Enuma Elish ou poema babilônico da criação?

SERI, A. The Role of Creation in Enuma Elish. Journal of Ancient Near Eastern Religions, v. 12, p. 4-29, 2012.

A caracterização do Enuma Elish como “O” poema babilônico da criação é resultado da história intelectual da assiriologia. A história começou em Londres em 1872, quando George Smith leu diante de uma seleta plateia, que incluiu o primeiro-ministro britânico William Gladstone, a primeira tradução da Narrativa Caldeia do Dilúvio. No ano seguinte, o editor do London Daily Telegraph, Edwin Arnold, ajudou Smith a visitar as ruínas da antiga Nínive e encontrar os fragmentos para completar a história babilônica do dilúvio. Em 1873, o mesmo jornal anunciou a descoberta feita por George Smith da Narrativa Caldeia do Gênesis, que foi publicada sob o mesmo título três anos mais tarde, em 1876. Após o impacto da história do Dilúvio Caldeu, chamar o Enuma Elish de O Gênesis Caldeu deve ter parecido natural, pois esta foi a primeira vez na história moderna que textos precursores das narrativas do Antigo Testamento foram encontrados.

A maioria dos assiriólogos concorda que o título Epopeia ou Poema da Criação é inadequado. Mas eles também admitem que as palavras iniciais Enuma Elish (literalmente, “Quando acima”) são obscuras para um público não especializado. Além disso, o título moderno não é totalmente adequado porque, quando considerado em sua totalidade, torna-se evidente que o Enuma Elish foi composto para justificar a instalação de Marduk como chefe do panteão mesopotâmico, desbancando o deus Enlil. Embora exista um consenso sobre o objetivo final da composição, é inquestionável que o tema da criação – ou melhor a recorrência de múltiplas criações – ocupa um lugar fundamental no poema. Neste artigo, exploro as várias criações entrelaçadas no enredo do Enuma Elish e as razões pelas quais a criação como topos literário é fundamental para a narrativa.

 

The characterization of Enūma eliš as “The” Babylonian Poem of Creation is a result of the intellectual history of Assyriology. The story began in London in 1872 when George Smith read before a distinguished audience which included the British Prime Minister William Gladstone the first translation of the Chaldean Account of the Great Flood (Hoberman 1983). The following year the editor of the London Daily Telegraph, Edwin Arnold, helped Smith visit the ruins of ancient Nineveh (modern Kuyunjik) and find the fragments to complete the Babylonian flood story. In 1873 the same newspaper announced George Smith’s discovery of The Chaldean Account of Genesis, which was published under the same title three years later (Smith 1876). After the sensation of the Chaldean Flood story, dubbing Enūma eliš The Chaldean Genesis must have seemed natural, for this was the first time ever in modern history that forerunners of Old Testament narratives were found.

Most Assyriologists agree that the title Epic or Poem of Creation is misleading. But they also concede that the incipit enūma eliš (literally, “When above”) is obscure for a non-specialized audience. The modern title is not fully suitable because, when considered in its entirety, it becomes apparent that Enūma eliš was composed to justify the installation of Marduk as the head of the Mesopotamian pantheon by displacing the god Enlil. Although there is a consensus about the ultimate goal of the composition, it is unquestionable that the theme of creation—or better the recurrence of multiple creations—occupies a fundamental place in the poem. In this paper I explore the various creations interwoven in the plot of Enūma eliš and the reasons why creation as a literary topos is central to the narrative.

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