Um comportamento ecologicamente responsável

Em artigo publicado pelo Jornal do Brasil, em 09/06/2008, citado aqui a partir de Notícais do Dia – IHU On-Line – Agir rápido, agir juntos. Artigo de Leonardo Boff – o teólogo Leonardo Boff afirma, entre outras coisas:

Finalmente também as igrejas estão se mobilizando para enfrentar as mudanças climáticas da Terra. O secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon visitou em março o Conselho Mundial das Igrejas em Genebra e disse: “um problema global exige uma resposta global: nós precisamos da ajuda das Igrejas”. E elas responderam prontamente com uma conclamação aos milhões de cristãos dispersos pelo mundo afora com estas palavras: “agir rápido, agir juntos porque não temos tempo a perder”. Citaram a Bíblia para enfatizar que Deus nos entregou a Terra como herança para administrar e não para dominar, pois esta palavra bíblica “dominar” significa cuidar e gerenciar. Acolheram os dois imperativos propostos pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (IPCC) : a mitigação e a adaptação. A mitigação quer identificar as causas produtoras do aquecimento global que é o nosso estilo delapidador de produção e consumo ilimitado e individualista. A adaptação considera os efeitos perversos, especialmente nos países mais vulneráveis do Sul do mundo que demandam solidariedade pois se não conseguirem se adaptar, assistiremos, estarrecidos, a grandes dizimações (…) A Igreja Católica oficialmente ainda não propôs nada de relevante. Mas a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil em suas campanhas da fraternidade sobre a água e sobre a Amazônia ajudou a despertar uma consciência ecológica. Os bispos canadenses publicarem recentemente uma bela carta pastoral com o título: “a necessidade de uma conversão”. Atribuem à conversão um significado que transcende seu sentido estritamente religioso. Ele implica “encontrar o sentido do limite, pois, um planeta limitado não pode responder a demandas ilimitadas”. Precisamos, dizem, libertar-nos da obsessão consumista. “O egoísmo não é somente imoral, ele é suicida; desta vez não temos outra escolha senão uma nova solidariedade e novas formas de partilha” (…) A fé hebraico-cristã possui suas razões próprias para fundar um comportamento ecologicamente responsável. Parte da crença, semelhante àquela da moderna cosmologia, de que Deus transportou a criação do caos ao cosmos, quer dizer, de uma universo marcado pela desordem a um outro no qual vige a ordem e a beleza. E Deus disse: “Isto é bom”. Colocou o homem e a mulher no jardim do Éden para que o “cultivassem e o guardassem”. “Cultivar” implica cuidar e favorecer o crescimento e “guardar” significa proteger e assegurar a continuidade dos recursos, como diríamos hoje, garantir um desenvolvimento sustentável.

COP 9

9th Meeting of the Conference of the Parties (COP 9): Bonn, Germany, 19-30 May 2008.

De 19 a 30 de maio de 2008, Bonn, na Alemanha, sedia a 9ª Conferência das Partes (COP 9) da Convenção sobre Biodiversidade da ONU, reunindo mais de 5 mil delegados de 190 países em debate sobre questões ambientais como mudanças climáticas e aquecimento global.

 

Brasil no centro das críticas de ambientalistas de todo o mundo na COP 9 – IHU On-Line: 20/05/2008

Organizações da Sociedade Civil e Movimentos Sociais presentes na 9º Conferência de Partes da CDB formam “bloco laranja” e realizam protesto contra Agrocombustíveis, Árvores Transgênicas e Acordo Energético Brasil/Alemanha.

Bonn, 19/05/2008. Começou hoje, em Bonn, Alemanha, a 9º Conferência de Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica. O Brasil, que sempre foi um dos destaques nas negociações internacionais sobre biodiversidade, é, nesta COP centro das atenções e alvo de críticas da sociedade civil de todo o mundo.

Durante reuniões preparatórias para as negociações das próximas duas semanas, organizações decidiram formar o chamado “o bloco laranja” (Orange block). Vestidas com camisetas laranjas, “evocando as florestas e canaviais em chama”, cerca de 200 representantes de ONGs, movimentos sociais e comunidades locais protestaram na entrada da Conferência Oficial, juntamente com a Via Campesina e prometem ocupar as plenárias com as camisetas durante as próximas duas semanas.

A camiseta laranja tem na frente os dizeres “Brasil e Alemanha: Comprometidos com a Destruição da Biodiversidade. Não compre este acordo.” , em referência explicita ao acordo de cooperação energética firmado na última semana entre os dois países e que inclui exportação de etanol e o compromisso da Alemanha em seguir na cooperação nuclear “até pelo menos a conclusão de Angra 3”. Nas costas da camiseta, as frases “Não aos agrocombustíveis, Não às árvores transgênicas”

“Para a sociedade civil internacional, está bem claro: a CDB não será palco para o Brasil defender o etanol, com promessas de sustentabilidade. Os efeitos cumulativos do agronegócio no país e a expansão massiva das monoculturas são inegavelmente o maior vetor do desmatamento e de destruição de ecossistemas no Brasil. A expansão dos agrocombustíveis, da maneira como está sendo conduzida pelo Governo Brasileiro, só vai agravar esta situação”, destaca Camila Moreno, da Terra de Direitos.

Ann Peterman, da Global Justice Ecology Project, organização estadunidense, alerta que “o próprio secretariado da CDB reconhece que os riscos das árvores transgênicas são gravíssimos. Diante disso, a única postura coerente desta conferência seria o banimento total inclusive dos experimentos em curso.”

Miguel Lovera da Global Forest Coalition “A CDB está num momento crítico. Os países têm que assumir medidas efetivas e urgentes para mudar radicalmente os padrões de produção e consumo. O momento atual, como demonstra a atual crise alimentar global, não permite perder tempo com falsas soluções, que somente agravarão os problemas ambientais e sociais”.

Para Luiz Zarref, da Via Campesina “a expansão das monoculturas e dos transgênicos destrói a agrobiodiversidade, da qual depende a base da alimentação da humanidade. Nós, camponeses e camponesas de todo o mundo queremos ter o direito de seguir utilizando e preservando a agrobiodiversidade. A agrobiodiversidade é nossa vida. Não permitiremos que a extinguam ou a privatizem.”

 

Conferência da ONU debate preservação da biodiversidade – Deutsche Welle: 19/05/2008

Bonn sedia a 9ª Conferência das Partes da Convenção sobre Biodiversidade da ONU (COP9), reunindo mais de 5 mil delegados de 190 países em debate sobre questões ambientais, como mudanças climáticas e aquecimento global.

Os especialistas das Nações Unidas afirmam em Bonn que o planeta está passando por uma fase de extinção de espécies não registrada desde o período em que dinossauros habitavam a Terra. Estima-se que, a cada hora, são extintas três espécies, a maioria delas em conseqüência de ações do homem, como superpopulação e excesso de poluentes.

Hoje, acredita-se que 40% do comércio internacional envolva processos e produtos biológicos: alimentos, medicamentos, nutrientes e energias renováveis, que simplesmente não existiriam mais sem a biodiversidade. Segundo os especialistas, a perda de espécies vegetais poderá causar uma catástrofe de longo prazo no abastecimento mundial de alimentos.

Extinção acelerada

“Estamos, no momento, num ritmo de extinção mil vezes mais acelerado do que o da extinção normal das espécies, somente graças à ação do homem”, observa o ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, em entrevista à Deutsche Welle.

