Finkelstein: a Arqueologia e a História de Israel

Em The Journal of Hebrew Scriptures, vol. 10, 2010, faça o download ou leia online o seguinte artigo de Israel Finkelstein:

Archaeology as a High Court in Ancient Israelite History: A Reply to Nadav Na’aman

Este artigo é uma réplica a Nadav Na’aman, “Does Archaeology Really Deserve the Status of A ‘High Court’ in Biblical and Historical Research?”, em BECKING, B.; GRABBE, L. (eds.) Between Evidence and Ideology: Essays on the History of Ancient Israel read at the Joint Meeting of the Society for Old Testament Study and the Oud Testamentisch Werkgezelschap Lincoln, July 2009. Leiden: Brill, 2010, 234 p. – ISBN 9789004187375.

História de Israel 2011: o pouco que sabemos

Este curso de História de Israel compreende 4 horas semanais, com duração de um semestre, o primeiro dos oito semestres do curso de Teologia. Aos alunos são distribuídos um roteiro impresso do curso e um CD com os roteiros de todas as minhas disciplinas do ano em curso. Os sistemas de avaliação e aprendizagem seguem as normas da Faculdade e são, dentro do espaço permitido, combinados com os alunos no começo do curso.

I. Ementa
Discute com o aluno os elementos necessários para uma compreensão global e essencial da história econômica, política e social do povo israelita, como base para um aprofundamento maior da história teológica desse povo. Possibilita ao aluno uma reflexão séria sobre o processo histórico de Israel desde suas origens até o século I d.C.

II. Objetivos
Oferece ao aluno um quadro coerente da História de Israel e discute as tendências atuais da pesquisa na área. Constrói uma base de conhecimentos histórico-sociais necessários ao aluno para que possa situar no seu contexto a literatura bíblica veterotestamentária produzida no período.

III. Conteúdo Programático
1. Noções de geografia do Antigo Oriente Médio
:: O Crescente Fértil
:: A Mesopotâmia
:: A Palestina e o Egito de 3000 a 1700 a.C.
:: A Síria e a Fenícia
:: A Palestina

2. As origens de Israel
:: A teoria da conquista
:: A teoria da instalação pacífica
:: A teoria da revolta
:: A teoria da evolução pacífica e gradual

3. Os governos de Saul, Davi e Salomão
:: Nascimento e morte da monarquia a partir dos textos bíblicos
:: A ruptura do consenso
:: As fontes: seu peso, seu uso
:: Dois exemplos de fontes primárias: as estelas de Tel Dan e de Merneptah
:: A questão teórica: como nasce um Estado antigo?
:: As soluções de Lemche e Finkelstein & Silberman

4. O reino de Israel
:: Israel de Jeroboão I a Jeroboão II
:: A Assíria vem aí: para Israel é o fim
:: As conclusões de Finkelstein & Silberman

5. O reino de Judá
:: Os Reis de Judá
:: A reforma de Ezequias e a invasão de Senaquerib
:: A reforma de Josias e o Deuteronômio
:: Os últimos dias de Judá
:: Por que Judá caiu?

6. A época persa e as conquistas de Alexandre
:: A situação da Grécia e a política macedônia
:: As conquistas de Alexandre Magno (356-323 a.C.)
:: Quem é Alexandre Magno?
:: A anexação da Judéia por Alexandre
:: A situação da Judéia no momento da anexação

7. Os Ptolomeus governam a Palestina
:: Os Diádocos lutam pela herança de Alexandre
:: A situação da Palestina de 323 a 301 a.C.
:: As guerras sírias entre Ptolomeus e Selêucidas
:: Alexandria e os judeus
:: O governo dos Ptolomeus
:: A administração ptolomaica da Palestina

8. Os Selêucidas: a helenização da Palestina
:: O governo de Antíoco III, o Grande
:: Antíoco IV e a proibição do judaísmo
:: As causas da helenização

9. Os Macabeus I: a resistência
:: Matatias e o começo da revolta
:: A luta de Judas Macabeu (166-160 a.C.)
:: Jônatas, o primeiro Sumo Sacerdote Macabeu (160-143 a.C.)

10. Os Macabeus II: a independência
:: Simão consegue a independência da Judéia
:: João Hircano I e as divisões internas dos judeus
:: Aristóbulo I e a reaproximação com o helenismo
:: Alexandre Janeu, o primeiro rei macabeu
:: Salomé Alexandra e o poder dos fariseus
:: Aristóbulo II e a intervenção de Pompeu

11. O domínio romano
:: A “Pax Romana” chega a Jerusalém
:: O sistema socioeconômico da Palestina no século I d.C.
:: A organização político-religiosa da Palestina

IV. Bibliografia
Básica
FINKELSTEIN, I. ; SILBERMAN, N. A. A Bíblia não tinha razão. São Paulo: A Girafa, 2003, 515 p. – ISBN 8589876187.

LIVERANI, M. Para além da Bíblia: História antiga de Israel. São Paulo: Loyola/Paulus, 2008, 544 p. – ISBN 9788515035557.

PIXLEY, J. A História de Israel a Partir dos Pobres. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2008, 136 p. – ISBN 8532602827.

Complementar
BRIEND, J. (org.) Israel e Judá: textos do Antigo Oriente Médio. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997, 104 p. – ISBN 8534905908.

COOTE, R. B.; WHITELAM, K. W. The Emergence of Early Israel in Historical Perspective. Sheffield: Sheffield Phoenix Press, 2010, 220 p. – ISBN 9781906055455.

CURTIS, A. Oxford Bible Atlas. 4. ed. New York: Oxford University Press, 2007, 224 p. – ISBN 9780191001581.

DA SILVA, A. J. A história de Israel na pesquisa atual. In: História de Israel e as pesquisas mais recentes. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 43-87 – ISBN 8532628281.

DA SILVA, A. J. A história de Israel na pesquisa atual. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 71, p. 62-74, 2001. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DA SILVA, A. J. A história de Israel no debate atual. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DA SILVA, A. J. A origem dos antigos Estados israelitas. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 78, p. 18-31, 2003.

