Sobre a encíclica ecológica de Francisco

«LAUDATO SI’, mi’ Signore – Louvado sejas, meu Senhor», cantava São Francisco de Assis. Neste gracioso cântico, recordava-nos que a nossa casa comum se pode comparar ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora a uma boa mãe, que nos acolhe nos seus braços: «Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras». Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou.

O Vaticano divulgou na manhã de ontem, 18 de junho de 2015, a nova Encíclica do papa Francisco, “Laudato Si’ – sobre o cuidado da casa comum”. O texto trata da ecologia humana e o clima está no centro das preocupações apresentadas pelo pontífice. Além disso, são apontadas as problemáticas e desafios de preservação e prevenção, como também aspectos da proteção à criação e questões como a fome no mundo, pobreza, globalização e escassez.

:: Leia a encíclica em português – ou em outras línguas

Nascente do Rio Paranaíba secou

Se não mudarmos a forma como estamos usando os recursos naturais, é possível que isso continue ocorrendo e culmine em problemas maiores, o que pode afetar várias cidades da Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba

Estiagem em MG faz secar uma das principais nascentes do Rio Paranaíba

O longo período de estiagem [em 2014] tem afetado a região do Triângulo Mineiro e causado prejuízos. Uma das preocupações dos moradores e ambientalistas da região é com a nascente do Rio Paranaíba, que está secando com o longo período sem chuvas.

Nas nascentes dos afluentes a situação não é diferente. Segundo o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica (CBH) dos Afluentes do Alto Paranaíba, Antônio Geraldo de Oliveira, as que não secaram, perderam pelo menos um terço da vazão. “Já começa, perto das nascentes, o impacto. Depois, tem a poluição com esgoto. Isso prejudica as hidrelétricas e o transporte hidroviário”, explicou.

O Paranaíba é um dos rios que formam o Rio Paraná. Da nascente segue cerca de 250 quilômetros até a divisa entre Minas, Goiás e Mato Grosso do Sul. A bacia hidrográfica do Paraná ocupa 2,6% do território nacional, tem quatro grandes usinas hidrelétricas e é essencial para 197 municípios brasileiros [o Rio Paranaíba passa por Patos de Minas].

A nascente seca não prejudica o volume do rio porque ele tem vários afluentes. Mas segundo o biólogo da Universidade Federal de Viçosa, Vinícius Albano Araújo, a situação é um alerta da natureza. “Se não mudarmos a forma como estamos usando os recursos naturais, é possível que isso continue ocorrendo e culmine em problemas maiores, capazes de afetar várias cidades”, afirmou.

Segundo o dono da propriedade onde a nascente está, Márcio José da Silva, o problema começou a se agravar em 2013. “Não choveu em dezembro, nem em janeiro, nem em fevereiro. Tem que diminuir mesmo”, explicou.

Fonte: G1 Triângulo Mineiro – 15/10/2014 20h16

O rio Paranaíba, juntamente com o rio Grande, é um dos formadores do rio Paraná. Sua nascente está situada na Serra da Mata da Corda, no município de Rio Paranaíba/MG, e possui altitude de cerca de 1.100 m. Percorre aproximadamente 100 km até alcançar o perímetro urbano de Patos de Minas/MG e segue mais cerca de 150 km até tornar-se limítrofe entre os Estados de Goiás e Minas Gerais. Neste ponto, encontram-se os limites municipais entre Coromandel e Guarda-Mor em Minas Gerais, e Catalão em Goiás. A partir deste trecho, o rio Paranaíba continua sendo o divisor entre Goiás e Minas Gerais até o município de Paranaíba/MS, onde passa a formar a divisa entre os Estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. O Paranaíba segue até a confluência com o rio Grande, exutório da bacia, para formar o rio Paraná.

Após tornar-se limite estadual, o rio Paranaíba recebe o rio São Marcos, um de seus principais afluentes pela margem direita, onde alcança o reservatório da usina hidrelétrica – UHE Emborcação. A jusante recebe o rio Araguari pela margem esquerda e o rio Corumbá pela margem direita. Estes dois cursos d’água desembocam em áreas de remanso do reservatório da UHE Itumbiara, que também está situada no rio Paranaíba.

