O desenvolvimentismo de esquerda

O ‘desenvolvimentismo de esquerda’ – José Luís Fiori: Carta Maior 01/03/2012

Neste início do século XXI, parece que o “desenvolvimentismo de esquerda” estreitou tanto o seu “horizonte utópico”, que acabou se transformando numa ideologia tecnocrática, sem mais nenhuma capacidade de mobilização social. Como se a esquerda tivesse aprendido a navegar, mas ao mesmo tempo tivesse perdido a sua própria bússola.

Leia o texto completo.

Agenda socioambiental e indígena: Descaso, omissão e negligência

“Às vésperas da Rio+20, o descaso com que o governo vem tratando a agenda socioambiental, é prova contundente de que o país se coloca de costas para a problemática e caminha na contramão do debate mundial. Aos poucos vai se sedimentando a percepção de que o governo brasileiro, apesar da retórica quando fala dos temas do meio ambiente, não percebe, ou não quer perceber, que é um dos poucos países que poderia oferecer uma alternativa à crise civilizacional ancorada, sobretudo, na crise climática.

O debate nesses dias em torno da votação final das alterações no Código Florestal coloca a nu a subordinação da agenda socioambiental à agenda econômica e política. Por um lado, vê-se o modelo neodesenvolvimentista atropelando os cuidados mínimos que o país deveria ter para com a questão ambiental e, por outro, o pragmatismo a qualquer custo que, para manter o governo de coalizão, faz com que o governo ceda até mesmo no essencial.

No debate ambiental o governo não peca por omissão. É ainda mais grave. É conivente, negligente e leniente com o retalhamento dos temas que envolvem a agenda ambiental. O governo trata o tema como um aborrecimento que lhe cria problemas e divide a sua base de apoio político.

O mesmo pode-se dizer da questão indígena, especialmente do tratamento dado aos Kaiowá-Guarani, no Mato Grosso do Sul. Os indígenas encontram-se abandonados à própria sorte. A inércia do governo é estarrecedora. Não se vê nenhuma iniciativa incisiva do Executivo, e no campo do Judiciário, os indígenas sempre perdem. Assiste-se a um clima generalizado de demora, passividade, apatia e omissão quando se trata de enfrentar os fortes interesses do agronegócio na região. E mais grave ainda, há tentativas legais que, caso se efetivem, podem representar retrocessos no tratamento dado à questão indígena em nosso país. O deslocamento do “Estado brasileiro” à região ocorre apenas quando acontecem mortes, e as reiteradas promessas redundam apenas em promessas.

As agendas indígena e socioambiental se transformaram em temas desagradáveis que o governo trata com dissabor e contrariedade, uma vez que criam obstáculos ao seu modelo desenvolvimentista ou lhe trazem problemas junto aos outros países.

Na agenda do governo, os temas prioritários são os econômicos e sociais. Os problemas ambientais e indígenas são laterais, secundários. Estorvos que vira e mexe voltam à tona e que precisam ser administrados para evitarem maiores danos à base política. Eventuais recuos do governo em relação ao atropelamento da agenda ambiental e indígena apenas se dão quando há forte pressão do movimento social e ambientalista ou devido ao mal-estar junto à comunidade internacional.

A agenda ambiental e a agenda indígena não são estratégicas no governo Dilma Rousseff, não se inserem no projeto de Nação. Não se vê por parte do governo iniciativas ousadas nessas áreas, pelo contrário, a agenda governamental é reativa e subordinada aos setores conservadores como se vê no debate do Código Florestal que tomou conta do debate político no país nesses dias”.

Esta é apenas a introdução. Leia o texto completo.

O texto faz pensar. Mas também faz pensar, com preocupação e restrição, que as suas fontes na mídia são, principalmente, O Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo.

Fonte: IHU: Análise da conjuntura da semana – 12 de março de 2012

Silberman estará na Unicamp em maio

Em novembro do ano passado noticiei aqui no blog: Neil Asher Silberman virá ao Brasil em 2012.

Hoje, Cássio Murilo Dias da Silva, de Campinas, enviou mais informações sobre a vinda de Silberman em maio próximo.

O comunicado da Unicamp diz:

O Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (NEPAM/Unicamp) tem o prazer de anunciar a vinda do arqueólogo Neil Silberman à Unicamp, em maio de 2012. Arqueólogo docente da Universidade de Massachusetts (Amherst), Silberman é referência internacional nos estudos relacionados ao Patrimônio, à Memória, à Arqueologia Pública, à Arqueologia Bíblica e e aos usos da História e da Arqueologia na construção do passado. O professor estará na Unicamp entre os dias 21 de maio e 3 de junho de 2012, onde ministrará o curso “Usos políticos da Arqueologia” e palestras ligadas aos seus temas de pesquisa. Para maiores informações acerca do evento, assim como inscrições e visualização do calendário de atividades, acesse a página do site do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte. A equipe do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte e os seus professores e pesquisadores esperam ansiosos pela sua participação!

Na página do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte leio:

Cultura Material e História Cultural: uma abordagem participativa e cooperativa

Evento organizado pela equipe do Laboratório de Arqueologia Pública Paulo Duarte (NEPAM/Unicamp), constituído por ciclos de palestras e cursos, ocorrerá entre os dias 22 e 25 de maio de 2012. Com apoio da PRP/FAEPES e FAPESP, as atividades ministradas pelo Prof. Neil Silberman, seguirão o seguinte calendário:

:: De 22 a 25 de maio de 2012, das 09h00 às 12h00: Curso Usos políticos da Arqueologia – Auditório 1, IFCH

:: Dia 23 de maio das 14h00 às 16h00: Palestra Memória e Patrimônio – Auditório 1, IFCH

:: Dia 24 de maio das 14h00 às 16h00: Palestra Arqueologia Pública – Auditório 1, IFCH

Sobre as atividades
Curso “Usos políticos da Arqueologia”: constituído por quatro encontros de 3 horas de duração (totalizando 12 horas de curso). Os encontros serão compostos por uma parte expositiva (cerca de 1 hora) e, em seguida, discussões de textos selecionados e disponibilizados pelo professor. Palestras “Memória e Patrimônio” e “Arqueologia Pública”: voltadas a estudantes de graduação e pós-graduação, terão 2 horas de duração.

Inscrições
Para a participação no evento e recebimento de certificados é necessário inscrição prévia. As inscrições estão abertas entre os dias 5 de março e 13 de maio de 2012 através de email. No ato de inscrição os interessados devem informar nome completo, instituição, formação e atividades do evento das quais desejam participar. Eventuais dúvidas devem ser enviadas ao mesmo endereço de email.

Sobre Silberman
A importância internacional de Neil Asher Silberman nos estudos referentes ao patrimônio, a memória e aos usos da História e da Arqueologia na construção do passado é substancial. Silberman é vinculado ao Comitê Científico Internacional do ICOMOS, organização civil internacional ligada à UNESCO, voltada ao aconselhamento no que se refere ao tombamento de bens que receberão o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Entre os anos de 2000 e 2007, Silberman atuou… (leia o texto completo, assinado por Gabriela Barbosa Rodrigues – Ruprecht-Karls-Universität Heidelberg / LAP – Unicamp).