DA SILVA, A. J. Manuscritos do Mar Morto: recursos para estudo. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DA SILVA, A. J. Manuscritos do Mar Morto: resenhas na RBL. Acesso em: 12 janeiro 2011..

DA SILVA, A. J. O Pentateuco e a História de Israel. In: Teologia na pós-modernidade. Abordagens epistemológica, sistemática e teórico-prática. São Paulo: Paulinas, 2007, p. 173-215. – ISBN 853561110X

DA SILVA. A. J. Os essênios: a racionalização da solidariedade. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DA SILVA, A. J. Pode uma ‘história de Israel’ ser escrita? Observando o debate atual sobre a história de Israel. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DA SILVA, A. J. The History of Israel in the Current Research. Journal of Biblical Studies 1:2, Apr.-Jun. 2001. Acesso em: 12 janeiro 2011.

DAVIES, P. R. In Search of ‘Ancient Israel’. London: T. & T. Clark, [1992] 2005, 166 p. – ISBN 9781850757375.

DONNER, H. História de Israel e dos povos vizinhos. 2v. 4. ed. São Leopoldo: Sinodal/Vozes, 2006, 535 p. – ISBN vol. I: 8523304649; ISBN vol. II: 8523304657 [5. ed. Sinodal/EST, data?]

FINKELSTEIN, I.; MAZAR, A. The Quest for the Historical Israel: Debating Archaeology and the History of Early Israel. Atlanta: Society of Biblical Literature, 2007, 220 p. – ISBN 9781589832770. Disponível online.

FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. David and Solomon: In Search of the Bible’s Sacred Kings and the Roots of the Western Tradition. New York: The Free Press, 2006, 352 p. – ISBN 9780743243629 (Hardcover) – ISBN 9780743243636 (Paperback, 2007).

GARCÍA MARTÍNEZ, F. Textos de Qumran: Edição Fiel e Completa dos Documentos do Mar Morto. Petrópolis: Vozes, 1995, 582 p. – ISBN 8532612830.

GOTTWALD, N. K. As Tribos de Iahweh: Uma Sociologia da Religião de Israel Liberto, 1250-1050 a.C. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2004, 939 p. – ISBN 8534922330.

GRABBE, L. L. A History of the Jews and Judaism in the Second Temple Period: Vol 1, A History of the Persian Province of Judah. London: T & T Clark, 2006, 496 p. – ISBN 0567043525.

GRABBE, L. L. A History of the Jews and Judaism in the Second Temple Period: Vol. 2, The Coming of the Greeks, the Early Hellenistic Period 335-175 BCE. London: T & T Clark, 2008, 432 p. – ISBN 9780567033963.

GRABBE, L. L. Ancient Israel: What Do We Know and How Do We Know It? London: T & T Clark, 2007, 328 p. – ISBN 9780567032546.

GRABBE, L. L. An Introduction to Second Temple Judaism: History and Religion of the Jews in the Time of Nehemiah, the Maccabees, Hillel, and Jesus. London: T & T Clark, 2010, 176 p. – ISBN 9780567552488

HORSLEY, R. A. Arqueologia, história e sociedade na Galiléia: o contexto social de Jesus e dos Rabis. São Paulo: Paulus, 2000, 196 p. – ISBN 8534915679.

KESSLER, R. História social do antigo Israel. São Paulo: Paulinas, 2010, 304 p. – ISBN 9788535625295.

KIPPENBERG, H. G. Religião e formação de classes na antiga Judeia: estudo sociorreligioso sobre a relação entre tradição e evolução social. São Paulo: Paulus, 1997, 184 p. – ISBN 8505006798. Acesso em: 12 janeiro 2011.

LEMCHE, N. P. The Israelites in History and Tradition. Louisville: Kentucky, Westminster John Knox, 1998, ix + 246 p. – ISBN 9780664220754.

LIVERANI, M. Antico Oriente. Storia, società, economia. 11. ed. Roma-Bari: Laterza, 2007, x +1031 p. – ISBN 9788842038429.

LONG, V. P. (ed.) Israel’s Past in Present Research: Essays on Ancient Israelite Historiography. Winona Lake, IN: Eisenbrauns, 1999, xx + 612 p. – ISBN 9781575060286.

LOWERY, R. H. Os reis reformadores: culto e sociedade no Judá do Primeiro Templo. São Paulo: Paulinas, 2009, 351 p. – ISBN 8535612912.

MAZAR, A. Arqueologia na terra da Bíblia: 10.000 – 586 a.C. São Paulo: Paulinas, 2009, 558 p. – ISBN 8535610316.

MOORE, M. Philosophy and Practice in Writing a History of Ancient Israel. London: T &T Clark, 2006, x + 205 p. – ISBN 9780567029812.

MOREGENZTERN, I.; RAGOBERT, T. A Bíblia e seu tempo – um olhar arqueológico sobre o Antigo Testamento. 2 DVDs. Documentário baseado no livro The Bible Unearthed [A Bíblia não tinha razão], de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman. São Paulo: História Viva – Duetto Editorial, 2007. Acesso em: 12 janeiro 2011.

PEREGO, G. Atlas bíblico interdisciplinar. São Paulo: Paulus/Santuário, 2001, 124 p. – ISBN 8572007512.

PFOH, E. The Emergence of Israel in Ancient Palestine: Historical and Anthropological Perspectives. London: Equinox Publishing, 2009, 236 p. – ISBN 9781845535292.

PRITCHARD, J. B. (ed.) ; FLEMING, D. E. (foreword) The Ancient Near East: An Anthology of Texts and Pictures. Princeton, NJ: Princeton University Press, 2010, 664 p. – ISBN 9780691147260.

ROAF, M. Mesopotâmia e o Antigo Médio Oriente. 2v. Madrid: Edições del Prado, 1996.

ROGERSON, J. Bíblia: Os caminhos de Deus. 2v. Madrid: Edições del Prado, 1996.

SCHWANTES, M. História de Israel: local e origens. 3. ed. São Leopoldo: Oikos, 2008, 141 p. – ISBN 9788589732963.

SOGGIN, J. A. An Introduction to the History of Israel and Judah. 3. ed. London: SCM Press, 2010, 466 p. – ISBN 9780334027881.