Ou seja, o homem está gastando seu “capital natural” de forma descontrolada: rios são desviados de seus cursos em função de estratégias de povoamento e florestas estão se transformando em estepes. A proposta da conferência da ONU, que começa nesta segunda-feira (19/05), é descobrir formas de pelo menos frear a destruição da natureza.

Divisão de benefícios

O objetivo se assemelha à meta que havia sido estabelecida no acordo assinado na ECO de 1992, realizada no Rio de Janeiro, prevendo uma redução drástica da extinção de espécies até o ano de 2010. Hoje, passados 16 anos, os objetivos ainda estão longe de serem alcançados.

“Ou vamos chegar a resultados concretos e práticos e, com isso, aos primeiros sucessos, ou vamos fracassar. Aí então a comunidade internacional terá que se perguntar o porquê, afinal, desse tipo de convenção”, alerta Gabriel.

O ministro defende, acima de tudo, progressos em relação à divisão de benefícios ( benefit sharing): países emergentes ou em desenvolvimento reivindicam que, como recompensa ao uso de seus recursos naturais, os países desenvolvidos participem adequadamente da fabricação de medicamentos, por exemplo.

Próximas gerações

Para o ministro alemão, está mais que na hora de “avaliar o que isso vai custar aos nossos filhos e netos, se continuarmos agindo assim. Precisamos de um grêmio internacional que analise e avalie constantemente o desenvolvimento da diversidade de espécies”, diz Gabriel. O ministro cita como exemplo positivo a conscientização a respeito da política climática, que hoje já faz parte do debate público e político.

 

Produção de alimentos x produção de energia: o desafio do século XXI. Entrevista especial com Patrick Criqui e Martin Penner – IHU On-Line: 20/05/2008
A crise alimentícia pode ser explicada pelo aumento da população mundial, pela concorrência dos solos e também pelo crescimento da produção de biocombustíveis. No entanto, o modelo energético mundial contribui para a crise e precisa ser revisto, alerta o economista Patrick Criqui, professor na Univesidade Pierre Mendès-France, na Universidade Paris-Dauphine e na Escola Politécnica Federal de Lausanne. Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, ele afirma que atualmente a humanidade deve considerar duas prioridades para resolver os problemas ambientais, sociais e econômicos: mudar os “modelos e comportamentos de transporte” e implantar “uma nova gestão da energia nos prédios para a calefação e refrescamento ou refrigeração”.

Já Martin Penner, porta-voz do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, na Itália , afirma que “Um mundo que tem fome é um mundo mais inseguro e com menos perspectivas de futuro”. Segundo ele, os estoques mundiais de cereais apresentam o nível mais baixo nos últimos trinta anos. “Muitíssimos começaram a comer comida mais ‘pobre’, com menores propriedades nutritivas, com os riscos relativos de desnutrição.” Além disso, reitera, essa crise trará impacto negativo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, propostos pela ONU. A entrevista foi concedida por e-mail.

Confira as entrevistas.

Entrevista com Patrick Criqui

IHU On-Line – Como o senhor percebe a crise de alimentos no mundo? Povos de todo o Planeta conquistaram inúmeros bens materiais, mas ainda enfrentam o problema da fome. Vivemos uma ambigüidade?

Patrick Criqui – Diversos fatores podem explicar a crise atual: em primeiro lugar, a população mundial continua a aumentar, embora o ritmo se reduza. Em face disso, as superfícies cultiváveis aumentam menos rapidamente, pois há uma forte concorrência pelos solos e, em certas regiões, pela produção de agrocombustíveis. Em certas regiões, igualmente se reduzem os progressos nos rendimentos, como se se atingissem os limites das técnicas agrícolas modernas, com fortes recuos. Enfim, o aumento do poder de compra nos países emergentes envolve igualmente maior demanda para os produtos de origem animal, os quais requerem de sete a dez vezes mais calorias do que os produtos de origem vegetal.

IHU On-Line – Como o senhor vê o atual modelo mundial de produção e abastecimento de alimentos? Ele favoreceu algumas regiões?

Patrick Criqui – O atual modelo mundial encorajou bastante as culturas de exportação em relação às culturas alimentícias, fragilizando a agricultura nos países mais pobres, embora mantendo uma proteção mínima da agricultura nos países do Norte. Os beneficiados são, por isso, os grandes exportadores e os países do Norte e, os perdedores são os países mais pobres.

IHU On-Line – Ambientalistas e pesquisadores da ONU reforçaram a teoria de que uso de alimentos para a produção de biocombustíveis contribuiu para aumentar a crise alimentar no mundo. É possível responsabilizar os biocombustíveis pela crise?

Patrick Criqui – As culturas de agrocarburantes ampliaram a crise, sem serem a causa primeira. Mas um desenvolvimento maciço dos agrocombustíveis poderá, a longo prazo, reforçar o desequilíbrio oferta-demanda.

IHU On-Line – Que relação o senhor destaca entre as produções de energia renovável e de alimentos no mundo?

Patrick Criqui – Um cacife maior é o de se chegar a conciliar, no futuro, a produção de energias renováveis (solar-vento-biomassa) e a produção de alimentos, como propõe Ignacy Sachs no modelo de biocivilização. No entanto, isto requer muita inteligência na concepção e otimização dos sistemas de produção e de utilização dos solos.

IHU On-Line – O senhor diz que é necessário reduzir o consumo de energia. Como fazer isso num contexto no qual o consumo mundial aumenta exponencialmente e a compra de automóveis, por exemplo, se tornou cada vez mais comum, sendo estimulada até mesmo pelos governos?

Patrick Criqui – Caso se queira limitar as emissões de gases com efeito estufa, será preciso desenvolver um novo paradigma energético com muita eficácia energética, através de energias renováveis e talvez de energia nuclear. Para controlar os consumos, se pode contar com as normas de eficácia, mas provavelmente também será preciso aceitar um forte encarecimento dos preços da energia pela introdução de taxas carbono.

IHU On-Line – O senhor fala da criação de um novo paradigma energético, através de energias renováveis e energia nuclear. Qual é a sua proposta? Como controlar gases com efeito estufa através de políticas e tecnologias?

Patrick Criqui – A redução maciça dos gases de efeito estufa, por exemplo, a redução de 60 a 80% das emissões em 2050 nos países industrializados (que é o objetivo da União Européia), só poderá se apoiar sobre um número limitado de soluções:
– Em primeiro lugar, a eficácia energética e o desenvolvimento de tecnologias de “baixa energia” em todos os domínios (transporte, construção, indústria);
– Em seguida, as energias renováveis, energias fluxo e biomassa;
– A energia nuclear, que continuará necessária, sendo até muito importante, na medida que as condições técnicas e sociais de sua instalação sejam bem controladas;
– A captura e estocagem do CO2, se a factibilidade técnica for demonstrada;
– A gestão do Carbono nos ciclos vegetais Land Use, Land Use Change and Forestation (LULUCF) (Uso do solo, mudança deste uso e reflorestamento).
Nenhuma destas cinco soluções poderá ser abandonada. As políticas nacionais deverão simplesmente gerir a boa dosagem de cada uma segundo o contexto local.

IHU On-Line – Que mudanças no modelo de consumo da população são urgentes no atual contexto?

