Semana Bíblica Nacional de 7 a 10 de junho de 2021

Semana Bíblica Nacional, de 7 a 10 de junho, marcará o início da celebração do jubileu de ouro do Mês da Bíblia

A Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoverá, nos dias 7 a 10 de junho, a Semana Bíblica Nacional. O Semana Bíblica Nacional de 7 a 10 de junho de 2021evento, em modalidade virtual, marca o início da celebração do jubileu de ouro do Mês da Bíblia.

Padre Jânison de Sá, assessor da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, explica que a proposta da Semana Bíblica é a de ser formativa e, ao mesmo tempo celebrativa, pelo fato de a Igreja no Brasil estar comemorando os 50 anos do Mês da Bíblia em 2021. “Um marco muito importante na história da Igreja no Brasil, onde os círculos bíblicos se espalharam em todas as comunidades do nosso imenso país”, afirma o padre.

Vale lembrar que, para esse jubileu do “Mês da Bíblia”, em 2021, o tema escolhido é a Carta de São Paulo aos Gálatas e o lema é “todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), extraído do “hino batismal”, descrito em Gl 3,26-28, quando Paulo afirma que todos são filhos e filhas de Deus. O tema e o lema estão em sintonia com o evangelho do Domingo da Palavra de Deus, que é extraído de Mc 1,14-20, quando Jesus inicia a sua missão, após a prisão de João Batista.

Padre Jânison salienta que, em sintonia com o Mês da Bíblia, a Semana Bíblica fará em sua abertura uma memória desses 50 anos “tão importantes para as novas gerações, para que se possa conhecer essa caminhada de animação bíblica, dos círculos bíblicos, de grupos de reflexão em todas as comunidades do país”.

 

Programação

:: Dia 7 de junho 2021

Irmã Izabel Patuzzo, assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, explica que na abertura da Semana Bíblica, no dia 7, haverá uma mesa redonda com a participação de dom José Antônio Peruzzo, presidente da Comissão; dom Jacinto Bergmann; a irmã Zuleica Silvano (Paulina); o irmão José Nery (Lassalista) e o padre Jânison de Sá Santos.

:: Dia 8 de junho 2021

Na segunda noite, dia 8, será apresentado o tema do Mês da Bíblia para o ano de 2021, com o autor do texto-base, o professor Joel Antônio Ferreira.

:: Dia 9 de junho 2021

O tema do dia 9 será a missão de Paulo Apóstolo com a participação da irmã Aíla Pinheiro, da Congregação Nova Jerusalém, e o padre Benedito Antônio Bueno de Almeida (Paulino).

:: Dia 10 de junho de 2021

O tema do último dia, 10, será a importância dos círculos bíblicos no Mês da Bíblia na perspectiva da Carta aos Gálatas, com a participação do professor Cláudio Vianney Malzoni; Mariana Aparecida Venâncio e o padre João Batista Maroni.

A Semana Bíblica poderá ser acompanhada pelas redes sociais da CNBB (@cnbbnacional); Edições CNBB (cnbbedicoes) e no canal da Catequese do Brasil (catequesedobrasil).

Fonte: Animação Bíblico-Catequética da CNBB – 03/06/2021

Mês da Bíblia: 50 anos

Comissão para a Animação Bíblico-Catequética lança “selo” comemorativo pelos 50 anos do Mês da Bíblia

Por ocasião dos 50 anos do Mês da Bíblia, a ser celebrado no mês de setembro, a Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou um selo especial para a comemoração.

Segundo o padre Jânison de Sá, assessor da Comissão, a ideia da logo é torná-la conhecida por todas as comunidades do Brasil, por ocasião da celebração do jubileu deSelo comemorativo pelos 50 anos do Mês da Bíblia ouro. “Desejamos motivar também as regionais e dioceses a utilizarem a nosso logo colocando seus nomes”, encoraja padre Jânison.

Para esse jubileu do “Mês da Bíblia”, em 2021, o tema escolhido é a Carta de São Paulo aos Gálatas e o lema é “todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), extraído do “hino batismal”, descrito em Gl 3,26-28, quando Paulo afirma que todos são filhos e filhas de Deus. Esse tema e o lema do “Mês da Bíblia 2021” estão em sintonia com o evangelho do Domingo da Palavra de Deus, que é extraído de Mc 1,14-20, quando Jesus inicia a sua missão, após a prisão de João Batista.

Segundo o padre Jânison, celebrar o jubileu de ouro do mês da Bíblia é muito importante para fortalecer a animação bíblica, o estudo, a reflexão e a oração a partir da Bíblia em toda a Igreja no Brasil.

“Comemoramos essa caminhada tão bonita na Igreja no Brasil, nas comunidades e paróquias celebrando o mês da Bíblia em setembro, com um livro estudado a cada ano, e ao mesmo tempo, neste ano celebrativo/formativo, apontamos novos caminhos passando de uma pastoral bíblica para a animação bíblica de toda a pastoral. Todas as pastorais e movimentos são motivadas a assumir a animação bíblica”, afirma o padre Jânison.

Para a irmã Izabel Patuzzo, também assessora da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, este é um jubileu que deixou marcas na vida de tantas comunidades que se reúnem ao redor da Palavra de Deus para dela se alimentar. “A organização dos círculos bíblicos são encontros fecundos de grupos, comunidades e pastorais que partilham a Palavra de Deus e a colocam como alma de toda ação evangelizadora. Esta leitura comunitária da Bíblia, tem como objetivo que a Palavra de Deus seja fonte de vida e esperança para todos os povos. Com metodologias simples e profunda ao mesmo tempo, ajudam o povo de Deus a descobrir nas Escrituras, o valor sagrado da dignidade humana e o convite ao discipulado missionário de Jesus em nossos dias”, diz.