VAN SETERS, J. Em Busca da História: Historiografia no Mundo Antigo e as Origens da História Bíblica. São Paulo: EDUSP, 2008, 400 p. – ISBN 8531411017.

VV.AA. Recenti tendenze nella ricostruzione della storia antica d’Israele. Roma: Accademia Nazionale dei Lincei, 2005, 202 p. – ISBN 8821809331.

WILLIAMSON, H. G. M. (ed.), Understanding the History of Ancient Israel. Oxford: Oxford University Press, 2007, 452 p. – ISBN 9780197264010. Disponível online. Acesso em: 12 janeiro 2011.

Leia Mais:
Preparando meus programas de aula para 2011
Introdução à S. Escritura 2011: métodos de leitura
Pentateuco 2011: ainda sem um novo consenso
Literatura Deuteronomista 2011: o desafio
Literatura Profética 2011: a voz necessária
Literatura Pós-Exílica 2011: tempo sem fronteiras

Novo texto de Finkelstein sobre a monarquia unida em Israel

O mais recente texto de Israel Finkelstein sobre o reino unido de Davi e Salomão é A Great United Monarchy? Archaeological and Historical Perspectives e está nas páginas 3-28 do livro

KRATZ, R. G.; SPIECKERMANN, H. (eds.) One God – One Cult – One Nation: Archaeological and Biblical Perspectives. Berlin: Walter de Gruyter, 2010, 463 p. – ISBN 9783110223576.

Do livro diz a editora:
Recent archaeological and biblical research challenges the traditional view of the history of ancient Israel. This book presents the latest findings of both academic disciplines regarding the United Monarchy of David and Solomon (‘One Nation’) and the cult reform under Josiah (‘One Cult’), raising the issue of fact versus fiction. The political and cultural interrelations in the Near East are illustrated on the example of the ancient city of Beth She’an/Scythopolis and are discussed as to their significance for the transformation in the conception of God (‘One God’). The volume contains 17 contributions by internationally eminent scholars from Israel, Finland and Germany.

Die jüngere archäologische und bibelwissenschaftliche Forschung stellt das traditionelle Bild der Geschichte des antiken Israel infrage. Der vorliegende Band führt neueste Forschungsergebnisse beider Wissenschaftsdisziplinen zusammen und stellt die Frage nach der historischen Faktizität oder literarischen Fiktionalität des Davidisch-Salomonischen Großreichs (‘One Nation’) und der Kultreformmaßnahme unter Josia (‘One Cult’). Die politischen und kulturellen Wechselbeziehungen innerhalb des Vorderen Orients werden am Beispiel der antiken Stadt Beth She’an/Scythopolis veranschaulicht und in ihrer Bedeutung für den Wandel des Gottesbildes (‘One God’) problematisiert. Der Sammelband enthält siebzehn englischsprachige Beiträge von international anerkannten Forschern aus Israel, Finnland und Deutschland.

Entre os autores estão, além de Israel Finkelstein, Amihai Mazar, Erhard Blum, Alexander Rofé, Markus Witte, Reinhard G. Kratz, Hanspeter Schaudig, Ze’ev Herzog, Juha Pakkala, Gabriel Mazor, Katharina Heyden, Hermann Spieckermann, Matthias Köckert, Ephraim Stern, Michael Segal e Christoph Auffarth. O sumaário do livro pode ser visto no site da editora Walter de Gruyter. Os ensaios estão em inglês.

O texto de Israel Finkelstein começa dizendo que:
“Twelve years have passed since I first presented – to the German Institute in Jerusalem – my ideas on the chronology of the Iron Age strata in the Levant and how it impacts on our understanding of the biblical narrative on the United Monarchy of ancient Israel. I was naïve enough then to believe that the logic of my ‘correction’ was straightforward and clear. Twelve years and many articles and public debates later, however, the notion of Davidic conquests, Solomonic building projects, and a glamorous United Monarchy – all based on an uncritical reading of the biblical text and in contradiction of archaeological finds – is still alive in certain quarters. This paper presents my updated views on this matter, and tackles several recent claims that archaeology has now proven the historicity of the biblical account of the great kingdom of David and Solomon”.

O êxodo, segundo De Vaux e Finkelstein – Silberman

O que se segue são duas sugestões de leitura, mostrando perspectivas diferentes. E isto é uma consequência do post anterior.

:: DE VAUX, R. Historia Antigua de Israel I. Madrid: Cristiandad, 1975 [original francês: Paris: Gabalda, 1971]

Em Ex 13,17-19 diz o Eloísta (= E) que a saída dos israelitas não foi pelo caminho que levava à região dos filisteus, mas pelo caminho do deserto do mar dos juncos. E Ex 14,15-31, alternando versículos Javista (= J) e E, descreve a passagem do mar.

Compreende-se que, ao fugir do Egito, um pequeno e fraco grupo não tome o caminho que levava diretamente do delta do Nilo ao sul da Palestina. Apesar de curto, este era poderosamente defendido pelos egípcios através de postos militares. Conservaram-se listas meticulosas, mantidas pelos guardas egípcios, de chegadas e partidas nesta fronteira [Cf. BRIEND, J. (org.) Israel e Judá: textos do Antigo Oriente Médio. 2. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p. 36-37]. Este caminho saía de Tieru (Zilu), passava ao sul do lago Sirbonis e seguia a costa até Gaza.

Falar de filisteus é anacronismo bíblico para o tempo do êxodo, pois sabemos que este povo egeu se estabeleceu em Canaã cerca de um século mais tarde. Por outro lado, o nome “mar de Suf” foi erroneamente entendido como o atual Mar Vermelho. Quem traduziu assim foram os LXX. Trata-se na realidade de um local onde havia juncos, provavelmente papiros, já que o hebraico “suf” equivale ao egípcio”twf” (= papiro).

