As manifestações e a repressão: o que está acontecendo?

Não enxergar o elo entre as ruas e o ciclo histórico costuma ser fatal às lideranças de uma época. Acreditar que o elo, no caso dos recentes protestos em São Paulo, está no aumento de 20 centavos sobre uma tarifa de transporte congelada desde janeiro de 2011, é ingenuidade. Supor que a ordenação entre uma coisa e outra poderá ser  restabelecida à base de cassetetes e pedradas é o passaporte para o desastre.

:: Em nota, CONIC condena brutalidade policial – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil: 14/06/2013
“As manifestações dos povos indígenas que assistimos nos últimos dias e a manifestação que vimos ontem [13/06/2013], e todas as repressões e extermínios de jovens que acontecem nas periferias das cidades cotidianamente ilustram que algumas de nossas políticas seguem na contramão da garantia de direitos humanos”, afirma nota do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC. A nota condena energicamente a repressão policial ocorrida durante as manifestações em São Paulo por conta dos reajustes das passagens. “Não queremos apenas circo. Queremos também pão, fruto da justiça social”, concluem as Igrejas Cristãs. E continua: “Reivindicamos o cumprimento das convenções internacionais de direitos humanos. Nosso desejo é que a população seja respeitada e que políticas capazes de transformar as estruturas sociais e econômicas responsáveis pela exclusão social tornem-se reais”.

:: Manifestações no Brasil e a lógica do capitalismo hoje – Fábio Salem Daie: Opera Mundi 15/06/2013
No sentido de uma crise generalizada do contexto sócio-econômico nacional e mundial, podemos afirmar que as manifestações iniciadas contra o aumento das passagens de ônibus, em diversas cidades do Brasil, são “políticas”. No entanto, parece não ser este o sentido outorgado a elas, ao menos pelos gestores estaduais. Alarmados com a força demonstrada pela articulação popular (iniciada pelo Movimento Passe Livre), os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro, Geraldo Alckmin (PSDB) e Sérgio Cabral (PMDB), apressaram-se em tachar os protestos, na última quinta-feira, de “políticos”: querendo significar, entretanto, que se tratam na verdade de estratégias partidárias e não de “mobilizações espontâneas”. Tal ótica não somente se mostra falsa sob o aspecto organizativo do movimento (grandemente impulsionado pelas redes sociais e composto por uma gama ampla de componentes ideológicos) como também impede que uma mobilização há muito não vista possa ser, de fato, compreendida. Algo novo surge, ainda que não se possa prever seu desdobramento. E isso é inegável. Na esteira de movimentos populares que tomaram praças e ruas ao redor do mundo nos últimos anos, também este se apresenta como uma surpresa desagradável aos gestores da res publica, tornada, a partir da década de 1990, cada vez mais assunto dos negócios privados (bem como o transporte coletivo em São Paulo e em outras regiões).  Mesmo na televisão, jornalistas comentavam, à luz dos confrontos nas ruas, que nunca haviam realizado antes a cobertura de protestos “deste tipo”.

:: Um estado policial – Mauro Santayana: Carta Maior 15/06/2013
Estamos assistindo a uma perigosíssima associação entre as forças policiais e a extrema direita de caráter fascista no mundo inteiro – o que merece uma análise mais ampla. Mas, no caso brasileiro, parece haver interesse calculado em criar um ambiente de pânico na população, que sempre favorece os golpistas.

:: E daqui, para onde vamos? – Pablo Villaça: Diário de Bordo 15/06/2013
Vivemos em tempos perigosos: a direita religiosa se torna cada vez mais influente e as grandes empresas da mídia já perceberam que o PSDB não é uma oposição viável – e, assim, decidiram ser elas mesmas a Oposição. Não é à toa que, contradizendo todos os índices econômicos divulgados por órgãos independentes, a Globo, a Foxlha, a Veja e o Estadão vêm pintando um quadro de instabilidade crescente: inflação alta, dólar alto, PIB decrescente e por aí afora, pintando um país em crise que, sejamos honestos, não corresponde ao que vemos todos os dias nas ruas. Enquanto isso, o aliado histórico dos movimentos populares, o PT, parece ter se esquecido de suas origens: tímido em sua resposta à brutalidade da PM, Haddad apenas embaraçou-se ao relativizar os excessos da polícia – e sua proposta de se reunir com as lideranças do movimento Passe Livre vem tardio, já que estas já não representam mais as massas na rua. Enquanto isso, Dilma é vaiada num estádio lotado por representar o poder – mesmo que, há pouco tempo, tenha oferecido subsídios justamente para diminuir as passagens de ônibus que, ironicamente, serviram como estopim da revolta. Ora, se o PT não é visto mais como representante popular pelos manifestantes (e nem tem projeto que o aproxime da juventude) e o PSDB é claramente a mão pesada da repressão, para onde os jovens podem se voltar? Além disso, como não têm uma causa específica a defender, estes empolgados rapazes e moças criam um problema impossível, já que não há solução viável que os acalme. Como resultado, surge apenas um clima imponderável de insatisfação política generalizada – um clima complexo, intenso, raivoso e insolúvel. É deste tipo de contexto que nascem os golpes. E esta não seria uma solução que desagradaria os barões da mídia.

::Cuidado com a jaborização das manifestações – Roberto Brilhante: Carta Maior 18/06/2013
Podemos pensar que os protestos de São Paulo e do Brasil não trazem apenas demandas pontuais como a redução das tarifas. Mas como dizer que as milhares de pessoas que protestavam contra Marcos Feliciano protestavam diretamente contra Dilma? Como dizer que aqueles em São Paulo que pediam a saída do governador Geraldo Alckmin protestavam contra o governo federal? Ou ainda, que aqueles que expulsaram a rede Globo da manifestação de São Paulo protestavam contra Dilma? Só através de um discurso oportunista que é reproduzido diariamente pelos dinossauros da velha mídia.  Mas não é apenas Jabor que busca construir uma ”revolta popular” antigovernista. A Folha de S. Paulo hoje [18/06/2013] traz em seu editorial sobre os protestos o seguinte trecho em destaque: ”muda o clima político no país; governo Dilma não tem respostas para inflação nem para saúde, educação, segurança e transportes”. O mesmo tom jaboriano, de que “o povo não aguenta mais este governo federal ineficiente”. Se não tomarmos cuidado, começaremos a fazer onipresentes os chavões de Jabor dentro de nossos protestos.

:: São Paulo e Rio de Janeiro revogam aumento da tarifa de transporte público – Redação: Rede Brasil Atual – 19/06/2013 18:12
Medida é adotada por prefeitos Fernando Haddad e Eduardo Paes e pelo governador Alckmin após quase quinze dias de protestos que ganharam força e passaram a incorporar outras insatisfações da população.

:: Protestar contra tudo é o mesmo que protestar contra nada – Cynara Menezes: Socialista Morena 19/06/2013
Eu sinceramente pensei que, com tanta gente mobilizada, as pautas progressistas, tão necessárias e tão ameaçadas, fossem vir à tona (…) Que nada. O que vejo nas ruas é um festival de generalizações. Artistas divulgam nas redes sociais frases de efeito vazias: “Ou o Brasil muda ou o Brasil para”, “Ou para a roubalheira ou paramos o Brasil”. Essas palavras podem soar bonitas, mas não significam nada na prática. São apenas slogans escritos em uma cartolina por pessoas despolitizadas que não parecem genuinamente comprometidas com o País. “O gigante acordou” é trecho de propaganda de uísque. “Vem Para a Rua” é jingle de automóvel. Trechos do hino nacional ou de canções do Legião Urbana são poéticos porém inúteis. Excluíram as bandeiras dos partidos de esquerda do movimento para que ele fosse “apartidário”. Ok. Mas desde que elas saíram, o volume de pessoas nas ruas aumentou e as manifestações perderam em conteúdo. Vejo gente saltando diante das câmeras de TV que nem no carnaval e assisto a entrevistas onde os participantes não conseguem concatenar meia dúzia de ideias para justificar por que estão ali. Resumem-se a dizer que protestam “contra tudo”. Contra tudo o quê, cara-pálida? É mentira que o Brasil esteja totalmente ruim para que seja preciso protestar contra TUDO. É contra a Copa? Ótimo. Pelo menos é UMA razão. Quem protesta contra tudo, a meu ver, não está protestando contra coisa alguma. Afinal, o protesto é à vera ou é só para postar no Facebook? Uma manifestação se distingue de uma turba pelas reivindicações e pelas causas que possui. Uma manifestação sem rumo e sem causa pode se transformar facilmente em terreno fértil para aproveitadores e arruaceiros.

:: Carta aberta dos movimentos sociais à Presidenta Dilma – 19/06/2013
“Setores conservadores da sociedade buscam disputar o sentido dessas manifestações. Os meios de comunicação buscam caracterizar o movimento como anti Dilma, contra a corrupção dos políticos, contra a gastança pública e outras pautas que imponham o retorno do neoliberalismo. Acreditamos que as pautas são muitas, como também são as opiniões e visões de mundo presentes na sociedade. Trata-se de um grito de indignação de um povo historicamente excluído da vida política nacional e acostumado a enxergar a política como algo danoso à sociedade. (…) O momento é propício para que o governo faça avançar as pautas democráticas e populares, e estimule a participação e a politização da sociedade. Propomos a realização com urgência de uma reunião nacional, que  envolva os governos estaduais, os prefeitos das principais capitais,  e os representantes de todos os movimentos sociais. De nossa parte estamos abertos ao diálogo, e achamos que essa reunião é a única forma de encontrar saídas  para enfrentar a grave crise urbana que atinge nossas grandes cidades. O momento é favorável. São as maiores manifestações que a atual geração vivenciou e outras maiores virão. Esperamos que o atual governo escolha governar com o povo e não contra ele” (assinam mais de 30 organizações e movimentos, entre os quais a CUT, UNE, MST,UBES, Vila Campesina, Levante Popular, Intervozes etc).

