Quatrocentos não é pouco, um é muito

Eles eram 400 nas ruas de São Paulo, no primeiro sábado de dezembro de 2014, pedindo intervenção militar. Quatrocentos não é pouco. Um é muito.

Quando escuto brasileiros fazendo manifestação pela volta da ditadura, penso que eles não podem saber o que estão dizendo. Quem sabe, não diz. Mas esse primeiro pensamento é uma mistura de arrogância e de ingenuidade. O mais provável é que uma parte significativa desses homens e mulheres que têm se manifestado nas ruas desde o final das eleições, orgulhosos de sua falta de pudor, peçam a volta dos militares ao poder exatamente porque sabem o que dizem. Mas talvez seja preciso manter não a arrogância, mas a ingenuidade de acreditar que não sabem, porque quem sabe não diria, não poderia dizer. Não seria capaz, não ousaria. É para estes, os que desconhecem o seu dizer, estes, que talvez nem existam, que amplio aqui a voz das crianças torturadas, de várias maneiras, pela ditadura.

Crianças. Torturadas. De várias maneiras.

Leia: Aos que defendem a volta da ditadura – Eliane Brum: El País 08/12/2014

Sobre o livro Infância Roubada

O livro Infância Roubada: Crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil  é resultado do ciclo de audiências “Verdade e Infância Roubada”, realizada pela Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” entre 6 e 20 de maio de 2013. Na ocasião, foram ouvidos cerca de 40 testemunhos de filhos de presos políticos, perseguidos e desaparecidos da ditadura. Hoje, adultos na faixa de 40, 50 anos, cujas histórias ainda não haviam sido contadas. Os depoimentos foram marcados por lembranças da prisão, do exílio, do desamparo, de questionamentos em relação às suas identidades, de medo, insegurança, isolamento, solidão e vazio que, em muitos casos, são traumas não superados.

Leia Mais:
Relatório final da CNV está na Internet
Brasil 2014: mais leituras sobre direita e golpismo
“As marcas da tortura sou eu. Fazem parte de mim”

Relatório final da CNV está na Internet

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), entregue hoje à Presidenta Dilma Rousseff, está disponível na Internet.

Diz a página da CNV:

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade foi entregue hoje em cerimônia oficial no Palácio do Planalto à presidenta Dilma Rousseff. Dividido em três volumes, o relatório é o resultado de dois anos e sete meses de trabalho da Comissão Nacional da Verdade, criada pela lei 12528/2011.

Instalada em maio de 2012, a CNV foi criada para apurar e esclarecer, indicando as circunstâncias e a autoria, as graves violações de direitos humanos praticadas entre 1946 e 1988 (o período entre as duas últimas constituições democráticas brasileiras) com o objetivo de efetivar o direito à memória e a verdade histórica e promover a reconciliação nacional.

Para isso, a CNV adotou preceitos internacionais e delimitou que as graves violações de direitos humanos são as cometidas por agentes do Estado, a seu serviço ou com a conivência/aquiescência estatal, contra cidadãos brasileiros ou estrangeiros.

São graves violações de direitos humanos: as prisões sem base legal, a tortura e as mortes dela decorrentes, as violências sexuais, as execuções e as ocultações de cadáveres e desaparecimentos forçados. Praticadas de forma massiva e sistemática contra a população, essas violações tornam-se crime contra a humanidade.

Ao longo de sua existência, os membros da CNV colheram 1121 depoimentos, 132 deles de agentes públicos, realizou 80 audiências e sessões públicas pelo país, percorrendo o Brasil de norte a sul, visitando 20 unidades da federação – somadas audiências, diligências e depoimentos (continua).

Brasil 2014: mais leituras sobre direita e golpismo

Há uma vontade de desestabilização estratégica em curso que está forçando os seus espaços de legitimação para além da institucionalidade democrática e constitucional e que não será paralisada ou isolada por procedimentos ou acordos, escreve Juarez Guimarães em 09/12/2014.

::  Na CartaCapital

Brasil: ressaca eleitoral ou polarização política? – Deutsche Welle – 06/12/2014
Faixas “Fora, Dilma” e “Fora, comunistas” em meio a gritos de “Somos coxinhas”. Assim, cerca de 500 manifestantes pediram o impeachment da presidente Dilma Rousseff no fim de semana passado, em São Paulo. As manifestações de grupos de direita e esquerda têm se intensificado no país desde as eleições presidenciais. Em novembro, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fez uma marcha na Avenida Paulista contra o ato de eleitores anti-PT descontentes com o resultado das urnas. Mesmo diante da divisão política expressada nas ruas, especialistas argumentam que o Brasil não vive uma polarização nos moldes de Estados Unidos e Venezuela. A divisão, afirmam, é apenas passageira (…) “O país vive, na verdade, uma ressaca política depois de uma eleição muito apertada. As pessoas estão usando a palavra ‘polarização’ de uma maneira bastante equivocada”, avalia Timothy Power, diretor do Programa de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford (…) Para Power, o descontentamento de uma pequena parte da população se concentra na escolha para presidente, por causa dos programas sociais criados pelos governos petistas desde 2002.

O PSDB vai se aproximar da extrema-direita? –  Renan Truffi –  27/11/2014
Para o cientista político Francisco Fonseca, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o PSDB deixou de ser um partido de centro-esquerda e está, cada vez mais, à direita no espectro político. “O PSDB saiu do centro para a direita de cabeça. É um partido que se originou nas modernas classes médias, representada em Mario Covas e o Fernando Henrique daquela época, que era um professor de Sociologia antenado com as questões urbanas”, afirma. “Agora não. Virou um partido reacionário que flerta com essa extrema direita”, argumenta (…) Mas será que o caminho natural do PSDB é aglutinar essa nova classe ultraconservadora? “Tenho dúvidas que o PSDB vá abrigar essa extrema-direita, até pela reação que os seus membros começam a ter em relação a isso”, afirma Couto. “O que eu sinto, entretanto, é que há uma juventude tucana flertando com a extrema-direita, tendo posições realmente muito conservadores a ponto de cultuar ideólogos ultraconservadores como esse que eu falei”, conclui o cientista político Claudio Couto. “Acho que há motivos para alguém ficar com a pulga atrás da orelha com essa migração do PSDB para uma posição mais à direita”.