Há, no texto bíblico, duas apresentações do fenômeno:
. A primeira apresentação é provavelmente um texto E, embora alguns o queiram Sacerdotal (= P). Segundo esta narrativa, Moisés deve erguer seu cajado, estender a mão sobre o mar e dividi-lo em dois para que os israelitas passem a pé enxuto. Moisés assim o faz, e os israelitas passam a pé enxuto. Porém, os carros egípcios lançam-se em sua perseguição, enquanto Iahweh ordena a Moisés que estenda a sua mão para que as águas retornem e se fechem sobre os egípcios. Assim, ficam os egípcios submersos e os israelitas salvos.

. A segunda apresentação é seguramente J e se desenvolve da seguinte maneira: durante a perseguição, os israelitas acreditam que estão perdidos e se rebelam contra Moisés: ele, entretanto, manda que fiquem calmos e observem os acontecimentos (Ex 14,10-14). Então, a coluna de nuvem que os protege (símbolo de Iahweh) coloca-se entre eles e os egípcios (Ex 14,19b.20; o v. 19a é uma duplicata). Durante a noite, Iahweh faz soprar um forte vento do leste (oriental) que seca o mar (Ex 14,21). No dia seguinte, de madrugada, Iahweh, da coluna de fogo e de nuvem, semeia o pânico entre os egípcios e estraga as rodas de seus carros (Ex 14,24-25). Ao nascer o dia, as águas voltam ao seu leito e Iahweh submerge nelas os egípcios… e Israel vê os egípcios mortos na praia do mar (Ex 14,27.30).

Hoje, as duas apresentações estão de tal modo unidas, que o texto dá ao leitor desavisado a impressão de ser uma narrativa originariamente unitária.

Quanto ao que poderia ter acontecido durante uma eventual fuga de hebreus, há hoje muitas explicações.

Se o “mar” atravessado pelos hebreus era na verdade, como indicam os termos, uma laguna rasa ou um pântano, abundante em papiros, nada mais simples do que a coincidência de uma maré baixa com um vento forte para permitir a passagem de um punhado de pessoas a pé. Já os carros egípcios atolaram, impossibilitando a passagem dos perseguidores. Outro elemento interessante para a solução deste problema é o teor da segunda apresentação da passagem do mar, o texto J: não há neste texto nenhuma referência à passagem dos hebreus, mas sim à destruição dos egípcios. Nisto consiste o “milagre”, para o J. Tradição conservada em Ex 15,21;Dt 11,4;Js 24,7.

R. de Vaux, nas páginas 369-373 de sua Historia Antigua de Israel I, sugere que esta tradição javista, sublinhando a atuação de Iahweh e o aspecto bélico do relato, foi moldada, nas suas características, sobre outro episódio muito significativo para os israelitas, a passagem do Jordão, de Js 4,22-23.

:: FINKELSTEIN, I.; SILBERMAN, N. A. The Bible Unearthed. Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts. New York: The Free Press, 2001, xii + 385 p. – ISBN 9780684869124 [Em português: A Bíblia desenterrada: A nova visão arqueológica do antigo Israel e das origens dos seus textos sagrados. Petrópolis: Vozes, 2018].

As citações são da edição original em inglês.

No capítulo sobre o êxodo (p. 48-71), os autores fazem quatro perguntas:
. O êxodo tem credibilidade histórica?
. A arqueologia pode ajudar a reconstruí-lo?
. É possível traçar a rota do êxodo?
. O êxodo aconteceu como descrito na Bíblia?

Após uma síntese da narrativa bíblica, Finkelstein e Silberman confirmam que as migrações de Canaã para o Egito são bem documentadas pela arqueologia e por textos da época. Para muitos habitantes de Canaã, região periodicamente sujeita a severas secas, a única saída era ir para o Egito. Pinturas e textos egípcios testemunham a presença de semitas no delta do Nilo ao longo das Idades do Bronze e do Ferro.

Por outro lado, há intrigantes paralelos entre a história bíblica de José e o êxodo e a história egípcia escrita por Maneton, sobre a invasão do Egito pelos hicsos e sua posterior expulsão após um século. “Invasão” que escavações arqueológicas recentes revelaram ter sido muito mais uma ocupação cananeia gradual e pacífica do delta do que uma operação militar. “As descobertas feitas em Tell ed-Daba [a antiga Avaris, capital dos hicsos] constituem evidência de um longo e gradual desenvolvimento da presença cananeia no delta e um controle pacífico da região”, concluem na p. 55.

Estes paralelismos entre a história bíblica de José e a história egípcia dos hicsos indicam a possibilidade do êxodo. Entretanto, duas questões permanecem: Quem eram estes imigrantes semitas? E será que a data de sua permanência no Egito [1670-1570 AEC] combina com a cronologia bíblica?

A Bíblia colocou o êxodo em torno de 1440 AEC, data que se obtém pela comparação de dados bíblicos com fontes extrabíblicas. Entretanto, esta data não coincide com a expulsão dos hicsos. Por isto, muitos estudiosos consideram-na simbólica apenas, e datam o êxodo no século XIII AEC, na época de Ramsés II, fundados em testemunhos egípcios indiretos, como a construção da cidade de Pi-Ramsés no delta, na qual trabalharam semitas, e na estela de Merneptah, filho e sucessor de Ramsés II, que fala da presença de uma entidade de nome ‘Israel’ em Canaã, no final do século XIII AEC.

Mas quem eram estes semitas presentes no Egito na construção de cidades e que ‘Israel’ é este da estela de Merneptah? Ainda não há respostas definitivas para estas perguntas. E mais: um êxodo em massa teria sido possível na época de Ramsés II?

O que se sabe é que não existe nas fontes egípcias da época menção alguma da presença de israelitas no Egito. Nem ligados aos hicsos (séculos XVII-XVI AEC), nem aos grupos cananeus mencionados nas Cartas de Tell el-Amarna (século XIV AEC), nem a uma fuga para Canaã (século XIII AEC).

Trabalhando a partir desta lógica, Finkelstein e Silberman vão concluir pela impossibilidade do êxodo no século XIII AEC. Entre outras coisas, eles alegam que, nesta época, a fronteira do Egito com Canaã era severamente controlada, como a arqueologia comprovou na década de 70; que não existe nenhum sinal de ocupação do Sinai na época de Ramsés II ou predecessores imediatos; que não existe sinal do êxodo em Kadesh-Barnea ou Ezion-Geber, nem nos outros lugares mencionados na narrativa do êxodo, como Tel Arad, Tel Hesbon ou Edom. Convém considerar, também, que as narrativas bíblicas do êxodo jamais mencionam o nome do faraó que os israelitas enfrentaram.

