Novas comunidades católicas

Novas comunidades católicas: a busca de um espaço. Este é o tema de capa da edição 307 da revista IHU On-Line, publicada em 08/09/2009

Diz o editorial:
“Na busca por um espaço no plural universo religioso brasileiro, as novas comunidades católicas têm ganhado destaque no cenário de oferta em que protestantes e neopentecostais também buscam seu lugar no coração dos fiéis. Seria uma renovação da Igreja Católica, na tentativa de se adaptar às novas características da sociedade contemporânea, pós-moderna? Ou será um convite à reafirmação dos valores católicos pregados há vinte séculos pela Igreja? Na tentativa de compreender o crescimento destas novas comunidades, que em sua maioria derivam da já conhecida Renovação Carismática Católica – RCC, a IHU On-Line desta semana entrevistou diversos especialistas no assunto.

Um panorama geral é o que nos oferecem Luiz Roberto Benedetti, filósofo e professor na PUC-Campinas, Brenda Carranza, teóloga e professora na mesma instituição, Cecília Mariz, professora na UERJ, e José Rogério Lopes, professor na Unisinos. Por sua vez, Rodrigo Portella fala sobre o movimento Toca de Assis. Emerson José Sena da Silveira, professor na Faculdade Machado Sobrinho – FMS, e no Instituto Sudeste Mineiro – Faculdade do Sudeste Mineiro – ISMEC / FACSUM, descreve o que seria o catolicismo new age e o Tarô dos Santos. Os Grupos de Oração Universitários (GOUs) são o tema de Carlos Eduardo Procópio e Eduardo Gabriel analisa o envio de missionários brasileiros para o mundo por intermédio da RCC e da Canção Nova”.

As entrevistas:
:: Luiz Roberto Benedetti: Novas comunidades católicas: “tradução” mais visível da influência das mudanças sociais sobre a religião
:: Brenda Carranza: Uma novidade na estrutura de vida consagrada na Igreja
:: Cecília Mariz: “O ideário das novas comunidades é o ideário comunitário do cristianismo primitivo”
:: Rodrigo Portella: Toca de Assis: viver uma vida pautada na diferença
:: Emerson José Sena da Silveira: O catolicismo new age e o Tarô dos Santos
:: José Rogério Lopes: Uma reflexividade comunitária e laica
:: Carlos Eduardo Procópio: A transformação da universidade num campo de missão a partir do conhecimento
:: Eduardo Gabriel: RCC, Canção Nova e o envio de missionários brasileiros ao mundo

Sobre a Toca de Assis: Pe. Roberto, seu idealizador, foi meu aluno na FTCR da PUC-Campinas. Ah, mas antes que concluam algo, lembrem-se de que Brenda Carranza também foi minha aluna!

Como costumamos dizer em nosso meio, Roberto foi um daqueles estudantes que “passam” pela Teologia, não “fazem” Teologia.

Claro que não foi o primeiro e nem será o último. Há um grupo, embora minoritário, que é realmente “imune” à Teologia, que faz o curso apenas porque é exigência da Igreja.

Já debatemos isto em várias reuniões. São muitas as razões do fenômeno. E varia de pessoa para pessoa, de situação para situação. Bem, a avaliação do resultado, neste caso, fica por conta do leitor.

A propósito, destaco na análise de Rodrigo Portella, o seguinte trecho, pois diz respeito também ã Bíblia:

IHU On-Line – Por que há uma certa “desconfiança” em relação ao conhecimento acadêmico e ao estudo de um tipo particular de teologia dentro dessa comunidade [Toca de Assis]?

Rodrigo Portella – A Toca de Assis, ainda que extraoficialmente, tem a tendência em proibir estudos formais aos seus membros. Alega-se, entre outras coisas, que, por ser uma fraternidade não clerical (apenas de irmãos e irmãs) o estudo seria desnecessário; que o estudo tiraria tempo para a vivência integral do carisma da organização, isto é, servir à população em situação de rua e a adoração perpétua aos elementos eucarísticos; que os estudos poderiam criar diferenças entre os irmãos e fomentar vaidades. Deve-se ressaltar, ainda, que os toqueiros, intentando viver completamente da divina providência, considerariam o estudo formal algo dentro das estruturas racionais, contradizendo, assim, uma vida de absoluta dependência do providencial. Quanto à teologia, em particular, não a desconsideram. Porém, têm uma grande suspeita em relação à teologia acadêmica, principalmente aquela mais influenciada por elementos conceituais das ciências humanas e sociais. Entendem que a teologia mais acadêmica estaria em contradição com a doutrina que consideram tradicional na Igreja, vendo uma influência maléfica dos estudos acadêmicos na própria vida do clero, que teria cada vez mais uma visão crítica da Bíblia, das doutrinas católicas e da Igreja [destaque meu]. A Toca de Assis não é contra a teologia, mas desconfia de certa instrumentalização nociva que teólogos e teólogas estariam realizando no seio da Igreja. E isto por influência do Diabo.