“Nas pequenas comunidades missionárias, a mensagem Evangelho é atualizada e se propõe a ser fermento em todas as dimensões da vida e das relações econômicas, sociais, culturais, políticas, religiosas e ecológicas. Nestes 50 anos a Palavra de Deus, tem sido conhecida, meditada, iluminado e transformado tantas realidades”, diz a irmã.

Para ela, o Mês da Bíblia muito tem ajudado os discípulos e discípulas de Jesus a abeirar-se de sua Palavra. “Queremos que esta celebração chegue nos regionais, dioceses, paróquias, comunidades, pastorais e movimentos. Que a celebração do jubileu de ouro do mês da Bíblia seja uma oportunidade para dinamizar a animação bíblica de toda pastoral, pois o encontro com o Jesus na Eucaristia e na Palavra alimentam a espiritualidade cristã no dia a dia da vida”, enfatiza irmã Izabel.
Mês da Bíblia

A Igreja no Brasil instituiu o Mês da Bíblia a partir da urgência de anunciar a Palavra de Deus e a beleza de fazer ecoar no coração dos ouvintes a Palavra que renova e impulsiona à missão. À luz do Concílio Vaticano II, o Mês da Bíblia foi criado para mobilizar o aprofundamento e a vivência da palavra, através de um itinerário com a Palavra com um tema específico para cada ano.

 

Como surgiu o Mês da Bíblia?

O Mês da Bíblia surgiu em 1971, na Arquidiocese de Belo Horizonte, por ocasião da celebração do seu cinquentenário. As Irmãs Paulinas, através do Serviço de Animação Bíblica (SAB) deram o primeiro impulso, e posteriormente a CNBB assumiu-o como uma proposta nacional.

Entre seus objetivos estão o de contribuir para o desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia, na ação evangelizadora da Igreja, no Brasil; criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação e facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades.

Fonte: Animação Bíblico-Catequética da CNBB – 24/03/2021

Mês da Bíblia 2021: Carta aos Gálatas

O tema do Mês da Bíblia 2021 é a Carta aos Gálatas e o lema: “pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d).

Edições CNBB lança o texto-base e os encontros bíblicos para o Mês da Bíblia 2021

A Edições CNBB acaba de publicar o texto-base e os encontros bíblicos para o Mês da Bíblia deste ano, cujo tema é a Carta de São Paulo Apóstolo aos Gálatas e o lema: Mês da Bíblia 2021: Carta aos Gálatas“pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). Encaminhados pela Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os dois subsídios têm o objetivo de auxiliar as comunidades e paróquias no aprofundamento bíblico, na preparação e vivência do Mês da Bíblia 2021.

Na apresentação do texto-base, o arcebispo de Curitiba (PR), presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom José Antônio Peruzzo, diz que se “o leitor ou leitora se mantiver atento, ser-lhe-á possível encantar-se com a sua Igreja. Verá que problemas nunca faltaram. E que belas experiências de fé sempre se multiplicaram”.

 

Conheça o autor e o caminho percorrido no texto-base

O professor titular de Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), autor do texto-base, Joel Ferreira, falou com o portal da CNBB sobre a publicação.

Segundo ele, a Carta aos Gálatas, além dos fortes traços teológicos e doutrinais, é uma das melhores reflexões bíblicas sobre a liberdade humana e a força libertadora da fé em Jesus Cristo. A partir do Batismo e do revestimento de Cristo, todos somos “filhos de Deus” em unidade.

Ele explica que a Carta aos Gálatas aborda especialmente dois temas. O primeiro é o conflito no início do cristianismo que envolvia judeu-cristãos e gentio-cristãos. “Os judeus convertidos ao cristianismo queriam que os gentios guardassem duas leis: a da circuncisão e a do puro/impuro”, explica.

 

Uma só unidade em Jesus Cristo

De acordo com o especialista em Sagrada Escritura, essas leis vinham da cultura e dos costumes judaicos. Ele conta que o apóstolo Paulo ficou do lado dos gentios e enfrentou as lideranças da Igreja para que os gentios fossem cristãos livres das amarras judaicas.

“Isso foi resolvido num encontro em Jerusalém, onde Pedro, Tiago e João ouviram a Paulo, Barnabé e Tito e entraram num acordo para que os dois grupos se respeitassem e entendessem a liberdade em Cristo. O importante era terem a unidade”, disse.

O segundo tema refere-se a um “Hino Batismal” transcrito por Paulo, conhecido por outros grupos dos cristianismos originários. “Nesse Hino se diz que todos os cristãos são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, porque todos foram batizados e se vestiram de Cristo. Então, são colocadas três assertivas: a) não há judeu nem grego; b) não há escravo nem livre; c) não há homem e mulher; pois todos são UM só em Cristo Jesus (Gl 3,26-28)”, explica.

De acordo com o professor, essas três afirmativas serão o foco mais forte do mês da Bíblia porque abordam, dentro das comunidades, as questões de etnias (raças) e religiões, o problema das contradições sociais e, por fim, a questões relacionadas às mulheres. “A proposta do mês da Bíblia é que as comunidades possam superar as contradições porque todos formam uma só (unidade) em Jesus Cristo”, apontou.

O texto-base e os encontros bíblicos sobre a Carta aos Gálatas, subsídios preparatórios ao Mês da Bíblia 2021, podem ser encontrados no site da Edições CNBB.

Fonte: Animação Bíblico-Catequética da CNBB – 29/04/2021

O livro de Josué no século XX: Alt e Albright

DOZEMAN, T. B. Joshua 1-12: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven, CT: Yale University Press, 2015, 600 p. – ISBN 9780300149753.

