Edward Schillebeeckx (1914-2009), um dos maiores teólogos do século XX
Faleceu nesta quarta-feira, 23/12/2009, em Nijmegen, Holanda, aos 95 anos de idade, o teólogo dominicano Edward Schillebeeckx. Conhecido internacionalmente, ele é seguramente um dos teólogos mais importantes do último século, não só pela amplidão e abrangência de sua obra e pela influência de seu pensamento, mas também por ter protagonizado um modo novo de fazer teologia: ele se distingue como um dos primeiros, senão o primeiro, [entre os] teólogos dogmáticos católicos do século XX a incorporar em sua teologia o resultado dos estudos bíblicos dos dois últimos séculos. Veja a seguir alguns dados biográficos elaborados por Cleusa Maria Andreatta.
Edward Schillebeeckx nasceu em 12 de novembro de 1914 em Antwerp, pequena cidade da Bélgica. Foi admitido na Ordem dos Dominicanos aos vinte anos. Após seu noviciado cursou filosofia em Ghent (entre 1935 e 1938) e teologia em Lovaina (entre 1939 e 1943). Foi ordenado sacerdote em agosto de 1941.
Devido a uma necessidade da Ordem Dominicana, Schillebeeckx foi direcionado para o ensino de teologia. Em função disso foi à Paris para se especializar em teologia na Faculdade Dominicana chamada Le Saulchoir , onde também frequentou a Universidade de Sorbonne, a Escola de Estudos Superiores e o Colégio da França, instituições estaduais de forte erudição. O período em Paris (1945 – 1946) ofereceu um amplo leque de possibilidades e estímulos intelectuais, que marcou profundamente seu trabalho teológico abrindo-lhe múltiplas perspectivas de reflexão.
Em 1947, retornou à Lovaina, onde assumiu a orientação espiritual de cerca de sessenta estudantes e foi professor de teologia até o ano de 1957. Como docente de teologia, ele ensinava desde a teologia da criação até a escatologia, incluindo teologia propedêutica, sacramentos e cristologia, num ciclo de estudos que cobria quatro anos. Além destas atividades publicava artigos e também era capelão de uma prisão local. Neste período se tornou conhecido no ambiente teológico pela publicação parcial de sua tese de teologia intitulada De sacrementele heilseconomie (A economia sacramental da salvação) , a qual teve importante repercussão na teologia holandesa e para a renovação da teologia dos sacramentos.
Em 1957 Schillebeeckx foi nomeado para a Universidade Católica de Nijmegen, na Holanda, para onde se mudou em janeiro de 1958 e onde viveu até os dias de hoje. Todo este período de sua vida se caracteriza por uma intensa atividade acadêmica e intelectual e se constitui na fase mais rica e criativa de seu pensamento. O ambiente universitário possibilitou-lhe o contato com um público bastante amplo e envolvimento efetivo no debate sobre as questões teológicas mais relevantes. Passou a lecionar prioritariamente para alunos de pós-graduação e a se dedicar intensamente à pesquisa.
Schillebeeckx marcou presença intensa na vida pastoral da Igreja da Holanda. Recebeu muitos convites para conferências, palestras e aulas como professor visitante em diferentes lugares da Europa e dos Estados Unidos. Em 1960 Schillebeeckx ajudou a fundar um novo jornal de teologia em – Tijdschrif voor Theologie (Jornal de Teologia) – do qual ele se tornou seu diretor chefe. Em 1965 ele foi membro fundador do Jornal Internacional de Teologia Concilium. Participou intensamente do Concílio Vaticano II na posição oficial de conselheiro teológico do Cardeal holandês Alfrink e através de várias conferências aos Bispos, com ampla participação dos mesmos ; além disso chegou a colaborar com os trabalhos do Concílio mesmo . Entre 1966 e 1967 ele visitou duas vezes os Estados Unidos, onde se confrontou com uma secularização mais radical e teve oportunidade de conhecer teólogos como A. Dulles, H. Cox, Mc Kenzie, C. Smith e diversas Universidades e estudantes. Estas experiências marcaram uma virada decisiva no seu pensamento, determinando o início de uma nova fase de seu pensamento.
O pensamento de Schillebeeckx ao longo desse período se desdobrou em torno a três centros de interesse temáticos: interesse pela secularização e a relação Igreja-Mundo -1958-1966; interesse hermenêutico-crítico – 1967 – 1971; interesse cristológico – 1972 – 1984. Tornou-se conhecido nos ambientes teológicos e eclesiais em escala mundial particularmente por suas duas volumosas obras de cristologia-soteriologia: Jesus, a história de um vivente (1974) e Cristo e os Cristãos (1977). Neste último período foram movidos pela Sagrada Congregação para Doutrina três processos de investigação sobre suas idéias (1968, 1976 e 1981). Todos eles foram concluídos sem nenhuma condenação de suas idéias, mas estes fatos revelam que desde os anos sessenta seu pensamento estava sob a suspeita de alguns setores da Igreja.
