Pentateuco 2022

A disciplina Pentateuco é estudada no segundo semestre do primeiro ano, com carga horária de 4 horas semanais. Há uma profunda crise nesta área de estudos, muito semelhante à crise da História de Israel. A teoria clássica das fontes JEDP do Pentateuco, elaborada no século XIX por Hupfeld, Kuenen, Reuss, Graf e, especialmente, Wellhausen, vem sofrendo, desde meados da década de 70 do século XX, sérios abalos, de forma que hoje muitos pesquisadores consideram impossível assumir, sem mais, este modelo como ponto de partida. O consenso wellhauseniano foi rompido, contudo, ainda não se conseguiu um novo consenso e muitas são as propostas hoje existentes para explicar a origem e a formação do Pentateuco.

I. Ementa
Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24. O dilúvio: Gn 6,5-9,19. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1. O êxodo do Egito: Ex 1-15.

II. Objetivos
Familiariza o aluno com as tradições históricas de Israel e com as mais recentes pesquisas na área do Pentateuco para que o uso do texto na prática pastoral possa ser feito de forma consciente.

III. Conteúdo Programático
1. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco

2. O Decálogo: Ex 20,1-17 e Dt 5,6-21

3. A criação: Gn 1,1-2,4a e Gn 2,4b-25

4. O pecado em quatro quadros: Gn 3,1-24

5. O dilúvio: Gn 6,5-9,19

6. A cidade e a torre de Babel: Gn 11,1-9

7. As tradições patriarcais: Gn 11,27-37,1

8. O êxodo do Egito: Ex 1-15

IV. Bibliografia
Básica
MESTERS, C. Paraíso terrestre: saudade ou esperança? 20. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

SKA, J.-L. Introdução à leitura do Pentateuco: chaves para a interpretação dos cinco primeiros livros da Bíblia. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2014.

VOGELS, W. Abraão e sua lenda: Gn 12,1-25,11. São Paulo: Loyola, 2000.

Complementar
DA SILVA, A. J. Histórias de criação e dilúvio na antiga Mesopotâmia. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 140, p. 397-424, 2018. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 12.10.2021.

DA SILVA, A. J. Leis de vida e leis de morte: os dez mandamentos e seu contexto socialEstudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, p. 38-51, 1986. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 27.08.2020.

DA SILVA, A. J. Novos paradigmas no estudo do Pentateuco. Disponível na Ayrton’s Biblical Page. Última atualização: 26.07.2021.

GRUEN, W. et al. Os dez mandamentos: várias leituras. 2. ed. Estudos Bíblicos, Petrópolis, n. 9, 1987.

SKA, J.-L. O canteiro do Pentateuco: problemas de composição e de interpretação/aspectos literários e teológicos. São Paulo: Paulinas, 2016.

Um olhar transdisciplinar sobre o êxodo do Egito

Em 2018 mencionei aqui o seguinte livro:

LEVY, T. E. ; SCHNEIDER, T. ; PROPP, W. H. C. (eds.) Israel’s Exodus in Transdisciplinary Perspective: Text, Archaeology, Culture, and Geoscience. New York: Springer, 2015, Reprinted 2016, XXVII + 584 p. – ISBN 9783319349770.

Agora apresento o prefácio do livro, pois ele oferece uma boa síntese do debate acadêmico atual sobre o êxodo do Egito.LEVY, T. E. ; SCHNEIDER, T. ; PROPP, W. H. C. (eds.) Israel’s Exodus in Transdisciplinary Perspective: Text, Archaeology, Culture, and Geoscience. New York: Springer, 2015, Reprinted 2016, XXVII + 584 p.

O prefácio e o índice, em inglês, podem ser vistos na amostra do livro.

Este volume é um apanhado do mais inovador pensamento sobre o tema do êxodo de Israel do Egito. Em 9 seções, o volume apresenta trabalhos apresentados pela primeira vez em “Fora do Egito: o êxodo de Israel entre texto e memória, história e imaginação“, uma conferência realizada na Universidade da Califórnia, San Diego, de 31 de maio a 3 de junho de 2013.

A perspectiva transdisciplinar deste livro combina uma avaliação de pesquisas mais antigas com o conhecimento atual sobre o tópico e novas perspectivas para estudos futuros. Pesquisas de egiptólogos, arqueólogos, estudiosos da Bíblia, cientistas da computação e geocientistas aparecem em conversas ativas ao longo dos vários capítulos deste livro.

As 44 contribuições dos principais estudiosos dos Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha, Israel, Alemanha, Suíça e Itália, unem um grupo diversificado de abordagens hermenêuticas. Elas trabalham o texto e a recepção posterior da narrativa do êxodo, incluindo seus paralelos egípcios e do antigo Oriente Médio, o seu papel como memória cultural na história de Israel, a interface da questão do êxodo com o surgimento de Israel e a pesquisa arqueológica e a questão da historicidade do texto. A geografia histórica e os eventos ambientais descritos na narrativa do êxodo e textos relacionados recebem uma análise científica completa, reforçando o caráter transdisciplinar deste volume. Uma seção importante é dedicada à ciberarqueologia e às técnicas de visualização e apresentação museológica do êxodo.

(…)

1. Preparando o palco: abordagens interdisciplinares da narrativa do êxodo

Este volume começa com as palestras principais da conferência.

Jan Assmann vê o êxodo como um mito sobre a origem de um povo e de uma religião. Este mito simboliza simultaneamente a virada revolucionária na história humana do cosmoteísmo para o monoteísmo, a transição da ideia de um deus imanente ou equivalente à natureza para o conceito de um deus transcendente além da natureza. Ele também traça a realização incompleta desse conceito na história ocidental, onde a recorrência das tendências cosmoteístas e as reações para combater o cosmoteísmo mantiveram o mito e símbolo do êxodo vivo até os tempos modernos.

Ronald Hendel situa a memória cultural do êxodo em uma dialética entre a memória histórica e a autoformação étnica. Ele localiza as raízes da tradição do êxodo na transição da Idade do Bronze Recente para a Idade do Ferro. Naquela época, as memórias do colapso do Império Egípcio em Canaã foram transformadas em uma memória de libertação da escravidão egípcia que foi narrativizada como um mito de origens étnicas – expressa em sua forma mais antiga, o Canto de Vitória, como a vitória de Iahweh sobre o caos representado pelo faraó.

O enredo vergonhoso do êxodo, um povo fugindo da escravidão, é para Manfred Bietak uma indicação de elementos que são historicamente verossímeis. A partir disso, ele analisa as evidências disponíveis no Egito sobre o assentamento de “proto-israelitas” durante o último período raméssida. Ele infere que tais grupos teriam se estabelecido no Egito simultaneamente com os proto-israelitas em Canaã. Em sua concepção, a memória coletiva dos proto-israelitas sofrendo em Canaã sob a opressão egípcia e daqueles que sofriam no Egito fundiram-se na gênese do mito de origem de Israel. A crença posterior em uma estadia dos israelitas em Tânis / Zoan foi estimulada pela transferência de vestígios arqueológicos de Pi-Ramsés para Tânis e Bubástis.