A democracia em risco – Marcos Coimbra – 24/11/2014
O ano de 2014 caminha para terminar de forma preocupante na política. Não era para ser assim. Há menos de um mês, realizamos uma eleição geral na qual a população escolheu o presidente da República, os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, um terço do Senado, a totalidade da Câmara dos Deputados e das Assembleias estaduais. Mesmo em democracias consolidadas, momentos como aquele, em que todos são convocados a participar diretamente das grandes escolhas de um país, são esporádicos e precisam ser respeitados e valorizados (…) Em quase tudo, o Brasil mostrou-se capaz de igualar ou superar as mais sólidas democracias na capacidade de fazer eleições legítimas. Menos no comportamento de parte das oposições à direita. Ao contrário do eleitorado e das instituições, reagiram de forma arcaica e atrasada aos resultados. Desde a hora em que ficou clara a derrota, insurgiram-se. Seu inconformismo em aceitar o simples fato de não contarem com o apoio da maioria da sociedade o levou a posições descabidas (…) Essa mistura canhestra de preconceitos, invencionices jurídicas e péssima aritmética seria apenas cômica se não fosse trágica. Se não tivesse o apoio da mídia hegemônica conservadora e se não tivesse contraparte na ação de segmentos autoritários espalhados na sociedade e incrustada em nichos da máquina pública, em especial no Judiciário e no Ministério Público. Mundo afora, existem e procuram impor-se correntes de opinião antidemocráticas e intolerantes. Neonazistas assombram a Europa, os Estados Unidos não conseguem se livrar dos supremacistas brancos, em muitos lugares o antissemitismo permanece vivo e perigoso. Lamentavelmente, o Brasil tem radicais de extrema-direita, a espalhar seus ódios e preconceitos. Um anticomunismo ridículo e a saudade da ditadura os identificam. Agora se acham no direito de questionar a eleição. O PSDB precisa refletir a respeito de quem pretende representar. Fazer o têm feito e falar o que têm falado algumas de suas lideranças apenas serve para açular os ultraconservadores.

Guilherme Boulos: “A elite brasileira é atrasadíssima e semeia o ódio” – Renan Truffi – 15/11/2014
À frente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos tem se firmado como uma nova liderança social no País. Nesta quinta-feira 13, Boulos foi responsável por uma passeata que reuniu pelo menos 10 mil pessoas, segundo a PM, na região central de São Paulo, durante três horas e sob forte chuva. A manifestação tinha o objetivo de “enfrentar a direita atrasada” e, ao mesmo tempo, deixar um recado para o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT): se a próxima gestão petista não for voltada para reformas populares, como prometido nas urnas, o MTST não vai sair das ruas. “É preocupante que os primeiros sinais da presidenta [Dilma] não tenham sido esses [de que o governo será progressista]”, afirma. “Esse ato também tem o sentido de dar o recado que o povo vai lutar nas ruas pelo programa que foi eleito nas urnas”. Ao mesmo tempo, diz o líder do MTST, o ato foi um recado à direita conservadora. “[Há] um ranço de classe, de uma elite, de uma burguesia, que nunca aprendeu a conviver com o povo, uma elite que sequer admitiu a abolição da escravatura”, afirma Bouolos. “Então, para eles, falar de Bolsa Família é revolução socialista, falar de investimentos sociais é algo inaceitável”, diz. Segundo Boulos, o povo vai dar uma “resposta à altura, defendendo as reformas populares”. Leia a íntegra da entrevista, feita antes da manifestação.

:: No Brasil 24/7

PSDB radicaliza e se reinventa à direita – Breno Altman – 09/12/2014
Não são poucos aqueles que tratam de classificar como doidivanas o atual comportamento da oposição conservadora. O senador Aécio Neves e seus seguidores são vistos, por observadores de distintas origens, como se estivessem fora da casinha. A trupe pode ser acusada de representar os mais reacionários interesses políticos e de classe. Também resplandece o caráter antidemocrático e adverso à soberania popular de suas aleivosias. Mas não é um bando de loucos. Animados pela forte polarização da campanha eleitoral, oposicionistas de barricada estão rasgando fantasias e disputando a sociedade com um discurso sem maquiagem. Deram-se conta que parte importante do país, da qual brotam votos e apoios à coalizão política chefiada pelo PSDB, não deseja mais orbitar no campo de gravidade do centro político, cenário que se impôs desde a transição pactuada da ditadura para a democracia. Este setor quer ver suas aspirações, ideias, valores e emoções defendidos sem rapapés. Constitui-se de frações políticas e sociais que estão desembarcando da normalização implícita aos regimes democráticos liberais. Sua atitude passou a ter novos paradigmas, baseados em confrontação programática, ocupação de espaços públicos, tensão institucional e mobilização militante. Relevantes meios de comunicação funcionam como banda de música desta dança conservadora, além de fornecer bardos e menestréis para o minueto. São as vias de reinvenção da direita brasileira.

