Atirando nos mortos: Israel bombardeia cemitério

Israel atinge cemitério em Gaza; palestinos lutam por funerais
Um jato israelense bombardeou nesta quarta-feira o lotado cemitério Xeque Radwan, que fica na Cidade de Gaza, na faixa de Gaza, complicando ainda mais a situação dos palestinos, que lutam para enterrar os seus mortos (…) Há alguns dias, os principais cemitérios de Gaza chegaram a ser fechados devido ao excesso de funerais. Eles agora reabriram, e as famílias se esforçam para encaixar os novos mortos. Uma foi obrigada a enterrar o filho sobre o avô. Três primos jovens foram colocados na cova de uma tia morta há anos. Um homem foi sepultado com o irmão. “Toda Gaza é um cemitério”, afirmou o coveiro Salman Omar nesta terça-feira (13) à agência de notícias Associated Press…

Ah, sim, claro… foi por engano. Mais uma vez!

Fonte: Folha Online: 14/01/2009 – 14h00

Qual é o verdadeiro objetivo de Israel em Gaza?

Para Boaventura de Sousa Santos, em artigo na Carta Maior, Réquiem por Israel? de 12/01/2009, o verdadeiro objetivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestino.

No início do artigo ele diz:
Está ocorrendo na Palestina o mais recente e brutal massacre do povo palestino cometido pelas forças ocupantes de Israel com a cumplicidade do Ocidente, uma cumplicidade feita de silêncio, hipocrisia e manipulação grotesca da informação, que trivializa o horror e o sofrimento injusto e transforma ocupantes em ocupados, agressores em vítimas, provocação ofensiva em legítima defesa.

E acrescenta:
As razões próximas, apesar de omitidas pelos meios de comunicação ocidentais, são conhecidas. Em novembro passado a aviação israelense bombardeou a faixa de Gaza…

Para continuar:
É preciso recuar no tempo (…) Basta recuar sessenta anos, à data da criação do Estado de Israel. Nas condições em que foi criado e depois apoiado pelo Ocidente, o Estado de Israel é o mais recente (certamente não o último) ato colonial da Europa…

E pouco depois explica:
Uma leitura atenta dos textos dos sionistas fundadores do Estado de Israel revela tudo aquilo que o Ocidente hipocritamente ainda hoje finge desconhecer: a criação de Israel é um ato de ocupação e como tal terá de enfrentar para sempre a resistência dos ocupados; não haverá nunca paz, qualquer apaziguamento será sempre aparente, uma armadilha a ser desarmada (daí, que a seguir a cada tratado de paz se tenha de seguir um ato de violação que a desminta); para consolidar a ocupação, o povo judeu tem de se afirmar como um povo superior condenado a viver rodeado de povos racialmente inferiores, mesmo que isso contradiga a evidência de que árabes e judeus são todos povos semitas; com raças inferiores só é possível um relacionamento de tipo colonial, pelo que a solução dos dois Estados é impensável; em vez dela, a solução é a do apartheid, tanto na região, como no interior de Israel (daí, os colonatos e o tratamento dos árabes israelenses como cidadãos de segunda classe); a guerra é infinita e a solução final poderá implicar o extermínio de uma das partes, certamente a mais fraca. O que se passou nos últimos sessenta anos confirma tudo isto mas vai muito para além disto. Nas duas últimas décadas, Israel procurou, com êxito, sequestrar a política norte-americana na região, servindo-se para isso do lobby judaico, dos neoconservadores e, como sempre, da corrupção dos líderes políticos árabes, reféns do petróleo e da ajuda financeira norte-americana. A guerra do Iraque foi uma antecipação de Gaza: a lógica é a mesma, as operações são as mesmas, a desproporção da violência é a mesma; até as imagens são as mesmas, sendo também de prever que o resultado seja o mesmo. E não se foi mais longe porque Bush, entretanto, se debilitou. Não pediram os israelenses autorização aos EUA para bombardear as instalações nucleares do Irã?

Para concluir:
É hoje evidente que o verdadeiro objetivo de Israel, a solução final, é o extermínio do povo palestino. Terão os israelenses a noção de que a shoah com que o seu vice-ministro da defesa ameaçou os palestinos poderá vir a vitimá-los também? Não temerão que muitos dos que defenderam a criação do Estado de Israel hoje se perguntem se nestas condições – e repito, nestas condições – o Estado de Israel tem direito de existir?

Anoto aqui uma notícia, de outra fonte, só para documentar, tantos são os atos deste tipo nestes dias em Gaza.

Da página da CNBB, em Notícias – 13/01/2009 10:35:07: Clínica da Cáritas Internacional é bombardeada em Gaza
Um ataque israelense destruiu completamente a clínica da Cáritas que prestava serviços humanitários na Faixa de Gaza. A ofensiva ocorreu no fim da última semana e aniquilou também quatro habitações e outras 20 ficaram gravemente danificadas…

Se todo o horror da guerra fosse mostrado…

Eles [os israelenses] estão fazendo coisas terríveis lá. Uma enorme máquina militar num pequeno espaço confinado contra inimigos com armas leves misturados a uma população civil sem lugar para fugir ou encontrar abrigo. Os israelenses sabiam desde o começo que se todo o horror da guerra fosse mostrado em horário nobre, especialmente nos EUA, eles teriam perdido sua causa (Phillip Knightley, em entrevista a Pedro Dias Leite, da Folha de São Paulo, em Londres)

Fonte: Folha Online: 11/01/2009 – 08h05: “Israel tem mais porta-vozes que os EUA”, afirma autor britânico

Phillip Knightley: correspondente de guerra do “Sunday Times” por 20 anos e autor de livro clássico sobre o tema, The First Casualty: The War Correspondent as Hero and Myth-Maker from the Crimea to Iraq [A Primeira Vítima: O Correspondente de Guerra como Herói e Construtor de Mitos, da Criméia ao Iraque]. 3. ed. Baltimore, MD: The Johns Hopkins University Press, 2004, 608 p. – ISBN 9780801880308.

Leia Mais:
Jornais sobem tom de crítica a ação israelense – da Folha de S. Paulo, em Londres, Nova York e Paris: Folha Online: 11/01/2009 – 08h08
Em duas semanas de conflito, a operação militar israelense na faixa de Gaza assistiu a uma rápida queda de popularidade na imprensa internacional, especialmente depois do ataque, na terça-feira, a uma escola da ONU, onde morreram 43 pessoas.

