Pobres ficam mais pobres com aquecimento global

Apartheid climático: “Os ricos habitarão o norte mais frio. Os pobres, todos no calor”, alerta a ONU

O mundo está galopando em direção a um cenário de “apartheid climático”. Isso foi afirmado por um severo e preocupado relatório das Nações Unidas, apresentado nesta terça-feira pelo jurista australiano Philip G. Alston, relator especial da ONU sobre direitos humanos e pobreza extrema – que será formalmente discutido na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra – os desequilíbrios causados pelo sobreaquecimento global recaem principalmente sobre os habitantes dos países mais pobres, enquanto os ricos poderão se permitir evitar as piores consequências da emergência climática, uma grande parte da população do planeta corre o risco de perder não apenas os direitos de base à vida, a água, à alimentação e à moradia, mas também conquistas como a democracia ou o respeito dos direitos civis e políticos. “A raiva das comunidades afetadas, o crescimento das desigualdades, o agravamento da miséria para alguns grupos sociais – o relatório afirma – provavelmente estimularão a disseminação de respostas nacionalistas, xenófobas e racistas”.

A reportagem é de Roberto Giovannini, publicada por La Stampa, 26-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Os desequilíbrios

“A mudança climática – afirma Alston – ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”.

A emergência climática, diz o estudo das Nações Unidas, fará com que 140 milhões de pessoas percam suas casas nos países em desenvolvimento até 2050; até 2030, 120 milhões passarão à condição de pobreza. Em suma, mesmo que os países mais pobres “sejam responsáveis apenas por uma pequena fração das emissões globais, 10%, terão que suportar 75% dos custos causados pela crise climática”. Enquanto os países mais ricos, neste cenário de “apartheid climático” graças aos seus recursos financeiros “conseguirão realizar os ajustes necessários para enfrentar temperaturas cada vez mais extremas”. E se isso acontecer, “os direitos humanos não serão capazes de resistir à tempestade que se aproxima”.

Prevenção insuficiente

Uma situação realmente crítica, causada pela resposta “claramente inadequada” dos estados nacionais, das empresas, das ONGs e das próprias Nações Unidas com relação à gravidade da ameaça climática, não alocando os recursos financeiros e “políticos” necessários para enfrentá-la. Os governos nacionais sempre desconsideraram as indicações da ciência, tanto que todos os tratados internacionais foram ineficazes: até mesmo o acordo de Paris de 2015 não é considerado à altura do desafio em curso. “Mesmo hoje – acrescentou o especialista em direito internacional – muitos países estão dando passos míopes na direção errada”, “e o que um ano atrás era considerado pela ciência um cenário catastrófico agora parece ser considerado uma perspectiva desejável”.

Na mira de Alston estão, com nome e sobrenome, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o colega brasileiro Jair Bolsonaro. Trump deve ser condenado por ter “ativamente silenciado” a ciência sobre o clima, inserindo representantes da indústria em posições-chave, eliminando as regulamentações ambientais; o número um no Brasil, por seu lado, prometeu abrir para atividades agrícolas e de mineração a floresta tropical na Amazônia. Entre os exemplos positivos, citados pelo relator da ONU, está a batalha pelo clima da ativista sueca Greta Thunberg, a greve mundial dos estudantes, o movimento Extinction Rebellion e as causas encaminhadas contra Estados e sociedades poluidoras.

Fonte: IHU – 27 junho 2019

 

Crise climática pode gerar 120 milhões de novos pobres em 2030, segundo previsão da ONU

“A mudança climática ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”. É o alarme lançado pelo relator especial da ONU sobre pobreza extrema e os direitos humanos, Philip Alston. Ele alertou que a crise climática “poderia levar mais de 120 milhões de pessoas a mais à pobreza até 2030”. “Mesmo hoje – acrescentou – muitos países estão dando passos míopes na direção errada”.

A informação foi publicada por La Repubblica, 25-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

“A mudança climática ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”, acrescentou Alston.

O australiano Alston faz parte de um grupo de especialistas independentes das Nações Unidas. O principal alerta do relatório, baseado nas pesquisas científicas mais recentes e apresentado em Genebra, é que os pobres do mundo correm o risco de serem atingidos mais duramente pelo aumento das temperaturas e pela potencial escassez de alimentos e conflitos que poderiam acompanhar essa mudança. Prevê-se que os países em desenvolvimento sofram pelo menos 75% dos custos da mudança climática, apesar do fato de que a metade mais pobre da população mundial gere apenas 10% das emissões de CO2.

Fonte: IHU – 26 junho 2019

 

Mudanças Climáticas: Flutuações de temperatura afetarão os países mais pobres do mundo, sugere uma nova pesquisa

Para cada grau de aquecimento global, o estudo sugere que a variabilidade de temperatura aumentará em até 15% no sul da África e na Amazônia, e até 10% no Sahel, na Índia e no Sudeste Asiático.

O estudo foi publicado pela University of Exeter e reproduzida por EcoDebate. A tradução e edição são de Henrique Cortez, 09-05-2018.

Enquanto isso, os países fora dos trópicos – muitos dos quais são os países mais ricos que mais contribuíram para as mudanças climáticas – devem ver uma diminuição na variabilidade de temperatura.

Os pesquisadores, das universidades de Exeter, Wageningen e Montpellier, descobriram esse “padrão injusto” ao abordarem o difícil problema de prever como os extremos climáticos, como ondas de calor e estalos frios, podem mudar em um clima futuro.

“Os países que menos contribuíram para as mudanças climáticas e têm o menor potencial econômico para lidar com os impactos estão enfrentando os maiores aumentos na variabilidade de temperatura”, disse o principal autor do estudo, Sebastian Bathiany, da Universidade de Wageningen.

O professor Tim Lenton, da Universidade de Exeter, acrescentou: “Os países afetados por este duplo desafio da pobreza e aumento da variabilidade de temperatura já compartilham metade da população mundial, e as taxas de crescimento populacional são particularmente grandes nesses países”.

“Esses aumentos são más notícias para sociedades tropicais e ecossistemas que não estão adaptados a flutuações fora da faixa típica”.

O estudo também revela que a maior parte das crescentes flutuações de temperatura nos trópicos está associada a secas – uma ameaça extra ao abastecimento de alimentos e água.

Para sua investigação, a equipe analisou 37 modelos climáticos diferentes que foram utilizados para o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Embora a variabilidade climática tenha sido estudada extensivamente por cientistas do clima, o fato de que a variabilidade climática vai mudar recebeu pouca atenção nos campos que investigam os impactos das mudanças climáticas.

Referência:

Climate models predict increasing temperature variability in poor countries. Sebastian Bathiany, Vasilis Dakos, Marten Scheffer and Timothy M. Lenton. Science Advances 02 May 2018: Vol. 4, no. 5, eaar5809 DOI: 10.1126/sciadv.aar5809

Abstract

Extreme events such as heat waves are among the most challenging aspects of climate change for societies. We show that climate models consistently project increases in temperature variability in tropical countries over the coming decades, with the Amazon as a particular hotspot of concern. During the season with maximum insolation, temperature variability increases by ~15% per degree of global warming in Amazonia and Southern Africa and by up to 10%°C−1 in the Sahel, India, and Southeast Asia. Mechanisms include drying soils and shifts in atmospheric structure. Outside the tropics, temperature variability is projected to decrease on average because of a reduced meridional temperature gradient and sea-ice loss. The countries that have contributed least to climate change, and are most vulnerable to extreme events, are projected to experience the strongest increase in variability. These changes would therefore amplify the inequality associated with the impacts of a changing climate.

 

Fonte: IHU – 10 maio 2018