Ao passar entre os municípios de Itumbiara/GO e Araporã/MG, o rio Paranaíba encontra a UHE Cachoeira Dourada. A partir desse ponto, o rio recebe outros três grandes afluentes da bacia, que são os rios Meia Ponte e Turvo e dos Bois pela margem direita, e o rio Tijuco pela margem esquerda. Em seguida, encontra um outro barramento, a UHE São Simão, que é a última usina do rio Paranaíba, a partir da qual se inicia a hidrovia Tietê-Paraná, com vários terminais para o transporte de grandes cargas.

Em seu trecho final, recebe os rios Claro, Verde e Corrente, afluentes na sua margem direita. Em seguida o rio Paranaíba recebe o rio Aporé ou do Peixe, rio limítrofe entre Goiás e Mato Grosso do Sul, e assim inicia-se a fronteira entre o Estado do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Depois de aproximadamente 100 km, o rio Paranaíba encontra o rio Grande para formar o rio Paraná (Do site do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba).

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Principal nascente do Rio São Francisco secou

Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. Dura constatação no primeiro dia da primavera!

Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou

Essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem cerca de 2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe (…)  A água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando (…) As represas de Três Marias e de Sobradinho estão com níveis baixíssimos e os impactos são catastróficos. No Baixo São Francisco o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce…

Leia o texto, veja as fotos e confira mais notícias aqui.

Fonte: Caroline Aleixo e Carolina Portilho: G1 – 23/09/2014 19h51

 

Água brota da nascente histórica do Rio São Francisco após chuvas – Anna Lúcia Silva: G1 29/11/2014
Após dois meses seca, a nascente histórica do Rio São Francisco brotou novamente. Segundo o diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, o fato foi oficializado no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nesta sexta-feira (28), mas ainda não se sabe o dia exato em que ocorreu o fenômeno. Até o momento foram registrados mais de  370 milímetros de chuvas na região. “O volume foi o suficiente para alimentar o lençol freático e brotar de novo a água da nascente”, afirmou o diretor do parque.

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O calor de janeiro de 2014

O janeiro de 2014 será lembrado por muitos brasileiros como um dos meses mais quentes de suas vidas. E, neste começo de fevereiro, as altas temperaturas predominam em grande parte do país

Janeiro é marcado por extremos de calor no Brasil – Fabiano Ávila: Instituto CarbonoBrasil 03/02/2014 [este texto pode ser lido também aqui]

O janeiro de 2014 será lembrado por muitos brasileiros como um dos meses mais quentes de suas vidas. Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre estão entre as cidades que estabeleceram novos recordes para o calor. A capital paulista apresentou no mês passado a média de 31,9°C, a mais alta desde que as medições começaram, em 1943. Já o Rio de Janeiro teve média de 36,2°C, a maior dos últimos 30 anos. Por sua vez, os porto-alegrenses tiveram que enfrentar a média de 33,1°C, a mais quente desde 1916. Para o Inmet, as causas para as temperaturas elevadas são: um sistema de alta pressão no oceano, que acaba trazendo o vento quente do Norte do país para o Sul, e o bloqueio atmosférico que atua no Uruguai e não deixa as frentes frias chegarem ao Brasil para baixar os termômetros. De acordo com a agência de meteorologia Somar, o calor deve prosseguir durante a primeira metade de fevereiro em boa parte do país, justamente por causa do bloqueio atmosférico. “Esse sistema é composto por ventos no alto da atmosfera, chamados de Corrente de Jato, que ganharam força e impedem que as frentes frias cheguem ao Brasil”, afirmou Celso Oliveira, meteorologista do Somar (…) Não se pode atribuir as causas do calor atual – o sistema de alta pressão e o bloqueio atmosférico – ao aquecimento global. Porém, esse cenário de recorde de temperaturas e suas consequências é justamente o que cientistas vêm tentando evitar, alertando para a necessidade de ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. De acordo com o primeiro Relatório de Avaliação Nacional (RAN1) do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), divulgado no final do ano passado, o Brasil poderá ficar até 6°C mais quente até 2100 (…) O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) também nos alerta há décadas para os problemas que enfrentaremos se nada for feito para frear o aquecimento global, como a maior frequência e intensidade de eventos climáticos extremos. A entidade também salienta que é cada vez mais evidente de que o homem está por trás da elevação das temperaturas. Na última semana, o IPCC divulgou a versão final de seu mais recente relatório sobre as bases científicas das mudanças climáticas. O documento destaca que é extremamente provável que mais da metade do aumento das temperaturas médias na superfície global entre 1951 a 2010 tenha sido causada pela maior concentração de gases do efeito estufa na atmosfera resultante das atividades humanas. “A influência humana foi detectada no aquecimento da atmosfera e do oceano, em mudanças no ciclo da água, na redução de neve e gelo, no aumento do nível dos oceanos e em transformações nos extremos climáticos”, conclui o relatório.