Resenhas na RBL: 29.02.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Katharine Dell, ed.
Ethical and Unethical in the Old Testament: God and Humans in Dialogue
Reviewed by Walter Brueggemann

Georg Fischer
Der Prophet wie Mose: Studien zum Jeremiabuch
Reviewed by Bob Becking

Robert F. Hull Jr.
The Story of the New Testament Text: Movers, Materials, Motives, Methods, and Models
Reviewed by Larry W. Hurtado
Reviewed by Jean-François Racine

David Instone-Brewer
Feasts and Sabbaths: Passover and Atonement
Reviewed by Joshua Schwartz

Thomas Richard Kämmerer, ed.
Studien zu Ritual und Sozialgeschichte im Alten Orient/Studies on Rituals and Society in the Ancient Near East: Tartuer Symposien 1998-2004
Reviewed by Gerhard Karner

Jennifer L. Koosed
Gleaning Ruth: A Biblical Heroine and Her Afterlives
Reviewed by Helen Leneman

Peter Oakes
Reading Romans in Pompeii: Paul’s Letter at Ground Level
Reviewed by Richard A. Wright

Mark Allan Powell, ed.
Methods for Matthew
Reviewed by Daniel A. Smith

Michael Tait and Peter Oakes, eds.
Torah in the New Testament: Papers Delivered at the Manchester-Lausanne Seminar of June 2008
Reviewed by William Loader

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Resenhas na RBL: 23.02.2012

As seguintes resenhas foram recentemente publicadas pela Review of Biblical Literature:

Reinhard Achenbach and Martin Arneth, eds.
»Gerechtigkeit und Recht zu üben« (Gen 18,19): Studien zur altorientalischen und biblischen Rechtsgeschichte, zur Religionsgeschichte Israels und zur Religionssoziologie: Festschrift für Eckart Otto zum 65. Geburtstag
Reviewed by John Engle

Paul N. Anderson
The Riddles of the Fourth Gospel: An Introduction to John
Reviewed by Cornelis Bennema

Blane Conklin
Oath Formulas in Biblical Hebrew
Reviewed by Yael Ziegler

Esther J. Hamori
“When Gods Were Men”: The Embodied God in Biblical and Near Eastern Literature
Reviewed by Michael B. Hundley

André LaCocque
The Captivity of Innocence: Babel and the Yahwist
Reviewed by Richard S. Briggs

Michael R. Licona
The Resurrection of Jesus: A New Historiographical Approach
Reviewed by Daniel A. Smith

Jonathan Wyn Schofer
Confronting Vulnerability: The Body and the Divine in Rabbinic Ethics
Reviewed by Phillip Sherman

Adiel Schremer
Brothers Estranged: Heresy, Christianity, and Jewish Identity in Late Antiquity
Reviewed by Peter J. Tomson

Christopher D. Stanley, ed.
The Colonized Apostle: Paul in Postcolonial Eyes
Reviewed by Matthew Forrest Lowe

Robert Titley
A Poetic Discontent: Austin Farrer and the Gospel of Mark
Reviewed by Richard Pervo

>> Visite: Review of Biblical Literature Blog

Milton Schwantes: mais depoimentos

:: Milton Schwantes. Pés comprometidos na caminhada pela justiça – Noticias: IHU 03/03/2012
“O trabalho e testemunhos comprometidos da leitura contextual da Biblia é reconhecido e tem servido de norteador nas discussões e agendas no movimento ecumênico e nas organizações internacionais, como a Federação Luterana Mundial, onde atualmente trabalho”, afirma a Rev Dr Elaine Neuenfeldt – Secretary for Women in Church and Society – WICAS – The Lutheran World Federation – a Communion of Churches – Geneva – Switzerland, em depoimento dado sobre a vida e o trabalho de Milton Schwantes.

:: Milton Schwantes. Uma vida doada por uma causa de Vida em Plenitude – Notícias: IHU 03/03/2012
“A trajetória histórica de Milton, nesta terra, é simplesmente uma vida doada por uma causa de Vida em Plenitude”, diz Lúcia Weiler, Irmã da Divina Providência, integrante da Equipe Teológica da Conferência dos Religiosos da América Latina – Clar.

:: Milton: Federação Luterana Mundial envia saudação – CEBI: 02/03/2012
A Federação Luterana Mundial (FLM) enviou carta de condolências, em nome do secretário geral, Reverendo Martin Junge. A Federação Luterana Mundial expressa gratidão pela vida e testemunho do professor Schwantes. Suas contribuições acadêmicas e sua vasta produção teológica são um legado que não só será guardado com muito cuidado em nossas comunidades, mas principalmente, será memória viva do seu testemunho cristão comprometido com as pessoas marginalizadas, por justiça e vida digna para todas as pessoas. Suas contribuições e seu testemunho no mundo são múltiples.

:: Milton Schwantes. Impressões, Aprendizados e Compromissos – Fábio Py Murta Almeida: Adital 01/03/2012
Como pastor, sempre esteve atento as necessidade das suas comunidades, atento às questões principalmente das favelas e das roças. Como professor, sempre estava atento aos alunos, mas, mais com a forma com que os alunos percebiam a vida, sempre disposto a lutar para a conscientização deles. Como intelectual, analisava o passado para entender o presente. Nesse caso, o presente era fonte de reflexão e engajamento, circulando por horas nos setores das classes medias de São Paulo, mas seu apreço principal era junto os setores populares, isto é, entre organismos como MST e as CEB’s. Sempre analisando, se posicionando e articulando a sistemática da sociedade, com o olhar direcionado à organicidade desta. Fez-se, como Antonio Gramsci teoriza no seu processo revolucionário, um “intelectual orgânico”.

Profecia e esperança: um tributo a Milton Schwantes

Na tese de doutoramento, Milton centrou suas atenções no grupo dos socialmente fracos do antigo Israel. Verificou que os pobres não são grupo periférico, mas que são praticamente idênticos ao povo de Deus. Deus é um Deus que se volta aos que sofrem.

Martin Dreher

Milton Schwantes nasceu a 26 de abril de 1946, às 8h30min, no Hospital N. S. do Rosário, na Vila de Tapera, no município de Carazinho/RS. O pai, Delfino Schwantes, e a mãe, Eugênia, nascida Graeff, residiam, então, em Lagoa dos Três Cantos, também pertencente ao município de Carazinho. Era o quarto filho do casal de agricultores. Milton Schwantes recebeu o Santo Batismo a 26 de maio de 1946, em Lagoa dos Três Cantos. Em 1951, Delfino Schwantes faleceu em conseqüência de cirurgia malsucedida.

Quando da morte do pai, os irmãos Norberto e Édio estudavam em São Leopoldo, no Instituto Pré-Teológico, curso de humanidades da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que preparava para o futuro estudo teológico. Os dois irmãos tornar-se-iam, assim como mais tarde Milton, pastores. Outro irmão, Arlindo, seguiria a carreira do magistério, estudando na Escola Normal Evangélica, igualmente localizada em São Leopoldo.

