Etica Mundial abre escritório no Brasil

“A Fundação Ética Mundial está chegando na hora certa ao Brasil”

Moisés Sbardelotto

 

O vice-presidente da Fundação Ética Mundial internacional, Karl-Josef Kuschel, congratula a inauguração do primeiro escritório da fundação no Brasil, em parceria com o IHU

 

Quando, na noite da próxima quarta-feira, 29, o Escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil for oficialmente inaugurado, a Fundação internacional, com sede na Alemanha, terá conquistado, pelo menos, dois grandes objetivos: instituir seu primeiro escritório no mundo de língua portuguesa e, acima de tudo, na maior nação de solo latino-americano. Essa é a opinião do teólogo e vice-presidente da Fundação, Prof. Dr. Karl-Josef Kuschel, em entrevista concedida por e-mail para a IHU On-Line.

Essa conquista ocorre graças à parceria entre o Instituto Humanitas Unisinos (IHU), a Fundação Ética Mundial internacional (Stiftung Weltethos, no alemão) e o Centro de Cooperação Internacional Brasil-Alemanha da Universidade Federal do Paraná (CCIBA-UFPR). O novo projeto, que fará parte do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, irá colaborar com a difusão da idéia de uma “ética mundial”, desenvolvida, primeiramente, na obra Projeto de ética mundial. Uma moral ecumênica em vista da sobrevivência humana (São Paulo: Paulinas, 1992), do teólogo suíço Hans Küng, um dos mais renomados professores universitários da cena intelectual alemã e atual presidente da Fundação.

Já tendo ultrapassado fronteiras e mares, a Fundação chegou a diversos países como Suíça, República Tcheca, Holanda, na Áustria, México, Colômbia e agora o Brasil. “Ela não quer dirigir-se apenas a pessoas religiosas, mas também a não-religiosas e seculares”, afirma Kuschel. Segundo ele, “sobre valores fundamentais, tanto pessoas crentes como não-crentes podem entender-se e cooperar para o bem da sociedade”. E afirma: “Neste sentido, em face do novo pluralismo no Brasil, a instituição da Fundação está chegando na hora certa”, também para dar orientação a “uma nova geração de pessoas de formação acadêmica, jovens, homens e mulheres”.

Karl-Josef Kuschel é teólogo e vice-presidente da Fundação Ética Mundial, atividade integrada à de seu antigo mestre e atual interlocutor, Hans Küng, de quem havia sido assistente científico por duas décadas, até 1989. Titular da cátedra de Teologia da Cultura e do Diálogo Inter-Religioso na Faculdade de Teologia Católica da Universidade de Tübingen, Alemanha, Kuschel é internacionalmente reconhecido na área do diálogo inter-religioso entre judeus, cristãos e muçulmanos e na relação entre teologia e literatura. Doutor honoris causa pela Universidade de Lund, na Suécia, é autor de mais de 40 livros, dentre os quais Os escritores e as escrituras (São Paulo: Loyola, 1999), Discordia en la casa de Abrahan. Lo que separa y lo que une a judíos, cristianos e musulmanes (Navarra: Verbo Divino, 1996) e Juden, Christen, Muslime. Herkunft und Zukunft (Düsseldorf: Patmos, 2007).

Kuschel também é autor de dois artigos publicados nos Cadernos Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos – IHU intitulados Bento XVI e Hans Küng: contexto e perspectivas do encontro em Castel Gandolfo (n° 21, de 2006) e Fundamentação atual dos direitos humanos entre judeus, cristãos e muçulmanos: análises comparativas entre as religiões e problemas (n° 28, de 2007).

 

A entrevista

IHU On-Line – Qual a importância do novo escritório da Fundação Ética Mundial no Brasil?

Karl-Josef Kuschel – O significado nem pode ser apreciado com suficientes enaltecimentos. Até agora, só houve escritórios da Fundação Ética Mundial no âmbito europeu e no de língua espanhola. Por exemplo, na Alemanha e na Suíça, bem como no México e na Colômbia. Agora foi possível instituir também uma Fundação no mundo de língua portuguesa e acima de tudo na maior nação de solo latino-americano. Isso merece o máximo de consideração. Os amigos brasileiros merecem todo o apoio.

IHU On-Line – Este será o primeiro escritório no Brasil, considerado o “país mais católico do mundo”, com enormes diferenças econômicas, religiosas e sociais. Qual será a contribuição da Fundação para o debate ético entre as religiões e a sociedade brasileira?

Karl-Josef Kuschel – Você tem razão. O Brasil é um país profundamente marcado pelo catolicismo. Porém, ao mesmo tempo também uma nação ideológica e religiosamente plural, como muitos ainda acreditam na Europa. Desde o século XIX, há uma forte participação de secularismo e de laicismo, principalmente entre as elites cultas do país. Desde fins do século XX, igrejas carismáticas e movimentos de origem protestante conquistaram sempre mais adeptos. Ao mesmo tempo, a sociedade sofre sob fortes tensões sociais e econômicas. Nesta situação, apoiada em seu documento básico, a “Declaração sobre Ética Universal” do Parlamento das Religiões Mundiais de 1993, a Fundação pode dar impulsos para um discurso social baseado na ética. Porque o Projeto de Ética Mundial de modo expresso não quer apenas dirigir-se a pessoas religiosas, mas também a não-religiosas e seculares. Sobre valores fundamentais, tanto pessoas crentes como não-crentes podem entender-se e cooperar para o bem da sociedade. Neste sentido, em face ao novo pluralismo no Brasil, a instituição da Fundação está chegando na hora certa.

