Sociólogo analisa Igreja Universal

O Professor Dr. Ricardo Mariano, sociólogo, em artigo publicado na Folha de S. Paulo de 02/05/2010, analisa a expansão da Igreja Universal do Reino de Deus. Além de descrever sua estrutura e estratégia atuais, mostra possíveis tendências para o futuro desta igreja.

Leia: Império Universal

Um trecho:

Comandada sempre por dirigentes brasileiros, sua expansão, no país e no exterior, apoia-se numa gestão eclesiástica centralizada e arrojada, num mix de racionalismo empresarial com arcaísmo mágico. Baseia-se também no controle de uma voraz máquina de arrecadação legitimada pela Teologia da Prosperidade, no evangelismo eletrônico, numa combatividade induzida por doutrinas da guerra espiritual e na oferta sistemática de mensagens e serviços mágico-religiosos adaptados ao contexto local e às demandas materiais e de atribuição de sentido de seus distintos públicos-alvo. Nos templos, tece redes de sociabilidade, oferece apoio emocional, terapêutico e assistencial a fiéis e virtuais adeptos. E, diuturnamente, lhes promete prosperidade, libertação do sofrimento e solução divina para seus males afetivos, psíquicos, familiares, financeiros e de saúde, acalentando esperanças de ascensão social. De modo obsessivo, aciona, a todo instante, discursos persecutórios e agonísticos referentes a discriminações e perseguições supostamente efetuadas por forças espirituais e agentes terrenos demoníacos contra a igreja e seus líderes, para desancar a concorrência e mobilizar os fiéis. Assim, tenta desqualificar as acusações externas, reforçar sua união, engajá-los na “obra” e enredá-los numa identidade religiosa sectária em prol dos interesses institucionais da denominação. Resultado: em 2000, a Universal já estava em cerca de 80 países. Hoje, informa estar em 172. No conjunto, seu êxito no exterior é extraordinário. Sua atuação, porém, é rarefeita em muitos deles, sobretudo em países da Ásia, do Oriente Médio e da África com baixa presença cristã e com ampla maioria budista, hindu, judaica e muçulmana. Nessas regiões, enfrenta árduas barreiras, como elevadas distâncias culturais e linguísticas, resistências fundamentalistas, restrições jurídicas e políticas à liberdade religiosa, ao pluralismo religioso, ao proselitismo e ao uso da mídia eletrônica. O portal Arca Universal acusa o golpe…

E o futuro? Ele diz:
Embora a marcha global da Igreja Universal esteja só no começo, certas tendências podem ser entrevistas (…) Na hipótese de ocorrer uma rápida redução do número de novas adesões, a Universal se verá pressionada a efetuar mudanças em seu “modus operandi”. Terá de equilibrar seu atual evangelismo de massas, focado na oferta de soluções mágicas pontuais e imediatistas, com a adoção de um modelo de associação religiosa mais comunitário, baseado em compromissos de longo prazo e na promessa enfática de salvação extramundana. Estes recursos são cruciais para reter duradouramente os fiéis, reduzir a clientela flutuante e torná-la uma igreja cristã mais convencional. Algo que, no alto de sua triunfante expansão global, ela não pretende ser.

Fonte: Notícias: IHU On-Line: 02/05/2010

Quem é Ricardo Mariano?
Informações colhidas em seu Currículo Lattes, em texto informado pelo autor, com última atualização em 17/04/2010:
Ricardo Mariano é doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da PUCRS e pesquisador do CNPq. Realiza pesquisas na área de sociologia da religião, focando especialmente o movimento pentecostal no Brasil. Entre outras temáticas, pesquisou a corrente neopentecostal, sobre a qual publicou o livro Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil (Edições Loyola), o crescimento pentecostal no país, a reação dos evangélicos ao Novo Código Civil, a demonização pentecostal dos cultos afro-brasileiros, a Teologia da Prosperidade. Atualmente desenvolve pesquisa sobre a atuação política dos evangélicos.

O livro citado: MARIANO, R. Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1999, 248 p. – ISBN 9788515019106

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2 comentários em “Sociólogo analisa Igreja Universal”

  1. O pentecostalismo no Brasil, cem anos depois. Uma religião dos pobres. Entrevista especial com Ricardo Mariano
    – “Com exceção das denominações que priorizam o evangelismo de massas e realizam cultos em grandes catedrais (…), as igrejas pentecostais tendem a formar comunidades religiosas relativamente estáveis e pequenas. Isto é, elas são compostas por congregações e pequenos templos em que todos se conhecem, residem no mesmo bairro e compartilham coletivamente crenças, saberes, práticas, emoções, valores, os mesmos modos e estilos de vida, moralidade e posição de classe. (…) São laços gerados por meio do contato pessoal, de relações face a face, estabelecidas em frequentes e sistemáticas reuniões coletivas realizadas semanalmente, ano após ano. Eles tendem, assim, a formar relações fraternais de amizade, de confiança mútua e também de solidariedade com os ‘irmãos necessitados’”. A definição é do sociólogo Ricardo Mariano. Na entrevista que concedeu, por e-mail, à IHU On-Line, ele entende que “depois de um século de presença no país, o pentecostalismo prossegue crescendo majoritariamente na base da pirâmide social, isto é, na pobreza”. Na sua visão, o baixo prestígio social do pentecostalismo deriva “de seu relativo sectarismo e de sua crença na posse exclusiva do monopólio dos bens de salvação ou da verdade divina. Modos de ser e de pensar que se chocam com traços básicos da modernidade”.

    Fonte: Notícias: IHU On-Line – 15/05/2010

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