PML: a quem interessa a palavra impeachment? –  Paulo Moreira Leite – 09/12/2014
O jornalista Paulo Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília, questiona o uso da palavra ‘impeachment’ no noticiário sobre as manobras da oposição, em sintonia com parcela do Judiciário e dos meios de comunicação, para tratar das dificuldades que cercam o segundo governo Dilma. “Em primeiro lugar, impeachment é uma forma democrática de um país declarar o impedimento de um presidente que, acusado gravemente numa investigação criminal, tornou-se incapaz de responder pelas responsabilidades de governar”, diz ele. “Não é isso o que assistimos no Brasil de hoje: temos uma oposição que faz ensaios para um golpe de Estado, mascarado pelo apoio de uma parcela do Judiciário e dos meios de comunicação, na esperança de dar ares de legalidade a uma infâmia.” O efeito do uso abusivo da expressão, diz ele, é o desgaste de Dilma. “Nesta circunstância, a palavra impeachment tem um único efeito: enfraquecer uma presidenta que se movimenta para dar novas bases ao segundo mandato”, afirma. “Num bolivarianismo ao contrário, a oposição tenta ir às massas na tentativa de construir uma base social para um jogo sujo. Encontra o vazio político, que é produto da  aprovação do governo, que permanece em patamares vergonhosamente altos para seus adversários. Enquanto gatos pingados carregam cartazes que pedem intervenção militar, 66% da população confirma seu apego a democracia”. Segundo PML, é preciso tratar as coisas como elas são. “O golpismo de 2014, que se inspira em 1964 e 1954, deve ser repudiado como aquilo que é: um ataque a democracia, que prefere entregar o país à treva em vez de respeitar a vontade da maioria.”

Se o golpe no TSE vingasse, todos perderiam – Eduardo Guimarães – 09/12/2014
Já que os fatos finalmente estão mostrando que jamais foi “alarmismo” denunciar (com muita antecedência) que a análise das contas de campanha de Dilma pela Justiça Eleitoral iriam produzir os devaneios golpistas que estão produzindo, pulemos a parte do “eu avisei” para a parte sobre “o que fazer”, que, no frigir dos ovos, é o que interessa a todos (…) Como se sabe, Lula já está se preparando para enfrentar um golpe no TSE que ainda há quem diga que é delírio (…) Suponhamos, agora, que, no TSE, os ministros João Otávio Noronha, Gilmar Mendes, Luiz Fux e Dias Toffoli cumpram o script e, por maioria de quatro a três, rejeitem as contas de campanha de Dilma (…) Nesse momento, o PT estaria recorrendo ao STF contra a decisão do TSE (…) Com a hipotética derrota também no STF, Dilma perderia o mandato e novas eleições seriam convocadas. O país, nesse momento, estaria conflagrado e afundando economicamente. A radicalização de parte a parte racharia a sociedade, o eleitorado. Com Dilma impedida, Lula se candidataria, a menos que prevalecesse a sugestão do Reinaldo Azevedo e o PT fosse colocado na ilegalidade, em pleno século XXI. Como aí já é demais, pois seria a volta da ditadura militar, suponhamos que Lula não seria preso e o PT não seria posto na ilegalidade. Assim, com o país conflagrado, a economia afundando, Aécio Neves e Lula disputariam uma nova eleição. O mais provável é que Lula venceria, mas mesmo se perdesse e Aécio fosse eleito, ele receberia um país conflagrado e uma oposição tão feroz quanto a que está comandando. Será que vale a pena herdar um governo assim? Será que vale a pena atirar o país em tal buraco achando que não será cobrado pelo que os brasileiros vierem a passar? Só o que já se pode garantir é que, até lá – e até o país se recuperar disso tudo –, você, cidadão comum que odeia o PT, se não for ligado a políticos provavelmente estaria desempregado e com a vida virada de cabeça para baixo. E é possível garantir que a mídia e o PSDB não resolveriam os seus problemas pessoais só por você odiar o PT. A pergunta que fica, pois, é a seguinte: vale a pena correr tal risco só por marra da oposição e da mídia, só porque não querem aceitar uma derrota nas urnas e esperar a próxima eleição? Você tem certeza de que é isso o que quer? Vale a pena afundar um país só por birra? Você, que apoia essa aventura, tem certeza de que sabe o que está fazendo?

Lula organiza reação ao golpe contra Dilma – Tereza Cruvinel – 08/12/2014
Está em curso uma escalada política para sangrar a presidente Dilma, buscando condições para um eventual impeachment, desconstruir a imagem mítica do ex-presidente Lula, para inviabilizar sua eventual candidatura a presidente em 2018, e ferir de morte o PT.  Estão tentando realizar o que Jorge Bornhausen pregou em 2005, quando disse que era preciso “acabar com esta raça”, tem dito o ex-presidente aos mais próximos (…) Diante de todos os sinais de que a ofensiva de agora tem elementos mais corrosivos dos que os utilizados em 2005, Lula e o comando petista decidiram fazer em Brasília, na quarta-feira, um ato político de resposta, de denúncia e mobilização da militância para a conjuntura difícil que está se desenhando.

E se o Nassif tiver razão? – Miguel do Rosário – 08/12/2014
Há semanas que o blogueiro Luis Nassif, em geral um analista moderado e pacato, como convêm a um bom mineiro, tem martelado que a escolha de Gilmar Mendes para relatar as contas de campanha de Dilma Rousseff, não foi uma coincidência. Aliás, duas coincidências: Gilmar foi “sorteado” para relatar as contas da campanha de Dilma e também do PT. Reza a lenda que o raio da tempestade não cai jamais no mesmo lugar. Não foi o caso desta vez. O raio caiu três vezes no mesmo lugar. Gilmar foi sorteado para relatar as contas de Dilma. Gilmar foi sorteado para relatar as contas do PT. Gilmar foi sorteado para relatar a interpelação que o PT decidiu fazer contra Aécio Neves, quando este disse que perdeu as eleições para uma “organização criminosa”. Nassif especulou, com base na sua intuição mineira e quiçá em alguma informação mais sólida, que Toffoli entrou para o esquema da mídia e do golpe [Luis Nassif: Armado por Toffoli e Gilmar, já está em curso o golpe sem impeachment – 18/11/2014 e A ópera do impeachment perto do primeiro grand finale – 07/12/2014]. E por isso teria fraudado o processo de escolha do relator das contas de campanha da Dilma duas vezes: 1) ao não esperar a nomeação de um novo ministro do TSE, aproveitando-se da viagem da presidenta para fora do país; 2) manipulando o sorteio para escolher Gilmar Mendes. A teoria de conspiração de Nassif, apesar de irretocável, não fez muito sucesso. Eu mesmo não acreditei. Pois agora começo a acreditar.

