualmente existem diversos projetos nas mais diversas linguagens que renderizam suas saídas em navegadores WEB, recurso chamado atualmente de webview.

Para deixar o versionamento do BigLinux mais parecido com o do Ubuntu, de onde é derivado, essa versão foi chamada de 11.10, e ainda em 2012, teve a versão 12.04. Contando com ferramentas de restauração do sistema em caso de falhas, gerenciamento de servidores, e mais uma grande quantidade de facilidades.

Vale citar que foi a última versão com suporte a conexão discada, acredito que essa tenha sido a última distribuição a dar suporte a esse tipo de conexão, que em 2012 já estava sumindo do mercado.

Logo após o lançamento da versão 12.04 eu decidi por um caminho que era necessário, apesar de não ter sido produtivo.

União Livre

Desde 2005 já se falava de uma união entre as distribuições nacionais, para fazer algo como uma super distribuição, eu sempre fui a favor, alguns se diziam favoráveis também, mas nunca saía da conversa para a prática, então em 2012 entrei em contato com responsáveis por algumas distribuições nacionais que gostaram da ideia de união.

Para dar o pontapé inicial, eu anunciei que estava parando com o BigLinux, no momento a distribuição nacional de maior popularidade, para criar um projeto maior, chamado de União Livre, aonde todos poderiam aderir para criar uma só distribuição. Aconteceu que basicamente se juntaram a esse projeto pessoas que utilizavam o BigLinux, nenhuma outra distribuição aderiu.

Além de mim os dois mais atuantes foram o Rafael Neri e o Paulo Giovanni, então fizemos a distribuição de nome Kaiana, e a versão foi 14.04, já que a maior parte foi feita por mim e os principais colaboradores eram usuários do BigLinux, acabamos aproveitando boa parte do que existia do BigLinux 12.04 e lançamos a Kaiana 14.04. É quase um BigLinux 14.04.

Então ao descobrir que a união faz açúcar, mas é a competição que faz sistemas, conversamos sobre o que fazer e acabamos decidindo por deixar de lado o projeto União Livre e a distribuição Kaiana, já que são nomes que não se fixaram e o nome BigLinux continuava sendo o mais procurado.

Utilizando o Deepin como base

A distribuição Deepin estava crescendo muito e percebi que sem muito esforço conseguiria fazer diversas melhorias, tentei contato direto com eles e fiz várias sugestões, nenhuma foi aceita. Então comecei a fazer uma versão modificada, que em seu lançamento foi chamada de BigLinux 7.10, em referência à data do lançamento, o mês 10 do ano 2017.

Com uma seleção diferente de programas, a inclusão do desktop Cinnamon além do desktop do próprio Deepin, adição do suporte ao uso em modo Live, melhorias em diversas configurações, principalmente do apt-get, foi uma versão de relativo sucesso.

Essa foi a única versão do BigLinux sem o desktop KDE e também foi a que trouxe menos diferenciais em relação à distribuição de onde foi derivada. Justamente a falta do KDE e a dificuldade de ter um KDE estável e atualizado utilizando a base Deepin, me fez deixar de usar o BigLinux e voltar ao Debian.

19.04 a volta ao Ubuntu e o KDE

BigLinux 19.04Utilizando o Debian, fiz testes com o formato de partição BTRFS e passei alguns meses testando configurações, então em meados de 2018 comecei a modificar o Debian para fazer uma versão do BigLinux, grande parte do trabalho foi em torno de otimizar o sistema para utilizar partições BTRFS com compactação ZSTD, um participante do grupo do BigLinux no Telegram ajudou nessa parte, o Tiago J. Silva.

Após vários meses fazendo essa nova versão com base Debian, também estava com dificuldades de manter o KDE em versão atualizada, aproveitei que ainda não havia sido lançado e acabei migrando de volta ao Ubuntu, de onde nunca deveria ter saído.

Essa versão, 19.04 traz mais ferramentas específicas do BigLinux do que a anterior:
• De volta com o tradicional painel de instalação e configuração do servidor Apache + Php + MySQL.
• Disponibilizando 3 opções de temas já na hora de ligar em modo Live.
• Mais de 30 webapps, com uma técnica simples que desenvolvemos, foi possível adicionar toda essa quantidade com muito pouco uso de armazenamento, a soma de todos os webapps não chega a 1 MB.
• Uma interface simples para instalar e remover versões de kernel, configurar drivers e o Grub.
• Interface simples para instalar fontes proprietárias muito comuns, por exemplo, Arial e Times New Roman, além de suporte a DRM e o plugin do Flash.