IHU On-Line – Quais são os principais desafios no Brasil com os quais a Fundação pode ajudar a responder com seus projetos e atividades?

Karl-Josef Kuschel – O grande desafio da Fundação Ética Mundial Brasil consistirá, através da formação e educação, em criar uma nova consciência no sentido de que vivemos num mundo não só econômica e ecologicamente, mas também ecumênica e inter-religiosamente amalgamado. As religiões mundiais compartilham valores comuns. Nenhuma religião tem pretensão de exclusividade. Esta ação formativa e educadora não se restringe às elites acadêmicas. Ela deve começar bem embaixo, na base das comunidades e das escolas. A Fundação Ética Mundial Alemanha realizou aqui uma grande atividade prévia. Foi elaborado um grande manual, “Ética mundial na escola”, com o qual professoras e professores podem transpor a temática da ética mundial a todos os tipos e níveis escolares. Será uma importante tarefa dos amigos brasileiros transferir esse manual para as condições e circunstâncias brasileiras. Cada professora e cada professor da nação devem saber que no tema da Ética Mundial não estão sozinhos e que podem receber introduções e materiais da Fundação em São Leopoldo.

IHU On-Line – Como pode a Fundação colaborar no debate ecumênico e inter-religioso no Brasil, de modo a se criar uma melhor relação entre nossas religiões?

Karl-Josef Kuschel – O Projeto de Ética Mundial, desde o começo, não foi um projeto confessional, mas ecumênico. Os valores, que são tornados conscientes na explicação sobre a ética mundial, são compartilhados por todos os cristãos e também por não-cristãos. A era do confessionalismo passou, mesmo que alguns desejem reinstaurá-la. Hoje, os cristãos devem dar respostas conjuntamente aos desafios da época. O papa Bento XVI reconheceu isso explicitamente. Em setembro de 2005, poucos meses após sua eleição ao papado, ele recebeu o professor Hans Küng, que ele também conhece pessoalmente muito bem desde períodos comuns no Concílio e na Universidade de Tübingen e que entrementes se tornara Presidente da Fundação Ética Mundial Alemanha/Suíça, para uma longa conversa em Castel Gandolfo. Num comunicado por ele próprio elaborado ele descreve o Projeto de Ética Mundial com as seguintes palavras: “O professor Küng constatou que no ‘Projeto de Ética Mundial’ de nenhum modo se trata de uma construção intelectual abstrata. Antes são trazidos à luz os valores morais, nos quais as grandes religiões do mundo convergem apesar de todas as diferenças e que, a partir de sua convincente significância também podem apresentar-se à razão secular como padrões válidos”. O papa apreciou positivamente o esforço do professor Küng de, “no diálogo das religiões como também no encontro com a razão secular, contribuir para um reconhecimento renovado dos valores morais essenciais da humanidade”.

IHU On-Line – O que a Fundação internacional espera do debate ético no Brasil, por meio de sua presença na Unisinos e na comunidade acadêmica?

Karl-Josef Kuschel – A Fundação Brasil tem agora a grande chance de incentivar no Brasil novos discursos em questões éticas – partindo das elites acadêmicas, com o olhar nos desafios que provêm através das Ciências Naturais, da Técnica, Economia, Ecologia. Esses discursos podem, agora, receber nova força com base nos valores do Projeto de Ética Mundial. É preciso conseguir conquistar pensadores brasileiros que saibam conectar teoria e prática para a situação específica no Brasil. Pesquisa científica básica e discursos públicos se interconectam. O Brasil é uma nação “jovem”. Uma nova geração de pessoas de formação acadêmica, jovens homens e mulheres buscam orientação. Dar-lhes esta orientação é um grande desafio à Fundação Ética Mundial Brasil. Nós, da Fundação Ética Mundial Alemanha apoiaremos nossos amigos brasileiros dentro de nossas forças.

As origens de Israel: polêmico artigo de Rainey

O Professor Emérito de Culturas do Antigo Oriente Médio e de Linguística Semítica da Universidade de Tel Aviv, Israel, Anson Rainey, tentou mostrar, em artigo recente na Biblical Archaeology Review (BAR), que os primeiros israelitas são pastores nômades originários da Transjordânia. Ele argumenta que a Bíblia é clara sobre este ponto e que os dados linguísticos lhe dão razão. Para ele toda a pesquisa dos últimos 46 anos, desde Mendenhall, em 1962, que mostra Israel surgindo a partir de Canaã, carece de fundamento e está equivocada.

Levou “cascudos” de tudo quanto foi lado. Merecidos. Incorreu em vários equívocos conhecidos e amplamente debatidos por dezenas de especialistas nesta área.

Vale a pena acompanhar a polêmica que o artigo suscitou. E vale a pena ler mais sobre o assunto em vários textos, em português, que estão em minha página e em meu blog.