Leia o texto completo.

Gás de xisto no Brasil

Além da possibilidade de contaminação do Aquífero Guarani, críticos do fracking afirmam que essa opção é um “tiro no pé” da economia brasileira

Após leilão, cresce oposição à produção de gás de xisto no Brasil – Maurício Thuswohl: Carta Maior 03/12/2013

(…) a produção de gás de xisto [ou, no termo em inglês, shale gas] (…) ainda precisará vencer resistências na sociedade civil antes de se tornar uma opção energética viável no país. A produção, considerada altamente arriscada para o meio ambiente e com conseqüências sociais e econômicas nefastas que só agora começam a ser mensuradas em países como Estados Unidos, Argentina e França, sofre no Brasil a oposição de entidades representativas dos setores sindical, socioambiental e sanitário (…) A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (Abes) questiona, sobretudo, o arriscado método de produção do gás de xisto, conhecido como fraturamento do solo ou, no termo em inglês, fracking: “O problema são as técnicas utilizadas para a extração do gás, é a metodologia que requer a fratura da rocha. Após explodir a rocha, é utilizada uma enorme quantidade de água com milhares de produtos químicos para liberar o gás. Não se conhece ainda ao certo o risco trazido pela injeção dessa água misturada no subsolo, o risco de se contaminar aquíferos freáticos. É isso o que a gente quer discutir, e que entende que deveria ter sido discutido antes do processo do leilão. Senão, acontece como na França: você começa, depois vê que tem impacto e proíbe. Para que isso?”, questiona Pauli.

Os métodos de extração do gás de xisto também são condenados pelos petroleiros: “A produção do gás e do petróleo de xisto é bastante perigosa, e o processo de fraturamento das rochas não é seguro. Injeta-se produtos químicos que podem contaminar os nossos rios e lagos, ameaçar a fauna e a flora. Nós temos o exemplo, na Argentina e no Texas (EUA), de mortandade de animais, de água da torneira pegando fogo”, enumera Emanuel Cancela (…) O  ex-secretário de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Liszt Vieira (…), alerta que a exploração do gás de xisto pode jogar por terra parte do prestígio acumulado pelo Brasil nos últimos anos na seara ambiental. Uma das ameaças que teria impacto internacional, ressalta Liszt, seria a contaminação do Aquífero Guarani, já que 16 áreas arrematadas para exploração de gás de xisto estão situadas na Bacia do Paraná, exatamente em cima do aquífero.

“A contaminação do Aquífero Guarani, considerado o maior do mundo, é um risco concreto, e seria sem dúvida uma catástrofe ecológica de impacto internacional. A ANP autorizou o fraturamento do Folhelho Irati, no Paraná, mas essa rocha está situada a apenas centenas de metros abaixo do aquífero. Nós sabemos que pelo menos metade da água injetada no subsolo à grande pressão acaba retornando à superfície, carregada de metais pesados e centenas de aditivos químicos. Trata-se de um desastre anunciado”.

Leia o texto completo.