Viúva, Dona Eugênia migrou com Milton para Nova Petrópolis. Os Schwantes haviam sido imigrantes alemães que, originalmente, se fixaram em Nova Petrópolis. Eugênia era natural do Vale do Taquari. Passado meio ano, mãe e filho rumaram para São Leopoldo. Trabalhando na cozinha do Instituto Pré-Teológico (IPT), Dona Eugênia conseguiu dar formação escolar digna aos quatro filhos. Pessoa de grande piedade, servia também como exemplo de fé para os muitos estudantes que se deslocavam de todas as partes do Brasil para estudar no Morro do Espelho. Até a velhice, sua piedade se fez presente na vida da comunidade luterana de São Leopoldo, que soube mirar-se nela também quando da morte de seu filho mais velho, Norberto, morto como deputado constituinte. Com as mudanças ocorridas, Milton estudou ano e meio em Lagoa dos Três Cantos, meio ano em Nova Petrópolis. O restante do “curso primário”, como eram designados então os cinco primeiros anos de estudo escolar, foi completado no Instituto Rio Branco, em São Leopoldo, educandário da comunidade luterana local.

Nos próximos sete anos, os estudos teriam prosseguimento no IPT. Quase que ao natural, preparava-se o caminho para a formação teológica. A escola IPT fornecia sólida formação humanística, na qual as línguas recebiam destaque: latim, grego, português, alemão e inglês. Aqui, os clássicos puderam ser lidos, de César a Cícero, passando por Tácito e por Ovídio, de Xenofonte a Platão, de Camões a Érico Veríssimo, passando por Alexandre Herculano, Júlio Diniz e Ferreira de Castro, Machado de Assis e Graciliano Ramos, de Walther von der Vogelweide a Bertolt Brecht e Robert Musil, passando por Schiller, Goethe e Heine, de Shakespeare a Thornton Wilder. História e geografia, as ciências físicas e biológicas e a matemática completavam o quadro. O canto, instrumentos musicais e o teatro tinham espaço garantido. No mês de julho, “excursões artísticas”, durante as quais comunidades luteranas do Brasil meridional e do Espírito Santo eram visitadas, permitiam que os talentos do IPT se expressassem. Neste ambiente, aos poucos, Milton foi se destacando como estudante, mesmo que tenha dito ter passado “por várias dificuldades, a maior das quais sem dúvida a expressão na língua alemã”, o que não era verdade. Verdade é que participava de geração de descendentes de imigrantes alemães no pós-guerra, os quais mais do que nunca queriam ser aceitos como brasileiros e inserir-se na então propalada “realidade brasileira”. Bom desportista, Milton também destacou-se como líder estudantil, participando da organização do Grêmio Estudantil do IPT (GEIPT), do qual também foi presidente, em tempos difíceis, pois no penúltimo ano de estudos no IPT acontecera o golpe militar (1964) e, paulatinamente, todo o movimento estudantil seria desarticulado. Os estudantes do IPT integraram, como últimos, a última diretoria da União Leopoldense de Estudantes Secundários. Para grande susto dos professores do IPT, organizaria, com outros colegas, o “Ratio Club”, nome pomposo para sociedade de estudantes escolhidos a dedo entre seus pares para discutir temas gerais da vida política, filosófica e religiosa. Para a tradição pietista de então, “ratio” era palavra mais do que suspeita.

Em 23 de outubro de 1960, aos 14 anos, Milton foi confirmado na Igreja Luterana de São Leopoldo. O Rev. W. Hilbk deu-lhe para a caminhada na vida de fé a palavra “Buscai, em primeiro lugar, o Seu reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6.33).

Em março de 1966, Milton iniciava seus estudos na Faculdade de Teologia da IECLB. Estava com 19 anos. Na época, a Teologia ainda era marcada por alguns nomes exponenciais. Havia, inclusive, colegas de semestres mais avançados que declaravam pertença a escolas teológicas. Havia os bultmannianos. Rudolf Bultmann já não mais governava. Democrático, permitia que a seu lado surgissem “estrelas” bastante díspares como Herbert Braun, Ernst Fuchs ou Ernst Käsemann. Sua marca registrada era o charuto. Os discípulos de Bultmann eram bastante autônomos. Alguns estudantes sentiam-se atraídos pelo “Chamado para a Liberdade”, de autoria de Käsemann, publicado em 1968 em quarta edição. Ao lado dos bultmannianos existiam os barthianos. Sua marca registrada era o cachimbo. Barth, mesmo tendo atacado violentamente o nazismo, não era muito chegado à democracia em questões teológicas. A primeira geração de seus discípulos não podia se afastar um centímetro sequer da KD, abreviatura então usual no jargão teológico para a Kirchliche Dogmatik (Dogmática Eclesiástica) do teólogo suíço. A maior parte de seus discípulos (Ernst Wolf, Hermann Diem, Walter Kreck, Helmut Gollwitzer) até consentia em que o mestre pensasse por eles, diziam as más línguas. Alguns dos colegas mais adiantados chegaram a devorar a Summa Theologica de Barth. Na Europa, Barth e Bultmann digladiavam-se como baleia e elefante, segundo dizia Barth. Lá e cá havia os que buscavam intermediar entre Barth e Bultmann, sem sucesso. Para os que ingressavam em 1966, as brigas entre os dois “B”s já não interessavam, mesmo que fosse interessante observar entre os professores de São Leopoldo alguns netos dos velhos, quando iniciavam algum debate.

A geração de Milton não experimentou mais a formação de escolas teológicas tão claramente delimitadas quanto o experimentara a geração anterior. Não havia mais alternativas? Tinha medo do debate político? Da Europa ainda vinham, através dos professores majoritariamente alemães, ecos de alguns debates. Lá acontecia a “Teologia Política”, liderada pelo católico Johann Baptist Metz. Havia grupo em torno de Trutz Rendtorff que se designava de “Teologia do Cristianismo”, neoprotestantismo redivivo. Mas não se brigava mais. Não se ouvia mais um “não!” ou um “sim!” categórico. Houve discussões em torno da secularização (Gogarten); surgiu a “Teologia-da-Morte-de-Deus” (Altizer e Hamilton); alguns se preocupavam com a cidade secularizada (Harvey Cox, A cidade do homem). Discutia-se a possibilidade de ainda se fazer teologia depois de Auschwitz (Dorothee Sölle), numa autocrítica muito salutar. Wolfhart Pannenberg desenvolveu uma “Teologia da História” como alternativa à teologia de Bultmann. Foi aceito por setores conservadores e rejeitado pelos barthianos. Na Alemanha se desenvolvia, ainda, contra Barth e Bultmann, um movimento designado de “Nenhum Outro Evangelho”. Era prenúncio de forte tendência evangelical que logo se manifestaria na IECLB, sendo confundida com teologia arminiana, trazida por pastores luteranos dos EUA para um Brasil no qual o protestantismo de missão tendia sempre mais para uma teologia influenciada pela extrema direita do senador norte-americano MacCarthy.