Patrick Criqui – Há, atualmente, duas prioridades: a mudança nos modelos e comportamentos de transporte, a implantação de uma nova gestão da energia nos prédios para a calefação e refrescamento ou refrigeração.

IHU On-Line – De que modo você percebe a crise alimentar na França e na Europa: qual deveria ser a contribuição da União Européia para ajudar no combate à fome?

Patrick Criqui – A contribuição da Europa deveria ser, em primeiro lugar, a de identificar as bases de um sistema agrícola mundial simultaneamente aberto, mas assegurando a manutenção de agriculturas locais eficazes, tanto na Europa como no resto do mundo. Isto é um verdadeiro desafio intelectual, pois não creio que tenhamos, hoje, a capacidade de articular as diferentes dimensões deste complexo problema.

IHU On-Line – Jean Ziegler disse que a produção em massa de biocombustíveis, incentivada pelos EUA e pela UE como alternativa aos hidrocarbonetos, constitui um crime contra a humanidade, já que tende a substituir os cultivos de alimentos e colabora para o aumento dos preços. Como o senhor percebe essa crítica?

Patrick Criqui – A meu ver, esta crítica é muito exagerada, primeiramente porque há na Europa uma tomada de consciência, mesmo ao nível da Comissão Européia dos danos dos agrocombustíveis, e, em segundo lugar, porque – como o diz o professor Ignacy Sachs, bem conhecido no Brasil – o desenvolvimento dos biocombustíveis deve integrar-se na construção de uma biocivilização que deveria se esforçar para valorizar com inteligência os recursos vegetais, combinando os usos alimentação-energia-materiais.

Entrevista com Martin Penner

IHU On-Line – Qual é a sua explicação para a atual crise alimentar mundial? Embora o mundo cresça no que se refere a tecnologias, podemos dizer que a humanidade esteja retrocedendo?

Martin Penner – Não vivemos mais numa época de excedente alimentar. Os estoques mundiais de cereais estão no nível mais baixo dos últimos trinta anos. Somente no último ano desceram do nível cinco. São muitas as causas que contribuíram para a atual alta dos preços alimentares. Entre estas, o maior custo da tarifa energética, a competição entre hidrocarburantes e alimentos, os crescentes e diversos consumos alimentares de economias emergentes como a China, e o aumento de fenômenos climáticos adversos, como secas e inundações. A tudo isto se acrescentam os atuais ímpetos especulativos que criam um mercado internacional tanto mais volátil.

IHU On-Line – Josette Sheeran disse que hoje a capacidade de adquirir alimentos é 40% inferior ao mesmo período do ano passado. A que o senhor atribui esta diferença?

Martin Penner – Calculamos que o custo das nossas operações aumentou em 55%, e isso está relacionado aos custos maiores dos transportes que, para nós, são uma voz importante de despesa. Isso levou a rever as estimativas de balanço feitas para 2008, a fim de assistir 73 milhões de pessoas em 78 países. O aumento dos preços faz, sim, que hoje necessitemos de recursos adicionais correspondentes a US$ 755 milhões, o que leva nosso balanço complexivo a US$ 4,3 bilhões. Sem contar crises e necessidades hoje não previstas e que poderiam fazer fervilhar ulteriormente as despesas em balanço.

IHU On-Line – Na semana passada, a ONU anunciou a criação de uma força-tarefa para fazer frente à crise alimentar mundial. A doação de US$ 2,5 bilhões da comunidade internacional poderá ajuda a controlar a crise? Quais seriam as medidas imprescindíveis para resolver este problema?

Martin Penner – A Força Tarefa sobre a Crise global de Segurança Alimentar – presidida pelo Secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e da qual participam os chefes diversas agências da ONU, inclusive o PAM, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e outros especialistas internacionais – apresentará um plano de ação já na cúpula da FAO a partir de início de junho. No momento da constituição da Força Tarefa (Task Force), o secretário geral já identificara algumas linhas diretrizes através das quais intervir de imediato e em médio prazo. A curto prazo, acredito que serve à ajuda alimentar.

O Banco Mundial estima que a atual crise dos preços possa criar 100 novos milhões de pobres, muitos dos quais necessitados de assistência alimentar. A médio e longo prazo, será decisivo aumentar a produtividade e os investimentos em agricultura, em particular na África sub-saariana. O PAM está pronto para fornecer assistência alimentar, a sustentar, também através da própria logística, a ativação de redes vitais de distribuição, fornecendo entrementes ajuda e apoio de peritos aos governos empenhados no desenvolvimento agrícola.

IHU On-Line – Além de aumentar a pobreza no mundo, que outras agravantes a crise de alimentos pode gerar no planeta?

Martin Penner – O aumento dos preços já causou numerosos protestos em dezenas de países. Um mundo que tem fome é mais inseguro e tem menos perspectivas de futuro. Muitas famílias, nos países em vias de desenvolvimento, precisaram fazer escolhas drásticas: decidir, por exemplo, se comer ou mandar os filhos à escola. Em muitos casos, foram cortadas as despesas médicas. Muitíssimos começaram a comer comida mais “pobre”, com menores propriedades nutritivas, com os riscos relativos de desnutrição. Sem contar os efeitos negativos que o atual aumento dos preços pode ter sobre a obtenção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, e, como primeiro entre todos, aquele de reduzir à metade a proporção no numero dos famintos até 2015.

IHU On-Line – Segundo a ONU e o FMI, a elevação dos preços dos alimentos é devida em parte à euforia da produção de biocombustíveis. Como o senhor avalia esse cenário?

Martin Penner – Nós não estamos pró ou contra os biocombustíveis. Seguramente, eles são um dos vetores do atual aumento dos preços. Sobre este ponto, os chefes das 27 agências que se encontraram em Berna, na Suíça, no dia 29 de abril passado, solicitaram ulteriores pesquisas sobre o uso de produtos agrícolas para os biocombustíveis, pedindo, ao mesmo tempo, uma revisão das subvenções aos produtos da agricultura destinados a este uso.

 

‘Economia e vida’ é o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010
Economia e vida será o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2010, que terá por lema admoestação registrada no Evangelho de Mateus: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (…) Tema e lema da Campanha Ecumênica foram definidos pela Comissão organizadora do evento, reunida em Brasília na sexta e no sábado, 16 e 17 de maio [de 2008]. A Cáritas e a Fundação Luterana de Diaconia (FLD) vão integrar o Comitê Gestor do Fundo Ecumênico de Solidariedade, que administra os recursos recolhidos na Campanha. Farão parte, ainda, do Comitê Gestor o secretário executivo do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), reverendo Luiz Alberto Barbosa, um representante das igrejas Siriana Ortodoxa de Antioquia, Presbiteriana Unida e Episcopal Anglicana do Brasil.

Fonte: IHU On-Line: 20/05/2008

A Slow-Motion Catastrophe

Catástrofe em câmara lenta. Voltar ao bom senso. Eis o desafio! Entrevista especial com Ladislau Dowbor
A humanidade caminha para uma “catástrofe em câmara lenta”, e as aventuras especulativas com os alimentos, a má distribuição alimentícia, o consumo irracional e o mau manejo da água contribuem para acelerar os problemas da fome no mundo contemporâneo [sublinhado meu]. Essa posição é defendida por Ladislau Dowbor , economista e professor do PPG em Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, o pesquisador apresenta diferenças entre as propostas de biocombustíveis apresentadas pelos EUA e o Brasil. Argumenta que, no caso dos brasileiros, seja possível investir em biocombustível sem prejudicar as safras alimentícias. Entretanto, ressalta, “corremos o risco de que a busca de alternativas energéticas gere no Brasil um novo ciclo agro-exportador que trará dólares e riqueza para poucos”. Associar a produção energética e a produção alimentar à pequena e média agricultura, alerta, “pode dar um novo reequilabramento social ao meio rural”. Dowbor é formado em Economia Política, pela Universidade de Lausanne, Suíça, e doutor em Ciências Econômicas, pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, Polônia. Confira na página pessoal do pesquisador artigos e publicações.

