Eles fortalecem as mãos dos perversos

Alguns textos da imprensa brasileira, de tão subservientes ao império, dão nojo.

Isto me faz lembrar das palavras do “véio Jeré” sobre seus contemporâneos judaítas que defendiam as políticas dos impérios egípcio, assírio ou babilônico para seu país no século VI a.C. Respeitando, é claro, as devidas circunstâncias, distâncias e dessemelhanças.

Por que me lembro de Jeremias? Porque gosto da coragem e da lucidez deste profeta. E porque estou, nestes dias, escrevendo mais um artigo sobre a leitura de seu livro hoje. Artigo que será publicado, em 2010, na revista Estudos Bíblicos n. 107.

Voltando, com relutância, ao presente, vejo a entrevista de Andres Oppenheimer feita por Sérgio Dávila, da Folha de S. Paulo, em Washington. Entrevista que leio na Folha Online de hoje, 09/12/2009 – 02h00, sob o título Política externa brasileira varia entre enigma e vergonha, diz colunista.

Ah, mas não é qualquer colunista, é o “mais respeitado colunista de assuntos latino-americanos da imprensa norte-americana, Andres Oppenheimer, cujos textos são publicados no jornal ‘Miami Herald’ e em 60 outros pelo mundo”. Bem, o tal é “norte-americano de origem argentina”!

O texto é mesmo nojento:

A política externa brasileira, em seus melhores momentos, é um enigma; nos piores, uma vergonha. Nesse campo, o Brasil frequentemente se parece com um país de quarto mundo. Ambas as afirmações são do mais respeitado colunista de assuntos latino-americanos da imprensa norte-americana, Andres Oppenheimer, cujos textos são publicados no jornal “Miami Herald” e em 60 outros pelo mundo. O jornalista norte-americano de origem argentina, autor do recém-lançado “Los Estados Desunidos de Latinoamérica” (editora Debate), ainda inédito no Brasil, e de “Contos-do-Vigário” (editora Record, 2007), entre outros livros, falou à Folha de S. Paulo anteontem, por telefone de Miami, sobre a crise hondurenha, a relação do governo Barack Obama com a América Latina e a recente visita do iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil.

Leia a entrevista… se tiver estômago! Porém, não se esqueça: O império visa as rotas do petróleo.

Mas como a indignação não substitui a compreensão, procuro uma análise. E encontro esta, escrita bem antes por José Luís Fiori, cientista político, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, publicada na Carta Maior em 02/12/2009, e que tem por título: O debate da política externa: os conservadores

“Já faz tempo que a política internacional deixou de ser um campo exclusivo dos especialistas e dos diplomatas. Mas só recentemente, a política externa passou a ocupar um lugar central na vida pública e no debate intelectual brasileiro. E tudo indica que ela deverá se transformar num dos pontos fundamentais de clivagem, na disputa presidencial de 2010. É uma consequência natural da mudança da posição do Brasil, dentro do sistema internacional, que cria novas oportunidades e desafios cada vez maiores, exigindo uma grande capacidade de inovação política e diplomática dos seus governantes.

Neste novo contexto, o que chama a atenção do observador, é a pobreza das idéias e a mediocridade dos argumentos conservadores quando discutem o presente e o futuro da inserção internacional do Brasil. A cada dia aumenta o numero de diplomatas aposentados, iniciantes políticos e analistas que batem cabeça nos jornais e rádios, sem conseguir acertar o passo, nem definir uma posição comum sobre qualquer dos temas que compõem a atual agenda externa do país. Pode ser o caso do golpe militar em Honduras, ou da entrada da Venezuela no Mercosul; da posição do Brasil na reunião de Copenhague ou na Rodada de Doha; da recente visita do presidente do Irã, ou do acordo militar com a França; das relações com os Estados Unidos ou da criação e do futuro da UNASUL.

Em quase todos os casos, a posição dos analistas conservadores é passadista, formalista, e sem consistência interna. Além disto, seus posicionamentos são pontuais e desconexos, e em geral defendem princípios éticos de forma desigual e pouco equânime. Por exemplo, criticam o programa nuclear do Irã, e o seu desrespeito às decisões da comissão de energia atômica da ONU, mas não se posicionam frente ao mesmo comportamento de Israel e do Paquistão, que além do mais, são Estados que já possuem arsenais atômicos, que não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Atômicas, e que tem governos sob forte influência de grupos religiosos igualmente fanáticos e expansivos.

Ainda na mesma linha, criticam o autoritarismo e o continuísmo ‘golpista’ da Venezuela, Equador e Bolívia, mas não dizem o mesmo da Colômbia, ou de Honduras; criticam o desrespeito aos direitos humanos na China ou no Irã, e não costumam falar da Palestina, do Egito ou da Arábia Saudita, e assim por diante. Mas o que é mais grave, quando se trata de políticos e diplomatas, é o casuísmo das suas análises e dos seus julgamentos, e a ausência de uma visão estratégica e de longo prazo, para a política externa de um Estado que é hoje uma ‘potência emergente’.

Como explicar esta súbita indolência mental das forças conservadoras, no Brasil? Talvez, recorrendo à própria história das ideias e das posições dos governos brasileiros que mantiveram, desde a independência, uma posição político-ideológica e um alinhamento internacional muito claro e fácil de definir. Primeiro…”

Leia o texto completo.

1 comentário em “Eles fortalecem as mãos dos perversos”

  1. Pegando um gancho, e interligando suas colocações sobre a visão da Política Internacional, Colômbia, conservadorismo e corrida presidencial, queria compartilhar, prof. Airton, pedindo licença e que não interprete como oportunismo pra fazer propaganda, um texto que refleti a tempos sobre a visão de política de segurança pública e questões de relações internacionais de quem é hoje cotado como um forte candidato à presidência, infelizmente (e que promove censura e mandonismo no seu estado), a título até de avertência sobre como é o pensamento dele:

    "Brasil: "1984" será aqui? – parte I"
    https://informadordeopiniao.blogspot.com/2007/08/brasil-1984-ser-aqui-parte-i.html

    Obrigado

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