A guerra contra o terrorismo e os cristãos

Uma entrevista de Stanley Hauerwas, Professor de Ética Teológica na Duke University Divinity School, Durham NC, USA, que se afirma como um cristão pacifista e é um especialista em teoria da guerra justa, me chamou a atenção.

A entrevista foi publicada pelo Religion News Service e reproduzida pelo National Catholic Reporter, em 10/11/2009. Traduzida para o português e reproduzida por Notícias – IHU On-Line em 14/11/2009.

Destaco quatro trechos, transcritos aqui em inglês e português a partir das fontes indicadas:


RNS: What should President Obama do about Afghanistan?
Hauerwas: Afghanistan was understood to be part of the war against terror, and that was a decisive mistake because as soon as you said we are at war, you gave Osama bin Laden what he wanted — he became a warrior, and not just a murderer. I would be much happier with a whole reconsideration of our involvement there — not as a war, but as a police function, and how the police might intervene to arrest bin Laden. I know that sounds utopian, but just try thinking you’re going to win a war in Afghanistan. I can’t imagine anything more utopian than that. Ask the British. Ask the Russians. It’s never going to happen.

O que o presidente Obama deveria fazer com relação ao Afeganistão?
O Afeganistão foi entendido como parte de uma guerra contra o terrorismo, e esse foi um erro decisivo, porque, tão logo se disse que estávamos em guerra, demos a Osama bin Laden o que ele queria – ele se tornou um guerreiro, não apenas um assassino. Eu ficaria muito mais feliz com uma reconsideração total de nosso envolvimento lá – não apenas como uma guerra, mas como uma função política e como essa política pode intervir para prender Bin Laden. Eu sei que isso parece utópico. Mas tente apenas pensar que vamos vencer a guerra no Afeganistão. Eu não posso imaginar nada mais utópico do que isso. Pergunte aos britânicos. Pergunte aos russos. Isso nunca vai acontecer.

How would you assess the church’s response to the Iraq war?
Awful. Christians — and it started with Sept. 11, as soon as we said we are at war — Christians said, “That’s us.” We never asked the hard questions about the war on terror, and that is, I think, why Iraq happened. It has everything to do with the inability to distinguish between the Christian “we” and the American “we.”

Como você avalia a resposta da Igreja à guerra do Iraque?
Terrível. Os cristãos – e eu comecei com o 11 de setembro, assim que dissemos que estávamos em guerra – disseram: “Somos nós”. Nunca nos fizemos as difíceis questões sobre a guerra contra o terror, e foi por isso, acredito eu, que a guerra do Iraque aconteceu. Tem tudo a ver com a inabilidade de distinguir entre o “nós”, cristãos, e o “nós”, norte-americanos.

So does the church need a service of repentance?
The church has lost its ability to be a disciplined community because we’re now, religiously, in a buyer’s market. Christianity has to bill itself as very good for your self-realization, and that’s killing us because we’re not very good for your self-realization. We’re good for your salvation, which is not the same thing.

Então a Igreja precisa de um ato de arrependimento?
A Igreja perdeu sua habilidade de ser uma comunidade disciplinada porque nós agora, religiosamente, somos um mercado de compras. O cristianismo tem que se vender como algo muito bom para a autorrealização das pessoas, e isso está nos matando, porque não somos muito bons para a autorrealização das pessoas. Somos bons para a salvação das pessoas, o que não é a mesma coisa.

If Obama were to call you for advice on Afghanistan, what would you say?
I’d say you have to tell the American people some really hard truths, namely that the war on terror was a mistake and we’ve got to start, as Americans, learning to live in a world that we don’t control. That’s not going to make you very popular.

Se Obama o chamasse para aconselhá-lo sobre o Afeganistão, o que você lhe diria?
Eu diria: “Você precisa dizer ao povo norte-americano algumas verdades realmente duras, a saber, que a guerra contra o terrorismo foi um erro e que precisamos começar, nós, norte-americanos, a aprender a viver em um mundo que não controlamos. E isso não vai fazer com que você seja muito popular”.

Leia Mais:
Homem que planejou ataques de 11 de Setembro será julgado em NY – Folha Online: 13/11/2009 – 10h48
Procurador-geral dos EUA pede pena de morte para mentores do 11 de Setembro – Folha Online: 13/11/2009 – 14h34

1 comentário em “A guerra contra o terrorismo e os cristãos”

  1. Hauerwas, que é ligado a linha genericamente chamada "pós-liberal", é pra mim atualmente o maior eticista da teologia cristã. Praticamente desconhecido no Brasil, infelizment.

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