Israel Finkelstein reconstrói diferentes estágios históricos das narrativas sobre as andanças de Israel no deserto do sul. Ele se concentra no século VIII com a atividade israelita ao longo da rota de comércio árabe; a transformação das narrativas do deserto em Judá sob o domínio assírio no século VII; sua elaboração sob a 26ª dinastia egípcia; e a perda de conhecimento sobre o deserto do sul após 560 AEC. Essas narrativas teriam enriquecido uma tradição de salvação do domínio egípcio que se desenvolveu entre os séculos dezesseis e dez AEC. Esta tradição foi transferida das terras baixas para a parte norte do planalto central, onde se tornou um mito fundador do reino de Israel.

Em contraste com essas avaliações que são céticas quanto à nossa capacidade de definir um único evento de êxodo no segundo milênio AEC e se concentrar no propósito e no desenvolvimento da narrativa no primeiro milênio, Lawrence Geraty dá uma visão geral das leituras conservadoras e convencionais do relato do êxodo. Ele tenta situar o êxodo em vários contextos históricos da Idade do Bronze egípcia, com um foco especial em datas nas dinastias 18 e 19, enquanto também menciona outras datas propostas entre 2100 e 650 AEC.

2. Abordagens do êxodo baseadas na ciência

Esta seção apresenta uma abordagem científica do ambiente do delta do Nilo e da península do Sinai na antiguidade. Isso inclui uma avaliação completa dos cenários que poderiam estar subjacentes aos eventos detalhados na narrativa do êxodo (por exemplo, pragas e a divisão do mar) de um ponto de vista conservador ou cenários que poderiam ter inspirado as imagens por trás das pragas e milagres do êxodo, imagens que também aparecem em textos apocalípticos e rituais do antigo Oriente Médio.

Stephen O. Moshier e James K. Hoffmeier reconstroem a antiga geografia física mutante da região devido às interações dinâmicas entre o sistema do Nilo, o Mar Mediterrâneo e a tectônica do sistema de fendas do Mar Vermelho. Combinando geologia de campo, arqueologia, topografia digital e imagens de satélite com tecnologia de informação geográfica, eles produzem um novo mapa que revela diferentes posições da costa mediterrânea, lagoas e a existência de braços, lagos e pântanos do Nilo Pelusíaco. Ao criar um mapa geofísico preciso para a pesquisa do êxodo, essa geografia recriada ajuda a delinear o caminho da antiga rota costeira entre o Egito e a Palestina.

Mark Harris oferece uma avaliação crítica das estratégias interpretativas do crescente número de leituras populares e naturalistas do texto do êxodo. Desafiando os estudos bíblicos que enfatizam a complexa gênese e caráter das tradições do êxodo, e sem considerar os usos ideológicos de um texto, essas estratégias tomam a narrativa pelo seu valor nominal como refletindo catástrofes naturais apocalípticas, particularmente a erupção de Thera (Santorini) no século XVII AEC.

As contribuições restantes desta seção fornecem dados científicos sobre uma variedade de desastres naturais para determinar se eles poderiam ter gerado os fenômenos descritos na narrativa do êxodo.

Amos Salamon e coautores examinam as principais fontes causadoras de tsunamis no Mediterrâneo Oriental que podem explicar a divisão do mar – como fazer o mar secar e, em seguida, inundar a terra. Suas simulações recriam o tsunami que se seguiu à erupção de Thera por volta de 1600 AEC; o forte terremoto de magnitude 8–8,5 de 365 EC no arco helênico e o tsunami resultante que devastou Alexandria; e um gigantesco desabamento submarino na época do Pleistoceno Superior no cone do Nilo que começou com um recuo significativo do mar e foi seguido por uma inundação notável.

Thomas Evan LevyA erupção do Santorini também é crucial para os estudos restantes.

Michael Dee e coautores discutem a relevância da datação por radiocarbono para problemas relacionados ao êxodo e apresentam datas de três estudos de caso pertinentes: a datação do Novo Reino egípcio, a conquista das cidades cananeias conforme relatado no livro de Josué e a datação da erupção de Thera.

O texto de Malcolm Wiener apresenta uma resposta ao estudo de Dee, defendendo uma data de erupção muito mais recente, após 1530 AEC.

3. Ciberarqueologia e êxodo

As quatro contribuições da terceira seção exploram o potencial de visualização do passado, com o êxodo e a recente pesquisa arqueológica na Jordânia da Idade do Ferro como um meio de apresentar pesquisas originais para divulgação acadêmica e pública no formato do “museu do futuro”. As quatro contribuições fornecem o pano de fundo para uma exposição que acompanhou a conferência êxodo, preparada por uma equipe de arqueólogos, geocientistas, cientistas da computação, engenheiros e tecnólogos de mídia digital sob a direção de Thomas Levy. Foi montado no Qualcomm Institute Theatre na Universidade da Califórnia, San Diego, um espaço de performance reconfigurado em um espaço de museu que usa novas tecnologias visuais e de áudio. Uma tela de grande formato e vários outros sistemas de exibição foram usados ​​para as visualizações de computador, e um novo sistema de exibição imersiva em grande escala 3D de 50 megapixels chamado WAVE fez sua estreia. Novos sistemas e conteúdo de áudio foram desenvolvidos pelos pesquisadores da Sonic Arts para projetar dados de áudio arqueológicos e geológicos. Esses artigos de ciberarqueologia, junto com aqueles das abordagens baseadas na ciência, fornecem o material para a reconstrução do mundo antigo aplicado à narrativa do êxodo.

4. A narrativa do êxodo no contexto do Egito e do antigo Oriente Médio

Bernard F. Batto propõe que a narrativa do êxodo foi reescrita por sacerdotes, a fim de elevar o “evento” do êxodo à condição de mito, no exílio ou nos tempos pós-exílicos. Nessa concepção, empregando motivos do Mito de Combate prevalentes em toda a Mesopotâmia e no Levante, Iahweh e o faraó foram descritos como os dois antagonistas na batalha entre o criador e o monstro do caos na forma do Mar primordial. O Faraó é identificado e derrotado no “Mar do Fim” (yam sûph), o Mar Vermelho, não o Mar dos Juncos, do qual Iahweh emerge como o criador de Israel.

James Hoffmeier analisa a longa história de engajamento acadêmico com o Antigo Testamento por egiptólogos desde o século XIX, em particular seu interesse vívido e positivo no tópico do êxodo e a historicidade da permanência de Israel no Egito. Ele pede que os egiptólogos “voltem ao debate para trazer dados do Egito para lidar com questões históricas e geográficas”.

Susan Tower Hollis estuda a relação entre histórias egípcias e histórias bíblicas sobre a permanência de Israel no Egito, principalmente a comparação entre o “Conto de dois irmãos” da 19ª dinastia do Papiro d’Orbiney (BM 10183) e a narrativa da esposa de José e Potifar em Gn 39.

Scott B. Noegel sugere a barca sagrada egípcia como o melhor paralelo não israelita com a Arca da Aliança que a tradição sacerdotal tardia de Ex 25 retrata como sendo fabricado no Monte Sinai. A concepção israelita da Arca provavelmente se originou sob a influência egípcia no final da Idade do Bronze.

Gary Rendsburg apresenta uma avaliação dos paralelos egípcios com motivos que ocorrem ao longo de Ex 1–15, como a ocultação do nome divino, a transformação de um objeto inanimado em uma serpente ou crocodilo, a transformação de água em sangue, as trevas, a morte dos primogênitos, a separação das águas e as mortes por afogamento. Quase todos esses motivos são conhecidos apenas no Egito, sem eco em outras sociedades do antigo Oriente Médio. Rendsburg imagina que um escritor israelita educado e seu público israelita bem informado foram capazes de compreender e desfrutar o contexto cultural egípcio de uma composição que “subverte as noções religiosas egípcias e, simultaneamente, expressa a herança nacional de Israel de uma forma literária requintada”.