A carnificina em Gaza e o Vaticano

No rastro de João XXIII, Paulo VI e João Paulo II, o Papa destoa em relação a Gaza – IHU On-Line: 11/01/2009

O Vaticano se recusa a alinhar-se com quem define os bombardeios em Gaza simplesmente como uma resposta contra os foguetes do Hamas (…) Bento XVI destaca a “violência inaudita” da expedição punitiva de Israel e pede uma mudança da classe dirigente e da linha política aos palestinos e israelenses…

 

Il Papa fuori dal coro – Marco Politi: La Repubblica – 10 gennaio 2009

Esce fuori dal coro il Vaticano, rifiutando di allinearsi a chi semplicisticamente etichetta i bombardamenti su Gaza come risposta difensiva contro i razzi di Hamas.Esce fuori dal coro Benedetto XVI sottolineando la «violenza inaudita» della spedizione punitiva di Israele e chiedendo un mutamento di classe dirigente e di linea politica a palestinesi e israeliani. E c’ è un motivo. In Terrasanta il Vaticano non è uno stato esterno, che da lontano si schiera in un modo o un altro. In Terrasanta la Chiesa cattolica ha i suoi terminali dall’ interno della società: preti, suore, missionari e soprattutto abitanti, giovani, anziani, madri e padri che vivono la vita quotidiana. Non saranno tanti i palestinesi cristiani, ma sono figli di quella terra e conoscono i giorni buoni e quelli amari. Dunque il Papa sa ciò che avviene e non funzionano le frasi di chi accusa il Vaticano di non essere bene informato. E allo stesso tempo gli esponenti della Chiesa cattolica, dal pontefice in giù, sono per natura e formazione profondamente avversi al terrorismo, aborrono bombe e attentati, temono la violenza politica e più ancora quella travestita con panni religiosi. E quindi immaginarli sbilanciati verso la parte dei «terroristi» non è credibile. In realtà Joseph Ratzinger, proprio perché rifiuta il fondamentalismo violento e specie perché teologicamente si sente vicinissimo all’ ebraismo – appena eletto la sua prima lettera papale la mandò alla comunità ebraica di Roma – sta affrontando senza ideologismi la nuova grande crisi israelo-palestinese. Con un realismo ed uno sguardo lucido sulla situazione mondiale, ponendosi nel solco dei suoi predecessori Giovanni XXIII, Paolo VI e Giovanni Paolo II. Papa Wojtyla aveva ammonito contro la follia dell’ invasione dell’ Iraq, quando molti in Occidente si ubriacavano all’ idea di una crociata contro Saddam “novello Hitler”. La storia gli ha dato totalmente ragione. Oggi Benedetto XVI indica il pericolo di un’ avventura militare che precipiti verso un punto di non ritorno e realisticamente invita a costruire una exit strategy, che garantisca sul serio l’ esistenza pacifica di Israele accanto a quello stato di Palestina, che non è più rinviabile. In queste settimane dalle pagine dell’ Osservatore Romano, dell’ Avvenire, dal bollettino dei vescovi Sir emerge la mappa dei problemi e anche l’ indicazione di qualche risposta. Chi comanderà a Gaza, si è chiesto il quotidiano della Santa Sede, quand’ anche l’ esercito israeliano riuscisse a piegare Hamas? E’ pensabile una nuova occupazione oppure è immaginabile un’ “amministrazione fantoccio”? Non si rischia alla fine un rafforzamento di Hamas? Perciò, quando da San Pietro viene il monito che il ricorso alle armi non porta a nulla, non è una bella predica dal pulpito, ma l’ invito a ricordare che solo dalla politica può venire una via d’ uscita. «La violenza dell’ attacco israeliano nella striscia di Gaza è stata inaudita», si poteva leggere a fine anno in una nota del Sir. E i morti non avevano ancora superato quota settecento. «Ma la pace non si fonda sul taglione», proseguiva la nota. Se il governo israeliano vuole la pace, «dimostri di cercarla con un dialogo regionale e con gesti inequivocabili come l’ interruzione del Muro». E’ un tema, quello della latitanza dell’ iniziativa negoziale autentica, che l’ Avvenire ha sollevato ripetutamente. E una riposta è venuta da un’ analisi pubblicata sull’ Osservatore. L’ idea di una sicurezza d’ Israele affidata solo alla supremazia militare – si è potuto leggere sulla prima pagina del giornale del Papa – non porta da nessuna parte: «La sola idea di sicurezza possibile deve passare attraverso il dialogo con tutti, persino con chi non lo riconosce». Se qualcuno finge indignazione, in Vaticano ricordano che recentemente proprio qui a Roma il generale americano David Petraeus, comandante generale per l’ Iraq e l’ Afghanistan, ha spiegato che a volte «capita di doversi sedere allo stesso tavolo con chi ha le mani sporche del tuo sangue. Bisogna farlo». Davvero tutto Hamas è così monolitico nella sua linea e impermeabile ad un negoziato serio? I monsignori di Curia, rammentando com’ era partito Arafat e dove poi è approdato, ne dubitano. Perciò voltare radicalmente pagina in Terrasanta è per il Papa e la sua Curia segno di realismo e non di utopia. Trasformare in ulcera la piaga di Gaza non aiuta né a sostenere Israele né favorisce la pace. Il direttore dell’ Osservatore ribadisce oggi che il Vaticano «è e rimane amico di Israele». Lo pensa soprattutto papa Ratzinger e per questo vuole che una nuova politica arrivi anche ad abbattere il Muro nella terra di Cristo.

A semântica da guerra

A semântica da guerra – Flávio Aguiar – Carta Maior: 09/01/2009

Toda guerra tem sua própria linguagem e suas palavras.

“Guerra de trincheiras: esta é uma expressão para sempre ligada à 1ª Guerra Mundial. Assim como o nome do romance de Erich Maria Remarque: “Nada de novo na frente ocidental”. A 2ª Guerra Mundial consagrou (infelizmente) termos como “Blitzkrieg” – “Guerra Relâmpago”, que em português nos deixou o termo “blitz” para uma batida rápida da polícia; “Dia D”, que até hoje significa “momento decisivo”. E assim por diante. Outras guerras popularizaram termos como “Napalm”, “Agente Laranja”, “Limpeza étnica”, etc.

Esta ofensiva de Israel em Gaza ainda não inovou em matéria de semântica. Mas já trouxe uma peculiaridade para a linguagem jornalística que mostra algo sobre sua natureza.

Sempre aprendi com meus mestres em matéria de jornalismo que o bom estilo poupa os adjetivos ou expressões qualificativas que equivalham a eles. Mas agora constato que, se há uma marca que esta ofensiva de Israel em Gaza deixará, ela jaz nos adjetivos.

Fiz um levantamento, de propósito em jornais que poderiam ser qualificados como “conservadores”, do ponto de vista político, ou “sóbrios”, do ponto de vista do estilo. Chovem adjetivos e qualificações, dos e das mais fortes.

As expressões mais comuns foram, em inglês, “carnage”, e “onslaught”, ambas encontradas até em publicações que entram conspicuamente em ambas as classificações acima expostas, “conservadores” e “sóbrias”: Financial Times e The Economist. Ambas as palavras são de uma dramaticidade exemplar. “Carnage”, “carnagem” em português, se aplica ao abate de animais em quantidade para alimentação. O Aurélio dá como sinônimo a expressão “carnificina”. “Onslaught”, na semântica da guerra, é expressão usada como sinônimo de “furious attack”, “ataque furioso”. De novo, o termo vem da matança de animais (“slaughter”), e quando aplicado no contexto bélico, se aplica a uma situação em que um dos contendores mata indiscriminadamente pessoas do outro lado. Outros termos que encontrei foram, com respeito ao ataque de Israel, “hard to justify”, “difícil de justificar” (The Economist) e “disproportionate”, “desproporcional” (Financial Times), além de, neste último, “horror” e “desperate”, (“horror” e “desesperada”) com respeito à situação dos palestinos em Gaza.

