A posse de Dom Sérgio da Rocha em Brasília

Dom Sérgio da Rocha tomou posse como Arcebispo de Brasília, no sábado, dia 06/08/2011.

Leia dois interessantes artigos de Raimundo Caramuru Barros sobre Dom Sérgio da Rocha. Foram publicados no IHU On-Line. O primeiro, hoje, 08 de agosto de 2011. O segundo, em 16 de junho de 2011.

:: Celebração inédita da Igreja em Brasilia marca posse de seu novo arcebispo
“Quatro fatores conferiram a esta celebração este seu caráter inédito: o número considerável de cardeais, arcebispos e bispos, provenientes das mais diferentes regiões do país, que dela vieram participar presencialmente; as numerosas delegações que a prestigiaram com seu comparecimento, representando paróquias e dioceses de São Paulo, do Ceará e de Teresina – PI, onde Dom Sérgio exerceu seu múnus pastoral anteriormente; a concentração excepcional de brasilienses que esta posse mobilizou entre os fiéis das quase 130 paróquias da arquidiocese de Brasília; a representação expressiva de todas as pastorais e dos Movimentos de fiéis leigos, que atuam hoje com muita vitalidade em todo o Distrito Federal”.

Leia o texto completo.

:: Quatro traços marcantes do novo arcebispo de Brasília
“Sua biografia – em vôo rápido – ressalta a seguinte trajetória: nascido em Dobrada (SP) aos 21 de outubro de 1959; ordenado presbítero aos 14 de dezembro de 1984; ordenado bispo aos 11 de agosto de 2001 para servir como bispo auxiliar de Fortaleza (CE); arcebispo coadjutor de Teresina em 31 de janeiro de 2007; 6º arcebispo de Teresina de pleno direito em setembro de 2008; designado arcebispo de Brasília em junho de 2011, tornou-se o 2º caso de um arcebispo de Teresina, transferido para o DF. Quatro traços de sua personalidade merecem destaque.

O primeiro traço diz respeito à sua formação acadêmica, espiritual e pastoral. Em 21 de janeiro de 1997 Dom Sérgio atingiu o ápice de sua vida acadêmica ao concluir o doutorado em Teologia Moral pela Academia Alfonsiana de Roma, vinculada à Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Lateranense. Esta Academia é a instituição mais renomada em termos de Teologia Moral no seio da Igreja Católica e seu nome é uma homenagem a Santo Afonso Maria de Ligório que além de sua santidade de vida, distinguiu-se por sua contribuição significativa ao desenvolvimento da Teologia Moral. O objetivo de Santo Afonso era levar o pão da Palavra de Deus às populações pobres. Todo esse conteúdo evangélico, estribado no Amor misericordioso de Deus e no amor ao próximo passou a ser o esteio da Teologia Moral ministrada pela Academia Alfonsiana, onde Dom Sérgio da Rocha concluiu seu doutorado.

O segundo traço é sua larga experiência como educador, na qualidade de diretor espiritual, pároco, e professor, lecionando inclusive Teologia Moral na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP). Esta experiência como educador foi certamente um dos fatores que o prepararam para a sólida dimensão pastoral que ele foi chamado a desenvolver no exercício do seu múnus episcopal.

O terceiro traço é o testemunho de amor a Deus e amor ao próximo demonstrado no exercício de seu ministério de presbítero e de bispo, e explicitado no lema que inseriu na sua insígnia episcopal: ‘Omnia in Caritate’ (Tudo na Caridade). Dom Sérgio se distingue pela sua abertura em ouvir seus subordinados e pela sua facilidade de diálogo com autoridades civis.

O quarto traço é o excepcional dinamismo que revelou, atuando em diversos níveis, e também em importantes setores e estruturas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, bem como no Conselho Episcopal Latino-Americano – CELAM. Sua participação abrange as seguintes áreas em nível regional da CNBB: Secretário e também Bispo de referência da Pastoral da Juventude e da Pastoral Vocacional do Regional Nordeste 1 (Ceará); Presidente do Regional Nordeste 4 (Piauí)”.

Leia o texto completo.

Morreu o teólogo Felix Pastor (1933-2011)

Leio em Notícias: IHU On-Line de 12/07/2011:

Morreu Felix Pastor, padre jesuíta e professor de teologia

Morreu ontem, dia 11 de julho, no Rio de Janeiro, Felix Alejandro Pastor Piñero, 78 anos, padre jesuíta, professor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma. Conhecido como Padre Pastor, ele viveu muitas décadas no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, tendo orientado uma multidão de estudantes brasileiros de teologia nas suas teses de doutorado. Todos os anos, durante o período de férias na Europa, ele vinha para o Rio de Janeiro, onde dava aulas no Curso de Teologia da PUC-Rio. Na última quinta-feira, ele chegou ao RIo para ministrar o seu curso. Ele morreu, repentinamente, na Residência Padre Leonel Franca, dos padres jesuítas que trabalham na PUC-Rio.

Pastor foi meu professor na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Estudei Trindade com ele, na graduação, na década de 70. Foi um trabalho danado para ele nos fazer entender Karl Rahner e outros teólogos alemães nas páginas do Mysterium Salutis. Mas ele foi paciente conosco. Como nas aulas as ideias não ficavam suficientemente claras para nossos poucos conhecimentos dos pressupostos destes teólogos, criamos, com ele, em casa, um seminário sobre a disciplina, onde discutíamos com mais vagar teorias tão complexas para nós.

Entretanto, Pastor foi mais do que meu professor: morávamos na mesma casa, no Colégio Pio Brasileiro. Convivi com ele durante 6 anos, de 1970 a 1976. Pastor foi um grande amigo. Especialmente durante os meus 3 anos de mestrado gostávamos muito de trocar ideias.

Felix Pastor (1933-2011)

Teve uma época em que andamos de “cara virada” um para o outro: ele queria que eu fizesse pós-graduação em uma das áreas da Teologia Sistemática e eu queria – e fiz – pós-graduação em Bíblia. Como ele era orientador de estudos na casa, sua insistência me causou alguns transtornos. Mas essa frieza durou pouco, pois, em pouco tempo, nós nos tornamos muito mais amigos do que antes. Nos meus dois últimos anos em Roma, ele, como responsável pela biblioteca do Pio Brasileiro, me pediu para indicar os livros da área bíblica que deveriam ser comprados. O que fiz com muito prazer, “rato de biblioteca” que sempre fui. Ia, com o funcionário da biblioteca, meu amigo Juarez, às livrarias e enchíamos uma van de livros de Bíblia para a biblioteca do Pio. Dava gosto.

Por pura coincidência, no dia 11, segunda-feira, passei o dia todo na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte, a FAJE. Estava na reunião anual dos Biblistas Mineiros, examinando, com uma dúzia de colegas, os artigos de nosso próximo número da revista Estudos Bíblicos, que sairá em 2012.

Descanse em paz, ilustre professor.

Transcrevo, a seguir, a nota de Paulo Fernando Carneiro de Andrade, teólogo, professor na PUC-Rio sobre a morte de Pastor. Também publicada por Notícias: IHU On-Line, ontem, dia 12 de julho de 2011.

Pe Felix Alejandro Pastor sj por Paulo Fernando Carneiro de Andrade

Faleceu dia 11 de junho no Rio o Pe Felix Alejandro Pastor sj. Nascido em 1933 na Galícia, fez os votos religiosos na Companhia de Jesus em 1950. Junto com outros jesuítas espanhóis foi destinado ao Brasil, aonde chegou jovem e fez seus estudos, tendo sido ordenado em 1963. Possuindo notável vocação teológica após seu doutorado foi chamado a ser Professor da Pontifícia Universidade Gregoriana e Diretor de Estudos do Colégio Pio Brasileiro em Roma. Durante décadas alternou suas funções em Roma com a participação, durante as férias do verão europeu, nas atividades de ensino no Departamento de Teologia da PUC – Rio, ministrando disciplinas de pós Graduação e mesmo de graduação. Distinguia-se por sua erudição e sólido conhecimento teológico, por um profundo amor a Igreja e um trato afável com os estudantes e colegas, muitos dos quais se tornaram amigos por toda a vida. Autor de uma obra teológica vasta e consistente dirigiu mais de 150 teses de doutorado, tendo sido formador de um grande número de teólogos e teológas brasileiros, muitos dos quais foram chamados ao episcopado e mesmo ao cardinalato como D. Scherer de São Paulo. Sua contribuição para a Igreja do Brasil é inestimável. Pe. Pastor tinha especial afeição pelo Rio de Janeiro. Chegou de Roma quinta feira dia 7 de julho para lecionar um seminário na Pós-Graduação da PUC-Rio entre os meses de agosto e setembro. Sua morte deu-se no dia em que se abria o 24º Congresso da SOTER onde se encontram vários de seus orientandos e provocou grande consternação.