Brad C. Sparks conclui esta seção com uma compilação abrangente da pesquisa desde o século XIX que tem apontado paralelos do êxodo em cerca de 90 textos egípcios antigos de diferentes gêneros e períodos. Sparks argumenta que a historicidade do êxodo precisa ser reavaliada à luz desse material narrativo egípcio e da intrigante iconografia associada.

5. A narrativa do êxodo como texto

Esta seção oferece uma visão aprofundada do ponto de partida para as discussões do êxodo: a narrativa do êxodo preservada no livro do êxodo. Eminentes especialistas na exegese do êxodo são representados nesta seção.

Christoph Berner sugere que a complexidade do relato de Ex 1-15, uma narrativa que não é coerente por natureza e cujos detalhes muitas vezes estão em tensão unsThomas Schneider com os outros (se não em total contradição), pode ser melhor entendida como resultante de um processo de expansões literárias contínuas (Fortschreibungen). Ele demonstra por meio das referências ao trabalho forçado dos israelitas, que ele usa como um caso de teste, que partes substanciais da narrativa pertencem a um extenso estágio pós-sacerdotal de redação textual. Assim, a narrativa do êxodo revela pouco sobre as circunstâncias históricas do êxodo, mas muito mais sobre como os escribas pós-exílicos o imaginaram e participaram do desenvolvimento literário do relato bíblico.

Baruch Halpern fala sobre o êxodo como uma fábula inspirada por possíveis eventos do passado de Israel, embora afirme que sua gênese histórica será tão irrecuperável para nós quanto seu narrador. Halpern também enfatiza que os debatedores modernos do texto devem empunhar as ferramentas necessárias para enfrentar os desafios epistemológicos que enfrentamos. A verdadeira questão é: “O que precisamos saber para saber o que queremos saber?” Confrontado com contadores de histórias e seu público que preservaram fragmentos históricos, mas adicionando valor artístico à história, o único caminho é recuperar a magia da história: entender os modos do pensamento social de Israel ao longo do tempo e a cultura que imortalizou o êxodo.

Thomas Römer fala das tradições sobre as origens de Iahweh. Embora a narrativa do êxodo tenha sido registrada por escrito pela primeira vez em Judá e pareça refletir a opressão assíria contemporânea, os contornos literários da tradição mais antiga do êxodo que veio de Israel para Judá depois de 722 AEC nos escapam. Oseias 12 mostra Iahweh (o Deus do êxodo) em oposição à tradição de Jacó, talvez uma prova da tentativa de fazer do êxodo o mito fundador de Israel. Os dois relatos da revelação de Iahweh a Moisés, bem como as evidências externas (Kuntillet Ajrud, evidências sobre o Shasu Yahu) preservam a memória de que Iahweh não era uma divindade autóctone, mas foi introduzida em Israel a partir do sul.

Stephen C. Russell propõe uma nova contextualização histórica da nomeação por Moisés de funcionários para julgar casos legais em Ex 18,13-26. Tradicionalmente considerado como refletindo o mundo social do período monárquico e fornecendo uma etiologia para o sistema de juízes reais estabelecido por Josafá (2Cr 19,5-10), esta nomeação é mais semelhante ao sistema pós-exílico de Esd 7,12-26, onde o rei persa Artaxerxes instrui Esdras a nomear juízes que conheçam a lei mosaica. Ex 18,13–26 é melhor entendido como uma expansão pós-exílica do capítulo 18; constitui uma ponte importante no livro de êxodo, resumindo a libertação do Egito e antecipando a revelação no Sinai.

Konrad Schmid faz um apelo para reconhecer em nossas avaliações a diferença entre o mundo das narrativas e o mundo dos narradores e para explicar essa diferença de uma maneira metodologicamente controlada. Seu exemplo particular é Ex 1–15, um texto debatido nos estudos bíblicos em termos de sua composição e avaliação histórica. Apesar de todas as controvérsias, há amplo consenso sobre os textos sacerdotais em Ex 1–15. O artigo discute várias peculiaridades narrativas no relato sacerdotal do êxodo que podem ser explicadas quando considerado como um mito fundamental judeu do início do período persa. A imagem do Egito como desgovernado e precisando ser controlado sugere uma data anterior a 525 AEC, quando Cambises conquistou o Egito. Enquanto Ciro era um defensor da independência judaica, o faraó do êxodo é um “Anticiro”.

6. O êxodo na recepção e percepção posteriores

Esta seção trata das tradições e interpretações judaicas, cristãs e islâmicas posteriores do êxodo.

Joel Allen examina a “espoliação dos egípcios” (Gn 15,14; Ex 3,21–22; 11,2–3 e 12,35–36), um motivo que criou constrangimento para expositores judeus e cristãos. Este ensaio examina as principais “terapias textuais” alegóricas (por exemplo, a interpretação da pilhagem egípcia como tesouros espirituais pelos quais judeus e cristãos procuraram curar o texto de suas impropriedades e garantir a apropriação da herança clássica pagã no reino do espírito). Fílon, Orígenes e Agostinho procuraram fornecer justificativa para aqueles que desejavam ter o melhor dos mundos bíblico e clássico e equilibrar a fé das Escrituras com a razão da filosofia grega.

René Bloch examina o desafio que a história do êxodo apresentou aos autores judeus-helenísticos cuja pátria era o Egito. Como eles chegaram a um acordo com a história bíblica da libertação da escravidão egípcia e o anseio pela terra prometida? Seu estudo analisa as diferenças narrativas na discussão de Fílon sobre o êxodo. Em particular, Fílon leu a história alegoricamente como uma jornada da terra do corpo aos reinos da mente. Isso permitiu que ele controlasse o significado do êxodo e ficasse no Egito.

Caterina Moro se concentra na história extrabíblica do êxodo do historiador judeu-helenístico Artápano. Esta história, ao contrário do relato bíblico do êxodo, fornece uma identidade para o oponente egípcio de Moisés, atribuindo-lhe o nome de Chenephres. Moro examina as evidências sobre seu possível equivalente histórico, Khaneferra Sobekhotep IV da 13ª dinastia, e a história fictícia que o elevou à posição de faraó do êxodo.

Babak Rahimi propõe entender os relatos do Alcorão do êxodo como um drama salvífico, em contraste com a exegese do Alcorão Clássico que percebeu a expulsão dos israelitas do Egito como punição divina imposta a eles por suas transgressões contra Deus. Não apenas a narrativa do êxodo do Alcorão contém muitos exemplos da bênção de Deus aos israelitas, o êxodo constitui uma metanarrativa da libertação espiritual e representa uma crônica da presença de Deus. A experiência dos israelitas de uma provação por meio da adversidade, em última análise, revela a graça divina e uma promessa de salvação.

O artigo de Pieter van der Horst examina o papel central que o êxodo do Egito desempenhou na polêmica judaico-pagã desde o início do período helenístico até o período imperial. Polemistas gentios reverteram a história bíblica da libertação dos israelitas da escravidão egípcia, retratando uma imagem negativa das origens israelitas e retratando-os como misantropos e ateus. Os autores judaico-helenísticos reagiram a esses ataques escrevendo por meio de romances, dramas e tratados filosóficos.

