Mês da Bíblia 2023: sobre a Carta aos Efésios

SEGANFREDO, A. C.; BAQUER, V. P.; SILVANO, Z. A. Carta aos Efésios: “É pela graça que fostes salvos!” (Ef 2,5). São Paulo: Paulinas, 2023, 160 p. – ISBN 9786558082217.

A Carta aos Efésios destaca-se pela sua densidade teológica, cristológica e pneumatológica, e de forma especial pela concepção de Igreja (eclesiologia).

A parteSEGANFREDO, A. C.; BAQUER, V. P.; SILVANO, Z. A. Carta aos Efésios: “É pela graça que fostes salvos!” (Ef 2,5). São Paulo: Paulinas, 2023, 160 p. parenética exorta a comunidade, formada pelos(as) batizados(as), tanto oriundos da cultura judaica como da gentílica, a manterem a unidade na diversidade; a agirem eticamente, tendo Cristo como o princípio normativo; a comportarem-se como filhos da luz; a revestirem-se da “nova humanidade” em Cristo, a mudarem as relações familiares e sociais, deixando-se guiar pelo Espírito, a fim de poder vencer tudo o que é o antirreino.

Antônio César Seganfredo é missionário scalabriniano, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino (Roma), com especialização pela École Biblique et Archéologique de Jerusalém. É professor de Novo Testamento e diretor administrativo do Instituto Teológico São Paulo (ITESP), bem como secretário da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB 2023-2024).

Vinicius Pimentel Baquer é presbítero do clero da Diocese de Diamantino (MT); bacharel em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Teologia (FAJE) (Belo Horizonte/MG) e mestre em Teologia pela PUCRS (Porto Alegre/RS).

Zuleica Aparecida Silvano é irmã paulina, mestra em exegese bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma e doutora em Teologia Bíblica pela Faculdade Jesuíta de Teologia (FAJE) (Belo Horizonte/MG). É assessora no Serviço de Animação Bíblia/Paulinas (SAB), responsável pelo subsídio do Mês da Bíblia, por Paulinas; professora no Departamento de Teologia da FAJE; membra da Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (ABIB); da Comissão Bíblica do CEBITEPAL (CELAM) e da equipe interdisciplinar da CRB.

Mês da Bíblia 2023 na Vida Pastoral

Vida Pastoral n. 353, setembro-outubro de 2023

Diz o Editorial:

No tempo em que a carta aos Efésios foi escrita, o Império Romano impunha a mão pesada sobre as populações dominadas, sem nenhuma compaixão. Os efésios viviamVida Pastoral n. 353, setembro-outubro de 2023 sob aquele regime desumano. Por isso, a expressão “vestir-se da nova humanidade” (Ef 4,24) é apelo a um estilo de vida contrário ao imposto pela tirania do imperador. “Não vos comporteis como os pagãos: com suas ideias vãs, com razão obscurecida, afastados da vida de Deus, por sua ignorância e dureza de coração” (Ef 4,17-18).

Vestir-se da nova humanidade é se contrapor às durezas de coração do império e cultivar os afetos. São os afetos que humanizam e edificam a vida. “Sede amáveis e compassivos uns com os outros” (Ef 4,32). Enquanto o palácio se pautava na violência, na força das armas e na ostentação do poder, os efésios deveriam insistir na humanização, na solidariedade e no respeito mútuo. “Quem roubava não roube mais; ao contrário, trabalhe e se afadigue com as próprias mãos para ganhar alguma coisa e estar em condição de socorrer a quem tem necessidade” (Ef 4,28).

Vestir-se da nova humanidade é opor-se à violência do império. Os efésios, “enraizados e alicerçados no amor” (Ef 3,17), são vocacionados à construção de um mundo novo: “com toda a humildade e modéstia, com paciência, suportando-vos mutuamente com amor, esforçando-vos por manter a unidade do espírito com o vínculo da paz” (Ef 4,2-3). Não a pax romana, mas a paz que é dom do Ressuscitado (Lc 24,36). Paz que supera o medo, a indiferença e toda espécie de injustiça.