:: MPL acusa onda conservadora e desiste de novas manifestações – Ana Krepp:  Folha de S. Paulo 21/06/2013 – 10h53
O Movimento Passe Livre anunciou hoje a suspensão de novas manifestações em São Paulo. Segundo um dos integrantes do grupo, que pleiteia tarifa zero nos transportes públicos, “grupos conservadores se infiltraram nas manifestações” e defenderam, ontem, propostas como a redução da maioridade penal. “A gente acha que grupos conservadores se infiltraram nos últimos atos para defender propostas que não nos representam”, disse Siqueira. De acordo com ele, o recuo do movimento foi decidido no final da noite de ontem, por consenso, após os incidentes na Paulista.  Durante o ato, o MPL conversou com alguns grupos de esquerda sobre a presença de “neofascistas” agredindo pessoas na rua. “É inconcebível essa onda oportunista da direita de tomar os atos para si.” Segundo o movimento, desde o ato de terça-feira, grupos de direita (não se sabe se organizados ou não) levaram às ruas pautas que não representam o MPL, o que gerou preocupação, pois “distorce a iniciativa”. “O que preocupa não é a participação das pessoas na rua, mas pessoas claramente contra as organizações sociais e que nunca participaram de manifestações, começarem agora a usar os atos para promover a barbárie.” (…) Ontem [20/06/2013], um grupo de manifestantes, denominados “nacionalistas” entrou em confronto com pessoas que estavam com bandeiras de partidos durante protesto contra tarifas na avenida Paulista, centro de São Paulo.

:: ‘Tudo isso que tá aí’ – Emir Sader: Blog do Emir 23/06/2013
Valendo-se das mobilizações das últimas semanas, a direita trata de impor outra visão, mais radical ainda: a de que nada de importante passou no Brasil, que só agora a população “desperta” e que é preciso se opor “a tudo o que está aí”. Mais radical porque desconhece todos os avanços no combate à desigualdade, à miséria e à pobreza logrados na última década. Tenta fazer tabula rasa e apagar tudo o que os governos do Lula e da Dilma conseguiram. Só assim é possível a segunda parte da visão: opor-se “a tudo o que está aí”. Neste caso, esse “tudo” se resume ao governo, somando a ele o Congresso. Se absolvem os bancos, os monopólios midiáticos, as grandes corporações econômicas, entre outros, que seriam os beneficiários de uma derrota de “tudo o que está aí”. Se esse consenso chega a se impor – e ele tem uma massa de jovens mobilizados e sensíveis para impô-lo, multiplicado pela ação da mídia –, se apagariam os avanços da última década e se concentraria o fogo no governo como o “velho” que bloqueia o avanço do país. Nas acusações sobre os gastos da Copa – desde a suspeita de corrupção até o desvio de recursos de setores vitais –, mais além de que o governo tem argumentos contra – como se viu no discurso da Dilma –, o fracasso da política de comunicação fez com que o governo sofresse uma imensa derrota. É como se esses argumentos fossem já um consenso na opinião pública e na juventude em particular. Essa visão busca invisibilizar o povo – os trabalhadores, os sem-terra, todas as camadas populares beneficiadas pelas políticas governamentais –, reivindicando-se para eles a representação do Brasil, com o argumento forte de que eles são os jovens. Está em disputa assim o consenso geral no país, a partir de uma nova ofensiva ideológica da direita, agora se valendo dos jovens e da sua disposição espontânea de atacar “o poder, a corrupção”, “isso tudo que está aí”. Se o governo não mudar políticas fundamentais, a começar pela de comunicações – que falhou estrepitosamente – e desenvolver políticas sobre temas tão caros à juventude – como a ecologia, o aborto, a descriminalização das drogas, a internet –, criando canais de contato e discussão permanente com os jovens, vai ter muita dificuldade para recuperar sua imagem, valorizar o que foi feito e executar seus planos de futuro.

:: O que ocorre nas redes – Vinicius Wu: Carta Maior 23/06/2013
Não estamos diante de UM movimento, mas de vários. Uma rede é formada por diversos “nós”. Uns se comunicam com outros, mas nem todos interagem, ao mesmo tempo, com todos. Assim, por exemplo, um sujeito que vai às ruas em favor do transporte público de qualidade não influencia, em praticamente nada, um outro que vai a uma passeata defendendo a prisão de todos os políticos e o fechamento do Congresso Nacional. O uso que um indivíduo faz de uma rede social tem por base uma determinada seleção de informações, realizada de acordo com seus valores, gostos, preferências e aspirações. Nunca é demais lembrar, que ao utilizarmos o facebook ou o twitter o fazemos,  principalmente, enquanto usuários de um sistema de distribuição de informações em rede. O mundo produz atualmente 5 bilhões de gigabytes de informação a cada dois dias. Portanto, é evidente que “estar na rede” significa recolher uma parcela, muito pequena, de informações disponíveis na web. No caso das redes sociais, é o indivíduo – ou sua rede mais próxima de amigos e conhecidos – quem seleciona o que será exibido em seu mural ou timeline. Então, não temos um movimento mobilizando as pessoas, mas vários movimentos simultâneos que podem ser, perfeitamente, contraditórios, convergentes ou até mesmo antagônicos entre si. E o que há é exatamente isso. Estamos diante de manifestações que reúnem, ao mesmo tempo, pessoas que defendem o fim do sistema capitalista e outras que gostariam de extinguir os partidos de esquerda. É a pós-modernidade transformada em movimento de massas. Ocorre que, além disso, é importante ter consciência de que alguns “nós” influenciam mais do que outros. E o problema fundamental para a esquerda nesse processo é que há um grande partido político nesse país que, com muita habilidade, se tornou o principal “nó” dessa rede. Há, nesse momento, uma direção política, sim, conduzindo os protestos. E essa condução é dada pela grande mídia. Foi ela quem “capturou” a agenda e fez transitar a pauta principal dos protestos da luta pela redução das passagens à luta abstrata contra a corrupção.

:: A grande oportunidade – Boaventura de Sousa Santos: Carta Maior 25/06/2013
O Brasil está diante de uma grande oportunidade diante da iniciativa da presidenta Dilma, que reconheceu a energia democrática que vinha das ruas. Esse movimento pode ser o motor do aprofundamento da democracia no novo ciclo político que se aproxima. Caso contrário, a direita tudo fará para que o novo ciclo seja tão excludente quanto os velhos ciclos que durante tantas décadas protagonizou. E não esqueçamos que terá a seu lado o big brother do Norte, a quem não convém um governo de esquerda estável em nenhuma parte do mundo.

:: Brasil, da direita à esquerda – Flávio Aguiar: Carta Maior 27/06/2013
Muito grito vai continuar rolando pelas ruas brasileiras, e muitos também pelas conspirações, temores e desejos ardentes que se espraiam pelo Brasil e pelo mundo a respeito do Brasil. Na esquerda que apoia (mais ou menos), por exemplo, viceja um temor de golpe dado pela direita, com apoio em parte do aparato de Estado (alguns setores parlamentares, outros do Judiciário, como aconteceu em Honduras, Paraguai e até nos Estados Unidos, quando da primeira eleição de G. Bush Filho contra Al Gore). Na esquerda que não apoia o governo, vicejam interpretações que veem um Brasil em estado pré-revolucionário. No caminho da revolução mundial que poderia se alastrar a partir do Brasil, está a pedra do sinuoso consórcio dirigente formado por (pela ordem de importância) FIFA-Lula-Dilma-PT-Bancos-Empreiteiras e para quebrar os ovos e fazer a omelete seria necessário decapitar esta serpente. Na direita mais tradicional medra a esperança de que o governo entre em colapso (os mais afoitos) ou em parafuso (os médio afoitos) ou que a eleição em 2014 vá pelo menos para o segundo turno (os mais menos afoitos). Na extrema-direita, onde se amalgamam desde saudosos da ditadura militar ou direitistas ainda infiltrados no aparelho de Estado, vicejam golpistas à solta, com idéias na cabeça e pedras ou barras de ferro na mão, ou às vezes balas de borracha (ainda só, felizmente) do outro lado das linhas, já que barricadas propriamente ainda não há. Estas conjecturas esbarram num problema. Tirando os golpes judiciários ou parlamentares (ainda não vejo condições para tal), só há duas maneiras de derrubar um governo que não se deixe enredar nas próprias pernas ou se aprisionar no círculo de giz da velha mídia (tudo é possível no reino deste mundo, não esqueçamos). Flávio Aguiar mora em Berlim.

:: A polissemia das manifestações populares – Edson Elias de Morais e  Luana Garcia: Notícias: IHU On-Line 28/06/2013
Os partidos de Esquerda estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Os partidos de Direita estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Os apartidários estão comemorando porque o povo está “acordando” e foi para as ruas. Cada um interpreta à sua maneira e faz as ponderações e indicações segundo suas agendas. A mídia, os partidos de Direita e seus simpatizantes estão comemorando ainda mais, porque estão percebendo nisso um “filão” inesperado contra o governo Dilma e principalmente contra o PT. Estão utilizando os gritos, as revoltas, as manifestações como sinônimos de crítica ao governo e não a uma sociedade viciada politicamente, a uma sociedade corrompida estruturalmente e um sistema societário fadado à desigualdade (…) Por mais que alguns manifestantes, em sua minoria, incitem  a política sem políticos, o poder total ao povo, e levantam bandeiras anarquistas, outros manifestantes, talvez uma maioria, apontam que a representação política é necessária, mas deve contar com mais controle e vigilância do povo, para que não desvirtue os princípios democráticos, como a utilização correta dos recursos públicos (…) É uma revolta plural que pode, por defender tantos ideais, se perder no enfrentamento de metas especificas, por não ter um projeto e uma organização devido à falta de uma politização no processo de socialização. Ficam reféns do calor do momento e da esperteza de alguns partidos políticos, e por esse motivo as atuais manifestações populares podem servir a dois senhores ou mais, simultaneamente.

:: Balanço rápido e rasteiro de uma semana intensa – Gilberto Maringoni: Carta Maior 29/06/2013
A semana termina de forma bastante positiva para quem vê as manifestações e protestos como impulsionadores da democratização da sociedade [o artigo destaca 11 pontos]. O mais importante de tudo é que reabriu-se para o povo a agenda política no país. Como diria o Barão de Itararé, “Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Apostemos as fichas no “tudo”.

:: Datafolha registra criminalização da política e romaria pró-Marina – Marcelo Salles: Carta Maior 30/06/2013
A pesquisa divulgada neste domingo indica a ação pesada dos fiéis da balança, a mídia e os evangélicos, conforme havíamos previsto. Os evangélicos na organização da campanha por Marina e contra Dilma, e a mídia com a instrumentalização dos protestos a seu favor. Eles irão continuar operando contra a presidenta até o dia do pleito, não importa o que ela faça. Simplesmente porque defendem outro projeto para o país.

A grande mídia sempre foi inimiga do Brasil?

Uma breve história da luta da grande mídia contra os interesses nacionais – Leandro Severo*: Carta Maior 16/06/2013. O texto pode ser lido aqui ou aqui.

Não é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida nacional se inclinaram para o golpismo e a traição. Já no primeiro golpe contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas privatizações, atacando Lula. Hoje, ela novamente tem lado: o das concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo tardio.