7. O êxodo como memória cultural

Foi no primeiro milênio AEC que o suposto evento do êxodo tornou-se um artefato escrito e cultural, uma tela de contínua imaginação ideológica. As contribuições desta seção envolvem o conceito de memória cultural, pelo qual a história do êxodo pode ser vista como uma resposta às necessidades religiosas e culturais de uma sociedade durante as monarquias de Israel e Judá e o período exílico e pós-exílico. Também pode ser considerado um veículo de identidade nacional.

Aren Maeir discute a variabilidade das memórias e sua suscetibilidade a serem moldadas e alteradas. Ele discute a tradição do êxodo como uma matriz de memórias culturais, tecidas e alteradas durante um longo período, desafiando qualquer tentativa de determinar um único evento histórico que se correlacionaria com o êxodo. Não é um mito a-histórico, mas sim reflete os muitos períodos e contextos, nos quais as narrativas do êxodo foram formadas – um “complexo narrativo” multifacetado e um espaço de memória moldado pelas necessidades da identidade de Israel.

Em uma linha semelhante, a contribuição de Victor Matthews se afasta dos esforços para determinar a possível historicidade do evento do êxodo. Em vez disso, concentra-se ele em como e por que as memórias coletivas são criadas, perpetuadas, usadas e reutilizadas. Enquanto ele pergunta quando e onde a tradição do êxodo se originou, ele conclui que os dados atuais tornam impossível fornecer uma resposta definitiva e que o que pode ser dito tem mais a ver com porque a tradição do êxodo foi importante para a comunidade israelita em vários momentos.

William H.C. Propp apóia a visão de que o êxodo não pode ser chamado de “histórico” e que a evidência é muito difusa para ser adequadamente testada pelo método histórico; em conseqüência, devemos nos resignar à ignorância. A título de comparação, Propp aduz e contrasta outro conto mítico de salvação milagrosa e improvável para a história do êxodo: o (s) “Anjo (s) de Mons” da Primeira Guerra Mundial, onde informações abundantes nos permitem separar a verdade da ficção com precisão e definir ambos no contexto histórico.

Donald B. Redford coloca o relato bíblico da permanência e expulsão de Israel do Egito em consonância com várias outras tradições a respeito de uma “revelação” do Egito: Aegyptiaca de Maneton, a tradição “leprosa” de Bócoris, reminiscências fenícias e trechos de livros proféticos. Essas tradições, alheias ao livro do êxodo, são a folkmemória asiática, “ajustada, distorcida, invertida, com motivação revertida ou imputada”, da ocupação hicsa e sua expulsão após um reinado de 108 anos. Redford examina a contribuição dessas tradições para elucidar o evento original e sua percepção ao longo do tempo.

Finalmente, William G. Dever oferece uma crítica arqueológica do modelo de “memória cultural” da narrativa do êxodo-conquista. Depois de revisar o que os escritores bíblicos realmente sabiam sobre suas origens, o que eles criaram como suas memórias e o que podem ter esquecido sobre seu passado, ele conclui que a narrativa é um mito de fundação cujos elementos básicos – uma imigração de “todo o Israel” de Egito e conquista da terra – são inventados. Em vez de perguntar como esses textos funcionavam socialmente, religiosamente e culturalmente, ele examina “o que realmente aconteceu” e aponta para o surgimento de Israel como um fenômeno indígena dentro de Canaã, com os israelitas sendo essencialmente cananeus, deslocados geográfica e ideologicamente.

8. O êxodo e as origens de Israel: novas perspectivas a partir dos estudos bíblicos e da arqueologia

Esta seção fornece um link para perguntas sobre a historicidade da memória do êxodo, movendo a discussão do texto do êxodo e seus propósitos históricos no primeiro milênio AEC para o surgimento de Israel no final do segundo milênio.

Emmanuel Anati apresenta uma visão geral do levantamento arqueológico do Monte Karkom (que ele identifica como Monte Sinai) e dos vales circundantes que resultou na descoberta de mil e trezentos novos sítios arqueológicos. A presença de altares, pequenos santuários e vários outros locais de culto caracterizam o Monte Karkom como uma montanha sagrada da Idade do Bronze, ao pé da qual um grande número de pessoas parece ter vivido temporariamente.

William H. C. ProppBaseando-se em vários insights teóricos sobre a natureza do poder social e a composição dos estados antigos em sua análise das Cartas de Amarna, Brendon Benz apresenta uma hipótese alternativa para estudos recentes que levantaram a hipótese de que Israel teria sido formado por estranhos geográficos, econômicos ou políticos. Os governos e as populações do Levante da Idade do Bronze Recente eram mais diversificados do que geralmente se reconhece, com o poder social mais amplamente distribuído e frequentemente negociado entre uma gama de atores políticos de maneira “igualitária”. As várias formas de organização política incluíam as que consistiam em populações definidas por assentamentos e as que não o eram. Depois de destacar os pontos de continuidade entre a Idade do Bronze Recente e os constituintes do antigo Israel conforme são descritos em algumas das passagens centrais da Bíblia, Benz sugere que o antigo Israel incluía um contingente de pessoas nativas de Canaã.

Avraham Faust discute a etnogênese de Israel com atenção particular ao primeiro grupo de Israel, aquele mencionado na estela de Merneptah, que de acordo com Faust era composta principalmente de pastores Shasu. Muitos grupos diferentes (incluindo muitos cananeus, e possivelmente um pequeno grupo do “êxodo” do Egito) foram amalgamados no que viria a se tornar Israel. A história do êxodo foi uma das tradições e práticas úteis na demarcação de Israel de outros grupos e, portanto, foi adotada por “todo o Israel”.

Daniel Fleming analisa o fenômeno do pastoralismo de longo alcance como uma sobrevivência de estratégias sociais antigas, anteriores a Israel. Na história do êxodo, Israel aparece como estabelecido no Egito, sem nenhuma indicação de movimento livre com seu rebanho para dentro e para fora do Egito. Para o redator do êxodo, todo pastoralismo era local. No entanto, os elementos da estrutura narrativa mais profunda seguem a lógica do pastoralismo de longo alcance, como o caminho de Moisés e Israel no deserto e a mudança para áreas de pastoreio em Canaã. O êxodo do Egito representa uma mudança de base operacional quando uma base existente não estava mais disponível. Assim, a história do êxodo pode ter sido ligada a círculos sociais nos quais essa migração poderia ser celebrada.

Garrett Galvin revê certos aspectos da pesquisa sobre a historicidade do evento do êxodo e as evidências arqueológicas do Egito e da Palestina, apontando para a poderosa analogia do estabelecimento dos filisteus como uma nova nação na Palestina. Ele enfatiza que, apesar de uma abordagem mais cautelosa dos textos desde a virada linguística do século XX na filosofia da história, a narrativa do êxodo bíblico continua sendo nosso principal acesso textual à questão de um núcleo histórico. No entanto, é um mito de origem que tem paralelos nas histórias de etnogênese grega, romana e germânica, um documento teológico operando dentro das convenções das narrativas históricas.

Christopher Hays reconhece os numerosos contatos que existiam entre o antigo Israel e o Egito. Memórias do Egito, que mais tarde se tornaram tradições literárias na Bíblia Hebraica, foram transmitidas em algum momento do estado proto-israelita da Idade do Ferro. Dados textuais e materiais relacionados à primeira monarquia israelita indicam um relacionamento cultural contínuo com o Egito. Ele adiciona uma aparente semelhança entre a maneira como as duas nações conceituaram a extensão de seus reinos aos exemplos da influência egípcia no antigo Israel.