E concluem: “Os locais mencionados na narrativa do êxodo são reais. Alguns eram bem conhecidos e aparentemente estavam ocupados em épocas mais antigas e em épocas mais recentes – após o estabelecimento do reino de Judá, quando a narrativa bíblica foi pela primeira vez escrita. Infelizmente, para os defensores da historicidade do êxodo, estes locais estavam desocupados exatamente na época em que aparentemente eles exerceram algum papel nas andanças dos israelitas pelo deserto” (p. 64).

E é então que se verifica estarem as condições do sétimo século AEC, época da escrita, bem mais presentes na história do êxodo, do que uma realidade do século XIII AEC. E aqui Finkelstein e Silberman vão adotar a tese do egiptólogo Donald B. REDFORD, exposta no livro Egypt, Canaan, and Israel in Ancient Times. Princeton: Princeton University Press, 1992.

Falando de maneira muito simplificada, a proposta é a seguinte: a memória da invasão e expulsão dos hicsos foi incorporada em Canaã como uma memória de confronto, vitória e libertação. Israel, ao surgir de Canaã, será o herdeiro dessa memória. Quando, no século VII AEC, Psamético I, faraó do Egito e Josias, rei de Judá, tentam ocupar o espaço deixado pela Assíria na região da Palestina, e se confrontam – Josias será vencido por Necao II, filho de Psamético I -, esta memória serve de pano de fundo para a narrativa do êxodo. Êxodo impossível na época de Ramsés II, mas um paradigma de resistência na luta de Josias para reunificar o grande Israel.

Para finalizar: “A saga do êxodo de Israel do Egito não é uma verdade histórica, nem uma ficção literária. Ela é uma poderosa expressão de memória e esperança nascida em um mundo em transformação. O confronto entre Moisés e o faraó espelha o crucial confronto entre o jovem rei Josias e o recém-coroado faraó Necao. Fixar esta imagem bíblica em uma data anterior é subtrair da história seu mais profundo significado. A Páscoa se revela, assim, não como um simples evento, mas como uma experiência contínua de resistência nacional contra os poderes estabelecidos” (p.70-71).

O Êxodo e sua reduzida possibilidade histórica

:: Dupla americana simula milagre de Moisés; divisão do mar teria sido no Nilo – Reinaldo José Lopes: Folha.com – 22/09/2010 – 09h11

Segundo o texto bíblico, “um forte vento leste” soprando sobre o mar teria aberto as águas para Moisés e os israelitas que fugiam do Egito.

Agora, dois cientistas dizem que o “milagre” é compatível com as leis da física. Carl Drews, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas dos EUA, e Weiqing Han, da Universidade do Colorado em Boulder, traçam um cenário que eles consideram “relativamente próximo” do descrito no livro do Êxodo, o segundo da Bíblia.

Em artigo recente na revista científica “PLoS One”, eles estimam que um vento de velocidade próxima de 100 km/h, soprando sobre a desembocadura do rio Nilo por 12 horas, teria sido suficiente para empilhar as águas e abrir uma passagem com alguns quilômetros de largura.

(…)

Como tudo que cerca o lado histórico dos textos bíblicos, a pesquisa já nasce polêmica.

(…)

Nem ele nem Han dizem ter provado a veracidade do Êxodo.

Toda a história da fuga dos israelitas do Egito, aliás, é muito contestada por arqueólogos e historiadores.

Gente como o arqueólogo Israel Finkelstein lembra, primeiro, que não há menções ao épico nos registros egípcios nem artefatos ligados à migração de 40 anos de Moisés e hebreus no deserto. Em segundo lugar, tanto a língua quanto os artefatos dos povos que formariam mais tarde o reino de Israel são praticamente idênticos aos dos povos que já habitavam a antiga terra de Canaã (hoje dividida entre judeus e palestinos), supostamente invadida pelos israelitas. Por isso, muitos arqueólogos apostam que o povo de Israel teria surgido dentro da própria Canaã, a partir de tribos que já viviam por lá.

 

:: Dynamics of Wind Setdown at Suez and the Eastern Nile Delta – Carl Drews; Weiqing Han: PLoS ONE – August 30, 2010
Wind setdown is the drop in water level caused by wind stress acting on the surface of a body of water for an extended period of time. As the wind blows, water recedes from the upwind shore and exposes terrain that was formerly underwater. Previous researchers have suggested wind setdown as a possible hydrodynamic explanation for Moses crossing the Red Sea, as described in Exodus 14 (…) Under a uniform 28 m/s easterly wind forcing in the reconstructed model basin, the ocean model produces an area of exposed mud flats where the river mouth opens into the lake. This land bridge is 3–4 km long and 5 km wide, and it remains open for 4 hours. Model results indicate that navigation in shallow-water harbors can be significantly curtailed by wind setdown when strong winds blow offshore.

:: When PZ Myers and Jim West Agree – Duane Smith: Abnormal Interests – September 22, 2010
The paper attempts to answer a question that no serious student of the Bible, believing or not, is asking. And no very few (other) scientists, believing or not, are interested in this question either. Most scientists , like most Biblical scholars, don’t even think it is a question.

:: Another Naturalistic Explanation for a Theological Claim: ‘Science’ Attempts to ‘Explain’ The Parting of the Red Sea – Jim West: Zwinglius Redivivus – September 21, 2010
Scientists, hear me, the Bible doesn’t need your explanations. Try curing the common cold and leave the Bible to people who understand it.

:: Inventing excuses for a Bible story, and getting them published in a science journal? – PZ Myers: Pharyngula: September 22, 2010
A bad paper has been published in PLoS One. It’s competently executed within its narrow scope, as near as I can tell, but its premise is simply to reach for more pretense of a scientific basis for biblical fairy tales by an old earth creationist. It should have been rejected for asking an imaginary question and answering it with a fantasy scenario.

