Ateísmo: tema da IHU Online desta semana

O “novo” ateísmo em discussão

Este é o tema de capa da edição 245 da IHU Online, publicada em 26 de novembro de 2007.

 

Diz o editorial:

“Existe em nós um ateu potencial que grita e sussurra a cada dia suas dificuldades em crer”, escreveu num artigo recente, publicado no jornal Corriere della Sera, o cardeal Carlo Maria Martini, jesuíta, arcebispo emérito de Milão. Recentemente, cientistas, filósofos e escritores, como Richard Dawkins, Daniel Dennet, Sam Harris, Michel Onfray e Christopher Hitchens, entre outros, reanimaram o debate sobre o ateísmo com uma fúria não só antirreligiosa, mas com “um cariz quase religioso”, constata o filósofo português João Vila-Chã, em entrevista para a IHU On-Line desta semana. Mas será que o método científico de entender o mundo tornou a fé religiosa intelectualmente implausível? Mais: a ciência exclui a existência de um Deus pessoal, como sustentou Albert Einstein? A evolução torna indigna de crédito toda a ideia da providência divina? A vida e a mente podem ser reduzidas à química? Podemos continuar a afirmar plausivelmente que o mundo é criado por Deus ou que Deus realmente quer que os seres humanos estejam aqui? É possível que toda a complexa padronização que ocorre na natureza seja simplesmente o produto do acaso cego e da necessidade física? Numa era da ciência, podemos crer sinceramente que o universo tem um propósito? As perguntas são de John F. Haught, da Universidade de Georgetown, que concorda com a ideia de Alfred North Whitehead de que o futuro da humanidade e da civilização depende de encontrar-se uma concordância entre a ciência e a fé.

Já para Marcelo Fernandes de Aquino, reitor da Unisinos, “é importante entender o ateísmo contemporâneo seguindo os caminhos tomados pela idéia de Deus a partir do pensamento tardo medieval, nela situando a ruptura entre filosofia e religião e, consequentemente, a exclusão da teologia dos sistemas dos saberes objetivos, aos quais a modernidade pós-cristã reconhecerá uma legitimidade racional universalmente aceita”. Desta maneira, continua Fernandes de Aquino, “a religião deixa de ser um sujeito inspirador de um saber situado e reconhecido no espaço filosófico – a teologia – para tornar-se objeto de um saber que pretende compreendê-la segundo as regras da racionalidade calculadora e operacional, a filosofia da religião”. Ou seja, “a religião como fato cultural passa a ser apenas objeto da filosofia. A theologia cede lugar à filosofia da religião”. Aqui está “o início de interpretação do processo mais amplo de remodelação da cultura humana não mais sob a égide da crença religiosa, e sim da descrença religiosa. Este é o fato cultural realmente novo”.

Também participam desta edição, Alister McGrath, biofísico da Universidade de Oxford, autor de O delírio de Dawkins. Uma resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins (São Paulo: Mundo Cristão, 2007); Lodovico Galleni, cientista italiano da Universidade de Pisa; Richard Swinburne, da Universidade de Oxford; Michel Onfray, fundador da Université Populaire de Caen e autor do Tratado de ateologia, física da metafísica (São Paulo: WMF Martins Fontes, 2007); Felipe Pondé, da PUCSP; Álvaro Valls, da Unisinos; e Paulo Margutti, da FAJE-MG. Richard Dawkins aceitou conceder uma entrevista em meados do próximo mês. Desta maneira, o debate continua.

 

Leia nesta edição:

:: Marcelo Fernandes de Aquino: A religião como fato cultural passa a ser apenas objeto da filosofia

:: Paulo Margutti: Novos ateístas. Apóstolos da racionalidade contra a barbárie?

:: John F. Haught: Uma teologia da evolução precisa mostrar que a fé bíblica não contradiz o caráter evolutivo do mundo

:: Lodovico Galleni: Negar a historicidade do fenômeno evolutivo é um erro como elevar o darwinismo a um dogma

:: João Vila-Chã: A fúria do ateísmo contemporâneo tem cariz quase religioso

:: Alister McGrath: “Em vez de reduzir a influência do fundamentalismo, Dawkins está piorando as coisas”

:: Álvaro Valls: “O que Dawkins vem fazendo atualmente não é ciência, mas sim uma pregação de suposições filosóficas indemonstráveis”

:: Luiz Felipe Pondé: “Esse livro do Dawkins é uma auto-ajuda para ateus inseguros”

:: Michel Onfray: As ficções religiosas existirão enquanto houver humanos

:: Richard Swinburne: Fé e razão podem ser facilmente reconciliadas

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