O Codex Sassoon

O texto da Bíblia Hebraica já está fixado no século II d.C. Nos séculos seguintes os escribas copiam novos rolos, procurando limitar os erros de transcrição ao mínimo. Para a compreensão correta do texto eles começam a fazer anotações nas margens, assinalar palavras duvidosas etc.

No século V entram em ação os chamados massoretas. O termo vem do hebraico masar = “transmitir” e os massoretas são os “transmissores” do texto. Além de fazer anotações sobre o texto, estes sábios judeus sentem a necessidade de vocalizá-lo e acentuá-lo, para se obter um texto mais uniforme e fixo.

Neste processo cada escola segue um método diferente, como a oriental, sediada na Mesopotâmia e a ocidental, na Palestina. Depois de muitas peripécias, prevalece a escola de Tiberíades (Palestina) aí pelo ano 900 d.C. E em Tiberíades as famílias Ben Neftali e Ben Asher.

Desta última temos dois manuscritos importantíssimos: o Codex do Cairo, escrito e vocalizado por Moisés ben Asher, data do ano 895, mas só contém os profetas (anteriores e posteriores).

O Codex de Aleppo, quase completo, foi escrito e vocalizado por Aarão ben Moisés ben Asher, até 930. Pertencia à sinagoga de Aleppo e é salvo da destruição em 1948, sendo levado para Israel.

Um terceiro manuscrito importante é o Codex de Leningrado, baseado nos manuscritos de Aarão ben Moisés ben Asher. Este contém todo o AT e é escrito em 1008. A melhor edição crítica que possuímos hoje – que é a Bíblia Hebraica Stuttgartensia – baseia-se principalmente neste manuscrito.

Leia:

As diferentes tradições do hebraico bíblico – Observatório Bíblico: 08.02.2018

Lista de manuscritos do AT disponíveis online – Observatório Biblico: 06.05.2016

Agora a notícia do dia é sobre o Codex Sassoon, um texto massorético que pode ser datado por volta de 900 d.C. e que contém a Bíblia Hebraica quase completa.Códice Sassoon

Porém, há muitas imprecisões e exageros nos noticiários. Por isso recomendo, depois de ler a notícia abaixo, conferir o segundo texto indicado, que aponta os exageros e as meias-verdades da cobertura da mídia sobre o Códice Sassoon.

Afirmações como “Codex Sassoon: a Bíblia Hebraica mais antiga e completa” são absurdas e enganosas. O mais antigo manuscrito massorético completo da Bíblia Hebraica que sobreviveu em sua totalidade ainda é o Codex de Leningrado, de 1008 d.C.

 

A Bíblia leiloada por R$ 190 milhões que virou o manuscrito mais valioso do mundo – Por David Gritten – BBC News Brasil: 19 maio 2023

A Bíblia hebraica mais antiga e completa já registrada foi comprada nesta quinta-feira (18/5) na casa de leilões Sotheby’s, em Nova York, nos Estados Unidos, por US$ 38,1 milhões (cerca de R$ 190 milhões), tornando-se o manuscrito mais valioso já vendido em leilão.

O Códice Sassoon, a mais antiga cópia sobrevivente do manuscrito contendo os 24 livros da Bíblia hebraica, teria sido escrito há cerca de 1.100 anos.

O ex-embaixador americano Alfred Moses comprou o texto para o Museu do Povo Judeu (ANU) em Tel Aviv, Israel (…).

“Fico feliz em saber que pertence ao povo judeu. Minha missão, percebendo o significado histórico do Códice Sassoon, era fazê-lo residir em um local globalmente acessível para todos.”

(…)

O Códice Sassoon deve seu nome ao seu proprietário anterior, David Solomon Sassoon, que o adquiriu em 1929 e reuniu em sua casa em Londres, no Reino Unido, a maior e mais importante coleção particular de manuscritos hebraicos do mundo.

(…)

De acordo com a casa de leilões Sotheby’s, faltam apenas 12 páginas ao Códice Sassoon, cuja datação por carbono indica que foi criado por volta do ano 900.

“Esta é a primeira vez que um livro quase completo da Bíblia Hebraica apareceu com as vogais, cantilena e notas de rodapé que dizem aos escribas como o texto deve ser redigido corretamente”, disse em março Sharon Mintz, principal especialista sobre os itens da casa de leilões.

Os séculos de anotações e inscrições revelam que o manuscrito foi vendido por um homem chamado Khalaf ben Abraham a Isaac ben Ezekiel al-Attar, que mais tarde transferiu a propriedade para seus dois filhos, Ezekiel e Maimon.

No século 13, a obra foi entregue a uma sinagoga em Makisin, no nordeste da Síria.

Após a destruição da cidade pelos mongóis no final do século 13 ou pelos timúridas no início do século 15, o manuscrito foi entregue a Salama ibn Abi al-Fakhr. Depois disso, desapareceu por 500 anos.

O último proprietário do Códice Sassoon foi a investidora suíça Jacqui Safra, que o comprou por US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 12,4 milhões) em um leilão realizado em Londres em 1989.

 

Is the Earliest, Most Complete Hebrew Bible Going on Auction? – By Kim Phillips – Text & Canon Institute, Phoenix Seminary – February 22, 2023

The sale of Codex Sassoon raises questions about what’s real and what’s hype about this important manuscript.

(…)

What is the Sassoon Codex?

The Sassoon Codex is a Hebrew Bible. Christians refer to the same text as the Old Testament. Many early mediaeval Hebrew Bible manuscripts only contain part of the scriptures: perhaps the Pentateuch only, or the prophetic books, or the Psalms. Relatively few early Hebrew Bible manuscripts contain the entire Hebrew Bible. Codex Sassoon is one of them. That turns out to be rather important later on.

The word “codex” basically means: book, that is, something with pages connected to a spine that you can turn to quickly find your place. This is different to a scroll. If you want to read the last chapter of a story written in a scroll, you have no option but to laboriously unroll the entire thing until you get to the final part. So, codices have some significant advantages over scrolls, particularly if you want a quick peek at the end to see if he marries the girl, or if it really was the butler, in the drawing room, with the candlestick.