 

Em 1957, uma CPI da Câmara dos Deputados, comprovou que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo. Em momentos cruciais para o país se inclinaram para o golpismo e a traição aos interesses nacionais: contra Getúlio, a Petrobrás, JK, contra Jango, apoiando a ditadura, Collor, FHC e suas privatizações, atacando Lula.

Em 1941, enquanto milhões de homens e mulheres derramavam seu sangue pela liberdade nos campos da Europa e da União Soviética, a elite dos círculos financeiros dos Estados Unidos já traçava seus planos para o pós-guerra. Como afirmou Nelson Rockfeller, filho do magnata do petróleo John D. Rockfeller, em memorando que apresentava sua visão ao presidente Roosevelt: “Independente do resultado da guerra, com uma vitória alemã ou aliada, os Estados Unidos devem proteger sua posição internacional através do uso de meios econômicos que sejam competitivamente eficazes…” (COLBY, p.127, 1998). Seu objetivo: o domínio do comércio mundial, através da ocupação dos mercados e da posse das principais fontes de matéria-prima. Anos mais tarde, o ex-secretário de imprensa do Congresso americano, Gerald Colby, sentenciava sobre Rockfeller: “no esforço para extrair os recursos mais estratégicos da América Latina com menores custos, ele não poupava meios” (COLBY, p.181, 1998).

Neste mesmo ano, Henry Luce, editor e proprietário de um complexo de comunicações que tinha entre seus títulos as revistas Time, Life e Fortune, convocou os norte-americanos a “aceitar de todo o coração nosso dever e oportunidade, como a nação mais poderosa do mundo, o pleno impacto de nossa influência para objetivos que consideremos convenientes e por meios que julguemos apropriados” (SCHILLER, p.11, 1976). Ele percebeu, com clareza, que a união do poder econômico com o controle da informação seria a questão central para a formação da opinião pública, a nova essência do poder nacional e internacional.

Evidentemente, para que os planos de ocupação econômica pelas corporações americanas fossem alcançados havia uma batalha a ser vencida: Como usurpar a independência de nações que lutaram por seus direitos? Como justificar uma postura imperialista do país que realizou a primeira insurreição anticolonial?

A resposta a esta pergunta foi dada com rigor pelo historiador Herbert Schiller:

“Existe um poderoso sistema de comunicações para assegurar nas áreas penetradas, não uma submissão rancorosa, mas sim uma lealdade de braços abertos, identificando a presença americana com a liberdade – liberdade de comércio, liberdade de palavra e liberdade de empresa. Em suma, a florescente cadeia dominante da economia e das finanças americanas utiliza os meios de comunicação para sua defesa e entrincheiramento, onde quer que já esteja instalada, e para sua expansão até lugares onde espera tornar-se ativa” (SCHILLER, p.13, 1976).

Foi exatamente ao que seu setor de comunicações se dedicou. Estava com as costas quentes, já que as agências de publicidade americanas cuidavam das marcas destinadas a substituir as concorrentes europeias arrasadas pela guerra. O setor industrial dos EUA havia alcançado um vertiginoso aumento de 450% em seu lucro líquido no período 1940-1945, turbinado pelos contratos de guerra e subsídios governamentais. Com esta plataforma invadiram a América Latina e o mundo.

Com o suporte do coordenador de Assuntos Interamericanos (CIIA), Nelson Rockfeller, mais de mil e duzentos donos de jornais latinos recebiam, de forma subsidiada, toneladas de papel de imprensa, transportada por navios americanos. Além disso, milhões de dólares em anúncios publicitários das maiores corporações eram seletivamente distribuídos. É claro que o papel e a publicidade não vinham sozinhos, estavam acompanhados de uma verdadeira enxurrada de matérias, reportagens, entrevistas e releases preparados pela divisão de imprensa do Departamento de Estado dos EUA.

A vontade de conquistar as novas “colônias” e ocupar novos territórios como haviam feito no século anterior, no velho oeste, não tinha limites. No Brasil, circulava desde 1942, a revista Seleções (do Reader’s Digest), trazida por Robert Lund, de Nova York. A revista, bem como outras publicações estrangeiras, pagava os devidos direitos aduaneiros, por se tratar de produtos importados, mas solicitou, e foi atendida pelo procurador da República, Temístocles Cavalcânti, o direito de ser editada e distribuída no Brasil, com o argumento de ser uma revista sem implicações políticas e limitada a publicar conteúdos culturais e científicos. Assim começou a tragédia.

Logo em seguida chegou o grupo Vision Inc., também de Nova York, com as revistas Visão, Dirigente Industrial, Dirigente Rural, Dirigente Construtor e muitos outros títulos, que vinham repletos de anúncios das corporações industriais. Um fato bastante ilustrativo foi o da revista brasileira Cruzeiro Internacional, concorrente da Life International, que, apesar de possuir grande circulação, nunca foi brindada com anúncios, enquanto a concorrente americana anunciava produtos que, muitas vezes, nem sequer estavam à venda no Brasil.

Ficava claro que os critérios até então estabelecidos para o mercado publicitário, como tempo de circulação efetiva, eficiência de mensagem e comprovação de tiragem, de nada adiantavam. O que estava em jogo era muito maior.

Um papel importantíssimo na ocupação dos novos mercados foi desempenhado pelas agências de publicidade americanas. McCann-Erickson e J. Walter Thompson eram as principais e tinham seu trabalho coordenado diretamente pelo Departamento de Estado. Para se ter uma idéia, a McCann-Erickson, nos anos 60, possuía 70 escritórios e empregava 4.619 pessoas, em 37 países, já a J. Walter Thompson tinha 1.110 funcionários, somente na sede de Londres. Os Estados Unidos tinham 46 agências atuando no exterior, com 382 filiais. Destas, 21 agências em sociedade com britânicos, 20 com alemães ocidentais e 12 com franceses. No Brasil atuavam 15 agências, todas elas com instruções absolutamente claras de quem patrocinar.

No início dos anos 50, Henry Luce, do grupo Time-Life, já estava luxuosamente instalado em sua nova sede de 70 andares na área mais nobre de Manhattan, negócio imobiliário que fechou com Nelson Rockfeller e seu amigo Adolf Berle, embaixador americano no Brasil na época do primeiro golpe contra o presidente Getúlio Vargas. Luce mantinha fortes relações com os irmãos Cesar e Victor Civita, ítalo-americanos nascidos em Nova Iorque. Cesar foi para a Argentina, em 1941, onde montou a Editorial Abril, como representante da companhia Walt Disney, já Victor, em 1950, chega ao Brasil e organiza a Editora Abril. Neste mesmo período seu filho, Roberto Civita, faz um estágio de um ano e meio na revista Time, sob a tutela de Luce e logo retorna para ajudar o pai.

Poucos anos depois, o mercado editorial brasileiro está plenamente ocupado por centenas de publicações que cantavam em prosa e verso o american way of life.Somente a Abril, financiada amplamente pelas grandes empresas americanas, edita diversas revistas: Veja, Claudia, Quatro Rodas, Capricho, Intervalo, Manequim, Transporte Moderno, Máquinas e Metais, Química e Derivados, Contigo, Noiva, Mickey, Pato Donald, Zé Carioca, Almanaque Tio Patinhas, a Bíblia Mais Bela do Mundo (1), além de diversos livros escolares.

Em 1957, uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara dos Deputados, comprova que O Estado de São Paulo, O Globo e o Correio da Manhã foram remunerados pela publicidade estrangeira para moverem campanhas contra a nacionalização do petróleo.

Em 1962, o grupo Time-Life encontra seu parceiro ideal para entrar de vez no principal ramo das comunicações, a Televisão: a recém-fundada TV Globo, de Roberto Marinho. Era uma estranha sociedade. O capital da Rede Globo era de 600 milhões de cruzeiros, pouco mais de 200 mil dólares, ao câmbio da época. O aporte dado “por empréstimo” pela Time-Life era de seis milhões de dólares e a empresa tinha um capital dez mil vezes maior.

Como denunciou o deputado João Calmon, presidente da Abert (Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão): “Trata-se de uma competição irresistível, porque além de receber oito bilhões de cruzeiros em doze meses, uma média de 700 milhões por mês, a TV Globo recebe do Grupo Time-Life três filmes de longa metragem por dia – por dia, repito… Só um ‘package’, um pacote de três filmes diários durante o ano todo, custa na melhor das hipóteses, dois milhões de dólares” (HERZ, p.220, 2009).

O Brasil e o mundo estão em efervescência. A tensão é crescente com revoluções vitoriosas na China e em Cuba. A luta pela independência e soberania das nações cresce em todos continentes e os EUA colocam em marcha golpes militares por todo o planeta. A Guerra Fria está em um ponto agudo.

É nesse quadro que a Comissão de Assuntos Estrangeiros do Congresso dos EUA, em abril de 1964, no relatório “Winning the Cold War: The O.S. Ideological Offensive” define:

“Por muitos anos os poderes militar e econômico, utilizados separadamente ou em conjunto, serviram de pilares da diplomacia. Atualmente ainda desempenham esta função, mas o recente aumento da influência das massas populares sobre os governos, associado a uma maior consciência por parte dos líderes no que se refere às aspirações do povo, devido às revoluções concomitantes do século XX, criou uma nova dimensão para as operações de política externa. Certos objetivos dessa política podem ser colimados tratando-se diretamente com o povo dos países estrangeiros, em vez de tratar com seus governos. Através do uso de modernos instrumentos e técnicas de comunicação, pode-se hoje em dia atingir grupos numerosos ou influentes nas populações nacionais – para informá-los, influenciar-lhes as atitudes e, às vezes, talvez, até mesmo motivá-los para uma determinada linha de ação. Esses grupos, por sua vez, são capazes de exercer pressões notáveis e até mesmo decisivas sobre seus governos” (SCHILLER, p.23, 1976).

A ordem estava dada: “informar”, influenciar e motivar. A rede está montada, o financiamento definido.

O jornalista e grande nacionalista, Genival Rabelo, exatamente nesta hora, denuncia no jornal Tribuna da Imprensa do Rio de Janeiro: “Há, por trás do grupo (Abril), recursos econômicos de que não dispõem as editoras nacionais, porém, muito mais importante do que isso, está o apoio maciço que a indústria e as agências de publicidade americanas darão ao próximo lançamento do Sr. Victor Civita, a exemplo do que já fizeram com as suas 18 publicações em circulação, bem como as revistas do grupo norte-americano Vision Inc.” (RABELO, p.38, 1966)

Mas é necessário mais. É preciso enfraquecer, calar e quebrar tudo que seja contrário aos interesses dos monopólios, tudo que possa prejudicar os interesses das corporações. A General Eletric, General Motors, Ford, Standard Oil, DuPont, IBM, Dow Chemical, Monsanto, Motorola, Xerox, Johnson & Johnson e seus bancos J. P. Morgan, Citibank, Chase Manhattan precisam estar seguros para praticar sua concorrência desleal, para remeter lucros sem controle, para desnacionalizar as riquezas do país se apossando das reservas minerais.