Michael Löwy fala sobre Boff, Betto e a TdL

A Teologia da Libertação: Leonardo Boff e Frei Betto

Os cristãos comprometidos socialmente são um dos componentes mais ativos e importantes do movimento altermundista; particularmente, porém não somente na América Latina e especialmente no Brasil, país que acolheu as primeiras reuniões do Fórum Social Mundial (FSM). Um dos iniciadores do FSM, Chico Whitaker, membro da “Comissão Justiça e Paz” da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pertence a esta esfera de influência, o mesmo que o sacerdote belga François Houtart, amigo e professor de Camilo Torres, promotor da revista Alternatives Sud, fundador do “Centro Tricontinental” (CETRI) e uma das figuras intelectuais mais influentes do Fórum.

Podemos datar o nascimento dessa corrente, que poderíamos denominar como “cristianismo da libertação” no começo dos anos 60, quando a Juventude Universitária Católica brasileira (JUC), alimentada pela cultura católica francesa progressista (Emmanuel Mounier e a revista Esprit, o padre Lebret e o movimento “Economia y Humanismo”, o Karl Marx do jesuíta J.Y. Calvez), formula por primeira vez, em nome do cristianismo, uma proposta radical de transformação social. Esse movimento se estende depois a outros países do continente e encontra, a partir dos anos 70, uma expressão cultural, política e espiritual na “Teologia da Libertação”.

Os dois principias teólogos da libertação brasileiros, Leonardo Boff e Frei Betto, estão, portanto, entre os precursores e inspiradores do altermundismo; com seus escritos e suas palavras participam ativamente nas mobilizações do “movimento dos movimentos” e nos encontros do Fórum Social Mundial. Se sua influencia é muito significativa no Brasil, onde muitos militantes dos movimentos sociais, tais como sindicatos, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e movimentos de mulheres provêm de comunidades eclesiais de base (CEBs) conhecidas na Teologia da Libertação, seus escritos também são muito conhecidos entre os cristãos de outros países, tanto da América Latina quando do resto do mundo.

Se houvesse que resumir a ideia central da Teologia da Libertação em uma só frase, seria “opção preferencial pelos pobres”.

Qual é a novidade? Por ventura, a Igreja não esteve sempre, caritativamente, atenta ao sofrimento dos pobres? A diferença -capital- é que o cristianismo da libertação já não considera os pobres como simples objetos de ajuda, compaixão ou caridade, mas como protagonistas de sua própria história, artífices de sua própria libertação. O papel dos cristãos comprometidos socialmente é participar na “longa marcha” dos pobres rumo à “terra prometida” -a liberdade-, contribuindo para sua organização e emancipação sociais.

O conceito de “pobre” tem, obviamente, um profundo alcance religioso no cristianismo; porém, corresponde também a uma realidade social essencial no Brasil e na América Latina: a existência de uma imensa massa de despossuídos, tanto nas cidades quanto no campo, que não são todos proletários ou trabalhadores. Alguns sindicalistas cristãos latino-americanos falam de “pobretariado” para descrever essa classe de deserdados que não somente são vítimas da exploração, mas, sobretudo, são vítimas da exclusão social pura e simples.

O processo de radicalização das culturas católicas do Brasil e América Latina que desembocou na criação da Teologia da Libertação não vai desde a cúpula da Igreja para irrigar sua base, nem a base popular vai à cúpula (duas versões que se encontram nos discursos dos sociólogos ou historiadores do fenômeno); mas da periferia rumo ao centro. As categorias ou setores sociais do âmbito religioso que serão o motor da renovação são todos, de alguma forma, marginais ou periféricos com relação à instituição: movimentos, leigos da Igreja e seus capelães; expertos leigos, sacerdotes estrangeiros, ordens religiosas. Em alguns casos, o movimento alcança o “centro” e consegue influir nas Conferências Episcopais (particularmente no Brasil), em outros casos fica bloqueado nas “margens” da instituição.

A pesar de que existem divergências significativas entre os teólogos da libertação, na maioria de seus escritos encontramos repetidos os temas fundamentais que constituem uma saída radical da doutrina tradicional e estabelecida das Igrejas Católica e Protestante:

-Uma implacável acusação moral e social contra o capitalismo como sistema injusto e iníquo, como forma de pecado estrutural.
-O uso do instrumento marxista para compreender as causas da pobreza, as contradições do capitalismo e as formas da luta de classes.
-A opção preferencial a favor dos pobres e a solidariedade com sua luta de emancipação social.
-O desenvolvimento de comunidades cristãs de base entre os pobres como a nova forma da Igreja e como alternativa ao modo de vida individualista imposto pelo sistema capitalista.
-A luta contra a idolatria (não o ateísmo) como inimigo principal da religião, isto é, contra os novos ídolos da morte, adorados pelos novos faraós, pelos novos Césares e pelos novos Herodes: O consumismo, a riqueza, o poder, a segurança nacional, o Estado, os exércitos; em poucas palavras, “a civilização cristã ocidental”.

Examinemos mais de perto os escritos de Leonardo Boff e de Frei Betto, cujas idéias contribuíram, sem dúvida, à formação da cultura político-religiosa do componente cristão do altermundismo.