Nonetheless, the scroll (rather than the codex) occupies a very special role in Jewish liturgy, and Jewish communities were rather slow to adopt the codex alongside the scroll, for writing the biblical text. In fact, it wasn’t until towards the end of the first millennium AD that Hebrew Bibles began to appear in codex form. So, this manuscript is part of the early shift to codex form. We’ll come back to that point in a bit.

For a long time, this particular Hebrew Bible Codex was part of the massive Judaica collection belonging to David Sassoon, whence the name “Sassoon codex” (or Sassoon 1053, for those who like an extra slice of nerd with their nomenclature).

Finally, it is important to explain that the Sassoon Codex—together with every other Hebrew Bible Codex from about AD 800 onwards—is a Masoretic Bible Codex. This simply means that it contains the Masoretic Text.

Now we are in a better position to address some of the exaggerations and half-truths in the media coverage of the Sassoon Codex.

O texto continua explicando os exageros e as meias-verdades da cobertura da mídia sobre o Códice Sassoon.

Descoberto um fragmento siríaco do Evangelho de Mateus

Palimpsesto (do grego antigo παλίμψηστος, transl. “palímpsêstos”, “aquilo que se raspa para escrever de novo”: πάλιν, “de novo” e ψάω, “arranhar, raspar”) designa um pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização.

Descoberto no Vaticano fragmento do Evangelho de 1.750 anos

Com ajuda de fotografia ultravioleta, pesquisador encontra um dos manuscritos mais antigos do Novo Testamento encoberto sob outros textos.Palimpsesto - Foto: Vatican Library/ÖAW/APA/dpa/picture alliance

Um pesquisador da Academia Austríaca de Ciências (ÖAW, na sigla em alemão) descobriu na Biblioteca do Vaticano um fragmento único de uma tradução de 1.750 anos do Novo Testamento.

Um pequeno fragmento de manuscrito – uma tradução siríaca do grego, escrita no século 3 e copiada no século 6 – foi encontrado encoberto sob outros manuscritos com a ajuda de fotografia ultravioleta [o texto é Mt 11,30-12,26].

A língua siríaca é um dialeto aramaico que surgiu durante o século 1 d.C. de um dialeto aramaico local, tendo papel importante na literatura religiosa e em textos cristãos.

Cerca de 1.300 anos atrás, um escriba na Palestina pegou um livro dos Evangelhos inscrito em siríaco e o apagou”, afirmou o comunicado da ÖAW. O pergaminho era escasso na Idade Média, então os manuscritos eram frequentemente reutilizados. Esses documentos sobrescritos são chamados de palimpsestos.

Palimpsesto duplo

“A tradição do cristianismo siríaco conhece várias traduções do Antigo e do Novo Testamento”, afirmou o especialista em história medieval Grigory Kessel, responsável pela descoberta e cujo trabalho sobre o achado foi publicado na revista especializada New Testament Studies [o artigo pode ser acessado aqui].

Graças à tecnologia moderna, Kessel identificou o texto como a terceira camada de escrita, ou seja, um palimpsesto duplo.

De acordo com o historiador, o manuscrito oferece uma “abordagem única para a fase inicial da história da transmissão textual dos Evangelhos”. Conforme a ÖAW, quanto mais traduções são conhecidas, mais a ciência aprende sobre o texto original dos Evangelhos.

“Até recentemente, apenas dois manuscritos eram conhecidos por conter a tradução siríaca antiga dos evangelhos”, ressalta Kessel. Enquanto um deles está agora preservado na Biblioteca Britânica em Londres, outro foi descoberto como um palimpsesto no Mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai. Fragmentos de um terceiro manuscrito foram recentemente identificados pelo Sinai Palimpsests Project.

Descobrindo velhos escritos

O Sinai Palimpsests Project visa tornar novamente legíveis e disponíveis em formato digital os valiosos manuscritos de palimpsestos centenários do famoso Mosteiro de Santa Catarina no Sinai, Egito. Até agora, 74 manuscritos foram decifrados.

Claudia Rapp, diretora do Instituto de Pesquisa Medieval da ÖAW e também integrante do Sinai Palimpsests Project, destacou que a tradução siríaca do século 3 foi escrita pelo menos um século antes dos mais antigos manuscritos gregos remanescentes, como o importante Codex Sinaiticus.

“A descoberta de Kessel prova quão produtiva e importante pode ser a interação das tecnologias digitais mais modernas na pesquisa ao encontrar manuscritos medievais”, disse Rapp.

Fonte: DW – 06/04/2023

Dirk Obbink: da cátedra à confusão

Dirk Obbink, famoso papirologista de Oxford, suspeito de vender fragmentos do Novo Testamento que não lhe pertenciam, está, mais uma vez, nos noticiários. Poderia até ser um caso para o Inspetor Morse.

Ele se tornou conhecido do público quando, em 2012, foi divulgado que um fragmento de papiro do evangelho de Marcos por ele estudado, poderia ser, extraordinariamente, do século I d.C.

Veja os links no final deste post para entender o caso do fragmento de Marcos.

Diz a reportagem publicada em Christianity Today, em 15 de dezembro de 2021, que Dirk Obbink se esquivou dos investigadores particulares que tentavam entregar-lheDirk D. Obbink (nascido em 13 de janeiro de 1957 em Lincoln, Nebraska, USA) uma intimação legal em agosto e setembro e não respondeu à carta oficial notificando-o de que era obrigado a responder às alegações de que havia fraudado Hobby Lobby ao vender à loja de artesanato, por 7 milhões de dólares, papiros antigos que não lhe pertenciam.

Um escrivão do tribunal federal dos Estados Unidos certificou, então, uma sentença à revelia contra o famoso papirologista (…) O ex-professor da Universidade de Oxford e pesquisador visitante da Universidade de Baylor, antes proclamado por suas incríveis descobertas de textos antigos, incluindo as primeiras cópias dos Evangelhos e poemas desconhecidos de Safo, agora deve a Hobby Lobby um reembolso total.

A resolução da ação civil deixa, entretanto, muitas perguntas sem resposta. A principal delas: onde estão os outros 81 fragmentos antigos que desapareceram da biblioteca da Egypt Exploration Society (EES) em Oxford quando Obbink, então chefe do projeto de digitalização de papiros da biblioteca, pegou 32 fragmentos e os vendeu para Hobby Lobby?

