Lancelotti recebe Premio Direitos Humanos 2007

A notícia, com data de 11 de dezembro de 2007, foi lida na página da CNBB e diz:

Padre Júlio Lancelotti recebe Prêmio Direitos Humanos 2007 da Presidência da República

O padre Júlio Lancelotti recebe logo mais, às 11h, o Prêmio Direitos Humanos 2007 da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH). Além de ministros, autoridades e entidades ligadas aos Direitos Humanos, participam da cerimônia, que acontece no Palácio do Planalto, o vice-presidente da República, José Alencar e o ministro da SEDH, Paulo Vannuchi. O Prêmio “é concedido pelo Governo Federal a pessoas e organizações cujos trabalhos na área dos direitos humanos sejam merecedores de reconhecimento e destaque por toda a sociedade”, informa um comunicado da Secretaria divulgado ontem. Trata-se da 13ª edição e que contemplará dez categorias, entre elas Enfrentamento à Pobreza, destinado ao padre Lancelotti, da arquidiocese de São Paulo. Segundo o bispo auxiliar de São Paulo, dom Pedro Luiz Stringhini, os bispos do Estado ficaram contentes pelo reconhecimento dado ao padre Lancelotti, que atua há 30 anos na arquidiocese junto aos pobres e na defesa dos direitos humanos. “O padre Júlio passou por momentos difíceis de acusações que recaíram sobre ele, a partir de uma extorsão que ele sofreu e denunciou. Portanto, o prêmio é importante…

Jim Davila fala sobre John Strugnell

Jim Davila, hoje professor na Universidade St. Andrews, na Escócia, era ainda estudante em Harvard, na década de 80, quando trabalhou com John Strugnell na reconstituição e tradução dos Manuscritos do Mar Morto.

Em seu biblioblog PaleoJudaica, Jim Davila comenta o necrológio publicado por The Boston Globe e lembra a importância de John Strugnell no trabalho com os Manuscritos do Mar Morto:

Actually, many of his friends and students, myself included, signed a statement in his defense which was published in Biblical Archaeology Review in 1991. John suffered from a bipolar mood disorder and alcoholism. And the fact is that people in the throes of a manic episode say things that they don’t mean and would not say when in their right mind. He was still to some degree in this state in 1994, when he tried, with limited success, to nuance his views in a BAR interview with Hershel Shanks. John’s problems were a part of his life, but they should be put in the context of other parts that are much more important, and indeed his acccomplishments in spite of these problems are remarkable. He made a huge contribution to the publication of the Dead Sea Scrolls in terms of his own work, his administrative work, and supervising the research of his students. Those who knew him well will remember him for his vast erudition and his steadfast support of his students [sublinhado meu]. The Boston Globe piece does try to be fair, but they could have tried harder.

Estão lembrados do documentário que mencionei aqui? Pois é. Nele, John Strugnell diz que sua garantia eram seus estudantes. Fala algo mais ou menos assim [estou citando de cor]: Se eu morrer amanhã, há dez, vinte estudantes, que eu treinei, que continuarão meu trabalho. Isto é que é importante.

Quer dizer: ele sempre trabalhava, ao que tudo indica, consciente de sua doença, sabedor de sua finitude e, ao mesmo tempo, da enorme tarefa que havia para ser feita no estudo dos Manuscritos, tarefa que iria muito além de sua vida.

John Strugnell: necrologio em The Boston Globe

Ontem The Boston Globe publicou um necrológio para John Strugnell, falecido no dia 30 de novembro de 2007, sob o título


John Strugnell, 77. Especialista em Manuscritos do Mar Morto que foi demitido após comentários

Transcrevo trechos do texto, assinado por Bryan Marquard, que diz entre outras coisas:

John Strugnell was perched at a scholarly pinnacle in 1990 when he sat for an interview with a reporter from an Israeli newspaper and made the anti-Semitic remarks that effectively ended his career. As chief editor of the Dead Sea Scrolls project, he had been leading a team of translators in piecing together fragments of the ancient documents that shed light on early Judaism and Christianity. A language prodigy, Mr. Strugnell had joined the effort when he was 23 and in college. Nearly four decades later, he was heading the project and teaching at Harvard Divinity School. “He was a linguistic genius,” said Krister Stendahl, a former dean of the divinity school and a retired Lutheran bishop of Stockholm. “We brought him in to get the best man we could imagine for philological and textural criticism precision in our New Testament department.” Few colleagues, however, knew that while Mr. Strugnell labored in two high-profile jobs, he also was being treated for manic depression and struggling with alcoholism. Upon publication, his anti-Semitic comments led to his firing and public denunciations, though a few friends spoke in his defense, attributing his remarks to “mental imbalance” and a “drinking problem.” “It was not an excuse, it was reality,” said his daughter, Anne-Christine of San Rafael, Calif. “The reality was that he was diagnosed as manic depressive sometime in the early ’70s, and he was on medication for the rest of his life. I think it was amazing that he was often under treatment, and yet he managed. He remained at the top of his field and at the top of his game.” Mr. Strugnell, who continued to research and write outside the public spotlight after his dismissal, died Nov. 30 in Mount Auburn Hospital in Cambridge of complications from an infection. He was 77 and had lived in Arlington. “He was a brilliant scholar, very learned in many languages, and had a very sharp mind for the kind of ancient texts on which he worked,” said the Rev. Daniel J. Harrington, a New Testament professor at Weston Jesuit School of Theology in Cambridge who collaborated with Mr. Strugnell on a publication drawn from the Dead Sea Scrolls. “This is very difficult work, and he trained a whole generation of people who can do this, both at Harvard and in Jerusalem.” Little of that mattered in the furor spawned by his interview with the Tel Aviv newspaper Haaretz that appeared in November 1990 (…)

At the time of the interview, his daughter said, Mr. Strugnell was off medication and in a sustained period of mania. “He said and did many things that horrified him when he found about it later,” she said. “My father was not anti-Semitic in any way, shape, or form.” Indeed, Mr. Strugnell’s family said, he brought Jewish scholars into the scrolls project. “The sad part was that our society’s stigma around mental illness makes it difficult for us to say, directly, the poor man was crazy at the time,” his daughter said. Said Stendahl: “He fought, even earlier, a valiant struggle with manic depression. And finally he really was not fully functional.” After he was dismissed from his chief editor post, Mr. Strugnell was hospitalized at the McLean psychiatric facility in Belmont (…)

Born in Barnet, England, he was fascinated by languages as a boy. A neighbor later told Mr. Strugnell’s daughter that he used to “walk down the street in his own particular cloud,” reading a Hebrew religious text and carrying a dictionary for reference in his other hand. He became fluent in ancient and modern languages. “I asked him once how many,” his daughter said, “and he said, ‘You mean read, write, and speak?’ And he sighed and said, ‘Umm, nine.’ ” Mr. Strugnell graduated from St. Paul’s School in London, where he was a scholarship student, and received bachelor’s and master’s degrees from Oxford University’s Jesus College. He set aside his doctorate work to join the scholars working on the Dead Sea Scrolls. Teaching positions followed. He spent a year at Oriental Institute in Chicago, where he met Cecile Pierlot. They married in 1958, separated in the mid-1970s, and later divorced. In 1960, he began teaching at Duke University, and in 1966 moved to Harvard Divinity School, where most recently he was professor emeritus of Christian origins…


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Morreu John Strugnell (1930-2007)
Filha de John Strugnell escreve sobre o pai

Filha de John Strugnell escreve sobre o pai

Em um post de Jim West, de ontem, aborrecido com o silêncio da grande imprensa sobre pessoas realmente importantes para a humanidade, como John Strugnell, que morreu no dia 30 de novembro – acontecimento ignorado pelos grandes jornais norte-americanos, ingleses e israelenses e só divulgado pelos blogs – foi deixado um comentário de Anne-Christine Strugnell, uma das filhas do estudioso dos Manuscritos do Mar Morto.

Um belo necrológio, que Jim West publicou como post hoje em Obituary of John Strugnell – By His Daughter [Necrológio de John Strugnell – Por sua filha].

Vale a pena ler [Obs.: blog falecido, link sepultado: 22.03.2008].

Morreu John Strugnell (1930-2007)

Em 30 de novembro passado, morreu, em Boston, o Professor John Strugnell, aos 77 anos (1930-2007).

Strugnell trabalhou cerca de 40 anos com os Manuscritos do Mar Morto. Vi a notícia no PaleoJudaica.com, de Jim Davila, que trabalhou com ele nos Manuscritos na década de 80 e testemunha: “He was a giant in the field” [Ele era um gigante na área].

 

Sobre a publicação dos Manuscritos, escrevi em meu artigo Os Essênios: a racionalização da Solidariedade, no item Publicação:

“A leitura, tradução e publicação dos manuscritos mais ou menos completos não é um grande problema para os especialistas. Mesmo os fragmentos das grutas menores são publicados até os anos 70.

O problema está nos milhares de fragmentos de mais de 500 manuscritos da gruta 4. A maioria está muito deteriorada: corroídos, curvados, enrugados, retorcidos, cobertos por mofo e elementos químicos.