Transcrevo também o texto, mais longo e detalhado, de Faustino Teixeira, publicado no Amai-vos, em Notícias: IHU On-Line e também no blog do Faustino, Diálogos, em 12/07/2011:

Felix Pastor, orientador e amigo (1933-2011)

“Nós, teólogos brasileiros, perdemos no dia 11 de julho um grande mestre e amigo. Deixou-nos o padre Felix Pastor, que tinha recém chegado de Roma para a sua temporada no Rio de Janeiro, onde também lecionava. Não há como lembrar de sua presença senão com alegria e saudade e hoje, em especial, muita saudade. Foram inúmeros teólogos brasileiros e latino-americanos que passamos por sua competente e atenta orientação. Impressionante a sua capacidade de doação e a argúcia de seu método. Foi alguém que abriu as portas da Pontifícia Universidade Gregoriana para muitos dos teólogos pesquisadores que se encontram hoje atuando em Universidades e Institutos Teológicos no Brasil e tantas outras localidades. Como bem acentuou o cardeal Aloísio Lorscheider, no prefácio de obra em sua homenagem, Pastor ‘é um benemérito da Igreja universal e, de modo especial, da Igreja que está no Brasil. A Igreja do Brasil deve muito a este sacerdote zeloso e dedicado. Várias gerações passaram por suas mãos’ (O mistério e a história. São Paulo: Loyola, 2003). Tive em particular essa alegria de poder conviver de perto com esse grande mestre. Um contato que começou quando era estudante do mestrado em teologia na PUC-RJ, numa época de grande florescimento da teologia, marcada pela presença de muitos jovens estudantes leigos.

Tinha nascido no período a idéia de trazer Felix Pastor para ajudar no ensino e na orientação dos estudantes de teologia. Sua vinda foi celebrada por todos, e assim nasceu uma parceria maravilhosa. A cada ano, Pastor dedicava um semestre ao ensino na Gregoriana e o outro na PUC-RJ. Essa presença no Brasil foi geradora de muitas vocações teológicas. Muitos de nós, seus alunos na PUC, fomos recebidos por ele com afeto e alegria na Gregoriana, para os estudos doutorais. E isso também foi favorecido pela grande sensibilidade de Pastor aos temas candentes da teologia latino-americana, como a teologia da libertação, as comunidades eclesiais de base e as pastorais sociais. Estávamos diante de um teólogo apaixonado pelo tema do Reino e da História.

Num de seus livros, dedicados a esta questão, dizia com segurança: ‘Descobrindo a unidade teológica da história dos homens, criados a participar da salvação escatológica, a Teologia da Libertação descobre a unidade profunda do temporal e do espiritual, do escatológico e do histórico, do individual e do comunitário, do religioso e do político’. A teologia para ele estava diante de uma tarefa nova e fundamental: armar sua tenda na história dos humanos, sem perder jamais, a sedução do Mistério. A salvação deixa de ser uma questão extra-terrena e passa a ocupar o cenário das lutas do dia-a-dia: ‘A salvação cristã inclui a realidade do homem novo e da nova terra, em que habita a justiça. Postular a sua realização e lutar pelo seu advento não é uma usurpação prometeica, mas uma exigência da ética cristã’. Esse foi o aprendizado que dele recebemos, e que foi decisivo para as nossas trajetórias.

Pastor foi também um grande teólogo, possuidor de invejável cultura teológica, mas que não ficava restrita a esse campo do saber.

Impressionava sua abertura ao universo da literatura, do cinema e da arte em geral. Sua paixão teológica voltava-se, de modo particular, para dois grandes clássicos da teologia: Agostinho e Paul Tillich. A eles dedicou inúmeros cursos, conferências e muitos artigos, publicados em periódicos reconhecidos internacionalmente. Admirava igualmente Karl Rahner, e com grande maestria nos ajudava a desvendar as difíceis e sedutoras entranhas desse grande teólogo alemão. Não me esqueço de suas brilhantes e instigantes intervenções no seminário em torno do Curso fundamental da fé, de Karl Rahner, dado na Gregoriana. Foram aulas que abriram horizontes inesperados para reflexões futuras.

Nascido na Galícia, em 25 de fevereiro de 1933, entrou para a Companhia de Jesus em novembro de 1950. Os estudos de filosofia foram realizados na Universidade de Comillas, a partir de 1954, depois de formação em Letras Clássicas, Humanidades e Retórica no Colégio de Salamanca. Veio em seguida, em 1957, a destinação missionária para o Brasil, instalando-se na Província Jesuítica Goiano-Mineira, na época do padre João Bosco Penido Burnier. O noviciado foi realizado em Itaici, São Paulo, e os trabalhos pedagógicos no Colégio Loyola de Belo Horizonte. Os estudos de teologia iniciaram-se em 1960, no Colégio Máximo Cristo Rei, em São Leopoldo (RS), tendo prosseguimento na Alemanha, na Faculdade de Teologia da Hochschule Sankt-Georgen (Frankfurt/Main), onde concluiu seu bacharelado, em 1962. Sua ordenação presbiteral aconteceu em 27 de agosto de 1963, na catedral de Frankfurt. Motivado pelo então provincial, Marcelo de Azevedo, foi cursar o doutorado em teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma), na época do evento conciliar. A conclusão do doutorado ocorreu em junho de 1967, com tese orientada por Donatien Mollat (SJ), versando sobre tema eclesiológico em E. Schweizer. Sua tese foi publicada em 1968 na prestigiosa coleção Analecta Gregoriana (vol. 168 – La eclesiología Juanea según E.Schweizer). A partir de outubro de 1967 ficou responsável pela direção espiritual do Colégio Pio Brasileiro, em Roma. E também a partir desse ano iniciou suas atividades acadêmicas na Gregoriana.

Dentre suas inúmeras publicações, destacam-se os livros: Existência e Evangelho (1973), O reino e a história (1982), Semântica do Mistério (1982) e a Lógica do inefável (1986 e 1989). No campo do ensino, dedicou-se em particular aos temas relacionados à Eclesiologia, ao Tratado de Deus e outras questões teológicas e ecumênicas. Merece destaque sua atenção à problemática teológica latino-americana, como bem destacado por Maria Clara L. Bingemer e Paulo Fernando Carneiro de Andrade: ‘Sua ligação com a América Latina e com a teologia produzida deste lado do mundo, juntamente com sua sensibilidade social e seu profundo sentido de justiça, fizeram igualmente do Pe. Pastor um exímio especialista e agudo crítico da teologia latino-americana, tendo ministrado cursos, publicado vários trabalhos e orientado diversas teses sobre o tema da relação entre Teologia e Práxis, e sobre as tendências mais atuais da teologia do continente’.

Pude também encontrar nele um importante apoio em momento delicado de meu retorno ao Brasil, quando titubeava o processo de autorização canônica para o meu retorno à PUC-RJ. Ele veio prontamente em minha defesa, junto com Juan Alfaro, desanuviando os sombrios horizontes. Essa é uma marca importante na personalidade de Felix Pastor: o profundo respeito pela reflexão de seus orientandos. Mesmo que não partilhasse inteiramente das posições teológicas de seus alunos, incentivava a reflexão mantendo sempre acesa a imprescindível chama do direito à liberdade de expressão. É um dos exemplos mais bonitos que pude verificar nessa trajetória de caminhada comum e que busco manter vivo na experiência com meus alunos.

O toque decisivo de sua atuação estava no dom da orientação acadêmica. É difícil encontrar um orientador com tamanha capacidade de desbravar caminhos e horizontes. As dificuldades trazidas por seus orientandos ganhavam com ele sempre uma solução precisa. Os alunos entravam em seu gabinete preocupados com o destino de seu trabalho e saíam sorridentes com as soluções encaminhadas. Era sobretudo um grande pedagogo, com impressionante experiência nesse campo de apoio, presença e orientação dos alunos. E essa prática vinha amparada por muitos anos de experiência com a análise psicanalítica. Seus cursos de metodologia ficam guardados na memória. Trouxe essa experiência em aulas memoráveis, sobretudo na PUC-RJ, mas também em outros centros de estudo como a Faculdades dos Jesuítas (FAJE) e a Universidade Federal de Juiz de Fora, onde também esteve presente algumas vezes para falar de sua experiência de orientação acadêmica.

É difícil precisar o número exato de seus orientandos no mestrado e no doutorado. Foram, certamente, mais de 350 estudantes que passaram por essa rica experiência. No âmbito do doutorado, foram mais de 90 teses por ele orientadas, das quais cerca de 55 de alunos brasileiros. Entre alguns dos doutores que passaram por sua orientação: Álvaro Barreiro e Alfonso Garcia Rúbio (1972-1973), Mário de França Miranda (1973-1974), Carlos Palacio (1975-1976), Juan A.R. de Gopegui (1976-1977), Ênio José da Costa Brito (1978-1979), Valdeli Carvalho da Costa (1980-1981), Faustino Teixeira e Antônio Jose de Almeida (1985-1986), Alexander Otten e Vitor G. Feller (1986-1987), Elias Leone, Maria Clara L. Bingemer e Paulo Fernando Carneiro de Andrade (1988-1989), Afonso Murad (1991-1992), Paulo Sérgio Lopes Gonçalves (1996-1997), Laudelino José Neto (1997-1998), Antônio Reges Brasil (2000-2001), Marcial Maçaneiro e Paulo César Barros (2000-2001) e muitos outros.