(…)

Obbink disse à EES que mostrou os fragmentos do Novo Testamento a alguns visitantes associados à Hobby Lobby e à Green Collection, de Steve Green, mas afirmou que nunca lhes disse que estavam à venda (…) A Hobby Lobby então enviou uma cópia de seu contrato de compra para a EES, e a biblioteca realizou uma verificação sistemática de sua coleção de mais de 500.000 artefatos. Mais de 120 estavam desaparecidos, e alguém havia adulterado os catálogos de fichas e registros fotográficos para esconder o fato de que eles tinham sumido. Sete foram recuperados de um colecionador evangélico na Califórnia. Mais de 80 parecem ainda estar faltando. Segundo o diretor do EES, os itens podem ter sido vendidos por milhões, mas na verdade não têm preço.

(…)

Obbink foi preso em 2020 e processado em 2021. Foi pouco depois disso, mostram os registros do tribunal, que ele se mudou para uma casa flutuante no Tâmisa, em Oxford, e começou a se esconder dos investigadores particulares que tentavam lhe entregar a intimação (…) Obbink também enfrenta acusações criminais na Inglaterra. A investigação está em andamento.

 

Missing Papyri Professor Must Return $7 Million to Hobby Lobby – Daniel Silliman: Christianity Today: December 15, 2021

Dirk Obbink has lost a federal lawsuit over the fraudulent sale of Gospel fragments.

Dirk Obbink didn’t answer the door of his Oxford, England, houseboat docked in the Thames. He dodged the private investigators trying to serve him a legal summons in August and September and failed to answer the official letter notifying him that he was required to respond to allegations he had defrauded Hobby Lobby by selling the craft store $7 million worth of ancient papyri that he didn’t actually own.

A clerk of the United States federal court has certified a default judgment against the famed papyrologist, noting in late November that “defendant Dirk D. Obbink has not filed any answer or otherwise moved with respect to the complaint herein.”

The former Oxford University professor and visiting scholar at Baylor University, once heralded for his amazing discoveries of ancient texts, including early copies of the Gospels and unknown poems of Sappho, now owes Hobby Lobby a full refund.

The resolution of the civil lawsuit leaves a lot of questions unanswered, though. Chief among them: Where are the other 81 ancient fragments that went missing from the Egyptian Exploration Society (EES) library at Oxford at the same time that Obbink, then head of the library’s papyri digitization project, took 32 fragments and sold them to Hobby Lobby?

“I think many of us hoped that a trial might bring to light further information on the whereabouts of the roughly 80 Oxyrhynchus papyri that still seem to be missing,” wrote history of religions scholar Brent Nongbri on his blog.

According to the lawsuit, Obbink worked as a private antiquities dealer in addition to his academic work. He sold Hobby Lobby four lots of papyri between 2010 and 2013, as the Oklahoma-based company invested in an expansive collection that it would use to launch the Museum of the Bible in Washington, DC, in 2017. The fragments were discovered in a rubbish heap near a vanished city in Egypt in the early 20th century.

A sales record shows that Obbink claimed four of them were first-century copies of Matthew, Mark, Luke, and John—which would have made them the oldest known pieces of the New Testament.

In 2017, Obbink contacted Hobby Lobby to say he had made a mistake and mixed up the EES fragments with his fragments he was selling as part of his antiquities business. He promised to pay the money back but asked for patience, as he had already spent it.

At the same time, Obbink told EES he had showed the New Testament fragments to some visitors associated with Hobby Lobby and owner Steve Green’s “Green Collection,” but claimed he never told them it was for sale.

“Professor Obbink insists that he never said the papyrus was for sale, and that while he did receive some payments from the Green Collection for advice on other matters, he did not accept any payment for or towards purchase of this text,” an official statement said. “The EES has never sought to sell this or any other papyrus.”

Hobby Lobby then sent a copy of its purchase agreement to EES, and the library launched a systematic check of its collection of more than 500,000 artifacts. More than 120 were missing, and someone had tampered with the card catalogues and photographic records to hide the fact they were gone.

Seven were recovered from an evangelical collector in California. More than 80 appear to still be missing.

According to the director of the EES, the items may have been sold for millions, but they are actually priceless.

Obbink, for his part, spoke of the fragments in the EES collection in rhapsodic terms.

“For me personally,” he once told a British audience, “working on these texts … was like being shipwrecked on a desert island with Marilyn Monroe.”

Obbink was arrested in 2020 and then sued in 2021. Shortly after that, court records show, he moved to a houseboat named the James Brindley and started hiding from the private investigators attempting to serve him summons.

A neighbor signed an affidavit that she saw Obbink on the boat a little before 4:30 p.m. on Saturday, September 11, and the summons had been removed from the houseboat door.

“The main cabin door was open,” the affidavit says. “Mr. Obbink would have had to remove the envelop to open the door.”

The British woman helpfully photographed Obbink for the investigators, who presented it to the US federal court as evidence and asked for a default judgment.

Obbink is also facing criminal charges in England. The investigation is ongoing.

 

Em ordem cronológica, links para as postagens publicadas no Observatório Bíblico sobre o fragmento de Marcos:

Descoberto fragmento de Marcos do século I? – 06.02.2012

Esclarecimentos sobre o fragmento de Marcos do século I – 10.02.2012

Fragmento de Marcos foi escrito entre 150 e 250 d.C. – 31.05.2018

Ainda sobre o fragmento de Marcos – 02.07.2019

A saga do fragmento do evangelho de Marcos – 09.01.2020

Quem dividiu a Bíblia em capítulos e versículos?

Uma resposta rápida:
. a divisão em capítulos foi feita por Stephen Langton, em Paris, em 1204-1205. Em 1226 a divisão foi usada em um texto da Vulgata.
. a divisão em versículos foi feita por Robert Estienne (citado, em latim, como Robert Stephanus) a partir de 1551, em Paris e Genebra.

Outras propostas de divisão da Bíblia em capítulos e versículos foram feitas, mas estas duas acabaram prevalecendo.Stephen Langton (c. 1150 – 9 de julho de 1228)

E são as que utilizamos hoje.

Uma síntese honesta do tema, em português, pode ser encontrada aqui.

Mas esta é uma resposta rápida.

Então pergunto: Como sabemos disso? Há documentos que comprovam estas afirmações?

Há sim.