Explica Thomas B. Dozeman, nas páginas 8-9:

O século XX viu o surgimento de um crescente interesse pela exploração física da Palestina. Os trabalhos de C. Ritter e de E. Robinson, já no século XIX, refletem oAlbrecht Alt (1883–1956) crescente interesse dos estudiosos bíblicos na geografia física da Palestina como um recurso para interpretar a literatura bíblica.

Assim, no início do século XX, o meio ambiente e a geografia física da Palestina foram firmemente estabelecidos como ferramentas importantes para a interpretação do livro de Josué.

Institutos arqueológicos da França, Alemanha, Estados Unidos e Reino Unido foram criados para apoiar o novo foco de pesquisa: École biblique et archéologique française de Jérusalem (EBAF) em 1890; Deutsche Evangelische Institut für Altertumswissenschaft des Heiligen Landes (DEI) em 1900; American Society of Overseas Research (ASOR) em 1900; Kenyon Institute (KI) em 1919.

E deste modo o estudo da geografia e da arqueologia redirecionou a pesquisa da redação do livro de Josué para a história do Israel tribal.

As pesquisas de Albrecht Alt (1883–1956) e de William Foxwell Albright (1891-1971) ilustram a mudança na metodologia da interpretação de Josué. Ambos estiveram na vanguarda da criação das novas disciplinas de geografia histórica e arqueologia. Alt era o diretor do Deutsche Evangelische Institut für Altertumswissenschaft des Heiligen Landes (DEI) em 1920, e ele continuou a liderar pesquisas na Síria-Palestina ao longo de toda a sua carreira. Albright foi o diretor da American Society of Overseas Research (ASOR) em Jerusalém de 1922 a 1929 e novamente de 1933 a 1936, e ele continuou a liderar pesquisas arqueológicas ao longo de sua carreira.

Os dois estudiosos compartilhavam uma gama de interesses metodológicos, incluindo arqueologia, geografia histórica e o estudo de línguas e literatura do Antigo Oriente Médio, recursos utilizados para a interpretação da Bíblia Hebraica. Ambos usaram essas metodologias para obter uma nova visão da história do Israel tribal e das circunstâncias de seu surgimento na terra da Palestina. A busca para descobrir a história mais antiga de Israel mudou o foco do estudo de Josué, antes voltado para a identificação de fontes literárias na composição da obra, para o valor do livro como um recurso para a pesquisa histórica do período tribal no ambiente geográfico da Síria-Palestina.

Apesar do interesse comum em arqueologia e geografia histórica, Alt e Albright divergiram em sua avaliação do livro de Josué.

Alt concordou com a conclusão de Kuenen e Wellhausen de que o livro carecia de valor histórico. Mas ele também concluiu que a crítica literária era muito limitada à literatura e, portanto, não investigava as antigas tradições presentes no livro de Josué que podem fornecer uma visão sobre a história do Israel tribal. Em vista disso, Alt explorou as tradições etiológicas pré-literárias de Josué como uma janela para o período de colonização da terra. Ele concluiu que as tribos individuais se infiltraram lentamente na Palestina, conforme recontado na versão da conquista em Juízes 1.

Albright, por outro lado, era cético quanto à crítica literária e também rejeitou as conclusões histórico-críticas de Kuenen e Wellhausen de que o livro de Josué não tinha credibilidade histórica. Este ceticismo foi acoplado com a rejeição adicional da conclusão de Alt de que as histórias etiológicas pré-literárias revelam a mentalidade dos israelitas tribais, mas não relatam eventos históricos. Para Albright, o texto de Josué preservou a história. Em apoio a essa conclusão, ele se concentrou nas evidências arqueológicas e na literatura antiga para confirmar a confiabilidade histórica do relato da conquista em Josué como uma invasão única e unificada realizada por todas as tribos.

A “teoria da infiltração pacífica” de Alt e a “teoria da conquista unificada” de Albright levam a interpretações significativamente diferentes do livro de Josué, apesar da abordagem metodológica compartilhada do texto. O rápido acúmulo de novos insights sobre a formação do Israel tribal a partir da arqueologia e da geografia histórica durante o primeiro período do século XX é evidente nos escritos de ambos os estudiosos e seus artigos são frequentemente respostas às pesquisas emergentes do outro.

(…)

Continua Thomas B. Dozeman, nas páginas 13-14:

Alt e Albright compartilharam uma série de pressupostos metodológicos na interpretação do livro de Josué:

1. Os dois estudiosos enfatizaram o poder do ambiente social e físico da Palestina para interpretar o livro
2. Nenhum deles estava interessado na composição literária do livro nem em sua função dentro do contexto literário do Pentateuco ou dos Profetas anteriores
3. Ambos concordaram que o livro fornece uma visão sobre o mundo do Israel tribal e, portanto, tem valor histórico, embora de tipo diferente
4. Os dois assumiram que a etiologia é uma forma antiga de tradição oral que remonta ao período das tribos
5. Ambos reconstruíram a história do Israel tribal para ajustá-la à narrativa bíblica, na qual os israelitas não são nativos de Canaã.

Interpretações divergentes de etiologia e arqueologia, no entanto, levaram a visões contrastantes da entrada das tribos na Palestina, como vimos. A interpretação das etiologias indicou a Alt que grupos de tribos “se infiltraram” na Palestina ao longo do tempo, enquanto os vestígios arqueológicos de Albright apontavam, em vez disso, para uma conquista “unificada” do Israel tribal no século XIII a.C.

O “modelo da infiltração pacífica” e o “modelo da conquista unificada” dominaram a pesquisa sobre Josué ao longo do século XX.