O livro de Leonardo Boff -na época, membro da ordem franciscana,- Jesus Cristo libertador, (Petrópolis, Vozes, 1971), pode ser considerado como a primeira obra da Teologia da Libertação no Brasil. Essencialmente, trata-se de uma obra de exegese bíblica; porém um dos capítulos, possivelmente o mais inovador, intitulado “Cristologia desde América Latina”, expressa o desejo de que a Igreja possa “participar de maneira crítica no arrranque global de libertação que a sociedade sul-americana conhece hoje”. Segundo Boff, a hermenêutica bíblica de seu livro está inspirada pela realidade latino-americana, o que dá como resultado “a primazia do elemento antropológico sobre o eclesiástico, do utópico sobre o efetivo, do crítico sobre o dogmático, do social sobre o pessoal e da ortopráxis sobre a ortodoxia”; aqui se anunciam alguns dos temas fundamentais da Teologia da Libertação [1].

Personagem carismático, com uma cultura e uma criatividade enormes, ao mesmo tempo místico franciscano e combatente social, Boff converteu-se no principal representante brasileiro dessa nova corrente teológica. Em seu primeiro livro já encontramos referencias ao “Princípio Esperança”, de Ernst Bloch, porém, progressivamente, no curso dos anos 70, os conceitos e temas marxistas cada vez mais aparecem em sua obra até converter-se em um dos componentes fundamentais de sua reflexão sobre as causas da pobreza e a prática da solidariedade com a luta dos pobres por sua libertação.

Rechaçando o argumento conservador que pretende julgar o marxismo pelas práticas históricas do chamado “socialismo real”, Boff constata, não sem ironia, que o mesmo que o Cristianismo não se identifica com os mecanismos da Santa Inquisição, o marxismo não tem porque se equiparar aos “socialismos” existentes, que “não representam uma alternativa desejável por conta de sua tirania burocrática e pelo sufocamento das liberdades individuais”. O ideal socialista pode e deve assumir outras formas históricas [2]

Em 1981, Leonardo Boff publica o livro “Igreja, Carisma e Poder”, uma reviravolta na história da Teologia da Libertação: por primeira vez desde a Reforma protestante, um sacerdote católico coloca em xeque, de maneira direta, a autoridade hierárquica da Igreja, seu estilo de poder romano-imperial, sua tradição de intolerância e dogmatismo -simbolizada durante vários séculos pela Inquisição, pela repressão de toda crítica vinda de baixo e o rechaço da liberdade de pensamento. Denuncia também a pretensão de infalibilidade da Igreja e o poder pessoal excessivo dos papas, que compara, não sem ironia, com o poder do secretário geral do Partido Comunista soviético.

Convocado pelo Vaticano em 1984 para um “colóquio” com a Santa Congregação para a Doutrina da Fé (antes, o Santo Ofício), dirigida pelo Cardenal Ratzinger, o teólogo brasileiro não abaixa a cabeça, nem nega retratar-se; permanece fiel a suas convicções e Roma o condena a um ano de “silencio obsequioso”; finalmente, frente à multiplicação dos protestos no Brasil e em outros lugares, a sansão foi reduzida em vários meses. Dez anos mais tarde, cansado do hostigamento, das proibições e das exclusões de Roma, Boff abandona a ordem dos franciscanos e a Igreja, sem, no entanto, abandonar sua atividade de teólogo católico.

A partir dos anos 90, interessa-se cada vez mais pelas questões ecológicas que aborda com o espírito de amor místico e franciscano pela natureza e com uma perspectiva de crítica radical do sistema capitalista. Será o objeto do livro Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, (S. Paulo, Ática, 1995) e escreve inúmeros ensaios filosóficos, éticos e teológicos que abordam esta problemática. Segundo Leonardo Boff, o encontro entre a Teologia da Libertação e a ecologia é resultado de uma constatação: “A mesma lógica do sistema dominante de acumulação e da organização social que conduz à exploração dos trabalhadores, leva também à pilhagem de nações inteiras, e, finalmente, à degradação da natureza”.

Portanto, a Teologia da Libertação aspira a uma ruptura com a lógica desse sistema, uma ruptura radical que aponta a “libertar os pobres, os oprimidos e os excluídos, as vítimas da voracidade da acumulação injustamente distribuída e libertar a Terra, essa grande vítima sacrificada pela pilhagem sistemática de seus recursos, que põe em risco o equilíbrio físico, químico e biológico do planeta como um todo”. O paradigma opressão / libertação aplica-se, pois, para ambas: as classes dominadas e exploradas por um lado; e a Terra e suas espécies vivas, por outro [3].

Amigo próximo de Leonardo Boff (publicaram alguns livros juntos), Frei Betto é, sem dúvida, um dos mais importantes teólogos da libertação do Brasil e da América Latina e um dos principais animadores das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base). Dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica (JEC) no início dos anos 60, Carlos Alberto Libânio Christo (seu nome verdadeiro) começou sua educação espiritual e política com Santiago Maritain, Emmanuel Mounier, o padre Lebret e o grande intelectual católico brasileiro Alceu Amoroso Lima, porém, durante sua atividade militante na União Nacional dos Estudantes (UNE), descobriu O Manifesto Comunista e A Ideologia Alemã. Quando entrou como noviço na ordem dos dominicanos, em 1965, naquela época um dos principias focos de elaboração de uma interpretação liberacionista do cristianismo, já havia tomado firmemente a resolução de consagrar-se à luta da revolução brasileira [4].