Robert Estienne (Paris, 1503 – Genebra, 7 de setembro de 1559)Para uma ótima abordagem do tema, com referências primárias e secundárias, recomendo conferir, em inglês:

Stephen Langton and the modern chapter divisions of the bible – By Roger Pearse: June 21, 2013

É, obviamente, um pouco complicado, pois estamos lidando com manuscritos e textos impressos antigos.

Agora, para quem sabe alemão, uma boa referência do século XIX, também usada por Roger Pearse, disponível no Google books, é:

SCHMID, O. Über verschieden Einteilungen der heiligen Schrift, insbesondere über die Capitel-Einteilung Stephan Langtone im XIII Jahrhunderte [Sobre as divisões da Sagrada Escritura especialmente a divisão em capítulos de Stephen Langton no século 13], Graz, 1892, p. 56-106.

A partir da página 106 Otto Schmid trata da divisão em versículos feita por Robert Estienne.

Ele aborda também as propostas de predecessores de Robert Estienne, como:

. o rabino Isaac Nathan, em sua Concordância da Bíblia Hebraica, publicada em Veneza em 1523 [confira também aqui e aqui];

. e São Pagnino, de Lucca, Itália, em sua tradução da Bíblia, publicada em 1527: Veteris ac Novi Testamenti nova translatio per Rev. S. Theol. Doct. Sanct. Pagninum Lucensem nuper edita; impressa est Lugduni per Antonium de Ry chalcographum Anno D. 1527.

Um guia para o estudo da Septuaginta

ROSS, W. A. ; GLENNY, W. E. (eds.) T&T Clark Handbook of Septuagint Research. London: T&T Clark, 2021, 512 p. – ISBN 978-0567680259.

Hoje estudantes e estudiosos reconhecem a grande importância da Septuaginta para a história da língua grega, o desenvolvimento textual da Bíblia e para a vida religiosa judaica e cristã tanto no mundo antigo quanto no mundo moderno. Este manual foi elaborado para aqueles que desejam se envolver com a Septuaginta em suas pesquisas, mas não têm certeza de onde buscar orientação ou discussão concisa e atualizada. Os colaboradores quebram as barreiras envolvidas nos debates técnicos e subespecialidades, tanto quanto possível, equipando os leitores com as ferramentas e o conhecimento necessários para conduzir suas próprias pesquisas.

Cada capítulo é escrito por um importante estudioso da Septuaginta e enfoca uma área relevante de pesquisa na disciplina, fornecendo uma visão geral do tópico,ROSS, W. A. ; GLENNY, W. E. (eds.) T&T Clark Handbook of Septuagint Research. London: T&T Clark, 2021 os principais debates e pontos de vista, os métodos envolvidos e o rumo das pesquisas em andamento. Ao explorar origens, linguagem, texto, recepção, teologia, tradução e comentários, este manual incentiva o envolvimento ativo com as questões mais importantes no campo e fornece um recurso essencial para especialistas e não especialistas.

 

Students and scholars now widely recognize the importance of the Septuagint to the history of the Greek language, the textual development of the Bible, and to Jewish and Christian religious life in both the ancient and modern worlds. This handbook is designed for those who wish to engage the Septuagint in their research, yet have been unsure where to turn for guidance or concise, up-to-date discussion. The contributors break down the barriers involved in the technical debates and sub-specialties as far as possible, equipping readers with the tools and knowledge necessary to conduct their own research.

Each chapter is written by a leading Septuagint scholar and focuses upon a major area of research in the discipline, providing an overview of the topic, key debates and views, a survey or demonstration of the methods involved, and pointers towards ongoing research questions. By exploring origins, language, text, reception, theology, translation, and commentary, with a final summary of the literature, this handbook encourages active engagement with the most important issues in the field and provides an essential resource for specialists and non-specialists alike.

 

SUMÁRIO

Lists of Tables and Figures
Preface – William A. Ross and W. Edward Glenny
Foreword – Robert P. Gordon
Lists of Abbreviations and Sigla

Introduction – William A. Ross

I. ORIGINS
The Origins and Social Context of the Septuagint – James K. Aitken
Septuagint Translation Technique and Jewish Hellenistic Exegesis – Marieke Dhont

II. LANGUAGE
Septuagint Transcriptions and Phonology – Pete Myers
Septuagint Lexicography – Patrick Pouchelle
The Septuagint and Discourse Grammar – Christopher J. Fresch
The Septuagint and Greek Style – Eberhard Bons
The Septuagint and Biblical Intertextuality – Myrto Theocharous

III. TEXT
The Septuagint and Textual Criticism of the Greek Versions – José Manuel Cañas Reíllo
The Septuagint and Textual Criticism of the Hebrew Bible – John Screnock
The Septuagint and Qumran – Gideon R. Kotzé
The Septuagint and the Major Recensions – Ville Mäkipelto
The Septuagint and the Secondary Versions – Claude Cox
The Septuagint and Origen’s Hexapla – Peter J. Gentry
The Septuagint and the Biblical Canon – John Meade

IV. RECEPTION
The Septuagint and Second Temple Judaism – Benjamin G. Wright III
The Septuagint in the New Testament – Steve Moyise
The Septuagint in Patristic Sources – Edmon L. Gallagher
The Septuagint in Byzantine Judaism – Cameron Boyd-Taylor
The Septuagint in the Eastern Orthodox Tradition – Mikhail G. Seleznev
The Septuagint in Early Modern Europe – Scott Mandelbrote

V. THEOLOGY, TRANSLATION, AND COMMENTARY
The Septuagint and Theology – W. Edward Glenny
The Septuagint and Modern Language Translations – William A. Ross
The Septuagint: The Text as Produced – Robert J. V. Hiebert
The Septuagint: A Greek-Text Oriented Approach – Stanley E. Porter

VI. SURVEY OF LITERATURE
The Septuagint and Contemporary Study – Jennifer Brown Jones

Glossary
List of Contributors
References
Indices

 

William A. Ross is assistant professor of Old Testament at Reformed Theological Seminary in Charlotte, NC, USA. W. Edward Glenny is professor of New Testament and Greek at the University of Northwestern – St. Paul, MC, USA.

Textos bíblicos em hebraico e grego disponíveis online

Jonathan Robker publicou em The Digital Orientalist, no dia 9 de outubro de 2020, uma lista comentada de fontes primárias confiáveis e disponíveis gratuitamente para estudos bíblicos.