O bonito é perceber que ele deixou entre nós um exemplo vivo de paixão e testemunho, de maravilhosa abertura ao Mistério sempre maior. Dele guardamos o carinho e o largo sorriso, de um orientador, mas sobretudo um amigo sempre presente. Eu estava particularmente feliz ao poder reencontrar-me com ele num simpósio internacional de teologia, previsto para acontecer em setembro de 2011 na PUC-RJ. Não contava os dias para esse encontro. Infelizmente, esse diálogo ficou adiado para mais adiante. Fico com a bela imagem de sua presença amiga, regada pela alegria de encontros maravilhosos, tanto no Brasil como na Itália. Seguindo uma pista de Walter Rauschenbusch, Pastor deixa-nos como herança ‘a graça de ter um coração valente, para que possamos caminhar por esta estrada com a cabeça levantada e com um sorriso no rosto’”.

Carlos Mesters 80 anos

Em 20 de outubro de 2011 Carlos Mesters completa 80 anos de vida.

Visite o blog que comemora os 80 anos de nosso biblista maior, Carlos Mesters, nosso mestre:

Carlos Mesters 80 anos

Diz a apresentação do blog:

Desde meados no ano passado, o Conselho Nacional tem presente a celebração desta data. Não foi fácil chegar a esta proposta de um espaço participativo e interativo. Num primeiro momento pensamos no tradicional livro com artigos e depoimentos. Várias sugestões foram feitas, unindo entidades em que frei Carlos foi figura marcante. O CEBI e a Província Carmelitana Santo Elias chegaram a pensar num esquema de livro e a esboçar uma lista de prováveis colaboradores e colaboradoras. Tudo em vão! Qualquer proposta esbarrava na firme e tenaz resistência do homenageado que se recusava a aprovar qualquer esquema de livro. Frei Carlos rejeita homenagens: “Se alguém merece incenso, este alguém é o povo!” Até aceitaria um livro, desde que estivessem presentes as pessoas significativas em seus trabalhos na caminhada da Leitura Popular da Bíblia. Se fôssemos atender seus pedidos o livro teria mais de 300 colaboradores. E se cada pessoa escrevesse uma mensagem curta, o livro teria mais de mil páginas! Impossível! Depois de muitas conversas e do apoio do homenageado, chegamos à conclusão em propor este blog. Sinta-se à vontade! Deixe aqui sua mensagem, seu testemunho, sua poesia, seu artigo. Se quiser, pode enviar também fotos e vídeos. Qualquer maneira que você mesmo/a resolver homenagear frei Carlos será muito bem vinda! Ele lerá e responderá, como ele mesmo diz, “na medida do possível”. Tenha presente a frase com que frei Carlos desaprovava qualquer proposta de homenagem. Diante de idéias ele apenas dizia: “Se alguém merece incenso, este alguém é o povo!” Tenha certeza de que na sua mensagem você estará homenageando o povo que se congrega em comunidades para ler, meditar e orar a partir das Escrituras. Em nome do Conselho Nacional do CEBI, agradecemos seu carinho e sua mensagem a frei Carlos.

Francisco Orofino – Adeodata Maria dos Anjos – Edmilson Schinelo

Dom Sérgio da Rocha: arcebispo de Brasília

Dom Sérgio da Rocha foi nomeado hoje arcebispo de Brasília.

Dom Sérgio foi meu aluno na PUC-Campinas e, alguns anos mais tarde, ao terminar seu doutorado, meu colega. Sérgio era Professor de Teologia Moral quando foi nomeado bispo em 2001.

Foi bispo auxiliar de Fortaleza, Ceará, e era, até hoje, o arcebispo de Teresina, Piauí.

Na última assembleia geral da CNBB, no mês passado, em Aparecida, São Paulo, Dom Sérgio foi eleito presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé.

Parabéns, Sérgio.

Fonte: CNBB

Outros depoimentos sobre José Comblin: 1923-2011

:: Comblin, o profeta da ironia afetuosa – Marcelo Barros: Adital – 31/03/2011
Hoje saí da UTI de um hospital de Olinda, no qual me abriram o peito e me recauchutaram o coração fragilizado, com duas pontes de safena. No reencontro com a vida, ainda no leito de uma enfermaria, fico sabendo da partida do padre José Comblin, meu velho professor de Teologia e amigo de tantos anos e companheiro de lutas e esperanças. A um teólogo de fama mundial e de projeção pastoral como foi o padre Comblin, não faltarão testemunhos de muitos irmãos e irmãs que com ele conviveram e trabalharam por tantos anos. Eu fui apenas um dos seus alunos em todo o curso de Teologia e nem pertenci ao grupo mais ligado a ele na Teologia da Enxada ou mesmo no instituto de vida missionária que ele animava. Entretanto, fui marcado por sua figura e sua doutrina e tenho algumas experiências próprias que podem ser úteis que agora sejam recordadas. Há pouco mais de uma semana, escrevi um pequeno artigo, defendendo a atualidade e a pertinência de sua profecia eclesial e popular. Ele me respondeu com uma breve mensagem de agradecimento e depois me mandou um texto maior explicando suas críticas ao estilo atual do poder na Igreja Católica. Conheci o padre Comblin quando ele ainda era muito jovem, em 1964. Dom Hélder Câmara, então novo arcebispo de Olinda e Recife, trouxera uma equipe célebre de professores de Teologia. Entre eles estava o padre Comblin que, durante seus primeiros anos no Nordeste, ficou hospedado no mosteiro dos beneditinos. Naqueles anos, justamente, eu entrei no Mosteiro com a ânsia de renovação que motivava minha geração. Apesar de ser o tempo em que o Concílio Vaticano II propunha para a Igreja um novo Pentecostes, a maioria dos monges se apegava às velhas tradições. Apesar de ser muito discreto e viver outras preocupações pastorais, Comblin não deixava de ser irônico e quase sarcástico. E aquilo me atraía. No meu tempo de noviciado, li em francês “O Cristo no Apocalipse” onde se vê um Comblin exegeta e pouco conhecido. Li também, já em português “A Ressurreição”, um belo livro da Herder no qual ele, antes do Vaticano II, sustentava que o fato teológico mais marcante para o século XX tinha sido a revalorização teológica e espiritual do mistério pascal e da ressurreição de Jesus. Quando comecei a fazer Teologia no Seminário de Camaragibe, ele era o coordenador do curso. Na minha juventude, eu o achava contraditório. De um lado, ele ensinava uma teologia profunda, mas tradicional (não tradicionalista) e eu compreendia pouco isso. Esperava dele intuições inventivas e estas não apareciam, ao menos para mim. Sei que, neste tempo, ele produziu obras impressionantes como Théologie de la Paix, Théologie de la Ville e um estudo sobre Catolicismo Popular no Brasil. Mas, na época, não tive acesso a estas obras. Suas aulas eram dadas em um tom monocórdio, só interrompidas aqui e ali pelas risadas de alunos que festejavam as ironias do Comblin, aparentemente demolidoras, mas no fundo construtivas. Mais tarde, em 1968, o Instituto de Teologia do Recife nomeia uma equipe de três professores e três alunos para elaborar uma proposta de nova temática e nova metodologia teológica. O coordenador da equipe era Comblin e eu fazia parte dos três alunos que tinham de discutir com ele as propostas dos alunos. Eu tinha a sensação de que ele mal nos escutava, mas me surpreendi quando, depois de muitos debates ácidos, ele assumiu nossas propostas e estas foram, em sua maioria, implementadas. No mesmo ano, um escrito interno com o qual Comblin preparava a conferência episcopal de Medellin e propunha uma revolução social, extravasou para a imprensa. Ele que tinha ido a Europa foi proibido pela ditadura militar de voltar ao Brasil. Quando lhe perguntaram quem poderia, até o final do ano, coordenar o seu curso de Teologia dos Sacramentos, (estávamos em agosto), tive a surpresa e o orgulho de saber que ele escolhera o meu nome. Eu era apenas um dos alunos da classe do terceiro ano. A partir daí, sim, eu o assumi como um mestre de vida e procurava ler e estudar tudo que ele escrevia. A partir de então, descobri como ele inovava sua doutrina. Seu livro em dois volumes “Teologia da Revolução” foi meu batismo nos caminhos do que depois chamaríamos teologia da libertação. Nos anos 70, ele estava fora do Brasil e tivemos poucos contatos. Nos anos 80, o reencontrei mais velho e o achei mais aberto e comunicativo, sempre muito atento aos amigos. Um homem fiel às amizades e às relações. Era um intelectual de erudição raríssima, capaz de dissertar sobre Teologia, Política, Bíblia, Economia e muitos outros assuntos com uma competência incrível, ao mesmo tempo que punha em prática sua visão de uma teologia popular e seu carinho por um instituto para formar padres, missionários/as e religiosos /as que viessem do campo e não precisassem sair do meio rural. Algumas discussões com ele nortearam-me a vida. Por exemplo, a tentativa de libertar a Teologia cristã de sua base helenista (filosófica grega) ainda muito forte em nossa Igreja. Também, me impressionavam sempre a sua capacidade de criticar livremente a estrutura monárquica e absolutista do Vaticano. Mesmo um interesse imenso por uma vida religiosa mais popular e mais inserida, menos centrada nas estruturas das congregações. Nos últimos anos em que vivi no mosteiro de Goiás, sempre passou a Páscoa conosco. No Brasil, temos a graça de contar com teólogos e teólogas dos mais abertos e criativos do mundo, mas a contribuição própria do padre Comblin tem sido sempre a de uma liberdade interior de dizer o que pensa e ser um profeta crítico e irônico sempre capaz de lera história e as estruturas eclesiásticas a partir dos empobrecidos e das grandes causas da América Latina. Em 2006, com Dom Tomás Balduíno e com ele, fomos observadores internacionais das eleições presidenciais da Venezuela e, bem mais do que outros companheiros, eu o vi muito aberto ao bolivarianismo. Quem o conheceu de perto sabe que sua ironia era profunda, mas não era de ruptura e sim de afeição. Como poucas pessoas, é o caso de Dom Helder Câmara, Comblin conseguiu ser cada dia mais aberto e crítico à medida que seus anos avançaram. Que sua herança teológica e profética seja por nós mantida e continuada.