Impressionado com a pobreza do mundo e pela ditadura militar estabelecida em 1964, incorpora-se a uma rede de dominicanos que simpatizam ativamente com a resistência armada contra o regime. Quando a repressão se intensificou, em 1969, socorreu a inúmeros revolucionários, ajudando-os a esconder-se ou a cruzar a fronteira para o Uruguai ou para a Argentina. Essa atividade custou-lhe cinco anos de prisão, de 1969 a 1973.

Em um livro fascinante publicado no Brasil e reeditado mais de dez vezes, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella (Río de Janeiro, Ed. Bertrand, 1987), traça o retrato do dirigente do principal grupo revolucionário armado, assassinado pela polícia em 1969, bem como o de seus amigos dominicanos presos nas rodas da repressão e destroçados pela tortura. O último capítulo está consagrado à trágica figura de Frei Tito de Alencar, tão cruelmente torturado pela polícia brasileira que jamais recobrou seu equilíbrio psíquico: libertado da prisão e exilado na França, sofreu uma aguda mania de perseguição e cometeu suicídio em 1974.

As Cartas da Prisão de Betto, publicadas em 1977, mostram seu interesse pelo pensamento de Marx, a quem designava, para burlar a censura política, “o filósofo alemão”. Em uma carta de outubro de 1971 a uma amiga, abadesa beneditina, observava: “a teoria econômico-social do filósofo alemão não teria existido sem as escandalosas contradições sociais provocadas pelo liberalismo econômico, que o conduziram a percebê-las, analisá-las e estabelecer princípios capazes de sobrepô-los” [5].

Depois de sua libertação da prisão, em 1973, Frei Betto consagrou-se à organização das comunidades de base. Durante os anos seguintes publicou vários folhetos que, em linguagem simples e inteligível, explicavam o sentido da Teologia da Libertação e o papel das CEBs. Logo, converteu-se em um dos principais dirigentes dos encontros intereclesiais nacionais, onde as CEBs de todas as regiões do Brasil intercambiam suas experiências sociais, políticas e religiosas. Em 1980 organizou o 4º Congresso internacional dos Teólogos do Terceiro Mundo.

Desde 1979 Betto é responsável pela Pastoral Operária de São Bernardo do Campo, cidade industrial do subúrbio de São Paulo, onde nasceu o novo sindicalismo brasileiro. Sem vincular-se a nenhuma organização política, não escondia suas simpatias pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Após a vitória eleitoral do candidato do PT, Luis Inácio Lula da Silva, em 2001, foi designado pelo novo presidente para dirigir o Programa “Fome Zero”; no entanto, descontente com a orientação econômica do governo, prisioneiro dos paradigmas neoliberais, demitiu-se de seu posto dois anos depois.

Enquanto alguns teólogos tentam reduzir o marxismo a uma “mediação sócio-analítica”, Betto defende, em seu ensaio de 1986, Cristianismo e Marxismo, uma interpretação muito mais ampla da teoria marxista que inclui a ética e a utopia: “o marxismo é, sobretudo, uma teoria da práxis revolucionária (…). A prática revolucionária sobrepõe-se ao conceito e não se esgota na análise estritamente científica porque, necessariamente, inclui dimensões éticas, místicas e utópicas (…). Sem essa relação dialética teoria-práxis, o marxismo se esclerosa e se transforma em ortodoxia acadêmica perigosamente manipulável pelos que controlam os mecanismos do poder”. Esta última frase é, sem dúvida, uma referencia crítica a URSS e aos países do socialismo real que constituem, em sua maneira de ver, uma experiência deformada por sua “ótica objetivista”, sua “tendência economicista” e, sobretudo, por sua “metafísica do Estado”.

Betto e Boff, como a imensa maioria dos teólogos da libertação, não aceitam a redução, tipicamente liberal, da religião a um “assunto privado” do indivíduo. Para eles, a religião é um assunto eminentemente público, social e político. Essa atitude não é necessariamente uma oposição à laicidade; de fato, o cristianismo da libertação situa-se nas antípodas do conservadorismo clerical:

-Predicando a separação total entre a Igreja e o Estado e a ruptura da cumplicidade tradicional entre o clero e os poderosos.
-Negando a idéia de um partido ou um sindicato católico e reconhecendo a necessária autonomia dos movimentos políticos e sociais populares.
-Rechaçando toda idéia de regresso ao “catolicismo político” pré-crítico e sua ilusão de uma “nova cristandade”.
-Favorecendo a participação dos cristãos nos movimentos ou partidos populares seculares.

Para a Teologia da Libertação não existe contradição entre essa exigência de democracia moderna e secular e o compromisso dos cristãos no âmbito político. Trata-se de dois enfoques diferentes da relação entre religião e política: desde o ponto de vista institucional é imprescindível que prevaleça a separação e a autonomia; porém, no âmbito ético-político o imperativo essencial é o compromisso.