Continuando a busca, um pouco a esmo, mas dentro dos critério que me propusera, fui encontrando em artigos e editoriais:

1) “Bloody war” (Der Spiegel, da Alemanha, edição em inglês), que ao mesmo tempo quer dizer “guerra sangrenta” (qual não é?) e “guerra maldita”; em algumas gírias também quer dizer “de merda”, mas duvido que os redatores do Spiegel tenham pensado nesta conotação, embora ela também coubesse.

2) “Matanza de civiles” e “situación desesperada” no El País, da Espanha.

3) “Campo di concentramento”, “campo de concentração”, em relação às condições de vida em Gaza, declaração do Cardeal Renato Raffaele Martino, Presidente do Conselho Pontifício para a Justiça e a Paz da Santa Sé, no Vaticano, à página Ilsussidiario.net, da Itália. Lembremos, em todo caso, que o Vaticano ficou a dever uma atitude mais firme contra o fascismo e contra o holocausto durante a 2ª Guerra, ainda que muitos sacerdotes tenham sido exemplares nas diversas modalidades de luta durante a Resistência.

4) “L’horreur”, “atroce”, “desesperée”, no Le Monde, da França.

5) “Nightmarish”, “pesadelar” (palavra rara, mas existente na nossa língua), “deprivation”, “privação”, e “neglect”, “negligência”, esta última empregada em relação à atitude do exército israelense diante da situação dos mortos e feridos, no New York Times, dos Estados Unidos.

6) “Vengeful military Behemoth”, “um Beemote militar vingativo”, assim a reportagem do Herald Tribune descreve o exército de Israel. “Behemoth” é uma criatura citada no Livro de Jó (40: 15 – 24), do Antigo Testamento; algumas interpretações o associam ao hipopótamo, outras a um animal pré-histórico; em todo o caso é um ser impressiona por sua força e postura, conforme Jeová o descreve a Jó, mas que guarda algo de monstruoso. No inglês a expressão é usada para designar algo animalesco e monstruoso, disforme.

7) “Indiscriminate attacks”, “ataques indiscriminados”, “Heart wrenching images”, “imagens de cortar o coração” (to wrench significa aplicar uma torção súbita e violenta), “inhumane”, “massacres”, no Asahi Shimbun, do Japão.

8) “Brink of disaster”, “à beira da calamidade”, sobre a situação em Gaza, e “increasing international criticism”, “crescente crítica internacional”, com respeito à ação de Israel, no Mail & Guardian, da África do Sul.

9) “Deadly air raids”, “mortíferos ataques pelo ar”, no Sidney Morning Herald, da Austrália.

Mas o caso mais espantoso ficou por conta do britânico The Guardian, conhecido pela objetividade e pela circunspecção modelares de seus artigos e editoriais. A coleção de expressões qualificativas é impressionante. “Calamity”, calamidade, “intolerable”, intolerável, “schocking”, chocante, “unacceptable”, inaceitável, e as já visitadas “carnage” e “onslaught” estão entre as expressões encontradas.

A estas uma nova se acrescenta: o movimento de Israel é descrito antecipadamente como uma “pyrrhic victory”, vitória de Pirro, menção ao rei grego de Épiro que venceu duas batalhas contra os romanos em 280 e 279 A. C., mas a tal custo que o efeito mais lhe parecia o de uma derrota. Também nesta publicação encontramos referências à denúncia, depois vista em outras também, de que Israel estaria usando bombas de fragmentação e outras incendiárias à base de fósforo branco, que também foram usadas no Vietnã pelo exército norte-americano.

Ao longo desse passeio (se assim se pode chamar tal visita à semântica de uma guerra) por tais publicações, não encontrei uma única palavra de defesa das atitudes beligerantes do Hamás e de seus (patéticos – a expressão é minha) foguetes. Pelo contrário, encontrei também condenações sobre esses disparos, sempre qualificados como terroristas, contra o território israelense. O caso mais chocante estava relatado no Herald Tribune, em que o correspondente se referia a um militante do Hamás que esperava atendimento num hospital coalhado de horrores, e sorria. Perguntado pelo porquê do sorriso, ele respondeu que os mortos eram mártires, e que ele também queria ser um mártir.

Os mortos da ofensiva israelense no lado palestino estão chegando a 800. Bem mais de 200 desses mortos são crianças. Há uma certa lógica nisso, embora não seja verossímil acreditar que oficiais e soldados israelenses estão em busca de crianças para matá-las. Mas apesar das declarações do Major Avital Leibovich, porta-voz do exército de Israel, no NYT de 9/01, de que “estamos fazendo o melhor possível para evitar a morte de civis, e muitas vezes não retaliamos porque vimos civis por perto”, esse tipo de guerra que Israel está disposto a levar para Gaza implica demonstrar para os outros e para os seus (não esqueçamos de que há eleições em 10 de fevereiro) que nada deterá os seus soldados e o seu poder de fogo, nem mesmo as crianças. Que de resto, a gente poderia lembrar o Major Leibovich, são mais difíceis de se ver do que os adultos.

Palestina Ocupada

A política de Israel “vidas em troca de terra” é roubo. Puro e simples

“Israel rouba terra, os palestinianos perdem terra; é assim que funciona. É assim desde 1948, e é assim que continuará a ser”, escreve Robert Fisk, jornalista, em artigo publicado pelo jornal The Independent e reproduzido pelo sítio Esquerda.net, 09-09-2014.

Eis o artigo.

E foi assim que mais uma fatia da terra palestiniana foi pelo cano abaixo. Mais uns 400 hectares de terra palestiniana foram roubados pelo governo de Israel – porque… “apropriação” é roubo, não? – e o mundo já deu as desculpas de sempre. Os norte-americanos consideraram o roubo “contraproducente” para a paz, o que provavelmente menos vigoroso do que a sua reação caso o México roubasse 400 hectares de terra do Texas e resolvesse construir ali casas para os seus emigrantes ilegais nos EUA. Mas, não. Foi na “Palestina” (as aspas são mais necessárias do que nunca) e Israel conseguiu continuar a roubar, embora não nesta escala – este foi o maior roubo de terra em 30 anos, desde que foi assinado o Acordo de Oslo em 1993.

O aperto de mão entre Rabin-Arafat, as promessas e transferências de territórios e retiradas militares, e a determinação de deixar tudo o que é importante (Jerusalém, refugiados, o direito de retorno) para o fim, até que todos confiassem tanto uns nos outros que a coisa seria facílima – não surpreende que o mundo tenha feito descer sobre os dois a sua generosidade financeira. Mas o recente roubo de terras não apenas reduz a “Palestina”, também mantém o círculo de concreto armado no entorno de Jerusalém para manter os palestinianos bem distantes, tanto da capital, que é suposto partilharem com israelitas, como de Belém.

Foi instrutivo saber que o conselho israelita judeu Etzion, que administra os colonatos ilegais na Cisjordânia, considerou que este roubo é um castigo pelo assassinato de três adolescentes israelenses em junho. “O objetivo dos assassinatos dos três jovens foi semear o medo entre nós, interromper a nossa vida quotidiana e questionar o nosso direito [sic] à terra”, anunciou o conselho Etzion. “A nossa resposta é reforçar a colónia”. Deve ser a primeira vez que a terra na “Palestina” é confiscada sem serem convocados argumentos relativos à segurança nacional ou a autoridade pessoal de Deus, mas sim vingança.