Observo que a minha região, Patos de Minas, pode estar ameaçada, pois estão pesquisando o gás de xisto por lá… Bem próximo do Rio Paranaíba, que pertence à Bacia do Paraná… Confira aqui.

A população desconhece os riscos, enquanto, por outro lado, os donos do poder e do dinheiro estão eufóricos…

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Os riscos da exploração do gás de xisto

A luta pela terra no Brasil no século XXI

A questão da terra no Brasil está sempre em pauta nas agendas: do governo, da sociedade civil organizada, dos especuladores imobiliários, latifundiários, lobistas, grandes empresários, pecuaristas, madeireiros, tornando difícil a resolução de problemas, como o da reforma agrária, a demarcação de territórios indígenas, dos quilombolas e ribeirinhos, do meio-ambiente…

Algumas leituras recentes:

:: ”Documento sobre a questão agrária só deverá ser aprovado em 2014”, diz bispo
Durante a entrevista coletiva desta 51ª Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP), o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, Dom Guilherme Werlang, recordou o tema da questão Agrária no início do século XXI, que está em discussão no evento. “Em 2010 o assunto foi apresentado à Igreja num documento de estudos”, disse o bispo, que recordou a atuação da Igreja neste segmento (…) O bispo enfatizou que “o texto é urgente e necessário, e os bispos precisam dar uma palavra contundente sobre a questão agrária. Nós percebemos, porém, que não teríamos condições de finalizar o trabalho nesta Assembleia”. Por isso, foi decidido que o texto seja melhorado ao longo do ano de 2013, e aprovado finalmente na Assembleia de 2014. Dom Guilherme recordou outros temas que também serão abordados pelo documento. “Nós vamos trabalhar a questão da água também, que não está desvinculada da questão da terra e da mineração. Nós sentimos que há uma necessidade da sociedade como um todo repensar também esta questão e não mercantilizar a água”. A informação foi publicada pelo Boletim da CNBB – 15/04/2013.

:: ”Reforma agrária não foi prioridade de nenhum dos governos democráticos”
Em sua participação na coletiva de imprensa da sexta-feira, 12 de abril, o bispo de Balsas (MA) e presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Enemesio Angelo Lazzaris falou sobre a apresentação do Documento “A Igreja e a questão agrária no Século XXI”. Dom Enemesio explicou que o Documento é uma continuidade das reflexões que a CNBB tem feito ao longo dos anos. E citou o ano de 1954, quando se realizou a 2ª Assembleia Geral dos Bispos e cujo tema central foi a “Reforma Agrária”, o bispo também lembrou o ano de 1980 quando na 18ª AG o tema foi “Igreja e problemas da terra” e mais recentemente, em 2006, quando foi lançado o Documento “Os pobres possuirão a terra”. Dom Enemesio ressaltou que o Documento apresentado na 51ª AG composto por um breve histórico, quatro capítulos e conclusão “quer fazer entender de maneira crítica as velhas e novas razões do sofrimento e da violência que marcam e ensanguentam a nossa terra hoje talvez mais que ontem”. E reforçou dizendo que “de maneira clara o documento faz entender que a sempre prometida Reforma Agrária não foi prioridade de nenhum dos governos democráticos, menos ainda do governo atual”. O bispo fez uma alerta para a situação opressora que se encontram os povos indígenas, quilombolas, sem terras e escravizados do campo, que estão em condições degradantes. “Precisamos atuar, precisamos anunciar as coisas boas, mas precisamos denunciar as tantas formas de opressão, os gritos, as injustas que este povo sofre”.  A reportagem está no site da CPT e foi publicada em 15/04/2013.

:: A concentração de terra estimula a violência e a impunidade. Entrevista especial com Frei Henri B. des Roziers
“O julgamento que condenou os autores do assassinato de José Cláudio e Maria do Espírito Santo, mas absolveu o o suposto mandante é escandaloso e absurdo do ponto de vista jurídico”, diz o advogado e frei dominicano. “A violência no campo continua por causa da histórica e escandalosa concentração de terra, do modelo de desenvolvimento que privilegia o agronegócio, e da impunidade”. A entrevista foi publicada por IHU On-Line em 16/04/2013.

