Carta de Dom Morelli ao Rabino Sobel
Querido Rabino Sobel, estou a teu lado, solidário em teu sofrimento. De ti não me envergonho! Sempre senti orgulho de ti. Ao lado de Dom Paulo, teu corajoso testemunho nos anos de trevas não deve ser esquecido e tua imagem resguardada. Seja qual for a explicação que se queira prestar ao triste episódio, tu que foste tão misericordioso em teu ministério receba misericórdia, não humilhação. Oxalá que todos descubram que o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, de Moisés e dos Profetas tem entranhas de misericórdia. Meu caro amigo, Shalom! Paz e Bem. Estou contigo nesta hora de contradição (cont.). Fonte: CNBB: 02/04/2007.
Com alterações de comportamento, Sobel permanece internado em SP
O rabino Henry Sobel permanece internado no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo, sem previsão de alta. Ele chegou ao hospital na madrugada da última sexta (30), apresentando “episódio de transtorno de humor, representado por descontrole emocional e alterações de comportamento”, de acordo com boletim médico. A internação ocorreu um dia depois de a prisão de Sobel nos Estados Unidos ser divulgada no Brasil. Ele foi detido no último dia 23 sob acusação de ter furtado quatro gravatas de lojas de grifes luxuosas em Palm Beach, na Flórida. No sábado (31), o rabino afirmou, ainda no hospital, que “o Henry Sobel que cometeu aquele ato não é o Henry Sobel que vocês conhecem”. “É muito difícil para mim explicar o inexplicável”, disse. Ele também disse que havia tomado medicamentos sem recomendação médica e pediu desculpas pelos “transtornos” que causou (cont.). Fonte: Folha Online: 01/04/2007 – 18h11
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Eu lamentei bastante o ocorrido com o Rabino Sobel. Porque a representatividade que esse senhor cultiva(va) no meio de formadores de opinião pública era muito influente, e geria respeitabilidade da comunidade judaica brasileira perante outras com convivência harmônica, o que em outras regiões é difícil de assistir.
Que forças e desafios do inconsciente, insuspeitados até dele, não compreendidos e não transcendidos, não afloraram para pô-lo nessa situação constrangedora? Seria o Rabino um mero hipócrita, desconhecido do público? Cultivava ele conscientemente idéias de satisfação de furto, ironia do público por não lhe conhecer a intimidade? Acho isso de aceitação muito difícil! É muito complexo e temeroso simplificá-lo numa frase, ousarmo-nos num julgamento sumário.
O que acho lamentável não é somente a questão da reputação pessoal do Rabino Sobel, mas os desdobramentos que isso têm perante os religiosos convencionais, muitas comunidades etnográficas, não todas, naturalmente, que se afirmam por boca própria cristãos, muçulmanos, judeu espiritual, ciosos dos modos e nomes que adotam, mas que em espírito não são ainda a descendência de Abraão, muito longe disso.
O apóstolo Paulo distinguiu muito bem a descendência de Abraão: aqueles que aderiram pela fé e reconheceram a inutilidade da obração por Lei, pois quem adere pela fé praticou a circuncisão, livrou-se da carne, porque (Gálatas 5:19):Ora, as obras da carne são manifestas: fornicação, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, ódio, rixas, ciúmes, ira, discussões, discórdia, divisões, invejas bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas…
Mas a fé convencional se subsume na obração por Lei, no fervor e adesão não iluminados, infelizmente.
Que sejamos inspirados no verdadeiro e santo amor, conscientes da trave que muitas vezes nos cega. Quem está em Cristo não pode dividir-se. Antes seu espírito socorre a todos indistintamente, pois já não há judeu ou grego. Todos são-lhe Um, todos são parte de sua própria carne, a dor alheia é nossa dor.
Flávio T. Santos
Flávio,
Conheci o rabino Sobel faz pouco tempo, quando, na PUC-Campinas, ele participou de um debate com um líder muçulmano e outro cristão sobre o conflito do Oriente Médio.
Fiquei muito impressionado com a figura e a fala do rabino Sobel. Guardo dele a imagem de um líder muito humano, um homem pleno de “hesedh”, palavra que, em hebraico, quer dizer solidariedade, benevolência, fidelidade… e que, acho, posso entender como a capacidade de sentir compaixão pelo outro.
Nos textos proféticos, “hesedh” aparece ao lado de “mishpât” (direito) e de “tsedhâqâh” (justiça). Destas três categorias gostam os profetas de fazer uso para expressar a vivência do javismo dentro do ideal da “berîth” (aliança).