Vestir-se da nova humanidade é não compactuar com os sistemas que disseminam o ódio, a mentira e o preconceito. De acordo com a carta aos Efésios, a comunidade deve ser sinal de lucidez em uma sociedade marcada pelas “obras estéreis das trevas” (Ef 5,11). Cabe aos discípulos e discípulas terem os olhos fixos em Jesus, a fim de não se deixarem enganar “com discursos vazios” (Ef 5,6). Uma comunidade verdadeiramente comprometida com o Evangelho não se deixa corromper com o fermento da hipocrisia. Conhecendo a verdade, a mente e o coração do discípulo evitam todo e qualquer fanatismo. “Comportai-vos como filhos da luz. Fruto da luz é toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5,8-9).

Vestir-se da nova humanidade é comunicar a Boa Notícia, respeitando a diversidade e construindo pontes ao invés de muros. Como ensina o autor da carta aos Efésios, a vocação da comunidade consiste em incluir, agregar ao corpo de Cristo, todos os afastados: “por meio da Boa Notícia, os pagãos compartilham a herança e as promessas de Jesus Cristo e são membros do mesmo corpo. A mim, o último dos consagrados, foi concedida esta graça: anunciar aos pagãos a Boa Notícia, a riqueza insondável do Messias, e iluminar o segredo que Deus, criador do universo, guardava havia séculos” (Ef 3,6.8-9).

Vestir-se da nova humanidade é ter um olhar de esperança para o mundo, ainda que este mundo pareça não ter saída. Esta edição de Vida Pastoral é um convite ao leitor para a contemplação e o aprofundamento da cristologia e eclesiologia presentes em Efésios: “Um é o corpo, um o Espírito, assim como uma é a esperança a que fostes chamados” (Ef 4,4).

Nossa missão tem seu fundamento no Evangelho. Para nos contrapormos aos impérios de hoje, nossos rins estejam cingidos com a verdade, estejamos revestidos com a couraça da justiça e calçados com as sandálias da prontidão para o Evangelho da paz (Ef 6,14-15). O Espírito Santo nos guie na missão.

Profetismo e política em Estudos Bíblicos

CORREIA JÚNIOR, J. L. (org.) Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022.

O profetismo bíblico tem como característica mais forte da missão o engajamento político que se expressa por meio da inserção na luta pelo bem comum. No centro dosCORREIA JUNIOR, J. L. (org.)  Profetismo e política. Estudos Bíblicos, São Paulo, v. 38, n. 146, 2022. oráculos proféticos estava a mensagem direta de um Deus surpreendente, que foi se revelando como Senhor Justo e Misericordioso ao povo de Israel. Segundo a Teologia do livro do Êxodo, esse Deus “viu a miséria” dos ancestrais escravizados em trabalhos forçados no Egito, “ouviu seu grito” por causa da exploração econômica dos opressores, e “conhece as suas angústias” sob essa dura opressão (Ex 3,7).

Os profetas e profetisas de Israel como Débora, Amós, Isaías, Jeremias e tantos outros, animados por essa consciência ético-religiosa, são porta-vozes da vontade de Deus. Denunciam os abusos da classe dominante sobre camponeses, assalariados, estrangeiros, endividados, enfim, sobre todas as pessoas cujos direitos estavam sendo suprimidos por conta da ganância econômica opressora e do poder político corrupto.

Situado no contexto histórico sociopolítico da luta pela justiça social, além de protestar contra a exclusão econômica da qual era vítima parte significativa do povo, o profetismo bíblico chega a criticar veementemente todo tipo de ritualismo religioso que, desprovido de comprometimento ético, era um insulto ao Senhor Deus do Direito e da Justiça.

Isso fica claro logo no primeiro capítulo do livro do Profeta Isaías, onde está escrito que para agradar a Deus não basta simplesmente cultuá-lo em belas celebrações religiosas alienadas e alienantes dos problemas sociais. O que realmente agrada a Deus é buscar o direito, corrigir o opressor, fazer justiça ao órfão, defender a causa da viúva (Is 1,17). Nessa linha, a crítica à classe dirigente detentora do poder político opressor é bastante dura: “Teus príncipes [principais dirigentes] são rebeldes, companheiros de ladrões; todos são ávidos por subornos e correm atrás de presentes. Não fazem justiça ao órfão, a causa da viúva não os atinge” (Is 1,23).