Livro em homenagem a Lester L. Grabbe

Livro editado por Philip R. Davies e Diana Vikander Edelman presta homenagem a Lester L. Grabbe. Publicação prevista para outubro de 2010.

Claro, um livro em homenagem a um dos mais interessantes historiadores do judaísmo antigo só podia tratar das múltiplas questões que envolvem hoje a escrita de DAVIES, Ph. R.; EDELMAN, D. V. (eds.) The Historian and the Bible: Essays in Honour of Lester L. Grabbe. London: T&T Clark, [2010] 2014uma História de Israel, de suas teorias e práticas, de suas controvérsias e conquistas.

Os autores são colegas e amigos de Lester L. Grabbe, que é também o fundador do Seminário Europeu sobre Metodologia Histórica. Contam-se aí nomes bem conhecidos dos leitores deste blog e de minha página, como Mario Liverani, Niels Peter Lemche, Thomas L. Thompson, Philip R. Davies, Hans Barstad, Diana V. Edelman, Bob Becking, Nadav Naaman e muitos outros.

DAVIES, Ph. R. ; EDELMAN, D. V. (eds.) The Historian and the Bible: Essays in Honour of Lester L. Grabbe. London: T&T Clark, [2010] 2014, 256 p. – ISBN 9780567546203.

Diz a Editora:
Lester Grabbe is probably the most distinguished, and certainly the most prolific of historians of ancient Judaism, the author of several standard treatments and the founder of the European Seminar on Historical methodology. He has continued to set the bar for Hebrew Bible scholarship. In this collection some thirty of his distinguished colleagues and friends offer their reflections on the practice and theory of history writing, on the current controversies and topics of major interest. This collection provides an opportunity for scholars of high caliber to consider groundbreaking ideas in light of Grabbe’s scholarship and influence. This festschrift offers the reader a unique volume of essays to explore and consider the far-reaching influence of Grabbe on the field of Biblical studies as a whole.

 

Do Prefácio dos editores:

No biblical historian (and surely few biblical scholars) can be unfamiliar with the name of Lester Grabbe. He is undoubtedly the most prolic biblical historian of this, or any preceding generation, and this volume in celebration of his 65th birthday focuses on this major aspect of his work. But he has also made contributions to linguistics (his rst published book [1977] was on “comparative philology”) and later to Hebrew etymology in Philo of Alexandria (1988). He has written Introductions to Leviticus (1993), Ezra–Nehemiah (1998), and the Wisdom of Solomon (1997), as well as studies of Israelite religion and early Judaism (1995, 2000), and edited and contributed volumes on biblical prophecy (2001, 2003, 2004) and on early Judaism (2000). But he is best known for both his histories of Israel, Judah and Judaism and his creation of the European Seminar on Historical Methodology, including his editorship of its numerous volumes—both being too numerous to list!

It was no great challenge to summon contributors to his Festschrift. In these pages is an inventory of those who have worked with Lester and learned from him and his work. He has always tried not only to understand and explain how history should be done but to show by example; and his knowledge of primary and secondary source is unsurpassed.

Lester has been blessed (if that is the word) by being born American (and Texan at that!), but having settled and raised his family in England. He has thereby gained a truly trans-Atlantic experience and—more importantly—character. His pragmatism is certainly Anglo-American, as is his suspicion of philosophical method and belief in the past as a reality to be reconstructed. His humour, modesty and dislike of polemic are perhaps English rather than American, but his vowels have remained entirely faithful to his country of birth.

His contribution to biblical scholarship extends beyond his array of publications, however. For many years he was editor of the Book List of the Society for Old Testament Study, and he was elected the Society’s President in 2009. He was also one of the co-founders of the European Association of Biblical Studies, and deserves much of the credit for sustaining it in its early years, serving as President and then Executive Ofcer. Three co-edited books on prophecy are fruits of his work in the SBL Prophetic Texts and Their Ancient Contexts Group.

Books edited by Lester Grabbe are characterized by careful summaries of their contributions; these (we can testify from personal experience) are circulated to the authors before publication, for Lester cares deeply about such things. His concern for the integrity of the authorial voice accompanies his care for the objectivity of historical facts. If by these virtues he thereby attracts the label of “pre-postmodern,” he will happily wear the badge. Readers of his edited volumes can thus condently scan his Introduction as a preliminary (or substitute) for reading the articles themselves. In this volume, however, we offer the reader no such privilege, both because we doubt we can attain a similar level of objectivity and also because we wish to withhold from the reader any pretext for not savouring a collection of tributes that we trust are worthy of the scholar to whom they are warmly dedicated.

 

Sumário – Table of Contents

List of Abbreviations

THE EDITORS
Introduction

HANS BARSTAD
History and Memory. Some Reflections on the ‘Memory Debate’ in Relation to the Hebrew Bible

NIELS PETER LEMCHE
Postcolonial Studies and the Study of Israelite History.

NADAV NAAMAN
Text and Archaeology in a Period of Great Decline: The Contribution of the Amarna Letters to the Debate on the Historicity of Nehemiah’s Wall

RAINER ALBERTZ
Secondary Sources Also Deserve to be Historically Evaluated: The Case of the United Monarchy

THOMAS L. THOMPSON
Reiterative Narrative and the Problem of the Exile

ANDRÉ LEMAIRE
Hazor in the Second Half of the 10th Century BCE: Historiography, Archaeology and History

MARIO LIVERANI
The Chronology of the Biblical Fairy-Tale

EHUD BEN ZVI
The Story of Micaiah, son of Imlah: What Could the Ancient Intended Readers Learn from It?