Porém, o ponto principal é o suporte ao sistema de arquivos BTRFS com compactação ZSTD já com todas as configurações necessárias para o melhor desempenho, desde configuração do gerenciador de boot, Grub, a criação automática de snapshots e configurações específicas, por exemplo, no gerenciador de pacotes Apt.

Dúvida recorrente, o suporte

Eventualmente me perguntam, como fica o suporte de cada versão, por exemplo, agora que ocorreu a volta ao BigLinux com Ubuntu e KDE, como fica o usuário que instalou o BigLinux com Deepin?

Desde o BigLinux 2.1, percebi que um projeto com pouca estrutura como é o BigLinux, deve se preocupar em não quebrar a compatibilidade com o sistema de onde foi derivado, dessa forma, ainda que eu não faça mais nenhuma atualização, o projeto base, no caso o Deepin, já disponibiliza todas as atualizações necessárias ao bom funcionamento do sistema.

Portanto, se você utiliza o BigLinux 7.10, pode continuar a utilizá-lo indefinidamente, enquanto o Deepin continuar mantendo os repositórios atualizados.

Com a versão 19.04 você continua não dependendo que o projeto BigLinux mantenha atualizações, continuamos lançando melhorias, mas caso não façamos, as atualizações vindas do Ubuntu já são o suficiente.

Conclusão

Desde o começo do BigLinux, um dos principais objetivos sempre foi ter um sistema que após instalar não seja necessário gastar tempo com configurações, e se for necessário, que seja um processo rápido e fácil. Inclusive trazendo recursos que, em geral, só estavam ao alcance de usuários avançados, já configurados e funcionando, ao alcance de qualquer pessoa.

A cada versão fazemos tudo ao nosso alcance para entregar o melhor resultado, e sempre conseguimos superar nossas próprias expectativas.

Para concluir, deixo um agradecimento geral aos que colaboram com o BigLinux, para que o projeto continue sempre evoluindo e sendo cada vez mais reconhecido, em especial aos que participam do Fórum, do grupo no Telegram e do grupo no Facebook.

Espinosa, um dos pais da moderna crítica bíblica

Baruch Spinoza. Um convite à alegria do pensamento

Apontado como um dos grandes racionalistas na assim chamada Filosofia Moderna, Baruch Spinoza (1632-1677) é considerado o “pai” do criticismo bíblico moderno e um dos primeiros pensadores a formular uma potente crítica contra as ideologias estabelecidas. Filósofo de poucas obras publicadas em vida, em função da excomunhão e censura que lhe foram infligidas pela comunidade hebraica de Amsterdã, o holandês inspira a discussão de capa da IHU On-Line desta semana. Contribuem para o debate Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Marilena Chauí, Diego Tatian, César Schirmer dos Santos, Homero Santiago, Bernardo Barata Ribeiro, Marcos Gleizer, Lia Levy, Mariana de Gainza, Vittorio Morfino e Laurent Bove.

Um trecho da entrevista de Maria Luísa Ribeiro Ferreira, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa:

IHU On-Line – Por que Spinoza é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno?

Maria Luísa Ribeiro Ferreira – Tal como muitos filósofos seus contemporâneos, Spinoza interessou-se pelo método, encontrando nele um guia que o pudesse conduzir à verdade. E essa busca o levou a procurar uma hermenêutica suscetível de se aplicar eficazmente ao texto bíblico, separando os produtos da imaginação e enfabulação do que poderia ser aceito como verdade. O Tratado teológico-político (TTP, 1670) é uma das suas obras maiores e, como o nome indica, tem uma dupla preocupação: por um lado, demarcar os territórios da teologia e da filosofia e, por outro, refletir sobre a liberdade, nomeadamente a liberdade de expressão, mostrando que ela em nada interfere com o governo de um Estado mas, pelo contrário, era essencial para assegurar a paz e a estabilidade.

O TTP apresenta um método original de interpretação dos textos sagrados. Dado que o seu desconhecimento de grego impedia Spinoza de se debruçar sobre os Evangelhos, circunscreveu-se ao Antigo Testamento tentando nele uma exegese que permitisse detectar incongruências e separar o joio do trigo. Os pressupostos dessa leitura iconoclasta encontram-se no capítulo VII da referida obra, intitulado Da interpretação da Escritura.

Ao longo dos tempos os textos sagrados foram objeto de múltiplas interpretações. Spinoza analisa-as, recusando a maior parte delas. Assim critica as leituras místicas, alegóricas e midrashicas, classificando-as como fantasias. Contesta a perspetiva de Maimónides , que pretendia subordinar o texto bíblico à razão, mas também ataca a interpretação de Alphakar, a qual abdica da luz natural e nos propõe uma hermenêutica norteada pela fé (TTP, caps. VII e XV).