Para trabalhar nestes fragmentos é constituída em 1952 uma equipe internacional no Museu Arqueológico da Palestina, em Jerusalém Oriental, pertencente à Jordânia.

O chefe da equipe é o dominicano Roland de Vaux. Com ele trabalham Frank Moore Cross, americano, presbiteriano; J. T. Milik, polonês, católico; John Allegro, inglês, agnóstico; Jean Starcky, francês, católico; Patrick Skehan, americano, católico; John Strugnell, inglês, presbiteriano, depois católico; Claus-Hunno Hunziger, alemão, luterano. Predominam especialistas de Harvard (USA), École Biblique (Jerusalém) e Oxford (Inglaterra). Nota-se, nesta lista, a ausência de pesquisadores judeus. Dizem os especialistas que foi uma exigência do governo jordaniano.

Os trabalhos avançam em bom ritmo, já que são financiados por J. D. Rockfeller Jr., magnata americano. Mas, dois fatos intervêm: morre Rockfeller e Israel, na Guerra dos Seis Dias, em 1967, anexa Jerusalém Oriental e toma o Museu Arqueológico da Palestina onde estão os manuscritos da gruta 4. O projeto de publicação perde o compasso.

Com a morte de Roland de Vaux em setembro de 1971, a função de editor-geral passa para seu colega dominicano Pierre Benoit, que por sua vez, ao morrer em 1987, passa o cargo para John Strugnell [os preparativos para esta sucessão vinham desde 1984]. Durante todos estes anos, a equipe continua pequena. Quando um pesquisador morre ou se retira, é substituído por outro e pronto. Strugnell, porém, lutará por duas coisas: pela expansão do pequeno grupo original encarregado dos manuscritos e pela inclusão nesta equipe de pesquisadores judeus.

Entretanto, cresce no meio acadêmico mundial a insatisfação com a demora na publicação dos documentos. Alguns nomes se destacam neste protesto: Robert Eisenman, da Universidade do Estado da Califórnia e Philip R. Davies da Universidade de Sheffield, Reino Unido. Eles tentam o acesso aos manuscritos, mas são barrados por J. Strugnell. É então que entra em cena Hershel Shanks, fundador da Biblical Archaeology Society. Através da Biblical Archaeology Review, ele inicia, a partir de 1985, poderosa campanha em favor do livre acesso dos pesquisadores aos manuscritos ainda não publicados.

Após polêmica entrevista aos jornais, em dezembro de 1990, John Strugnell é demitido do cargo pela Israel Antiquities Authority (IAA), que indica Emanuel Tov como editor-chefe e amplia a equipe para cerca de 50 pesquisadores.

Contudo, dois novos fatos mudam o rumo das coisas. Em setembro de 1991 Ben Zion Wacholder e Martin Abegg do Hebrew Union College, em Cincinati, publicam A Preliminary Edition of the Unpublished Dead Sea Scrolls. Baseados no glossário elaborado pelos pesquisadores oficiais, e utilizando um computador, os dois estudiosos reconstroem textos inteiros da gruta 4. No mesmo mês, a Biblioteca Huntigton, de San Marino, Califórnia, que possui as fotos de todos os manuscritos, coloca a coleção à disposição dos estudiosos.

Em novembro de 1991 a Biblical Archaeology Society publica a Edição Fac-símile dos Manuscritos do Mar Morto, com cerca de 1800 fotografias dos manuscritos.

Neste meio tempo a IAA autoriza aos fotógrafos o acesso aos manuscritos. Estas fotografias estão disponíveis em 5 lugares: Jerusalém, Claremont e San Marino (as duas últimas na Califórnia), Cincinati e Oxford. E, finalmente, em 1993, sob os auspícios da IAA, sai a edição completa em microfilmes de todos os manuscritos do Mar Morto: The Dead Sea Scrolls on Microfiche. A Comprehensive Facsimile Edition of the Texts from the Judaean Desert, edited by Emanuel Tov with the collaboration of Stephen J. Pfann, E. J. Brill-IDC, Leiden 1993.

Em novembro de 2001 a publicação dos Manuscritos do Mar Morto foi concluída. Hoje há várias edições impressas e eletrônicas dos Manuscritos, além das páginas que os disponibilizam online”.