Sobre a necessidade de se isolar o golpismo

Há uma vontade de desestabilização estratégica em curso que está forçando os seus espaços de legitimação para além da institucionalidade democrática e constitucional  e  que não será paralisada ou isolada  por procedimentos ou acordos.

Leia:

O PSDB virou um partido golpista? – Juarez Guimarães: Carta Maior 09/12/2014

Se for correto o juízo que se expõe e se documenta neste artigo, estamos diante do maior desafio posto à democracia brasileira desde que se completou a transição da ditadura militar através da aprovação da Constituição de 1988. A passagem do PSDB  de um partido que busca a maioria nas urnas para um partido golpista mexe com o centro do sistema partidário brasileiro, pelas forças que representa, organiza e mobiliza.

Quem é Juarez Guimarães?

Quando acordou, era tarde

Quando acordou, era tarde: encerrado o primeiro turno, perdeu a cidadela mineira, a rede de segurança contra qualquer tombo nas eleições presidenciais. No segundo turno, ou vencia as eleições nacionais ou seria varrido do mapa político… Até meia hora antes do anúncio da apuração, esteve na frente. De repente, tudo foi se desvanecendo, virando fumaça. Foi como se aos 90 minutos na final de uma Copa do Mundo o favorito levasse um gol contra. A dupla derrota deslocou-o do seu eixo… E Aécio, que  era bom em política, em conspiração mostrou-se um aprendiz. Só um amadorismo exemplar para explicar essa campanha carbonária para propor abertamente a guerra política… Ontem, ao declarar-se derrotado por uma “organização criminosa” Aécio abdicou definitivamente de Minas…

Como bom mineiro, recomendo aos interessados um brilhante texto de Luís Nassif, mineiro, sobre outro mineiro, Aécio…

O dia em que os santos protetores de Minas abandonaram Aécio – Luis Nassif Online: 01/12/2014

Direita brasileira está cada vez mais assanhada

O pedido de auditoria na eleição presidencial feito pelo PSDB poderia ser considerado uma tolice, não fosse a revelação de que se trata de operação combinada com pelo menos um dos principais jornais do país, o Estado de S. Paulo. Qual seria o efeito de tal notícia no ambiente das redes sociais digitais? Evidentemente, essa manobra tende a acirrar o radicalismo na parcela mais aloprada do eleitorado, aquela que prega diariamente o golpe militar e até o assassinato de adversários como ação política legítima. O episódio coloca a sexta-feira, 31 de outubro, no calendário de horrores criado pela simbiose bizarra entre a imprensa hegemônica e a oposição ao Executivo federal. Numa escala imaginária de despautérios, fica apenas alguns graus abaixo da manobra consumada no último fim de semana, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial, por um panfleto de campanha distribuído sob o logotipo da revista Veja.

 

Nova direita surgiu após junho, diz filósofo – Eleonora de Lucena: Folha de S. Paulo: 31/10/2014

O “surto de impaciência” revelado pelas manifestações de junho de 2013 “provocou um surto simétrico e antagônico que é o surgimento de uma nova direita, um dos fenômenos mais importantes do Brasil contemporâneo. Uma direita não convencional, que não está contemplada pelos esquemas tradicionais da política”. Quem faz a análise é o filósofo Paulo Eduardo Arantes, professor aposentado da USP (Universidade de São Paulo). Ele compara o que acontece aqui com a dinâmica nos Estados Unidos: “A direita norte-americana não está mais interessada em constituir maiorias de governo. Está interessada em impedir que aconteçam governos. Não quer constituir políticas no Legislativo e ignora o voto do eleitor médio. Ela não precisa de voto porque está sendo financiada diretamente pelas grandes corporações”, afirma. Por isso, seus integrantes podem “se dar ao luxo de ter posições nítidas e inegociáveis. E partem para cima, tornando impossível qualquer mudança de status quo. Há uma direita no Brasil que está indo nessa direção”, diz o filósofo. Segundo ele, “a esquerda não pode fazer isso porque tem que governar, constituir maiorias, transigir, negociar, transformar tudo em um mingau”. Nesse confronto, surge o que sociólogos nos EUA classificam como uma “polarização assimétrica”, com um lado sem freios e outro tentando contemporizar. Na avaliação de Arantes, o conceito de polarização assimétrica se aplica ao Brasil. “A lenga-lenga do Brasil polarizado é apenas uma lenga-lenga, um teatro. Nos Estados Unidos, democratas e liberais se caracterizam pela moderação – como a esquerda oficial no Brasil, que é moderada. O outro lado não é moderado. Por isso a polarização é assimétrica”. “Fora o período da eleição –que é um teatro em se engalfinham para ganhar– um lado só quer paz, amor, beijos, diálogo, tudo. Uma vez que se ganha, as cortinas se fecham e todo mundo troca beijos, ministérios –e governa-se. Mas há um lado que não está mais interessado em governar”, afirma. Arantes fez essa análise no final da tarde de quarta-feira (29), em palestra sobre as manifestações de junho de 2013 no 16º Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação de Filosofia, que acontece nesta semana em Campos do Jordão (SP).

Leia o texto completo.

Este mesmo texto pode ser lido em Maria Frô, publicado em 31/10/2014 sob o título: Nova direita, financiada por corporações, deseja impedir que governos atuem

Triunfalismo aecista em Minas Gerais vira farelo

A projeção triunfalista de que Aécio ganharia as eleições presidenciais com grande folga em Minas acabou se transformando na principal debilidade do PSDB. Ao contrário dos piores prognósticos tucanos, o candidato perdeu na sua terra natal por mais de 500 mil votos no 2º turno.