Estávamos, em São Leopoldo, nos anos de 1966, 1967, 1968… em crise. Nossos sonhos tinham sido abortados em 1964. Só viríamos a votar para presidente com os nossos filhos. Na difícil situação de 1964, um livro se nos tornou livro de cabeceira e nos fazia refletir: Resistência e submissão, as cartas de Dietrich Bonhoeffer em seu cativeiro. Seu tradutor, Ernst Bernhoeft, judeu luterano, fugira para o Brasil durante o regime nacional-socialista, tornara-se professor na IECLB, mas não fora aceito no ministério pastoral luterano. Depois, atuou, com muita bênção, na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Em 1966, em Genebra, um ex-professor do Seminário Presbiteriano de Campinas tornara pública sua “Teologia da Revolução”. Como ser cristão em situação revolucionária, de total efervescência como a América Latina daqueles dias? Richard Shaull nos auxiliou com seu livro Transformações profundas à luz de uma teologia evangélica, publicado pela Editora Vozes, pois não havia editora protestante com suficiente coragem para publicá-lo. Em 1966, caiu-nos nas mãos a sexta edição do livro que nos determinaria, Teologia da esperança, de autoria de Jürgen Moltmann. A primeira edição saíra em 1964. O livro de Jürgen Moltmann perguntava pelas conseqüências da escatologia cristã para nosso fazer e viver teológico na América Latina.

Os estudantes da Faculdade de Teologia éramos quase todos descendentes de imigrantes alemães. A IECLB era “igreja de alemães”; mais de 70% de seus pastores ainda eram alemães. A América Latina, o Brasil quase não participavam de nosso horizonte, se bem que – verdade seja dita –, desde o choque da Segunda Guerra Mundial, o Brasil fosse cada vez mais o horizonte da Igreja Luterana. Naqueles anos, a miséria da maioria da população do “Terceiro Mundo” começou a ter significado teológico e a encontrar expressão teológica. No protestantismo brasileiro, a Conferência do Nordeste que falara de Cristo e o Processo Revolucionário Brasileiro foi um marco. Nossa situação de então leva-nos a perguntar pelo que estava acontecendo em termos de teologia na América Latina e que nos viria a influenciar após nossa saída da Faculdade de Teologia.

Na história eclesiástica do século XX, a eleição de João XXIII, a 28 de outubro de 1958, vai ser lembrada como marco de singular importância, pois já em janeiro de 1959 este papa convocou o Concílio Vaticano II. Podemos designar João XXIII de papa da distensão. Suas encíclicas Mater et Magistra (1961) e Pacem in Terris (1963) e seu falar da “Igreja dos Pobres” foram de fundamental importância para os compromissos sociais e políticos do catolicismo na América Latina e não deixaram de repercutir também no seio do protestantismo latino-americano.

As colocações feitas por João XXIII em suas encíclicas e pronunciamentos coincidiram com uma época de ebulição em toda a América Latina. Em 1º de janeiro de 1959, Fidel Castro pôs fim ao regime de Fulgencio Batista, em Cuba. Desde aquele ano, as esquerdas passaram a pensar que o movimento guerrilheiro tinha chances, que o marxismo representava a única via para a liberdade e que o socialismo poderia ser concretizado na América Latina. Camilo Torres o sacerdote que julgava não mais poder consagrar os elementos da eucaristia, enquanto houvesse opressão, e Ernesto Che Guevara eram modelos. Em 1966 morreu Camilo, em 1967 Che. A primeira fase da guerrilha chegava ao fim: em 1969 morreu Carlos Marighella, no Brasil; em 1973 deu-se o fim do movimento tupamaro, no Uruguai, e em 1978 terminou o movimento montonero, na Argentina. Fidel, Camilo Torres, Che faziam parte de nosso saber e estudar, mesmo que seus nomes só pudessem ser balbuciados em silêncio. Desde 1º de abril de 1964, o Brasil passou a viver sob regime militar, introduzindo, em 1968, a doutrina da segurança nacional. As esperanças de muitos repousavam no “modelo chileno”, introduzido por Salvador Allende no Chile (1970-1973) e, depois, no Peru (Alvarado, 1968), na Argentina (1971ss, Lanusse e Perón) e na Bolívia (1971, Torres).

No entanto, desde 1968, anunciaram-se sucessivos golpes militares que introduziam “regimes de segurança nacional” e que punham fim aos sonhos que julgavam ser possível a introdução do socialismo por meios pacíficos. Em 1968, militares golpearam militares, introduzindo esse novo tipo de regime no Brasil e exportando-o nos anos seguintes: Bolívia (1971), Uruguai (1973), Chile (1973), Peru (1975) e Argentina (1976).

Os únicos países em que a situação ficou mais ou menos estável na América Latina foram o México e a Venezuela. Ao México afluía a inteligência expulsa da América do Sul. Enquanto os regimes de segurança nacional campeavam na América do Sul, desde 1976/77 a inquietação tomava conta da América Central, culminando em 1979 com a vitória do movimento sandinista, na Nicarágua. Na América do Sul, regimes militares cansados e no fim de sua sabedoria permitiram o retorno da democracia, e, aos poucos, explodiu toda a miséria de um Continente, ficando mais evidente do que nunca. Contava-se já o ano de 1985.

Nesses anos conturbados, porém, foi gestada teologia de maneira muito séria, buscando elementos para que o povo de Deus pudesse sobreviver no deserto, sem perder as esperanças em relação ao reino de Deus.

Desde 1965, alguns sacerdotes católicos se reuniam em diversos países do continente: Gustavo Gutiérrez, Juan Luis Segundo e Segundo Galilea, entre outros. Estes sacerdotes formularam suas principais teses entre 1965 e 1970. Em Montevidéu desenvolveu-se, na mesma época, o trabalho de ISAL (Igreja e Sociedade na América Latina). Aqui a teoria da dependência e a sociologia da libertação foram pesquisadas. O grande pensador teológico desse grupo foi Richard Shaull, professor do seminário teológico da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Campinas, e, desde 1962, professor em Princeton, nos Estados Unidos.

Shaull reconheceu as tendências revolucionárias na América Latina e fez a tentativa de interpretá-las à luz do Evangelho. Daí resultou seu livro As transformações profundas à luz de uma teologia evangélica, publicado pela Editora Vozes, em 1966. A violência e a revolução são os temas a partir dos quais dirige perguntas à Igreja. Conhecida tornou-se também a publicação de ISAL, Cristianismo y Sociedad. Ao lado de Shaull devem ser mencionados como representantes da teologia da libertação no âmbito evangélico pessoas como Emilio Castro, Julio de Santa Ana, José Míguez Bonino e Rubem A. Alves. ISAL também serviu de lar para católicos como Hugo Assmann e Pablo Richard, quando tiveram que ir para o exílio, desamparados por suas igrejas. Ao contrário do grupo mencionado em primeiro lugar, os teólogos evangélicos tiveram grandes dificuldades. Em sua maioria não eram aceitos por suas denominações e tiveram que receber suporte do Conselho Mundial de Igrejas. O grupo reunido em torno de Gutiérrez recebeu apoio de bispos.