Várias são as declarações, nesta época, que deixam claro qual o caminho traçado pelos EUA. Nas palavras de Robert Sarnoff, presidente da RCA – Radio Corporation of America – “a informação se tornará um artigo de primeira necessidade equivalente a energia no mundo econômico e haverá de funcionar como uma forma de moeda no comércio mundial, convertível em bens e serviços em toda parte” (SCHILLER, p.18, 1976). Já a Comissão Federal de Comunicações (FCC), em informe conjunto dos Ministérios do Exterior, Justiça e Defesa, afirmava: “as telecomunicações evoluíram de suporte essencial de nossas atividades internacionais para ser também um instrumento de política externa” (SCHILLER, p.24, 1976).

É esclarecedor o pensamento do delegado dos Estados Unidos nas Nações Unidas, vice-ministro das Relações Exteriores, George W. Ball, em pronunciamento na Associação Comercial de Nova Iorque:

“Somente nos últimos vinte anos é que a empresa multinacional conseguiu plenamente seus direitos. Atualmente, os limites entre comércio e indústria nacionais e estrangeiros já não são muito claros em muitas empresas. Poucas coisas de maior esperança para o futuro do que a crescente determinação do empresariado americano de não mais considerar fronteiras nacionais como demarcação do horizonte de sua atividade empresarial” (SCHILLER, p.27, 1976).

A ação desencadeada pelos interesses externos já havia produzido a falência de muitos órgãos de imprensa nacionais e, por outro lado, despertado a consciência muitos brasileiros de como os monopólios utilizam seu poder de pressão e de chantagem. Em 1963, o publicitário e jornalista Marcus Pereira afirmava em debate na TV Tupi, em São Paulo: “Em última análise, a questão envolve a velha e romântica tese da liberdade de imprensa, tão velha como a própria imprensa. Acontece que a imprensa precisa sobreviver, e, para isso, depende do anunciante. Quando esse anunciante é anônimo, pequeno e disperso não pode exercer pressão, por razões óbvias. É o caso das seções de ‘classificados’ dos jornais. Mas poucos jornais têm ‘classificados’ em quantidade expressiva. A maioria dos jornais e a totalidade das revistas vivem da publicidade comercial e industrial, dos chamados grandes anunciantes. Acho que posso parar por aqui, porque até para os menos afoitos já adivinharam a conclusão” (RABELO, p.56, 1966).

Não é difícil perceber o quanto a submissão aos interesses econômicos estrangeiros levou a dita “grande mídia” brasileira a se afastar da nação. A se tornar, ao longo dos anos, em uma peça chave da política do Imperialismo. Em praticamente todos os principais momentos da vida nacional se inclinaram para o golpismo e a traição. Já no primeiro golpe contra Getúlio, depois, contra sua eleição, contra sua posse, contra a criação da Petrobrás, contra a eleição de Juscelino, contra João Goulart, contra as reformas de base, apoiando a Ditadura, apoiando a política econômica de Collor, apoiando Fernando Henrique e suas privatizações, atacando Lula.

Hoje, ela novamente tem lado: o das concessões de estradas, portos e aeroportos, o dos leilões de privatização do petróleo e da necessidade da elevação das taxas de juros, do controle do déficit público com evidentes restrições aos investimentos governamentais, ou seja, da aceitação de um neoliberalismo tardio.

Por que atuam desta forma? Genival Rabelo deu a resposta: “Um industrial inteligente desta cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro me fez outro dia, esta observação, em forma de desafio: ‘Dou-lhe um doce, se nos últimos cinco anos você pegar uma edição de O Globo que não estampe na primeira página uma notícia qualquer da vida americana, dos feitos americanos, da indústria americana, do desenvolvimento científico americano, das vitórias e bombardeios americanos. A coisa é tão ostensiva que, muita vez, sem ter o que publicar sobre os Estados Unidos na primeira página, estando o espaço reservado para esse fim, o secretário do jornal abre manchete para a volta às aulas na cidade de Tampa, Miami, Los Angeles, Chicago ou Nova Iorque. Você não encontra a volta às aulas em Paris, Nice, Marselha, ou outra cidade qualquer da França, na primeira pagina de O Globo, porque, de fato, isso não interessa a ninguém. Logo, não pode deixar de haver dólar por trás de tudo isso…’ Outro amigo presente, no momento, e sendo homem de publicidade concluiu, deslumbrado com seu próprio achado: ‘É por isso que O Globo não aceita anúncio para a primeira página. Ela já está vendida. É isso. É isso!’. ‘E muito bem vendida, meu caro – arrematou o industrial – A peso de ouro’ ” (RABELO, p.258, 1966).

(*) Delegado à Conferência Nacional de Comunicação, Secretário Municipal de Comunicação em São Carlos entre 2007 e 2012 e membro do Partido Pátria Livre.

(1) O Grupo ABRIL editou também a revista Realidade entre 1966 e 1968. Hoje edita 54 títulos, entre os quais VEJA e mais suas 8 edições locais, e cinco revistas em quadrinhos, por sua subsidiária Abril Jovem.

Referências:

COLBY, G; DENNETT, C. Seja feita a vossa vontade: a conquista da Amazônia, Nelson Rockfeller e o evangelismo na idade do Petróleo. Tradução: Jamari França. Rio de Janeiro: Record, 1998.

HERZ, D. A história secreta da Rede Globo. Porto Alegre: Dom Quixote, 2009. Coleção Poder, Mídia e Direitos Humanos.

RABELO, G. O Capital Estrangeiro na Imprensa Brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

SCHILLER, H. I. O Império norte-americano das comunicações. Tradução: Tereza Lúcia Halliday Petrópolis: Vozes, 1976.

Outros livros recomendados:

• Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana – de Gerson Moura, Ed. Brasiliense – São Paulo – 5ª edição [1ª Ed. 1984] Livro de Bolso 93 p.
• O Imperialismo Sedutor – a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra – Antonio Pedro Tota – Companhia das Letras – São Paulo – 2000. 235 p.
• A Invasão Cultural Norte-Americana – Júlia Falivene Alves São Paulo – Moderna – 1988 – 26ª edição. 144 p.

A mídia é o partido da oposição

::Se liga Dilma: a mídia é o partido da oposição – Emir Sader: Carta Maior 15/06/2013
As manchetes da mídia [um exemplo pode ser visto aqui. E a manchete da Folha de S. Paulo de hoje diz: Estreia do Brasil tem vaia a Dilma, feridos e presos] buscam criar um clima de crise (a palavra mais proferida pela mídia, junto com a de caos), visando desgastar a imagem do governo, artificialmente, a partir de dificuldades reais. Para aumentar a dimensão do problema, o governo revela não ter uma politica de comunicações para desmentir as diárias falácias que a mídia lança. A proximidade da campanha eleitoral aumentará a guerra no plano das comunicações. Não basta o governo governar bem. É preciso democratizar os canais de comunicação, ouvir e falar o tempo todo.


:: Datafolha registra criminalização da política e romaria pró-Marina – Marcelo Salles: Carta Maior 30/06/2013
A pesquisa divulgada neste domingo [30/06/2013] indica a ação pesada dos fiéis da balança, a mídia e os evangélicos, conforme havíamos previsto. Os evangélicos na organização da campanha por Marina e contra Dilma, e a mídia com a instrumentalização dos protestos a seu favor. Eles irão continuar operando contra a presidenta até o dia do pleito, não importa o que ela faça. Simplesmente porque defendem outro projeto para o país. 

Leia Mais:
A atuação da grande mídia na política
As manifestações e a repressão: o que está acontecendo?
Cerca de 1000 leitores veem golpe em marcha e querem reagir – Blog da Cidadania

Jovem mata os pais e implora clemência alegando ser órfão

Finalmente, uma agencia de risco internacional atende aos clamores da mídia brasileira e endossa a ‘percepção’ de um país em ‘espiral descendente’. Não importam as flutuações estatísticas. A inflação em baixa, o investimento em alta, que deixaram zonzos os analistas da linearidade ortodoxa nas últimas horas, nada mereceu o destaque atribuído ao carimbo negativo com o qual a Standard & Poor’s revisou a ‘perspectiva da nota de longo prazo’  atribuída ao país. Atenção, a ‘perspectiva da nota de longo prazo’. O velho truque da profecia autorrealizável que os tambores locais engrossaram em repiques sôfregos. A manchete de ‘O Globo’, desta 5ª feira, em letras garrafais, no alto da página, saboreava o acepipe. Idem a do ‘Estadão’. Mas a fita métrica da credibilidade é crível? Que grau de confiança desfruta a própria Standard & Poor’s, aqui tratada como um Moisés a rugir seu 11º mandamento: ‘o Brasil fracassará’? Com a palavra, o economista Paul Krugman que, em agosto de 2011, atribuiu peso e medida à venerável instituição que acabara de rebaixar, também, a nota dos EUA. No entender de Krugman, na crise iniciada em 2008, a agência agiu com a mesma cara de pau do  jovem que mata os pais e então implora clemência alegando ser órfão. ‘A S&P, desempenhou papel importantíssimo na precipitação dessa crise, concedendo notas AAA a ativos que desde então se transformaram em  lixo tóxico’, fuzilou Krugman. 

Leia: A Standard & Poor’s endossa a mídia, que retribui – Saul Leblon: Blog das Frases – Carta Maior 07/06/2013

O que é o Prism?

:: EUA têm acesso direto aos servidores de Google, Facebook e Apple, dizem jornais – Redação: CartaCapital 06/06/2013
Um documento divulgado nesta quinta-feira 6 [de junho de 2013] pelos jornais The Washington Post e The Guardian revelou que o governo dos Estados Unidos possui um programa que dá acesso direto aos servidores de algumas das gigantes da internet, como Google, Facebook e Apple. O programa secreto, chamado de PRISM, permite que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) monitore os históricos da web e de internet de usuários e obtenha e-mails, fotos, vídeos, bate-papos, arquivos, conversas de programas como o Skype e detalhes de redes sociais.