Muitos aecistas, inconformados com a derrota, ainda estão se perguntando: Por que Aécio perdeu em Minas? Por que Aécio perdeu em casa?

Hoje li algo interessante.

O artigo Por que Aécio perdeu em casa? de Najla Passos. Foi publicado em Carta Maior em 29/10/2014.

Começa assim:

Com forte controle da imprensa, cooptação dos poderes e um grande arco de alianças que, nas eleições municipais de 2008, chegou a envolver até mesmo a maioria do PT estadual, o PSDB passou quase uma década vendendo a imagem de uma Minas Gerais unificada em torno da figura do tucano Aécio Neves, que governou o Estado de 2003 a 2010. Mas o partido enalteceu tanto a imagem do Estado que vendia nas propagandas oficiais que acabou acreditando nela.

A projeção triunfalista de que Aécio ganharia as eleições presidenciais com grande folga em Minas acabou se transformando na principal debilidade do PSDB. Ao contrário dos piores prognósticos tucanos, o candidato perdeu na sua terra natal por mais de 500 mil votos no 2º turno.

Mais para a frente diz:

De acordo com o cientista político Juarez Guimarães, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) … a vitória do candidato petista Fernando Pimentel para o governo de Minas, somada à derrota de Aécio para Dilma no Estado, já no 1º turno, provocou intensa movimentação na base de apoio do PSDB, formada por mais de 20 partidos. Com a vitória do petista e a derrota de Aécio na sua terra natal, prefeitos do interior do Estado, de várias legendas, começaram a migrar para o PT. “Uma das explicações fortes é que houve essa migração de bases fisiológicas do Aécio Neves para a candidatura da Dilma. Em uma vitória em 2º turno por 51,64% a 48,36% dos votos, esta migração teve grande relevância”, esclarece.

Além disso, o professor explica que os mineiros entraram no 2º turno frente a duas grandes derrotas para Aécio, o que dissolveu toda a aura e toda a simbologia política da sua condição de disputar as eleições nacionais com o discurso de que ele representava Minas Gerais, de que ele reafirmava a unidade de Minas Gerais.

“É importante lembrar, inclusive, que nas últimas disputas eleitorais no Estado, o PSDB chegava a afirmar que ‘Minas é Aécio’. Uma afirmação talvez mais forte do que aquela de Luiz XIV de que ‘O Estado sou eu’. Em Minas, é ‘O Estado e a sociedade sou eu’. Uma afirmação muito triunfalista, que revelava essa ideologia do aecismo em Minas Gerais”, acrescenta Juarez.

E ainda:

Já a inédita exposição do projeto tucano ao contraditório no Estado, ainda conforme ele [Juarez], se deve a um processo mais amplo. Para o cientista político, o PSDB monopolizou o discurso eleitoral no Estado por quase uma década, com base em um forte controle midiático e no enfraquecimento da oposição. Em Minas Gerais, ao contrário do resto do país, houve uma aliança entre a maioria do PT com o PSDB, em 2008, para indicar Marcio Lacerda, do PSB, à prefeitura de Belo Horizonte.

“Por alguns anos, a oposição ao Aécio ficou muito enfraquecida, pelo fato do seu principal partido apoiar o governo. Então, nós passamos de uma situação em que o Aécio não tinha que enfrentar o contraditório para uma situação em que ele teve que lidar com forte contraditório, com capacidade de vocalização pública. E, ao invés de conseguir unir Minas, acabou por revelar as forças sociais que dividem o Estado”, esclarece.

E, quase no final:

Juarez Guimarães ressalta, por fim, que, nos últimos anos, no Estado, houve um acúmulo muito importante dos movimentos sociais de oposição ao projeto do PSDB, que conseguiram criar um espírito público de oposição no Estado.

Leia o texto completo.

Leia Mais:
Eleições 2014: quem ganhou e quem perdeu?
Aécio

Carta dos Excluídos aos Excluídos

Encontro dos Movimentos Sociais com o Papa produz Carta dos Excluídos aos Excluídos – Cristina Fontenele: Adital 30/10/2014

O histórico Encontro Mundial dos Movimentos Sociais (EMMS) com o Papa Francisco debateu três temas principais – pão, terra e lar – e produziu uma Declaração Final, uma espécie de “Carta dos Excluídos ao Excluídos”, que servirá de base de trabalho para os movimentos sociais em seus respectivos países.

Realizado entre 27 a 29 de outubro no Vaticano, o Encontro foi organizado e promovido pelo Pontifício Conselho da Justiça e da Paz e teve como objetivo o fortalecimento da rede de organizações populares, favorecendo o conhecimento recíproco e promovendo a colaboração entre os movimentos e as Igrejas locais.

Em três dias, reuniram-se mais de 100 dirigentes de movimentos sociais, assim como bispos, agentes de pastorais, intelectuais e acadêmicos de todo o mundo para uma troca de experiências e ideias.

 

Também em espanhol:
Encuentro de los Movimientos Sociales con el Papa produce Carta de los Excluidos a los Excluidos

El histórico Encuentro Mundial de los Movimientos Sociales (EMMS) con el Papa Francisco debatió tres temas principales –pan, tierra y hogar– y produjo una Declaración Final, una especie de “Carta de los Excluidos a los Excluidos”, que servirá de base para el trabajo de los movimientos sociales en sus respectivos países.

Realizado entre el 27 y el 29 de octubre en el Vaticano, fue organizado y promovido por el Pontificio Consejo de la Justicia y de la Paz, y tuvo como objetivo el fortalecimiento de la red de organizaciones populares, favoreciendo el conocimiento recíproco y promoviendo la colaboración entre los movimientos y las Iglesias locales.