Em nossos estudos, em São Leopoldo, pouco do que estava sendo fermentado na América Latina movia nossos estudos teológicos. No período de 1966 a 1970, tivemos muita exegese bíblica, estudamos a História Eclesiástica, que não contemplava a América Latina, debruçamo-nos sobre a Teologia Sistemática e a Ética, tivemos aulas de Teologia Prática, tudo com grande empenho de nossos professores: Gerhard Barth, Joachim Fischer, Lindolfo Weingärtner, Hans Strauss, Bertholdo Weber, Harm Alpers, Gottfried Brakemeier, Nelson Kirst. Milton Schwantes teve, na época, em 1969, o privilégio de estudar por um semestre em Buenos Aires, com Leskó, Obermüller, Ruuth e Bahmann, onde pôde respirar ares distintos dos nossos.

Em 4 de julho de 1970, Milton concluiu seus estudos na Faculdade de Teologia. Seu trabalho de conclusão da graduação comparou o decreto sobre o ecumenismo do Vaticano II (1964) com as declarações sobre a unidade emitidas na conferência do Conselho Mundial de Igrejas em Nova Delhi (1961). Na época, a direção da IECLB preocupava-se com a formação de um quadro docente teológico que viesse de encontro à “indigenização” da Igreja, como se dizia na época. Dentro desse programa, em 1970, já haviam concluído seus doutorados Lindolfo Weingärtner (Teologia Prática), Gottfried Brakemeier (Novo Testamento) e Nelson Kirst (Antigo Testamento). Na Europa encontravam-se para estudos de pós-graduação Hans Benno Asseburg, Ervino Schmidt e Walter Altmann. Milton foi indicado para a pós-graduação em Heidelberg, junto ao professor Dr. Hans Walter Wolff. Antes de partir, para iniciar seus estudos em 1971, contraiu matrimônio com Elisabeth Klein. Os estudos foram possibilitados por bolsa da Igreja Evangélica na Alemanha e do Fundo de Educação Teológica do Conselho Mundial de Igrejas. Em Heidelberg, suas atenções centraram-se no direito dos pobres. Foi esse também o tema de sua tese O direito dos pobres, na qual estudou os conceitos utilizados para caracterizar os pobres na Lei e nos Profetas.

Milton centrou suas atenções no grupo dos socialmente fracos do antigo Israel. Verificou que os pobres não são grupo periférico, mas que são praticamente idênticos ao povo de Deus. Deus é um Deus que se volta aos que sofrem. A descoberta feita no estudo do Antigo Testamento estava a apontar para o canto firme de novo período na história da teologia, particularmente da América Latina. No prefácio de sua tese, Milton escrevia: “Em sua obra decisiva para a nova reflexão teológica na América Latina – Teología de la Liberación – Gutiérrez novamente apontou para a importância das afirmações bíblicas – especialmente as vétero-testamentárias – sobre a pobreza para um testemunho cristão, ‘do qual depende a autenticidade da pregação da mensagem evangélica’.” Mal imaginava o jovem exegeta, com seus 28 anos, que em breve estaria a integrar a corrente daqueles que participariam da releitura da mensagem bíblica no contexto brasileiro e latino-americano, vindo a ser um de seus principais expoentes. O período entre 1970 e 1975 deve ser visto como tempo da livre expansão da teologia da libertação. A época foi caracterizada por diversos congressos. O primeiro deles ocorreu em El Escorial (8-15 de julho de 1972). Os resultados desse congresso foram publicados na revista Concilium (junho de 1974). Já em agosto de 1975, no México, por ocasião de um segundo congresso, descobriu-se que existia uma ampla frente de teólogos da libertação, em oposição à qual se podia constatar diversas posições, que, no entanto, não formavam uma unidade. O desenvolvimento político no Continente não permitiu novos encontros.

As primeiras publicações mais importantes surgiram igualmente nos anos de 1970 a 1975. Juan Luis Segundo publicou, em 1970, Da sociedade à teologia e, em 1975, Libertação da teologia. Hugo Assmann escrevia, em 1971, Opressão – libertação: desafio para os cristãos, em 1973, Teologia desde a práxis da libertação. Rubem Alves publicou, em 1969, A theology of human hope. A obra saiu com esse título porque a editora não concordou com o outro: Teologia da Libertação. José Míguez Bonino escreveu, em 1976, A fé em busca de eficácia.

Logo surgiu uma segunda geração de autores, cujas obras devem ser vistas como conseqüência de Medellín. Entre eles devem ser mencionados: Severino Croatto (Argentina), Ronaldo Muñoz (Chile), Leonardo Boff (Brasil), Raúl Vidales (México). Especial destaque merece nessa geração o argentino Enrique Dussel, cujas publicações surgiriam no exílio mexicano. Doutor em Filosofia, Teologia e História, Dussel concentrou em sua pessoa um largo espectro da teologia da libertação, tendo publicado em 1972, em Barcelona, sua História da Igreja na América Latina, que veio a servir de modelo para o projeto da Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina (CEHILA), que procurou escrever história da Igreja desde a ótica dos oprimidos. Ao lado de Dussel, devem ser mencionados os nomes de Eduardo Hoornaert, José Oscar Beozzo e Riolando Azzi.

O desenvolvimento político da América Latina não deixou de ter influências sobre a teologia da libertação. Em 1975, Leonardo Boff escreveu sua Teologia a partir do cativeiro. Gutiérrez publicou, em 1977, Teologia desde o avesso da história e, em 1978, A força histórica dos pobres. Nessas obras, começaram a surgir novos acentos. A libertação foi vista como a luta pacienciosa, persistente do povo latino-americano, em situação de perseguição e opressão. Enquanto algumas pessoas pensavam que os estados de segurança nacional significavam um retrocesso para a teologia da libertação, aconteceu o contrário: a teologia da libertação se espalhou. O movimento popular e as comunidades eclesiais de base assumiram os pensamentos da teologia da libertação, especialmente no Brasil, mas também no México, El Salvador, Peru, Chile e Bolívia.

Por isso, também é compreensível que a teologia da libertação tenha vindo a se tornar mais e mais reflexão sobre a práxis dos pobres, que se haviam organizado em comunidades e movimentos. Nesse sentido, a teologia da libertação deixava mais e mais de ser reflexão da práxis da inteligência para ser popular. Novos autores participaram dessa fase: Clodovis Boff e João Batista Libânio (Brasil), Jon Sobrino (El Salvador). Revistas se abriram à teologia da libertação: Revista Eclesiástica Brasileira (REB) (Brasil) e PÁGINAS (Peru).

Depois, especialmente o trabalho exegético passou a ser incrementado. O nome mais conhecido entre os exegetas da teologia da libertação é o do carmelita Carlos Mesters. Merecem, no entanto, ser mencionados os nomes de José Comblin, Jorge Pixley, Gilberto Gorgulho, Ana Flora Anderson e Milton Schwantes. A experiência das comunidades eclesiais de base perguntava pela Escritura.