Robert Mullins analisa os três modelos que foram apresentados para explicar o aparecimento de Israel nas montanhas ocidentais do sul do Levante: conquista, sedentarização de pastores e revolta social. Segundo ele, um quarto modelo, que leva em conta a dissolução do império egípcio no final da Idade do Bronze Recente, fornece uma explicação mais satisfatória para o que deve ter sido um amplo, complexo e longo processo. O que encontramos no texto bíblico é uma história construída por meio da qual Israel mais tarde consagrou e reformulou seu passado para criar memórias oficiais de uma cultura e formular uma nova visão para o futuro.

Nadav Na’aman examina as razões para o contraste entre o lugar central do êxodo na memória israelita e seu status histórico questionável. Ele sugere que a escravidão, o sofrimento e a libertação milagrosa da escravidão realmente ocorreram em Canaã durante o reinado imperial do Egito sobre a Palestina no Novo Reino e a queda do império no século XII AEC, e que o local dessas memórias foi posteriormente transferido de Canaã para o Egito. A escravidão e a libertação foram vivenciadas pelos grupos pastoris que mais tarde se estabeleceram nas terras altas do Reino do Norte, daí o lugar central da tradição do êxodo na memória cultural dos habitantes de Israel norte. Uma vez que o processo de colonização nas terras altas da Judeia ocorreu mais tarde e em uma escala limitada, a memória do êxodo desempenhou apenas um papel menor entre os habitantes de Judá.

9. Conclusão

No capítulo final do volume de Thomas Schneider apresenta um vislumbre da complexidade da pesquisa do êxodo. Qualquer tentativa de rastrear e contextualizar motivos da narrativa é obstruída pela complexidade da história do texto. As certezas exegéticas do século XX desapareceram na crise da pesquisa do Pentateuco e deram lugar a múltiplos cenários de composição e redação de textos, à inter-relação de grandes temas e à proveniência e contexto histórico dos fenômenos nele mencionados.

Esta situação geral é exemplificada por um estudo de Ex 12 que ao mesmo tempo visa ser uma contribuição genuína para a pesquisa do êxodo e uma perspectiva no final do volume. O texto recebido de Ex 12 descreve a última praga trazida ao Egito por Iahweh – a morte do filho primogênito de Faraó e os primogênitos do gado do país – ou, alternativamente, seu “destruidor” que atinge os egípcios, mas poupa as casas dos Israelitas. Vários aspectos do ritual de proteção da Páscoa ainda não foram explicados de maneira satisfatória. Depois de dar uma visão geral da intrincada situação exegética, o estudo propõe uma nova abordagem para o texto, recorrendo a paralelos de rituais egípcios que teriam sido apropriados pelos autores do texto para a causa israelita. O Papiro Cairo 58027, ritual de proteção do Faraó à noite, e rituais voltados para a “Peste do Ano” recebem atenção especial.

Além das abordagens exegéticas para estudos bíblicos apresentados aqui, os métodos transdisciplinares ilustrados neste volume demonstram o grande potencial que os métodos científicos e quantitativos têm em responder a perguntas complexas nas ciências humanas e sociais. As perguntas que intrigaram gerações de pessoas fascinadas com o enigmático êxodo da Bíblia podem agora ser examinadas usando essas abordagens que certamente darão frutos nos próximos anos. Na verdade, as abordagens transdisciplinares ou de ciência em equipe estarão na linha de frente de conceitos de vanguarda que, com a integração da tecnologia, serão reunidos por pesquisadores das ciências sociais, humanas, ciências naturais e engenharia. Os editores esperam que as 44 contribuições incluídas no volume forneçam um ponto de partida inspirador para todas as pesquisas futuras sobre a questão do êxodo de Israel.

Sobre Gn 3,1-24

A maçã do paraíso. Sobre Gn 3,1-24 – Por Johan Konings

Resumo

Diante da generalizada identificação do “pecado do paraíso” (e do pecado em geral) com o intercurso sexual (inclusive legítimo), convém uma leitura atenta de Gn 2–3 noEstudos Bíblicos - Dossiê: Gênesis a Apocalipse sem fundamentalismos. v. 35, n. 140, 2018. seu contexto canônico, isto é, em continuidade com a criação de homem e mulher como imagem e semelhança de Deus, conforme Gn 1 (prescindindo da diacronia da gênese literária). Uma leitura narrativa, mesmo sem análise aprofundada, evidencia que se trata do querer ser igual a Deus de um modo que não é o de Gn 1,27. A continuação da história do paraíso nas outras narrativas de Gn 1–11 confirma isso.

Recomendo a leitura deste excelente artigo.

Konings começa assim:

Se perguntássemos ao povo em geral o que foi o pecado de Adão e Eva, creio que boa parte responderia: o sexo. A maçã virou símbolo do desejo, não do desejo puro e angelical de ver a Deus, mas da concupiscência da “carne”. A expressão “fruto proibido” tornou-se sinônimo de intercurso sexual. A maçã mordida é usada como logotipo por motéis e marcas de computadores, para sugerir o desejo por excelência. Do ponto de vista humorístico, isso é até divertido, mas ao refletir um pouco mais sentimos com amargor que o ato mais fundamental e indispensável (pelo menos até pouco tempo atrás) para a subsistência do gênero humano é, sem mais, considerado como transgressão do mandamento de Deus – do mesmo Deus que ordenou: “Crescei e multiplicai-vos”. Sobretudo no momento atual, em que uma considerável parte da sociedade exime qualquer atividade sexual de qualquer culpa e, por outro lado, a própria moral católica reconhece a nobreza do ato sexual quando exercido no quadro da vocação matrimonial, não se pode permitir que continue pairando sobre o sexo um escuso sentimento de culpa, que só produz repressão e hipocrisia – ou seu antípoda, a libertinagem.

Pode-se ilustrar essa situação insana por exemplos da experiência pastoral. Na proximidade da Páscoa há ainda certo número de católicos que se sentem obrigados a fazer uma confissão pessoal – como “desobriga”. Vez por vez o confessor ouve: “Eu não tenho pecado, mas devo confessar para receber a hóstia”. Em tais casos, geralmente, faço uma pergunta sobre a ética social… Um dia perguntei a um “penitente sem pecado”, trajado de terno escuro e gravata, quanto ele pagava à empregada. O homem não respondeu, mas saiu furioso do confessionário.

Não pretendo aqui entrar em detalhes de moral sexual, pois os próprios moralistas estão pagando muitos pecados ao tentarem destrinchar esse assunto. A respeito da maçã, há outras interpretações que não a sexual – mas talvez menos populares. A opinião “sensata” é de que o pecado do paraíso foi a desobediência diante de Deus, e por causa dessa desobediência a humanidade sofre as consequências. A criação, que era tão boa (Gn 1!), torna-se um lugar de dor e sofrimento. A vida, que era para ser eterna, torna-se brevidade: “Os dias da nossa vida sobem a setenta anos ou, em havendo vigor, a oitenta; neste caso, o melhor deles é canseira e enfado, porque tudo passa rapidamente, e nós voamos” (Sl 90,10). Tal interpretação é coerente com a doutrina clássica do pecado original, que se baseia no texto de Rm 5,12.19: “Como por um só homem o pecado entrou no mundo e, por meio do pecado, a morte […] Como pela desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos”.