Fonte: Notícias do Dia – IHU On-Line: 18/05/2008.

Visite a Home Page de Ladislau Dowbor. In the present web site you will find some basic short texts by Prof. Ladislau Dowbor, concerning mainly economic development and planning. Some papers are in English and other languages, see “Artigos Online”.

A entrevista de Ladislau Dowbor é a primeira matéria da edição 258 da Revista IHU On-Line, publicada hoje, 19 de maio de 2008, e que traz como tema de capa A crise alimentar. Por um novo modelo de produção. Além de Dowbor, tratam da crise alimentar neste número da revista: Ignacy Sachs, Heitor Costa, Antônio Thomaz Jr, Celso Marcatto, Peter Rosset e José Goldemberg.

Cai a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva

Ministra Marina Silva entrega demissão a Lula, afirma assessoria do ministério

Após se envolver em conflitos com outros ministérios, como a Casa Civil e a Agricultura, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (PT), entregou pedido de demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Segundo a assessoria de imprensa do Ministério do Meio Ambiente, o pedido tem caráter irrevogável. A carta entregue ao Presidente ainda não foi divulgada e o Palácio do Planalto não confirmou que recebeu o pedido de demissão.

Segundo a Agência Brasil, o senador Sibá Machado (PT), suplente e amigo pessoal de Marina Silva, disse que falou com a ministra por telefone e ela confirmou a informação. A senadora Ideli Salvatti (PT) se disse surpresa com a notícia.

Desentendimentos

Marina Silva e Dilma Roussef se desentenderam durante o processo, iniciado em julho do ano passado, de elaboração do edital do leilão das usinas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira (RO). O impasse começou quando o Ministério do Meio Ambiente foi interpelado a conceder as licenças ambientais das usinas.

Também pesaram questões como a demarcação das áreas indígenas e a expansão das atividades agropecuárias em áreas na Amazônia legal para complicar o relacionamento da ministra com outras áreas do governo.

Fonte: InfoMoney – 13 maio 2008

Libânio analisa a greve de fome de Dom Cappio

Merece leitura atenta a entrevista do teólogo João Batista Libânio à IHU On-Line:

A greve de fome de Dom Cappio: um ato de nítido alcance político

“Ao assumir uma posição política, não a exerceu no estilo de Cristandade, como se escreveu, porque não o fez em nome de nenhum dos poderes do Estado. Tentou influenciar o Estado pelo lado que compete a todas as instituições e pessoas fazê-lo: gerar ideias, valores, contrapor-se a outras diferentes, exprimir posições com gestos radicais”, afirma João Batista Libânio, em entrevista por e-mail à IHU On-Line, refletindo sobre a greve de fome de Dom Cappio e sua luta contra a transposição do Rio São Francisco.

Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em Letras Neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em Teologia pela Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, Libânio é também mestre e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma e leciona Teologia no Instituto Santo Inácio de Belo Horizonte.

É autor de uma imensa produção teológica. Entre outros, citamos os seguintes livros: Teologia da revelação a partir da Modernidade (5. ed. São Paulo: Loyola, 2005); Eu creio – Nós cremos. Tratado da fé (2. ed. São Paulo: Loyola, 2005); Qual o caminho entre o crer e o amar? (2. ed. São Paulo: Paulus, 2005); e Introdução à vida intelectual (3. ed. São Paulo: Loyola, 2006). Dele, também foi publicado o artigo “Contextualização do Concílio Vaticano II e seu desenvolvimento” no livro A Teologia na universidade contemporânea (São Leopoldo: Unisinos, 2005, p. 13-45), organizado por Inácio Neutzling.

João Batista Libânio é assíduo nas páginas da revista IHU On-Line. Publicamos uma entrevista com ele na 103ª edição, de 31-05-2004, um artigo na 136ª edição, de 11-05-2005, outra entrevista na edição número 150, de 08-8-2005, uma entrevista na 214ª edição, de 02-04-2007, e mais uma entrevista na 224ª edição, de 20 de junho de 2007. Confira também um artigo de Libânio, intitulado “Contextualização do Concílio Vaticano II e seu desenvolvimento” e publicado nos Cadernos Teologia Pública, número 16, de 2005.

 

IHU On-Line – Como o senhor vê o papel de Dom Cappio no debate sobre as obras de transposição do Rio São Francisco? O que o senhor pensa sobre a greve de fome e sobre a proposta de revitalização, defendida por Dom Cappio?

João Batista Libânio – A consciência e a interioridade de uma pessoa escapam à nossa análise. O mundo das intenções está entregue a Deus e à consciência pessoal. As ações, desde que se exteriorizam, caem sob o nosso juízo que sempre é parcial e desde ângulos determinados. Uma primeira análise: o aspecto testemunhal de Dom Cappio. Os que convivem com ele, que o conheceram e conhecem atestam a limpidez evangélica de seu agir. Prefiro ficar com tal testemunho do que levantar suspeitas azedas, como certos órgãos de publicidade. Admiro a coragem, a ousadia do gesto. Ultrapassa o comum dos mortais. Ninguém arrisca a vida, se não em casos extremos e heroicos. Ele o fez. E por quê? Pelo que ele escreveu, falou e outros comentaram, ele se pôs ao lado do povo pobre mais ligado ao Rio São Francisco e de que ele tem experiência pessoal. Bom recordar que ele, com pequeno grupo, percorreu o Rio São Francisco das nascentes na Serra da Canastra até a sua foz durante um ano. Adquiriu conhecimento minucioso e bem localizado do mundo diretamente ligado à problemática do rio. Ora bem, a partir desse ângulo analisou o projeto da transposição e o processo como ele foi e vinha sendo conduzido.

Formou-se um duplo juízo: técnico-político e ético. Sob o primeiro aspecto, considerou o projeto do Governo não corresponder aos interesses do povo ribeirinho e visar a outros interesses, especialmente do agronegócio, embora indiretamente também atinja pessoas necessitadas do Nordeste. Não viu proporção entre os benefícios reais para o povo e os custos. Mais: com instituições especializadas pensou em alternativas mais econômicas e mais populares, segundo sua análise. Foi mais longe: emitiu um juízo ético presidente Lula sobre o processo. Considerou que ele desrespeitava o povo, enganava-o, não cumpriu o prometido, foi feito à sorrelfa, não permitindo amplo debate público. Tentou diálogo. E, não sendo acolhido, lançou mão do recurso do jejum público. Neste momento, um ato religioso, por motivação ética e teologal de compromisso com os pobres, assumiu nítido caráter político. A pessoa era figura religiosa de forte simbolismo popular – um bispo -, o conteúdo do ato permitia dupla leitura – jejum ou greve de fome -, a motivação pessoal explicitada fazia parte do universo religioso – opção evangélica pelos pobres -, mas o alcance externo assumia caráter altamente político. Contestava uma decisão política do Governo e exigia atitude política de sua reversão. Portanto, vejo tal ação como um ato de nítido alcance político. Todo cidadão tem direito de protestar, pessoal ou em grupo, contra qualquer decisão do Estado.