Os arqueólogos da Síria-Palestina na primeira metade do século XX continuaram a julgar o relato da invasão e conquista de Canaã em Josué como histórico. Esses pesquisadores interpretaram Israel como um povo não indígena da terra de Canaã que experimentou um êxodo do Egito e uma subsequente conquista de Canaã durante o século XIII a.C. Além da pesquisa de Albright, as escavações de John e J. B. E. Garstang (1940), G. E. Wright (1940) e P. Lapp (1969) reforçaram a mesma conclusão. John Bright finalmente sintetizou a pesquisa arqueológica em uma história de Israel que foi baseada na conquista de Canaã (2000). O valor histórico do livro de Josué também foi mantido pelos primeiros arqueólogos israelenses, como Y. Yadin, que também identificou níveis de destruição em Hazor que pareciam confirmar o relato de uma invasão semelhante ao relato de Josué (1982).

A escola alemã continuou a fornecer uma contra-hipótese da origem de Israel baseada mais em um modelo antropológico, no qual clãs seminômades migraram para a região montanhosa de Canaã e se organizaram livremente em torno de centros de culto. A teoria da infiltração pacífica questionou a historicidade da conquista no livro de Josué. Ainda assim, alguns aspectos do livro mantiveram valor histórico, especialmente na teoria de que o Israel tribal era uma anfictionia, que Martin Noth desenvolveu com base no estudo social comparativo. Estruturas anfictiônicas eram características da liga de Delfos na Grécia, na qual doze grupos eram organizados em torno do santuário de Apolo. Noth viu a mesma estrutura e propósito para a organização das doze tribos em Gênesis 49 e Nm 26. Como resultado, embora rejeitasse a historicidade da conquista unificada de Canaã, Noth sustentava que as histórias de reuniões tribais em locais religiosos como Siquém em Js 8,30–35 e Josué 24 forneceram uma janela para o início da história de Israel. Desse modo, a metodologia da antropologia comparada revelou o valor histórico de aspectos do livro de Josué.

Pesquisas subsequentes em etiologia, arqueologia, antropologia e história cultural do Antigo Oriente Médio minaram lentamente os modelos de infiltração pacífica e conquista unificada para explicar as origens de Israel e, com eles, a interpretação de Josué como um recurso para recuperar a história do Israel tribal.

(…)

O impasse em recuperar a história da época tribal de Israel com o auxílio do livro de Josué redirecionou a pesquisa de volta à questão de sua composição literária (p. 16).

 

The research on the book of Joshua expands at the turn of the twentieth century from the literary focus of source criticism to the broader study of the book as a resource for recovering the history of tribal Israel. The turn to history is fueled by the increasing exposure of scholars to the geography and physical environment of Syria-Palestine. The work of C. Ritter (1866) on the geography of Sinai, Palestine, and Syria from 1848 through 1855 and E. Robinson’s summary of travel in Palestine in 1865, Physical Geography of the Holy Land, refl ect the growing interest of biblical scholars in the environment of Palestine as a resource for interpreting biblical literature. By the early twentieth century, the environment and physical geography of Palestine were fi rmly established as an important tool for interpreting the book of Joshua. International archaeological institutes were formed to support the new research focus, including the French École Biblique, formed in 1890; the German Protestant Institute in 1900; the American School of Oriental Research in 1900; and the British School of Archaeology in 1919. The study of geography and archaeology redirected research from the late literary composition of Joshua to the history of tribal Israel.

William Foxwell Albright (1891-1971)The research of A. Alt (1883-1956) and W. F. Albright 1891-1971) illustrates the shift in methodology in the interpretation of Joshua. Both scholars were in the forefront of forging the new disciplines of historical geography and archaeology. Alt was the director of the German Evangelical Institute for Old Testament Research of the Holy Land in Jerusalem in 1920, and he continued to lead research in Syria-Palestine throughout his career, often serving as president of the German Association for Research of the Holy Land. Albright was the director of the American School of Oriental Research in Jerusalem from1922 to1929 and again from 1933 to 1936, and he continued to lead archaeological research throughout his career. The two scholars shared a range of methodological interests, including archaeology, historical geography, and the study of ancient Near Eastern languages and literature, for interpreting the Hebrew Bible. Both used these methodologies to gain new insight into pre-Israelite history and the emergence of tribal Israel in the land of Palestine. The quest to uncover the earliest history of Israel changed the focus of the study of Joshua from the identification of late literary authors in source criticism to the value of the book as a resource for historical research of the tribal period within the geographical environment of Syria-Palestine.

Despite the shared interest in archaeology and historical geography, Alt and Albright diverged in their evaluation of the book of Joshua. Alt agreed with the conclusion of Kuenen and Wellhausen that the book lacked historical value. But he also concluded that source criticism was too narrowly limited to literature and thus did not probe the earliest traditions in the book of Joshua that may provide insight into the history of tribal Israel. In view of this, Alt explored the preliterary etiological traditions of Joshua as a window into the period of the settlement of the land. He concluded that the individual tribes slowly infiltrated Palestine, as recounted in the version of the conquest in Judg 1. Albright, on the other hand, was skeptical of source criticism and also rejected the historical-critical conclusions of Kuenen and Wellhausen that the book of Joshua lacked historical credibility. Th is skepticism was coupled with the further rejection of Alt’s conclusion that the preliterary etiological stories reveal the mentality of tribal Israelites but do not report historical events. For Albright, the text of Joshua preserved history. In support of this conclusion, he focused on archaeological evidence and ancient literature to confirm the historical reliability of the account of the conquest in Joshua as a single unified invasion by all of the tribes.

The “infiltration theory” of Alt and the “unified conquest theory” of Albright lead to significantly diff erent interpretations of the book of Joshua, despite the shared methodological approach to the text. The rapid accumulation of new insights into the formation of tribal Israel from archaeology and historical geography during the early period of the twentieth century is evident in the writing of both scholars; their articles are often responses to the other’s emerging research. A review of the exchange illustrates the two research paradigms that most infl uence the interpretation of the book of Joshua throughout the twentieth century and continue to capture the imagination of scholars today.