 

:: Preito de gratidão ao Pe. José Comblin – Luís Weel: Adital – 01/04/2011
O que dizer neste momento do falecimento de Pe. José Comblin? Conheci este grande guerreiro antes de ver em pessoa. Nos anos de 1962-1966 estudei teologia no seminário diocesano da diocese de Haarlem (Holanda). Foi aí que encontrei um livro dele em holandês “Ik zag een nieuwe hemel en een nieuwe aarde”= (Vi um novo céu e uma nova terra). O livro me fez sonhar da perspectiva de uma nova era que estava para iniciar no tempo do Concílio Vaticano II. Nem de longe tinha consciência que o apóstolo João, querido de Jesus, tinha escrito o livro do apocalipse como carta de consolação às comunidades de cristãos oprimidos e perseguidos. A grande realidade do tempo de João é que a boa nova da grande alegria passa por um vale de lágrimas. “Quem semeia entre lágrimas, recolhe a cantar”. Empolgado com a perspectiva de uma igreja renovada e a chegada do Reino da Justiça e Paz, fraternidade e partilha, resolvi me oferecer para o serviço da missão. Os caminhos de Deus são misteriosos. Cheguei no Nordeste do Brasil em junho do ano 1970. Levei um grande susto ao ver e sentir os clamores dos oprimidos que como ovelhas eram abatidas e massacradas. Minha primeira tentação era, após cinco anos conforme o contrato entre os bispos, voltar para minha terra. Senti-me incapaz de enfrentar as inúmeras situações de miséria revoltante, brutalidade e morte sem sentido. Porém fiquei continuando, muitas vezes chorando e não querendo mais ouvir os gritos silenciosos de grandes multidões de pobres que não sabiam para onde ir e o que fazer para se libertarem. Naquela época não queria ser um turista que está aí para passear sem compromisso. Foi a partir dos anos de 1973 que aos poucos fui conhecer o Pe. José, que dedicava sua vida com inteligência, ciência, fortaleza e teimosia à causa dos marginalizados no campo, plantando a boa semente do Evangelho nos corações dos preferidos de Jesus, como por último plantou ainda uns dias atrás o pé de Pau Brasil para dar sombra à cova de sua sepultura. A imagem me faz lembrar o profeta Jonas, que, após o cumprimento da missão se sentia debaixo de uma árvore para ter sombra e contemplou que sua mensagem aos Ninivitas deu outros resultados que os esperados por ele. Ele ficou frustrado ainda mais quando a sombra que buscava debaixo da árvore desapareceu. A árvore secou. Sem dúvida vai demorar muito antes que o pau Brasil, plantado por Pe. José vai dar a sombra que está procurando. O pau Brasil cresce muito lento. Também podemos dizer que isso não importa. Paz do cemitério não é a verdadeira paz. A melodia de Luís Gonzaga ressoe na minha cabeça: “Minha vida é andar por este país, para ver se um dia descanso feliz, guardando as recordações das terras onde passei, andando pelos sertões e amigos que lá deixei… Não sinto dor ou saudade neste momento. Somente gratidão por sua coerência com o Evangelho e a vivência até o último suspiro com o projeto de Deus para com os pequenos desta terra. Rezo e espero que Deus me dê um pouco de sua coragem de perseverar até o fim no cumprimento da missão. Obrigado Pe. José por sua vida e seu exemplo. Pêsames para você Monica, companheira e servidora fiel que tem dedicado sua vida de serva humilde à causa da evangelização e apoio a Pe. José em todos os momentos. Sem dúvida é você que mais do que qualquer um vai sentir a ausência do nosso guerreiro. Só as palavras do Evangelho ajudam para passar pelo vale de sombras: “Não tenhas medo. Estou com você até os confins do tempo”. Ao acompanhar, daqui da Holanda, o enterro que está acontecendo por volta deste horário, ouço na minha mente a canção do salmo: “Se Deus nos levar pra casa do nosso exílio, isso será nosso grande sonho”. Adeus a todos.

 

:: A liberdade cristã: um dos núcleos da teologia de José Comblin. Entrevista especial com João Batista Libanio – IHU: 02/04/2011
Comblin reuniu várias qualidades fundamentais como teólogo que manifestam a força do seu pensamento e o peso da sua influência. Sem ser estritamente exegeta, tinha excelente formação bíblica. Produziu uma série de comentários bíblicos (Atos, epístolas de São Paulo), estudos profundos nesse campo e detalhada reflexão sobre a Palavra de Deus (A força da palavra, Ed. Vozes, 1986), não descuidando o leitor popular (Introdução geral ao comentário bíblico: leitura da Bblia na perspectiva dos pobres. Petrópolis: Vozes, 1985). Possuía vasta cultura histórica. Isso lhe dava segurança sobre o passado para analisar com rigor e seriedade o momento atual. Os adversários e desafetos ficavam desarmados diante das críticas que ele fazia, porque elas carregavam enorme peso histórico. Tinha aguda capacidade de análise das situações. Foi pioneiro na crítica da Ideologia da Segurança Nacional que desmascarou os regimes militares da América Latina e abriu os olhos da Igreja que se tinha embarcado no apoio a eles (A ideologia da segurança nacional: o poder militar na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973). Escreveu obras significativas que permanecem até hoje como referência. Os dois livros, publicados, em francês, sobre a teologia da revolução e da prática revolucionária marcaram momento na teologia contemporânea (Théologie de la révolution: théorie. Paris: Universitaires, 1974). E, a partir do olhar do nosso continente, foi um dos iniciadores da teologia da libertação e a projetou no cenário mundial. Na qualidade de professor de Lovaina, belga, europeu, a sua palavra em prol da teologia da libertação tinha maior força. Não se tratava de simples moda de países do Terceiro Mundo, mas recebia o impulso de figura do mundo teológico europeu. Nas críticas à Instituição eclesial e a certas práticas cristãs e doutrinais, baseava-se muito na teologia do Espírito Santo. Sem dúvida, desempenhou papel pioneiro na teologia, ao corrigir certo eclesiasticismo, apelando para a pessoa do Espírito Santo. Divulgou o famoso dito de que três brancuras na Igreja católica relegaram para segundo plano a figura do Espírito Santo: a hóstia, a Virgem Maria e o solidéu branco (do Papa). Ele retomou a longa tradição da Igreja anterior a tal deslocamento para acentuar a importância do Espírito Santo durante toda a história e, de modo especial, nos dias atuais (O Espírito Santo e a libertação: o Deus que liberta seu povo. Petrópolis: Vozes, 1987). A temática da liberdade cristã, fazendo eco ao livro de Lutero, constituiu importante núcleo de sua teologia. A ela, naturalmente, vinculava a pessoa de Jesus, sob o signo do homem livre em face do templo, do sábado, das formas religiosas e rituais de seu tempo. Tinha, por isso, preferência por São Paulo, sobre quem escreve livro simples, mas profundamente sugestivo, na perspectiva de homem que se sustentava com o trabalho das próprias mãos (Paulo: trabalho e missão. São Paulo: FTD, 1991). De maneira sistemática, ele produziu um breve curso de teologia para leigos que prestou e ainda presta serviço aos estudantes, publicado pelas editoras Paulinas sobre Jesus Cristo, Espírito Santo, Igreja e Sabedoria cristã. A cidade moderna com os desafios à fé e à pastoral constituiu-se-lhe preocupação constante. Em francês, publicou amplo e importante estudo sobre ela que apareceu em versão simplificada em português (Teologia da cidade. São Paulo: Paulinas, 1991), depois completado por outro pequeno e sugestivo livro (Viver na cidade: pistas para a pastoral urbana. São Paulo: Paulus, 1996). Imaginar o futuro para a fé cristã, para a Igreja, para a pastoral ofereceu-lhe campo de pensar utopias e a partir delas voltar-se para o presente e mostrar a distância entre ambos. Nessa linha escreveu livros de peso (Cristãos rumo ao século XXI: nova caminhada da libertação. São Paulo: Paulus, 1996; Desafios aos cristãos do século XXI. São Paulo: Paulus, 2000). A eclesiologia mereceu belo estudo volumoso sobre o Povo de Deus no espírito do Concílio Vaticano II (O povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2002). Ele soube valorizar tal concílio e a pessoa do papa João XXIII e lamentar a perda de sua herança nas últimas décadas.