O fato de ser bispo não o priva de tal direito. Outra coisa é ver se tal ato político, no conjunto da situação nacional, sendo feito pela figura de um bispo, produz o efeito desejado ou, pelo menos, desperta a nação para realidade importante, ou, pelo contrário, oferece munição fácil para adversários mal intencionados do Governo. Este é o ponto mais difícil da análise. O governo Lula, ao ser enfraquecido, abre espaço, na atual conjuntura, não para alternativas melhores, e sim para possível retrocesso na linha do PSDB, com efeitos ainda muito piores para o povo. A revitalização do Rio São Francisco, as alternativas propostas merecem ser consideradas pelo governo na medida em que elas realmente signifiquem um ganho popular.

IHU On-Line – O senhor acha que o jejum de Dom Cappio pode ser visto como um exemplo da mistura entre fé e política? Como o avalia nesse sentido?

João Batista Libânio – Aprendi, em outros tempos, uma distinção que, se não me engano, remonta a A. Gramsci entre Estado e Sociedade Civil. O Estado exerce o poder na quádrupla forma de executivo, legislativo, judiciário e repressivo. Mas ele necessita para legitimar-se de idéias, símbolos, valores, razões aceitadas pelas pessoas, imaginário simbólico favorável, consenso popular e de grupos/entidades importantes. Numa palavra, existe o mundo da hegemonia que dirige, orienta, legitima o Estado. Porque o poder recorre fortemente a ela, pressiona-a para justificá-lo. Hoje a maior fonte de legitimação vem dos meios de comunicação social. Esses fazem circular idéias e valores de outras instituições. Empresas capitalistas que financiam programas, donos de produtoras e transmissoras televisivas, grupos poderosos que compram tempo de propaganda influenciam pesadamente na orientação das ideias na sociedade. E um conflito radical com o Estado, poderia levá-lo à crise e mesmo à perda de legitimidade e substituição. Na Argentina dos militares, com a derrota na guerra das Malvinas, o poder militar ficou de tal modo deslegitimado, que se foi. No Brasil, o governo militar foi perdendo legitimidade até ser substituído por governo formalmente democrático.

D. Cappio, como bispo, projeta sobre o mundo simbólico e representativo a força da Igreja católica. É verdade que sua força foi diminuída pela intervenção de outros bispos em linha oposta. Em todo caso, sua simbólica vinha do status de bispo. Ao assumir uma posição política, não a exerceu no estilo de Cristandade, como se escreveu, porque não o fez em nome de nenhum dos poderes do Estado. Tentou influenciar o Estado pelo lado que compete a todas as instituições e pessoas fazê-lo: gerar idéias, valores, contrapor-se a outras diferentes, exprimir posições com gestos radicais. Não se mistura fé e política, porque não é a pessoa do bispo, em nome de sua função de bispo, que legisla, que administra o Estado, que julga ou que coíbe militarmente alguma atividade política. Mas alguém, de representatividade religiosa, defende interesses e valores explicitados e sujeitos ao juízo e crítica de qualquer outra instituição ou sujeito. Aliás, foi ao que assistimos. Pessoas e instituições que o defenderam, e pessoas e instituições que divergiram. Até aí, o papel político do bispo cabe dentro de sua função episcopal e dentro da democracia. Em outras palavras, o bispo fez pressão sobre o Estado em determinada direção. Algo absolutamente correto. É discutível técnica e politicamente se a direção e o momento de tal ação atingiram ou não o bem desejado: servir os mais pobres e desprovidos de água (continua).

Fonte: Notícias IHU – 15/1/2008.

50 pessoas que podem salvar o planeta

50 people who could save the planet

… who are the people who can bring about change, the pioneers coming up with radical solutions? We can modify our lifestyles, but that will never be enough. Who are the politicians most able to force society and industry to do things differently? Where are the green shoots that will get us out of the global ecological mess? To come up with a list of the 50 people most able to prevent the continuing destruction of the planet, we consulted key people in the global environment debate. Our panel included scientists – former World Bank chief scientist and now the British government’s scientific adviser on climate change, Bob Watson, Indian physicist and ecologist Vandana Shiva, Kenyan biologist and Nobel prize-winner Wangari Maathai; activists – Guardian columnist George Monbiot and head of Greenpeace International Gerd Leipold; politicians – Green party co-leader and MEP Caroline Lucas, and London mayor Ken Livingstone; sustainable development commissioner for the UK government Jonathon Porritt and novelist Philip Pullman. Then the Guardian’s science, environment and economics correspondents met to add their own nominations and establish a final 50 (…) Some people made it to the final 50 not just because of their work but because – like the man who has found a simple way to save energy in a refrigerator, or the boy who collects impressive amounts of money for the protection of tigers – they represented a significant grassroots technological or social movement. And some got on the list because they were considered the driving forces behind the decision-makers. One church leader, for example, made it largely because the world’s religions have huge investments and are shifting the political landscape in the US and Europe. The final list includes an Indian peasant farmer, the world’s leading geneticist, German and Chinese politicians, a novelist, a film director, a civil engineer, a seed collector and a scientist who has persuaded an African president to make a tenth of his country a national park. There are 19 nationalities represented. Nearly one in five of those listed comes from the US, and one in three is from a developing country, suggesting that grassroots resourcefulness will be as important as money and technology in the future. Nearly one in three of the people chosen has a scientific background, even if not all practice what they studied. It’s not a definitive list and there are no rankings, but these 50 names give a sense of the vast well of people who represent the stirrings of a remarkable scientific and social revolution, and give us hope as we enter 2008…

Fonte: The Guardian – Jan 5, 2008.

Carta Maior e o Velho Chico

Um rio ensina um país – Saul Leblon – Carta Maior: 20/03/2017

Não por acaso a Folha escondeu as fotos da apoteótica confluência entre essa lição e a receptividade da multidão reunida neste domingo no Cariri paraibano.

Quis o destino que um símbolo do maltratado sentido de pertencimento nacional ressurgisse na cena política do país no momento em que todas as demais reservas de esperança em nós mesmos são confiscadas e demolidas.

Inclua-se nessa montanha desordenada de ruínas nossos mais arraigados pilares de identidade e autoestima.

A destruição estratégica da Petrobras, por certo.

Estamos falando daquela referência ferozmente contestada por uma elite que nunca tolerou a presença bem sucedida do interesse público em nossa história, na condição intrinsecamente popular de bem comum.

A luta pelo petróleo brasileiro fixou no imaginário nacional três anátemas aos olhos dos valores dominantes: ‘o Brasil pode, o Brasil sabe, o Brasil faz’.

É tudo o que o discurso atual das ‘reformas’ recusa na busca sôfrega de legitimidade para a agenda antinacional e antissocial que cavalga tendo a população e o interesse brasileiro como cavalgadura involuntária.

A entrega do pre-sal constitui subtração tão ou mais grave de lastro econômico, ideológico e político.

O pre-sal é o ‘Tiradentes’ do nosso tempo.

Sua força emancipadora se insurge contra as trancas, vetos, dogmas e interditos que guarnecem a fronteira da subordinação nacional à gula e à conveniência dos capitais globalizados.