 

Para se compreender o episódio da demissão de John Strugnell é fundamental a leitura do comentário de Joe Zias ao post de Jim West John Strugnell’s Death [Obs.: blog apagado, link perdido]. Tenho gravado um documentário televisivo sobre os Manuscritos do Mar Morto, que uso em sala de aula, no qual este episódio é narrado. Pois para mim, a demissão de Strugnell, desde que vi aquele documentário, sempre me pareceu um equívoco: o que vi foi um grande intelectual, estressado e muito doente, que foi erroneamente julgado como anti-semita e injustamente punido. Joe Zias começa assim: A brilliant scholar and a decent man, mistreated by the press due to some medical problems which many people in the academic world suffer from. I knew John for many years…

Diz a lenda sobre Robert North

Acabei de ler na CBQ – Catholic Biblical Quarterly – de outubro de 2007, p. 756-757, que recebi recentemente, um texto de James Swetnam “In Memoriam: Robert G. North”, falecido em 2 de junho deste ano.

Achei interessante o que ele diz sobre as excentricidades de North. Há até mesmo uma “lenda North” (The “North Legend”).

Entre outras coisas, reza a lenda que, ainda jovem, lecionando na Marquette High School in Milwaukee, ele decorou, em apenas um fim de semana, um discurso inteiro de Cícero – em latim, claro – para mostrar aos seus alunos como um texto podia ser transmitido oralmente.

Tinha uma memória extraordinária e era capaz de lidar com 18 diferentes línguas – “…he could handle eighteen languages with varying levels of competence”, diz Swetnam.

Além de ser conhecido pelas escavações no Vale do Jordão – Teleilat Gassul – e pelos vários anos de trabalho no PIB, em Roma (lecionou de 1951 a 1992 e editou o Elenchus de 1980 a 2000), costumava guiar grupos em excursões pelo Oriente Médio.

Falava árabe tão fluentemente que não se deixava enganar pelos espertalhões taxistas egípcios e Swetnam testemunha que, certa vez, North passou duas semanas conversando com o motorista do ônibus em uma excursão pela Turquia, em turco… “and his Turkish was fluent enough to enable him to spend two weeks on our jaunt all over Turkey chatting alongside the driver of the bus”.

Já no Irã, teve que falar francês, não sendo seu farsi suficiente “…in Iran, alas, he was reduced to speaking French, his Farsi not being up to the challenge. But, then, nobody is perfect”, diz Swetnam.

Coisas do North. Quem estudou com ele, reconhece, neste texto, o personagem. Todos nós gostávamos muito dele.

Von Rad

É sempre bom lembrar: neste dia, em 1901, nascia Gerhard von Rad, um dos mais brilhantes biblistas do século XX.

No WorldCat estão listadas as obras de Gerhard von Rad em alemão, inglês, japonês, espanhol, coreano, francês, italiano, húngaro, estoniano, polonês, africâner, norueguês (os livros traduzidos para o português não estão listados…).

Também na Amazon.com.br as obras de G. von Rad podem ser vistas.

Che Guevara: 1928-1967

Há 40 anos foi executado Ernesto Che Guevara. Passadas quatro décadas de sua prisão e execução, permanece vivo o símbolo de alguém capaz de dar sua vida pela causa que defendia. Admirado por muitos e detestado por outros, ele é o tema de capa da IHU On-Line desta semana. Contribuem para o debate Tirso Saenz, Reginaldo Ustariz Arze, João Pedro Stédile, Peter McLaren e Luciana Ferreira de Matos. Confira na edição 239 – 08/10/2007.

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Joachim Jeremias

Jim West está nos lembrando que o famoso exegeta alemão do Novo Testamento Joachim Jeremias nasceu em 20 de setembro de 1900.

Quando escrevi minha dissertação de Mestrado na década de 70, sobre a Parábola das Dez Virgens (Mt 25,1-13), fui fortemente influenciado pelo conhecido livro de Jeremias, Die Gleichnisse Jesu, ou, em inglês, The Parables of Jesus.

Meu orientador foi o Prof. Dr. Ugo Vanni, da Gregoriana e do Bíblico, em Roma.

Certa vez falei sobre isso neste blog aqui.

No Brasil, este livro de Joachim Jeremias, As parábolas de Jesus, foi publicado pela Paulus. Está na oitava edição, com data de 1997. ISBN: 8534907005.

Niels Peter Lemche faz aniversário hoje

O grande estudioso dinamarquês Niels Peter Lemche está aniversariando hoje, dia 6 de setembro. Parabéns, Professor, pelos seus 62 anos.

Não conheço Lemche pessoalmente, mas, certa vez, ele me enviou um e-mail muito amável sobre o que escrevi em minha página acerca dos participantes do Seminário Europeu de Metodologia Histórica, sendo ele mesmo um dos mais criativos do grupo. Li alguns de seus livros e vários artigos. Com muito proveito.

Veja a sua produção bibliográfica aqui e aqui. É um nome obrigatório para quem estuda a história do Antigo Israel, com livros imprescindíveis.