:: Ruralistas intensificam ofensiva contra povos indígenas em ações por todo o país através da PEC 215
A ofensiva do setor ruralista contra os povos indígenas está a todo vapor em um ano que antecede outro, o eleitoral, período dos mais emblemáticos para o país. Depois de o governo federal estancar a reforma agrária e dos parlamentares alterarem o Código Florestal, uma série de campanhas, protestos, audiências públicas, ações institucionais e busca por cadeiras e mesas em comissões no Congresso Nacional nutrem um único objetivo: desconstruir os direitos indígenas pela terra e paralisar a já quase inexistente demarcação de territórios de ocupação tradicional. A reportagem é de Renato Santana e foi publicada pelo portal do Cimi em 15/04/2013.

:: Líderes se reúnem em Brasília para discutir projetos contrários aos povos indígenas
Preocupados com as propostas legislativas e do Poder Executivo que, a seu ver, constituem uma ameaça aos direitos indígenas, representantes de povos de diversas etnias estão reunidos em Brasília, onde, entre hoje (15) e sexta-feira (19), ocorre o Abril Indígena. A expectativa é reunir 700 líderes indígenas ao longo da semana. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi)… o encontro é um dos mais importantes eventos anuais do segmento. Este ano, a preocupação é chamar a atenção da sociedade para propostas em andamento no Congresso e que podem ameaçar direitos indígenas fundamentais, como a proposta de emenda à Constituição (PEC) que pretende transferir para o Congresso Nacional a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas, quilombolas e de áreas de conservação ambiental. A reportagem é de Alex Rodrigues e foi publicada pela Agência Brasil em 15/04/2013.

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A luta pela terra e sua representação na mídia

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Agronegócio procura regiões vulneráveis para se desenvolver. Entrevista especial com Tiago Cubas

O crescimento do agronegócio no Brasil está vinculado às “mudanças neoliberais nas leis de política agrária”, que possibilitaram a expansão exorbitante do setor sucroalcooleiro, especialmente em São Paulo, diz Tiago Cubas à IHU On-Line (…) Autor da dissertação “São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009”, Tiago Cubas é membro do grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária – NERA, e analisa os limites de desenvolvimento social em regiões onde cresce a produção do agronegócio. Na semana passada sua dissertação foi comentada na imprensa, e algumas matérias “distorceram o que foi de fato nosso objetivo”, avalia. A pesquisa se propôs a “expor a luta pela terra e a luta para se manter na terra produzindo a favor da soberania alimentar, consequentemente o protagonismo camponês no enfrentamento com o capital no estado de São Paulo, bem como sua representação, principalmente na grande mídia. Esse é um detalhe perdido ironicamente na cobertura da dissertação recentemente defendida”, lamenta.

(…) É impossível o diálogo entre qualquer tipo de conceito que remeta a equilíbrio no interior do sistema capitalista agrário do agronegócio. Assim como a falácia do aquecimento global e os créditos de carbono, a sustentabilidade é outro projeto de marketing que envolve grandes corporações capitalistas ligadas também ao agronegócio no intuito de mascarar o que, de fato, é a sua essência: a concentração, segregação e desigualdade. É importante aí entendermos os conceitos de essência do território e aparência do território. O território do capital se situa em aparentar a realidade como discurso único, e essa é a sua essência, a razão de não se explicar por completo, e assim ele se torna forte. Esse território é legitimado então quando o que está posto é a resolução para todas as coisas. Contudo, a imagem territorial (aparência) não pode ser atribuída à totalidade, ela apenas faz parte de uma realidade muito mais complexa do que vemos, o invisível (ou aquilo que ainda não foi escancarado). O território do agronegócio vive de sua aparência, porque a sua essência é não se explicar, é ser uma propaganda ambulante de si mesmo e do seu “bem”. Esse projeto publicitário, que envolve a imprensa corporativista, tenta convencer a sociedade de que o desmatamento histórico – agora mais evidente na área da Fronteira Legal da Amazônia –, as queimadas, os agrotóxicos, os transgênicos e a exploração do trabalhador urbano e rural não são resultados do sistema do agronegócio. Dessa forma ele propõe o discurso de que tem procurado se estabelecer “sustentável”.