Como um ‘Tiradentes’ estratégico, a ousada premissa de soberania na exploração dessa riqueza recebeu o tratamento dispensado aos amotinados coloniais.

Por crime de soberania nacional, o pre-sal foi condenado e está sendo picado e salgados em praça pública nos dias que correm.

No mesmo martírio fenece o derradeiro impulso industrializante capaz de reconectar a nação brasileira à ponta da revolução industrial do século XXI –a 4.0.

Outras apostas no país que ainda não somos, mas que poderíamos ser, completam a espinha dorsal da nação soterrada nesses escombros de esperanças desautorizadas e aspirações reprimidas.

Muezins proclamam diariamente o jejum das possibilidades nacionais.

A sociedade brasileira, seus direitos, suas demandas, tornou-se um estorvo aos mercados.

O Brasil é um insulto à livre empresa.

Urgências de carne e osso, de cimento e ferro são um atentado ao capital privado.

A Constituição de 1988 não cabe no equilíbrio fiscal.

O que está em marcha é um acerto de contas histórico.

O país assiste à conjura do filé mignon interposta à reivindicação impossível da vasta maioria do povo brasileiro.

Qual seja: fazer parte da nação.

É nesse horizonte marmorizado de barreiras e comportas estritamente vigiadas pelos foscais midiáticos que um jorro iconoclasta irrompe no horizonte geográfico e político, com força pedagógica para sacudir a subjetividade brasileira.

A contrapelo do relevo e da ideologia, ele se lança por um canal de 217 kms, construído entre Pernambuco e a Paraíba, para levar as águas do velho Chico ao sertão ressequido por uma das mais longas e exasperantes estiagens já vividas pelo Nordeste brasileiro, que se arrasta por cinco anos.

O que está em jogo não é apenas a simbologia dessa correnteza republicana.

Essa que une o país pobre ao rico, o úmido ao semi-árido, para beneficiar 12 milhões de vidas sedentas.

É mais que isso.

O ponto é que a integração solidária que Lula e Dilma materializaram, secularmente cogitada e postergada desde Pedro II, jamais seria prioridade da lógica dos livres mercados, ora incensada pelos ventríloquos que tomaram de assalto o Estado brasileiro para aleijá-lo.

Os senhores da nação e da opinião por certo subestimaram o impacto simbólico da conclusão do canal leste da transposição nesse momento.

Quando se aperceberam, as águas já corriam incontroláveis para a apoteose vista neste domingo em Monteiro, na Paraíba.

As imagens colhidas do encontro entre o rio, os sertanejos e Lula são espantosas, mesmo para o histórico regional de empatia entre o povo e o ex-presidente.

Veículos como a Folha passam recibo ao sonegar a informação visual a seus leitores: o jornal da família Frias não publicou uma única foto aberta multidão, em si, a informação política mais relevante do fim de semana e, talvez, da semana.

O efeito histórico, porém, está escrito para sempre em pedra e cal.

Ele escancara aos olhos da nação um paradoxo irreprimível.

Em meios aos escombros do Estado e da sonegada capacidade de investimento nacional, salta a referência de uma obra pública, pactuada nacionalmente, ordenada pelo planejamento democrático e elevada à condição de prioridade estratégica do Estado, para mudar o sentido da vida, da economia e do universo por onde passa.

Sobretudo, realça desse jorro a certeza de que nenhum interesse privado o conduziria até onde chegou.

Não pelos desafios graúdos da engenharia hidráulica.

Mas pelo requisito político que cimenta a obra.

É devastador.

E é isso que é preciso abafar, como faz o jornal dos Frias, porque o conjunto –obra e sua dimensão política– sacode a prostração e o descrédito para abrir uma outra possibilidade ao passo seguinte da nação.

O que se teme é a sinapse capaz de associar o mesmo molde às demais encruzilhadas seculares que asfixiam a sofrida gente brasileira.

Essa é a abrangência épica que irradia das águas do velho Chico: o rio ensina um caminho à nação.

Os meios de comunicação poderão minimizá-lo em registros protocolares, sucedidos de horas e páginas de depreciação.

Contra isso Lula se vacinou domingo: ‘A água está aqui; agora cobrem –disse enfaticamente—‘cobrem as verbas do governo federal para que ela chegue à torneira das casas…’

Eles tentarão minimizar.

Mas a imagem épica da seca sendo rasgada pelo jorro improvável ressurgirá demolidora nas disputas eleitorais como o contraponto fascinante de uma outra rota de futuro para a construção interrompida de que falava Celso Furtado.

Não por acaso, em dezembro de 2004, Lula publicou um artigo em que fixava essa potência histórica da transposição com o nome do economista.

Ele reservou ao paraibano de Pombal, decano dos economistas brasileiros, referência mundial da luta contra o subdesenvolvimento, o batismo do canal leste do São Francisco, que um dia receberá a honra de ostentar o nome de ‘Celso Furtado’.

Quem sabe a partir da eleição de 2018…

Rememorando o amigo e conselheiro falecido um mês antes, dizia Lula naquele artigo: ‘ o subdesenvolvimento não é uma etapa necessária e incontornável do desenvolvimento, mas uma engrenagem regressiva, assentada na aliança perversa entre estruturas injustas e assimetrias internacionais’.

E alertava: ‘esse ensinamento de Celso Furtado resume cinco séculos de história e projeta uma agenda para o futuro. Mantidas essas relações, o acelerador da riqueza aciona o freio da distribuição e aprofunda a desigualdade, perpetuando a injustiça’.

Desarmar essa engrenagem é a própria agenda do desenvolvimento, sublinhava o texto.

A atualidade é evidente quando se aterroriza a nação para coagi-la a entregar seu destino à ação desordenada dos mercados.

A urgente ampliação da margem de autonomia do país para recuperar o comando do seu destino – e assim estabilizar seu investimento– era uma das obsessões de Celso Furtado.

Não se faz isso sem Estado atuante, sem projeto de desenvolvimento sólido e sem futuro democraticamente pactuado e sustentado por organização popular.

Furtado foi premonitório na reflexão dessas interações intrínsecas à luta pelo desenvolvimento, ou ‘contra o subdesenvolvimento’, como preferia hierarquizar.

Sua voz ecoa densa atualidade.

Um país não se transforma em nação soberana e justa, dizia o autor de ‘Formação Econômica do Brasil’, se o seu povo não assumir a frente nas provas cruciais da sua história.

Aquelas que funcionam como um clarão no discernimento coletivo.

A despolitização da agenda do desenvolvimento – decorrente da apartação advertida por Furtado– explica boa parte da encruzilhada atual.

Essa na qual a nação é refém, por exemplo, de uma dívida pública, que não é outra coisa, adverte Luiz Gonzaga Belluzzo, senão a exorbitância da riqueza privada sobre os recursos da nação.

A distorção, uma das provas cruciais, não será corrigida se não for sustentada pelo escrutínio popular.

A anemia estrutural da economia brasileira que hoje se tenta corrigir com arrocho sobre o povo pobre, foi construída assim, em décadas de sangria do público para o privado, e está escriturada em uma dívida cujo serviço e amortização consome cerca de 40% do orçamento.

Em nome desse torniquete saturado montou-se o presente ardil de rendição aos ajustes para impor às famílias assalariadas uma moratória de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários por vinte anos.

Congela-se um desequilíbrio falsificando-se a matriz das suas variáveis.