O artigo de Anson Rainey:
:: Inside, Outside: Where Did the Early Israelites Come From? – By Anson Rainey – BAR 34:06, Nov/Dec 2008 – Reproduzido em Bibbiablog
Before they settled in the hill country of Canaan, where did the earliest Israelites come from and what was the nature of their society? The Bible is very clear. They were pastoral nomads who came from east of the Jordan. Much of the scholarship of the last part of the 20th century, however, has reached a far different conclusion. One might almost describe it as diametrically opposed to the Biblical account. According to this scholarship, the Israelites were originally Canaanites fleeing from the city-states of the coastal plain west of the hill country.

Algumas reações:
:: Anson Rainey, ‘East of the Jordan’ is not ‘The Rest of the Ancient Near East’ – Posted by ntwrong at October 23, 2008 – Blog N. T. Wrong
Anson Rainey’s article in the latest BAR (34:06, Nov/Dec 2008) is a confused and misleading piece of popular apologetics. The best to be said for it is that, in trying to prove a Transjordanian origin for ‘Israel’, it has managed to undermine its broader thesis (which argues that the biblical account of Israel’s origins are historically true).

:: Rainey’s Selective Use of Evidence For Israelite Origins – Posted by Douglas Mangum at October 25, 2008 – Blog Biblia Hebraica
I’ve only just had the time to read over Anson Rainey’s recent BAR article on Israel’s origins. I have to admit I was baffled by his selective use of evidence and his conflation of archaeological, historical, and biblical material unrelated to his primary claim. He starts off on the wrong foot and continues down the non sequitur path. I’m sure his argument made sense in his own mind, but what he’s presented is a jumble of selectively chosen facts, a false dichotomy of competing theories, and a caricature of the evidence and arguments for Israelites as native Canaanites. There are so many issues with his assumptions and use of evidence that I can’t imagine taking the time to offer a complete critique. Fortunately, I don’t need to do all the work on this one. Several others have pointed out some of the issues with Rainey’s article already.

:: On The Selective Use Of Linguistic Data – Posted by Duane Smith at October 25, 2008 – Blog Abnormal Interests
The other day I accused Anson Rainey of selectively using linguistic data to make a point about the origins of the Hebrew language and the people who spoke it. In an earlier post I listed most, if not all, of Rainey’s examples and gave a couple of counter examples of my own. I decided to do a little experiment. I make no claim of completeness. First, I when through Garr’s table, 206-214, of isoglosses between various North West Semitic languages and noted those where Hebrew agreeds with Phoenician, more or less unambiguously, over against Aramaic. I may have missed one or two but here is I what found.

Gerd Theissen: O Movimento de Jesus

Esta é uma revisão do conhecido livro de Gerd Theissen, Sociologia do Movimento de Jesus [original alemão: 1977]. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 1989, 187 p. – ISBN 8523301968.

THEISSEN, G. O Movimento de Jesus: História social de uma revolução de valores. São Paulo: Loyola, 2008, 480 p. – ISBN 8788515035502.

Original alemão: Die Jesusbewegung. Sozialgeschichte einer Revolution der Werte. Gütersloh: Gütersloher Verlagshaus, 2012, 320 S. – ISBN 9783579065038.

Diz a Loyola:
Em Sociologia do Movimento de Jesus (…) Theissen defendeu quatro teses: no começo do cristianismo primitivo havia carismáticos itinerantes sem pátria, (que), vivenciando uma ética radical, faziam parte de um movimento intrajudaico de renovação. (O) seu surgimento foi condicionado por uma crise da sociedade judaico-palestina, (enquanto) sua resposta a essa crise era uma visão de amor e reconciliação.

Da revisão desse escrito surgiu o presente livro. A estrutura continua a mesma. A tese do radicalismo itinerante também é defendida aqui. Os carismáticos itinerantes eram considerados a medula do movimento de Jesus, um movimento intrajudaico de renovação, desencadeado por Jesus no âmbito sírio-palestino, que floresceu entre 30 e 70 d.C.

Neste livro ele é ambientado ainda mais na história do povo judeu pela comparação com outros movimentos de renovação do judaísmo. Em conseqüência, defende-se a tese de que esse movimento aprendeu do fracasso de outros anteriores e assimilou experiências prévias. Somente assim foi capaz de, na forma do jovem cristianismo dele decorrente, sair da cultura autóctone, penetrando e alterando a cultura estrangeira superior.

O autor descreve sua realidade histórico-social e psicológico-social. Suas análises mostram que, em vez do poder, os seguidores de Jesus realizaram uma revolução dos valores, das normas e das convicções religiosas.

A esse movimento devemos algumas das nossas mais preciosas tradições.

Gerd Theissen, nascido em 1943, é Professor de Teologia do Novo Testamento na Universidade de Heidelberg, Alemanha. Veja mais publicações de Gerd Theissen aqui e aqui.

Novas Enquetes Bíblicas – Biblical Polls

Você está convidado/a a votar em três novas enquetes/polls publicadas hoje na Ayrton’s Biblical Page:

:: Você já leu algum livro sobre Paulo ou sobre suas cartas?
Três opções de resposta, coisa simples. No “estilo mineiro”: sim, não e… muito antes pelo contrário!

:: Você já leu algum livro de História do Antigo Israel?
Como a anterior, apenas 3 opções de resposta.

:: Qual é o melhor livro de/sobre “História de Israel” que você já leu?
Esta é uma questão mais ampla. São citadas 100 obras na área de história e historiografia de Israel. O conjunto está dividido em 5 enquetes com 20 obras em cada uma delas, em ordem alfabética pelo sobrenome do autor e/ou organizador, o que permitirá ao votante escolher até 5 obras de uma só vez.