(…) Em Ribeirão Preto [a capital do agronegócio brasileiro] o agronegócio de cana destruiu toda sua proteção florestal para fazer seus “mares” de cana, expulsou o campesinato do campo para a cidade, acabando com a diversidade que prevaleceu até os anos 1960. Impediu todos os planos de implantação de outras indústrias e brigou ferozmente para comprometer os sindicatos e não deixar o MST se organizar…

Leia a entrevista publicada em Notícias: IHU On-Line. Reproduzida também em Carta Maior.

Pesquisa demonstra a pobreza gerada com o avanço do agronegócio

Uma pesquisa de mestrado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) mostrou que existe uma relação entre a expansão de atividades do agronegócio e o crescimento da pobreza em áreas específicas do estado de São Paulo. Segundo o estudo, regiões reconhecidas pela força agroindustrial estão passando por um processo de concentração de renda, de terras e de pobreza.

A reportagem é de Aline Scarso e publicada pelo Brasil de Fato, 17/12/2012.

O levantamento sinaliza ainda que o agronegócio aproveita a vulnerabilidade das regiões para se instalar e criar raízes. Intitulado São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre camponeses e ruralistas de 1988 a 2009, o estudo é do pesquisador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (Nera), Tiago Cubas. Ele trabalha com dados como o Índice de Pobreza Relativa, Índice de Gini e de Concentração de Riqueza para revelar uma situação de contradição.

Hoje a população rural do estado é de 1,7 milhões de habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1980 era de 2,9 milhões. De acordo com a pesquisa, a região do entorno da cidade de Ribeirão Preto, a chamada Califórnia Brasileira, é uma das que mais aumentaram o abismo econômico entre a população durante os anos de 1988 a 2009. Situação semelhante também ocorreu no entorno das cidades de Araraquara e Campinas e nas regiões do Pontal do Parapanema – principalmente no entorno dos municípios de Presidente Prudente e Araçatuba, e do Vale do Ribeira, entorno do litoral sul paulista e de Itapetininga (veja mapa abaixo). Dos 645 municípios paulistas cadastrados para mapeamento, apenas 228 municípios conseguiram amenizar a intensidade da pobreza no período pesquisado. No restante, a miséria aumentou.

O autor mostra que as regiões onde isso ocorreu são espaços do desenvolvimento do agronegócio, especialmente da monocultura da cana-de-açúcar. É o caso da Região da Alta Mogiana (Ribeirão Preto, Araraquara e Campinas), onde a cana é preponderante. A área do Pontal do Parapanema, tradicionalmente reduto da pecuária no estado paulista, também sofreu com a expansão da monocultura. “Isso pode significar que o agronegócio escolhe as áreas mais vulneráveis para se instalar e, assim por diante, acirrar as desigualdades sociais e degradar o meio ambiente”, explica o pesquisador.

Leia o texto completo, reproduzido também em Notícias: IHU On-Line e na Carta Maior em 18/12/2012.

O obscurantismo cultural e científico está vivo

Por incrível que pareça, estamos atravessando, neste início do século 21, uma onda de obscurantismo cultural e científico sem precedentes. Ela tem origem, principalmente, nos Estados Unidos, mas está se propagando pelo restante do mundo. Ao mesmo tempo em que os físicos estão conseguindo desvendar os mistérios da natureza com a descoberta do bóson de Higgs – “a partícula de Deus” -, a cientologia avança nos Estados Unidos e a teoria da evolução de Darwin é questionada nas escolas de vários Estados daquele país. Algumas dessas crenças têm origem em pequenos grupos religiosos retrógrados que exploram a boa-fé de pessoas de baixo nível educacional, mas outras têm claramente motivações mais perversas e até interesses comerciais. A cientologia, em particular, é considerada uma religião nos Estados Unidos, sendo, portanto, isenta do pagamento de impostos. Alguns de seus ensinamentos atingem o nível do absurdo ao afirmarem que bilhões de seres de outras galáxias se apossaram dos seres humanos há dezenas de milhões de anos, quando ainda nem havia seres humanos, e continuam neles até hoje.