Não é de se estranhar que o engajamento político do profetismo esteja marcado pelo conflito com o poder econômico, com a classe política subserviente ao poder econômico, e com a classe religiosa a serviço desses poderosos. A simples presença dos profetas e profetisas nas aldeias e vilarejos demarca não só o lado que assumem na sociedade, como também de onde provém a sua força política.

É a partir desse lugar existencial de luta pela sobrevivência que os profetas e profetizas tornam-se intermediários para que Deus fale por meio de seus gestos simbólicos e de suas palavras. Desse modo, participam ativamente das grandes crises da história, tais como no estabelecimento das dinastias de Saul e Davi, no grande cisma após a morte de Salomão, na sucessiva derrubada das dinastias do Reino do Norte e na queda do Reino do Sul, posteriormente.

Pode-se inferir, portanto, que o modo como se dá a ação dos profetas e profetisas na Bíblia foi e continua sendo uma forte interpelação à prática política motivada pela fé no Deus Justo e Misericordioso. É também uma evidente crítica à prática religiosa alienante e alienada dos problemas sociais, circunscrita a ritualismos que podem até anestesiar momentaneamente o sofrimento, mas não conduzem à experiência do Deus da Vida que toma partido dos pobres.

Esse é o mesmo Deus a quem Jesus chamava de Abbá, Paizinho, em profunda intimidade familiar e afetiva, que o motivou à experiência radical de compaixão solidária com a causa das multidões abandonadas “como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).

Daí o potencial revolucionário que tem o discipulado missionário de Jesus ainda hoje, quando não se contenta apenas com o ritualismo estéril circunscrito ao ambiente religioso, e se insere no meio das multidões insatisfeitas com os impérios deste mundo, colaborando para que, a partir delas, tome forma na história a “nova sociedade” que os Evangelhos intitulam de “Reino de Deus”.

É nesse ambiente de reflexão que está inserida a Revista Estudos Bíblicos sobre “Profetismo e Política” (Trecho do Editorial, escrito por João Luiz Correia Júnior).

A revista está disponível online no site da Abib.

O uso do Antigo Testamento no Novo Testamento

HENZE, M.; LINCICUM, D. (eds.) Israel’s Scriptures in Early Christian Writings: The Use of the Old Testament in the New. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023, 1166 p. – ISBN 9780802874443.

Como os autores do Novo Testamento usaram as Escrituras de Israel?HENZE, M.; LINCICUM, D. (eds.) Israel's Scriptures in Early Christian Writings: The Use of the Old Testament in the New. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023, 1166 p.

Uso, mau uso, apropriação, citação, alusão, inspiração — como caracterizamos as múltiplas imagens, paráfrases e citações das Escrituras judaicas que permeiam o Novo Testamento?

Nas últimas décadas, os estudiosos abordaram a questão com uma variedade de metodologias. Os autores do Novo Testamento faziam parte de um cenário mais amplo de leitores judeus interpretando as Escrituras. Estudos recentes têm procurado entender as várias técnicas de composição dos primeiros cristãos que compuseram o Novo Testamento nesse contexto e nos próprios termos dos autores.

Nesta coleção de ensaios, Matthias Henze e David Lincicum coordenam um grupo internacional de renomados estudiosos para analisar o Novo Testamento, texto por texto, com o objetivo de entender melhor quais papéis as Escrituras de Israel desempenham nele. Além de explicar cada livro, os ensaístas também percorrem os textos para mapear os conceitos centrais mais importantes, como o messianismo, as alianças e o fim dos tempos.

Uma história de recepção cuidadosamente construída de ambos os testamentos completa o volume.

Matthias Henze é Professor de Religião na Universidade Rice, Houston, Texas, USA.

David Lincicum é Professor de Novo Testamento e Estudos Cristãos Primitivos na Universidade de Notre Dame, Indiana, USA.

 

How did New Testament authors use Israel’s Scriptures?

Use, misuse, appropriation, citation, allusion, inspiration—how do we characterize the manifold images, paraphrases, and quotations of the Jewish Scriptures that pervade the New Testament? Over the past few decades, scholars have tackled the question with a variety of methodologies. New Testament authors were part of a broader landscape of Jewish readers interpreting Scripture. Recent studies have sought to understand the various compositional techniques of the early Christians who composed the New Testament in this context and on the authors’ own terms.