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:: Pe. José Comblin, Pregador da Palavra de Deus – Domingos Zamagna: Adital – 04/04/2011
Acabo de participar da Missa de 7º dia em sufrágio do Pe. José Comblin. Presidida por Dom Angélico Sândalo, emérito de Blumenau, ao lado de outros bispos eméritos, foi realizada no Convento dos Dominicanos, em cuja Escola de Teologia (hoje intitulada Instituto Bartolomeu de Las Casas, afiliado à Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino – Angelicum, em Roma) o Pe. Comblin lecionou durante mais de uma década. Ali fui aluno deste extraordinário mestre e, como centenas e milhares de pessoas, pude aprender com ele as maravilhas da fé cristã. Nossa amizade já durava 46 anos, quando recebi, da querida amiga comum Ana Flora Anderson, a notícia de seu falecimento. Falando dele para alunos ,dentre os quais muitos seminaristas, a maior parte nem sequer sabe quem foi este teólogo. Alguns se recordavam que sobre ele pairava uma proibição de dar conferências em instituições católicas, inclusive na PUC-SP…

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:: O método do mestre José Comblin – Luiz Carlos Susin: IHU On-Line 04/04/2011
Quando morre um mestre, fica para os que o conheceram uma herança inelutável: a continuidade de seu ensinamento e ao mesmo tempo a pergunta: “quem pode substituir um mestre?” Na morte de José Comblin, um intelectual cristão, talvez muitos somados possam cobrir um pouco o vazio e dar continuidade a um modo tão radical de ser cristão e de ser intérprete dos caminhos do cristianismo e da humanidade. E o que, nesses dias de luto, mais me ocorre é a lembrança do método tão ao seu estilo. Kierkegaard escreveu sobre o verdadeiro mestre: conduz o discípulo à perplexidade, provocando a descoberta de suas falsidades como ponto de partida de seu caminho para a verdade e para a liberdade. Desde 1985 tive a ocasião de estar regularmente nos encontros da Associação de Teologia e Ciências da Religião, do Brasil, da qual fui presidente na virada de milênio, e de poder escutar perplexo as análises que nosso mestre, nosso “patriarca”, nas palavras de Leonardo Boff , recorrentemente era convidado a fazer para começarmos nossos congressos anuais. Dizíamos com o mesmo bom humor que ele mantinha inalterado, que se tratava de uma “metralhadora giratória”! Mas nós também o cercávamos por todos os lados e o cobríamos de questões. Essa “metralhadora giratória” não era aleatória ou gratuita e sem fundamentos, nem provinha de críticas que superassem a esperança e a paciência. Provinha de uma visão de grande alcance e de uma liberdade sem ideologias. Nem mesmo as mais delicadas e às vezes constrangedoras, as ideologias eclesiásticas. Como um médico concentrado no diagnóstico, ele passava pelos diferentes níveis da realidade humana: internacional, nacional, e nossa, dos teólogos. E por diferentes regiões: a política, a economia, os movimentos sociais, as igrejas, e até nossos pequenos mundinhos de sacristia e academia. Apalpava onde estava a dor, o sintoma, e então disparava o diagnóstico; às vezes usava o bisturi para dar o retoque. E a gente saia meio doído, meio tonto, buscando se localizar de novo, obrigando-nos a discutir, a pesar bem os argumentos, a retomar o fio da meada e alinhavar melhor as nossas ideias. Algo se sabia de antemão: Comblin nos obrigava a pensar, até por uma questão de sobrevivência! Ele não inventava, ele fazia uma leitura dos acontecimentos, dos movimentos da história, e colocava sua leitura diante de nossos olhos: dava o que pensar.

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:: José Comblin: um desafio à intelligentzia brasileira – Leonardo Boff: Brasil de Fato – 04/04/2011, reproduzido por IHU On-Line: 05/04/2011
No dia 27 de março morreu aos 88 anos de idade perto de Salvador o teólogo da libertação José Comblin. Belga de nascimento, optou por trabalhar na América Latina, pois se dava conta de que o Cristianismo europeu era crepuscular e via em nosso Subcontinente espaço para a criatividade e um novo ensaio em contacto especialmente com a cultura popular. Ele encarnava o novo modo de fazer teologia, inaugurado pela Teologia da Libertação, que é ter um pé na miséria e outro na faculdade de teologia. Ou dito de outro modo: articular o grito do oprimido com a fé libertadora da mensagem de Jesus, partindo sempre da realidade contraditória e não de doutrinas e buscar coletivamente uma saida libertadora para ela (…) Ele é um dos melhores representantes do novo tipo de intelectual que caracteriza os teólogos da libertação e os agentes de pastoral que estão nesta caminhada: operar a troca de saberes, vale dizer, tomar a sério o saber popular, de experiências feito, banhado de suor e sangue, mas rico em sabedoria, e articulá-lo com o saber acadêmico, crítico e comprometido com as transformações sociais. Essa troca enriquece a uns e a outros. O intelectual repassa ao povo um saber que o ajuda avançar e o povo obriga o intelectual a pensar os problemas candentes e se enraizar no processo histórico. A Intelligentzia brasileira possui uma dívida social enorme, nunca saldada, para com os pobres e marginalizados. Em grande parte as universidades representam macroaparelhos de reprodução da sociedade discricionária e fábricas formadoras de quadros para o funcionamento do sistema imperante. Mas há de se reconhecer também, não obstante seus limites, o fato de que foi e é também um laboratório do pensamento contestatário e libertário. Mas não houve ainda um encontro profundo entre a universidade e a sociedade, fazendo uma aliança entre a inteligência acadêmica e a miséria popular. São mundos que caminham paralalelos e não são as extensões universitárias que irão cobrir esse fosso. Tem que ocorrer uma verdadeira troca de saberes e de experiências. Ignorante é aquele que imagina ser o povo ignorante. Este sabe muito e descobriu mil formas de viver e sobreviver numa sociedade que lhe é adversa. Se há um mérito cultural nos teólogos da libertação (eles existem aqui e pelo mundo afora e Roma não conseguiu exterminá-los) é terem feito este casamento. Por isso não se pode pensar num teólogo da libertação senão metido nos dois mundos, para juntos tentarem gestar uma sociedade mais equalitária que, no dialeto cristão, tenha mais bens do Reino que são justiça, dignidade, direito, solidariedade, compaixão e amor. O Padre José Comblin nos deixou o exemplo e o desafio.

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:: O que José Comblin nos contou em 2007? – Eduardo Hoornaert: IHU On-Line: 05/04/2011
Por ocasião dos sessenta anos da ordenação sacerdotal de José Comblin, um bom grupo de amigos(as) e missionários(as) se reuniu no santuário de Ibiapina em Santa Fé (Arara), no brejo paraibano, para festejar a data, reatar os contactos, fortalecer a rede e reanimar o espírito. José tinha 85 anos e estava particularmente eufórico. Ele nos confidenciou detalhes sobre sua vida, algo que não costumava fazer.

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:: Agradecimento a um mestre – IHU On-Line: 05/04/2011
No sábado, dia 2 de abril, na Igreja Santo Domingo, em São Paulo, foi celebrada da missa de 7º dia de falecimento do Padre José Comblin. A missa foi presidida por Dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo emérito de Blumenau SC. Na celebração eucarística foi lida a mensagem “Agradecimento a um mestre”, assinada, entre outros, por 160 teólogos e teólogas, agentes de pastoral e bispos.

Leia a mensagem.

 

:: Comblin: pedagogo, profeta e santo. Entrevista especial com D. Sebastião Soares e D. Luiz Cappio – IHU On-Line: 08/04/2011
Pe. José Comblin vivia em Barra, no interior da Bahia, há dois anos. Escolheu viver lá porque achava que a diocese da cidade era uma das poucas que estava, efetivamente, ao lado dos pobres. D. Luiz Cappio conviveu com ele durante esses últimos anos de vida e conta, na entrevista que concedeu por telefone à IHU On-Line, sobre como foram esses últimos momentos da vida de Comblin. “Nós estabelecemos um entrosamento muito grande por ocasião do meu segundo jejum em Sobradinho, quando ele esteve lá comigo durante um tempo bastante grande, sendo muito solidário e muito fraterno na nossa luta contrária ao projeto de transposição de águas do rio São Francisco”, conta D. Cappio que, então convidou Comblin para residir na diocese de Barra. Dom Luiz Flávio Cappio vive na Bahia, onde está à frente da diocese de Barra. Em 2005 e 2007 fez jejum em protesto contra o projeto do governo federal de transposição do rio São Francisco. Em 2008, a organização Pax Christi Internacional (Bélgica) lhe deu o prêmio da Paz do mesmo ano, por sua luta em defesa da vida na região do São Francisco. Em 2009, recebeu o Prêmio Kant de Cidadão do Mundo, da Fundação Kant (Alemanha).