A originalidade da metodologia spinozana assenta num preceito básico: a interpretação da Escritura por si mesma (TTP, cap. VII). A ele anexa cinco vias de leitura que devemos ter em conta: a via naturalista, que implica uma igualdade de tratamento entre a Natureza e os livros sagrados, considerando ambos como escrita divina e selecionando dos últimos aquilo que poderá interessar; a via histórico-contextual, que exige uma atenção às circunstâncias em que os acontecimentos ocorreram e ao modo como os diferentes livros foram selecionados para integrar o corpus canônico; a via psicológica, que atende à personalidade, formação intelectual e costumes dos diferentes autores; a via filológica, pela qual devemos ter em conta o universo linguístico dos judeus, analisando as expressões e termos utilizados; a via comparativa, que nos permite detectar incongruências entre os diferentes textos, levando-nos a interpretar alguns deles de um modo metafórico. Essa metodologia, que na altura foi atacada como herética, é hoje parte integrante dos estudos bíblicos e tais vias são aceitas como achegas hermenêuticas imprescindíveis.

Fonte: IHU On-Line 397 – Ano XII – 06.08.2012

 

Há alguns anos publiquei um artigo e um capítulo de um livro sobre a leitura sociológica e/ou socioantropológica da Bíblia. Aqui, quero apenas lembrar que do século XV ao século XVIII, acontecem dois deslocamentos no pensamento humano na Europa:

O primeiro é a passagem da especulação escolástica à filosofia da natureza. Esta, a natureza, passa a ser entendida e explicada experimentalmente. Este fenômeno se dá com a ascensão da burguesia, na forma de capitalismo mercantilista. É importante observarmos que Galileu (1564-1642) destrói a anterior concepção do universo como sistema imutável e hierarquizado, governado por Deus. Reduz o universo a um mundo geométrico, a uma física mecanicista.

O segundo deslocamento se dá quando se passa da análise da natureza para a análise da sociedade. Percebe-se, então, que a organização da sociedade não é natural, mas histórica. Questionam-se, filosoficamente, os fundamentos da sociedade, a partir da ótica da nova ordem burguesa. É uma crítica ao poder absoluto, no qual Deus criava, organizava e geria o mundo, através da Igreja e de suas leituras da realidade. É de se notar: Descartes (1596-1650) descobre o sujeito pensante autônomo, coloca a consciência como a medida e a forma do ser, marcando uma definitiva virada antropocêntrica.

Na questão da leitura da Bíblia dois nomes são importantes no século XVII:
. um racionalista: ESPINOSA (1632-1677)
. um empirista : HOBBES (1588-1679)

Ambos reivindicaram o uso da razão natural para uma correta interpretação dos textos, libertando-os de sentidos dogmatizantes pré-fixados pelos poderes dominantes.

Espinosa [=Spinoza], judeu, viveu  numa movimentada Holanda que tinha um Estado funda­do na liberdade burguesa, ou seja, liberdade de empresa e liberdade de consciência. Valorizava-se a atividade econômica e promovia-se a tolerância religiosa. A alta bur­guesia adotou o calvinismo liberal, contra o calvinismo ortodoxo – este condenava o desenvolvimento econômico como contrário à Bíblia -, adotado por todas as camadas prejudicadas com o desenvolvimento do mercantilismo.

No Tratado teológico-político – há cópias online –  escrito em 1665 e publicado em 1670, Espinosa inaugura o método histórico-crítico de leitura da Bíblia. Expõe-o no cap. VII e trata do Pentateuco no cap. VIII [cf. Tratado teológico-político. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2008, 520 p. – ISBN 9788533624177].

O método histórico-crítico de Espinosa tem três princípios ou linhas de argumen­tação:
. a Bíblia não é um texto especulativo, mas religioso, moral e político
. a interpretação não deve ocupar-se com o problema da verdade e da racionalidade (no sentido metafísico, escolástico), pois não está lendo um texto especulativo, mas deve buscar o sentido dos relatos, compreendendo sua linguagem, as circunstâncias de sua ocorrência, seus personagens e seus destinatários
. o intérprete não pode buscar o sentido dos textos fora deles e não pode determinar tal sentido submetendo-os a critérios especulativos, metafísicos, escolásticos, mas precisa buscá-lo nos próprios textos bíblicos e no confronto entre eles para solucio­nar as dúvidas ou contradições.

