Dom Demétrio Valentini (São Valentim, RS, 1940), bispo de Jales – SP, falou-nos, com entusiasmo, sobre o Concílio Vaticano II, na Semana Teológica do CEARP em 2011, na tarde de 27 e na manhã de 28 de junho. Dom Demétrio era estudante de Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, quando aconteceu o Vaticano II. Morava no Colégio Pio Brasileiro, vizinho da Domus Mariae, onde estavam hospedados (também) os bispos brasileiros durante o Concílio. Viu tudo de perto, com o entusiasmo de um jovem estudante de Teologia. Beozzo, que cito abaixo, era seu colega.
Recomendo a leitura do livro de Dom Demétrio, onde o conteúdo de sua palestra poderá ser conhecido:
VALENTINI, D. Revisitar o Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulinas, 2011, 64 p. – ISBN 9788535627923.
Também transcrevo aqui, para estimular o potencial leitor, parte da apresentação do livro, feita por José Oscar Beozzo.
“O breve, mas ao mesmo tempo precioso, livro de Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales-SP, Revisitar o Concílio Vaticano II, preenche uma lacuna cada vez mais sentida em relação ao maior evento eclesial do século XX, o Concílio Vaticano II.
Cinquenta anos depois do seu anúncio pelo Papa João XXIII, praticamente desapareceu aquela geração dos bispos que participaram do Concílio e daqueles leigos e leigas, religiosos e religiosas, presbíteros, catequistas e equipes de liturgia que empreenderam, com entusiasmo e dedicação exemplares, a renovação conciliar em suas Igrejas particulares, comunidades, paróquias, pastorais, congregações religiosas e também na catequese, liturgia, teologia, formação dos leigos, leigas e presbíteros. Mesmo sem nos darmos conta, toda a nossa vida eclesial carrega as marcas da virada histórica do Vaticano II.
Para as novas gerações, o Concílio tornou-se por vezes apenas uma página da história. Revisitá-lo guiados por alguém que viveu a aventura conciliar, como jovem estudante de teologia em Roma e depois como padre e bispo, com olhar sempre atento e coração ardente e compromisso firme, é um verdadeiro privilégio.
Dom Demétrio, no seu Revisitar o Concílio Vaticano II, oferece em poucas páginas a possibilidade de entrar numa história viva, que pode e deve seguir iluminando nossa caminhada pastoral, inspirando nossa teologia e animando nossa esperança.
Em dez capítulos compactos e ágeis, ele nos devolve o Concílio em sua inteireza e complexidade. Seu livro abre-nos o apetite para tocar mais de perto os tesouros cada vez mais escondidos do Concílio.
É um convite premente para ler pela primeira vez ou reler os dezesseis documentos conciliares. Dom Demétrio, como bom pedagogo, aponta as cimeiras das montanhas e por onde devemos começar: com a Lumen Gentium, o documento sobre a Igreja, como Povo de Deus, colegialmente governado pelos bispos em comunhão com o Papa. Apresenta-o como compêndio e obra maior de toda a gesta conciliar. Ao seu lado, encontram-se as outras três Constituições, documentos mais densos, e pastoral e doutrinalmente programáticos: a Dei Verbum, sobre a Palavra de Deus; a Gaudium et Spes, sobre a presença e as responsabilidades da Igreja e dos cristãos no mundo de hoje; e a Sacrosanctum Concilium, sobre a liturgia. Ela ajudou a renovar e inculturar nossas formas de celebrar em comunidade em torno da mesa da palavra e da mesa do pão, com a participação de toda a assembleia.
Dentre os nove decretos, ele nos aconselha a começar pelo do ecumenismo, Unitatis Redintegratio, que abriu caminho para que pudéssemos estabelecer laços fraternos de afeto, comunhão e cooperação com todas aquelas Igrejas, comunidades e pessoas que, pelo Batismo, foram igualmente incorporados ao corpo único de Cristo, que é a sua Igreja. Sem o Concílio e a caminhada ecumênica por ele desencadeada, não teríamos no Brasil o Conic (Conselho Nacional das Igrejas Cristãs), as traduções ecumênicas da Bíblia, o Cebi ou, pela terceira vez, depois de 2000 e 2005, a graça de nova Campanha da Fraternidade Ecumênica, em 2010, centrada no tema: Economia e Vida.
Dentre as três Declarações conciliares, ele nos chama a atenção para a Dignitatis Humanae, sobre a liberdade religiosa, e para a crescente importância do diálogo interreligioso proposto pela Nostra Aetate, em um mundo cada vez mais plural e em intensa relação, quando não em conflito, do ponto de vista cultural e religioso.
Revisitados os eventos conciliares e seus documentos, há hoje boas alternativas para seguir aprofundando o Concílio. A Igreja do Brasil, graças em boa parte ao então secretário-geral da CNBB, Dom Helder Câmara, e ao entusiasmo do seu jovem episcopado teve atuação exemplar no Concílio e lançou-se com entusiasmo à tarefa de sua recepção e aplicação, por meio do Plano de Pastoral de Conjunto, o PPC (1966-1970). (…)
Concluímos com a palavra abalizada (…) de Dom Aloísio Lorscheider: ‘O Concílio Ecumênico Vaticano II foi um Concílio pastoral-eclesiológico. Duas são as palavras-chave para entendê-lo bem: aggiornamento (atualização, renovação, rejuvenescimento, diaconia, serviço) e diálogo (comunhão, corresponsabilidade, participação). Não veio para definir ou condenar, mas para servir e salvar'”.
Sumário do livro
Apresentação
Introdução
1. Como surgiu o Concílio Vaticano II
2. A preparação do Concílio
3. Os momentos decisivos do Concílio
4. Os assuntos quentes do Concílio
5. As ideias-força do Concílio
6. O desenrolar do Concílio
7. O itinerário dos documentos conciliares
8. A organização do Concílio
9. Os movimentos que precederam o Concílio
10. As qualificações dos documentos conciliares
Conclusão