DIANA V. EDELMAN
Of Priests and Prophets and Interpreting the Past: The Egyptian Hm-Ntr and Hry-Hbt and the Judahite nabi’

HUGH G.M. WILLIAMSON
Welcome Home

ODED LIPSCHITS
Here is a Man Whose Name is ?ema?’ (Zechariah 6:12)

BOB BECKING
Drought, Hunger, and Redistribution: A Social-Economic Reading of Nehemiah 5

JOSEPH BLENKINSOPP
Footnotes to the Rescript of Artaxerxes (Ezra 7:11-26)

GARY N. KNOPPERS
Aspects of Samaria’s Religious Culture during the Early Hellenistic Period

E. AXEL KNAUF
Biblical References to Judean Settlement in Eretz Israel (and Beyond) in the Late Persian and Early Hellenistic Periods

PHILIP R. DAVIES
The Hebrew Canon and the Origins of Judaism

GEORGE J. BROOKE
What Makes a Text Historical? Assumptions behind the Classification of Some Dead Sea Scrolls

Jerusalém na época persa

Em Journal of Hebrew Scriptures, da Universidade de Alberta, Canadá, no vol. 9, artigo 20, de 2009, leio um artigo de Oded Lipschits, do Institute of Archaeology, Tel Aviv University, Israel:

Persian Period Finds from Jerusalem: Facts and Interpretations

Diz o Abstract:
The Babylonian, Persian and early Hellenistic periods are unique in the history of Judah. They represent a kind of “interlude” between two periods of greatness and political independence. This article discusses the archaeological finds from Jerusalem in the Persian and Early Hellenistic periods. It includes an assessment of the scope of the built-up area of the city, and an estimate of the city’s population, on the basis of the archaeological data. This article’s emphasis on the importance of the Ophel hill as the main built-up area in the Persian and Early Hellenistic period is unique in present archaeological and historical research of ancient Jerusalem.

Leia Mais:
O paradigma bíblico exílio-restauração caducou?
Abordando Yehud

Abordando Yehud

Interessante a leitura do capítulo inicial da obra mencionada em post anterior, O paradigma bíblico exílio-restauração caducou? Escrito pelo organizador do livro, Jon L. Berquist, Approaching YehudAbordando Yehud [ou para quem não concorda com o galicismo “abordar”, pode ser “Olhando Yehud mais de perto” “Examinando Yehud”, ou algo do gênero] -, nas p. 1-5, faz uma boa síntese do que eram os estudos sobre a época persa desde o final do século XIX e que rumo tomaram nos últimos vinte e poucos anos. Lembro ao leitor que Yehud é o nome aramaico do Judá pós-monárquico.

Berquist começa seu texto lembrando que no final do século XIX e começo do século XX foram feitos interessantes estudos sobre a época persa. Ele cita três autores: Johann N. Strassmaier e seus dois volumes sobre as Inscrições de Ciro e Cambises [Inschriften von Cyrus; Inschriften von Cambyses. Leipzig, 1890]; Herbert Cushing Tolman, Ancient Persian Lexicon. New York, 1908; Arthur E. Cowley, Aramaic Papyri ot the Fifth Century B.C. Oxford, 1923.

E acrescenta que nos primeiros anos do século XX os estudiosos reconheciam a influência do Império Persa na organização social e política da Jerusalém dos séculos quinto e quarto a. C. e especulavam sobre as conexões possíveis entre o zoroastrismo e os nascentes judaísmo e cristianismo.

Entretanto, diz ele, estes estudos não exerceram grande influência sobre a corrente dominante dos estudos bíblicos, que refletiam muito mais a visão wellhauseniana [Julius Wellhausen: 1844-1918] de que o período mais importante da história de Israel fora a monarquia, sendo o época pós-exílica uma era menor, herança decadente daquela, e, além do mais, legalista, marca que acabou firmemente colada ao judaísmo nos meios acadêmicos.

Quando se chegou à metade do século XX, com raras exceções, a época persa em Yehud estava caracterizada como aquela da qual pouco podíamos saber e/ou dizer, sem nenhum fato histórico relevante, com escassa documentação extrabíblica ou arqueológica, sem nenhuma criação literária de peso e por aí afora. Este panorama estava ancorado no sólido conhecimento que pensávamos ter da época monárquica. Hoje, este “sólido conhecimento” anda meio perrengue!

Entre 1960 e 1980 os estudos bíblicos tinham construído um sólido consenso sobre o exílio e a restauração de Israel. Suas principais teses:
:: a deportação babilônica de 587/6 a.C. deixou praticamente vazia a terra de Israel
:: a comunidade deportada para a Babilônia era a herdeira legítima das antigas tradições israelitas
:: o período exílico foi fundamental na escrita e padronização da maior parte das antigas tradições literárias e teológicas
:: os exilados estavam unidos em seu projeto de reconstrução do Templo de Jerusalém como centro de sua experiência religiosa
:: este projeto se traduzia em algumas expectativas messiânicas
:: a ascensão do persa Ciro ao poder em 539 a. C. levou ao retorno em massa dos exilados judaítas na Babilônia
:: estas pessoas tornaram-se os líderes da comunidade de Jerusalém reestruturada como comunidade do Templo em seu desejo de restauração do Primeiro Templo

Enquanto isso, estudos sobre a história dos Aquemênidas – os governantes persas – avançavam. Especialmente a partir da década de 80 do século XX, como as pesquisas de Muhammad Dandamayev (1984; 1989), Pierre Briant (1992; 2002), o grupo de trabalho de Groningen que começou em 1983, os estudos socioantropológicos de grupos de estudo da SBL, proporcionando às novas gerações uma mudança de perspectiva.

Que talvez possa ser traduzida, em sua melhor forma, na mudança de paradigma do conceito de exílio e restauração para o de império e colônia [referia-me, especialmente a isto no post anterior sobre este livro]. Esta mudança levou a uma nova compreensão da realidade de Jerusalém e arredores na época persa. e produziu um número considerável de estudos sobre Yehud como colônia do Império Persa.

Estas novas perspectivas influenciaram muitos comentários, como os de David L. Petersen, Haggai and Zechariah 1-8. Philadephia, 1985; Carol L. Meyers & Eric M. Meyers, Haggai, Zechariah 1-8. New York, 1987; Joseph Blenkinsopp, Ezra-Nehemiah. Philadelphia, 1988. Ou monografias, como as de Daniel L. Smith-Christopher, The Religion of the Landless: The Social Context of the Babylonian Exile. Bloomington, 1989; Kenneth Hoglund, Achaemenid Imperial Administration in Syria-Palestine and the Missions of Ezra and Nehemiah. Atlanta, 1992; Jon L. Berquist, Judaism in Persia’s Shadow: A Social and Historical Approach. Minneapolis, 1995.