:: Gigantes da internet foram obrigadas a ceder dados para grampos do governo dos EUA – Redação: Opera Mundi 06/06/2013
Algumas das empresas mais conhecidas e importantes da internet foram obrigadas a ceder dados de clientes para o governo dos Estados Unidos, de acordo com novo documento revelado pela imprensa internacional. Entre as companhias que tiveram seus sistemas acessados pela NSA (sigla em inglês de Agência de Segurança Nacional) estão Google, Facebook, Microsoft, Yahoo, Skype e YouTube. De acordo com documento divulgado pelo The Guardian, uma apresentação de Power Point com 41 slides, os grampos eram realizados “diretamente dos servidores” das maiores empresas dos EUA e incluíam e-mails, arquivos anexados, vídeos e conversas online.

:: Escândalo de invasão de privacidade coloca governo dos EUA sob pressão – Reuters/Terra 07/06/2013
O debate sobre se o governo dos EUA está violando a privacidade dos cidadãos ao tentar protegê-los do terrorismo atingiu um novo patamar na quinta-feira, com a revelação de que as autoridades colheram dados de milhões de usuários de telefones e exploraram os servidores de nove empresas da internet.

:: Programa dos EUA, em teoria, também poderia monitorar brasileiros – Altieres Rohr: G1 07/06/2013
Os jornais “The Guardian” e “The Washington Post” revelaram a existência de duas iniciativas secretas da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) e do FBI: o Prism e o Blarney. O que as publicações dizem sobre o monitoramento parece confirmar algumas teorias de conspiração: como o mundo inteiro utiliza serviços de internet norte-americanos, todos nós podemos ser vigiados.

:: UK gathering secret intelligence via covert NSA operation – Nick Hopkins: The Guardian 07/06/2013
UK security agency GCHQ gaining information from world’s biggest internet firms through US-run Prism programme

:: Espionagem estatal dos EUA pode ter atingido o Reino Unido, alertam ativistas – Roberto Almeida: Opera Mundi 07/06/2013
Reportagem publicada ontem (06/06) pelo jornal britânico The Guardian mostrou que o governo dos EUA, sob a administração Barack Obama, segue espionando a população do país com a justificativa da “guerra ao terror” e amparado no “Patriot Act”, controversa lei aprovada em 2001, durante o governo de George W. Bush, que suprime as liberdades civis (…) Com base na colaboração entre EUA e Reino Unido no combate ao terror, o Open Rights Group suspeita que o serviço secreto britânico possa ter se munido de informações do esquema e que dados de cidadãos britânicos possam ter sido vasculhados pela NSA (sigla em inglês para Agência de Segurança Nacional), responsável pelos grampos.

:: EUA monitoram ao menos 3 operadoras telefônicas e companhias de cartões de crédito – Redação: Opera Mundi 07/06/2013
O escândalo de grampos e investigações secretas do governo dos Estados Unidos sobre sua própria população chega ao seu terceiro episódio nesta sexta-feira (07/06): além de agentes de inteligência terem acesso irrestrito a registros de chamadas da operadora Verizon e aos dados de clientes das principais empresas de internet no mundo, eles também obtêm informações das duas maiores companhias telefônicas do país, AT&T e Sprint, e de fabricantes de cartões de crédito. De acordo com o jornal The Wall Street Journal, que cita fontes ligadas à NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), essa divisão tem acordos com a AT&T e Sprint similares ao da Verizon, revelado nesta semana pelo jornal britânico The Guardian.

:: NSA scandal: what data is being monitored and how does it work? – Charles Arthur: The Guardian 07/06/2013
Everything you need to know about data gathering from internet companies by the US National Security Agency. NSA has direct access to Google, Facebook and Apple.

:: Empresas mudaram sistemas para serem monitoradas por EUA, diz jornal – Folha de S. Paulo  08/06/2013 – 10h53
O jornal americano “The New York Times” informou neste sábado que a maioria das empresas de internet americanas fizeram um acordo com o governo para mudar os sistemas para facilitar o monitoramento de dados de usuários pelos serviços de inteligência (…)  As companhias são obrigadas por lei a fornecer os dados dos investigados por serviços de inteligência, de acordo com o Código de Vigilância e Inteligência Estrangeira. Nesse caso, as demandas são feitas por ações judiciais de caráter confidencial. No entanto, algumas empresas fizeram acordos informais para abrir pequenas brechas nos sistemas para permitir o compartilhamento de informações de forma extraoficial. Os dados seriam trocados em salas de bate-papo secretas, hospedadas em servidores confidenciais (…)  Uma das empresas, no entanto, não aceitou o acordo e se manteve apenas no sistema legal de vigilância. O Twitter se negou a fornecer brechas em seus sistemas para permitir maiores invasões do governo. O serviço de microblog também não aparece entre as empresas que foram monitoradas pelo PRISM. Questionadas pelo “New York Times”, as companhias de internet disseram não ter conhecimento sobre o programa do governo para facilitar o acesso a seus servidores.

:: Do 11 de setembro ao PRISM: a escalada de espionagem do governo norte-americano – Charles Nisz: Opera Mundi 08/06/2013
Há exatos 64 anos, era lançado 1984, a mais famosa das obras do escritor britânico George Orwell. No livro, Orwell faz o retrato de um governo repressivo e totalitário, cujo poder está baseado no controle e na vigilância sobre os cidadãos. Muitos dos termos usados pelo autor entraram para a cultura popular – o mais famoso deles é justamente o “Grande Irmão”, responsável pela vigilância dos cidadãos no mundo criado por Orwell. O vazamento de documentos sobre a espionagem feita pelo governo norte-americano a seus cidadãos por meio do programa PRISM suscitou muitas críticas a Barack Obama. Principalmente porque o governo dos EUA obrigou operadoras de telefonia e empresas de tecnologia como a Verizon, a Apple, o Yahoo, o Google e o Facebook a fornecerem dados sigilosos sobre seus usuários. É impossível não fazer o paralelo com o “Grande Irmão”. A divulgação do PRISM em matéria do jornal britânico Guardian chocou a opinião pública mundial. Os documentos obtidos são de abril de 2013. No entanto, o PRISM não é causa, mas sim consequência de uma escalada da vigilância do governo norte-americano. Conforme os documentos vazados pelo grupo hacker Annonymous, o programa foi iniciado em 2007, ainda na administração de George W. Bush.

:: EUA dizem que empresas têm conhecimento de programa de espionagem de dados – Redação: Opera Mundi 09/06/2013
O diretor nacional de Inteligência dos Estados Unidos, James Clapper, especificou na noite deste sábado (08/06), em comunicado, que a espionagem de comunicações digitais estrangeiras se realizam com o “conhecimento” das empresas de internet envolvidas. Clapper, que comanda a NSA (Agência Nacional de Inteligência), tentou novamente minimizar os vazamentos para a imprensa sobre o programa PRISM, que permite vigiar comunicações digitais de nove grandes provedores de internet nos EUA. O diretor chamou a PRISM de um simples “sistema governamental interno de computação”, destinado a supervisionar dados que podem ser recopilados por mandato judicial. Segundo o documento de três páginas, o Congresso foi informado deste programa 13 vezes desde 2009.

:: Nós somos a alta tecnologia da espionagem global – Eduardo Febbro: Carta Maior 04/08/2013
Todas as fantasias dos adeptos das teorias conspiratórias que imaginavam os EUA espionando cada canto do planeta com satélites e dispositivos ultra tecnológicos viraram fumaça em um par de dias. A alta tecnologia da espionagem global somos nós mesmos, não satélites espiões, nem raios invisíveis. Nós entregamos nossos correios, nossos segredos, as fotos e os nomes de nossos filhos e irmãos, de nossos amigos, envoltos em um papel de presente transparente. O problema com os dados reside em que se toma uma informação de um servidor informático que está aí permanentemente. Não há roubo. Pode-se operar sem que a vítima se dê conta. A força desse tipo de espionagem radica no fato de que a vítima ignora seu estatuto de vítima. Os brinquedos conhecidos que a NSA emprega para acessar nossas intimidades são três: o olho é Prisma, seus aliados são Boundless Informant e X-Keyscorey. Prisma se conecta aos servidores das redes sociais, Google, Microsoft, Apple, Twitter, Skype, Facebook e outros. Boundless Informant é um software dirigido em grande parte ao ataque extraterritorial. O dispositivo mede o nível de segurança que cada país aplica a seus sistemas ao mesmo tempo em que consolida os meta-dados das conversações telefônicas (quem fala com quem) e das comunicações informáticas, os IP. X-Keyscorey é, nesta montagem, o cérebro do chamado Big Data, ou seja, o conjunto dos dados armazenados e analisáveis. X-Keyscorey é uma espécie de “Google” interno da NSA, ou seja, um analisador de conteúdos que abre as portas de tudo: histórico de navegações de uma pessoa, buscas realizadas na internet, conteúdos dos e-mails, conversações privadas no Facebook, cruzamento de informações segundo o idioma, o país de origem e de destino dos dados e dos intercâmbios. Especialistas em tecnologias da informação concordam: é imperativo mudar nossa cultura na rede.

:: Guerra da informação: ‘EUA detêm um poder avassalador’ – Eduardo Febbro: Carta Maior 21/08/2013
A proteção dos dados pessoais e a democracia não são bons aliados. O caso de Edward Snowden, o agenda da NSA norte-americana que revelou a espionagem dos Estados Unidos e a colaboração de atores privados do porte de Google, Microsoft ou Facebook, segue expandindo suas verdades e mostrando os limites dos sistemas democráticos. Espionagem global dos indivíduos por meio do sistema Prisma, detenção, em Londres, do companheiro do jornalista do Guardian que revelou os documentos de Snowden, Glenn Greenwald, destruição forçada dos discos rígidos do Guardian por parte dos serviços secretos britânicos, intimidações, ameaças, em suma, as democracias tiraram do armário seus melhores dispositivos legais para justificar a espionagem ou impedir a difusão de informações suplementares. Em entrevista à Carta Maior, Nicolas Arpagian analisa os mecanismos desta espionagem globalizada, seus instrumentos legais, características modernas, seus meandros tecnológicos, o conceito de guerra moderna e, sobretudo, a supremacia absoluta dos Estados Unidos no campo das tecnologias da informação. Arpagian é professor no Instituto de Altos Estudos de Segurança e Justiça (INHESJ), e na Universidade de Paris 10, especialista reconhecido em temas de cyber-segurança e segurança militar moderna.