Além dessa interpretação clássica, há outras, demais para serem examinadas uma por uma. Aponto apenas as principais. A maçã seria o símbolo do interdito que é necessário para que o ser humano reconheça seus limites e assim se torne sociável, suportável para seus semelhantes e para si mesmo, pois a ilusão da onipotência torna o homem insustentável, insuportável a si mesmo e aos outros. Na linha da antropologia cultural pode-se até dizer que a instituição da proibição ou interdito (o tabu) é a base da humanização. A exegese judaica identifica a árvore da vida no paraíso com a Torá, que dá vida, mas, como veremos, existe um problema pelo fato de se falar em duas árvores (Gn 3,6.22). Voltaremos, depois, a ver a relação entre a árvore da vida e a árvore da proibição.

Uma leitura “emancipacionista” da Bíblia vai mais longe ainda. A narrativa do paraíso significaria que, pela transgressão – comer da maçã –, os olhos do ser humano se abriram. As dificuldades da vida são o preço que ele paga pela emancipação de sua razão. A transgressão seria, assim, antes um bem do que um mal. É uma leitura “prometeica”, que merece ser levada em consideração.

Vamos agora ao texto (continua).

Johan Konings é Doutor em Teologia (Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica), Mestre em Teologia (Katholieke Universiteit Leuven, Bélgica). Professor da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), Belo Horizonte.

Fonte: Johan Konings. (2021). A maçã do paraíso. Sobre Gn 3,1-24. Estudos Bíblicos, 35(140), 440–450. Recuperado de https://revista.abib.org.br/EB/article/view/45

Bíblia Hebraica e racismo

BURRELL, K. Slavery, the Hebrew Bible and the Development of Racial Theories in the Nineteenth Century. Religions 12 (9): 742, 2021.

Este artigo pertence ao número especial de Religions sobre A Bíblia Hebraica, Raça e Racismo. Disponível para leitura online ou download em pdf.Religions, Volume 12, Número 9 - Setembro de 2021

Resumo

Ideias raciais que se desenvolveram no Ocidente moderno foram forjadas com referência a uma cosmovisão cristã e informadas pela Bíblia, particularmente o Antigo Testamento. Até a reformulação científica de Darwin do debate sobre as origens, os cientistas raciais europeus e americanos eram fundamentalmente cristãos em sua orientação. Este artigo descreve como as interpretações da Bíblia Hebraica dentro desta Weltanschauung cristã facilitaram o desenvolvimento e a articulação de teorias raciais que floresceram no discurso intelectual ocidental até e durante o século XIX. O livro do Gênesis foi uma sementeira particular para a política de identidade, já que as histórias das origens da Bíblia Hebraica foram colocadas a serviço da articulação de uma hierarquia racial que justificou tanto o lugar dos europeus no pináculo da criação divina quanto a difamação, bestialização e escravidão dos africanos como o pior da humanidade. O fato de o ethos racial do período ditar tanto as questões colocadas pelos exegetas quanto as conclusões que eles derivaram do texto demonstra que a interpretação bíblica dentro desse clima nunca foi uma busca inocente, mas sim refletiu os valores e crenças correntes no contexto social do exegeta.

 

Abstract

Racial ideas which developed in the modern west were forged with reference to a Christian worldview and informed by the Bible, particularly the Old Testament. Up until Darwin’s scientific reframing of the origins debate, European and American race scientists were fundamentally Christian in their orientation. This paper outlines how interpretations of the Hebrew Bible within this Christian Weltanschauung facilitated the development and articulation of racial theories which burgeoned in western intellectual discourse up to and during the 19th century. The book of Genesis was a particular seedbed for identity politics as the origin stories of the Hebrew Bible were plundered in service of articulating a racial hierarchy which justified both the place of Europeans at the pinnacle of divine creation and the denigration, bestialization, and enslavement of Africans as the worst of human filiation. That the racial ethos of the period dictated both the questions exegetes posed and the conclusions they derived from the text demonstrates that biblical interpretation within this climate was never an innocuous pursuit, but rather reflected the values and beliefs current in the social context of the exegete.

This article belongs to the Special Issue The Hebrew Bible, Race, and Racism.

Profetisas na Bíblia

Confira o post de Marg Mowczko, Every Female Prophet in the Bible, publicado em 22 de setembro de 2021.

Ela diz:

Neste post, listo as mulheres que são claramente identificadas como profetisas na Bíblia Hebraica e no Novo Testamento (hebraico: neviah; grego: prophētis). Escrevi uma breve nota sobre cada uma delas. Essas mulheres eram figuras influentes e importantes em suas comunidades.

In this post, I list the women who are plainly identified as prophets in the Hebrew Bible and New Testament (Hebrew: neviah; Greek: prophētis). And I’ve written a short note on each of them. These women were influential, leading figures in their communities.

Quem é Marg Mowczko? Clique aqui e aqui.

Ler Ezequiel 23 como arte

QUICK, L. Art, Aesthetics and the Dynamics of Visuality in Ezekiel 23. JHS Vol. 21 (2021)

Neste ensaio exploro Ezequiel 23 como um texto sobre arte e estética. Como uma resposta estética a um esforço artístico, argumento que a descrição do ato de ver de Ooliba deve ser colocada dentro do contexto mais amplo de estratégias para verbalizar fenômenos visuais na literatura bíblica e especialmente no livro de Ezequiel. Ao fazer isso, descubro o papel das perspectivas visuais e, especialmente, a dinâmica do olhar que são essenciais para a compreensão dessa passagem. E como uma obra de Laura Quick, Professora de Bíblia Hebraica na Universidade de Oxfordarte, os oficiais caldeus esculpidos devem ser compreendidos dentro das maiores convenções artísticas do antigo Oriente Médio. Essas convenções artísticas nos ajudam a desvendar o que o público antigo teria entendido que Ooliba viu e respondeu e, portanto, são importantes para compreender adequadamente suas ações e suas implicações. A convergência desses focos distintos, mas relacionados, portanto, nos permite reavaliar o ato de ver arte de Ooliba e seu papel em Ezequiel 23.

Laura Quick é Professora de Bíblia Hebraica na Faculdade de Teologia e Religião da Universidade de Oxford, Reino Unido.

 

In this essay, I explore Ezekiel 23 as a text about art and aesthetics. As an aesthetic response to an artistic endeavour, I argue that the description of Oholibah’s act of viewing must be placed within the larger context of strategies for verbalizing visual phenomena in biblical literature and especially the book of Ezekiel. In so doing, I uncover the role of visual perspectives and especially the dynamics of the gaze that are essential to understanding this passage. And as a work of art, the carved Chaldean officers must be understood within larger ancient Near Eastern artistic conventions. These artistic conventions help us to unpack what the ancient audience would have understood Oholibah to have viewed and responded to, and hence are important for properly comprehending her actions and their implications. The convergence of these distinct but related focuses therefore allows us to reassess Oholibah’s act of viewing art and its role in Ezekiel 23.

Biography: I completed my doctorate in Hebrew Bible at the University of Oxford, before taking up an Assistant Professorship in Religion and Judaic Studies at Princeton University in Autumn 2017. In 2019 I returned to Oxford, where I am currently Associate Professor of Hebrew Bible and Tutorial Fellow in Theology and Religion at Worcester College.