As obras selecionadas utilizam abordagens arqueológicas e, especialmente, históricas, cobrindo desde as origens de Israel até a Palestina do século I d.C. Observará, porém, o leitor que, limitado pelo espaço, menciono apenas o sobrenome do autor e/ou organizador da obra – várias são coletivas – e parte do título.

Os 100 livros foram escolhidos entre mais de 200 obras na área de História de Israel que são de meu conhecimento, e que, sei bem, representam uma ínfima parte do que existe de importante neste campo de estudo. Estão em seis línguas diferentes, sendo cerca de 1/3 do conjunto em português. Infelizmente, quase todas obras traduzidas, já que nossa produção acadêmica brasileira é, nesta, como em muitas outras áreas, extremamente limitada.

As outras línguas representadas são o inglês, o italiano, o espanhol, o alemão e o francês.

Em defesa das conquistas da exegese acadêmica

Do mesmo jornalista citado no post anterior, John L. Allen Jr., li hoje um texto que me chamou a atenção: Synod: Coming to praise Bible scholarship, not just bury it.

Texto publicado em 19/10/2008 no National Catholic Reporter Conversation Cafe, seção dos blogs do jornal.

Segundo o jornalista, em seu John L Allen Jr Daily’s blog, embora os participantes do Sínodo possuam pontos de vista divergentes, estão muito mais voltados para a firme defesa das conquistas da exegese acadêmica do que para sua crítica ou depreciação.

Transcrevo o seu texto, sem opinar, até mesmo porque não disponho de nenhuma informação direta sobre o assunto.

 

Blaming Bible scholars for a crisis of faith in the West is a time-honored exercise in Christian thought, but after a fairly tough opening round for the Biblical guild during the current Synod of Bishops in Rome, notes of praise as well as burial are beginning to be heard.

Bemoaning the corrosive influence of skeptical currents in exegesis has long been a truly ecumenical enterprise. In the early years of the 20th century, both Pope Pius X in his anti-modernist encyclical Lamentabili sane, and the Bible Institute of Los Angeles in a series of tracts called The Fundamentals: A Testimony To The Truth (from which “fundamentalism” draws its name), put scientific study of the Bible squarely in the dock.

During the first round of speech-making in the Oct. 5-26 synod, a host of bishops revived this tradition, though in less polemical fashion. Archbishop Terrence Prendergast of Ottawa, Canada, for example, suggested that a “loss of confidence among Catholics that scripture truly communicates God’s revelation” may be related to “the influence of modern Biblical scholarship on preaching.”

One could be forgiven the impression that for some bishops, modern Bible scholarship ought to come with a warning label: “May be hazardous to your faith.” Even Pope Benedict XVI got into the act, describing what he called a “so-called mainstream of exegesis in Germany” which “denies that the Lord instituted the Holy Eucharist, and says that Jesus’ corpse stayed in the tomb.”

Yet when the circoli minores, or small groups, that are currently working on propositions to be submitted to the pope gave their initial reports late last week, several came to the defense of Bible scholars. The result suggests that some synod participants may be concerned that an excessively negative tone could risk demoralizing those Bible scholars who are trying to put their talents at the service of the church [sublinhado meu].

A German-language group led by Bishop Friedhelm Hofmann of Würzburg, for example, reported on Friday afternoon that it had detected “a certain fear about the historical-critical method” in the first round of debate in the synod. The group warned that such fear could “endanger the merits and fruits of scientific exegesis.”

A properly spiritual interpretation of the Bible, Hofman’s group said, requires scientific exegesis as its “premise.”

A Spanish working group led by Fr. Julian Carrón, president of the Communion and Liberation movement, proposed that the synod offer a note of thanks to Catholic institutes of Bible studies, “especially those in Rome and Jerusalem” – a clear reference to the Jesuit-run Pontifical Biblical Institute in Rome and to the Dominican-run École Biblique in Jerusalem. Both are known for efforts to apply historical-critical tools to the study of scripture, though in the context of church teaching and tradition.

A French-language group led by Bishop Joseph Bouchard of Saint Paul in Alberta, Canada, suggested that references to Bible scholars in the synod documents be “positive,” since “the vocation of the exegete is to help the church’s judgment grow more mature.”

Taken together, the comments suggest that the synod is groping for a more balanced approach to historical-critical study, and the use of other scientific tools to understand the Bible, so that the other main point made by Benedict XVI in his brief remarks on Tuesday not get lost: Christianity is a historical religion, the pope said, not a myth, and hence it’s entirely appropriate that it be the subject of serious historical research.

Other points to emerge from the small group reports include:
• A basically positive tone with regard to Liturgies of the Word, led in many cases by laity, in regions where priest shortages dictate that there is no regular access to the Sunday Eucharist.
• A desire for deeper study of the reasons why some Catholics are defecting to Pentecostal and Evangelical movements, as well as repackaged versions of tribal and indigenous religion, in some parts of the world.
• Support for reading and reflecting on the Bible within small Christian communities, often referred to as “base communities” or “basic ecclesial communities.”
• Deeper attention to the ecumenical and inter-religious dimension of the Bible, especially in relations with Jews.
• Near-universal support for translations of the Bible into more languages, especially those spoken by poor and isolated communities.
• Division over three practical ideas that surfaced during the synod’s opening round: 1) a “compendium” or “directory” for homilists and preachers; 2) creating a special World Congress on the Word of God, analogous to existing Eucharistic Congresses; 3) revising the Lectionary, the collection of scripture readings for use at Mass. In each case, one group appeared to endorse the idea, while another expressed ambivalence or outright opposition.