Assim se cria um precedente interessante. Se a vida de um israelita inocente – cruelmente ceifada – vale cerca de 130 hectares de terra, a vida de um palestiniano inocente – também cruelmente ceifada – vale a mesma porção de terra. E se metade, que seja, dos 2.200 palestinos mortos em Gaza no mês passado – e esse é um número conservador – fossem inocentes, nesse caso os palestinianos teriam agora, presumivelmente, direito a 132.000 hectares de terras israelitas; na realidade, muito mais. E por mais “contraproducente” que isto seja, com certeza os EUA não aprovariam. Israel rouba terra, os palestinianos perdem terra; é assim que funciona. É assim desde 1948, e é assim que continuará a ser.

Nunca haverá uma “Palestina”, e o mais recente roubo de terra é apenas mais um ponto acrescentado no livro das consternações que os palestinianos têm de ler, enquanto os seus sonhos de terem um Estado se vão diluindo. Nabil Abu Rudeineh, porta-voz do “presidente” palestiniano Mahmoud Abbas, afirmou que o seu líder e as forças moderadas na Palestina tinham sido “apunhalados pelas costas” pela decisão dos israelitas, o que é dizer pouco. Abbas tem as costas completamente apunhaladas, de cima a baixo. E o que esperava ele quando escreveu um livro sobre as relações entre palestinianos e israelitas em que não escreveu nem uma única vez, uma que fosse, a palavra “ocupação”? O que significa que voltamos ao velho jogo. Abbas não pode negociar com ninguém a menos que fale pelo Hamas ou pela Autoridade Palestiniana. Como Israel sabe. Como os EUA sabem. Como a União Europeia sabe. Mas cada vez que Abbas tenta construir um governo de unidade nacional, todos nós gritamos que o Hamas é uma organização “terrorista”. E Israel argumenta que não pode conversar com uma organização “terrorista” que exige a destruição de Israel – ainda que Israel costumasse conversar muito com Arafat e, naqueles dias, tenha ajudado o Hamas a construir mais mesquitas em Gaza e na Cisjordânia, para servirem como contrapeso ao Fatah e a todos os outros então “terroristas” lá de Beirute.

Claro, se Abbas fala só por si, então Israel diz o que já disse: que se o Abbas não fala por Gaza, Israel não tem com quem negociar. Mas isso realmente ainda interessa? Devia existir uma manchete especial em todos os artigos deste género: “Adeus, Palestina”.

Fonte: IHU – 12 setembro 2014

Moments of Gaza

Internet ajuda a furar bloqueio midiático imposto por Israel

Por Marco Aurélio Weissheimer – Carta Maior: 06/01/2009

É bem conhecida a frase que afirma que a primeira vítima em tempos de guerra é a verdade. Bloqueios midiáticos fazem parte do esforço propagandístico dos militares. A história se repete agora com a nova onda de ataques perpetrada por Israel contra os palestinos da Faixa de Gaza. O governo israelense proibiu a entrada de jornalistas estrangeiros na área. Isso não vem impedindo, porém, que as imagens do massacre contra a população civil de Gaza circulem diariamente pelo mundial. A eficácia do bloqueio midiático diminuiu significativamente graças à internet.

A rede Al Jazeera está na faixa de Gaza, produzindo diariamente reportagens sobre o ataque de Israel. Suas matérias (ver exemplo abaixo, publicado por Luiz Carlos Azenha no Vi o Mundo) são vistas diariamente por milhões de pessoas em todo o mundo árabe. Elas expõem o caráter, ao mesmo tempo, homicida e suicida, da política de Israel para “garantir a segurança do povo judeu”. A única coisa que a ação do exército israelense parece estar garantindo é espalhar mais ódio pela região, por várias gerações.

A blogosfera se encarrega de espalhar essas imagens mundo afora. Além disso, há também blogs funcionando desde Gaza, relatando diariamente o que está acontecendo. Um deles é o Moments of Gaza. Idelber Avelar, do blog Biscoito Fino e a Massa, traduziu um texto desse blog mantido por Natalie Abou Shakra, ativista do Movimento Free Gaza.“Um relato ao vivo dos horrores perpetrados pelo exército israelense na maior prisão ao ar livre do mundo”, resume Idelber:

“Vittorio me disse ontem … quando lhe perguntei como ele responde à morte … ele me disse que já não tem lágrimas para chorar … que suas lágrimas secaram … olho para ele sentado diante de mim … um homem bonito de um metro e oitenta … trinta e três anos … sua maior preocupação no mundo: salvá-lo e “permanecer humano”, que é como ele termina [Bomba!] cada artigo que escreve …”

O Biscoito Fino traduziu também um relato de outro blog que opera diretamente de Gaza, o In Gaza. “Mais um relato em primeira mão que confirma o que já sabemos: no massacre israelense em Gaza, a prática é matar mesmo os civis feridos que estão sendo carregados”, escreve Idelber Avelar. O relato:

Trabalhadores médicos de emergência, Arafa Hani Abd al Dayem, 35 anos, e Alaa Ossama Sarhan, 21 anos, tinham atendido o chamado para ir buscar Thaer Abed Hammad, 19, e seu amigo morto Ali, 19, que haviam estado fugindo do bombardeio, quando foram eles mesmos atingidos por disparo de um tanque israelense.

Era pouco depois das 8:30 da manhã de 04 de Janeiro, e eles estavam na região de Attattra, Beit Lahia, noroeste de Gaza, na área da escola americana bombardeada no dia anterior, em que mataram um guarda-noturno civil de 24 anos, destroçando-o, queimando o que restara.

Gemendo de dor, com o pé direito amputado e lacerações de bomba de fragmentação ao longo das costas, de todo o corpo, Thaer Hammad conta como seu amigo Ali foi morto. “Estávamos atravessando a rua, saindo de nossas casas, e aí o tanque disparou. Havia muita gente saindo, não éramos os únicos”. Hammad interrompe seu testemunho, de novo gemendo de dor. Ao longo dos dois últimos dias, desde que a invasão terrestre de Israel e a campanha intensificada de bombardeios começaram, os residentes de toda Gaza têm estado fugindo de suas casas. Muitos não tiveram a chance de escapar, tendo sido pegos dentro de casa, enterrados vivos, esmagados. O médico continua a narrativa: “Depois que foram bombardeados, Thaer não conseguia caminhar. Ele chamou Ali para que o carregasse”. O resto da história é que Ali havia carregado Thaer por alguma distância quando atiraram na cabeça de Ali, bala disparada por um soldado não visto, bem na direção na qual eles fugiam. Ali morto, Thaer ferido, e as pessoas fugindo, a ambulância foi chamada”.

A uniformidade pausterizada da mídia comercial
Essa diversidade de informações que circula pela internet está ausente da cobertura da imensa maioria da mídia comercial brasileira, que repete praticamente as mesmas manchetes todos os dias, formando um coro uniforme. Um exemplo disso:

10 horas e 52 minutos da manhã de 5 de janeiro de 2009. Manchete do UOL/Folha de São Paulo: “Israel divide Gaza em três e busca milicianos”. Da mesma forma, no site de Zero Hora, de Porto Alegre: “Israel divide Gaza em três e começa nova fase de ataques”. A mesma manchete é destaque no site do Globo: “Israel inicia nova fase da ofensiva e divide a Faixa de Gaza em três”.