In this landmark collection of essays, Matthias Henze and David Lincicum marshal an international group of renowned scholars to analyze the New Testament, text-by-text, aiming to better understand what roles Israel’s Scriptures play therein. In addition to explicating each book, the essayists also cut across texts to chart the most important central concepts, such as the messiah, covenants, and the end times. Carefully constructed reception history of both testaments rounds out the volume.

Comprehensive and foundational, Israel’s Scriptures in Early Christian Writings will serve as an essential resource for biblical scholars for years to come.

Contributors: Garrick V. Allen, Michael Avioz, Martin Bauspiess, Richard J. Bautch, Ian K. Boxall, Marc Zvi Brettler, Jaime Clark-Soles, Michael B. Cover, A. Andrew Das, Susan Docherty, Paul Foster, Jörg Frey, Alexandria Frisch, Edmon L. Gallagher, Gabriella Gelardini, Jennie Grillo, Gerd Häfner, Matthias Henze, J. Thomas Hewitt, Robin M. Jensen, Martin Karrer, Matthias Konradt, Katja Kujanpää, John R. Levison, David Lincicum, Grant Macaskill, Tobias Nicklas, Valérie Nicolet, Karl-Wilhelm Niebuhr, George Parsenios, Benjamin E. Reynolds, Dieter T. Roth, Dietrich Rusam, Jens Schröter, Claudia Setzer, Elizabeth Evans Shively, Michael Karl-Heinz Sommer, Angela Standhartinger, Gert J. Steyn, Todd D. Still, Rodney A. Werline, Benjamin Wold, Archie T. Wright

Table of Contents

Acknowledgments
List of Abbreviations
Introduction, by Matthias Henze and David Lincicum

Part I: Contexts
1. What Were the “Scriptures” in the Time of Jesus?, by Edmon L. Gallagher
2. Israel’s Scriptures in the Hebrew Bible, by Marc Zvi Brettler
3. Israel’s Greek Scriptures and Their Collection in the Septuagint, by Martin Karrer
4. Israel’s Scriptures in Early Jewish Literature, by Grant Macaskill
5. Israel’s Scriptures in the Dead Sea Scrolls, by Susan Docherty
6. Israel’s Scriptures in Philo and the Alexandrian Jewish Tradition, by Michael B. Cover
7. Israel’s Scriptures in Josephus, by Michael Avioz

Part II: Israel’s Scriptures in the New Testament
A. The Gospels and Acts
8. Israel’s Scriptures in Matthew, by Matthias Konradt
9. Israel’s Scriptures in Mark, by Elizabeth Evans Shively
10. Israel’s Scriptures in Luke, by Martin Bauspiess
11. Israel’s Scriptures in John, by Jaime Clark-Soles
12. Israel’s Scriptures in Acts, by Dietrich Rusam
B. The Apostle Paul
13. Israel’s Scriptures in Romans, by Jens Schröter
14. Israel’s Scriptures in 1 and 2 Corinthians, by Katja Kujanpää
15. Israel’s Scriptures in Galatians, by A. Andrew Das
16. Israel’s Scriptures in Ephesians and Colossians, by Paul Foster
17. Israel’s Scriptures in Philippians and Philemon, by Angela Standhartinger
18. Israel’s Scriptures in 1 and 2 Thessalonians, by Todd D. Still
19. Israel’s Scriptures in the Pastoral Epistles, by Gerd Häfner
C. Hebrews and the Catholic Letters
20. Israel’s Scriptures in Hebrews, by Gabriella Gelardini
21. Israel’s Scriptures in James, by Karl-Wilhelm Niebuhr
22. Israel’s Scriptures in 1 Peter, Jude, and 2 Peter, by Jörg Frey
23. Israel’s Scriptures in the Johannine Letters, by George Parsenios
D. The Book of Revelation
24. Israel’s Scriptures in the Revelation of John, by Ian K. Boxall

Part III: Themes and Topics from Israel’s Scriptures in the New Testament
25. God, by Archie T. Wright
26. Messiah, by J. Thomas Hewitt
27. Holy Spirit, by John R. Levison
28. Covenant, by Richard J. Bautch
29. Law, by Claudia Setzer
30. Wisdom, by Benjamin Wold
31. Liturgy and Prayer, by Rodney A. Werline
32. Eschatology, by Garrick V. Allen