(…)

Continues Thomas B. Dozeman, on pages 13-14:

Alt and Albright shared a number of methodological presuppositions in the interpretation of the book of Joshua: (1) Both scholars emphasized the power of the social and physical environment of Palestine for interpreting the book; (2) neither was interested in the literary composition of the book nor in its function within the literary context of the Pentateuch or the Former Prophets; (3) both agreed that the book provided insight into the world of tribal Israel and therefore has historical value, albeit of different kinds; (4) each assumed that etiology is an ancient form of oral tradition that reaches back to the period of the tribes; and (5) both reconstructed the history of tribal Israel to conform with the biblical narrative, in which the Israelites are not indigenous to the promised land. Divergent interpretations of etiology and archaeology, however, led to contrasting views of the entry of the tribes into the promised land, as we have seen: The isolation of individual etiologies as the object of interpretation indicated to Alt that groups of tribes “infiltrated” the promised land over time; while the archaeological remains for Albright pointed instead to a “unified” conquest of tribal Israel in the thirteenth century BCE.

The “infiltration model” and the “unified conquest model” dominated the research on Joshua throughout the twentieth century. The archaeologists of Syria-Palestine in the first half of the twentieth century continued to judge the account of the invasion and conquest of Canaan in Joshua to be historical. These researchers interpreted Israel to be a nonindigenous people to the land of Canaan who experienced an exodus from Egypt and a subsequent conquest of Canaan during the thirteenth century BCE. In addition to the research of Albright, excavations by J. and J. B. E. Garstang (1940), G. E. Wright (1940), and P. Lapp (1969) reinforced the same conclusion. J. Bright eventually synthesized the archaeological research into a history of Israel that was grounded in a conquest of Canaan (2000). The historical value of the book of Joshua was also maintained by early Israeli archaeologists, such as Y. Yadin, who also identified destruction levels at Hazor that appeared to confirm the account of a war of invasion similar to the account in Joshua (1982).

The German school continued to provide a counterhypothesis of the origin of Israel based more on an anthropological model, in which seminomadic clans migrated into the hill country of Canaan and were organized loosely around cultic centers. The infiltration theory called into question the historicity of the conquest in the book of Joshua; yet aspects of the book retained historical value, especially in the theory that tribal Israel was an amphictyony, which Noth developed on the basis of comparative social study (1930;1960: 85–97). Amphictyonic structures were characteristic of the Delphic league in Greece, in which twelve groups were organized around the sanctuary of Apollo. Noth discerned the same structure and purpose to the organization of the twelve tribes in Gen 49 and Num 26. As a result, even though he rejected the historicity of the unified conquest of Canaan, Noth maintained that the stories of tribal gatherings at religious sites such as Shechem in Josh 8:30–35 and Josh 24 provided a window into the early history of Israel. In this way, the methodology of comparative anthropology revealed the historical value of aspects of the book of Joshua.

Subsequent research in etiology, archaeology, anthropology, and ancient Near Eastern cultural history has slowly eroded both the infiltration and the unified conquest models of the origins of tribal Israel and with them the interpretation of Joshua as a resource for recovering the history of tribal Israel. K. W. Whitelam provides the most thorough summary of the presuppositions of Alt and Albright that supported their reconstruction of the tribal period (1996: 37-121). The following is an abridged summary
focused on the problems that infl uence the interpretation of Joshua.

(…)

The impasse in recovering the history of the tribal period from the book of Joshua has redirected research back to the question of its literary composition (p. 16).

Quem escreveu o livro de Josué?

DOZEMAN, T. B. Joshua 1-12: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven, CT: Yale University Press, 2015, 600 p. – ISBN 9780300149753

Diz Thomas B. Dozeman, nas páginas 5-6:

A identificação do autor ou autores de Josué desempenhou um papel central na interpretação do livro desde o século XIX. Os intérpretes há muito observam conflitos emDOZEMAN, T. B. Joshua 1-12: A New Translation with Introduction and Commentary. New Haven, CT: Yale University Press, 2015 temas e motivos, o que sugere uma história de composição de diferentes autores. O tema central da conquista, por exemplo, permanece sem solução no livro, com alguns textos indicando o extermínio de reis, cidades reais e povos e outros afirmando que as nações indígenas permanecem na terra. As duas leituras são ainda associadas a funções distintas da Torá, como representando o sucesso na guerra ou como enfatizando a necessidade de obediência como condição para o sucesso. A arca também é descrita com uma série de palavras e frases, incluindo a “arca”, a “arca da aliança”, a “arca de Iahweh” e a “arca do testemunho” (Js 3-5). Episódios centrais se repetem, como o estabelecimento das pedras memoriais e os discursos finais de Josué. Todos esses problemas literários apontam para uma história da composição na formação do livro.

Os problemas de composição são agravados pelo contexto literário de Josué como o livro de transição entre o Pentateuco e os Profetas anteriores. Os intérpretes têm defendido duas teorias de composição, dependendo se Josué é lido mais ligado ao primeiro ou ao segundo grupo de livros. Aqueles que interpretam Josué com o Pentateuco consideram seu contexto literário o Hexateuco, que consiste de Gênesis a Josué. Aqueles que se concentram, em vez disso, no cenário dos Profetas anteriores interpretam Josué dentro da Obra Histórica Deuteronomista, que inclui os livros do Deuteronômio até Reis. As duas abordagens geram interpretações diferentes do livro. Como conclusão do Hexateuco, Josué funciona em continuidade com a literatura do Pentateuco, fornecendo o cumprimento da promessa divina da terra. Mas, como introdução à Obra Histórica Deuteronomista, Josué fornece um ponto de contraste com o declínio e queda da nação israelita narrada em Juízes, Samuel e Reis.