“Sem dúvida a morte de José Comblin é um momento de grande dor para a Igreja e particularmente para quem o conheceu mais de perto”. Dom Sebastião Armando Gameleira Soares, bispo da Diocese Anglicana do Recife, reconhece que falar postumamente sobre o grande teólogo e amigo é desafiador. Porém, “ouso acrescentar que é um grande momento de ressaltar a relevância da profecia na Igreja e na sociedade”. Ele também concedeu uma entrevista, por e-email, à IHU On-Line sobre Pe. Comblin. Nascido em Alagoas, Dom Sebastião Armando Gameleira Soares é bispo da Diocese Anglicana do Recife (região Nordeste), da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. É mestre em teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, Roma, e em Ciências Bíblicas, pelo Instituto Bíblico de Roma, e em Filosofia, pela Universidade Lateranense, também em Roma. É também especialista em sociologia e bacharel em direito. Há mais de 25 anos, assessora o Centro de Estudos Bíblicos – Cebi, tendo assumido sua Direção Nacional e sua Coordenação Nacional do Programa de Formação, além da coordenação e da assessoria do Curso Extensivo de Formação de Biblistas. Também colabora na assessoria ao Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e à Educação Popular – Cesep, de São Paulo.

Confira a entrevista com Dom Cappio.

Confira a entrevista com Sebastião Gameleira Soares.

Mais depoimentos sobre José Comblin: 1923-2011

:: Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava – Carlos Mesters: Adital – 29/03/2011
Padre José Comblin morreu. Um bispo o criticou, como: “Comblin, homem cansado e pessimista”. O pessoal das Comunidades por onde ele andava não o chamava de Comblin, mas sim de “Padre José”. Padre Comblin incomodava as pessoas de poder, mas era amado pelos pobres que o acolhiam carinhosamente como Padre José. Padre José Comblin nasceu na Bélgica nos anos 20 do século passado e nos anos 50 veio trabalhar e anunciar a Boa Nova aqui no Brasil. O profeta Amós era de Judá no Sul e foi trabalhar e anunciar a Boa Nova de Deus em Israel no Norte, no santuário de Betel. Amasias, o sacerdote de Betel, não gostou e denunciou o profeta junto ao rei Jeroboão, dizendo que já não se podia tolerar as palavras de Amós. E mandou dizer ao próprio Amós: “Ó, seu profeta, vá embora daqui. Retire-se para sua terra Judá. Vá ganhar sua vida por lá com suas profecias. Mas não me venha mais fazer suas profecias aqui em Betel, pois isto aqui é o santuário do Rei e o templo do Rei”. Amós mandou dizer: “Eu não sou profeta nem filho de profeta. Sou camponês, criador de gado e cultivador de sicômoros. Foi Javé que me tirou de trás do rebanho e me ordenou, ‘Vá profetizar ao meu povo Israel’!” (Amós 7,10-15). Como o profeta Amós, Padre José Comblin incomodava aos homens do poder no tempo da ditadura e foi expulso várias vezes. Incomodava também aos que exercem o poder na Igreja. Alguns deles chegaram a dizer que já não se podia tolerar as coisas que ele dizia, e eles proibiram a fala dele várias vezes em vários lugares. Como o profeta Amós, Padre José, ele mesmo, nunca se apresentou como profeta. Ele se apresentava como ser humano cristão e sacerdote, cumpridor fiel do seu dever. Posso testemunhar: convidado para falar nas comunidades e nos grupos do CEBI, Padre José convencia as pessoas pela simplicidade do seu jeito de conversar e dialogar, pelo testemunho da sua sinceridade e profundidade de vida e pela quantidade enorme de informações de que dispunha para confirmar as coisas que dizia e as denúncias que fazia. Mesmo ausente ele continua presente. Como o profeta Amós, “seu corpo foi sepultado em paz, mas o seu nome viverá através das gerações” (Eclo 44,14). Eternamente grato.

:: Lições que aprendi com Pe Comblin: liberdade e a história — Jung Mo Sung: Adital – 28/03/2011
O falecimento do Pe Comblin nos faz enfrentar uma realidade inevitável: a primeira geração (provavelmente a mais criativa e rigorosa) da teologia da libertação está aos poucos chegando ao limite da vida. Uma forma de homenagear pessoas como Comblin é continuar a tarefa de uma reflexão crítica séria comprometida com a causa dos pobres e também de divulgar o seu pensamento para novas gerações de estudante de teologia ou de agentes pastorais. Pensando nisso é que resolvi escrever este pequeno texto. Mas é uma tarefa muito difícil escrever em uma página o que significou a pessoa e a obra de Pe Comblin para as igrejas cristãs na América Latina e também para muitos não cristãos que conheceram, por ex., o seu livro “A ideologia de segurança nacional”. Por isso, eu quero simplesmente compartilhar algumas idéias de Comblin que me marcaram nos últimos 30 anos. Se há uma palavra que marcou a minha leitura da vastíssima obra de Comblin é a liberdade. Ele disse: “Segundo a Bíblia, a liberdade é mais do que uma qualidade, um atributo de ser humano: é a própria razão de ser de humanidade.” E a afirmação de Paulo de Tarso, “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gal 5,1)” pode ser visto como o mote que guiou a sua obra. Esta busca de liberdade, que impulsiona a luta pela libertação, não pode ser confundida com uma visão moderna burguesa da liberdade. “Não é livre aquele que diz que faz o que quer, mas, na realidade, não sabe resistir à pressão dos desejos”, tornando-se escravo dos objetos que excitam o seu desejo.” Nestes casos, a liberdade pressupõe a libertação dos desejos individuais e a sua realização no assumir o serviço e a causa em favor dos mais pobres (…) Para Comblin lutar pela libertação e uma vida de liberdade não é lutar por um mundo sem mal, pois não é possível vivermos a liberdade sem a possibilidade do mal e do pecado. Deus fez o mundo tal que o pecado é uma possibilidade inevitável. Por isso, ele retoma um texto bíblico muito citado por Juan Luis Segundo, “Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo” (Ap 3,20) e diz: “Se ninguém abrir, Deus aceita a derrota sabendo que sua criação fracassou. Deus criou um mundo que podia fracassar.” Essas palavras mostram uma característica de Comblin que sempre admirei: a sua coragem profética de dizer coisas que podem contrariar nossos desejos românticos, desejos que nos levam para fora da história humana e do ser humano real. Assim, ele cumpriu com a sua obra um dos propósitos da teologia da libertação: ser uma reflexão crítica sobre o mundo idolátrico e também sobre a nossa religiosidade e experiência de fé, a serviço da liberdade-libertação dos mais pobres.

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:: Comblin: Bastão de Deus que fustiga os acomodados — José Lisboa Moreira de Oliveira: Adital – 28/03/2011
Estou acompanhando o que se anda dizendo nos últimos dias sobre o nosso irmão teólogo José Comblin. Houve quem tentou até se compadecer dele dizendo que já passou dos oitenta e chegou a insinuar que ele está meio “gagá”. E por está gagá, coitadinho, passou a dizer umas coisas fora de lugar, fazendo umas afirmações pessimistas, vendo o horizonte escuro, tendo uns ataques de “alucinação”, enxergando coisas que não existem, falando mal da hierarquia da Igreja e assim por diante. Todas essas coisas me fizeram imediatamente pensar nos profetas de todos os tempos. Também eles, quando começaram a falar sem meios-termos, a “dar nomes aos bois”, a colocar o dedo em certas feridas, foram logo acusados de serem visionários, lunáticos, inimigos da religião e do rei (…) Também Jesus, o profeta por excelência, não escapou da fúria dos poderosos (…) Não. Comblin não está gagá, não está louco, não está tomado de pessimismo e nem tão pouco de derrotismo. Comblin é um dos poucos profetas que ainda temos na Igreja dos nossos dias. Infelizmente em tempos de exílio eclesial, como o que estamos vivendo atualmente, é rara a figura do profeta (…) O profeta é o bastão de Deus que fustiga os acomodados. E onde há profetas verdadeiros e autênticas profecias há incômodo e mal-estar para muita gente (…) Comblin é um autêntico teólogo e como tal não se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo-papagaio e nem faz teologia de corte, apenas repetindo frases do Catecismo ou de documentos da Igreja para agradar a cúpula eclesiástica, receber elogios ou até compensações, como, por exemplo, uma roupa roxa ou avermelhada. Comblin faz teologia de verdade, ousando dizer o que ninguém diz, propondo alternativas para o que aí está, apontando caminhos que podem ser trilhados. Como teólogo-profeta mostra que certos modelos atuais de Igreja estão carcomidos pelo tempo e por vícios seculares e não dizem mais nada para a humanidade que sonha com outro mundo possível e com uma comunidade eclesial que, de fato, seja sinal desse novo mundo (…) Comblin é um profeta que possui sensibilidade para perceber o que está acontecendo. E por isso fala sem medo e sem falsas contenções. Ele, enquanto ancião, é um verdadeiro modelo para as novas gerações de cristãos e de cristãs.