A maior divulgação da teologia da libertação, no entanto, aconteceu através de folhetos e de cópias de conferências, pois os seus teólogos não dispunham de grandes bibliotecas nem lhes era concedido o acesso às cátedras teológicas. Vasta foi também a divulgação da teologia da libertação através do cântico.

As reações à teologia que se desenvolveu nesse contexto foram muitas. As críticas chegaram a seu auge após a publicação, em 1981, da coletânea de artigos do franciscano Leonardo Boff, Igreja, carisma e poder.

Neste contexto, Milton Schwantes retornou ao Brasil, em agosto de 1974, sendo indicado pelo Conselho Diretor da IECLB para atuar como pastor em Cunha Porã/SC. Nessa atividade, foi pastor querido por seus paroquianos. Pequeno exemplo de sua atividade no período foi a publicação do caderno Sementes. A linguagem simples e vigorosa fala de cristãos como sal da terra, do “meu povo” de Miquéias: o povo humilde e humilhado, as camadas mais pobres da população, e apela para que a Igreja Luterana volte seus olhos para os desvalidos. Com outros colegas, participou de elaboração de material para a catequese e para o ensino confirmatório. Os pastores do então Distrito Uruguai da IECLB tinham sua própria editora: A Publicadora Uruguai (PU), e a série de suas publicações era designada de Cadernos do Povo. Ao lado destas publicações, desde 1977 publicava também, regularmente, auxílios homiléticos na série Proclamar Libertação. Milton participou destas atividades até julho de 1978, quando veio o convite para ser professor na Faculdade de Teologia da IECLB, em São Leopoldo, hoje Escola Superior de Teologia.

Milton passaria a ser professor de Antigo Testamento. A teologia bíblica que o ocupava desde os tempos da confecção da tese de doutorado, a experiência feita em Cunha Porã e os contatos ecumênicos faziam-no acentuar a dimensão profética do ministério pastoral e do ser do professor de Teologia Bíblica. Por isso, pediu para não residir no Morro do Espelho, sede das instituições da IECLB, em São Leopoldo, mas no Bairro São Borja, em casa simples. Queria fazer teologia no diálogo com os vizinhos, gente simples. A solidariedade com pastores e pastoras que atuavam em condições difíceis fê-lo optar pelo mesmo salário recebido por eles e elas, desistindo de um abono concedido aos professores de Teologia. A época era a da colocação de sinais. Sinal também foi colocado em sua preleção inaugural, expressão utilizada para a conferência pública com a qual a instituição Faculdade de Teologia apresentava seus novos professores. A conferência levou por título “Natã precisa de Davi”. O título sugestivo gerou polêmica e muita reflexão. Polêmicas foram também as preleções e seminários dirigidos pelo novo professor, que logo soube atrair a atenção e o carinho dos estudantes. Em pouco tempo, o exegeta ficaria conhecido além das fronteiras da pequena Igreja Luterana e começaria a dar sua contribuição para o estudo da Bíblia que se intensificava em todo o continente latino-americano.

Naquele final da década de 1970 e ainda durante a década de 1980, pouco era o material exegético de qualidade que poderia ser oferecido aos estudantes de Teologia. Em nível interno, Milton tomou iniciativa importante, na qual continuou a exercitar o que fizera anteriormente em Cunha Porã. Incentivou seus colegas a publicar manuscritos em forma de cadernos de estudos. Muitas publicações que hoje são sucesso editorial, entre as quais se encontram textos do próprio Milton, começaram a ser difundidas nessa forma singela. Aos poucos, a publicação de textos foi se multiplicando. Lembre-se aqui o pequeno comentário sobre Ageu, publicado no Comentário Bíblico AT, em 1986, A família de Sara e Abraão, também de 1986, e sofrimento e esperança no exílio, de 1987, surgido a partir de estudos realizados no Chile, em meio a gente muito sofrida.

Em 1987, ocorreram também o encerramento das atividades em São Leopoldo e a transferência para Guarulhos/SP. Ali, Milton pretendia fazer a experiência de conjugar trabalho pastoral na congregação luterana e atuar como professor. Desde 1988 seria professor de Bíblia no que hoje é a Universidade Metodista de São Paulo. A casa pastoral de Guarulhos não foi apenas residência do pastor e de sua esposa. Era porta de acesso ao Brasil para um sem-número de pessoas que, vindas dos mais diferentes rincões do planeta, queriam conhecer o trabalho de comunidades eclesiais de base, de cristãos que eram movidos pela certeza de que em Jesus se alcança a libertação e que Deus é um Deus que nos liberta de cativeiros sociais, políticos, econômicos e espirituais. Milton tornava-se não apenas embaixador de teologia luterana, mas embaixador de teologia da Igreja de Jesus Cristo que vivia em cativeiro. Sua produção teológica desde então não pode mais ser mencionada com o arrolamento de alguns poucos títulos. Aqui seria necessário arrolar as centenas de títulos, de orientações de dissertações e teses, conferências… e o espaço se torna pequeno. Certo é que, ao atingir os 60 anos de idade, sua produção o coloca entre as mais expressivas personalidades do mundo acadêmico brasileiro e entre os grandes da exegese internacional. Foi este o motivo que levou a Universidade de Marburgo (Alemanha) a conceder-lhe, em 2002, o título acadêmico de Doutor Honoris Causa. Seus muitos alunos há muito romperam os limites da pequena Igreja Luterana, sendo encontrados nas mais diferentes denominações cristãs do Brasil e do exterior.

A menção do ano da concessão do título de Doutor Honoris Causa força-nos a refletir sobre situações de sofrimento na vida do teólogo. O teólogo cristão só conhece a Deus a partir daquele lugar em que Deus revelou o seu rosto: a cruz de Jesus de Nazaré, confessado como o Cristo. Deus se revela sob o contrário do que é, também para o teólogo que tem que experimentar, não raro, em sua vida cruz e sofrimento para poder compreender o real significado da ressurreição e da esperança que brota da manhã da Páscoa. O teólogo Milton teve que experimentar o fim de seu casamento com Elisabeth. Foi situação de cruz e de sofrimento para ambos. Depois, Milton pôde iniciar nova união com Rosi, que lhe trouxe três meninas, as quais passaram a ser suas filhas. Mal esta nova fase em sua vida iniciara, e nova aflição abateu-se sobre ele, seus familiares e amigos. Começaram a se acentuar dificuldades com a visão, as quais, assim se verificaria, eram provocadas por tumor benigno. Também tumores benignos causam danos irreparáveis. Fez-se necessária cirurgia, longo período de recuperação, mantiveram-se lacunas na memória. Houve a necessidade de longo período de adaptação e o aprendizado de que, quando Deus nos preserva e nos sustenta por mãos amigas, precisamos reaprender a dar passos pequenos e a dizer, novamente: “Por tua mão me guia, Senhor Jesus…”, usando as palavras de hino luterano, cantado por diversas gerações.