A história da pesquisa sobre a composição e o contexto literário de Josué pode ser dividida em quatro etapas, cada uma introduzindo metodologias distintas que continuam até os dias de hoje:
1. Século XIX: identificação de fontes literárias do Pentateuco em Josué, lendo-o como a conclusão do Pentateuco, formando, assim, um Hexateuco
2. Início do século XX: interpretação de Josué como história, nas pesquisas da arqueologia, da geografia histórica e da história tradicional
3. Final do século XX: análise de modelos históricos para interpretar o livro de Josué e predominância da hipótese de uma Obra Histórica Deuteronomista
4. Século XXI: crítica da hipótese de uma Obra Histórica Deuteronomista e a proposta de novos modelos literários para interpretar Josué.

O resumo da pesquisa estabelecerá a base para minha interpretação de Josué como um livro independente escrito durante o período pós-exílico de um ponto de vista de Israel norte. Também argumento que o livro de Josué adquire seu contexto literário atual em um estágio posterior ao da formação do Pentateuco e dos Profetas anteriores.

 

The identification of the author or authors of Joshua has played a central role in the interpretation of the book since the nineteenth century. Interpreters have long noted conflicts in themes and motifs, which suggest a history of composition by different authors. The central theme of the conquest, for example, remains unresolved in the book, with some texts indicating the extermination of the kings, royal cities, and people and others stating that the indigenous nations remain in the land. The two readings are further coupled with distinct functions of the Torah, as representing success in war or as underscoring the need for obedience as a condition for success. The ark, too, is described with a range of words and phrases, including the “ark,” the “ark of the covenant,” the “ark of Yahweh,” and the “ark of the testimony.” Central episodes are repeated, such as the establishment of the memorial stones and the concluding speeches of Joshua. All of these literary problems point to a history of composition in the formation of the book.

Thomas B. DozemanThe problems of composition are compounded by the literary context of Joshua as the transitional book between the Pentateuch and the Former Prophets. Interpreters have advocated two theories of composition, depending on whether Joshua is read more closely with the former or with the latter. Those who interpret Joshua with the Pentateuch take its literary context to be the Hexateuch, consisting of Genesis through Joshua. Th ose who focus instead on the setting of the Former Prophets interpret Joshua within the Deuteronomistic History, which includes the books of Deuteronomy through Kings. The two approaches yield different interpretations of the book. As the conclusion to the Hexateuch, Joshua functions in continuity with the literature of the Pentateuch by providing the fulfi llment of the divine promise of land. But as the introduction to the Deuteronomistic History, Joshua provides the point of contrast to the decline and fall of the Israelite nation chronicled in Judges, Samuel, and Kings.

The history of research on the composition and the literary context of Joshua can be divided into four stages, with each introducing distinct methodologies that continue into the present time. (1) Nineteenth century: Identification of literary sources in Joshua as the completion of the Pentateuch/Hexateuch. (2) Early twentieth century: Interpretation of Joshua as history through the methodologies of archaeology, historical geography, and tradition history. (3) Late twentieth century: Breakdown of historical models for interpreting the book of Joshua and the prominence of the Deuteronomistic History hypothesis. (4) Twenty-first century: Erosion of the Deuteronomistic History hypothesis and new literary models for interpreting Joshua.

The summary of research will lay the foundation for my interpretation of Joshua as an independent book written during the postexilic period from a northern point of view. I also argue that the book of Joshua acquires its present literary context at a late stage in the formation of the Pentateuch and the Former Prophets*.

* As citações bíblicas presentes no texto foram omitidas aqui.

Seminário do PIB para professores de Bíblia em 2022

Este seminário estava programado para 2021, mas, por causa da pandemia, foi adiado para 2022.

Além do que, os organizadores ainda não sabem se o seminário acontecerá de forma presencial, online ou mista.

Tudo dependerá da situação da pandemia, e a definição sairá somente após o verão europeu.

Sobre a iniciativa, leia aqui. Veja também uma lista com todos os seminários já realizados.

Sobre o seminário de 2022:
:: Tema: Por uma Igreja em construção. As cartas de Paulo
:: Data: 24-28 de janeiro de 2022
:: Coordenadores: Professores Juan Manuel Granados e Antonio Pitta

O programa é o mesmo previsto para 2021. Confira aqui.

Repensando Israel e Judá com Israel Finkelstein

Curso de Extensão abordou implicações da arqueologia nos estudos bíblicos

O Grupo de Pesquisa “Arqueologia do Antigo Oriente Próximo”, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, recebeu nos dias 16 a 17 de maio de 2019 o arqueólogo Dr. Israel Finkelstein, professor da Universidade de Tel Aviv, de Israel.

Finkelstein trabalhou o tema Repensando Israel e Judá: implicações arqueológicas aos estudos bíblicos. O curso contou com 141 inscritos de todas as regiões do país e teve apoio da Faculdade de Teologia e da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB). Foram três dias de intensas atividades com as seguintes temáticas:

Dia 15, manhã: Meguido e Israel Norte
Dia 16, manhã: Kiriath-Jearim e Jeoboão II
Dia 16, tarde: Mesa redonda dos grupos de pesquisa da PUC-GO; PUC-PR e UMESP
Dia 16, noite: Conferência: As terras altas do Neguev e regiões circunvizinhas durante o Ferro I
Dia 17, manhã: A realidade hasmoneia por trás dos livros de Esdras, Neemias e Crônicas.

Confira os vídeos. Palestras em inglês, com tradução em português.