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:: José Comblin: Maestro visionario – Carmelo Alvarez: ALC – 28/03/2011
El correo electrónico es un medio eficaz para mantenernos en contacto con amigos entrañables. Y muchas veces nos comparte noticias muy buenas. Esta noche Guillermo Meléndez y José Oscar Beozzo nos comparten una noticia que entristece y conmueve. El gran maestro y visionario José Comblin nos ha dejado para morar en predios de eternidad. En la gran casa de Dios está. No me queda la más mínima duda. No recuerdo el lugar exacto en que lo conocí en esta Latinoamérica “ancha y ajena”, para servirnos de esa frase de Don Ciro Alegría. Una cosa sí recuerdo y recordaré, su erudición. Era un maestro en el más pleno y auténtico sentido de la palabra. Se me antoja pensar que una razón fundamental para esa vocación magisterial era su profunda admiración por el maestro Jesús, a quien dedicó algunos escritos sencillos, buscando esa savia que el caminante de Galilea nos trató de comunicar. Y conversaba, Don José, con autoridad y conocimiento de los evangelios, las parábolas, los discursos de Jesús y todas sus enseñanzas, con reverencia. Siempre aplicando el desafío ético y la contextualización en nuestra propia vocación de aquello que Jesús nos quiso enseñar. Don José fue un escritor prolífico, claro, incisivo y polémico. Dotado de una gran inteligencia y bien formado en la ciencias sociales y naturales, se dedicó a iluminar conciencias e incitar a pensar correctamente y buscar la verdad. La gama de su producción literaria es de por sí impresionante, desde temas bíblicos hasta los teológicos, sociales y políticos, pasando por la historia. ¡Y nos deja perplejos y agradecidos por esa disciplina tan esmerada y bien cultivada! ¿Cómo no agradecer un libro tan claro y pedagógico como El Espíritu Santo y la liberación? Es una fuente esencial para un tema fundamental. Así podríamos mencionar Cristo y el Apocalipsis y su comentario a los Filipenses. Otros cientos de artículos sobre los más variados temas enriquecen su obra magna y erudita. Don José Comblin no sólo fue un gran maestro, sino que abrió caminos, trazó un trillo de provocaciones e intuiciones en la caminada teológica latinoamericana, que lo hacen un teólogo de la liberación cruza-fronteras, abriendo espacios para el diálogo y la crítica seria y ponderada. Además, fue un teólogo popular, del pueblo y con el pueblo. Proveyó una teología laica liberadora que lo llevó a encarnarse en la situación de las comunidades de base, compartiendo el pan y el vino; las penurias y las alegrías del campesinado brasileño. Lo mismo hizo en Chile y Ecuador. En muchas ocasiones compartió en Centroamérica con seminaristas, comunidades de base y universidades. Entonces, aparecía el visionario incomodador de dictadores y jerarcas religiosos conservadores. Su pensamiento profético y sus propuestas muchas veces heterodoxas y avanzadas, lo colocaban frente a esas autoridades en franco desafío, pagando el precio con la marginación, el exilio y la relegación. Pero Don José sabía medir riesgos y asumirlos con integridad evangélica. Creo no equivocarme, si le entendí bien, que no le interesó regatear poderes ni buscar posiciones acomodaticias. Tal vez, fue todo lo contario: Buscó incesantemente el camino del discipulado en discernimiento y humildad, con profunda ternura cristiana. Se le notaba en su rostro. Sus pausas en el conversar, con una sonrisa diáfana y dulce, proveía el espacio para compartir, aprender y sentirse uno desafiado. Sólo he de relatar una experiencia que me ayudó a valorar este profeta-visionario. El Centro Antonio de Valdivieso de Nicaragua programaba unas Semanas Teológicas que llegaron a ser un verdadero espacio para la reflexión, el análisis y las propuestas más desafiantes. Recuerdo que en la jornada de 1990 nos invitaron a Don José Comblin y a este servidor a compartir dichas conferencias, girando el tema general sobre los proyectos evangelizadores en Latinoamérica. A Don José le tocaba la perspectiva católica y a mí la protestante. La jornada incluía simposios y trabajo en grupos, en una dinámica de debate abierto muy fructífero. En lo personal me resultaba fascinante sentarme a conversar con Don José pues él deseaba compartir sus enfoques y saber los míos antes y después de cada intervención. Mirando hacia atrás en la distancia y el tiempo, fui profundamente impactado por aquellas conversaciones, y guardo con gratuidad la sabiduría que me compartió. Hubo un momento de celebración litúrgica en la Semana Teológica, allá en el Centro Valdivieso. Recuerdo vivamente que un sacerdote hondureño tomó la guitarra y comenzó a enseñarnos un cántico muy popular en las comunidades de base en Honduras. Y quedaron grabadas para siempre este mensaje tan evangélico que me confirma la tesitura espiritual de Don José Comblin. A él también le emocionó cuando lo cantamos: Jesucristo me dejó inquieto, su palabra me llenó de luz. Y jamás yo pude ver al mundo sin sentir, aquello que sintió Jesús. Gracias, Don José, digno siervo de Jesucristo en su pueblo. Su estela luminosa se ha quedado con nosotros y nosotras. Prometemos recordar con alguna frecuencia lo que nos enseñó y compartió. Su sabiduría nos ha conmovido y desafiado.

Depoimentos sobre José Comblin: 1923-2011

:: Faleceu, hoje pela manhã, José Comblin: Bruxelas, 22/03/1923 – Bahia, 27/03/2011 José Oscar Beozzo: Informativo CNLB Sul 1: 27/03/2011
É com tristeza que comunico a vocês que, na manhã de hoje, domingo, dia 27 de março, depois de completar 88 anos, nesta semana, faleceu no interior da Bahia, onde estava assessorando grupos de base, o amigo e mestre de todos nós, José Comblin. Levantou-se cedo, tomou banho, aprontou-se, mas não apareceu para a oração da manhã. Procuram-no e o encontraram-no sentado no quarto e já morto. Rezemos por ele que dedicou praticamente toda sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, no Brasil, no Chile e no Equador e em centenas de assessorias por todos os países. Ele veio para o Brasil em 1958, junto com o Pe. Michel Schooyans e o Pe. Laga, todos doutores por Lovaina, mas que foram dar aulas no seminário menor, para onde os mandou o Bispo Paulo de Tarso! Esteve conosco antes da Conferência de Aparecida, analizando a situação e dando-nos todo apoio, para as iniciativas do Fórum. Perdemos um mestre e um guia inquieto e exigente como os velhos profetas, denunciando sempre nossas incoerências na fidelidade aos preferidos de Deus: o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro. Trabalhou por uma Igreja profética a serviço destes últimos nas nossas sociedades. Que ele siga nos inspirando e acompanhando. Sentiremos e muita sua falta. Um abraço fraterno para todos vocês. Rezemos pelo Comblin, sua família e as igrejas e comunidades que o acolheram, em especial, Talca de Dom Larrain, no Chile, Dom Proaño em Riobamba, no Equador e, no Brasil, Recife do Dom Helder, Paraíba do Dom José Maria Pires e agora Dom Cappio, em Barra, no sertão da Bahia, onde estava residindo. Segue abaixo pequena biografia e bibliografia…

:: Falecimento de Padre José Comblin – Rudá Ricci: De Esquerda em Esquerda – 27/03/2011
O livro do Padre José Comblin sobre a Ideologia da Segurança Nacional foi um dos que marcaram minha politização na adolescência. Hoje recebi a notícia que ele faleceu na manhã deste domingo, depois de completar 88 anos, no interior da Bahia, onde estava assessorando grupos de base. Padre Comblin nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1923. Ordenou-se sacerdote em 1947 e doutourou-se em Teologia pela Universidade Católica de Louvain. Desde 1958 trabalhava na América Latina, começando por Campinas. Logo em seguida foi assessor da Juventude Operária Católica, tornando-se professor da Escola Teológica dos Dominicanos em São Paulo, tendo como alunos Frei Betto e Frei Tito. Em 1965 foi para o Chile. A convite de D. Hélder Câmara voltou ao Brasil para lecionar no Recife, onde foi professor no famoso Instituto de Teologia. A partir de 1969 esteve à frente da criação de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia utilizada para os seminários era adaptada ao ambiente social dos seminaristas. Foi expulso do Brasil em 1971 pelo regime militar. Exilou-se no Chile durante 8 anos, onde também esteve à frente da criação de um seminário em Talca, em 1978. Em seu livro A ideologia da Segurança Nacional, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina. Foi expulso por Pinochet em 1980. De volta ao Brasil, radicou-se em Serra Redonda (Paraíba), onde fundou um seminário rural e esteve à frente da formação de animadores de comunidades eclesiais de base. A metodologia para os seminários foi aprovada pelo papa Paulo VI, mas desaprovada por João Paulo II, quando da ascensão do conservadorismo católico que domina até os dias de hoje a Igreja Católica. Alguns dos seus livros…