En tres días, se reunieron más de 100 dirigentes de movimientos sociales, así como obispos, agentes de pastorales, intelectuales y académicos de todo el mundo para un intercambio de experiencias e ideas.

 

 

Declaración final Encuentro Mundial Movimientos Populares

29/10/2014

En el marco de la finalización del EMMP, queremos hacer llegar a la opinión pública un breve resumen de lo que sucedió durante estos tres históricos días.

1.Convocado por el PCJP, la PAS y diversos movimientos populares del mundo bajo la inspiración del Papa Francisco una delegación de más de 100 dirigentes sociales de todos los continentes nos reunimos en Roma para debatir en base a tres ejes –tierra, trabajo, vivienda- los grandes problemas y desafíos que enfrenta la familia humana (especialmente exclusión, desigualdad, violencia y crisis ambiental) desde la perspectiva de los pobres y sus organizaciones.

2.Las jornadas se desarrollaron intentando practicar la Cultura del Encuentro e integrando compañeros, compañeras, hermanos y hermanas, de distintos continentes, generaciones, oficios, religiones, ideas y experiencias. Además de los sectores representativos de los tres ejes principales del encuentro, participaron un importante número de obispos y agentes pastorales, intelectuales y académicos, que contribuyeron significativamente al encuentro pero siempre respetando el protagonismo de los sectores y movimientos populares. El Encuentro no estuvo exento de tensiones que pudimos asumir colectivamente como hermanos.

3.En primer lugar, siempre desde la perspectiva de los pobres y los pueblos pobres, en este caso de los campesinos, trabajadores sin derechos y habitantes de barrios populares (villas, favelas, chabolas, slums), se analizaron las causas estructurales de la desigualdad y la exclusión, desde su raigambre sistémica global hasta sus expresiones locales. Se compartieron las cifras horrorosas de la desigualdad y la concentración de la riqueza en manos de un puado de megamillonarios. Los panelistas y oradores coincidieron en que debe buscarse en la naturaleza inequitativa y depredatoria del sistema capitalista que pone el lucro por encima del ser humano la raíz de los males sociales y ambientales. El enorme poder de las empresas trasnacionales que pretenden devorar y privatizarlo todo –mercancías, servicios, pensamiento- son primer violín de esta sinfonía de la destrucción.

4. Durante el trabajo en talleres se concluyó que el acceso pleno, estable, seguro e integral a la tierra, el trabajo y la vivienda constituyen derechos humanos inalienables, inherentes a las personas y su dignidad, que deben ser garantizados y respetados. La vivienda y el barrio como un espacio inviolable por Estados y corporaciones, la tierra como un bien común que debe ser compartido entre todos los que la trabajan evitando su acaparamiento y el trabajo digno como eje estructurador de un proyecto de vida fueron algunos de los reclamos compartidos.

5.También abordamos el problema de la violencia y la guerra, una guerra total o como dice Francisco, una tercera guerra mundial en cuotas. Sin perder de vista el carácter global de estos problemas, se trató con particular intensidad la situación en Medio Oriente, principalmente la agresión contra el pueblo palestino y kurdo. La violencia que desatan las mafias del narcoterrorismo, el tráfico de armas y la trata de personas fueron también objeto de profundo debate. Los desplazamientos forzados por la violencia, el agronegocio, la minería contaminante y todas las formas de extractivismo, y la represión sobre campesinos, pueblos originarios y afrodecendientes estuvieron presentes en todos los talleres. También el grave problema de los golpes de estado como en Honduras y Paraguay y el intervencionismo de grandes potencias sobre los países más pobres.

6.La cuestión ambiental estuvo presente en un rico intercambio entre la perspectiva académica y la popular. Pudimos conocer los datos más recientes sobre contaminación y cambio climático, las predicciones sobre futuros desastres naturales y las pruebas científicas de que el consumismo insaciable y la práctica de un industrialismo irresponsable que promueve el poder económico explica la catástrofe ecológica en ciernes. Debemos combatir la cultura del descarte y aunque sus causas son estructurales, nosotros también debemos promover un cambio desde abajo en los hábitos y conductas de nuestros pueblos priorizando los intercambios al interior de la economía popular y la recuperación de lo que este sistema deshecha.

7.Nuevamente, pudimos concluir que la guerra y la violencia, la agudización de los conflictos étnicos y la utilización de la religión para la legitimación de la violencia, así como la desforestación, el cambio climático y la pérdida de la biodiversidad, tiene su principal motor en la búsqueda incesante del lucro y la pretensión criminal de subordinar a los pueblos más pobres para saquear sus riquezas naturales y humanas. Consideramos que la acción y las palabras de los movimientos populares y la Iglesia son imprescindibles para frenar este verdadero genocidio y terricidio.

8. Particular atención merece la situación de las mujeres particularmente golpeadas por este sistema. Reconocemos en esa realidad la urgente necesidad de un compromiso profundo y serio con esa causa justa e histórica de todas nuestras compañeras, motor de luchas, procesos y propuestas de vida, emancipatorias e inspiradoras. También exigimos la finalización de la estigmatización, descarte y abandono de los niños y jóvenes, especialmente los pobres, afrodecendientes y migrantes. Si los niños no tienen infancia, si los jóvenes no tienen proyecto, la Tierra no tiene futuro. 9. Lejos de regodearnos en la autocompasión y los lamentos por todas estas realidades destructoras, los movimientos populares, en particular los reunidos por este Encuentro, reivindicamos que los excluidos, los oprimidos, los pobres no resignados, organizados, podemos y debemos enfrentar con todas nuestras fuerzas la caótica situación a la que nos ha llevado este sistema. En ese sentido, se compartieron innumerables experiencias de trabajo, organización y lucha que han permitido la creación de millones de fuentes de trabajo digno en el sector popular de la economía, la recuperación de millones de hectáreas de tierra para la agricultura campesina y la construcción, integración, mejoramiento o defensa de millones de viviendas y comunidades urbanas en el mundo. La participación protagónica de los sectores populares en el marco de democracias secuestradas o directamente plutocracias es indispensable para las transformaciones que necesitamos.