Ele se afastou da Universidade em setembro de 1982 e desde então continuou atuando na Igreja católica da Holanda e publicando suas pesquisas. Ele também continuou como editor da Revista Concilium.
Fonte: Notícias – IHU On-Line: 26/12/2009
Muere Edward Schillebeeckx, teólogo en la frontera
Nacido en 1914, fue una de las personalidades más influyentes en la renovación del cristianismo durante la segunda mitad del siglo XX.
El 23 de diciembre murió, a los 95 años, Edward Schillebeeckx, el teólogo católico más prestigioso del siglo XX, junto con Karl Rahner, y una de las personalidades más influyentes en la renovación del cristianismo durante toda la segunda mitad del siglo pasado. Ha sido protagonista en los momentos más importantes de la historia reciente de la teología, de la vida de la Iglesia holandesa y de la Iglesia católica.
Nació en 1914 en Amberes, metrópoli de la Bélgica flamenca en el seno de una familia muy religiosa de 14 hermanos. Hasta los 18 años estudió en un colegio de jesuitas, donde recibió una rigurosa formación basada en los clásicos. A los 19 años ingresó en la Orden de los Dominicos. ¿Qué es lo que le atrajo de la Orden dominicana por optar por ella como estilo de vida? Él mismo responde: la apertura al mundo, la dedicación al estudio, el trabajo de investigación y la teología centrada en la predicación. Y a fe que él mismo hizo realidad estas cuatro características en su vida religiosa, en su actividad intelectual y en su manera de estar en el mundo.
Tras el noviciado, estudió filosofía en Gante y teología en Lovaina con una orientación tomista clásica, que él renovaría durante los primeros años de docencia. Después de la Segunda Guerra Mundial fue a Francia para hacer el doctorado en Le Salchoir y estudiar en la Sorbona. En Salchoir se encontró con dos de los más prestigiosos teólogos dominicos: Marie-Dominique Chenu (1895-1990), sancionado entonces por el Santo Oficio, e Yves-Marie Mª Congar (1904-1995), igualmente sancionado en la década de los cincuenta del siglo pasado. En La Sorbona siguió las enseñanzas de los filósofos Le Senne, Lavelle, Wahl y Gilson.
De vuelta a Lovaina en 1947, inició su carrera docente en teología dogmática con el objetivo de renovar el pensamiento tomista, anclado en la más cerrada neoescolástica, y de abrirlo a las nuevas corrientes filosóficas. Los escritos de este periodo, que alcanza hasta principios de los sesenta, se caracterizan por el método histórico frente al dogmatismo de manual, entonces imperante, y por el perspectivismo gnoseológico, que buscaba una síntesis entre la fenomenología y el tomismo.
Teólogo de confianza del episcopado holandés, entonces progresista, fue su asesor en el Concilio Vaticano II y uno de los principales inspiradores -e incluso redactores- de sus documentos renovadores, especialmente en lo referente a la eclesiología y al diálogo de la Iglesia con el mundo. Es proverbial a este respecto su afirmación “Fuera del mundo no hay salvación”, que contrasta con el aforismo excluyente “Fuera de la Iglesia no hay salvación”. Para mantener el espíritu conciliar y desarrollar una teología en sintonía con los cambios profundos promovidos por el Vaticano II creó en 1965, junto con Congar, Rahner, Metz, Küng y otros teólogos progresistas la Revista Internacional de Teología Concilium, que todavía sigue editándose en ocho idiomas.
Fue asimismo uno de los principales redactores del polémico Catecismo holandés, que presentaba los grandes temas del cristianismo, -incluso los más conflictivos, como la doctrina del pecado original- con un estilo vibrante, un lenguaje moderno y en actitud de diálogo con las nuevas corrientes culturales.
A lo largo de su extenso magisterio teológico y de su amplia obra ha sido procesado tres veces por la Congregación de la Fe (antiguo Santo Oficio): en 1968, a propósito de algunos ensayos teológicos centrados en la secularización y el cristianismo; en 1979, por su libro Jesús. La historia de un Viviente, la mejor cristología del siglo XX; y en 1984 por su libro El ministerio eclesial, donde justificaba la presidencia de la eucaristía por parte de un ministro extraordinario no ordenado. De los tres salió ileso e incluso airoso. En las respectivas sesiones del juicio celebradas en el Vaticano logró desmontar las afirmaciones de sus inquisidores con brillante, argumental finura.
Schillebeeckx ha muerto y la sensación que tenemos los teólogos y las teólogas que nos movemos en su línea de hermenéutica crítica es de orfandad, sólo superada con la lectura de sus obras que seguirán iluminando el itinerario del cristianismo del siglo XXI por la senda del diálogo con las culturas de nuestro tiempo y del compromiso ético por la justicia, con el evangelio de Jesús de Nazaret como referente.
Fonte: El País – Por Juan José Tamayo: 25/12/2009