Novas comunidades católicas: a busca de um espaço. Este é o tema de capa da edição 307 da revista IHU On-Line, publicada em 08/09/2009
Diz o editorial:
“Na busca por um espaço no plural universo religioso brasileiro, as novas comunidades católicas têm ganhado destaque no cenário de oferta em que protestantes e neopentecostais também buscam seu lugar no coração dos fiéis. Seria uma renovação da Igreja Católica, na tentativa de se adaptar às novas características da sociedade contemporânea, pós-moderna? Ou será um convite à reafirmação dos valores católicos pregados há vinte séculos pela Igreja? Na tentativa de compreender o crescimento destas novas comunidades, que em sua maioria derivam da já conhecida Renovação Carismática Católica – RCC, a IHU On-Line desta semana entrevistou diversos especialistas no assunto.
Um panorama geral é o que nos oferecem Luiz Roberto Benedetti, filósofo e professor na PUC-Campinas, Brenda Carranza, teóloga e professora na mesma instituição, Cecília Mariz, professora na UERJ, e José Rogério Lopes, professor na Unisinos. Por sua vez, Rodrigo Portella fala sobre o movimento Toca de Assis. Emerson José Sena da Silveira, professor na Faculdade Machado Sobrinho – FMS, e no Instituto Sudeste Mineiro – Faculdade do Sudeste Mineiro – ISMEC / FACSUM, descreve o que seria o catolicismo new age e o Tarô dos Santos. Os Grupos de Oração Universitários (GOUs) são o tema de Carlos Eduardo Procópio e Eduardo Gabriel analisa o envio de missionários brasileiros para o mundo por intermédio da RCC e da Canção Nova”.
As entrevistas:
:: Luiz Roberto Benedetti: Novas comunidades católicas: “tradução” mais visível da influência das mudanças sociais sobre a religião
:: Brenda Carranza: Uma novidade na estrutura de vida consagrada na Igreja
:: Cecília Mariz: “O ideário das novas comunidades é o ideário comunitário do cristianismo primitivo”
:: Rodrigo Portella: Toca de Assis: viver uma vida pautada na diferença
:: Emerson José Sena da Silveira: O catolicismo new age e o Tarô dos Santos
:: José Rogério Lopes: Uma reflexividade comunitária e laica
:: Carlos Eduardo Procópio: A transformação da universidade num campo de missão a partir do conhecimento
:: Eduardo Gabriel: RCC, Canção Nova e o envio de missionários brasileiros ao mundo
Sobre a Toca de Assis: Pe. Roberto, seu idealizador, foi meu aluno na FTCR da PUC-Campinas. Ah, mas antes que concluam algo, lembrem-se de que Brenda Carranza também foi minha aluna!
Como costumamos dizer em nosso meio, Roberto foi um daqueles estudantes que “passam” pela Teologia, não “fazem” Teologia.
Claro que não foi o primeiro e nem será o último. Há um grupo, embora minoritário, que é realmente “imune” à Teologia, que faz o curso apenas porque é exigência da Igreja.
Já debatemos isto em várias reuniões. São muitas as razões do fenômeno. E varia de pessoa para pessoa, de situação para situação. Bem, a avaliação do resultado, neste caso, fica por conta do leitor.
A propósito, destaco na análise de Rodrigo Portella, o seguinte trecho, pois diz respeito também ã Bíblia:
IHU On-Line – Por que há uma certa “desconfiança” em relação ao conhecimento acadêmico e ao estudo de um tipo particular de teologia dentro dessa comunidade [Toca de Assis]?
Rodrigo Portella – A Toca de Assis, ainda que extraoficialmente, tem a tendência em proibir estudos formais aos seus membros. Alega-se, entre outras coisas, que, por ser uma fraternidade não clerical (apenas de irmãos e irmãs) o estudo seria desnecessário; que o estudo tiraria tempo para a vivência integral do carisma da organização, isto é, servir à população em situação de rua e a adoração perpétua aos elementos eucarísticos; que os estudos poderiam criar diferenças entre os irmãos e fomentar vaidades. Deve-se ressaltar, ainda, que os toqueiros, intentando viver completamente da divina providência, considerariam o estudo formal algo dentro das estruturas racionais, contradizendo, assim, uma vida de absoluta dependência do providencial. Quanto à teologia, em particular, não a desconsideram. Porém, têm uma grande suspeita em relação à teologia acadêmica, principalmente aquela mais influenciada por elementos conceituais das ciências humanas e sociais. Entendem que a teologia mais acadêmica estaria em contradição com a doutrina que consideram tradicional na Igreja, vendo uma influência maléfica dos estudos acadêmicos na própria vida do clero, que teria cada vez mais uma visão crítica da Bíblia, das doutrinas católicas e da Igreja [destaque meu]. A Toca de Assis não é contra a teologia, mas desconfia de certa instrumentalização nociva que teólogos e teólogas estariam realizando no seio da Igreja. E isto por influência do Diabo.