Querida Amazônia

A Amazônia querida apresenta-se aos olhos do mundo com todo o seu esplendor, o seu drama e o seu mistério.

“Querida Amazônia”: o sonho de Francisco por um mundo melhor – IHU: 12 fevereiro 2020

Em uma entrevista publicada recentemente no jornal Le Monde, Davi Kopenawa, o grande líder do povo Yanomami, e uma das vozes mais influentes entre os povos originários da Amazônia, disse que “os brancos estão destruindo a Amazônia porque não sabem sonhar”. No entanto, “Querida Amazônia” nos mostra que há um branco, que também se veste de branco, que sabe e quer sonhar, que quer que o mundo e a Igreja sonhem, fazê-lo a partir de sua “Querida Amazônia”, pela que tanto ele tem se interessado desde o início de seu pontificado. A análise é do missionário Luis Miguel Modino.

Ousaria dizer que Francisco é um papa que assumiu o universo indígena como seu. Não devemos esquecer que, nas visões de mundo dos povos originários, os sonhos são algo que determina a vida cotidiana. Para os povos indígenas, sonhar não é uma questão de pessoas que vivem em outro mundo, mas daquelas que trazem a este mundo o que está marcando o curso da vida.

Os sonhos do Papa Francisco nos levam a diferentes dimensões, que fazem parte da vida do ser humano: um sonho social, um sonho cultural, um sonho ecológico e um sonho eclesial. São sonhos que incluem tudo o que foi vivenciado no processo sinodal e que ajudarão a tecer novas relações sociais, culturais, ecológicas e eclesiais, provenientes da periferia e que atingiram o centro do debate e da vida eclesial e social. O cuidado da casa comum tornou-se uma preocupação comum, dentro e fora da Igreja, e o Papa Francisco tem sido um ator fundamental e decisivo.

Estamos diante de um documento que coleta e valoriza aqueles que participaram do processo sinodal e o Documento Final da assembleia, que o Papa Francisco convida a ler e, entende-se, assumir. Desde o início, podemos dizer que os sonhos são uma maneira de dizer à Igreja e às pessoas de boa vontade, o diagnóstico que foi desenvolvido ao longo de todo o processo sinodal, algo em que ele sempre insistiu, para examinar os diagnósticos e são nas coisinhas.

Seu diagnóstico parte do comum a todos, o sonho social, para alcançar o específico, o sonho eclesial, passando pelo cultural e pelo ecológico (continua).

 

Os sonhos do papa para a sua Querida Amazônia. Artigo de Adelson Araújo dos Santos, SJ – IHU: 12 fevereiro 2020

A primeira coisa que salta aos olhos de quem lê a exortação apostólica pós-sinodal do Papa Francisco a respeito do Sínodo sobre a Amazônia é o seu título, com a impactante frase: “Querida Amazônia”. Isto parece indicar que a mensagem que o sucessor de Pedro deseja passar desde o início da sua exortação aos povos e às igrejas da Amazônia é que eles são queridos, amados pelo Papa, como também todas as demais criaturas de Deus ali presentes, isto é, toda a sua biodiversidade. E é este amor, esse “querer bem”, que o fez tomar iniciativas como a convocação de um sínodo especial sobre aquela região, conclamando os católicos do mundo inteiro, junto com as pessoas de boa vontade, a cuidar bem desta parte vital do planeta, seguindo o exemplo do próprio Senhor Jesus, “que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar de nossos irmãos e irmãs e do ambiente que Ele nos dá todos os dias”. Porque, quem ama, cuida.

Logo em seguida, o leitor se depara com outra surpresa preparada pelo Papa, isto é, ao invés de apresentar conclusões teóricas ou se deter somente em propostas de ação concretas sobre a Amazônia, ele prefere compartilhar conosco quatro sonhos sobre a sua querida Amazônia: Um sonho social; Um sonho cultural; Um sonho ecológico e um sonho eclesial. Parece-nos importante indagar, então, sobre o conteúdo desses sonhos e o valor teológico que ocupam no documento que estamos agora a conhecer (continua).