The Synod of Bishops on “The Word of God in the Life and Mission of the Church” runs Oct. 5-26 in Rome.

Carlos Mesters fala sobre o Sínodo

A Palavra está presente em todos os setores da vida da Igreja

Ao falar sobre a importância dos círculos bíblicos, Frei Carlos Mesters afirma que neles “a Bíblia se torna um espelho, no qual as pessoas descobrem dimensões mais profundas da sua própria vida que antes não tinham percebido”. Para ele, na entrevista (…) concedida por e-mail para a IHU On-Line, a importância de um sínodo sobre a Bíblia no atual momento é muito grande por vários motivos, dentre os quais “o aprofundamento que a Palavra de Deus pode trazer para a vida humana” e a percepção da “importância da presença da sabedoria de Deus na leitura que os pobres do mundo inteiro fazem da Bíblia” (…) Mesters é assessor de um dos bispos brasileiros na XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que ocorre de 5 a 26 de outubro, no Vaticano. A entrevista a seguir foi elaborada em parceria com a equipe de Teologia Pública do Instituto Humanitas Unisinos – IHU.

 

A entrevista

Graziela Wolfart

IHU On-Line – A leitura orante da Palavra de Deus tem tido muita difusão nas comunidades eclesiais, através dos círculos bíblicos. Qual é para o senhor a riqueza deste método e qual o seu limite?

Carlos Mesters – A riqueza deste método é que a leitura orante da Palavra de Deus provoca no povo um contato direto com a Bíblia, sem intermediários, num ambiente comunitário de fé, dentro da realidade do dia-a-dia da vida. Deste modo, vai nascendo um confronto entre Bíblia e Vida. A Bíblia se torna um espelho, no qual as pessoas descobrem dimensões mais profundas da sua própria vida que antes não tinham percebido. Você pergunta: “Qual o seu limite?”. Tudo o que é humano é limitado. Um limite aparece quando os participantes do Círculo Bíblico se fecham em si mesmos e esquecem a realidade da vida ao redor. Pois a Palavra de Deus não está só na Bíblia, mas também na Vida, na natureza, nos fatos, em tudo que acontece.

IHU On-Line – Qual é a importância de um Sínodo sobre a Bíblia no momento atual? Qual é a sua apreciação do “instrumentum laboris” para o sínodo?

Carlos Mesters – A importância de um sínodo sobre a Bíblia no atual momento é muito grande por vários motivos: 1) permite uma partilha entre os bispos, participantes do Sínodo, em torno das experiências e dos problemas no uso e na leitura que o povo faz da Bíblia nas várias partes do mundo, sobretudo nos países da América Latina, África e Ásia. Uma partilha assim enriquece a todos, ajuda relativizar os problemas e faz perceber melhor o caminho, o rumo do Espírito; 2) favorece o aprofundamento que a Palavra de Deus pode trazer para a vida humana e ajuda a descobrir melhor o alcance e o significado do documento “Dei Verbum ” do Vaticano II sobre a Revelação; 3) faz perceber a importância da presença da sabedoria de Deus na leitura que os pobres do mundo inteiro fazem da Bíblia. Isto ajudará para que a exegese científica descubra melhor qual a sua contribuição para a vida das Comunidades, para a Igreja; 4) o Sínodo sobre a “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” completa a caminhada iniciada no Sínodo anterior sobre a Eucaristia. Quanto ao Instrumentum Laboris, a opinião geral é de que se trata de um documento bom que está dando ao sínodo um rumo positivo. O Instrumentum Laboris é o resultado das contribuições do mundo inteiro. Mostra como a Palavra está presente em todos os setores da vida da Igreja.

IHU On-Line – Que leitura o senhor faz da presença de 25 mulheres e do rabino chefe de Haifa, Israel, Shear-Yashuv Cohen, neste sínodo?

Carlos Mesters – Acho muito importante a presença das mulheres, mas ainda é pouco. Só 25 entre mais de 200 participantes. O olhar feminino descobre e revela aspectos da Palavra de Deus que o olhar masculino não percebe, e vice-versa. Os dois olhares se completam e se enriquecem mutuamente. Limitando tudo ao olhar masculino, empobrecemos a riqueza que a Palavra de Deus poderia proporcionar às Igrejas e à humanidade. Quanto à presença do Rabino chefe de Haifa, Shear-Yashuv Cohen, ela é muito significativa e muito importante nos nossos dias. Ela nos ajuda a recuperar a memória. Não podemos esquecer nunca que Jesus era judeu, nasceu judeu, viveu como judeu e morreu como judeu. Todo o Novo Testamento é uma interpretação do Antigo Testamento à luz de Jesus. Temos muito a aprender uns dos outros. No passado, essa perda de memória a respeito da nossa origem nos levou a erros e crimes ao longo dos séculos. Recuperar a memória significa recuperar nossa identidade através do diálogo com nossos irmãos judeus. Em mim nasce o desejo de que, um dia, possa fazer o mesmo com nossos irmãos muçulmanos. Judeus, cristãos e muçulmanos, somos irmãos, filhos do mesmo pai Abraão.