Quem diz isso é o físico José Goldemberg em artigo publicado em O Estado de S. Paulo em 20/08/2012, aqui citado a partir de Notícias: IHU On-Line, de 22/08/2012.

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Rio+20: a fraqueza teórica do documento final

Insuficiências conceptuais da Rio+20 – Leonardo Boff: 01/07/2012

“Não corresponde à realidade dizer que a Rio+20 foi um sucesso. Pois não se chegou a nenhuma medida vinculante nem se criaram fundos para a erradicação da pobreza nem mecanismos para o controle do aquecimento global. Não se tomaram decisões para a efetivação do propósito da Conferência que era criar as condições para o “futuro que queremos”. É da lógica dos governos não admitirem fracassos. Mas nem por isso deixam de sê-lo. Dada a degradação geral de todos os serviços ecossistêmicos, não progredir significa regredir.

No fundo, afirma-se: se a crise se encontra no crescimento, então a solução se dá com mais crescimento ainda. Isso concretamente significa: mais uso dos bens e serviços da natureza o que acelera sua exaustão e mais pressão sobre os ecossistemas, já nos seus limites. Dados dos próprios organismos da ONU dão conta que de desde a Rio 92 houve uma perda de 12% da biodiversidade, 3 milhões de metros quadrados de florestas foram desmatados, 40% mais gases de efeito estufa foram emitidos e cerca da metade das reservas de pesca mundiais foram exauridas.

O que espanta é que o documento final e o borrador não mostram nenhum sentido de autocrítica. Não se perguntam por quê chegamos à atual situação, nem percebem, claramente, o caráter sistêmico da crise. Aqui reside a fraqueza teórica e a insuficiência conceptual deste e, em geral, de outros documentos oficiais da ONU. Elenquemos alguns pontos críticos”.

Leia o texto completo.

Este artigo pode ser lido também em Notícias: IHU ou na Carta Maior.

E não se esqueça do alerta de Leonardo: Se a humanidade não definir outra maneira de habitar a Terra – esse era o clamor da Cúpula dos Povos, os representantes da sociedade civil mundial – não sairemos da presente crise. Na pior das hipóteses, a Terra poderá continuar mas sem nós.

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Rio+20 no Observatório Bíblico

Entrevista com Mike Davis sobre a Rio+20

Antes do dilúvio. Entrevista com Mike Davis

Florescem cenários apocalípticos nas críticas do urbanista norte-americano Mike Davis, para quem o futuro está sendo gestado em megalópoles convulsionadas. E será um futuro noir, solapado por catástrofes superlativas, guerras e pandemias de toda sorte. “A Rio+20 tem tanta chance de salvar o mundo como uma convenção de entusiastas do esperanto”, ironiza o também historiador e fundador da New Left Review. A entrevista é de Juliana Sayuri e Ivan Marsiglia e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 17/06/2012. Reproduzida por Notícias: IHU 18/06/2012. Autor de Cidades Mortas, Ecologia do Medo e Holocaustos Coloniais (Editora Record), Apologia dos Bárbaros, Cidade de Quartzo e Planeta Favela (Boitempo Editorial), Michael Ryan Davis cresceu no deserto californiano de El Cajon, foi aprendiz de açougueiro, caminhoneiro e militante estudantil. Atualmente, leciona na Universidade da Califórnia, em Riverside.

Alguns trechos da entrevista:

:: Qual é sua expectativa para a Rio+20?
A Conferência tem tanta chance de salvar o mundo como uma convenção de entusiastas do esperanto ou um encontro de seguidores de Zoroastro. Há sérios pontos para discutir na Rio+20, mas a épica batalha sobre a mudança climática e o desenvolvimento sustentável foi irremediavelmente perdida na esfera da política internacional. Para os futuros historiadores não será difícil aquinhoar a responsabilidade. Mesmo que todos os países ricos compartilhem alguma culpa, alguém apertou o gatilho. O Protocolo de Kyoto foi assassinado no berço pelo Texas – isto é, pelo Partido Republicano norte-americano e os bilionários do petróleo de Houston que o financiam. Os democratas, por sua vez, lamentaram brevemente a morte de Kyoto e, em seguida, discretamente enterraram o aquecimento global como uma questão de campanha. A ausência do presidente Barack Obama no Rio é um sinal de que a mudança climática – questão de vida e morte para grande parte da humanidade – tornou-se órfã.