Trustworthy, Freely Available Primary Sources for Biblical Studies

Ele diz no começo do post que

(…) A maioria dos estudiosos envolvidos com os estudos bíblicos provavelmente estará familiarizada com algum tipo de software para trabalhar com as fontes primárias, ou seja, edições críticas de textos bíblicos. Provavelmente, os mais conhecidos deles são Accordance, BibleWorks e Logos. Esses programas têm grandes méritos, mas também algumas deficiências e obstáculos. Por exemplo, BibleWorks infelizmente fechou as portas (…) Todos esses programas têm curvas de aprendizado bastante acentuadas (…) Mas, provavelmente, o maior obstáculo para muitos usuários (…) é o custo. As licenças para os módulos relevantes começam em centenas de dólares, aumentando ad infinitum dependendo dos módulos adicionados e expansões. Com isso em mente, é bom conhecer algumas alternativas online disponíveis gratuitamente. Com um texto, tão usado e abusado, como a Bíblia, há também a questão da confiabilidade: a fonte é confiável e pode ser acessada sem problema? (…) Vamos considerar algumas opções para acessar e avaliar as fontes bíblicas primárias…

Jonathan Robker, editor para estudos bíblicos de The Digital Orientalist, comenta os seguintes recursos:

Sociedade Bíblica Alemã

BibleBento.com

Parabible.com

STEP Bible

Por que ler a Bíblia nas línguas originais?

MURAOKA, T. Why Read the Bible in the Original Languages? Leuven: Peeters, 2020, 111 p. – ISBN 9789042942004.

Uma comparação de várias traduções da Bíblia em qualquer idioma mostra que elas diferem em centenas de passagens, apontando para a discordância contínua entreMURAOKA, T. Why Read the Bible in the Original Languages?. Leuven: Peeters, 2020 estudiosos e tradutores da Bíblia em sua análise e compreensão dessas passagens. Aprender hebraico, aramaico e grego, as línguas originais da Bíblia, não é algo que agrada a todos. Além do que, o conhecimento destas línguas não fornece necessariamente uma solução para essas dificuldades. No entanto, há muitas coisas no texto bíblico que podem ser perdidas se o texto for lido apenas em tradução.

Neste livro, uma série de questões linguísticas relacionadas com as três línguas originais são discutidas à luz de exemplos reais. Questões de cultura e retórica também são abordadas. Um capítulo especial é dedicado à Septuaginta como uma ponte entre os dois Testamentos. O livro foi escrito em um estilo não técnico, portanto, facilmente legível por não especialistas, mas os especialistas também podem encontrar coisas de seu interesse. Nenhum alfabeto hebraico ou grego é usado.

A comparison of multiple translations of the Bible in any language shows that they differ at hundreds of places, pointing to the continuing disagreement among Bible scholars and translators in their analysis and understanding of those places. To learn Hebrew, Aramaic, and Greek, the original languages of the Bible, is admittedly not everybody’s cup of tea. Knowledge of them does not necessarily provide a solution to these difficulties. However, there are not a few things in the biblical text which can be missed out if it is read only in translation. A range of linguistic issues touching on the three original languages are discussed in the light of actual examples. Matters of culture and rhetoric are also taken up. A special chapter is devoted to the Septuagint as a bridge between the two Testaments. The book is written in a non-technical style, hence easily readable by non-specialists, but specialists may also find things of interest. No Hebrew or Greek alphabet is used.

Quem é Takamitsu Muraoka?

Página do autor na Amazon.

A saga do fragmento do evangelho de Marcos

Um longo artigo sobre o caso do fragmento do evangelho de Marcos, que causou furor entre os estudiosos da área porque andaram dizendo que era do século I. Na verdade foi escrito entre 150 e 250 d.C.

Para entender o caso, leia antes o post Ainda sobre o fragmento de Marcos, publicado em 02/07/2019.

 

Um escândalo em Oxford: o curioso caso do evangelho roubado

A scandal in Oxford: the curious case of the stolen gospel – Charlotte Higgins: The Guardian – Thu 9 Jan 2020

What links an eccentric Oxford classics don, billionaire US evangelicals, and a tiny, missing fragment of an ancient manuscript? Charlotte Higgins unravels a multimillion-dollar riddle

To visit Dr Dirk Obbink at Christ Church college, Oxford, you must first be ushered by a bowler-hatted porter into the stately Tom Quad, built by Cardinal Wolsey before his spectacular downfall in 1529. Turn sharp right, climb a flight of stairs, and there, behind a door on which is pinned a notice advertising a 2007 college arts festival, you will find Obbink’s rooms. Be warned: you may knock on the door in vain. Since October, he has been suspended from duties following the biggest scandal that has ever hit, and is ever likely to hit, the University of Oxford’s classics department.

An associate professor in papyrology and Greek literature at Oxford, Obbink occupies one of the plum jobs in his field. Born in Nebraska and now in his early 60s, this lugubrious, crumpled, owlish man has “won at the game of academia”, said Candida Moss, professor of theology at Birmingham University. In 2001, he was awarded a MacArthur “genius” award for his expertise in “rescuing damaged ancient manuscripts from the ravages of nature and time”. Over the course of his career, he has received millions in funding; he is currently, in theory at least, running an £800,000 project on the papyrus rolls carbonised by the eruption of Vesuvius in AD79.

Since he was appointed in 1995, Obbink has welcomed many visitors into his rooms at Christ Church: dons, undergraduates, researchers. Less orthodox callers, too: among them, antiquities dealers and collectors. In the corner of Obbink’s study stands a pool table, from which two Egyptian mummy masks stare out impenetrably. Its green baize surface is all but obscured by papers and manuscripts – even, sometimes, a folder or two containing fragments of ancient papyrus. One bibliophile remembers a visit to this room, “like the set of an Indiana Jones movie”, a few years ago. He was offered an antique manuscript for sale by a man named Mahmoud Elder, with whom Obbink owned a company, now dissolved, called Castle Folio.