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Manifesto contra a redução da maioridade penal

Manifesto defende manutenção da maioridade penal em 18 anos de idade

Um conjunto de movimentos sociais, centrais sindicais, entidades estudantis, organizações da juventude, pastorais, organizações não governamentais, intelectuais e especialistas na área do Direito divulgou, nesta terça-feira (28), um manifesto contra a redução da maioridade penal. O documento, lançado com 150 assinaturas de cidadãos e organizações sociais, afirma que “reduzir a maioridade penal é inconstitucional e representa um decreto de falência do Estado brasileiro, por deixar claro à sociedade que a Constituição é letra-morta e que as instituições não têm capacidade de realizar os direitos civis e sociais previstos na legislação”. Entre os signatários do manifesto estão o professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), Fábio Konder Comparato; a filósofa Marilena Chauí; o desembargador Tribunal de Justiça de São Paulo, Alberto Silva Franco; o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Pedro Casaldáliga; e o presidente do PT, Rui Falcão. O documento é assinado também pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), União Nacional dos Estudantes (UNE), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Coordenação Nacional de Entidades Negras (CONEN) e Associação dos Juízes pela Democracia (AJD). “Somos contrários à redução da maioridade penal e defendemos, para resolver os problemas com a segurança pública, que o Estado brasileiro faça valer o que está na Constituição, especialmente os artigos relacionados aos direitos sociais”, defendem no texto. Os signatários denunciam ainda a postura dos grandes meios de comunicação para impor uma mudança na legislação. “A grande mídia tem feito uma campanha baseada na criação de um clima de medo e terror, para construir um apoio artificial das famílias brasileiras à liberação da prisão de seus filhos e netos como solução para a segurança pública. Autoridades aproveitam esse clima para, de forma oportunista, se colocarem como pais e mães dessas propostas”, afirma o documento. O manifesto está aberto para adesões. Clique…

Leia o manifesto.

Fonte: Notícias: IHU On-Line – 29/05/2013

Lula e seu compromisso com a integração sul-americana

Os projetos de Lula

Martín Granovsky – Página 12 – Em Carta Maior: 22/05/2013

Um presidente nunca diz que se angustia. Senão, o que sobra para os governados? Um ex-presidente sim pode dar-se esse luxo. O resultado é apaixonante se o ex se chama Luiz Inácio Lula da Silva e tem uma capacidade única de transmissão intelectual e emotiva.

Exemplo 1: “Ou crescemos juntos ou ficaremos pobres todos juntos”.

Exemplo 2: “Quando entreguei o mandato a Dilma, disse a ela que ia necessitar muitos dobermanns. Disse que, em cada decisão importante que ela tomasse, tinha que botar um cão atrás, porque, se não, não haveria nenhum resultado”.

Lula falou na embaixada do Brasil na Argentina, que organizou um encontro com 40 intelectuais, políticos, economistas e empresários junto com o Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (Clacso) e o Instituto Lula. Foi na sexta-feira (17) à tarde e os presentes fizeram chegar ao embaixador Enio Cordeiro: “Presidente, neste grupo ninguém pensa como o outro”. Antes, o presidente que governou o Brasil durante oito anos, recebeu oito doutorados honoris causa. “Para o Guinness”, brincou o senador e ex-ministro de Educação argentino Daniel Filmus, coordenador dos doutorados junto com Pablo Gentili, o secretário executivo do Clacso.

O ex-presidente brasileiro estava acompanhado por Luiz Dulci, ex-secretário geral da Presidência durante seu governo e membro do Instituto Lula. Dulci, que acaba de publicar um livro sobre os dez anos de governo encabeçado pelo PT, “Um salto para o futuro”, disse que o instituto está firmando acordos com organismos multilaterais e que trabalhará cada vez mais em uma doutrina da integração. “Não se trata de substituir os Estados, mas às vezes é difícil para os Estados avançarem em determinados temas.”

Lula explicou que o instituto antes se chamava Instituto da Cidadania. “O programa Fome Zero foi desenhado ali”, contou, sobre o trabalho prévio às eleições vitoriosas de 2002. Disse que alguns contatos excediam o marco do PT e que, por isso, recebia gente no instituto. Ou seja, uma preparação completa para o governo que viria. Sobre o futuro, Lula reforçou a promessa de Dulci e a ampliou para a África.

“Durante meu governo visitei sete países do Oriente Médio, todos os países da América Latina e do Caribe e 33 países africanos em 39 viagens”. Lula não tocou no tema, mas além da América do Sul, a grande base de votos para que o brasileiro Ricardo Azevedo ganhasse a direção da Organização Mundial de Comércio foi a África.

De terno escuro e gravata listrada com as cores do Brasil e da Argentina, Lula passou mais de três horas debatendo, um pouco sentado, um pouco em pé. Antes de abrir o espaço para comentários e perguntas, fez algumas a si próprio. “Tem que criar uma doutrina da integração. O que é a integração? É comercial? É comercial e social? Envolve as universidades? Ainda não está tudo claro para nós. Cada vez que Hugo Chávez falava da espada de Bolívar, eu dizia para ele: ‘Chávez, não necessitamos mais a espada de Bolívar, mas um banco de desenvolvimento, estradas, pontes…’”.

Lula mencionou Chávez muitas vezes, com carinho e com picardia. Um morto não pode se queixar pela revelação de segredos que, de outra forma, servem para entender que tipo de dificuldades um presidente enfrenta, inclusive quando tem legalidade, legitimidade e popularidade. Como o ex-chanceler Jorge Taiana estava presente, Lula o pegou de comparsa.

“Talvez, um dia, Taiana, Enio e eu possamos contar como são as reuniões presidenciais e as sequências das decisões. Firmamos um acordo, um protocolo de intenções, e quando termina o mandato de quatro ou cinco anos, não se fez nada. Porque quando esta reunião terminou, vem outra reunião e outro protocolo, e, às vezes, além disso, não tem muita gente interessada em fazer o seguimento das decisões. Taiana sabe bem como se queixava o pobre Chávez. Quase todas as reuniões terminavam com Chávez brigando com o pobre Maduro. ‘Não vou assinar o documento porque não o li .’ E olhava a câmera da Telesur. ‘Por que os burocratas não me deram o documento antes? ’ Então eu me levantava e lhe contava minha angústia.” E aí foi que contou sua ideia dos dobermanns.

Na verdade, ainda que não tenha aparecido na reunião da embaixada brasileira, quem se aproximou de um sistema de dobermann foi o presidente chileno Ricardo Lagos. Seu chefe de assessoria, Ernesto Ottone, enviava a cada reunião de Lagos um funcionário que depois se encarregaria do seguimento. Em outro estilo, para algumas decisões, Kirchner telefonava no ato para toda a cadeia de funcionários que se faria responsável pelo cumprimento de uma decisão sua.

“Uma vez eu e o Chávez estivemos a ponto de despedir juntos os presidentes da Petrobras e da PDVSA porque não haviam levado à prática um acordo que havíamos chegado”, disse. “O mesmo aconteceu com a Argentina e o mesmo com outros países. Quando os presidentes estão dispostos e convencidos, as coisas devem ser feitas diante deles e não depois da reunião. Não se pode trabalhar na integração se a gente cede às pressões de um grupo.”

A falta de resultados tem um problema que Lula tocou. “Quando você chega ao governo e não consegue fazer as coisas que se esperam de você, as pessoas se afastam. Mas muitos, ao contrário, quando algo não acontece, perseveram.”

Pensamento próprio

E as reuniões como a de sexta-feira, servem para algo? “Há uma carência motivacional”, disse Lula. “Aparecem bons diagnósticos e boas propostas, mas depois devem ser assumidas pelos políticos.”

O ex-presidente aproveitou esse momento para levantar um livro no ar. É de capa vermelha e o título é: ‘Dez anos de governos pós-neoliberais no Brasil – Lula e Dilma’. É uma coletânea de 21 trabalhos realizada por Emir Sader, ex-secretário do Clacso, antes de Gentili, que foi quem escreveu o capítulo educativo porque, como disse Lula, “é um argentino importado pelo Brasil”. Para que não restem dúvidas da margem que Lula quer para decisões que não são de governo, mas de análise feita por gente com pensamento próprio, disse: “A única coisa minha neste livro é o nome no título, porque os autores trabalharam com toda a liberdade”.

Lula parece se preocupar com o beco sem saída que se produz quando os funcionários e os políticos não se acostumam a viver dentro da contradição. “Se as divergências fossem um problema, o PT não existiria. Não tem nada que tenha mais divergências que o PT.” Também se vê preocupado com as profecias autocumpridas segundo as quais nada diferente será possível.

“Nasci em uma região onde muitas crianças morrem antes dos cinco anos e eu não morri. Quando entrei no sindicato, me disseram que não poderia fazer nada porque a estrutura sindical do Brasil era uma cópia fiel da ‘Carta del Lavoro’ de Benito Mussolini. Sem que a lei se modificasse sequer uma linha, em apenas três anos mudamos a vida sindical. Depois nos disseram que não havia espaço para um partido político. Em três anos criamos o PT, que nasceu em 1980. Que um operário metalúrgico chegasse à presidência era impensável. Conseguimos. Portanto, podemos produzir uma doutrina para que nossos presidentes pensem estrategicamente. É o compromisso que assumo. Não sei se o cumprirei, mas vou tentar.”

Como avançar

Lula alertou contra “as brigas entre nós”. Citou o caso da Rodada de Doha, que terminou em 2008 sem resultados. Foi discreto: omitiu afirmar que as diferenças essenciais no final se produziram entre o Brasil e a Argentina. “Ali não avançamos, mas não acontecerá mais. Se não construirmos um pensamento estratégico, vamos perder inclusive o que já construímos. E não é questão de defeitos. Todos os temos. Tivemos os presidentes daquele momento: Néstor Kirchner, Hugo Chávez, Ricardo Lagos, Tabaré Vázquez, eu… Mas se analisarmos nossas relações tal como estavam em 2000 e como são agora, vamos ver que avançamos extraordinariamente.”

Lula costuma fazer um contraponto permanente entre o resgate do bom, porque é um obsessivo da autoestima coletiva, e a sugestão de desafios, porque se mostra otimista, mas não tem a noção fanática de que as coisas, as más, mas também as boas, são inexoráveis. “Se não consolidarmos os avanços como política de Estado, criando parlamentos e instituições multilaterais, qualquer governante de direita pode terminar com tudo. Sobretudo no Brasil. Estejam seguros de que esse presidente brasileiro dará as costas à América do Sul, porque sua cabeça está colonizada pela Europa e pelos Estados Unidos.” E continuou Lula, em pé, microfone na mão e olhando para os lados, movendo as mãos como o orador sindical que foi ou que é, confessando que hoje vê coisas que não via quando era presidente. “Coisas nas quais poderíamos ter avançado e não avançamos. Por que não avançamos na ONU? O Egito e a Nigéria queriam ser membros permanentes do Conselho de Segurança, mas não disseram. A Argentina, o Brasil e o México também. Não discutimos o essencial: seja quem for, quando for, não pode investir numa representação individual, mas coletiva, do continente. Mas nunca aprofundamos essa discussão. E são 10 anos meus e de Dilma, 12 de Chávez, 10 de Néstor e Cristina. Meia geração cresceu sem que discutíssemos o tema. Com o comércio, a mesma coisa. É importante porque gera desenvolvimento, lucro, empregos.”