:: Então a crise financeira de 2008 selou o destino da causa ambiental?
No caso dos EUA, os resultados foram perversos. Inicialmente, os preços astronômicos do petróleo e a necessidade de um estímulo keynesiano parecia apontar para um boom na energia renovável e tecnologias ambientalmente eficientes. Mas foi o combustível fóssil que se renovou com o boom de tar sands (a mais suja fonte de petróleo) de Alberta e os depósitos de gás nas rochas de Pensilvânia. Ao mesmo tempo, o maior empreendimento da administração de Obama em parcerias público-privadas para a indústria de energia alternativa, uma concessão de US$ 500 milhões para energia solar, foi um fiasco por causa da competição chinesa. A depressão americana deu ao lobby “negador” – a campanha de relações públicas com falsos experts para negar a ideia de aquecimento global – e ao lobby antiambientalista, nova vida no Partido Republicano. Romney é um “cético” renascido na mudança climática enquanto alguns de seus oponentes, como Michelle Bachmann, de Minnesota, são oponentes diretos da ciência moderna per se. Assim, a opinião pública dos EUA mudou drasticamente em direção ao ceticismo sobre o aquecimento global.

:: Seu livro Evil Paradises fala de ‘utopias’ bem diversas dessa que acaba de descrever.
Vivemos uma separação sem precedentes entre muito ricos e o restante da humanidade. Seja encastelados em arranha-céus militarizados, metidos em murados subúrbios de luxo ou em paraísos artificiais como Dubai, os 1% mais ricos desistiram de qualquer pretensão de existência compartilhada com o resto de nós. Mas no fim das contas a segurança desses “off worlds”, como são chamados no filme Bladerunner, é puramente ilusória. Vírus e bactérias incubadas nas imundas e superlotadas metrópoles viajam de primeira classe nos aviões…

:: A globalização reduziu as possibilidades de ação de Parlamentos e chefes de Estado na administração da economia mundial?
A crise europeia transformou-se em uma autópsia pública da globalização em sua forma mais radical. Ela mostrou a dificuldade de se superar desequilíbrios estruturais entre grandes economias – mesmo com as mais ousadas tentativas de regulação supranacional da crise. Doutores do FMI, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu (BCE) alertaram que a prosperidade europeia só pode ser salva por uma integração fiscal e política drástica, pela criação de um genuíno “Estados Unidos da Europa”. Mas a atual vantagem comparativa econômica alemã em produtividade e custos do trabalho inviabilizam isso. De um lado, os contribuintes alemães não aceitam sustentar o bem-estar social de gregos e espanhóis. De outro, seria uma humilhação e rendição das soberanias nacionais em troca de benefícios hipotéticos após longos ajustes de austeridade. Os chamados fundos de resgate oferecidos são basicamente um programa para evitar prejuízos aos bancos do norte. Na Grécia, por exemplo, os empréstimos do BCE foram basicamente usados para transferir o risco de bancos estrangeiros para a Grécia e contribuintes europeus. Na Irlanda e na Espanha, transformaram perdas bancárias em dívida pública. Uma vez que os grandes bancos têm sempre prioridade nos botes salva-vidas – enquanto mulheres e crianças ficam por último -, austeridade e dívida vão continuar em uma espiral fora de controle. Essa política está condenando os EUA e a Europa a uma estagnação que já faz lembrar a “década perdida” da América Latina nos anos 1980. Poderão a China e os outros Brics continuarem a crescer em meio a essa depressão? Pergunte aos bancos chineses…

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Fonte: Notícias: IHU 18/06/2012