Novelas bíblicas

KAEFER, J. A.; DOS SANTOS, A. S. (orgs.) Novelas Bíblicas: Sabedoria da Bíblia para os dias de hoje. São Paulo: Paulus, 2021, 136 p. – ISBN 9786555622409KAEFER, J. A.; DOS SANTOS, A. S. (orgs.) Novelas Bíblicas: Sabedoria da Bíblia para os dias de hoje. São Paulo: Paulus, 2021

A novela bíblica é um gênero literário por excelência para o exercício da interação entre a comunidade que produziu o texto e a comunidade que o lê e o atualiza. Com suas cores próprias, a novela bíblica é um artifício popular que cresce em importância no período posterior ao exílio babilônico (538-145 A.E.C.). Ela assume o papel da profecia na defesa dos direitos do povo em Israel, mantém a esperança e aponta o caminho a seguir. Numa sociedade que cada vez mais centraliza o poder e a religião, a novela bíblica se torna o respiro do clamor popular. É nessa perspectiva que este livro apresenta as novelas bíblicas de José e seus irmãos, Jó, Rute, Cântico dos Cânticos, Ester, Daniel, Judite e Jonas.

Os precursores de Wellhausen

GRÖGER, M. Wellhausens Wegbereiter. Tübingen: Mohr Siebeck, 2021, 429 p. – ISBN 9783161606625.

As investigações de Julius Wellhausen (1844-1918) no Antigo Testamento, por mais engenhosas que sejam em seu projeto básico, foram de muitas maneiras dependentesGRÖGER, M. Wellhausens Wegbereiter. Tübingen: Mohr Siebeck, 2021 dos grandes precursores de sua disciplina. Em seu estudo, Martin Gröger apresenta sete desses pioneiros: Wilhelm Martin Leberecht de Wette, Leopold George, Heinrich Ewald, Karl Heinrich Graf, Wilhelm Vatke, Abraham Kuenen e Abraham Geiger. Martin Gröger reconstrói seus fundamentos teológico-filosóficos e mostra as consequências das respectivas ‘hermenêuticas historiográficas’ para a interpretação do Antigo Testamento.

Julius Wellhausens (1844-1918) Untersuchungen zum Alten Testament, so genial sie in den konstruktiven Grundlinien sind, waren in vielerlei Hinsicht von den grossen Vorlaufern seiner Disziplin abhangig. Martin Groger stellt in seiner Untersuchung sieben dieser Wegbereiter vor: Wilhelm Martin Leberecht de Wette und seinen historisch-asthetischen Zugang, Leopold Georges Fest- und Kulttheorie, Heinrich Ewalds alttestamentliche Literaturgeschichte, Karl Heinrich Grafs Wende zur redaktionsgeschichtlichen Fragestellung, Wilhelm Vatkes spekulative Methode, Abraham Kuenens Versachlichung der Religionsgeschichtsschreibung und schliesslich Abraham Geigers Hinterfragung christlicher Deutungsstereotypen aus der Position des liberalen Judentums. Martin Groger rekonstruiert ihre theologisch-philosophischen Grundlagen und zeigt die Konsequenzen der jeweiligen ‘historiographischen Hermeneutik’ fur die Interpretation des Alten Testaments auf. Diese Arbeit wurde mit dem Promotionspreis der Friedrich-Schiller-Universitat Jena 2017 ausgezeichnet.

Martin Gröger Geboren 1978; Studium der Ev. Theologie in Jena, München, Leipzig, Stellenbosch und Halle (Saale); 2007–14 Inspektor der Stiftung Schlesisches Konvikt Halle, Wohngemeinschaft für Studierende der Kirchenmusik und Theologie; 2014–18 Vikar der Evangelischen Kirche in Mitteldeutschland in Köln-Nippes; 2016 Promotion in Jena; seit 2018 Pfarrer in Köln.

A história de José entre Egito e Israel

RÖMER, T.; SCHMID, K.; BÜHLER, A. (eds.) The Joseph Story between Egypt and Israel. Tübingen: Mohr Siebeck, 2021, 190 p. – ISBN 9783161601538. Disponível online.

No contexto do Pentateuco, a história de José pode ser lida como uma transição que explica por que Jacó e sua família foram para o Egito. No entanto, se alguém olharRÖMER, T.; SCHMID, K.; BÜHLER, A. (eds.) The Joseph Story between Egypt and Israel. Tübingen: Mohr Siebeck, 2021 para outros textos da Bíblia Hebraica, não há menção da história de José. Em vez disso, a chegada dos israelitas é considerada o resultado da decisão de um “pai” ou de “pais” de descer ao Egito. Na verdade, existem muito poucas referências a José em toda a Bíblia Hebraica. Aparentemente, a história de José não é necessária para explicar por que os israelitas se encontraram no Egito.

Portanto, surge a pergunta: Por que esta história foi escrita, quando e para qual público?

Este volume oferece uma visão geral da discussão atual sobre as origens, composição e contextos históricos por trás da narrativa de José. Há uma tendência de datar a história (ou sua versão original) na época persa, mas este volume inclui vozes divergentes sobre o assunto. O volume também mostra que a discussão acadêmica sobre a localização histórica da história de José requer reunir egiptólogos e estudiosos da Bíblia.

 

Within the context of the Torah, the Joseph story can be read as a transition that explains why Jacob and his family came to Egypt. However, if one looks at other texts of the Hebrew Bible, there is no mention of the Joseph story; instead, the arrival of the Israelites is said to be the result of the decision of a »father« or of »fathers« to go down do Egypt. Indeed, there are very few references to Joseph at all in the whole Hebrew Bible. Apparently, the Joseph story is not necessary for explaining why the Israelites found themselves in Egypt. The question therefore arises: Why was this story written, when, and for what audience?

This volume offers an overview of the current discussion on the origins, composition, and historical contexts behind the Joseph narrative. There is a tendency to date the story (or its original version) to the Persian period, but this volume includes divergent voices about this issue. The volume also shows that scholarly discussion about the historical location of the Joseph story requires to bring together Egyptologists and biblical scholars.

 

Thomas Römer Born 1955; professor and chair of the Collège de France and Professor emeritus of the University of Lausanne.

Konrad Schmid Born 1965; professor of Old Testament and Ancient Judaism at the Faculty of Theology at the University of Zürich, Switzerland.

Axel Bühler Born 1992; currently PhD student at the University of Geneva and a temporary worker for the Collège de France.

A pesquisa de Amós nos últimos vinte anos

CARROLL R., M. D. Twenty Years of Amos Research. Currents in Biblical Research Vol. 18(1), p. 32­–58, 2019.

O artigo analisa estudos sobre o livro do profeta Amós nos últimos 20 anos.Currents in Biblical Research

Muito esquemático, este texto é apenas um roteiro para a leitura do artigo original. Os autores citados no texto e suas obras podem ser consultados na bibliografia do artigo. Ele está disponível para download gratuito aqui ou aqui.

 

Resumo

Este artigo traz um panorama dos últimos vinte anos da pesquisa de Amós, um livro que foi abordado de muitos modos.