 

Amós deve ser lido como uma retrospectiva da queda de Israel?

Segundo alguns autores, sim: o livro de Amós deve ser lido como uma autópsia do Israel caído.

Por exemplo, Jason Radine, Professor de Estudos Bíblicos e Judaicos no Moravian College, Bethlehem, Pensilvânia, defende que o livro de Amós foi escrito em Judá logo Jason Radineapós a conquista do reino de Israel pela Assíria em 722 a.C.

O livro faz uma análise teológica da injustiça social do reino de Israel durante o reinado de Jeroboão II. O público-alvo do livro seria a população de Judá após a conquista assíria de Israel, uma combinação de refugiados israelitas e da população nativa de Judá.

E, muito mais do que um profeta de carne e osso, Amós deve ser visto como um personagem no livro.

Cito alguns trechos do artigo.

Jason Radine, The Book of Amos: A Retrospect on the Fall of Israel. TheTorah.com, April 22, 2021.

Escrito como um comentário sobre a injustiça social no reino de Israel no auge de sua riqueza e poder, o livro de Amós explica aos exilados israelitas por que eles foram punidos e alerta os judaítas para não cair na mesma armadilha.

O livro de Amos chama nossa atenção por fazer uma crítica feroz da injustiça social e da desigualdade econômica no reino de Samaria. Denuncia a hipocrisia descarada do culto formal por parte daqueles que perpetram a exploração de seus semelhantes. Os credores mercantilizaram seus tomadores de empréstimo, afogando-os em juros e, em seguida, executando dívidas até mesmo pequenas, prendendo os endividados na escravidão por dívida.

O livro começa com a afirmação de que Amós profetizou durante os reinados coincidentes do rei Ozias de Judá e de Jeroboão II de Israel. Isso teria sido por volta de 760 a.C. Este foi um ponto alto do poder de Israel, mas Amós prediz que Israel será destruído por causa de suas falhas éticas. Isso ocorre, de fato, anos depois, quando o reino de Israel sucumbiu a uma série de campanhas militares assírias entre 734 e 722 a.C., finalmente desmoronando completamente em 722 a.C. A Assíria deportou muitos israelitas, substituindo-os por pessoas de outras partes do império, e transformou Israel em província assíria.

Amós prevê tal queda por ataque militar do inimigo em vários lugares de seu livro. Prevê um colapso com baixas em massa para os exércitos israelitas. E o exílio é especificamente previsto várias vezes, sendo a classe alta exilada primeiro.

Embora todos os itens acima sejam apresentados como uma predição, parece mais provável que o livro de Amós seja uma explicação retrospectiva da queda do reino de Israel, em vez de uma predição antecipada da queda.

Este argumento é apoiado, por exemplo, pelo fato de Amós avisar os israelitas para observarem os destinos das cidades sírias de Calane e Emat como exemplos de cidades fortes que não podiam resistir às forças assírias. Os registros assírios indicam que Calane e Emat foram conquistadas pela Assíria em 738 a.C., quando os reis Ozias e Jeroboão, citados em Am 1,1, já tinham morrido. Os israelitas na época de Jeroboão II teriam visto apenas cidades prósperas ao olhar para Calane e Emat, mas observadores, algumas décadas depois, estariam cientes de que essas cidades fortes caíram nas campanhas da Assíria.

Outras evidências da redação posterior do livro podem ser vistas no modo como Amós acusa os israelitas de adorar as divindades assírias Ashimah, Sikkut e Kiyyun. Duas dessas divindades, Ashimah e Sikkut, são mencionadas em 2Reis como tendo sido veneradas por pessoas trazidas, pela Assíria, para Samaria depois que Israel foi conquistado em 722 a.C. Assim, parece claro que esses deuses só foram adorados em Israel após sua conquista pela Assíria, não antes. No entanto, Amós fala sobre eles como um problema contemporâneo, em 760 a.C.

Em conjunto, esta evidência sugere que o livro de Amós foi composto pela primeira vez após a queda do reino de Israel, não antes. Por mais convincentes que sejam as exigências éticas do livro, o objetivo do(s) autor(es) não era mudar o comportamento do suposto público do profeta no reino do norte de Israel. O livro parece ter sido composto após a queda de Israel, quando já era tarde demais para Israel mudar seu comportamento ou seu destino.

A análise das evidências aponta para a profecia bíblica como um gênero literário característico, ao invés da profecia israelita como uma prática concreta. O profeta Amós, portanto, é melhor entendido como personagem do livro de Amós. Como tal, o livro de Amós deve ser lido como uma peça de literatura político-religiosa, na qual um certo profeta Amós avisa Israel com antecedência sobre a punição, que o público sabe que já ocorreu.

O livro de Amós não é “profecia” em si, mas sim um “texto literário preditivo” – um texto escrito como profecia para explicar um desenvolvimento histórico em termos da vontade divina. O livro é, portanto, uma acusação e uma autópsia do Israel caído, parte do entendimento bíblico geral das catástrofes de Israel como sendo devidas às próprias falhas religiosas e morais dos israelitas.

O público-alvo do livro seria a população de Judá após a conquista assíria de Israel, uma combinação de refugiados israelitas e da população nativa de Judá. O livro apresenta ao componente refugiado da audiência uma perspectiva judaica sobre seu papel em sua própria queda, bem como uma indicação do que é moralmente esperado deles em Judá. Para o público de Judá, o livro declara que, embora o Israel mais rico pudesse parecer favorecido por Iahweh, Judá de fato é favorecido. Ao mesmo tempo, Judá permanece vulnerável e pode sofrer o mesmo destino de Israel se seu povo não aprender com a experiência de Israel.