IHU On-Line – Por que os livros apócrifos atraem tanto ao público? Não é tempo de fazer uma leitura de como foram selecionados os livros que hoje formam a Bíblia e revisar os que ficaram de fora?

Carlos Mesters – Acho que não há o que revisar. Os livros chamados apócrifos atraem porque são considerados proibidos. Tudo que é proibido atrai. Na realidade, nunca foram proibidos. Apócrifico quer dizer que estes livros não fazem parte da lista oficial. Deveriam ser chamados de livros “não-canônicos”. É bom notar que os livros apócrifos mais tardios, escritos entre o século V e VIII, têm uma tendência anti-semita, o que não é bom. É deplorável. Alguns chegam quase a considerar Pilatos como um homem honesto que foi enganado pelos judeus para condenar Jesus. Isto não corresponde à verdade histórica.

IHU On-Line – Que hermenêuticas o senhor apontaria como importantes, hoje, na leitura da Palavra, para não cair em fundamentalismos, literalismos ou leituras ideológicas?

Carlos Mesters – Todas as hermenêuticas que ajudam o povo a descobrir a presença da Palavra de Deus na vida são importantes: a hermenêutica feminina, a negra, a indígena, a leitura que os pobres fazem da Bíblia, enfim, tudo que faz a gente olhar os textos com um olhar a partir da realidade das pessoas. Resumindo, acho importante seguir os três passos do método ou da hermenêutica que Jesus usou com os discípulos na estrada de Emaús. O primeiro passo: aproximar-se das pessoas, escutar sua realidade e seus problemas; ser capaz de fazer perguntas que as ajudem a olhar a realidade da vida com um olhar mais crítico (Lc 24,13-24). O segundo passo: com a luz da Palavra de Deus iluminar a situação que os fazia sofrer e os levou a fugir de Jerusalém para Emaús; usar a Bíblia para fazer arder o coração (Lc 24,25-27). O terceiro passo: criar um ambiente orante de fé e de fraternidade, onde possa atuar o Espírito que abre os olhos, faz descobrir a presença de Jesus e transforma a cruz, sinal de morte, em sinal de vida e de esperança. Assim, aquilo que antes gerava desânimo e cegueira, torna-se luz e força na caminhada (Lc 24,28-32). O resultado do uso da Bíblia é o de criar coragem e voltar para Jerusalém, onde continuam ativas as forças de morte que mataram Jesus, e experimentar a presença viva de Jesus e do seu Espírito na experiência de Ressurreição (Lc 24,33-35). O objetivo último da Leitura Orante da Bíblia ou da Lectio Divina não é interpretar a Bíblia, mas sim interpretar a vida. Não é conhecer o conteúdo do Livro Sagrado, mas, ajudado pela Palavra escrita, descobrir, assumir e celebrar a Palavra viva que Deus fala hoje na nossa vida, na vida do povo, na realidade do mundo em que vivemos (Sl 95,7); é crescer na fé e experimentar, cada vez mais, que “Ele está no meio de nós!”

 

Outros pontos de vista sobre o Sínodo podem ser vistos no texto do jornalista norte-americano John L. Allen Jr. publicado no National Catholic Reporter em 17/10/2008 e reproduzido por Notícias: IHU On-Line em 20/10/2008.

O Sínodo sobre a Bíblia em busca de um meio termo

Pode-se dizer que o sínodo, dedicado ao à “Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, está tentando caminhar num curso médio entre dois extremos: o fundamentalismo bíblico e o ceticismo secular. O cardeal William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, contou ao NCR, na quinta-feira, que ele considera esses aparentes opostos, em certo sentido, em simbiose: quando fundamentalistas fazem pedidos sobre a Bíblia que não podem ser reconciliados com a razão, disse, isso alimenta o ceticismo sobre a Bíblia na cultura em geral.

O objetivo do sínodo poderia ser expresso, entretanto, como um despertar de uma paixão renovada pela escritura, enquanto, simultaneamente, encoraja os católicos a ler a Bíblia dentro da tradição viva da igreja – aí, ou mais ou menos por aí, a teoria anda, sustentando fé e razão juntas.

Darei um rápido resumo dos encontros até agora, primeiro olhando áreas de consenso geral e, depois, três tensões que, a seu tempo, permanecem não resolvidas.