A partir desse simulacro extrai-se a iminência de uma calamidade.

Cujo tratamento é a rendição incondicional aos ditames dos mercados sem lei.

A obra do São Francisco é uma insurgência de incalculável poder aliciador contra esse desatino, que se escora na ardilosa associação entre iniciativa estatal para o desenvolvimento e corrupção.

Eis a caixa de Pandora que explica todos os males do Brasil, replica diuturnamente o martelete da mídia embarcada.

Nas mãos da capatazia de Curitiba é mais que isso.

É um veredito de interdição à escolha das urnas.

A suposição de que existe um mercado puro –como o Deus com quem o procurador Dallagnol se comunica– enfrenta, no entanto, colisões apreciáveis com a realidade capitalista no século XXI.

Vivemos um tempo em que a supremacia das corporações oligopolistas e a deriva da sociedade e do seu desenvolvimento não são realidades antagônicas.

Antes, exprimem uma racionalidade destrutiva, impossível de se combater sem uma intervenção credenciada do Estado no processo de desenvolvimento.

Aos ingênuos e espertos que elegem o ‘gigantismo estatal’ como o demônio a ser calcinado na fornalha de Curitiba, cabe esclarecer: a tragédia que devora o nosso tempo é de natureza justamente oposta.

No capitalismo, hoje, o cartel planeja a sociedade.

Esse é o fato histórico.

Que nos coloca diante do custo de um ‘intervencionismo’ às avessas.

Aquele impermeável às urnas, ao debate e ao consenso das maiorias.

Com as consequências evidenciadas no ciclo de privatizações dos anos 90 no Brasil, por exemplo, reiteradas agora, pelo agenda do desmonte em marcha.

A saber: um Estado ainda mais fraco; um mercado desregulado ainda mais intempestivo; governantes adicionalmente reféns de interesses particularistas e corruptos, lambança desenfreada e passivos de cidadania exacerbados.

Pior que tudo.

Se consumada, essa recidiva cristalizará a virtual impossibilidade de o Estado brasileiro coordenar a formação dos grandes fundos solicitados pelo agigantamento dos projetos de infraestrutura em nosso tempo.

Indispensáveis à mitigação das secas, por exemplo, agravadas pelo desequilíbrio climático extremo, como se constata no cenário dramático do semiárido nordestino atualmente.

Mas também para o atendimento da saúde pública, da educação de qualidade, da urbanização convergente

Etc.

Essa agregação de grandes massas de capitais tem que ser feita por alguém.

Que ela ocorra por meio de cartéis dilapidadores ou se dê pela subordinação ao planejamento democrático do Estado, eis a disjuntiva crucial que atualiza a obsessão de Celso Furtado pela conquista de autonomia nas decisões do desenvolvimento.

Boa parte do desafio brasileiro hoje gira em torno desse nó górdio: quem vai organizar o passo seguinte da nação inconclusa e da cidadania sonegada?

A repactuação democrática do desenvolvimento, ou os apetites irrefletidos dos mercados?

Definitivamente, esse não é um caso de polícia.

A mitologia difundida pelo jornalismo rastaquera alardeia que a purga de Moro fará emergir um capitalismo saneado, capaz de assumir as tarefas e desafios brasileiros no século XXI.

Doce enganação.

O rebote fulminante da desigualdade hoje no Brasil, depois de 22 anos de recuo sistemáticos, demonstra que a panaceia dos livres mercados é apenas um álibi de coisa pior.

O país real e o seu desenvolvimento continuam à espera de um jorro político que devolva à urna, ao Estado e ao planejamento democrático o comando do seu destino.

A inflexão subversiva do São Francisco rumo ao Cariri carrega a força das correntezas com poder de sacudir a fatalidade da narrativa dominante.

Contra ela ergue-se agora uma pedagogia de materialidade fluvial: um rio ensina o caminho ao país. Não por acaso a Folha escondeu as fotos da apoteótica confluência entre essa lição e a receptividade da multidão espantosa reunida neste domingo histórico em Monteiro, no Cariri paraibano.

Dom Cappio e o Rio

A vida do Rio São Francisco e de Dom Luiz Cappio. Entrevistas especiais com Roberto Malvezzi, Thomas Bauer, Rita Cappio e Dom Paulo Cardoso

Na última quinta–feira, dia 19-12-2007, o Superior Tribunal Federal decidiu que as obras de transposição do Rio São Francisco continuam. Os movimentos sociais, embora já aguardassem essa decisão, ficaram ainda mais desapontados com o governo Lula. “O governo não tem sensibilidade alguma com problema de pobre, com problema ambiental, com problema de índio”, contou-nos Roberto Malvezzi (Gogó), da Comissão Pastoral da Terra da Bahia, que está em Brasília e acompanhou toda a votação. Ao receber a notícia, Dom Luiz Cappio, Bispo de Barra, que há 23 dias estava em jejum pelo fim das obras, desmaiou. Levado às pressas ao Hospital Memorial Petrolina, ele ficou durante toda a noite na UTI e, durante a manhã de ontem, foi encaminhado ao quarto. Enquanto a família afirma que o jejum chegou ao fim, os movimentos sociais que acompanharam o sacrifício de Dom Cappio têm certeza de que essa luta continua. “Ele ainda não encerrou a greve de fome”, afirmou Thomas Bauer, também da Comissão Pastoral da Terra da Bahia. Já a família de Dom Cappio é contra a continuação do jejum. “Ele terá várias oportunidades de continuar essa obra muito grande. Porque o trabalho com os pobres, com os ribeirinhos do São Francisco, é realmente muito grande. E ele terá outras oportunidades de continuar a luta sem se expor a um calvário tão grande”, falou a irmã do Bispo, Rita Cappio. Bispo Cappio, ainda debilitado, recebeu durante o dia de ontem, inúmeras visitas, além de realizar reuniões para discutir o futuro das articulações. Umas das pessoas que esteve com ele foi Dom Paulo Cardoso, Bispo de Petrolina. “Nossa expectativa é em relação do procedimento a ser feito daqui por diante”, comentou.

As quatro entrevistas foram concedidas com exclusividade, por telefone, à IHU On-Line durante o dia 20 de dezembro. Na mesma noite, dom Luís anunciou o encerramento da greve de fome.

Fonte: IHU On-Line – 20/12/2007

Bali, 40 Graus

Blog “Bali, 40 Graus” acompanha conferência da ONU sobre o clima

O caderno de Ciência da Folha de S. Paulo lançou nesta terça-feira o blog Bali, 40 Graus, criado especialmente para a 13ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas, que acontece na Indonésia. Escrito por Claudio Angelo, o blog relatará o dia-a-dia do encontro que tenta determinar as bases de um compromisso mundial que substitua o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Claudio Angelo, 32, é editor de Ciência da Folha. Jornalista formado pela Universidade de São Paulo, cobre assuntos de ciência e ambiente desde 1998…


Fonte: Folha Online: 04/12/2007 – 18h54

Pobres ficam mais pobres com aquecimento global

Apartheid climático: “Os ricos habitarão o norte mais frio. Os pobres, todos no calor”, alerta a ONU

O mundo está galopando em direção a um cenário de “apartheid climático”. Isso foi afirmado por um severo e preocupado relatório das Nações Unidas, apresentado nesta terça-feira pelo jurista australiano Philip G. Alston, relator especial da ONU sobre direitos humanos e pobreza extrema – que será formalmente discutido na próxima sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra – os desequilíbrios causados pelo sobreaquecimento global recaem principalmente sobre os habitantes dos países mais pobres, enquanto os ricos poderão se permitir evitar as piores consequências da emergência climática, uma grande parte da população do planeta corre o risco de perder não apenas os direitos de base à vida, a água, à alimentação e à moradia, mas também conquistas como a democracia ou o respeito dos direitos civis e políticos. “A raiva das comunidades afetadas, o crescimento das desigualdades, o agravamento da miséria para alguns grupos sociais – o relatório afirma – provavelmente estimularão a disseminação de respostas nacionalistas, xenófobas e racistas”.