Gripe ou pneumonia

Em sua intervenção, o tabuleiro do mundo sempre esteve presente. Para ele, na Europa “uma gripe se transformou em uma pneumonia”. Segundo Lula, “é ridículo que a Europa culpe a Grécia ou o Chipre enquanto nenhum banqueiro está preso”.

A indústria também. “Temos que aproveitar o tipo de pessoas que hoje estão nos diferentes governos para fazer o que temos que fazer. Não é ruim exportar commodities quando o preço está bom. É ruim quando o preço está baixo. Mas em nível internacional devemos discutir o valor dos produtos. Por que a comida vale tão pouco e um chip vale tão caro? Na década de 70, os Estados Unidos decidiram levar o corpo das indústrias para a China e ficar com a cabeça, com os serviços. Agora, com esta crise, se deram conta de que a cabeça sem o corpo não é um ser humano, é um busto. Assim, agora discutem como reindustrializar os Estados Unidos.”

O animador

Um fantasma, às vezes, é o papel do Brasil, o gigante da região. Inclusive é um fantasma quando já ninguém repete disparates sobre hipóteses de conflito bélico. Como Lula queria desmontá-lo, abordou o ponto. “O Brasil não pode crescer sozinho. E o Brasil tem mais responsabilidade que o resto. Na crise de 2008, chamei o presidente do Banco Central e o ministro da Fazenda e disse que destinassem dinheiro para o Uruguai e para a Argentina. Não o fizeram. A China fez. Mas o Brasil não necessita 400 bilhões de dólares de reservas. Hoje poderíamos usar esse dinheiro para financiar a integração aqui e no continente africano. Pensemos, imaginemos. Às vezes me dá a impressão de que os intelectuais da América Latina deixaram de pensar depois da queda do Muro de Berlim. Há menos canções, menos livros… Me lembro de uma conversa com Fidel. Um dia ele me disse que tinha ensinado ao seu povo a história equivocada. Era a história russa, com seus bons que de repente se convertiam em maus, e seus maus que de um dia para o outro se transformavam em bons. ‘Sabe, Lula’, me disse Fidel. ‘Estou arrependido de não ter ensinado ao meu povo a história da América Latina’. Eu digo: façamos isso. Tentarei ser o animador e o provocador para que pensemos de novo em nós.”

 

Os comentários

Antes da última intervenção de Lula no seminário, vários participantes perguntaram ou fizeram comentários.

Taiana disse que há um ponto delicado: “Alcançamos certo patamar na integração, estamos entrando em uma meseta, quando há dificuldades a reação natural é se retrair diante do medo e o que não avançarmos significará que vamos retroceder”.

O consultor Rosendo Fraga disse que o Mercosul e a Unasul demonstraram “grande eficácia frente aos imprevistos como os que se produziram na Venezuela, na Colômbia e no Equador, mas certa ineficácia para enfrentar os conflitos históricos”. Citou que o Chile e o Peru tenham recorrido à corte de Haya, e o mesmo aconteceu com Bolívia e Chile. Lula agregaria que tampouco o conflito das papeleiras entre o Uruguai e a Argentina se resolveu no marco sul-americano. Fraga se queixou de que na Argentina “não se pode ver um canal brasileiro por TV a cabo e não temos uma rádio que transmita em português”.

Félix Peña, ex-subsecretário de Guido Di Tella (que foi ministro de relações exteriores da Argentina no governo Menem – N do T) e hoje está na Universidade de Tres de Febrero, pediu um “Relatório Lula” sobre como trabalhar na América do Sul.

Sergio Berenztein, da consultoria Poliarquía, sugeriu para o Mercosul um avanço por passos. “Incremental, minimalista”, disse.

O reitor da Universidade de Cuyo, Arturo Somoza, insistiu na necessidade do intercâmbio cultural e no peso das decisões políticas.

O ex-chanceler Adalberto Rodríguez Giavarini, que foi ministro de Fernando de la Rúa, disse que a integração e os direitos humanos “são políticas de Estado nos últimos 30 anos”. Recomendou “fortalecer o diálogo Pacífico-Atlântico para entrarmos na dinâmica da negociação global, porque vamos enfrentar tensões e já as estamos enfrentando, e o Brasil terá dois guarda-chuvas”.

Rafael Follonier, colaborador de Néstor e Cristina Kirchner com grau de secretário de Estado e agora a cargo de investigar os crimes contra seguidores do chavismo na última campanha eleitoral na Venezuela, disse que “o posicionamento do Brasil como ator global se deu no marco da última etapa do processo de integração sul-americana”. Pediu “um fortíssimo relançamento da Unasul” e afirmou: “Seria bom que o Lula nos ajudasse a resolver a próxima etapa do organismo que criou com os outros presidentes”.

O ex-presidente da União Industrial Argentina, e ex-ministro de Eduardo Duhalde, José Ignacio de Mendigurem, conclamou a “não deixar passar o tempo e nos deixar tentar com o canto da sereia da primarização da economia, porque, apesar do enorme período de crescimento, a participação industrial no PIB dos dois países diminuiu”.

O reitor da Untref Aníbal Jozami pediu que fosse formado “um grupo de delirantes que discuta uma união com o Brasil”.

Alberto Ferrari Etcheberry, ex-subsecretário de Assuntos Latino-americanos de Raúl Alfonsín e um dos negociadores de então para chegar à integração com o Brasil, além de ser quem convidou Lula para sua primeira visita à Argentina em 1999, lembrou o que é a cidadania entre os vizinhos. “Com a Constituição de 1988 e com a presença decisiva do PT, essencial para a queda de Fernando Collor de Mello, surgiu a democracia de massas pela primeira vez.” E acrescentou: “Com Lula terminaria a história dos Bragança no Brasil. Lula foi o primeiro Silva. E depois veio Dilma, que também se chama Silva”. Para Ferrari, entre os dois países “não se avançou o suficiente em conhecer-se e, sobretudo, em conhecer as diferenças”.

O uruguaio Gerardo Caetano disse que “para esta nova etapa, mais do mesmo não basta”.

Pino Solanas lamentou que “em dez anos não resolvemos nem o Banco do Sul” e disse que “a América Latina não pode ser o paradigma de um consenso sobre as commodities”.

O deputado da Unidade Popular Víctor de Gennaro advertiu que “o genocídio deixou a ideia de que, por medo, se tem que evitar o pior e ser sobreviventes” e opinou que “temos direito de viver felizes”.

Pablo Gentilli, como organizador, expressou seu compromisso de continuar ajudando a coordenação de centros de estudo, políticos e investigadores.

Filmus, outro dos organizadores da visita de Lula e membro do Conselho Acadêmico da recém-inaugurada Universidade Metropolitana para a Educação e o Trabalho, autocriticou “o escasso esforço legislativo para trabalhar em forma conjunta, o déficit de diplomacia parlamentar e o avanço lento no ensino de português e espanhol, a ponto de que cientistas argentinos e brasileiros se comunicam em inglês”.

Fonte: Carta Maior: 22/05/2013.

O Chavismo além de Chávez

O presidente da Venezuela e líder da ‘revolução bolivariana’, Hugo Chávez Frias, morreu nesta terça (5 de março de 2013), aos 58 anos, vítima de câncer. Agora que Chávez não existe mais, o que permanece é o chavismo. Até então, o oposicionismo venezuelano enfrentava um líder carismático de carne e osso. A partir de agora, enfrentará uma lenda.

:: Leia o especial de Carta Maior
O Chavismo além de Chávez

:: E do Opera Mundi
Especial Venezuela: A Era Chávez

A história registrará, com justiça, o papel que Chávez desempenhou na integração latino-americana e sul-americana, e a importância de seu governo para o povo pobre de seu país, diz Luiz Inácio Lula da Silva.

Yoani Sánchez

40 perguntas para Yoani Sánchez durante sua turnê mundial

Famosa opositora cubana fará seu giro mundial por mais de uma dezena de países do mundo

1. Quem organiza e financia sua turnê mundial?

2. Em agosto de 2002, depois de se casar com o cidadão alemão chamado Karl G., abandonou Cuba, “uma imensa prisão com muros ideológicos”, para imigrar para a Suíça, uma das nações mais ricas do mundo. Contrariamente a qualquer expectativa, em 2004, decidiu voltar a Cuba, “barco furado prestes a afundar”, onde “seres das sombras, que como vampiros se alimentam de nossa alegria humana, nos introduzem o medo através do golpe, da ameaça, da chantagem”, onde “os bolsos se esvaziavam, a frustração crescia e o medo se estabelecia”. Que razões motivaram esta escolha?

3. Segundo os arquivos dos serviços diplomáticos cubanos de Berna, Suíça, e de serviços migratórios da ilha, você pediu para voltar a Cuba por dificuldades econômicas com as quais se deparou na Suíça. É verdade?

4. Como pôde se casar com Karl G. se já estava casada com seu atual marido Reinaldo Escobar?

5. Ainda é seu objetivo estabelecer um “capitalismo sui generis” em Cuba?

6. Você criou seu blog Geração y (Generación Y) em 2007. Em 4 de abril de 2008 conseguiu o Prêmio de Jornalismo Ortega e Gasset, de 15 mil euros, outorgado pelo jornal espanhol El País. Geralmente, este prêmio é dado a jornalistas prestigiados ou a escritores de grande carreira literária. É a primeira vez que uma pessoa com seu perfil o recebe. Você foi selecionada entre cem pessoas mais influentes do mundo pela revista Time (2008). Seu blog foi incluído na lista dos 25 melhores blogs do mundo pela cadeia CNN e pela revista Time (2008), e também conquistou o prêmio espanhol Bitacoras.com, assim como The Bob’s (2008). El País lhe incluiu em sua lista das cem personalidades hispano-americanas mais influentes do ano 2008. A revista Foreign Policy ainda a incluiu entre os dez intelectuais mais importantes do ano em dezembro de 2008. A revista mexicana Gato Pardo fez o mesmo em 2008. A prestigiosa universidade norte-americana de Columbia lhe concedeu o prêmio María Moors Cabot. Como você explica esta avalanche de prêmios, acompanhados de importantes quantias financeiras, em apenas um ano de existência?