Consenso geral

De muitas maneiras, o que é mais notável nesse sínodo é o consenso amplo na maioria dos pontos em geral, o que permitiu a discussão para, rapidamente, passar para o mundo da pastoral e da prática. As idéias a seguir foram repetidamente afirmadas no sínodo, virtualmente sem dissenso:

. A “Palavra de Deus”, no entendimento católico, é mais ampla do que os textos escritos da escritura. Ela se refere principalmente a uma pessoa, Jesus Cristo, por isso é teologicamente incorreto descrever a cristandade (pelo menos na sua forma católica) como uma “religião do livro”.
. A escritura deve ser lida no contexto da igreja, isto é, sua tradição, ensinamentos e culto doutrinais. Dentre outras coisas, esse ponto implica em um maior acento na relação entre a Bíblia e a liturgia, especialmente a Missa.
. A Bíblia não é simplesmente uma parte da literatura antiga, e por isso não pode ser interpretada exclusivamente por meio das lentes da história e da crítica literária. A interpretação bíblica deve ir mais a fundo, rumo a uma “exegese teológica”, que relacione estudo especializado da Bíblia e a fé viva da igreja e os desafios pessoais de pessoas reais.
. A Bíblia é uma ponte natural para melhores relações com outros cristãos e com os judeus, já que ela representa uma “casa comum” compartilhada, apesar das óbvias diferenças na interpretação.
. A Igreja é obrigada não apenas a proclamar a Palavra de Deus, mas também a escutá-la. Esse é um desafio especial, diversos oradores indicaram, em um mundo em que o escutar é freqüentemente uma arte perdida.

Vários pontos práticos estiveram sob tensão tão freqüentemente que eles também são apostas seguras a estar entre as proposições finais: a necessidade de melhores homilias; uma prática mais ampla da LectioDivina, isto é, o uso da Bíblia na oração; a necessidade de se traduzir a Bíblia, tornando-a disponível em todas as línguas, especialmente em áreas isoladas do mundo em desenvolvimento onde não há edição na língua local – ou onde a língua local é ainda inteiramente oral.

Tensões

1. Ministros leigos da Palavra

Um ponto imprevisto que esteve cozinhando em fogo lento no sínodo, sem nunca ter estourado realmente no debate aberto, se refere à crescente prática de liturgias da Palavra, lideradas em grande parte por leigos, em várias partes do mundo – especialmente em regiões do mundo em desenvolvimento, onde a escassez de padres é muito aguda. Na quinta-feira, o bispo Luis Tagle da diocese de Imus, nas Filipinas, disse que esse assunto fez “as pessoas hesitarem” no sínodo.

A precaução é tanto teológica quanto prática. Teologicamente, se se supõe que a Eucaristia deve ser “a fonte e o auge” da vida cristã, ninguém quer se render à idéia de que ela não estaria regularmente disponível para uma crescente fileira da população católica. Praticamente, alguns bispos temem que a promoção muito agressiva de ministros leigos poderia, na realidade, aumentar o problema ao desencorajar alguns rapazes jovens de buscar o sacerdócio.

Por outro lado, o problema mais grave é que, em algumas regiões, muitos católicos não teriam nenhum contato com a igreja, pelo menos em uma base regular, se não fossem as liturgias da Palavra. A realidade é que, em alguns lugares, um padre é visto agora como tradicionalmente sempre se viu um bispo: uma figura de autoridade e um importante ponto de referência, mas não alguém que se espere para ver a cada domingo. Nesse sentido, disse Tagle, a questão real é provavelmente como melhor formar e treinar ministros leigos para que possam ajudar as pessoas a ver as liturgias da Palavra como uma preparação para a Eucaristia, “quando ela for disponível”.

Um bispo ocidental contou à NCR nesta semana que a discussão no sínodo sobre os ministros leigos da Palavra tem sido um “substituto” para os debates sobre o viri probati, ou seja, a ordenação de homens casados ao sacerdócio católico. Se é assim, isso poderia ajudar a explicar por que o sínodo não está tão certo do que dizer.

2. O método histórico-crítico

Se tudo o que importasse nesse ponto fossem generalizações, não haveria problema. Algumas fórmulas como a seguinte poderiam comandar quase um irresistível consentimento: o método histórico-crítica é valioso, mas não é o bastante. Ele precisa ser integrado à reflexão teológica mais ampla da Igreja, o que implica que os teólogos e exegetas trabalhem e se dêem bem.

O diabo, entretanto, está nos detalhes. No sínodo, alguns imprimem claramente um tom mais positivo com relação ao estudo acadêmico da Bíblia, usando as ferramentas essencialmente seculares da pesquisa histórica e da crítica literária, dentre outras. Levada caracterizou o contraste: “Alguns criticaram o método histórico-crítico, baseados em que é difícil superar as suposições filosóficas que formam a sua base para muitos dos seguidores originais do método”, disse. “Outros o vêem como uma ferramenta útil para chegar a uma melhor compreensão do sentido literal e histórico da escritura”.

Em sua fala solitária ao sínodo até agora, o Papa Bento XVI tocou precisamente nesse ponto, argumentando essencialmente que os estudiosos que usam o método histórico-crítico devem tomar a fé da igreja como o seu ponto de partida.

Nesse ponto, dois desafios se apresentam.

Primeiro, o balanço apropriado deve ser impresso nos documentos conclusivos do sínodo. Se há muita crítica aos exegetas e ao método histórico-crítica, os estudiosos bíblicos católicos podem se sentir sob ataque, ou que o relógio está girando ao contrário em ferramentas que eles agora assumem como dadas. Se a linguagem é muito suave, entretanto, então o desejo claro por uma leitura mais “teológica” da escritura poderia se perder no meio do palheiro.

Segundo, há a questão prática de como, exatamente, colocar os teólogos e os exegetas em uma conversa mais profunda, especialmente dada a natureza hiper-compartimentalizada da vida acadêmica nos dias de hoje. Esse pode ser o ponto sobre o qual há muito drama – irá o sínodo se restringir a um fervorino sobre a relação entre a exegese e a teologia, simplesmente ecoando os pontos básicos apresentados pelo PapaBento XVI na terça-feira, ou ele irá realmente oferecer sugestões concretas para fomentar elos mais próximos entre os especialistas bíblicos, os teólogos e os pastores?