Detalhe: Israel proibiu a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza. Qual é, então, a fonte dessas notícias uniformemente distribuídas pelo mundo afora?

Resposta: o próprio governo de Israel. A cobertura da maioria esmagadora da mídia não passa de divulgação das informações oficiais do governo israelense. Quem quiser uma alternativa a essa cobertura pasteurizada tem que, obrigatoriamente, recorrer à internet. A guerra que aparece aí é bem diferente da apresentada pelos veículos tradicionais.

As trombetas da guerra em Israel

 

A mídia em Israel toca as trombetas da guerra – Gideon Levy – Carta Maior: 02/01/2009

Eis como estão as coisas em Israel: opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e atitude que deve ser combatida. Essa semana, falando do seu programa “London & Kirschenbaum”, Yaron London, apresentador, deu sinais de que a coisa está ficando difícil: “Tivemos problemas com o programa. Sabemos do amplo consenso a favor da guerra – acabar com eles, bater até que se calem. Mas também há outras vozes, não só dos israelenses-árabes, também de muitos judeus. Encontramos alguns poucos judeus que defendem o fim dos ataques, ou que jamais deveriam ter começado, e que é preciso iniciar negociações. Não é minha opinião. Minha linha é outra, e já a expus em muitos artigos. Mas é preciso ouvir as outras vozes. Falar sozinho leva sempre ao desastre. O problema é que todos têm medo. As vozes da paz estão em silêncio, porque estão aterrorizadas.”

Depois, London disse ao seu entrevistado, Amir Peretz, que planejara entrevistar também moradores de Gaza, para ouvir “o outro lado”, mas que, desgraçadamente, aquelas poucas vozes foram silenciados “pelo terror”.

Com terror ou sem terror, sei de muitos judeus, não de ‘alguns poucos’, que defenderiam “o outro” lado e que não vacilariam, nem por um segundo, para declará-lo na televisão. Por exemplo, as centenas que tomaram a Praça da Cinemateca, em Telavive, no sábado à noite, para protestar contra a operação de guerra do exército israelense. Mas a equipe da produção do programa “London & Kirschenbaum” não os procurou. Problemas de produção, claro.

Seja como for, ninguém quis saber da opinião deles, no mais ouvido programa de entrevistas da televisão – porque há expressa proibição de que sejam ouvidos.

Pouco antes de sermão de autojustificativa de London, alguém que defende a posição “do outro lado”, Ahmed Tibi, foi convidado para uma entrevista nos estúdios do programa “Erev Hadash” [‘outra noite’].

O que dali se ouviu está fadado a tornar-se um clássico do telecine de terror: horror e horror, berros, gritaria e insultos. Veias a ponto de explodir e gargantas roucas de tanto berrar. Margalit [apresentador do programa]: “Você está inventando bobagens… Você não respondeu minha pergunta.” Tibi: “Respondo o que eu queira responder.” Margalit: “Baixe a voz. Fale como ser humano civilizado!” Tibi: “Estou falando como ser humano civilizado.” Margalit: “Me respeite!” Até que Margalit deu-se por satisfeito e ordenou ao co-entrevistador, Ronen Bergman: “OK. Deixe-o falar.” Tibi, então, tentou dizer que a única diferença entre o Hamas e o governo de Israel é a questão dos pontos de controle, “que têm de ser liberados”. Margalit, então, gargalhou em cena.

Pense: quando, algum dia, você ouviu Margalit ou qualquer outro entrevistador de televisão, dizer ao entrevistado “Você está inventando bobagens”? Será que falam assim a Benjamin Netanyahu? Ehud Barak? Tzipi Livni? E esses? Não “inventam bobagens” vez ou outra? E quando, algum dia, alguém assistiu a um entrevistador dizer, na televisão “Baixe a voz. Fale como ser humano civilizado!” Gargalhar em cena?! Os nervos estão mesmo em frangalhos e os árabes (além de vários judeus heréticos) andam criando dificuldades.

Porque é assim que estão as coisas em Israel. Opor-se à paz é sempre atitude legítima e patriótica; opor-se à guerra é traição, atitude antipatriótica e deve ser combatida. Podem debater o custo da paz eternamente; ninguém ouvirá uma palavra sobre o custo da guerra. Movimentos pacifistas são censurados. Movimentos pró-violência são ensinados. Pelo menos, até certo ponto.

A crítica da guerra, mais uma vez, terá de esperar. […] Esse é o teste de coragem e credibilidade da mídia, sempre igual, guerra após guerra. E sempre, guerra após guerra, a mídia fracassa.

Nos estúdios de televisão, só entram generais e analistas militares, as mesmas caras, nos mesmos estúdios, já desde a guerra passada, na de antes, na de antes daquela, porque só neles concentra-se a sabedoria e o talento que há na sociedade de Israel, na opinião da mídia de Israel.

Porque é assim que estão as coisas em Israel: os primeiros dias de guerra, de qualquer guerra, são sempre os mais sombrios. Mas nada de “Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!” Ah, não! Silêncio nenhum. O que se ouve é sempre o mesmo coro estridente de entrevistas e noticiários de televisão, gritaria, vinhetas espalhafatosas, clamores urgentes de “mais ataques, mais ataques”, “matem mais”, que Israel mate muito, que não pare de matar, entusiasmo crescente a cada nova chacina, guerra sem parar, cada vez mais.

Só depois, quando baixa a poeira, quando já todos sabem que mais uma vez a vitória converteu-se em derrota, e as conquistas foram ilusão (quando não apenas mentiras), então, sim, começam a falar outras vozes. Até que, algumas vezes, algum senso, depois, aos poucos, implanta-se também na opinião pública. Sempre tarde demais. Sempre desgraçadamente tarde demais.

“Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!”? Dia 6 de junho de 1982, há 25 anos, quando Israel embarcou na primeira Guerra do Líbano, talvez a mais ensandecida das guerras em que Israel embarcou, meu falecido colega Amiram Nir publicou, naquele seu artigo que fez história: “Silêncio, não perturbem, estamos matando gente!”: “Hoje não há oposição, nem Likud nem Ma’arakh, nem religiosos nem seculares, nem ricos nem pobres. Somos um só povo em armas. Estamos matando gente. Portanto, façam silêncio.” Nir de fato não queria qualquer silêncio. Israel não quer silêncio. Quer sempre muito barulho, mas que só falem as vozes da beligerância, da violência, do nacionalismo fanático, da propaganda, da opinião ‘geral’. Exceto essas vozes, sim, o silêncio. Silêncio total. Silêncio de morte.

No primeiro dia dessa nova guerra, a televisão mostrou imagens horripilantes. Praticamente nada se escondeu. Telas divididas mostravam de um lado o medo em Ashkelon, de outro, o sofrimento em Gaza. (…) Todos os canais de televisão em Israel exibiram pedaços de cadáveres de palestinos carregados, com escavadeiras, para caminhões de carga. O pior de tudo: nem aquelas imagens despertaram qualquer protesto. Dessa vez, já não pareceu necessária qualquer tipo de consideração. Israel tornou-se tão indiferente à morte, o coração dos israelenses endureceu, petrificou-se de tal modo, que Israel vê o que viu essa semana… e nada! Apatia? Não, não é só isso.

