Ele veio com a clareza de um trovão numa planície qualquer. Cruzou o mundo num tuíte retuitado 14 mil vezes num único dia. Veio apenas duas horas depois dos últimos aplausos na Praça de São Pedro que deram fim à cerimônia de canonização dos santos João XXIII e João Paulo II.
Foi como se o Papa Francisco estivesse nos dizendo aonde precisamos ir, como igreja e como família humana, caso queiramos seguir um curso moral. É lá fora, entre os pobres e despossuídos do mundo. É lá onde encontramos a salvação.
Num tuíte de poucas palavras ele disse: “A desigualdade é a raiz dos males sociais”.
Vivemos um momento sem precedentes. Temos um pontífice que possui um grande apreço por questões globais e pela família humana, por seus anseios e falhas, como ninguém antes. Este é o nosso primeiro papa do sul global. Ao mesmo tempo, o seu cenário é amplo; a sua voz, clara; sua entrega, simples; sua autoridade, inatacável; seu domínio na comunicação, poderoso como o último celular lançado.
É claro, muitos não podem ouvir. Para uns, a mensagem é simples demais para se prestar atenção. Alguns, por exemplo, da direita política, foram rápidos no criticar o tuíte papal. Suas palavras, disseram eles, foram enigmáticas, demasiado simplistas, até mesmo ingênuas, incapazes de entender a economia moderna.
O que eles veem – e temem – é um papa que tem uma voz moral com uma vantagem política.
Como se fosse para fortalecer a pungência do momento, as palavras do Papa Francisco vieram ao mesmo tempo em que o novo livro do economista francês Thomas Piketty – “Capital in the Twenty-First Century” [O capital no século XXI] – estava aparecendo em todas as listas de best-sellers. Este tratado bem documentado, de 700 páginas, sustenta que o capitalismo deste século está numa viagem só de ida em direção a uma maior desigualdade. A nós é dado a certeza de uma desigualdade maior nas próximas décadas – isso sem uma grande intervenção política. Piketty não está sugerindo o descarte do capitalismo. Diz que este sistema pode funcionar para todos, mas que precisa de sérios ajustes…
Leia o texto completo.
Fonte: Editorial do National Catholic Reporter – NCR, de 07/05/2014, em Notícias: IHU On-Line 09/05/2014
O texto original, em inglês:
Editorial: Pope’s tweet on inequality points to moral course – NCR Editorial Staff – May. 7, 2014
It came with the clarity of a thunderclap on a Kansas plain. It shot across the world in a tweet retweeted 14,000 times within a day. It followed by only hours the last fading cheers on St. Peter’s Square ending the canonization ceremony of Sts. John XXIII and John Paul II.
It was as if, history now behind him, Pope Francis was telling us where we have to go, as a church and human family, if we are to follow a moral course. It’s out there among the poor and dispossessed of the world. That’s where we find salvation.
Declared Francis in a seven-word tweet: “Inequality is the root of social evil.”
We live in an unprecedented time. We have a pontiff who has a fix on global issues and the human family, its longings and failings, as none other before him. This is our first pope from the global South. Meanwhile, his stage is vast; his voice clear; his delivery simple; his authority unassailable; his mastery of communication keen as the latest cellphone.
Of course, not everyone can listen. For some the message is simply too much to take. Perhaps it will take time. Some, for example, on the political right were quick to pooh-pooh Francis’ tweet. His words, they said, were puzzling, too simplistic, even naive, incapable of understanding modern economics.
What they see — and fear — is a pope who has a moral voice with a political edge. The storm will only get larger…