Part IV: Tracing Israel’s Scriptures
33. Deuteronomy in the New Testament, by Gert J. Steyn
34. Isaiah in the New Testament, by Benjamin E. Reynolds
35. The Psalms in the New Testament, by Matthias Henze
36. Daniel in the New Testament, by Alexandria Frisch and Jennie Grillo
37. Figures of Ancient Israel in the New Testament, by Valérie Nicolet

Part V: Israel’s Scriptures in Early Christianity Outside the New Testament
38. Israel’s Scriptures in the Apocryphal Gospels, by Tobias Nicklas
39. Israel’s Scriptures in the Apocryphal Apocalypses, by Michael Karl-Heinz Sommer
40. Israel’s Scriptures in the Adversus Judaeos Literature, by David Lincicum
41. Israel’s Scriptures in Marcion and the Critical Tradition, by Dieter T. Roth
42. Israel’s Scriptures in Early Christian Pictorial Art, by Robin M. Jensen

List of Contributors
Indexes

Quem é o Filho do Homem?

BAUCKHAM, R. Son of Man: Early Jewish Literature, Volume 1. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023, 447 p. – ISBN 9780802883261.

Quem é o “Filho do Homem”?BAUCKHAM, R. Son of Man: Early Jewish Literature, Volume 1. Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2023

Nos escritos judaicos pré-cristãos, “Filho do Homem” não era um título e certamente não indicava divindade. Era simplesmente uma expressão para um homem. No entanto, o termo despertou considerável interesse entre os estudiosos da cristologia por seu uso na descrição de Jesus nos evangelhos. E entre aqueles que estudam o messianismo no judaísmo do Segundo Templo, o consenso sobre os usos de “Filho do Homem” nas Escrituras permanece indefinido.

No primeiro volume deste estudo marcante, Richard Bauckham amplia o debate, explicando a frase “Filho do Homem” como aparece nas interpretações judaicas do Livro de Daniel e no apócrifo Livro etiópico de Henoc. Com precisão filológica e sensibilidade para suas fontes, Bauckham nos sintoniza com as realidades da apocalíptica judaica primitiva.

Completo e abrangente, “Filho do Homem”, vol. 1, oferece aos estudiosos uma base sólida para a compreensão do contexto do messias nos séculos que antecederam Jesus.

Juntamente com o próximo segundo volume, que analisa o significado de “Filho do Homem” nos Evangelhos, o trabalho de Bauckham é essencial para a compreensão de uma das frases mais usadas e incompreendidas da Bíblia.

Richard Bauckham é professor emérito da Universidade de St. Andrews, Escócia. Confira suas publicações.

 

Who is the “Son of Man”?

Richard Bauckham (1946-)In pre-Christian Jewish writings, “Son of Man” was not a title, and it certainly did not indicate divinity. It was simply an expression for a man. Yet the term has held considerable interest among scholars of Christology for its use in describing Jesus in the gospels. And among those studying messianism in Second Temple Judaism, consensus about the valences of “Son of Man” in Scripture remains elusive.

In the first volume of this landmark study, Richard Bauckham pushes the conversation forward, explicating the phrase “Son of Man” as it appears in Jewish interpretations of the book of Daniel and in the apocryphal book of 1 Enoch. With philological precision and sensitivity to his sources, Bauckham attunes us to the realities of early Jewish eschatology.

Thorough and comprehensive, “Son of Man,” vol. 1, offers scholars a solid basis for understanding the context of the messiah in the centuries leading up to Jesus.

Along with the forthcoming second volume, which parses the meaning of “Son of Man” in the Gospels, Bauckham’s work is essential for understanding one of the most widely used yet misunderstood phrases in the Bible.

Richard Bauckham is professor emeritus at the University of St. Andrews and senior scholar at Ridley Hall, Cambridge. He is a fellow of the British Academy and of the Royal Society of Edinburgh.

Meus professores no Mestrado

De 1973 a 1976 cursei o Mestrado de Teologia Bíblica na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), em Roma.Carlo Maria Martini (1927-2012)

Porém, fiz quase todas as disciplinas no Pontifício Instituto Bíblico (PIB), em Roma, pois o PIB era mais interessante por causa dos cursos oferecidos e dos professores que ali lecionavam.