Os estudos da Escola de Copenhague – os chamados “minimalistas” – chamaram a atenção para as épocas persa e helenística como cruciais na construção da literatura que chamamos de Bíblia Hebraica. Como os estudos de Niels Peter Lemche e de Philip R. Davies, entre outros. Ou os que questionaram o mito da terra vazia durante o exílio, como Hans M. Barstad e Robert P. Carrol.

Todo este processo levou a época persa a reconquistar sua identidade, abandonando seu papel de transição entre a monarquia e o judaísmo e/ou cristianismo.

E embora um novo consenso não tenha sido construído em torno da época persa, há um significativo número de hipóteses de trabalho que são partilhadas pelos pesquisadores quando tratam do assunto, como:
:: as invasões babilônicas no começo do século VI a. C. removeram apenas uma minoria da população da região de Judá
:: apenas uma minoria de exilados judaítas na Babilônia migrou para Yehud a partir de 539 a. C. e este foi um lento processo, de décadas
:: a população de Jerusalém e arredores durante a época persa era muito menor do que se imaginava, caindo de dezenas de milhares para poucos milhares
:: o tempo do exílio produziu pouca literatura, mas muito daquilo que viria a se constituir como Bíblia Hebraica foi produzido a partir do século V a. C.
:: nunca houve unidade entre os habitantes do Yehud, sendo o conflito social uma marca constante deste período, inclusive em questões relativas à construção e funcionamento do Segundo Templo
:: a cultura de Yehud foi fortemente marcada pela política imperial persa e sua interferência social e ideológica na região pode ser percebida nos escritos da Bíblia Hebraica produzidos nesta época
:: conhecer a estrutura econômica de Yehud como colônia persa é fundamental para a compreensão da sociedade e da literatura da época
:: Yehud foi palco de conflitos e definições étnicas, sendo, por isso, seu estudo importante para entender o que acontece nos séculos seguintes.

A partir deste ponto, Jon L. Berquist vai apresentar brevemente os 11 ensaios e as 2 réplicas que constituem o livro. E que prefiro transcrever aqui a partir do sumário:

Ensaios:
:: Melody D. Knowles, Pilgrimage to Jerusalem in the Persian Period
:: Richard Bautch, Intertextuality in the Persian Period
:: Donald C. Polaski, What Mean These Stones? Inscriptions, Textuality and Power in Persia and Yehud
:: David Janzen, Scholars, Witches, Ideologues, and What the Text Said: Ezra 9–10 and Its Interpretation
:: Christine Mitchell, “How Lonely Sits the City”: Identity and the Creation of History
:: Brent A. Strawn, “A World Under Control”: Isaiah 60 and the Apadana Reliefs from Persepolis
:: Jean-Pierre Ruiz, An Exile’s Baggage: Toward a Postcolonial Reading of Ezekiel
:: John Kessler, Diaspora and Homeland in the Early Achaemenid Period: Community, Geography and Demography in Zechariah 1–8
:: Herbert R. Marbury, The Strange Woman in Persian Yehud: A Reading of Proverbs 7
:: Jennifer L. Koosed, Qoheleth in Love and Trouble
:: Jon L. Berquist, Psalms, Postcolonialism, and the Construction of the Self

Réplicas:
:: Alice W. Hunt, In the Beginning-Again
:: Julia M. O’Brien, From Exile to Empire: A Response

Jon L. Berquist faz ainda uma série de considerações sobre os temas tratados e os métodos utilizados pelos autores que produziram este texto.

Lembro também que há uma extensa bibliografia no final do livro, ocupando as páginas 215-246.

História de Israel: recomendo dois artigos

As aulas estão aí, é hora de “pegar no batente” novamente. E para quem estuda História de Israel recomendo dois artigos publicados em julho em The Bible and Interpretation.

E não é só: há muita coisa boa por lá sobre Arqueologia, Manuscritos do Mar Morto, Jesus Histórico, Interpretação da Bíblia…

Mas, os dois artigos são:

:: The Persian Period and the Origins of Israel: Beyond the “Myths” – By Efraín Velázquez II – Universidad Adventista de las Antillas, Puerto Rico – July 2009

Diz o Abstract:
The issues of settlement and the origin of Israel are commonly associated with the Late Bronze and Iron Ages. These periods have been considered the loci of the early biblical materials. However, more recently, these assumptions about the origin of the biblical texts and even the factuality of the events presented in them have been questioned. The discussion of the origins of Israel is now focused on the Persian period. Whereas this newer emphasis is somewhat strained and tends to repeat some of the unfortunate mistakes made by earlier interpreters, the debate over Israel in the Persian period nevertheless illuminates the discussion of Israel’s origin in earlier periods.

:: On Those We Influence – By Thomas L. Thompson – Professor Emeritus: University of Copenhagen – July 2009

Começa assim:
I have just returned from a two-week lecture tour in the Middle East, which included talks in Damascus, Amman, and East Jerusalem. Revisiting old friends after an absence of some four years, I find myself still much preoccupied with the discussions and conversations I took part in while I was there. Among some of the questions on my mind is the one raised by Professor Eric Meyer in his essay to Bible and Interpretation [Israel and Its Neighbors Then and Now: Revisionist History and the Quest for History in the Middle East Today] about the influence I have had on the historical self-understanding of Palestinians.

Porque é importante ler Philip R Davies

Recebi, dias atrás, o número de abril de 2009 da CBQ – The Catholic Biblical Quarterly. Este é o volume 71, número 2.

Nas páginas 367-368, Megan Bishop Moore, da Wake Forest University, Winston-Salem, NC, resenha o livro de Philip R. Davies, The Origins of Biblical Israel. London: T & T Clark, 2007, x + 197 p. – ISBN 9780567043818 (Hardcover) – publicado em Paperback em 2009.

E diz mais para o final, avaliando o impacto do estudo:
Not surprisingly, the implications of D.’s theories for traditional histories of Israel are large and potentially devastating…

O que, em tradução mais ou menos livre, significa:
Não surpreende que as implicações das teorias de Philip R. Davies para as Histórias de Israel tradicionais sejam grandes e potencialmente devastadoras…