One blustery evening towards the end of Michaelmas term, 2011, two visiting Americans climbed Obbink’s staircase – Drs Scott Carroll and Jerry Pattengale. Both worked for the Greens, a family of American conservative evangelicals who have made billions from a chain of crafting stores called Hobby Lobby. At the time, the family was embarking on an ambitious new project: the Museum of the Bible, which opened in Washington DC in 2017. Carroll was then its director. Items for the Green collection were bought by Hobby Lobby, then donated to the museum, bringing a substantial tax write-off. Pattengale was the head of the Green Scholars Initiative, a project offering academics research opportunities on items in the Green collection.

The Greens, advised by Carroll, were buying biblical artefacts, such as Torahs and early papyrus manuscripts of the New Testament, at a dizzying pace: $70m was spent on 55,000 objects between 2009 and 2012, Carroll claimed later. The market in a hitherto arcane area of collecting sky-rocketed. “Fortunes were made. At least two vendors who had been making €1-2m a year were suddenly making €100-200m a year,” said one longtime collector.

That wintry evening, Carroll and Pattengale were making one of their occasional trips to seek Obbink’s expertise on matters papyrological. According to Pattengale, just as they were about to leave, Obbink reached into a manila envelope and pulled out four papyrus fragments, one from each of the gospels. Obbink told them that three of these scraps dated from the second century AD.

But the fourth, a fragment of the Gospel of Mark – a 4cm by 4cm scrap the shape of a butterfly’s wing, containing just a few broken words – was earlier than that. It wasP137 ou P. Oxy. 5453 almost certainly from the first century AD, which would make it the oldest surviving manuscript of the New Testament, copied less than 30 years after Mark had actually written it. Conservative evangelicals place enormous weight on the Gospels as “God-breathed” words. The idea that such an object existed was indescribably thrilling. Carroll was “ecstatic”, Pattengale recalled. “Veins along his neck bulged. He paced with arms flailing.”

Carroll, who declined to be interviewed, has said that Pattengale’s account is full of “misrepresentations, misrecollections, and exaggerations”. But he has confirmed this: Obbink showed him the Mark fragment “on the pool table in his office … and he then went into some paleographic detail why he believed it must date to the late-first century … It was in this conversation that he offered it for consideration for Hobby Lobby to buy.”

No purchase was made at the time. Nevertheless, the objects did eventually end up being sold to the Greens, after Carroll left their employ in 2012. The vendor, or so it appears, was Dirk Obbink. His name, and seemingly his signature, appear on a purchase agreement with Hobby Lobby dated 4 February 2013.

The problem is that the items – if the purchase agreement is genuine – were not Obbink’s to sell. They are part of the Oxyrhynchus collection of ancient papyrus, owned by the Egypt Exploration Society (EES) and housed at Oxford’s Sackler Library.

Thirteen additional fragments from the collection, it transpired this autumn, had also been sold to the Greens, 11 apparently by Obbink in 2010, and two by a Jerusalem-based antiquities dealer, Baidun & Sons. (A spokesperson for the company’s owner, Alan Baidun, says he was an agent acting in good faith, and that he checked the provenance supplied by the person who sold them to him.)

Six further fragments from the Oxyrhynchus collection have turned up in the possession of another collector in the US, Andrew Stimer, a spokesperson for whom says he acquired them in good faith, and with an apparently complete provenance (though parts of it have subsequently been shown to have been falsified). The dealer who sold them to Stimer told him they had come from the collection of M Elder of Dearborn, Michigan. That is, Mahmoud Elder, Obbink’s sometime business partner. (Elder did not respond to requests for comment. Both the Museum of the Bible and Stimer have cooperated fully with the EES, and have taken steps to return the fragments.)

In total, the EES has now discovered that 120 fragments have gone missing from the Oxyrhynchus collection over the past 10 years. Since the appearance, in June 2019, of that fateful purchase agreement and invoice bearing Obbink’s name, the scale of the scandal has taken time to sink in. What kind of a person – what kind of an academic – would steal, sell, and profit from artefacts in their care? Such an act would be “the most staggering betrayal of the values and ethics of our profession”, according to the Manchester University papyrologist Roberta Mazza.

The alleged thefts were reported to Thames Valley police on 12 November. No one has yet been arrested or charged. Obbink has not responded to interview requests from the Guardian, and has issued only one public statement. “The allegations made against me that I have stolen, removed or sold items owned by the Egypt Exploration Society collection at the University of Oxford are entirely false,” he has said. “I would never betray the trust of my colleagues and the values which I have sought to protect and uphold throughout my academic career in the way that has been alleged. I am aware that there are documents being used against me which I believe have been fabricated in a malicious attempt to harm my reputation and career.”

It seems that Dr Dirk Obbink is either a thief, has been caught up in a colossal misunderstanding, or, perhaps most shockingly of all, is the victim of an elaborate effort to frame him (continua).

Quem quiser ver apenas os pontos relevantes, pode ler o post de Peter Gurry, Longform Guardian Article on the Mark Fragment Saga, publicado hoje no blog Evangelical Textual Criticism.

Um roteiro para o estudo da Septuaginta

Recomendo o artigo de Leonardo Pessoa da Silva Pinto, brasileiro, Professor no Pontifício Instituto Bíblico. Uma contribuição valiosa, escrita com clareza, em assunto pouco conhecido em nosso meio. Está disponível em pdf na ReBiblica, v. 1, n. 2, p. 186-198, jul.-dez. 2018.

Redescobrindo a Septuaginta: Itinerário para o estudo da Bíblia Grega

Leonardo Pessoa da Silva Pinto

RESUMO
Este artigo apresenta a redescoberta da Septuaginta ocorrida na pesquisa contemporânea, com o aumento considerável na produção bibliográfica e o surgimento de novos projetos, movimento que teve pouco impacto na pesquisa bíblica no Brasil. O objetivo desta contribuição é indicar as obras e tendências recentes mais importantes nos estudos sobre a Septuaginta, bem como oferecer uma avaliação das mesmas, a fim de que o biblista ou o estudante ainda não familiarizado com a literatura especializada sobre a LXX possa seguir um itinerário de aprofundamento neste campo, segundo os próprios interesses acadêmicos. Oferece-se uma bússola para que o iniciante possa se orientar na imensa bibliografia a respeito, mas também uma via para o iniciado que deseje aprofundar temas específicos relacionados à LXX. Conhecer o estado atual da pesquisa sobre a Septuaginta, bem como as perspectivas que se abrem para o futuro, é essencial para a exegese seja do Antigo, seja do Novo Testamento; a Bíblia grega não pode mais ser relegada a uma posição secundária no campo dos estudos bíblicos.

