Luteranos incentivam diálogo inter-religioso
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana do Brasil (IECLB) estimula a criação de grupos de diálogo inter-religioso, com o objetivo de se conhecerem mutuamente, quebrar barreiras de preconceito e medo, buscando um clima de respeito e confiança mútuos e de solidariedade.
A recomendação consta em documento assinado pela presidência da IECLB, pastor Walter Altmann, sobre “Diretrizes teológico-pastorais para atos e diálogos inter-religiosos”.
O documento incentiva tal participação ainda mais quando tais eventos forem expressão de um objetivo comum – pela paz, justiça, reconciliação, integridade da Criação, o bem estar da res pública.
Celebrações desse caráter, diz o documento da IECLB, não deveriam ser um evento isolado, mas fruto de um processo de preparação e de diálogo continuado, no qual se trabalham medos, desconfianças e preconceitos e se facilita o conhecimento mútuo.
Elaborado pelo Grupo Assessor para Ecumenismo, o documento destaca que a IECLB é, com reza sua constituição, de “natureza ecumênica”. O Brasil é um país multireligioso e um diálogo inter-religioso deve levar em consideração, em primeiro lugar, as religiões afro-brasileiras e indígenas. Mas também o diálogo com o islã, o hinduísmo e formas religiosas esotéricas.
A IECLB reconhece que há membros de igrejas, também no meio evangélico-luterano, que têm uma prática religiosa dupla. Daí que, ao tratar de um diálogo inter-religioso também se deverá focar um diálogo intra-religioso, “isto é, do diálogo de várias linhas religiosas dentro de uma mesma pessoa”.
Assim, “o diálogo inter-religioso, que exige certo grau de clareza sobre a própria posição, poderia contribuir significativamente para o esclarecimento de identidades pouco definidas e múltiplas. Portanto, esse diálogo não apenas desafia a nossa identidade religiosa, mas nos ajuda a percebê-la melhor e, de certa forma, a fortalecê-la”, define o documento da IECLB.
Outro olhar para dentro de seus muros descortina que há membros, na IECLB, que vêem no pluralismo interno, na convivência de diferentes tendências, como tradicionais, progressitas, evangelicais e carismáticos, como o desafio ecumênico por excelência.
Outros pensam no diálogo e na cooperação com igrejas protestantes e terceiros vêem na Igreja Católica Romana a principal parceira ecumênica. Para além dessas modalidades, é um desafio para a IECLB “arriscar ir para além das igrejas cristãs, passando para o diálogo e a cooperação com outras religiões”.
Esse passo não descarta a tensão entre exclusividade e universalidade da ação do Reino. Essa tensão se encontra também em passagens do Novo Testamento, que romperam as barreiras do exclusivismo.
São reis magos do Oriente que vêm adorar o menino recém-nascido, deitado em manjedoura. Jesus cura a filha de uma Cananéia, elogia a atitude de um samaritano, cura o filho de um centurião romano, e afirma que Deus ouve a oração de um publicano.
Para a IECLB, o Novo Testamento não deixa dúvida quanto à salvação em e através de Jesus Cristo. “No entanto, caberá ao próprio Cristo, e não aos cristãos, julgar todos os povos”, frisa o documento luterano, que frisa:
“Olhando a prática de Jesus e dos apóstolos num contexto pluricultural e multireligioso, é imperioso concluir que somos desafiados a buscar o diálogo e a cooperação com outras religiões”.
A base principal do diálogo é a confiança em Deus. “Nossa confiança é baseada na boa nova da justificação por graça e fé, sendo que a ‘salvação pertence a Deus’”, destaca a IECLB.
Fonte: ALC – 14/04/2009