:: Adeus Medellín – José Comblin: migrante, guerreiro, teólogo: Paulo Suess: Paulo Suess Blog – 27/03/2011
“Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço de Jacó, num terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José” (cf. Jo 4,5s). Este foi o Evangelho que José Comblin preparava para celebrar a Missa deste 3º Domingo da Quaresma (27.3.2012). Comblin estava de passagem em Simões Filho, município logo ao lado de Salvador (BA), para fazer uma revisão de seu estado de saúde e assessorar um grupo de base. José Comblin, um poço de sabedoria, morreu sentado, junto ao poço de Jacó – a vida toda ao lado de Jesus conversando com a Samaritana, a excluída do templo, da sociedade machista e do pretório. O templo e o pretório nunca lhe perdoaram essa proximidade à Samaritana. O fizeram refugiado em Talca (Chile), Riobamba (Equador) e, por fim, no Brasil, em Barra (BA), no sertão da Bahia, onde o profeta franciscano D. Luiz Cappio, o confessor Jose Comblin e a samaritana leiga Mônica constituíram uma comunidade teológico-pastoral. Comblin marcava anualmente presença em nosso curso de pós-graduação em Missiologia. Provocava os estudantes com sua “Teologia da Enxada”, com sua ênfase ao laicato, com seu espírito libertário, com sua radicalidade missionária e autenticidade vivencial. Comblin sempre soube que vale virar esse mundo, viver e lutar de paixão. No terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José, Comblin era posseiro militante. De cavernas remotas trouxe notícias de vida e sobreviventes. Lutou quando era fácil ceder. Quantas lutas teve que assumir por um poço de paz! Em Medellín, no Congresso dos 40 anos da “Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano”, em 2008, encontrei Comblin uma última vez. Depois de sua palestra, um aceno significativo que parecia dizer: adeus Medellín, adeus companheiros e companheiras. Hoje, dia 27 de março, José Comblin morreu aos 88 anos numa hospedaria de Simões Filho (BA). No brasão desta cidade está escrito: Angelus Pacis, anjo da paz. Que o anjo da paz ampare nosso guerreiro na grande travessia!

:: Nota de pesar da Diocese de Guarabira pelo falecimento do Pe. José Comblin – Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena: Bispo de Guarabira, em 27 de março de 2011 [nota no site da CNBB] “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só. Mas, se morre, produz muitos frutos” (Jo 12,24).
A Diocese de Guarabira recebeu com tristeza profunda a notícia da morte do Pe. José Comblin, aos 88 anos de idade, ocorrida, na manhã deste domingo, dia 27, no município de Simões Filho-BA, em plena atividade missionária. O Pe. José Comblin nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1923, e foi ordenado sacerdote em 1947. Dedicou a maioria de sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, chegando ao Brasil em 1958; morou durante vários anos no Estado da Paraíba; atualmente, morava na Diocese de Barra, Estado da Bahia, e a sua última visita ao Santuário do Pe. Ibiapina, a quem ele tinha como exemplo, foi no dia 05 p.p. e que já manifestava o desejo de quando morrer, ser sepultado junto ao Servo de Deus, Pe. Ibiapina, em Santa Fé, Diocese de Guarabira, desejo que será realizado. Sua biografia atesta seu amor a Cristo e à Igreja no exercício de um longo e frutuoso ministério sacerdotal. Esta Igreja particular que está no Brejo paraibano, agradece a Deus pela bênção da presença e ajuda na ação evangelizadora desse sacerdote, pastor, teólogo, professor, escritor e assessor de encontros, cursos e grupos, principalmente no Brasil, no Chile e no Equador; e faz chegar suas mais sentidas condolências aos seus familiares e a todas as comunidades eclesiais que tiveram o privilégio de conviver com o Pe. José Comblin. O corpo do Pe. José Comblin, vindo de Salvador-BA chegará em Santa Fé, município de Solânea-PB-Brasil, Diocese de Guarabira, no final do dia 28, ao início do dia 29; a celebração da Missa de Corpo presente, será na terça-feira, dia 29, às 15h, no Santuário do Pe. Ibiapina, e em seguida o sepultamento no próprio Santuário [sublinhado meu]. Movidos pela fé na Ressurreição, ao Deus da vida, rezamos: “Descanso eterno dai-lhe, Senhor. Brilhe para ele a vossa luz”.

:: Presidente da CRB de Salvador fala sobre a morte de Comblin – Padre Edgard Silva Júnior: Conferência dos Religiosos do Brasil – 28/03/2011
É terceiro domingo da quaresma, o evangelho apresenta Jesus na beira do poço pedindo água a mulher samaritana. Na cidade de São Salvador da Bahia chove muito. Longe do centro turístico, na região metropolitana, bem na divisa entre Salvador e Simões Filho, num bairro pobre e meio esquecido está o “Recanto da Transfiguração” – uma comunidade de consagradas que vivem a espiritualidade trinitária. Foi nesta casa simples e acolhedora que José Comblin se encontrava. Foi cercado de gente simples que ele celebrou há dias atrás, seus 88 anos de vida, com direito a bolo e vela para apagar. Ao lado da capela num simples quarto, na manhã do dia 27 de março, embalado nos braços da Trindade Santa, José foi para casa do Pai. Recebi o telefonema do Frei Luciano da CPT e imediatamente segui para local. No caminho fui avisando aos amigos e amigas, que pudessem ir para lá. Cheguei no Recanto da Transfiguração… Comblin estava na cama onde tinha dado o último suspiro. O semblante tranquilo de quem morreu como tinha sonhado… cheguei bem perto, peguei em sua mão, afagei seu rosto e lembrei naquele instante de pessoas que gostariam de fazer aquele mesmo gesto… e disse baixinho: “José esse aperto de mão é em nome do Beozzo, do CESEP, do CEBI, do Carlos Mestres, da Ivone Gebara, das faculdades de teologia onde você lecionou, do Fr Betto, do Marcelo Barros,do Ir. Bruno de Taizé, das Comunidades eclesiais de base…e tantos e tantas… é também em nome da Teologia da Enxada! Na sala, ao lado do quarto, estavam Frei Luis Cappio, Bispo da Barra (BA), onde atualmente residia Comblin; também Eduardo Hoonaert e a esposa e a Mônica que o acompanhava. Dom Cappio nos convida a celebrar a Eucaristia. Pegamos juntos o corpo do José, levamos para a capela, e numa celebração simples, familiar, de pouco mais de vinte pessoas, entoamos canções que marcaram a história das comunidades. Rezamos, ouvimos o testemunho dos que ali estavam e dos amigos que conviveram com Comblin. Terminada a celebração embalados por canções e preces nos despedimos. Pe José Comblin será sepultado na Paraíba. Lá seu corpo será semeado, no mesmo chão nordestino que acolheu Pe Ibiapina, Padre Cícero, Margarida Maria Alves, Dom Hélder Câmara… Fechei alguns botões da sua camisa; no quarto onde veio a falecer, coloquei no guarda roupa os óculos que ainda estavam sobre a cama. Lá fora a chuva caia fina, algumas pessoas ainda chegavam, quase todos sempre com o mesmo sentimento: Muito obrigado José Comblin! Recordei sua profecia, seus escritos, sua lucidez…e me veio no pensamento a canção:
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?”

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Morreu o teólogo José Comblin

Morreu nesta manhã o grande teólogo José Comblin.

Ficamos sem o Mestre da Teologia no Brasil.

O corpo de José Comblin, vindo de Salvador – BA, chegará a Santa Fé, povoado que faz parte do município de Solânea, na Paraíba, Diocese de Guarabira, no final do dia 28, início do dia 29. A celebração da Missa de Corpo presente será na terça-feira, dia 29, às 15h00, no Santuário do Pe. Ibiapina, e em seguida ocorrerá o sepultamento no próprio Santuário.

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Bibliografia de José Comblin
Centro de Pesquisa e Documentação José Comblin

Emanuel Messias: bispo de Caratinga

Dom Emanuel Messias de Oliveira foi nomeado hoje bispo de Caratinga, Minas Gerais.

Dom Emanuel, sagrado bispo em 19 de abril de 1998, em Governador Valadares, era, desde então, bispo de Guanhães, MG.

Emanuel é exegeta, com Mestrado em Ciências e Línguas Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, e pertence ao grupo dos “Biblistas Mineiros”.

Parabéns, Emanuel, irmão e amigo.