Levando em consideração essa orientação eminentemente prática e combativa, não é de se estranhar que muitos dos dirigentes e ativistas dos movimentos sociais mais importantes dos últimos anos -desde 1990-, fossem formados na América Latina segundo as idéias da Teologia da libertação. Podemos dar como exemplo o MST, um dos movimentos mais impressionantes da história contemporânea do Brasil, por sua capacidade de mobilização, seu radicalismo, sua influência política e sua popularidade (além de ser uma das principais forças da organização do Fórum Social Mundial).

A imensa maioria dos dirigentes ou ativistas do MST procedem das CEBs ou da Pastoral da Terra: sua formação religiosa, moral, social e, em certa medida, política, efetuou-se nas filas da “Igreja dos pobres”. No entanto, desde sua origem, nos anos 70, o MST optou por ser um movimento leigo, secular e autônomo e independente com relação á Igreja. A imensa maioria de seus militantes é católica; porém, também há evangélicos e não crentes (poucos). A doutrina (socialista!) e a cultura do MST não fazem referência ao cristianismo; porém, podemos dizer que o estilo de militância, a fé na causa e a disposição ao sacrifício de seus membros, muitos têm sido vítimas de assassinatos e até de matanças coletivas durante os últimos anos, têm, provavelmente, fontes religiosas.

As correntes e os militantes cristãos que participam no movimento altermundista são muito diversos -ONGs, militantes dos sindicatos e partidos de esquerda, estruturas próximas à Igreja- e não partilham das mesmas escolhas políticas. Porém, a imensa maioria se reconhece nas grandes linhas da Teologia da Libertação, tal como a formularam Leonardo Boff, Frei Betto, Clodovis Boff, Hugo Assmann, Dom Tomás Balduino, Dom Helder Camara, Dom Pedro Casaldáliga, e tantos outros conhecidos e menos conhecidos, e partilham sua crítica ética e social do capitalismo e seu compromisso pela libertação dos pobres.

BIBLIOGRAFIA

Leonardo Boff, Jesus Christ Libérateur, Paris, Cerf, 1985.
L. Boff, Eglise, Charisme et Pouvoir, Bruxelles, Lieu Commun 1985.
L. Boff, O caminhar da Igreja com os oprimidos, Petrópolis, Vozes, 1988, 3a edição, prefacio de Darcy Ribeiro.
L. Boff, “Je m’explique” (entrevistas con C. Dutilleux), Paris, Desclée de Brouwer, 1994.
L. Boff, Dignitas Terrae. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres, S.Paulo, Ática, 1995.
L. Boff, “Libertação integra: do pobre e da terra”, in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996.
Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977.
Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986.
Frei Betto, Batismo de Sangue. Os dominicanos e a morte de Carlos Marighella, Rio de Janeiro, Editora Bertrand, 1987.
Théologies de la libération. Documents et debats, Paris, Le Cerf, 1985.
Michael Löwy, La guerre des dieux. Religion et politique en Amerique Latine, Paris, Ed. du Felin, 1998.

NOTAS:

[1] L. Boff, Jesus Christ Libérateur, París, Cerf, 1985, pp. 51-55. Ibid. p. 275.
[2] L.Boff, “Libertação integra: do pobre et da terra”, in A teologia da libertação. Balanço e Perspectivas, S.Paulo, Ática, 1996, pp. 115, 124-128.
[3] Entrevista de Frei Betto con el autor, 13-09-1988.
[4] Fr. Fernando, Fr. Ivo, Fr. Betto, O canto na fogueira. Cartas de três dominicanos quando em cárcere político, Petrópolis, Vozes, 1977, pp. 39 e 120.
[5] Frei Betto, Cristianismo e Marxismo, Petrópolis, Vozes, 1986, pp. 35-37.

Fonte:  Adital: 04/09/2009 – Também aqui.

 

Original francês

La théologie de la libération : Leonardo Boff et Frei Betto – par Michael Löwy: RISAL.info – Article publié le 14 mars 2007

Les chrétiens socialement engagés sont une des composantes les plus actives et importantes du mouvement altermondialiste, notamment – mais pas seulement – en Amérique Latine et tout particulièrement au Brésil, le pays qui a reçu les premières réunions du Forum Social Mondial. Un des initiateurs du FSM (Forum social mondial), Chico Whitaker, membre de la Commission Justice et Paix de la CNBB (Conférence nationale des Evêques brésiliens) appartient à cette mouvance, de même que le prêtre belge François Houtart – ami et professeur de Camilo Torres et initiateur de la revue Alternatives Sud, fondateur du CETRI (Centre Tricontinental) – une des figures intellectuelles les plus influentes du Forum.