O padre da ilha filipina de Basilian, Thomas Rosica, um canadense que está lidando com comunicados de imprensa do sínodo em inglês e que é também um estudioso bíblico, ofereceu uma metáfora memorável daquilo que está em jogo.

“Muitos de nós foram treinados como cirurgiões”, disse, na quinta-feira, querendo dizer que os exegetas aprendem a fazer cortes muito precisos no texto bíblico – determinando qual é o sentido exato de uma dada forma verbal, ou detalhando os contextos sociais das comunidades de João e de Lucas.

“O que esquecemos às vezes é que estamos operando com um corpo vivo, não com um cadáver”, disse Rosica. “Espera-se que sejamos cirurgiões cardíacos, não médicos-legistas. O sucesso é definido se o corpo sobrevive à cirurgia”.

3. Infalibilidade da Bíblia

Alguns bispos, como o cardeal George Pell, de Sydney, Austrália, lançou a idéia de que a Congregação para a Doutrina da Fé produza um documento sobre a infalibilidade da Bíblia, no sentido de resolver o que tem sido uma questão em aberto desde o Concílio Vaticano II (1962-65) e seu documento sobre a revelação divina, Dei Verbum.

Esse ponto se torna rapidamente técnico, mas, na essência, eis aqui o que está em jogo: quanto da Bíblia é “inspirado” e livre de erros? É apenas o que se poderia chamar do conteúdo “teológico” da Bíblia, isto é, aquilo que ela ensina sobre a salvação? Ou toda a Bíblia é infalível, e por isso “verdadeira”, mesmo que isso não signifique necessariamente uma verdade literal ou factual?

O cardeal Francis George, de Chicago, amplamente visto como um dos pensadores líderes dos níveis mais superiores da igreja, disse em entrevista nesta semana que a segunda opção representa melhor “onde estamos hoje”, mas reconhece que a questão não foi resolvida.

Há uma espécie de dinâmica Cila1 e Caríbdis2 inerente a esse debate. Contorce-se muito ao dizer que só as partes teológicas da Bíblia são inspiradas, e pode parecer que a igreja está flertando com o ceticismo. Vai muito longe ao dizer que a infalibilidade se aplica a cada vírgula do texto, e pode acabar em um tipo de fundamentalismo católico.

Independentemente de qual visão se tome, também há a questão concreta sobre se agora é o momento certo de o Vaticano dizer alguma coisa. Mesmo que essa seja uma visão razoavelmente cínica das coisas, é freqüente o caso de pessoas que clamam por uma declaração do Vaticano quando eles pensam que irão receber a resposta que querem. Por outra parte, tendem a sugerir que ainda não é “oportuno” publicar um documento.

Será, por isso, fascinante assistir como exatamente o sínodo irá expressar suas recomendações – ele deverá escolher uma só – sobre esse ponto.

 

Se preferir, veja o original: The Synod on the Bible looks for middle ground; A ‘poignant’ press conference:
…One might say that the synod, dedicated to “The Word of God in the Life and Mission of the Church,” is trying to steer a middle course between two extremes: Biblical fundamentalism, and secular skepticism. Cardinal William Levada, Prefect of the Congregation for the Doctrine of the Faith, told NCR on Thursday that he regards these seeming opposites as, in a sense, symbiotic: When fundamentalists make claims about the Bible that can’t be reconciled with reason, he said, it feeds skepticism about the Bible in the broader culture. The aim of the synod could therefore be phrased as awakening a renewed passion for scripture, while simultaneously encouraging Catholics to read the Bible within the living tradition of the church — thereby, or so the theory goes, holding faith and reason together. I’ll give a quick summary of the proceedings so far, first looking at areas of general agreement and then three tensions that, at this stage, remain unresolved…

Livro de Martini em espanhol e italiano

Foi traduzido para o espanhol o livro do cardeal e biblista Carlo Maria Martini Diálogos noturnos em Jerusalém: sobre o risco da fé.

O original, como se sabe, é em alemão: MARTINI, C. M.; SPORSCHILL, G. Jerusalemer Nachtgespräche: Über das Risiko des Glaubens. Freiburg: Herder, 2008, 144 S. – ISBN 9783451059797.

A edição em espanhol é: MARTINI, C. M.; SPORSCHILL, G. Coloquios nocturnos en Jerusalén. Madrid: San Pablo, 2008, 200 p. – ISBN 9788428533836.

Está programada para novembro a edição italiana de Conversazioni notturne a Gerusalemme: sul rischio della fede. Pela editora Mondadori.

Capitalismo em Crise

Acompanhe a situação atual lendo a página especial de Carta Maior: Capitalismo em Crise.

Textos assinados por Luiz Gonzaga Belluzzo, Bernardo Kucinski, José Saramago, Flávio Aguiar, Noam Chomsky, Nouriel Roubini, François Chesnais, Maria da Conceição Tavares, Walden Bello, Eric Hobsbawm, Joseph Stiglitz, Ignacio Ramonet, José Luís Fiori, Gilson Caroni Filho, Michael Moore, Eduardo Galeano e muitos outros.