 

“A floresta amazônica é como o “coração biológico” da Terra. O planeta (pelo menos, o planeta que conhecemos) não pode viver sem a Amazônia” – IHU: 13 fevereiro 2020

Francisco e Lula em 13 de fevereiro de 2020 - Foto: Ricardo Stuckert
Lula: A razão da minha vinda à Itália foi discutir com o papa Francisco a questão da desigualdade social e da sua luta em defesa de uma boa política ambiental

“O modelo extrativo dominante tem trazido resultados calamitosos, causando estragos na Amazônia e a seus povos. A fim de avançar e reverter este modelo destrutivo-extrativista, precisamos urgentemente abraçar uma terceira via, um caminho que cultive a Amazônia sem destruí-la, um caminho que trabalhe com a população local sem a colonizar (cf. QA, 28), um caminho que conjugue as culturas ancestrais indígenas com as técnicas contemporâneas”, afirmou Carlos Nobre, cientista brasileiro, ao apresentar, em Roma, a Exortação Apostólica “Querida Amazônia”.

Segundo ele, “a comunidade científica está ansiosa para ver os sonhos sociais, culturais, pastorais e ecológicos do papa virarem realidade. Com os povos originários sendo os protagonistas deste novo caminho, com a riqueza da diversidade cultural e biológica da região, e com os católicos mobilizando-se para promover a inclusão e a sustentabilidade, os novos modelos de produção que cuidam da Amazônia poderão acontecer, e os sonhos do Papa Francisco tornar-se-ão realidade”. O artigo é publicado por Sala de Imprensa da Santa Sé, 12-02-2020.

Na qualidade de cientista que trabalha na área da ecologia há mais de 35 anos, especialmente nas questões ecológicas da região amazônica, dou as boas-vindas à exortação do Papa Francisco Querida Amazônia (QAm). Claro está que tanto a exortação quanto o Documento Final do Sínodo dos Bispos, a que a exortação faz referência (cf. QAm, 2, 3), têm inspiração na encíclica Laudato Si’: Sobre o cuidado da casa comum (2015). Alguns bispos, como o Cardeal Pedro Barreto, do Peru, têm chamado este sínodo de o “filho da Laudato Si’”. A presente exortação apostólica pode bem ser a filha de Laudato Si’ (continua).

 

Dom Leonardo Steiner: “Virou moda chamar de comunista. Falar de democracia virou comunismo” – Thais Reis Oliveira – CartaCapital: 12 de fevereiro de 2020

Transferido à Amazônia após oito anos na cúpula da CNBB, Dom Leonardo Steiner promete não se omitir diante do governo

“Estamos tentando governar o País na base de notícias falsas, da agressividade, da violência. Isso não constrói um Brasil. (…).” A afirmação não foi ouvida em nenhum plenário ou palanque, mas do altar. Mais precisamente, na missa que consagrou Dom Leonardo Steiner, ex-secretário-geral da CNBB, o novo arcebispo de Manaus. Depois de oito anos ocupando o cargo de mais destaque da conferência, o catarinense promete manter neste novo capítulo o tom combativo que marcou sua trajetória até aqui.

Sua chegada é vista como um contraponto à apatia que tomou conta da CNBB desde as últimas eleições, em maio. Embora a temida guinada à direita não tenha se concretizado, a conferência tem moderado o tom crítico ao governo. Prevaleceu nos bastidores a tese de que uma reação aguda daria ao bolsonarismo um ‘inimigo ideal’. (Leia a reportagem completa de CartaCapital aqui).

De formação franciscana, Steiner é discípulo de Dom Pedro Casaldáliga, o ‘bispo do povo’. Também mantém proximidade de dom Claudio Hummes, o cardeal brasileiro que mais influencia o papa Francisco. Fora da cúpula da CNBB, pediu à Santa Sé transferência para a Amazônia — é o quarto franciscano que, desde o Sínodo, assumiu dioceses naquela região.

O bispo defende uma aproximação dos católicos com a política. “Nesse momento, precisamos de pessoas lúcidas“. Sobre a pecha de ‘comunista’ que muitas vezes recai sobre a CNBB, retruca: “A CNBB teve e tem um papel fundamental na sociedade brasileira, apesar do desejo de que ela se cale. A grande maioria não leu Marx.”

Em entrevista a CartaCapital, ele fala sobre o novo ofício e as similitudes entre política e religião (continua).

 

A íntegra da Exortação Apostólica “Querida Amazônia” pode ser lida aqui.