On peut dater la naissance de ce courant, que l’on pourrait désigner comme « christianisme de la libération », du début des années 1960, quand la Jeunesse universitaire chrétienne (JUC) brésilienne – nourrie de culture catholique française progressiste (Emmanuel Mounier et la revue Esprit, le père Lebret et le mouvement « Economie et Humanisme », le Karl Marx du jésuite J. Y. Calvez) – formule pour la première fois, au nom du christianisme, une proposition radicale de transformation sociale. Ce mouvement va s’étendre ensuite dans les autres pays du continent et il va trouver, à partir des années 1970, une expression culturelle, politique et spirituelle dans la théologie de la libération.

Les deux principaux théologiens de la libération brésiliens, Leonardo Boff et Frei Betto, sont donc parmi les précurseurs et inspirateurs de l’altermondialisme ; ils participent d’ailleurs activement, par leurs écrits et leur parole, aux mobilisations du « mouvement des mouvements » et aux rencontres du Forum Social Mondial. Si leur influence est très significative au Brésil, où beaucoup de militants des mouvements sociaux – syndicats, MST (paysans sans-terre), mouvements de femmes – sont issus des communautés ecclésiales de base (CEB) qui se reconnaissent dans la théologie de la libération, leurs écrits sont aussi connus des chrétiens d’autres pays d’Amérique Latine et du monde.

S’il fallait résumer l’idée centrale de la théologie de la libération en une seule formule, ce serait « option préférentielle pour les pauvres ».

Quelle est la nouveauté ? L’Eglise n’a-t-elle pas depuis toujours été charitablement attentive à la souffrance des pauvres ? La différence – capitale – c’est que pour le christianisme de la libération, les pauvres ne sont plus perçus comme des simples objets – d’aide, compassion, charité – mais comme les acteurs de leur propre histoire, les sujets de leur propre libération. Le rôle des chrétiens socialement engagés c’est de participer à cette « longue marche » des pauvres vers la « terre promise » – la liberté – en apportant leur contribution à leur auto-organisation et auto-émancipation sociale.

Le concept de « pauvre » a évidemment une portée religieuse profonde dans le christianisme. Mais il correspond aussi à une réalité sociale essentielle au Brésil et en Amérique Latine : l’existence d’une immense masse de dépossédé•e•s, aussi bien dans les villes que dans les campagnes, qui ne sont pas tous des prolétaires ou des travailleurs. Certains syndicalistes chrétiens latino-américains parlent de « pauvretariat » (pobretariado) pour décrire cette classe de déshérité•e•s, victimes non seulement de l’exploitation mais surtout de l’exclusion sociale pure et simple.

Le processus de radicalisation de la culture catholique brésilienne et latino-américaine qui va aboutir à la formation de la théologie de la libération ne part pas du sommet de l’Eglise pour irriguer sa base, ni de la base populaire vers le sommet – deux versions qu’on trouve souvent chez les sociologues ou historiens du phénomène – mais de la périphérie vers le centre. Les catégories ou secteurs sociaux dans le champ religieux qui seront le moteur du renouveau sont tous d’une certaine façon marginaux ou périphériques par rapport à l’institution : les mouvements laïcs de l’Eglise et leurs aumôniers, les experts laïcs, les prêtres étrangers, les ordres religieux. Dans certains cas le mouvement gagne le « centre » et réussit à influencer les conférences épiscopales (notamment au Brésil), dans d’autres il reste bloqué dans les « marges » de l’institution.

Bien qu’existent des divergences significatives entre les théologiens de la libération, on retrouve, dans la plupart de leurs écrits, plusieurs thèmes fondamentaux qui constituent un départ radical de la doctrine traditionnelle, établie, des Eglises catholiques et protestantes :

— Un implacable réquisitoire moral et social contre le capitalisme en tant que système injuste, inique, en tant que forme de péché structurel.

— L’usage de l’instrument marxiste afin de comprendre les causes de la pauvreté, les contradictions du capitalisme et les formes de la lutte de classe.

— L’option préférentielle en faveur des pauvres et la solidarité avec leur lutte d’auto-émancipation sociale.

— Le développement de communautés chrétiennes de base parmi les pauvres comme nouvelle forme de l’Eglise et comme alternative au mode de vie individualiste imposé par le système capitaliste.

— La lutte contre l’idolâtrie (et non l’athéisme) comme ennemi principal de la religion – c’est-à-dire contre les nouvelles idoles de la mort adorées par les nouveaux pharaons, les nouveaux Césars et les nouveaux Hérodes : Mammon, la Richesse, la Puissance, la Sécurité nationale, l’Etat, la Force militaire, la « Civilisation chrétienne occidentale ».

Examinons de plus près les écrits de Leonardo Boff et de Frei Betto, dont les idées ont sans doute contribué à former la culture politico-religieuse de la composante chrétienne de l’altermondialisme (continue a ler)

Sem o Vaticano II a Igreja poderia ter desaparecido

Na realidade, o que acontece é que tudo o que houve durante e depois do Concílio preparou a Igreja, até certo ponto, para enfrentar as mudanças que se aceleravam cada vez mais. Independentemente de se aceitar ou não a pós-modernidade como etapa ou crítica da modernidade, o fato é que esta atinge todas as esferas da vida social. Literalmente põe em questão a forma de estar no mundo por parte das igrejas, não apenas a católica. Todas. Mesmo as oriundas historicamente da Reforma – que pode ser vista como a primeira “etapa” da Revolução Burguesa – não escapam ao desafio de recolocar-se no mundo atual. Sem o Concílio não estaríamos minimamente preparados para enfrentar os desafios éticos que as mudanças sociais colocam ao pensamento e ação dos cristãos. O clima de liberdade nos tempos de João XXIII e Paulo VI “prepararam”, até certo ponto, a Igreja Católica para enfrentar os desafios da realidade atual. Há muito de ingenuidade e, sobretudo, de má fé atribuir a eles os problemas vividos pela Igreja. Agora, não sei se é possível falar de renovação….”