Quando se traça perfil biográfico de um teólogo que aprendeu intelectual e vivencialmente o significado da theologia crucis, o autor não pode terminar numa laudatio, mas tem o dever de oferecer discurso correspondente à theologia crucis. A teologia que Milton Schwantes até agora transmitiu e continua transmitindo trouxe muito movimento abençoado para o contexto no qual vive, para suas comunidades cristãs e para seu kairós. Milton concretizou teologia sobre a terra. Procurou tornar a Verdade concreta. A Verdade sempre é concreta, como é concreta a Verdade que liberta. Os explorados, exilados e oprimidos, para os quais foi formulada, muito lhe devem. Pobres, afro-descendentes e mulheres que hoje andam de cabeça erguida muito devem às teologias formuladas em contexto. Da história da Igreja, no entanto, se aprende que as teologias contextuais estão limitadas a tempo e a espaço. Suas possibilidades também são limitadas. Podem ainda existir radicalizações e influências sobre outros, mas sempre surge o instante da estagnação. Há teologias que ainda conseguem ver seus filhos e netos, raríssimas os bisnetos. Gustavo Gutiérrez soube, por isso, situar a teologia da libertação na teologia da vida. E aqui é importante verificar que houve mudanças no fazer teologia. Elas merecem nossa reflexão.

A geração de teólogos e teólogas que comungou com Milton Schwantes leitura e interpretação semelhantes do Evangelho fez a experiência de que, muitas vezes, as coisas acontecem de forma distinta do que aguardavam.

Às vésperas da conclusão de seus estudos de graduação em Teologia, em 1968, o cheiro de revolução estava no ar. Havia protestos contra a Guerra do Vietnã (Era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones…), contra a sociedade de consumo capitalista e contra a ditadura do socialismo real dos burocratas. Nem o Oriente nem o Ocidente gostavam destes protestos, pois eles “solapavam” a ordem estabelecida. Perguntávamos como mudar o status quo lá e cá. As bases, os fundamentos da sociedade deveriam ser alterados. A palavra “revolução” significava muitas coisas e era utilizada para muitas finalidades: revolução socialista, revolução democrática, revolução sexual, revolução cultural, revolução de costumes… Para amainar o “ímpeto revolucionário” alguns se valiam da palavra “religião” e contrapunham a religião à revolução: jovens crentes não participam de demonstrações!

Nesse período, a leitura teológica da sociedade se alterou, profundamente. Lendo Harvey Cox, dizíamos que a sociedade se secularizava (não víamos que no Brasil se tornava cada vez mais religiosa!); interpretando Bonhoeffer, considerávamos a sociedade sem-religião, quando já havia muitos que a passavam a perceber multirreligiosa. Enquanto alguns ainda buscavam diálogo com ateus (Moltmann, Jüngel, Machovec, Sölle), Hans Küng passou a andar de braços dados com as grandes religiões e afirmou que o diálogo inter-religioso era uma das mais importantes tarefas teológicas (!) do mundo moderno. Numa leitura similar que permanece até hoje, algumas denominações cristãs, comunidades e teólogos julgam este diálogo tão importante que ateus, pessoas sem religião e tais que se distanciam da Igreja não mais importam. É certo que a religião se tornou questão de foro íntimo. Sobre qualquer forma de religião e de sentimento religioso se encontra oferta nas livrarias esotéricas. Quando teólogos só buscam mais o diálogo inter-religioso, seu horizonte de diálogo fica bastante restrito. Será que cristãos são apenas “pessoas religiosas”? Que interesse político há por trás da intenção de que pessoas religiosas dialoguem consigo mesmas e deixem o restante do mundo em paz?

Blumhardt e Bonhoeffer nos lembram que Jesus não trouxe uma nova forma de religião, mas “vida nova”. Parece-me que o Evangelho da vida se dirige ao mundo da religião e ao mundo não-religioso, pois a vida do mundo está no centro da fé cristã (Jo 1.4).

Os reformadores promoviam longos debates sobre a “verdadeira” e a “falsa” Igreja. Discutiam até chegar a compromissos ou a se separarem. O “diálogo” busca “caminhadas”, nada sabe de um alvo. Quando o diálogo chega a um resultado, está no fim, acabou. Os que dialogam se aproximam, aprendem a conviver, mas não se convencem.

Com isso não estou a dizer que o diálogo inter-religioso não seja importante. Ele nos ajuda a conhecer o outro e a nós mesmos. Pode diminuir preconceitos, mas não leva o outro a se tornar cristão; no máximo estabiliza o status quo. No fim, tudo “acaba em pizza”, em “diversidade reconciliada”. Assume-se a indiferença tolerante da pós-modernidade. A teologia reduzida a “diálogo inter-religioso” é programa conservador e mais um placebo.

Diálogo só faz sentido onde é indispensável. Diálogo dos “homens de boa vontade” é perda de tempo. Diálogo é indispensável em relação aos extremistas da religião. Quem está dialogando com os fundamentalistas islâmicos? Quem está dialogando com os fundamentalistas cristãos? Quem tem que dialogar com fundamentalistas islâmicos é o Islã pacífico. Dialogar com os guerreiros de Deus que cercam Bush é tarefa de teólogos cristãos. Mas ambos têm que dialogar por causa dos perigos que cercam o mundo, e aí o diálogo se transforma em debate que busca a Verdade…

Na década de 60 buscou-se solucionar a questão da identidade através do protesto: a razão da existência era o protesto; na década seguinte, a questão era a “curtição”. Faziam-se shows para “curtir”. Tudo era feito para a recreação, tinha “finalidade recreativa”, narcisismo puro. Por isso, se passou a buscar a identidade do ser humano em seu “interior espiritual”. A conseqüência foi a despolitização: pão e circo.

Na Europa, perdeu-se o interesse pela América Latina e pela África, “o continente morto”. Na América Latina, cresceram o esoterismo e a “auto-ajuda”. Nesses círculos, a “teologia política” passou a ser considerada desprezível. Não foi por acaso que, no meio católico europeu, psicólogos passaram a ter crescente importância. Estudavam mitos e lendas. A “estrutura profunda da alma” passou a ser estudada no exemplo de Chapeuzinho Vermelho ou de Moisés. Deixou-se de lado o contexto social e político da narrativa. No mundo protestante, experimentou-se um renascimento de Schleiermacher. Buscou-se, especialmente na Teologia Prática, a “excitação de disposições mentais piedosas”. A revolução não interessava mais, mas a religião. Na religião se deveria sentir “o sabor do infinito”, que antes os fumantes sentiam ao fumar Hollywood com filtro ou Minister. O discurso “que faz bem” substituiu, nos púlpitos, a teologia profética com suas provocações dolorosas. A teologia deixava de ser sal da terra que machucava a ferida para se tornar chantili de um show de bolo saboroso. Nada exigia, nada provocava.

Seria bom discutir aqui o que aconteceu com os seminários teológicos, mas isso é outra conversa.

No centro da fé cristã está a missão (do Reino) de Deus no mundo. A mensagem da Igreja é o Evangelho da vida. Teologia é teologia pública e deve dirigir-se a todos.

Milton Schwantes viveu e experimentou tudo isso. Rogo que continue no debate, ad multos annos.