A verdade é que, vez ou outra, muitos tiveram uma mesma ideia: Será que a “campanha de Relações Públicas do governo de Livni” não nos fere mais do fere ‘o outro lado’? (…)

A mídia foi cuidadosamente preparada para essa guerra. Nenhuma comissão de inquérito, nem Winograd nem Doner, poderá jamais dizer que a mídia não tenha sido preparada para essa guerra. Durante meses, todos recebemos apavorantes ‘informes’ sobre o crescente poderio do Hamás, sobre como o Hamás se armava. Túneis, bunkers, casamatas, mísseis de longo alcance, exército cada dia maior. Nenhum jornalista investigou. Ninguém sequer suspeitou.

Assim a mídia em Israel inventou o Hamas. Apagou a realidade de uma organização em frangalhos, em luta desesperada para não se deixar assassinar e que lança rojões de salão contra o mais poderoso exército do mundo. Assim, também, a mídia de Israel encobriu o fato de que Israel, não o Hamas, foi quem quebrou o pacto de cessar-fogo, imediatamente, no mesmo dia em que firmou o pacto: um dos túneis foi bombardeado no mesmo dia em que o cessar-fogo foi assinado.

A mídia israelense também ocultou os efeitos do boicote. Durante dois anos e meio nenhum veículo da mídia de Israel pôde entrar em Gaza. A opinião pública em Israel não soube de nada. Tampouco se ouviu qualquer protesto dos jornalistas em Israel. O sofrimento pelo qual passa a população sitiada em Gaza não apareceu na agenda jornalística em Israel. Alguns ainda tentaram acalmar a própria consciência (nunca, de fato, muito torturada), com notícias de que não havia bloqueio; alguns “pressentiram”; alguns inventaram cenas piores do que a realidade. Mas os efeitos do sítio e do bloqueio de Gaza não foram noticiados em Israel.

Depois da fase de preparação, a fase de avaliação: isso não pode continuar, disseram todos os analistas, introduzindo a idéia de que a resposta teria de ser militar, exclusivamente militar. Os assustados moradores de Sderot passaram a ser as únicas vítimas conhecidas. Não as crianças de Gaza, que não têm nem caderno para escrever, não os adultos que não tem nem cimento para vedar os túmulos de seus mortos, não os motoristas que dirigiam carros movidos com óleo de cozinha que aprenderam a reciclar, não os médicos que operavam sem eletricidade, não os feridos operados sem anestésicos, não as famílias mortas de frio. Essas não são personagens da cena do “isso não pode continuar”.

E então começou a fase mais ativa da campanha pela mídia: à guerra, à guerra! Acabem com eles! Operação militar! Ação, reação, o que for, desde que ‘eles’ sejam detidos.

O último a aderir foi Nahum Barnea, colunista nacional, que entrou numa barbearia para cortar o cabelo, semana passada, em Sderot, e, é claro, não perdeu a oportunidade de partilhar a experiência com seus leitores e imediatamente, já de cabelo cortado, desafiou o ministro da Defesa, Ehud Barak, exatamente na véspera de Barak despachar seus aviões, para suas missões de morte. “Onde está o ministro da Defesa? Quem defenderá Israel?” bradava aquela manchete inesquecível.

Mas essa ainda não foi a manchete da semana do jornalismo nacional em Israel. Esfuziante, imediatamente depois do início de mais uma guerra, um dia depois do Sábado Negro, quando mais de 200 palestinos foram mortos e havia mais de 1.000 feridos em Gaza, um terço dos quais, pelo menos, civis (70 eram guardas de trânsito, reunidos na cerimônia de formatura, jovens em busca desesperado de algum meio para ganhar a vida, que pensaram tê-la ganho na polícia, no instante em que a perderam sob bombardeio israelense), nesse mesmo dia e hora, com a tipagem que se reserva para guerras novinhas em folha, a principal manchete do dia declarava, em letras enormes: “Meio milhão de israelenses sob fogo”. Isso. Apenas isso. Coisa simples, modesta, com a muito clara certeza e o profissionalismo típico de jornal e jornalistas que sabem a importância que têm para seus leitores.

Quem quisesse saber o que ocorrera em Gaza naquele festim sangrento, e não só em Sderot e Netivot (“Netivot da Morte” dizia outra manchete), teria de andar até a página 13, para lá encontrar um relato muito sucinto do que, àquela hora, todos os telespectadores do mundo já sabiam: que o horror desabara dos céus sobre Gaza.

Historiador do futuro que algum dia examine os arquivos dos jornais de Israel verá com clareza absoluta: para Israel, 200, 300 e, depois, 400 palestinos assassinados ‘não é’ manchete. Que a mídia em Israel é “poupada” de ter de exibir imagens “fortes”, que o que Israel e seus militares fizeram contra Gaza é assunto para especialistas em “Relações Públicas”, que a Livni tudo é permitido, que os palestinos fizeram por merecer, e que Israel abraça e sempre abraçará qualquer guerra, qualquer barbárie. Que Israel crê-se tão poderosa que se brutalizou, que já não sente, que em Israel a barbárie é regente.

 

Fim da era Bush e eleição em Israel: uma das faces obscenas do massacre – Michael Warschawski – Carta Maior: 31/12/2008

“A morte de uma única vítima israelense justifica o assassinato de centenas de palestinos. Uma vida israelense vale uma centena de vidas palestinas. É isto que o Estado de Israel e os meios de comunicação mundiais mais ou menos descuidadamente repetem, com questionamentos marginais. E esta alegação, que acompanhou e justificou a mais longa ocupação de territórios estrangeiros da história do século XX, é visceralmente racista. Que o povo judeu aceite isto, que o mundo concorde, que os palestinos se submetam – esta é uma história de piadas irônicas. Ninguém acha graça…” John Berger

Enquanto o mundo inteiro está em choque diante das terríveis imagens emitidas de Gaza, a opinião pública israelense apoia maciçamente a sangrenta ofensiva de Barak-Olmert. Isto inclui o Meretz, a oposição de esquerda parlamentar. Apesar de ter manifestado preocupação pelas mortes de civis, o líder do Meretz, Haim Oron, numa entrevista à televisão israelense, aderiu aos argumentos da propaganda oficial, responsabilizando o Hamas pelo banho de sangue. Um discurso mistificador como este está sendo copiado pela maioria dos líderes do mundo ocidental, com o Ministro dos Negócios Estrangeiros de França superando até a Secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice. Vamos colocar os fatos em sua devida ordem:

Gaza está sendo alvejada pelo exército israelense desde a vitória do Hamas, e o cerco imposto sobre mais de 1,5 milhão de civis – por Israel, mas também pela chamada comunidade internacional – é em si uma ação de violência e um crime de guerra;

O ataque israelense é uma agressão planeada: de acordo com as notícias vindas de Israel, Ehud Barak planeou o ataque a Gaza já em agosto;

Os foguetes lançados sobre cidades de Israel foram uma retaliação a agressões militares israelitas anteriores, e não foram lançados pelo Hamas, mas sim pela pequena organização Jihad Islâmica;

O ataque a Gaza é parte integral da guerra santa neoconservadora contra o mundo islâmico, e a administração neoconservadora cessante dos EUA, assim como o Egipto e outros regimes reacionários árabes, instaram as autoridades israelenses a desencadear a ofensiva antes de Obama entrar na Casa Branca;

A intenção declarada de Barack Obama de abrir conversações com a República Islâmica do Irã é uma das principais preocupações das administrações cessantes em Tel Aviv e Washington, e a ofensiva contra Gaza é uma tentativa de provocar uma reação iraniana que permita a retaliação israelense e dos EUA. Nos últimos dias, o vice-ministro da Defesa israelense, Ephraim Sneh, bem conhecido pela sua obsessão anti-iraniana, vinculou sistematicamente os foguetes do Hamas (sic) ao Irã, sem, evidentemente, apresentar quaisquer provas.