A reportagem é de Roberto Giovannini, publicada por La Stampa, 26-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Os desequilíbrios

“A mudança climática – afirma Alston – ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”.

A emergência climática, diz o estudo das Nações Unidas, fará com que 140 milhões de pessoas percam suas casas nos países em desenvolvimento até 2050; até 2030, 120 milhões passarão à condição de pobreza. Em suma, mesmo que os países mais pobres “sejam responsáveis apenas por uma pequena fração das emissões globais, 10%, terão que suportar 75% dos custos causados pela crise climática”. Enquanto os países mais ricos, neste cenário de “apartheid climático” graças aos seus recursos financeiros “conseguirão realizar os ajustes necessários para enfrentar temperaturas cada vez mais extremas”. E se isso acontecer, “os direitos humanos não serão capazes de resistir à tempestade que se aproxima”.

Prevenção insuficiente

Uma situação realmente crítica, causada pela resposta “claramente inadequada” dos estados nacionais, das empresas, das ONGs e das próprias Nações Unidas com relação à gravidade da ameaça climática, não alocando os recursos financeiros e “políticos” necessários para enfrentá-la. Os governos nacionais sempre desconsideraram as indicações da ciência, tanto que todos os tratados internacionais foram ineficazes: até mesmo o acordo de Paris de 2015 não é considerado à altura do desafio em curso. “Mesmo hoje – acrescentou o especialista em direito internacional – muitos países estão dando passos míopes na direção errada”, “e o que um ano atrás era considerado pela ciência um cenário catastrófico agora parece ser considerado uma perspectiva desejável”.

Na mira de Alston estão, com nome e sobrenome, o presidente dos EUA, Donald Trump, e o colega brasileiro Jair Bolsonaro. Trump deve ser condenado por ter “ativamente silenciado” a ciência sobre o clima, inserindo representantes da indústria em posições-chave, eliminando as regulamentações ambientais; o número um no Brasil, por seu lado, prometeu abrir para atividades agrícolas e de mineração a floresta tropical na Amazônia. Entre os exemplos positivos, citados pelo relator da ONU, está a batalha pelo clima da ativista sueca Greta Thunberg, a greve mundial dos estudantes, o movimento Extinction Rebellion e as causas encaminhadas contra Estados e sociedades poluidoras.

Fonte: IHU – 27 junho 2019

 

Crise climática pode gerar 120 milhões de novos pobres em 2030, segundo previsão da ONU

“A mudança climática ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”. É o alarme lançado pelo relator especial da ONU sobre pobreza extrema e os direitos humanos, Philip Alston. Ele alertou que a crise climática “poderia levar mais de 120 milhões de pessoas a mais à pobreza até 2030”. “Mesmo hoje – acrescentou – muitos países estão dando passos míopes na direção errada”.

A informação foi publicada por La Repubblica, 25-06-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

“A mudança climática ameaça anular os últimos 50 anos de progresso no desenvolvimento, na saúde global e na redução da pobreza”, acrescentou Alston.

O australiano Alston faz parte de um grupo de especialistas independentes das Nações Unidas. O principal alerta do relatório, baseado nas pesquisas científicas mais recentes e apresentado em Genebra, é que os pobres do mundo correm o risco de serem atingidos mais duramente pelo aumento das temperaturas e pela potencial escassez de alimentos e conflitos que poderiam acompanhar essa mudança. Prevê-se que os países em desenvolvimento sofram pelo menos 75% dos custos da mudança climática, apesar do fato de que a metade mais pobre da população mundial gere apenas 10% das emissões de CO2.

Fonte: IHU – 26 junho 2019

 

Mudanças Climáticas: Flutuações de temperatura afetarão os países mais pobres do mundo, sugere uma nova pesquisa

Para cada grau de aquecimento global, o estudo sugere que a variabilidade de temperatura aumentará em até 15% no sul da África e na Amazônia, e até 10% no Sahel, na Índia e no Sudeste Asiático.

O estudo foi publicado pela University of Exeter e reproduzida por EcoDebate. A tradução e edição são de Henrique Cortez, 09-05-2018.

Enquanto isso, os países fora dos trópicos – muitos dos quais são os países mais ricos que mais contribuíram para as mudanças climáticas – devem ver uma diminuição na variabilidade de temperatura.

Os pesquisadores, das universidades de Exeter, Wageningen e Montpellier, descobriram esse “padrão injusto” ao abordarem o difícil problema de prever como os extremos climáticos, como ondas de calor e estalos frios, podem mudar em um clima futuro.

“Os países que menos contribuíram para as mudanças climáticas e têm o menor potencial econômico para lidar com os impactos estão enfrentando os maiores aumentos na variabilidade de temperatura”, disse o principal autor do estudo, Sebastian Bathiany, da Universidade de Wageningen.

O professor Tim Lenton, da Universidade de Exeter, acrescentou: “Os países afetados por este duplo desafio da pobreza e aumento da variabilidade de temperatura já compartilham metade da população mundial, e as taxas de crescimento populacional são particularmente grandes nesses países”.

“Esses aumentos são más notícias para sociedades tropicais e ecossistemas que não estão adaptados a flutuações fora da faixa típica”.

O estudo também revela que a maior parte das crescentes flutuações de temperatura nos trópicos está associada a secas – uma ameaça extra ao abastecimento de alimentos e água.

Para sua investigação, a equipe analisou 37 modelos climáticos diferentes que foram utilizados para o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Embora a variabilidade climática tenha sido estudada extensivamente por cientistas do clima, o fato de que a variabilidade climática vai mudar recebeu pouca atenção nos campos que investigam os impactos das mudanças climáticas.

Referência:

Climate models predict increasing temperature variability in poor countries. Sebastian Bathiany, Vasilis Dakos, Marten Scheffer and Timothy M. Lenton. Science Advances 02 May 2018: Vol. 4, no. 5, eaar5809 DOI: 10.1126/sciadv.aar5809

Abstract

Extreme events such as heat waves are among the most challenging aspects of climate change for societies. We show that climate models consistently project increases in temperature variability in tropical countries over the coming decades, with the Amazon as a particular hotspot of concern. During the season with maximum insolation, temperature variability increases by ~15% per degree of global warming in Amazonia and Southern Africa and by up to 10%°C−1 in the Sahel, India, and Southeast Asia. Mechanisms include drying soils and shifts in atmospheric structure. Outside the tropics, temperature variability is projected to decrease on average because of a reduced meridional temperature gradient and sea-ice loss. The countries that have contributed least to climate change, and are most vulnerable to extreme events, are projected to experience the strongest increase in variability. These changes would therefore amplify the inequality associated with the impacts of a changing climate.

 

Fonte: IHU – 10 maio 2018