 

Na introdução do artigo, Leonardo explica:

Nas últimas décadas houve uma redescoberta da Septuaginta que provocou uma enxurrada de novas teses doutorais, projetos de pesquisa, traduções e comentários HARL, M.; DORIVAL, G.; MUNNICH, O. A Bíblia grega dos Setenta: do judaísmo helenístico ao cristianismo antigo. São Paulo: Loyola, 2007.sobre o texto da LXX. O interesse pela Septuaginta não se limita mais à sua importância para se emendar o texto hebraico, mas ela se tornou campo de pesquisa em si mesma, dentro do qual vários subcampos vão surgindo, como se verá abaixo. Não obstante esse aumento no interesse pela Septuaginta e na bibliografia a seu respeito no cenário internacional, a LXX parece ter despertado pouca atenção entre os pesquisadores brasileiros. Recentemente, ao descrever a situação da pesquisa sobre a LXX no Brasil e no restante da América do Sul para o Journal of Septuagint and Cognate Studies, Rodrigo Franklin de Sousa pôde intitular seu artigo “mapeando um território inexistente” (2018, p. 62-64). Mesmo considerando que algumas iniciativas tenham sido omitidas naquele artigo, é preciso reconhecer que a LXX permanece numa situação marginal na pesquisa e na produção bibliográfica brasileiras. Nesta situação, é possível que o pesquisador brasileiro tenha dificuldades até mesmo para saber como iniciar a pesquisa sobre a LXX. Neste artigo, serão apresentados os instrumentos para o estudo da LXX, com um comentário sobre sua qualidade e utilidade, bem como alguns dos projetos importantes em curso. Será oferecido um itinerário para o não especialista em estudos da Septuaginta, desde o completo iniciante até quem recebeu apenas noções introdutórias. Como se verá, um dos maiores problemas para o biblista de língua portuguesa é a falta de literatura no nosso idioma. Além do grego, o conhecimento do inglês, neste contexto, se torna praticamente obrigatório.

E na conclusão diz:

RAHLFS, A. ; HANHART, R. (eds.) Septuaginta. Editio altera. Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 2007.Para que o Brasil seja um dia colocado no mapa dos estudos da Septuaginta, é necessário que o pesquisador brasileiro se familiarize com as questões mais importantes e os estudos a seu respeito, e então os leve em consideração no seu trabalho de exegese e de interpretação bíblica. Passar de uma noção apenas geral e superficial a uma compreensão mais aprofundada sobre a LXX e o impacto que pode ter em todas as dimensões do trabalho exegético é um pré-requisito para se aproveitar todo o potencial da tradução grega. Desde boas introduções até monografias especializadas, hoje não faltam instrumentos para o estudo da LXX, embora devamos admitir que a disponibilidade de material em língua portuguesa ainda deixa muito a desejar. Muitas tendências na pesquisa bíblica chegam ao Brasil com décadas de atraso e a questão da revalorização da Septuaginta não é uma exceção. Espero que este artigo sirva de auxílio e itinerário para quem desejar entrar nesse mundo apaixonante e tão fundamental para os estudos bíblicos, e possa contribuir para que a LXX deixe de ser no nosso meio uma ilustre desconhecida.

Fragmento de Marcos foi escrito entre 150 e 250 d.C.

Especialistas avaliam que o P137 foi escrito entre 150 e 250 d.C. O manuscrito mede apenas 4,4 x 4 cm, e contém algumas letras dos versículos 7–9 e 16–18 do capítulo 1 do evangelho de Marcos. Mesmo que não seja tão antigo quanto muitos esperavam – fora divulgado que seria do século I -, o P137 ainda é uma descoberta significativa, pois é provável que este seja o mais antigo fragmento do evangelho de Marcos até agora descoberto.

Para entender o caso, leia dois posts de fevereiro de 2012:

Descoberto fragmento de Marcos do século I?

Esclarecimentos sobre o fragmento de Marcos do século I

Depois, leia*:

Despite Disappointing Some, New Mark Manuscript Is Earliest Yet

By Elijah Hixson – Christianity Today: May 30, 2018

Bible scholars have been waiting for the Gospel fragment’s publication for years.

The Egypt Exploration Society has recently published a Greek papyrus that is likely the earliest fragment of the Gospel of Mark, dating it from between A.D. 150–250. One might expect happiness at such a publication, but this important fragment actually disappointed many observers. The reason stems from the unusual way that this manuscript became famous before it became available.

Second (or Third) Things First

In late 2011, manuscript scholar Scott Carroll—then working for what would become the Museum of the Bible in Washington D.C.—tweeted the tantalizing announcement that the earliest-known manuscript of the New Testament was no longer the second-century John Rylands papyrus (P52). In early 2012, Daniel B. Wallace, senior research professor of New Testament at Dallas Theological Seminary, seemed to confirm Carroll’s statement. In a debate with Bart D. Ehrman, Wallace reported that a fragment of Mark’s gospel, dated to the first century, had been discovered.

As unlikely as a first-century Gospel manuscript is, the fragment was allegedly dated by a world-class specialist. This preeminent authority was not an evangelical Christian, either. He had no apologetic motive for assigning the early date. The manuscript, Wallace claimed, was to be published later that year in a book from Brill, an academic publisher that has since begun publishing items in the Museum of the Bible collection. When pressed for more information, Wallace refrained from saying anything new. He later signed a non-disclosure agreement and was bound to silence until the Mark fragment was published.

As a general rule, earlier manuscripts get us closer to the original text than later manuscripts because there are assumed to be fewer copies between them and the autographs (the original copies of the NT writings, most likely lost to history). Naturally, this news of a first-century copy of Mark generated a great deal of interest.

A first-century fragment of Mark’s gospel would be significant for several reasons. First, the earliest substantial manuscripts of the New Testament come from the third century. Any Christian text written earlier than A.D. 200 is a rare and remarkable find, much less one written before the early 100s. Second, early fragments of Mark’s gospel are scarce. Not all books of the New Testament are equally well-represented in our manuscripts, especially early on. There are several early papyri of Matthew and John, but before this new fragment was published, there was only one existing copy of Mark’s gospel produced before the 300s. Finally, a first-century manuscript of Mark would be the earliest manuscript of the New Testament to survive from antiquity, written within 40 years of when the Holy Spirit inspired the original through the pen of the evangelist himself. Needless to say, a first-century fragment of Mark was a bombshell.