7. Em que emprega os 250 mil euros conseguidos graças a estas recompensas, um valor equivalente a mais de 20 anos de salário mínimo em um país como França, quinta potencia mundial, e a 1.488 anos de salário mínimo em Cuba?

8. A Sociedade Interamericana de Imprensa, que agrupa os grandes conglomerados midiáticos privados do continente, decidiu nomeá-la vice-presidente regional por Cuba de sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Informação. Qual é seu salário mensal por este cargo?

9. Você também é correspondente do jornal espanhol El País. Qual é sua remuneração mensal?

10. Quantas entradas de cinema, de teatro, quantos livros, meses de aluguel ou pizzas pode pagar em Cuba com sua renda mensal?

11. Como pode pretender representar os cubanos enquanto possui um nível de vida que nenhuma pessoa na ilha pode se permitir levar?

12. O que faz para se conectar à Internet se afirma que os cubanos não têm acesso e ela?

13. Como é possível que seu blog possa usar Paypal, sistema de pagamento online que nenhum cubano que vive em Cuba pode utilizar por conta das sanções econômicas que proíbem, entre outros, o comércio eletrônico?

14. Como pôde dispor de um Copyright para seu blog “© 2009 Generación Y – All Rights Reserved”, enquanto nenhum outro blogueiro cubano pode fazer o mesmo por causa das leis do embargo?

15. Quem se esconde atrás de seu site desdecuba.net, cujo servidor está hospedado na Alemanha pela empresa Cronos AG Regensburg, registrado sob o nome de Josef Biechele, que hospeda também sites de extrema direita?

16. Como pôde fazer seu registro de domínio por meio da empresa norte-americana GoDady, já que isto está formalmente proibido pela legislação sobre as sanções econômicas?

17. Seu blog está disponível em pelo menos 18 idiomas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão, português, russo, esloveno, polaco, chinês, japonês, lituano, checo, búlgaro, holandês, finlandês, húngaro, coreano e grego). Nenhum outro site do mundo, inclusive das mais importantes instituições internacionais, como por exemplo as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE ou a União Europeia, dispõem de tantas versões linguísticas. Nem o site do Departamento de Estado dos Estados Unidos, nem o da CIA dispõem de igual variedade. Quem financia as traduções?

18. Como é possível que o site que hospeda seu blog disponha de uma banda com capacidade 60 vezes superior àquela que Cuba dispõe para todos os usuários de Internet?

19. Quem paga a gestão do fluxo de mais de 14 milhões de visitas mensais?

20. Você possui mais de 400 mil seguidores em sua conta no Twitter. Apenas uma centena deles reside em Cuba. Você segue mais de 80 mil pessoas. Você afirma “Twitto por sms sem acesso à web”. Como pode seguir mais de 80 mil pessoas sem ter acesso à internet?

21. O site www.followerwonk.com permite analisar o perfil dos seguidores de qualquer membro da rede social Twitter. Revela a partir de 2010 uma impressionante atividade de sua conta. A partir de junho de 2010, você se inscreveu em mais de 200 contas diferentes do Twitter a cada dia, com picos que podiam alcançar 700 contas em 24 horas. Como pôde realizar tal proeza?

22. Por que cerca de seus 50 mil seguidores são na verdade contas fantasmas ou inativas? De fato, dos mais de 400 mil perfis da conta @yoanisanchez, 27.012 são ovos (sem foto) e 20 mil têm características de contas fantasmas com uma atividade inexistente na rede (de zero a três mensagens mandadas desde a criação da conta).

23. Como é possível que muitas contas do Twitter não tenham nenhum seguidor, apenas seguem você e tenham emitido mais de duas mil mensagens? Por acaso seria para criar uma popularidade fictícia? Quem financiou a criação de contas fictícias?

24. Em 2011, você publicou 400 mensagens por mês. O preço de uma mensagem em Cuba é de 1,25 dólares. Você gastou seis mil dólares por ano com o uso do Twitter. Quem paga por isso?

25. Como é possível que o presidente Obama tenha lhe concedido uma entrevista, enquanto recebe centenas de pedidos dos mais importantes meios de comunicação do mundo?

26. Você afirmou publicamente que enviou ao presidente Raúl Castro um pedido de entrevista depois das respostas de Barack Obama. No entanto, um documento oficial do chefe da diplomacia norte-americana em Cuba, Jonathan D. Farrar, afirma que você nunca escreveu a Raúl Castro: “Ela não esperava uma resposta dele, pois confessou nunca tê-las enviado [as perguntas] ao presidente cubano. Por que mentiu?

27. Por que você, tão expressiva em seu blog, oculta seus encontros com diplomatas norte-americanos em Havana?

28. Entre 16 e 22 de setembro de 2010, você se reuniu secretamente em seu apartamento com a subsecretaria de Estado norte-americana Bisa Williams durante sua visita a Cuba, como revelam os documentos do Wikileaks. Por que manteve um manto de silêncio sobre este encontro? De que falaram?

29. Michael Parmly, antigo chefe da diplomacia norte-americana em Havana afirma que se reunia regularmente com você em sua casa, como indicam documentos confidenciais da SINA. Em uma entrevista, ele compartilhou sua preocupação em relação à publicação dos cabos diplomáticos norte-americanos pelo Wikileaks: “Eu me incomodaria muito se as numerosas conversas que tive com Yoani Sánchez forem publicadas. Ela poderia sofrer as consequências por toda a vida”. A pergunta que imediatamente vem à mente é a seguinte: quais são as razões por que você teria problemas com a justiça cubana se sua atuação, conforme afirma, respeita o marco da legalidade?

30. Continua pensando que “muitos escritores latino-americanos mereciam o Prêmio Nobel de Literatura mais que Gabriel García Márquez”?

31. Continua pensando que “havia uma liberdade de imprensa plural e aberta, programas de rádio de toda tendência política” sob a ditadura de Fulgencio Batista entre 1952 e 1958?

32. Você declarou em 2010: “o bloqueio tem sido o argumento perfeito do governo cubano para manter a intolerância, o controle e a repressão interna. Se amanhã as suspenderem as sanções, duvido muito que sejam vistos os efeitos”. Continua convencida de que as sanções econômicas não têm nenhum efeito na população cubana?

33. Condena a imposição de sanções econômicas dos Estados Unidos contra Cuba?

34. Condena a política dos Estados Unidos que busca uma mudança de regime em Cuba em nome da democracia, enquanto apoio as piores ditaduras do Oriente Médio?

35. Está a favor da extradição de Luis Posada Carriles, exilado cubano e ex-agente da CIA, responsável por mais de uma centena de assassinatos, que reconheceu publicamente seus crimes e que vive livremente em Miami graças à proteção de Washington?

36. Está a favor da devolução da base naval de Guantánamo que os Estados Unidos ocupam?

37. Você é favorável à libertação dos cinco presos políticos cubanos presos nos Estados Unidos desde 1998 por se infiltrarem em organizações terroristas do exílio cubano na Florida?

38. Em sua opinião, é normal que os Estados Unidos financiem uma oposição interna em Cuba para conseguir “uma mudança de regime”?

39. Em sua avaliação, quais são as conquistas da Revolução Cubana?

40. Quais interesses se escondem atrás de sua pessoa?

Salim Lamrani é Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV. Professor titular da Université de la Réunion e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro se intitula État de siège: Les sanctions économiques des États-Unis contre Cuba – Une perspective historique et juridique. Paris: Estrella, 2011 – ISBN 9782953128420.

Fonte: Salim Lamrani – Opera Mundi – 18/02/2013

Risco de racionamento de energia elétrica?

Não se deve politizar uma coisa tão séria para o país, como a questão da energia. Mas a irresponsabilidade é tanta, que pouco importa o país. O principal é a desconstrução de quem está no poder. E aí vale tudo. Já vimos esta estória em anos recentes.

Acabei de ver na Globo News, no jornal das 10h00, a notícia sobre a reunião de amanhã no Ministério de Minas e Energia para tratar do setor elétrico. A notícia – que não é apenas notícia, é campanha política visando 2014 – “planta” claramente a ideia de que o país governado por Dilma Rousseff está, irremediavelmente, à beira do caos elétrico… Ora, este é o papel do PIG, já sabemos. Então…

Algumas considerações podem ser interessantes, haja ou não risco de racionamento de energia.

Selecionei alguns trechos do artigo Risco de um novo racionamento de energia elétrica? de Heitor Scalambrini Costa.

É necessário que se diga, alto e em bom som, que a curto prazo não existe possibilidade de risco de faltar energia para atender a demanda atual. O pífio desempenho da economia nacional, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), favoreceu a que o país não sofresse uma nova crise energética nos moldes da ocorrida em 2001/2002.


Já a médio prazo, a situação não é tranquila para o setor elétrico, desde que continuem os erros cometidos. E a situação somente mudará se houver uma guinada de 180º na política energética em nosso país.


O que se pode extrair da conjuntura atual, com declarações e ameaças de um novo racionamento de energia, é que a sucessão presidencial começou. Não se deve politizar uma coisa tão séria para o país, como a questão da energia. Com risco de criar o descrédito da população em um setor estratégico, que vai além dos governos de plantão, e mesmo levar o pânico com a possibilidade de faltar energia.


A irresponsabilidade é tanta, que pouco importa o país. O principal é a desconstrução de quem está no poder. E aí vale tudo. Já vimos esta estória em anos recentes.


Por sua vez o “deus mercado” começa a responder ao jogo político. As bolsas de valores começam a impor o sobe e desce dos papeis das companhias elétricas. Onde vai parar esta histeria provocada?

[Na segunda-feira, o principal índice brasileiro de ações fechou no campo negativo, abaixo dos 62 mil pontos, pelo medo de que seja possível haver um apagão no país. As ações do setor elétrico pesaram na bolsa. Temores de um possível racionamento de energia no Brasil foram os responsáveis por motivar a venda acentuada de papéis de companhias elétricas na sessão, segundo operadores].

Leia o texto completo.

Fonte: Notícias: IHU Online – 08/01/2013

:: Quem é Heitor Scalambrini Costa?

Heitor Scalambrini Costa é graduado em Física pelo Instituto de Física Gleb Wattaghin da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, mestre em Energia Solar pelo Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, e doutor em Energética pela Commissariat à I’Energie Atomique – CEA, Centre d’Estudes de Cadarache et Laboratorie de Photoelectricité Faculte Saint-Jerôme/Aix-Marseille III, França. Atualmente coordena os projetos da ONG Centro de Estudos e Projetos Naper Solar, o Núcleo de Apoio a Projetos de Energias Renováveis – Naper, e o projeto Soluções em Energia e Design – Sendes, da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (informações aqui).

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