A. LODS, Histoire de la litterature hébraique et juive: Des origines à la ruine de l’État juif (135 après J.-C.). Paris: Payot, 1950, p. 89-90 diz: “Se os resultados da exegese espinosista foram ultrapassados, o método não o foi. O TTP encerra o programa das ciências bíblicas tal como foi concebido e realizado pelo século XIX. Espinosa definiu o método dessas ciências: filológico, histórico e crítico. Distinguiu diferentes ramos: história da língua, história do texto, história do cânon, história da formação de cada livro, estudo das idéias dos diversos autores”.

Espinosa defende que o método hermenêutico para se ler a Bíblia deve seguir os mesmos princípios do método usado para o estudo da natureza: assim para interpre­tar a Bíblia é necessário se ter um conhecimento histórico exato dela para então se des­cobrir o pensamento de seus autores.

As dificuldades não estão no assunto, mas na língua hebraica em que o texto foi escrito. Por isso é preciso procurar o seu sentido no uso hebraico da língua hebraica.

Deve-se excluir o recurso à metáfora para conciliar razão e revelação, lendo o texto a partir de especulações exteriores ao próprio texto: Espinosa rejeita assim a leitu­ra escolástica e rejeita igualmente a leitura rabínica, pois critica o esclarecimento de um texto obscuro por outro que nada tem a ver com ele.

Por exemplo: Moisés diz que “Deus é um fogo” em Dt 4,24: “… pois teu Deus Iahweh é um fogo devorador…”. Ora, a metafísica dirá: como Deus é incorpóreo e a Bí­blia não pode conter falsidade, a fala mosaica é metafórica.

Mas, diz Espinosa, a fala mosaica é metafórica sim, só que não é por causa da especulação metafísica da incorporeidade de Deus. É que na própria afirmação hebrai­ca se sabe que “fogo” é metáfora de cólera e de ciúme. Assim, Moisés quer dizer que Deus é um deus ciumento e colérico!

No capítulo VIII do Tratado teológico-político, Espinosa mostra como Ibn Ezra, pensador judeu do século XII, já percebera que o Pentateuco não tinha sido escrito por Moisés. E Espinosa retoma seus argumentos e avança mais na mesma direção. Con­clui: “Por todas estas observações, surge mais claro que o dia que o Pentateuco não foi escrito por Moisés, mas por um outro que viveu muitos séculos depois de Moisés”. Ou ainda: “Ninguém tem fundamento para afirmar que Moisés é o autor do Pentateuco, mas, ao contrário, tal atribuição é desmentida pela razão”.

Casey x Thompson: o filho do carpinteiro

Enquanto em Londres, na arena olímpica, atletas do mundo todo mostram suas habilidades, na arena acadêmica acontece uma animada discussão em torno de um livro:

THOMPSON, T. L.; VERENNA, T. S. (eds.) ‘Is this not the Carpenter?’: The Question of the Historicity of the Figure of Jesus. London: Equinox Publishing, 2012, 224 p. – ISBN 9781845539863.

Leia:
.  O polêmico filho do carpinteiro (Lester L. Grabbe x Richard Carrier)
. Thomas Thompson: não é este o filho do carpinteiro? (Thompson x Ehrman)

E, agora, Maurice Casey x Thomas L. Thompson, em:
Is Not This an Incompetent New Testament Scholar? A Response to Thomas L. Thompson

Um trecho:

In a recent article in this journal, Thomas Thompson wrote what he described as ‘A Response to Bart Ehrman,’ though the connection is not always obvious. The purpose of this response is not generally to defend Ehrman, but to point out that Thompson is completely wrong from beginning to end. Ehrman got one main point right, and it should be at the centre of the discussion [sublinhado meu]. He commented, ‘Thompson is trained in biblical studies, but he does not have degrees in New Testament or early Christianity. He is, instead, a Hebrew Bible scholar….’ Thompson’s lack of expertise regarding New Testament Studies and Early Christianity is palpable throughout his essay.

Tudo publicado na revista online The Bible and Interpretation.

:: Quem é Thomas L. Thompson?

:: Quem é Maurice Casey?