O artigo agrupa essas tendências em cinco áreas:
1. a possibilidade de postular um cenário do século oitavo para o profeta e o debate sobre a confiabilidade histórica do livro
2. a redação do livro e possíveis conexões com a história da composição do Livro dos Doze
3. os temas teológicos de particular interesse contemporâneo
4. percepções recentes sobre as técnicas de tradução de Amós na LXX
5. a recepção de Amós ao longo dos séculos, com um foco especial nas visões de mulheres e comunidades minoritárias e globais.

Há uma série de posições acadêmicas em várias dessas áreas e novas questões estão sendo levantadas, todas pressagiando vitalidade contínua na pesquisa de Amós em um futuro previsível.

 

Abstract

This article is a selective survey of the last twenty years of Amos research, which has witnessed robust discussion in multiple directions. It groups these trends into five very broad areas: (1) the possibility of positing an eighth-century setting for the prophet and the historical reliability of the book, (2) work on the redaction of the book and potential connections to the history of the composition of the Book of the Twelve, (3) theological themes of particular contemporary interest, (4) recent insights into the translation techniques of LXX Amos, and (5) the reception of Amos across the centuries, with a special focus on the views of women and minority and global communities. There is a range of scholarly positions in several of these areas and new questions being asked, all of which portends continued vitality in Amos research in the foreseeable future.

 

Entre os panoramas mais abrangentes da pesquisa sobre Amós, três obras merecem ser citadas:
. R. F. Melugin em 1988
. M. D. Carroll R. em 2002
. J. Barton em 2012

 

1. Amós: um profeta do século VIII a.C. ou apenas um personagem do livro?

Os últimos vinte anos testemunharam uma divisão crescente entre estudiosos que defendem a credibilidade do material biográfico do livro de Amós (1,1;7,1-17) e outros referentes históricos que localizariam o profeta no reino do norte em meados do século VIII a.C. durante o reinado de Jeroboão II e aqueles que não sustentam esse pressuposto básico.

The past twenty years have witnessed a growing divide between scholars who argue for the credibility of the biographical material in the book of Amos (1.1; 7.1-17) and other historical referents that would locate the prophet in the northern kingdom in the mid-eighth century BCE during the reign of Jeroboam II, and those who do not hold that basic assumption.

Entre os primeiros, em diferentes graus e com abordagens específicas, estão:
. M. A. Sweeney, 2000
. G. V. Smith, 2001
. S. Paas, 2003
. D. N. Premnath, 2003
. R. C. Steiner, 2003
. A. M. Maeir, 2004
. G. M. Tucker, 2006
. H. M. Barstad, 2007
. W. J. Houston, 2008
. R. R. Lessing, 2009
. M. L. Chaney, 2014
. J. M. Hutton, 2014
. B. A. Strawn, 2016
. M. D. Carroll R., 2020

Entre os segundos, que questionam ou a autenticidade dos oráculos de Amós, ou o contexto histórico pressuposto pelo livro, ou até mesmo a existência de um profeta de nome Amós, estão:
. R. J. Coggins, 2000
. R. G. Kratz, 2003
. A. Sherer, 2005
. M. Z. Brettler, 2006
. E. Blum, 2008
. J. R. Linville, 2008
. P. R. Davies, 2009
. J. C. Gertz, 2010
. T. Bulkeley, 2015
. G. Eidevall, 2017

 

2. A composição do livro de Amós

Há estudiosos que defendem que o livro está substancialmente enraizado no século VIII a.C., enquanto outros propõem vários esquemas redacionais.

There are scholars who contend for the book to be substantially rooted in the eighth century, while others propose various redactional schemes.

Entre os primeiros, que defendem a autenticidade do livro, estão:
. M. A. Sweeney, 2000
. K. Möller, 2003
. D. A. Garrett, 2008
. R. R. Lessing, 2009
. M. D. Carroll R., 2020

Entre os segundos, estão:
. J. R. Wood, 2002
. T. S. Hadjiev, 2004, 2009
. Schart, 2007, 2010, 2016
. J. R. Linville, 2008
. J. Radine, 2010
. G. R. Hamborg, 2012
. G. Eidevall, 2017

 

3. A teologia de Amós

J. Barton, The Theology of the Book of Amos. Cambridge: Cambridge University Press, 2012, oferece uma taxonomia útil da teologia do livro de Amós.
Ele distingue entre o que teriam sido:
. as crenças das pessoas no contexto do profeta histórico
. daquelas do próprio profeta e seu círculo
. a teologia dos acréscimos redacionais
. e a teologia do livro canônico.
Mesmo que alguém possa não concordar com suas sugestões críticas de redação, essa análise pode servir como uma ferramenta heurística na análise de hipóteses acadêmicas.

Barton (2012) offers a helpful taxonomy of the theology of the book of Amos. He distinguishes between what would have been the beliefs of the people of the historical prophet’s context from those of the prophet himself and his circle, the theology of the redactional additions, and the theology of the canonical book. Even if one might not agree with his redaction-critical suggestions, this breakdown can serve as a heuristic tool in the analysis of scholarly hypotheses.

Dois temas veem recebendo crescente atenção dos estudiosos:
1. O tema da criação lido no contexto da atual crise ecológica. Assim: T. E. Fretheim, 2005 e H. Marlow, 2009.
2. O tema da violência divina no julgamento das nações estrangeiras, mas também de Israel e Judá. Assim: M. D. Carroll R., 2015 e W. J. Houston, 2017.

 

4. Amós na LXX

. A. W. Park, 2001
. w. E. Glenny, 2009
. M. Theocharous, 2012

 

5. A recepção de Amós ao longo dos séculos

Amós tem uma longa história de releituras ao longo dos séculos. Os três panoramas bibliográficos citados no início do artigo trazem vários exemplos.

Amos has a long history of appropriation across the millennia for which the three book-length introductions mentioned above provide examples (Carroll R. 2002: 53-72; Barton 2012: 161-80; Houston 2017: 83-96; also note Various Authors 2009).

A ligação de Amós com outros textos proféticos é explorada por: M. Daniel Carroll R. (Rodas)
. J. Pschibille, 2001
. A. Schart, 2004
. R. Poser, 2016

Amós na tradição judaica e na tradição cristã

Amós como profeta da justiça é um tema que atravessa os séculos

As leituras feministas de Amós, como: A. Erickson, 2012; Marie-Therese Wacker, 2012

Em várias partes do mundo as pessoas buscam inspiração em Amós para refletir sobre os problemas atuais.
Por exemplo:
. na África: D. Bitrus, 2006; C. Robertson, 2010
. em Hong Kong: N. L. E. Ngan, 2004
. na América Latina: M. D. Carroll R., 1999, 2001, 2005, 2008, 2018

Conclui-se que:

Este livro profético continua a falar para comunidades de fé e em contextos de injustiça, uma dimensão que deve estimular os pesquisadores e alertá-los para a necessária atenção às realidades sociais em que vivem.

This prophetic book also continues to speak into communities of faith and in contexts of injustice, a dimension that should prod scholarship not to divorce itself from social realities.

 

M. Daniel Carroll R. (Rodas) é Professor de Estudos Bíblicos no Wheaton College, IL, USA. Filho de mãe guatemalteca e pai norte-americano, sua origem latino-americana sempre foi parte importante de como ele se define. Lecionou na Guatemala de 1982 a 1996, exceto por 2 anos e meio para estudos de doutorado no Reino Unido, na Universidade de Sheffield. Sua vivência na Guatemala e seu envolvimento com imigrantes hispânicos impulsionou seu interesse pela ética social do Antigo Testamento e pela missão da Igreja no mundo.