10.Teniendo en cuenta el especial contexto de este encuentro y el invalorable aporte de la Iglesia Católica que en cabeza del Papa Francisco permitió su realización, nos detuvimos para analizar en el marco de nuestras realidades el imprescindible aporte de la doctrina social de la iglesia y el pensamiento de su pastor para la lucha por la justicia social. Nuestro material principal de trabajo fue la Evengelii Gaudium que se abordó teniendo en cuenta la necesidad de recuperar pautas éticas de conducta en la dimensión individual, grupal y social de la vida humana. Es dable desatacar la participación e intervención de numerosos sacerdotes y obispos católicos a lo largo de todo el Encuentro, viva encarnación de todos aquellos agentes pastorales laicos y consagrados, comprometidos con las luchas populares que, consideramos, deben ser reforzados en su importante labor.

11.Todos y todas, muchos de nosotros católicos, pudimos asistir a la celebración de una misa en la Catedral de San Pedro celebrada por uno de nuestros anfitriones el Cardenal Peter Turkson donde se presentaron como ofrendas tres símbolos de nuestros anhelos, carencias y luchas: un carro de cartoneros, frutos de la tierra campesina y una maqueta de una casilla típica de los barrios pobres. Contamos con la presencia de un importante número de obispos de todos los continentes.

12. En este ambiente de debate apasionado y fraternidad intercultural, tuvimos la inolvidable oportunidad de asistir a un momento histórico: la participación del Papa Francisco en nuestro Encuentro que sintetizó en su discurso gran parte de nuestra realidad, nuestras denuncias y nuestras propuestas. La claridad y contundencia de sus palabras no admiten dobles interpretaciones y reafirman que la preocupación por los pobres está en el centro mismo del Evangelio. En coherencia con sus palabras, la actitud fraterna, paciente y cálida de Francisco con todos y cada uno de nosotros, en especial con los perseguidos, también expresa su solidaridad con nuestra lucha tantas veces desvalorizada y prejuzgada, incluso perseguida, reprimida o criminalizada.

13.Otro de los momentos importantes fue la participación del hermano Evo Morales, presidente de la Asamblea Mundial de los Pueblos Indígenas, que participó en carácter de dirigente popular y nos ofreció una exposición centrada en la crítica al sistema capitalista y en todo lo que podemos hacer los excluidos en términos de tierra, trabajo, vivienda, paz y ambiente cuando nos organizamos y logramos acceder a posiciones de poder, pero de un poder entendido como servicio y no como privilegio. Su abrazo con Francisco nos emocionó y quedará por siempre en nuestra memoria.

14. Entre los productos inmediatos del encuentro, nos llevamos dos cosas: la “Carta de los excluidos a los excluidos” para trabajar con las bases de los sectores y movimientos populares, la cual nos comprometemos a distribuir masivamente junto al Discurso del Papa Francisco y las memorias; y la propuesta de crear un Espacio de Interlocución permanente entre los movimientos populares y la Iglesia.

15. Junto a este breve comunicado, le pedimos especialmente a todos los trabajadores y trabajadoras de prensa que nos ayuden a difundir la versión completa del discurso del Papa Francisco que, repetimos, sintetiza gran parte de nuestra experiencia, pensamiento y anhelos. Repitamos junto al: ¡Tierra, Techo y Trabajo son derechos sagrados! ¡Ningún trabajador sin derechos! ¡Ninguna familia sin viviendas! ¡Ningún campesino sin tierra! ¡Ningún pueblo sin territorio! ¡Arriba los pobres que se organizan y luchan por una alternativa humana a la globalización excluyente! ¡Larga vida al Papa Francisco y su Iglesia pobre para los pobres!

Eleições 2014: quem ganhou e quem perdeu?

Tão importante quanto dizer quem ganhou e quem perdeu é dizer quem saiu ganhando e quem saiu perdendo. Nem sempre estas coisas coincidem, como se verá.

 

Quem ganhou e quem perdeu na eleição presidencial – Flávio Aguiar: Carta Maior 28/10/2014

Dilma Rousseff – ganhou e saiu ganhando. O sucesso de sua candidatura dependeu muito de seu estoicismo (ao enfrentar os insultos no Itaquerão), da sua firmeza (ao responder de modo duro às acusações de Aécio nos debates), de sua capacidade de se comprometer com a manutenção (salário, empregos) e com a mudança (eventual correção no caso Petrobras) de rumos. Provou e comprovou que tem luz própria e estofo de estadista.

Aécio Neves – perdeu e saiu perdendo. Provou que sua habilidade retórica não o protege de ataques porque não está preparado para isto. Achou que podia ganhar no grito, isto é, só atacando uma pauta negativa, sem se comprometer ou revelar seu verdadeiro programa para o país. Tergiversou. Conseguiu mais votos pelo antipetismo do que por si próprio. Não tem luz própria, e agora está ameaçado em seu arraial. José Serra já afia os caninos e Geraldo Alckmin planta seus chuchus na cerca de São Paulo para aprimorar seu picolé, ambos tendo em vista 2018. A vida de Aécio não será fácil.