Leia a entrevista feita pela IHU On-Line com Luiz Roberto Benedetti, sociólogo da religião, Doutor pela USP, Professor da PUC-Campinas, meu colega durante 27 anos na FTCR. Grande pesquisador. Meu amigo.

Biblioblogueiras

Aconteceu nesta semana uma boa discussão na biblioblogosfera sobre as razões do pequeno número de mulheres biblioblogueiras quando comparado ao sempre crescente número de homens biblioblogueiros.

Começou com a leitura do Top 50 de agosto: Why are there so many male bibliobloggers? Why are there so few females on that list?, pergunta April DeConick.

Dou aqui apenas umas poucas indicações, porque muitos(as) participaram, e eu não, ocupado que estava, e ainda estou, com outros quiproquós bíblicos.

Um bom lugar para acompanhar a discussão é ler no biblioblog The Forbidden Gospels, de April DeConick, os seguintes posts (e os muitos comentários):
:: Gender concerns among bloggers – September 1, 2009
:: What are we going to do about the blogger gender gap? – September 2, 2009
:: Expanding blog list with women’s voices – September 6, 2009

E também em The Biblioblog Top 50, que deixa a pergunta: Isn’t it time to stop shooting the messenger and examine some of the deeper causes of this inequality???

E Mark Goodacre em seu NT Blog? Leia:
:: Biblioblogging Gender Gap and what can be done – September 03, 2009

E Suzanne McCarthy em Suzanne’s Bookshelf? Leia:
:: Linking to female bibliblogs – September 06, 2009
:: Institutional Sexism – September 06, 2009

E tem mais… siga os links destes posts acima e verás!

SOTER 2010: comemorando 25 anos

A SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião – já está avisando:

O 23° Congresso Anual da Soter celebrará os 25 anos de nossa Sociedade. Será realizado na PUC Minas, de 12 a 15 de Julho de 2010 e terá como tema “Religiões e Paz Mundial”. Agendem-se!

Resenhas na RBL – 01.09.2009

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Margaret Barker
Temple Themes in Christian Worship
Reviewed by Albert Hogeterp

John Carroll
The Existential Jesus
Reviewed by Stephan Joubert

Hemchand Gossai
Barrenness and Blessing: Abraham, Sarah, and the Journey of Faith
Reviewed by Dorothea Erbele-Kuester

David Hamidovic
Les traditions du jubilé à Qumrân
Reviewed by Jan Dusek

Steven R. Johnson
Seeking the Imperishable Treasure: Wealth, Wisdom, and a Jesus Saying
Reviewed by Ken Olson

Craig R. Koester
The Word of Life: A Theology of John’s Gospel
Reviewed by Cornelis Bennema

Matthew J. Marohl
Joseph’s Dilemma: “Honor Killing” in the Birth Narrative of Matthew
Reviewed by Caryn Reeder

I. Howard Marshall
A Concise New Testament Theology
Reviewed by Mark R. Fairchild

Ehud Netzer
The Architecture of Herod, the Great Builder
Reviewed by David Chapman

D. C. Parker
An Introduction to the New Testament Manuscripts and Their Texts
Reviewed by Matteo Grosso

Stanley E. Porter and Christopher D. Stanley, eds.
As It Is Written: Studying Paul’s Use of Scripture
Reviewed by H. H. Drake Williams III

John Reumann
Philippians: A New Translation with Introduction and Commentary
Reviewed by James Dunn

James M. Robinson
Jesus according to the Earliest Witnesses
Reviewed by V. George Shillington

Reuben J. Swanson
Reflections on Biblical Themes by an Octogenarian
Reviewed by Peter Penner

Joel Willitts
Matthew’s Messianic Shepherd-King: In Search of “the Lost Sheep of the House of Israel”
Reviewed by Donald Senior

Constantino Ziccardi
The Relationship of Jesus and the Kingdom of God according to Luke-Acts
Reviewed by Joel B. Green


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Mês da Bíblia 2009: Carta aos Filipenses

Setembro: Mês da Bíblia

“Há 38 anos a Igreja do Brasil celebra no mês de setembro o Mês da Bíblia. A celebração teve sua origem na arquidiocese de Belo Horizonte, em 1971, e foi se espalhando para todo o Brasil.

O objetivo do mês da Biblia, segundo a assessora da Comissão Bíblico-Catequético da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), é infundir no povo a convicção de que a Palavra de Deus é, por excelência, o livro que deve ser inserido na vida de cada pessoa. Fazer com que as famílias sintam necessidade de ter uma Bíblia em casa e incentivar a reunião das comunidades para o estudo e a vivência da Palavra de Deus.