Esta estratégia geral, baseada na mistificação do “choque de civilizações” e na guerra global contra o Islã, é partilhada por todos os partidos políticos sionistas de Israel e explica o apoio do Meretz à atual agressão.

Apesar de não ser de esperar uma mudança rápida da política norte-americana no Ocidente asiático, os líderes israelitas e os seus patrocinadores neocons em Washington estão preocupados pela mudança na administração norte-americana, e temem que uma nova estratégia possa quebrar a guerra global “preventiva”. O ataque a Gaza é uma tentativa de última hora de mudar as relações de forças no Médio Oriente, antes do fim da era neoconservadora.

E, antes de concluir, não esqueçamos a dimensão obscena: as centenas de vítimas dos bombardeios sobre Gaza são vítimas colaterais da campanha eleitoral israelense. Para aumentar o seu apoio popular antes das eleições, todos os líderes israelenses estão competindo para ver quem é o mais duro e quem está disposto a matar mais. Ehud Barak, contudo, tem uma memória muito curta, e Shimon Peres pode recordar-lhe que este cálculo cínico não é necessariamente o melhor: o massacre de Qana, que, supostamente, deu a vitória a Shimon Peres, teve como consequência que centenas de milhares de cidadãos palestinos virassem as costas ao Partido Trabalhista.

Apesar da sua brutalidade, contudo, Ehud Barak permanece um dos mais populares líderes na arena israelense, e os milhares de manifestantes que saíram às ruas ontem, quase sem convocação, protestando contra o massacre, podem indicar que todos os que estão por trás dele, incluindo o Meretz, não vão receber os seus votos. É previsível que o repúdio internacional e o relativamente amplo sentimento antiguerra entre os eleitores force o Meretz, uma vez mais, a mudar de posição. Deviam, porém, lembrar-se da antiga verdade que os eleitores preferem sempre o original: quando o Meretz sanciona a estratégia de guerra e as mentiras de Netanyahu, os eleitores vão preferir votar em Netanyahu em vez de na sua pálida e sensaborona cópia.

A tragédia de Gaza

 

 

Se Gaza cair, Cisjordânia cairá depois – Artigo de Sara Roy, Professora do Harvard’s Center for Middle Eastern Studies, publicado na London Review of Books – Carta Maior: 28/12/2008

O sítio de Gaza, por Israel, começou em 5 de novembro, um dia depois de Israel ter atacado a Faixa, ataque feito sem possibilidade de dúvida para pôr fim à trégua estabelecida em junho entre Israel e o Hamás. Embora os dois lados tenham violado antes o acordo, nunca antes acontecera qualquer violação em tão grande escala. O Hamás respondeu com foguetes, e desde então a violência não recrudesceu.

Com o sítio, Israel visa a dois principais objetivos. Um, reforçar a idéia de que os palestinos são problema exclusivamente humanitário, como pedintes, mendigos sem qualquer identidade política e, portanto, sem reivindicações políticas. Segundo, impingir a questão de Gaza, ao Egito.

Por isso, os israelenses toleram as centenas de túneis que há entre Gaza e o Egito, pelos quais começou a formar-se um setor comercial informal, embora cada vez mais regulado. A muito grande maioria dos habitantes da Faixa de Gaza vive em condições de miséria, com 49,1%, estatísticas oficiais, de desempregados. De fato, os habitantes de Gaza já sabem que está desaparecendo rapidamente, para todos, qualquer possibilidade real de emprego.

Dia 5/11, o governo de Israel fechou todas as vias de entrada e saída de Gaza. Comida, remédios, combustível, peças de reposição para as redes de energia, água e esgoto, adubo, embalagens, telefones, papel, cola, calçados e até copos e xícaras não entram nos territórios ocupados em quantidade suficiente, ou absolutamente não há.

Conforme relatórios da Oxfam, apenas 137 caminhões com alimentos entraram em Gaza no mês de novembro de 2008. Em média, 4,6 caminhões/dia; em outubro de 2008, entraram em média 123; em dezembro de 2005, 564. As duas principais organizações que levam comida a Gaza são a UNRWA, Agência de Ajuda Humanitária da ONU para os Refugiados Palestinos e o Oriente Médio; e a WFP, “Programa Alimento para o Mundo”. A UNRWA alimenta aproximadamente 750 mil palestinos em Gaza (cerca de 15 caminhões/dia de alimentos). Entre 5/11 e 30/11, só chegaram 23 caminhões, cerca de 6% do mínimo indispensável; na semana de 30/11, chegaram 12 caminhões, 11% do mínimo indispensável.

Durante três dias, em novembro, a UNRWA esteve totalmente desabastecida e 20 mil pessoas não receberam a única comida com que contam para matar a fome. Nas palavras de John Ging, diretor da UNRWA em Gaza, praticamente todos os atendidos pela organização dependem completamente do que recebem, seu único alimento. Dia 18/12, a UNRWA suspendeu completamente a distribuição de alimento, dos programas regulares e dos programas de emergência, por causa do bloqueio israelense.

A WFP enfrenta problemas semelhantes; conseguiu enviar apenas 35 caminhões, dos 190 previstos para atender as necessidades da Faixa de Gaza até o início de fevereiro de 2009 (mais seis caminhões conseguiram chegar a Gaza, entre 30/11 e 6/12). E não é só: a WFP é obrigada a pagar pelo armazenamento dos alimentos que não podem ser enviados a Gaza. Só em novembro, pagou 215 mil dólares. Se Israel mantiver o sítio a Gaza, a WFP terá de pagar mais 150 mil dólares pelo armazenamento dos alimentos, no mês de dezembro, dinheiro que deveria ser usado para auxiliar os palestinos, mas está entrando nos cofres de empresas israelenses de armazenamento.

A maioria das padarias comerciais em Gaza (30, de 47) foi obrigada a fechar as portas por falta de gás de cozinha. As famílias estão usando qualquer tipo de combustível que encontrem, para cozinhar. Como a FAO/ONU já informou, o gás é indispensável para manter aquecidos os criadouros de aves. A falta de gás e de rações, já levou à morte milhares de galinhas e frangos. Em abril, conforme a FAO, já praticamente não haverá galinhas e frangos em Gaza e para 70% dos palestinos, carne e ovos de galinha são a única fonte de proteína.