Out of the Garbage Dump

Six years came and went, and there was no “first-century Mark” fragment. But information kept leaking. On stage at a conference in 2015, Scott Carroll told Josh McDowell that the manuscript had been for sale at least twice, after the first attempt was unsuccessful.

It was difficult to know who had even seen the manuscript. Only Carroll would publicly state that he had seen it. Carroll claimed to have seen the fragment in person twice, both times in the possession of Dirk Obbink. Obbink is a renowned papyrologist at the University of Oxford, and he is almost certainly the non-evangelical specialist to whom Wallace attributed the first-century date. New Testament scholars Craig Evans and Gary Habermas were among others who spoke about the fragment, generating even more excitement.

The manuscript has finally been published, but some are disappointed because it is not what they were hoping for: It’s not from the first-century.

The fragment, designated P137, was not published in a Brill volume as Wallace had predicted, nor is it part of the holdings of the Museum of the Bible in Washington D.C. as many had assumed it would be. Instead, it was published in the latest installment of the Oxyrhynchus Papyri series by the Egypt Exploration Society (EES) with the identifier P.Oxy. 83.5345.

The Oxyrhynchus papyri constitute a collection of hundreds of thousands of manuscript fragments excavated from an ancient Egyptian garbage dump near Oxyrhynchus between 1896 and 1906. Since the first volume was produced in 1898, only about one percent of the collection has been published. Among the papyri are biblical texts, apocryphal texts, classical texts, tax receipts, letters, and even a contract that stipulates the pre-determined outcome of a wrestling match.

The publication of P137 was prepared by Oxford papyrologists Daniela Colomo and Dirk Obbink. Although news releases from the EES about individual papyri are highly unusual, the organization issued a statement last week reporting that P137 was excavated probably in 1903, that Obbink had previously shown the papyrus to visitors to Oxford, and that it had been preliminarily dated to the first century. Obbink and Colomo admit in the edition that the handwriting is difficult to date. Scott Carroll stated that P137 is indeed the manuscript he had spoken about as “first-century Mark,” and Dan Wallace finally broke his six-year silence on the matter.

On the basis of the handwriting, Obbink and Colomo estimate that the manuscript was written in the range of A.D. 150–250. The manuscript itself is tiny, only 4.4 x 4 cm. It contains a few letters on each side from verses 7–9 and 16–18 of Mark 1. Lines of writing preserved on each side indicate that this fragment comes from the bottom of the first written page of a codex—a book rather than a scroll. The text does not present any surprising readings for a manuscript of its age, and the codex format is also what we would expect.

Even though it is not quite so early as many hoped, P137 is still a significant find. Its date range makes it likely the earliest copy of Mark’s gospel. The fact that the text presents us with no new variants is partially a reflection of the overall stability of the New Testament text over time. Moreover, P137 is not the only new papyrus of the New Testament to be published in the latest Oxyrhynchus volume. Also published are P138, a third-century papyrus of Luke 13:13–17 and 13:25–30, and P139, a fourth-century papyrus of Philemon 6–8 and 18–20. P138 overlaps with two roughly contemporary manuscripts of Luke, which allows us better opportunity to assess the early transmission of Luke’s gospel. Additionally, early manuscripts of Philemon are rare, and P139 is among the earliest.

It should be stated, however, that we have no shortage of New Testament manuscripts. There are about 5,300 Greek manuscripts of the New Testament of various sizes and dates. Such an “embarrassment of riches,” as they have been called, allows us to reconstruct the original text of the New Testament with a high degree of confidence. As exciting as they are, textually speaking, new manuscript discoveries tend to confirm or at most fine-tune our Greek New Testament editions. As an example, our Greek New Testaments would be exactly the same with or without our current earliest New Testament manuscript, P52.

Questions Remain

One lingering question is whether or not the new Mark fragment was ever up for sale. The EES, which owns the papyrus, emphatically denies that they ever attempted to sell it. Yet, Scott Carroll and others have reported that it was indeed offered for sale. In a comment on the post that broke the news about the EES publication at the blog Evangelical Textual Criticism, someone commenting as Carroll named Dirk Obbink as the one who offered the papyrus to him. Obbink was formerly editor of the Oxyrhynchus collection, and Carroll was involved in acquisitions for the Green family at the time. Some of that collection later became part of the Museum of the Bible collection.

Many people—including Carroll himself—believed that the Greens had at some point purchased the manuscript until it appeared in an Oxyrhynchus volume. Obbink recently denied attempting to sell the manuscript to the Greens, according to Candida Moss and Joel Baden, writing for The Daily Beast. When I contacted Carroll and Obbink for statements, Carroll replied that he had nothing to add to or subtract from his story, and Obbink did not respond.

This new publication is only the first word on the manuscript. There is surely much more to come. Manuscript dates are often disputed, though I expect the question will be whether P137 could be later, not whether it could be earlier. Multi-spectral imaging and digital image processing open new doors to deciphering and understanding manuscripts, and P137 might benefit from such types of analysis.

Rather than disappointment that P137 is not quite as early as once thought, the publication of P137 is a cause to celebrate. We have another significant find, and it is the earliest manuscript of Mark 1! The excavations of Oxyrhynchus continue to yield valuable artifacts of antiquity including new biblical manuscripts after over a century of publishing. We can happily look forward to more unknown treasures yet to come.

The EES has made the publication, including images of P137, available here.

Elijah Hixson is an adjunct lecturer at Edinburgh Bible College. He has written articles for academic journals and is a regular contributor to the Evangelical Textual Criticism blog.

* Artigo reproduzido na íntegra


Veja também:

‘First-Century’ Mark Fragment: Second Update – On 11 June 2018 – By Daniel B. Wallace

Update on P137 (P.Oxy. 83.5345)  –  By Elijah Hixson: Evangelical Textual Criticism – June 11, 2018

“First Century” Mark and “Second Century” Romans and “Second Century” Hebrews and “Second Century” 1 Corinthians – By Brent Nongbri: Variant Readings – June 12, 2018

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Center for the Study of New Testament Manuscripts
“First-Century Mark,” Published at Last? [Updated]