‘A centralidade da Palavra de Deus tem impulsionado a vida e a ação evangelizadora da nossa Igreja. A redescoberta da Sagrada Escritura e o seu uso constante por todas as Igrejas Cristãs no Brasil tem sido muito significativo para o processo e crescimento da experiência da fé das comunidades espalhadas pelo nosso imenso país’, afirmou a assessora da CNBB.

Sobre o mês da Bíblia, o membro da Comissão Episcopal Bíblico-Catequética da CNBB, dom Jacinto Bergmann, explica que setembro é dedicado de forma especial ‘à Palavra de Deus’, e que o período é um estímulo para os fiéis se tornarem responsáveis pela causa de Jesus por meio do discipulado. ‘Isso também nos ajudará a sermos mais discípulos missionários de Jesus Cristo – Caminho certo, Verdade segura e Vida plena’, enfatizou.

Para este ano o livro proposto é a Carta de São Paulo ao Filipenses, cujo tema é ‘Alegria de servir no amor e na gratuidade’ e o lema: ‘Tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo Jesus’ (Fl 2,5).

Clique aqui e leia a íntegra do subsídio proposto”.

Fonte: Notícias – CNBB: 01/09/2009 10:35:33

Lembro aos interessados que o n. 102, o segundo de 2009, da revista Estudos Bíblicos, da Vozes, é todo sobre a Carta aos Filipenses, onde o leitor poderá encontrar, além de 11 artigos, suficiente bibliografia para aprofundamento.

Também a revista Vida Pastoral, da Paulus, em seu número 268, de setembro-outubro de 2009, traz 4 artigos e bibliografia sobre a Carta aos Filipenses. A revista pode ser obtida nas livrarias da Paulus ou pode ser acessada online em formato pdf. A bibliografia dos 4 artigos sobre Filipenses está na p. 32 da edição online.

Darwin e seu legado

Ecos de Darwin: este é o tema de capa da revista IHU On-Line, edição 306, publicada em 31/08/2009.

Do Editorial:
“Passados dois séculos do nascimento de Charles Darwin (1809-1882), e 150 anos do lançamento da primeira edição de sua obra fundamental, A origem das espécies, a IHU On-Line dedica a matéria de capa desta edição a discutir o seu legado, sua influência dentro e fora do campo das ciências. Uma semana antes do IX Simpósio Internacional IHU: Ecos de Darwin, estas entrevistas podem ser lidas em conjunto com a edição número 300, de 13/07/2009, intitulada Evolução e fé. Ecos de Darwin.

Diversos conferencistas do Simpósio concederam entrevistas e enviaram artigos especiais. O historiador italiano Pietro Corsi, docente na Universidade de Oxford, Inglaterra, assegura que podemos questionar nossa época a partir de Darwin, sobretudo “o pressuposto bastante desarrazoado de que o universo todo foi criado para nós”. Edward Manier, biólogo docente na Universidade de Notre Dame, EUA, enfatiza que Darwin enfraqueceu o antropocentrismo, e que ele “não fez nada para diminuir o status da razão e sentimentos morais”. O cientista jesuíta William Stoeger, da Universidade do Arizona, pondera que não haveria evolução biológica sem a evolução cósmica. Louis Caruana, filósofo, também jesuíta, e professor da Universidade de Londres, analisa a ligação entre a Teoria da Evolução e os fundamentos da moral, além de discutir o mau uso do darwinismo pela eugenia. Aldo Mellender de Araújo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, se vale da metáfora “espinho na cauda do pavão” para examinar tópicos da seleção sexual darwiniana. O pensamento biogeográfico em tempos darwinianos é o tema de Gervásio Silva Carvalho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS. O geólogo Charles Smith, professor na Western Kentuky University, nos EUA, examina as conexões entre Wallace e Darwin, enquanto Heloísa Maria Bertol Domingues escreve sobre o darwinismo no Brasil e na América Latina. A filósofa Anna Carolina Krebs Pereira Regner, especialista em Darwin, também enviou artigo especial à IHU On-Line, e Lilian Al-Chueyr Pereira Martins, docente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP, e pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, complementa a discussão”.

São 10 entrevistas:
:: Aldo Mellender de Araújo: A seleção sexual darwiniana: espinho na cauda do pavão
:: William Stoeger: “Sem a evolução cósmica não haveria evolução biológica”
:: Pietro Corsi: O universo não foi criado para nós
:: Louis Caruana: Darwin e os fundamentos da moral
:: Gervásio Silva Carvalho: O pensamento biogeográfico em tempos darwinianos
:: Edward Manier: Darwin enfraqueceu o antropocentrismo
:: Charles Smith: As conexões entre Wallace e Darwin
:: Heloísa Maria Bertol Domingues: O darwinismo no Brasil e na América Latina
:: Lilian Al-Chueyr Pereira Martins: Teoria de Darwin deve ser pensada a partir de Lamarck
:: Anna Carolina Krebs Pereira Regner: Deus e a ciência: a controvérsia interna de Darwin