As pesadas acusações do livro feitas ao reino de Israel provavelmente vêm do ressentimento com o sucesso relativo de Israel em comparação com seu vizinho do sul, Judá. Israel sempre foi mais rico do que Judá, mas sua riqueza é apresentada como sua própria ruína: Israel sofreu o destino que merecia, na visão do livro. Tal relato da catástrofe, por um lado, defende Iahweh da acusação de que não protegeu Israel, e, por outro lado, dá poder aos judaítas, afirmando que eles podem controlar seu futuro por meio de seu comportamento.

Jason Radine é Professor de Estudos Bíblicos e Judaicos no Moravian College, Bethlehem, Pensilvânia, USA. Estudou na Universidade de Michigan, USA, e na Georg-August Universität, em Göttingen, Alemanha. É autor do livro The Book of Amos in Emergent Judah. Tübingen: Mohr Siebeck, 2010.

 

Written as a commentary on the social injustice in the kingdom of Israel at a high point of its wealth and power, the book of Amos explains to exiled Israelites why they were punished and warns Judahites not to fall into the same trap.

RADINE, j. The Book of Amos in Emergent Judah. Tübingen: Mohr Siebeck, 2010The book of Amos stands out as a ferocious critique of callous social injustice and economic inequality. It castigates the brazen hypocrisy of pious worship by those who perpetrate the exploitation of their fellow human beings. Creditors commodified their borrowers, drowning them in interest and then foreclosing on even small debts, trapping the borrowers into debt slavery (…)

The book opens with a claim that Amos prophesied during the overlapping reigns of King Uzziah of Judah and King Jeroboam II of Israel (…)

This would have been in the 760s B.C.E. This was a high point of Israel’s power, but Amos predicts that Israel will be destroyed because of their ethical failings. This takes place years later when the kingdom of Israel succumbed to a series of Assyrian military campaigns in the 730s and 720s B.C.E., finally collapsing completely in 722–721 B.C.E. Assyria deported many of the Israelites, replacing them with people from elsewhere in the empire, and transformed Israel into the Assyrian province of Samerina (…)

Amos predicts such a fall by military attack in several places (…) The book predicts a collapse with mass casualties for the Israelite armies (…) Exile is specifically predicted several times, with the upper class exiled first (…)

While all of the above is presented as a prediction, it seems more likely that the book of Amos is a retrospective explanation of the fall of the kingdom of Israel rather than a prediction of the fall in advance (…)

This argument is supported from how Amos warns the Israelites to observe the fates of the Syrian cities of Calneh and Hamath as examples of strong cities that could not resist the Assyrian forces (…) Assyrian records indicate that Calneh and Hamath were conquered together by Assyria in 738 B.C.E., after the kings from Amos 1:1 had died. Israelites in the time of Jeroboam II would have seen only thriving cities when looking at Calneh and Hamath, but observers a few decades later would be aware that these strong cities fell to Assyria’s westward campaigns that eventually engulfed Israel (…)

Further evidence of the books later date can be seen from how Amos accuses Israelites of worshiping Assyrian deities Ashimah, Sikkut, and Kiyyun (…) Two of these deities, Ashimah and Sikkut, are mentioned in Kings as having been venerated by people transplanted by Assyria into Samaria after Israel was conquered (…)

Thus, it seems clear that these gods were only worshipped in Israel after its conquest by Assyria, not before. Yet Amos speaks about them as a contemporary problem.

In aggregate, this evidence suggests that the book of Amos was first composed after the kingdom of Israel’s fall, not before. However compelling the book’s ethical demands are, its author(s) goal was not to change the behavior of the prophet’s ostensible audience in the northern kingdom of Israel. The book seems to have been composed during the period after the fall of Israel, when it was already too late for Israel to change its behavior, or its fate (…)

The balance of evidence points to biblical prophecy as a distinctive literary genre, rather than to Israelite prophecy as a distinctive practice. The prophet Amos, therefore, is best understood as a character in the book of Amos (…) As such, the book of Amos should be read as piece of religio-political literature, in which a prophet Amos warns Israel in advance of the punishment that the audience knows has already occurred (…)

The book of Amos is not “prophecy” per se, but rather is a “literary-predictive text”—a text written as prophecy to explain a historical development in terms of divine will. The book is thus both an indictment and an autopsy of fallen Israel, part of the general biblical understanding of Israel’s catastrophes as being due to the Israelites’ own religious and moral failures.

The intended audience of the book would have been the people of Judah in the aftermath of the Assyrian conquest of Israel, a combination of Israelite refugees and the native Judahite population. The book presents to the refugee component of the audience a Judahite perspective on their role in their own fall, as well as an indication of what is morally expected of them in Judah. To the Judahite audience, the book declares that while wealthier Israel might have seemed favored by YHWH, Judah in fact is favored. At the same time, Judah remains vulnerable to suffering Israel’s fate if its people do not learn from Israel’s experience.

The book’s searing indictments of the kingdom of Israel probably come from resentment at Israel’s relative success compared with its southern neighbor, Judah. Israel was always wealthier than Judah, but its wealth is presented as its own undoing: Israel suffered the fate that it deserved, in the book’s view. Such an accounting of catastrophe both defended YHWH from blame for not protecting Israel, and, at the same time, empowered ancient Jews by asserting that they could control their future by their behavior.

Jason Radine is Professor of Biblical and Jewish Studies and Chair of the Department of Global Religions, Moravian College, Bethlehem, Pennsylvania. He earned his Ph.D in Near Eastern Studies at the University of Michigan in 2007 and was awarded a Post-Doctoral Humboldt Fellowship for study at the Georg-August Universität, Göttingen, Germany in 2011-2012. He is author of The Book of Amos in Emergent Judah (Tübingen: Mohr Siebeck, 2010) and various articles on the Minor Prophets.