Resenhas na RBL: 03.08.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Ann W. Astell and Sandor Goodhart, eds.
Sacrifice, Scripture, and Substitution: Readings in Ancient Judaism and Christianity
Reviewed by John Dunnill

Daniel Boyarin
The Jewish Gospels: The Story of the Jewish Christ
Reviewed by F. Stanley Jones

Jeffrey Brodd and Jonathan L. Reed, eds.
Rome and Religion: A Cross-Disciplinary Dialogue on the Imperial Cult
Reviewed by John Kloppenborg

Gonzalo Haya-Prats
Empowered Believers: The Holy Spirit in the Book of Acts
Reviewed by Nils Neumann

Larry W. Hurtado and Paul L. Owen, eds.
‘Who Is This Son of Man?’: The Latest Scholarship on a Puzzling Expression of the Historical Jesus
Reviewed by Christopher Tuckett

Yung Suk Kim
A Theological Introduction to Paul’s Letters: Exploring a Threefold Theology of Paul
Reviewed by Jason Weaver

Stefanos Mihalios
The Danielic Eschatological Hour in the Johannine Literature
Reviewed by Dirk van der Merwe

Klaus Wachtel and Michael W. Holmes, eds.
The Textual History of the Greek New Testament: Changing Views in Contemporary Research
Reviewed by Jean-François Racine

James P. Ware
Paul and the Mission of the Church: Philippians in Ancient Jewish Context
Reviewed by Angela Standhartinger

John Morgan-Wynne
The Cross in the Johannine Writings
Reviewed by David Crump

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Resenhas na RBL: 26.07.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Coleman A. Baker
Identity, Memory, and Narrative in Early Christianity: Peter, Paul, and Recategorization in the Book of Acts
Reviewed by Jean-François Racine

John Choi
Traditions at Odds: The Reception of the Pentateuch in Biblical and Second Temple Period Literature
Reviewed by John Engle

John Drane
Introducing the New Testament
Reviewed by Nijay Gupta

John Paul Heil
Philippians: Let Us Rejoice in Being Conformed to Christ
Reviewed by Peter-Ben Smit
Reviewed by Todd D. Still

Scott C. Jones
Rumors of Wisdom: Job 28 as Poetry
Reviewed by Edward L. Greenstein

Amy-Jill Levine and Marc Z. Brettler, eds.
The Jewish Annotated New Testament
Reviewed by Stephen Moyise

Michael E. W. Thompson
Where Is the God of Justice? The Old Testament and Suffering
Reviewed by Pekka Pitkanen

J. Brian Tucker
You Belong to Christ: Paul and the Formation of Social Identity in 1 Corinthians 1-4
Reviewed by Maria A. Pascuzzi

Julie Woods
Jeremiah 48 as Christian Scripture
Reviewed by Frederik Poulsen

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

O polêmico filho do carpinteiro

Estão lembrados do livro?

THOMPSON, T. L.; VERENNA, T. S. (eds.) Is this not the Carpenter?’: The Question of the Historicity of the Figure of Jesus. London: Equinox Publishing, 2012, 224 p. – ISBN 9781845539863.

Podem ler sobre ele, em artigo dos editores, aqui.

E ler mais sobre a polêmica de Thomas L. Thompson com Bart D. Ehrman em: Thomas Thompson: não é este o filho do carpinteiro?

E agora a resposta de Lester L. Grabbe, um dos autores do livro, a Richard Carrier, que resenhou a obra, em: Lester L. Grabbe Responds to Richard Carrier

:: Quem é Lester L. Grabbe?

:: Quem é Richard Carrier?

Como limpar um computador infectado

Leia este artigo em Gizmo’s Freeware:

How to Clean An Infected Computer

O artigo foi atualizado em 21/06/2018.

 

The truth is that it’s a lot easier to keep a computer malware free than it is to clean one that is already infected. However, with the advice given in this article you should be able to remove any type of malware from your computer and get it back to working order. The main problem with most malware removal guides is that you have no way of knowing if all of the infections were removed. However, with my approach you can easily tell if even just running a single scanner was able to entirely clean the infection. Thus, this can save you the hassle of having to run many different scanners and the uncertainty of whether your computer is really malware free.

Make sure you follow this article in order so as to clean the infections with as little work as possible. The idea is that most people won’t have to go any further than the first approach in order to clean their computers of active malware. Thus, effectively this article is actually much shorter than it appears to be.

Arquivada ação do PSDB contra “blogs sujos”

Procuradoria manda arquivar ação do PSDB contra “blogs sujos”

Em parecer apresentado nesta terça-feira (31), a Procuradoria Geral Eleitoral pede o arquivamento da representação apresentada pelo PSDB na qual o partido levanta a suspeita sobre o financiamento com dinheiro público de sites e blogs políticos.

Leia aqui ou aqui.

Leia Mais:
Os falsos paladinos da liberdade de expressão – Venício Lima: Carta Maior 31/07/2012
Os “blogs sujos” estão de fato se transformando em importante contraponto ao discurso homogêneo da grande mídia dominante. E isso parece ser intolerável para alguns setores – falsos paladinos – que ostentam publicamente a bandeira da liberdade de expressão e da democracia entre nós.