Armínio Fraga – perdeu, mas se saiu perdendo é outra história. Cometeu um erro fatal. No debate com Guido Mantega, ao falar das dificuldades do cidadão brasileiro…

Marina Silva – perdeu e saiu perdendo. Cresceu nas pesquisas depois da tragédia de Eduardo Campos e seus companheiros de voo, mas se confundiu com o próprio crescimento. Atirou para todos os lados em busca de votos, rolou e enrolou, disse e desdisse, contradisse e entrou na dança e na contradança, mas o que ficou na lembrança é que quem tem poder sobre ela é o pastor Malafaia. Quem se curva à chantagem de pastor jamais vai chegar à presidência. De quebra, apresentou uma lista de reivindicações a Aécio para apoiá-lo, não viu nenhuma atendida e apoiou assim mesmo. Eu não votaria nela nem pra Associação de Pais e Mestres. Comprometeu a credibilidade de sua futura Rede, que pode virar uma rede para pescar goiabas. É pena. O Brasil precisa de um partido ambientalista forte.

PT – Empate técnico, graças à atuação e à vitória de Dilma Rousseff. Na verdade saiu perdendo. Perdeu cadeiras no Parlamento, mas não só isto. Em alguns momentos, em alguns lugares…

PSDB – Desastre. Perdeu e saiu perdendo. Na mídia internacional, que pode ser conservadora em grande parte mas sempre chama os bois pelo seu nome verdadeiro, e não o de fantasia, o PSDB brasileiro é descrito como “business friendly”, o que deve ser traduzido por “amigo do mercado”…

Geraldo Alckmin – ganhou, mas saiu perdendo. Sua gestão da água em São Paulo foi, é e será um desastre…

Lula – não ganhou porque não concorria. Mas saiu ganhando: continua sendo a principal referência de unidade do PT e seu maior cabo eleitoral…

Fernando Henrique Cardoso – não perdeu, porque não concorreu. Mas saiu perdendo feio, sobretudo por ter perdido várias oportunidades de ficar quieto e não dizer nada. As mais evidentes foram…

Luciana Genro – perdeu, mas saiu ganhando. Os elogios à sua campanha superaram as hostes pssolistas. Deu demonstração de coerência e consistência…

Eduardo Jorge e o Partido Verde – que vergonha! Apoiar o Aécio no segundo turno! Viraram um puxadinho, o biocapitalismo do capitalismo selvagem. Bom, muitas cúpulas do PV aqui na Europa se comportam assim…

Extrema-direita – saiu ganhando. Malafaia chantageou Marina com sucesso. Feliciano e Bolsonaro tiveram votações consagradoras. Levy Felix, o candidato do conduto excretor, triplicou seus votos. O Pastor Everaldo tanto latiu…

PMDB – Empate técnico, o que para ele é vitória. Saiu ganhando. Continua sendo um partido-esponja, que tudo absorve. Parece um polvo, com tentáculos em toda a parte…

PIG e Veja em particular – perderam feio, a ver se saíram perdendo. Puseram todas as suas fichas em derrubar Dilma e o PT desta vez por todas. Não deu certo. Esqueceram de combinar com o povo brasileiro…

O camarote do Itaú no Itaquerão – perdeu, saiu perdendo, deu vexame internacional. Foi se roçar nas ostras, como se diz.

Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Sérgio Moro – não perderam, porque não concorriam. Mas saíram perdendo. Gilmar Mendes suspendeu um dos direitos de resposta conseguidos pelo PT… Joaquim Barbosa sumiu, depois de ser o grande herói do linchamento conhecido como processo 470…  Sérgio Moro vai se candidatar ao título de “Juiz Transparência”, tal é a quantidade de vazamentos em suas audiências. Deve ser coisa da National Security Agency, um caso para Snowden e Assange juntos.

O povo brasileiro – ganhou e saiu ganhando. Não precisa explicar.

Leia o texto completo. Onde há pontinhos … há mais.

Quem é Flávio Aguiar? Veja  aqui.

A vitória de Dilma em 2014

Está longe de ter sido uma vitória qualquer. Foi uma vitória da coragem do eleitor humilde e solitário que enfrentou, resistiu e não se dobrou diante do paredão midiático antipetista, confiando seu voto em Dilma. A disputa encerrava uma dimensão geopolítica capaz de influenciar os acontecimentos na América Latina e a agenda da luta pelo desenvolvimento em diferentes partes do mundo. Não era pouco o que estava em jogo, portanto.

Em eleição livre e democrática, Dilma Rousseff enfrenta e volta a vencer golpistas – Redação RBA: 26/10/2014

Foi uma vitória maiúscula. A reeleição de Dilma Vana Rousseff (PT) escreve muitos capítulos inéditos e carrega uma força simbólica que, se não é maior que a das demais disputas vencidas pelo PT no plano federal, é única. A mulher nascida em Belo Horizonte em 1947 mais uma vez deixa de joelhos, boquiaberta, a repressão que lhe tentou cassar os direitos políticos. Se havia alguma dúvida de que esta era uma eleição do candidato do sistema patriarcal brasileiro contra todo o resto, a edição do Jornal Nacional na véspera eliminou qualquer margem de ingenuidade (…) Dividida entre interesses públicos e privados, a emissora dos Marinho atendeu novamente a seu chamado de classe ao exibir reportagem sobre supostas denúncias de que Dilma e Luiz Inácio Lula da Silva teriam ciência de um esquema de pagamento de propinas utilizando verbas da Petrobras (…) Sob o pretexto de um protesto de jovens que empilharam lixo em um prédio da editora, que chamou de “ataque” à sede do Grupo Abril, o Jornal Nacional dedicou seis minutos a narrar a “denúncia” da revista Veja, uma publicação que nunca esteve tão à altura da alcunha de “mídia golpista”. Lá pelas tantas aparecia a figura de Aécio Neves, candidato do PSDB dado a vitórias no tapetão. Fosse tão ético quanto jura ser, o tucano teria se recusado a ecoar uma reportagem feita com base num depoimento inventado (…) Mas Aécio, a exemplo do Jornal Nacional, atendeu a seu DNA de classe, uma elite financeira que há muito chegou à conclusão de que vale qualquer coisa para tirar o PT do poder…

Leia o texto completo.