Bancos, impedidos por Israel de operar nos territórios ocupados, fecharam as portas dia 4/12. Num deles há um aviso, em que se lê: “Por decisão da Autoridade das Finanças na Palestina, o banco permanecerá fechado hoje, 4/12/2008, 5ª-feira, por falta de numerário. O banco só reabrirá quando voltar a receber moeda.”

O Banco Mundial já antecipara que o sistema bancário em Gaza entraria em colapso se as restrições continuassem. Todo o fluxo de dinheiro para os programas foi suspenso, e a UNRWA suspendeu a assistência financeira a outros subprogramas, para os mais necessitados, dia 19/11. Também está paralisada a produção de livros didáticos e cadernos, porque não há papel, tinta de impressão e cola, em Gaza. Com isso, 200 mil estudantes serão afetados, ano que vem, no início das aulas.

Dia 11/12, o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, enviou 25 milhões de dólares para o sistema bancário na Palestina, depois de um apelo do primeiro-ministro palestinense, Salaam Fayad; foi a primeira remessa, desde outubro. Não bastará nem para pagar o mês de salários atrasados dos 77 mil funcionários públicos de Gaza.

Dia 13/11, foi suspensa a operação da única estação de energia elétrica que opera em Gaza; as turbinas foram desligadas por absoluta falta de diesel industrial. As duas turbinas movidas a bateria ‘caíram‘ e não voltaram a funcionar dez dias depois, quando chegou um único carregamento de combustível. Cerca de 100 peças de reposição, encomendadas para as turbinas, estão há oito meses no porto de Ashdod, em Israel, a espera de que as autoridades da alfândega israelense as liberem. Agora, Israel começou a leiloar as peças não liberadas, porque permanecem há mais de 45 dias no porto. Tudo feito conforme a legislação de Israel.

Durante a semana de 30/11, 394 mil litros de diesel industrial foram liberados para a estação de produção de energia: aproximadamente 18% do mínimo que Israel está legalmente obrigado a fornecer. Foi suficiente apenas para fazer funcionar uma turbina, por dois dias, antes de a estação ser novamente fechada. A Gaza Electricity Distribution Company informou que praticamente toda a Faixa de Gaza ficará sem eletricidade por períodos que variarão entre 4 e 12 horas/dia. Em vários momentos, haverá mais de 65 mil pessoas sem eletricidade.

Nem mais uma gota de óleo diesel (para geradores e para transporte) foi entregue essa semana (como já acontece desde o início de novembro); nem de gás de cozinha. Os hospitais em Gaza estão operando, ao que parece, com diesel e gás recebido do Egito, pelos túneis; ao que se diz, são produtos administrados e taxados pelo Hamás. Mesmo assim, dois hospitais em Gaza estão sem gás de cozinha desde 23/11.

Além dos problemas diretamente causados pelo sítio israelense, há os problemas criados pelas divisões políticas entre a Autoridade Palestina na Cisjordânia e a Autoridade do Hamás, em Gaza. Por exemplo, a CMWU, que fornece água para a região costeira de Gaza, que não é controlada pelo Hamás, é financiada pelo Banco Mundial via a Autoridade Palestina para a Água (PWA) em Ramállah; o financiamento destina-se a pagar o combustível para as bombas do sistema de esgotos de Gaza.

Desde junho, a PWA tem-se recusado a liberar o dinheiro, aparentemente porque entende que o funcionamento dos esgotos beneficiaria o Hamás. Não sei se o Banco Mundial tentou alguma intervenção nesse processo, mas, por hora, a UNRWA está fornecendo o combustível necessário, embora não tenha orçamento para essa finalidade. A CMWU também pediu autorização a Israel para importar 200 toneladas de cloro; até o final de novembro recebeu apenas 18 toneladas suficiente para o consumo de uma semana de água clorada. Em meados de dezembro, a cidade de Gaza e o norte da Faixa só tinha água por seis horas, a cada três dias.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, as divisões políticas entre Gaza e a Cisjordânia também têm tido sério impacto sobre o abastecimento de remédios em Gaza. O ministério da Saúde da Cisjordânia (MOH) é responsável por comprar e distribuir quase todos os produtos farmacêuticos e cirúrgico-hospitalares usados em Gaza. E todos os estoques estão perigosamente baixos. No mês de novembro, várias vezes o ministério devolveu carregamentos recebidos por via marítima, por não haver espaço para armazenamento; apesar disso, nada tem sido entregue em Gaza, em quantidades suficientes. Na semana de 30/11, chegou a Gaza um caminhão com remédios e suprimentos médios, enviado pelo MOH em Ramállah; foi o primeiro, desde o início de setembro.

Está acontecendo aí, ante nossos olhos, a destruição de toda uma sociedade e nenhum clamor se ouve, além dos avisos da ONU, que são ignorados pela comunidade internacional.

A União Europeia anunciou recentemente que deseja estreitar relações com Israel, pouco depois de as autoridades israelenses terem declarado abertamente que preparam a invasão, em larga escala, da Faixa de Gaza e de terem apertado ainda mais o bloqueio econômico, com o apoio, já nada tácito, da Autoridade Palestina em Ramállah. Essa, vê-se, está colaborando com Israel, em várias medidas. Dia 19/12, o Hamás deu oficialmente por encerrada a trégua (que Israel declarou que estaria interessado em renovar), porque Israel não suspendeu (nem diminuiu) o bloqueio.

Por que, como, em que sentido, negar alimento e remédios à população de Gaza ajudaria a proteger os israelenses?

Por que, como, em que sentido, o sofrimento das crianças de Gaza – mais de 50% da população são crianças! – beneficiaria alguém?

A lei internacional e a decência humana exigem que essas crianças sejam protegidas. Se Gaza cair, a Cisjordânia cairá depois.

 

Relator da ONU se diz chocado com inação de comunidade internacional sobre Gaza

O relator especial da ONU (Organização das Nações Unidas) para os Direitos Humanos nos Territórios Palestinos, Richard Falk, afirmou à BBC nesta terça-feira estar chocado pelo fato de a comunidade internacional não estar fazendo mais para pressionar Israel a interromper seus ataques à faixa de Gaza (…)

“Israel está cometendo uma série chocante de atrocidades usando armamentos modernos contra uma população indefesa, atacando uma população que já vem enfrentando um bloqueio severo por muitos meses e ignorando a possibilidade do restabelecimento de um cessar-fogo que a liderança do Hamas havia proposto”, afirmou Falk.

“Estou chocado pela incapacidade da comunidade internacional em tomar ações mais decisivas em resposta ao que está ocorrendo”, disse.

Para Falk, Israel já estava violando a lei internacional antes dos ataques, por conta de seu bloqueio à faixa de Gaza.

“O próprio bloqueio viola as duas obrigações mais fundamentais de um poder de ocupação. Primeiro, de não punir coletivamente a população civil, e, segundo, de garantir que a população do território ocupado tenha suprimentos de alimentos e medicamentos suficientes”, afirmou.

Para ele os bombardeios israelenses são “um ato de agressão incondicional contra uma população indefesa pela qual Israel tem responsabilidades especiais de acordo com as Convenções de Genebra e em relação às normas da ONU”.

Fonte: Folha Online – BBC Brasil: 30/12/2008