Os lefebvrianos?

Os lefebvrianos estão “profundamente desgostosos” com o Papa Francisco – IHU – 18 dezembro 2018

O Papa Francisco concedeu-lhes faculdades para ouvir confissões e celebrar matrimônios, mas os lefebvrianos não estão dispostos a retribuir gestos recíprocos de aproximação. O Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, Davide Pagliarani, revelou que os ultratradicionalistas estão “profundamente desgostosos com a principal característica do atual pontificado, que é a aplicação completamente nova do conceito de misericórdia”.

A reportagem é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 17-12-2018. A tradução é de André Langer.

A misericórdia do Papa Bergoglio “fica reduzida a uma panaceia para todos os pecados, sem promover uma verdadeira conversão, à transformação da alma pela graça, à mortificação e à oração”, defendeu Pagliarani em uma entrevista concedida ao jornal austríaco Salzburger Nachrichten. “Em sua Exortação pós-Sinodal Amoris Laetitia, continuou o religioso – no cargo desde julho –, o Papa dá aos cristãos a oportunidade de decidir sobre questões de moral conjugal caso a caso, de acordo com sua consciência pessoal”, o que “contradiz claramente a orientação clara e necessária dada pela lei de Deus”.

Como se essa acusação de heresia fosse pouco, o padre Pagliarani passou a imputar a Francisco a importação para o catolicismo da “espiritualidade de Lutero”, isto é, de “um cristianismo sem necessidade de renovação moral, um subjetivismo que já não reconhece nenhuma verdade universalmente válida”. “Tudo isso causou uma profunda confusão no meio do clero e dos fiéis”, prosseguiu o italiano, uma vez que “cada pessoa busca a verdade, mas para encontrá-la precisa ser guiada pelo sacerdote, da mesma maneira como o aluno precisa da direção de seu professor”.

Além disso, de acordo com o líder dos ultraconservadores, o Ano Lutero de 2017 foi um dos maiores erros do Pontificado de Francisco, porque em vez de servir para converter os protestantes e trazê-los de volta “à verdadeira Igreja… confirmou-os em seus erros”. Por isso, para Pagliarani, Cristo “fundou uma única Igreja, que é a Igreja romana. Esta verdade teológica precisa ser proclamada tanto quanto a retidão da moral e o esplendor da missa tradicional segundo o rito tridentino”.

Consequentemente, o que os lefebvrianos pedem a Francisco é que “transmita fielmente o depósito da fé” e que acabe com “a crise que abala a Igreja nos últimos 50 anos”. Uma crise “que foi desencadeada por uma nova concepção de fé centrada na experiência subjetiva de cada um: acredita-se que o indivíduo é o único responsável por sua fé e pode escolher livremente qualquer religião, sem distinção entre verdade e erro”, o que “contradiz a lei divina objetiva”.

“O Papa teria que declarar errado o decreto sobre a liberdade religiosa [do Vaticano II] e corrigi-lo”, explicou Pagliarani. “Estamos convencidos de que algum Papa o fará e retornará à doutrina pura que era a referência antes do Concílio… É inconcebível que a Igreja tenha estado errada durante dois milênios e que tenha sido capaz de encontrar a verdade somente durante o Concílio, de 1962 a 1965”.

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