Fonte: Notícias – IHU – 2 de março de 2012

DREHER, C.; DREHER, I.; MUGGE, E.; HAUENSTEIN, I. (orgs.) Profecia e Esperança: um tributo a Milton Schwantes. São Leopoldo: Oikos, 2006, 440 p. – ISBN 8589732401.

Morreu o biblista Milton Schwantes

Milton Schwantes (1946-2012), um dos mais importantes biblistas brasileiros, faleceu na madrugada deste dia 1° de março de 2012.

Teólogo e pastor luterano. Graduado em Teologia pela Escola Superior de Teologia em 1970, São Leopoldo, RS. Doutor em Bíblia pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha, com tese sobre “O direito dos pobres” (Das Recht der Armen), em 1974, sob orientação de Hans Walter Wolff. Doutor honoris causa pela Universidade de Marburgo, Alemanha, em 2002.

Veja seu Currículo Lattes.

 

O CEBI publicou: Milton Schwantes: Um profeta que nos deixa, mas continua sempre conosco.

Faleceu no dia de ontem, 1° de março, o biblista Milton Schwantes.

Milton viveu os últimos anos de sua vida com sérios problemas de saúde, dando um testemunho de resistência e de alegria. Desde agosto de 2002, depois de uma delicada cirurgia para retirada de um tumor na hipófise, conviveu com sobriedade com graves limites físicos. Os últimos dois meses passou hospitalizado.

Milton Schwantes é teólogo e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Biblista, Schwantes é uma das principais referências do método de leitura popular da Bíblia na América Latina e autor de diversos livros, alguns traduzidos em espanhol, alemão e inglês.

Formado em Teologia pela Escola Superior de Teologia – EST (1970). Fez seu doutorado em Bíblia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Apesar dos vários títulos de Doutor Honoris Causa concecidos por diversas universidades, enquanto teve forças, continuou assessorando grupos e comunidades.

A contribuição de Milton Schwantes à Leitura Popular da Bíblia e à caminhada do CEBI foi muito grande. É inegável que sem suas reflexões, o CEBI não conseguiria assegurar sua ecumenicidade. A perspicácia e a simplicidade na interpretação dos textos bíblicos foi outra grande contribuição de Milton a toda a leitura bíblica praticada no Brasil e na América Latina.

” Ficamos sem mais um profeta”, lembra Adeodata Maria dos Anjos, atual diretora nacional do CEBI. Ainda segundo a Diretora, “sua voz silenciou, mas continuará ecoando e transformando corações”.

A pastora Elaine Neuenfeldt, ex-diretora nacional, descreve emocionada: “Milton foi inspirador de muitos de nós, estudantes de Bíblia, aprendizes da leitura popular; particularmente, devo muitas das minhas reflexões no Antigo Testamento ao trabalho do Milton; ele foi um dos primeiros na EST (Escola Superior de Teologia) a propor um Curso de Aprofundamento Teológico sobre mulheres no AT. O movimento de leitura popular da Bíblia e a pesquisa bíblica perde um dos seus grandes nomes, um luterano brasileiro que deixa um legado muito importante para nós”.

“Vai fazer uma falta danada! Mas tem tanto livro, tanta gente e tanta paixão que ressuscitado está!”, afirma a pastora metodista e colaboradora do CEBI Nancy Cardoso Pereira.

À sua companheira Rose, às três filhas e a toda a família, o abraço carinhoso do CEBI.

 

A ALC – Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação publicou: Comunidade ecumênica perde o biblista Milton Schwantes

Após dois meses de hospitalização, faleceu na madrugada desta quinta-feira, 1º de março, o biblista, professor universitário e pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Dr. Milton Schwantes, 65 anos.

Ele será sepultado amanhã [hoje, dia 2], às 11h, no Cemitério da Paz, na região de Santo Amaro, distrito da zona sul da cidade de São Paulo.

Professor de Antigo Testamento na Faculdades EST entre o final dos anos 70 e início dos anos 80 do século passado, o testemunho ecumênico de Schwantes extravasou os limites de atuação da IECLB, influenciando uma geração de biblistas brasileiros e latino-americanos.

“Voltado à leitura popular da Bíblia, Milton Schwantes foi um teólogo de vanguarda e um dos biblistas mais reconhecidos em todo o país, ao lado de Carlos Mesters e de todo o grupo do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)”, afirmou o professor da EST, Dr. Roberto Zwetsch.

Ex-aluno de Schwantes na Faculdades EST e na Universidade Metodista de São Paulo, o professor Dr. Flávio Schmitt disse que a IECLB perdeu o testemunho de um cristão comprometido com a causa do Evangelho, incansável na defesa dos valores proferidos pelos profetas do Antigo Testamento.

“Como professor e como grande amigo, Milton Schwantes foi uma pessoa que transcendeu qualquer fronteira étnica, racial ou geográfica, conseguindo se comunicar com o mundo através do ensino da Palavra de Deus”, sublinhou Flávio.

O editor da Oikos Editora, Erni Mügge, de São Leopoldo, esteve com Schwantes, ontem, quando este deixou por algumas horas o Centro de Tratamento Intensivo do hospital. Amigos de longa data, Mügge informou-o que “Salmos da vida, a caminho da Justiça”, seu escrito mais recente, já estava em fase de impressão.

Formado em Teologia pela Faculdades EST na década de 70, Schwantes cursou doutorado em Bíblia na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, defendendo a tese “O direito dos pobres no Antigo Testamento”.

Natural de Tapera, no Rio Grande do Sul, Schwantes coordenou o projeto Bibliografia Bíblia Latino-Americana e foi editor da Revista de Intrepretação Bíblica Latino-Americana (Ribla). Tem no seu currículo a publicação de vários livros, entre eles “História de Israel”, “As monarquias no Antigo Israel”, “A terra não pode suportar suas palavras”, “Dignidade Humana e Paz”, “Dicionário Hebraico-Português e Aramaico-Português”, esses dois últimos junto com outros autores,

Acumulou vários títulos de Doutor Honoris Causa e assessou grupos e comunidades voltadas à teologia libertadora.

Em 1988, ingressou no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo (Umesp). Ainda em dezembro, participou de banca de defesa de tese. Dois dias após, foi hospitalizado.

Milton viveu os últimos anos de sua vida com sérios problemas de saúde, oferecendo um testemunho de resistência e alegria. Desde agosto de 2002, após delicada cirurgia para a retirada de tumor na hipófise, conviveu também com graves limitações físicas.

Casado com Rose, Milton era pai de três filhas.

Comunidad ecuménica pierde al biblista Milton Schwantes – ALC
Después de dos meses de hospitalización, falleció en la madrugada de este jueves 1 de marzo, el estudioso de la Biblia, profesor universitario y pastor de la Iglesia Evangélica de Confesión Luterana en Brasil (IECLB), Dr. Milton Schwantes, de 65 años.

Leia Mais:
Pastor Milton Schwantes – Mensagem da Presidência da IECLB
Milton Schwantes: Um profeta da esperança – Depoimento de Ildo Bohn Gass
A teologia e o Direito dos Pobres
Bibliografia de Milton Schwantes no WorldCat
Milton Schwantes no Observatório Bíblico