O PIB investia, com seriedade, na aprendizagem dos métodos de leitura dos textos bíblicos. E as disciplinas contextuais, como história, arqueologia e geografia da Palestina e do Antigo Oriente Médio, assim como as disciplinas instrumentais – línguas bíblicas e outras línguas semíticas – que o PIB disponibilizava, são fundamentais para o estudante de Bíblia.

As disciplinas oferecidas pelo PIB eram válidas, na sua maioria, para a Teologia Bíblica da Gregoriana.

Agora, 50 anos depois de iniciado o curso (1973-2023), recolhi todas as informações que consegui na internet sobre meus professores e aqui as disponibilizo.

É uma parte de minha história acadêmica. É também um exercício de recordação e uma homenagem aos meus mestres.

René Latourelle (1918-2017)
René Latourelle (1918-2017)

Quando perguntado, em entrevista em 2006, porque trabalho com a Bíblia Hebraica/Antigo Testamento, respondi:

“Na verdade, trabalhei um bom tempo com o Novo Testamento [na década de 80, no CEARP], estudando e lecionando especialmente o Evangelho de Marcos, as Cartas de Paulo e o Grego do NT. [No Bíblico] tive a oportunidade de estudar com Jacques Dupont, por exemplo, o que me levou às parábolas e ao tema de minha Dissertação de Mestrado sobre Mt 25,1-13, com orientação do Professor Ugo Vanni.

Por outro lado, estava começando naqueles anos o uso cada vez mais persistente dos métodos sincrônicos nos estudos bíblicos, e eu me envolvi com estudos linguísticos e literários de Saussure, Benveniste, Barthes, Greimas, Umberto Eco, Genette, Todorov e tantos outros que nem me arrisco a citar todos.

Ignace de la Potterie (1914-2003)
Ignace de la Potterie (1914-2003)

Além disso, motivado pela luta contra a ditadura militar que persistia no Brasil desde 1964, luta na qual a Igreja estava fortemente envolvida, embrenhei-me pelo marxismo e pela leitura sociológica da Bíblia. Na França saía, naquela época, a obra de Fernando Belo, na qual Marx e Marcos caminhavam lado a lado, numa mistura bastante exótica até de abordagem estruturalista de Barthes com o marxismo de Althusser e a psicanálise de Lacan. Esta obra, por exemplo, gerou grande entusiasmo entre os estudantes de Bíblia.

Apesar de tudo isso, desde a época de Roma eu era fascinado pela História do Antigo Oriente Médio e pela Literatura Profética. O já citado professor Bernini me ensinou a gostar de Jeremias, e no PIB estudei com Alonso Schökel, J. Alberto Soggin, Ernst Vogt, Robert North, Rémi Lack e outros professores de Bíblia Hebraica. Se tento avaliar hoje mais corretamente as suas posturas, não creio que fossem hipercríticos — no PIB da época sempre se caminhava com independência, mas prudência — porém, eram mestres que nos incentivavam a encontrar nossos próprios caminhos. Isto tudo teve sua participação em minhas escolhas”.

Para conhecer a história do PIB, recomendo dois textos:

A novant’anni dalla fondazione del Pontificio Istituto Biblico – Conferenza tenuta dal Prof. Giacomo Martina in occasione del 90° anniversario del Pontificio Istituto Bíblico [07.05.1999]

 Jacques Dupont (1915-1998)
Jacques Dupont (1915-1998)

Il Centenario dell’Istituto Biblico – Conferenza del Prof. Maurice Gilbert [testo italiano, inglese e francese] – Solenne atto accademico per il 100° Anniversario della fondazione dell’Istituto [07.05.2009].

 

A lista tem links para informações sobre os professores, nacionalidade, data de nascimento e morte e as disciplinas que com eles estudei. Os professores estão listados em ordem alfabética.

1. Dionisio Mínguez Fernández, espanhol: Análise estrutural dos Atos dos Apóstolos

MÍNGUEZ FERNÁNDEZ, D. Breve historia de la antigua Grecia. Madrid: Nowtilus, 2007, 302 p.

MÍNGUEZ, D. Pentecostés: ensayo de semiótica narrativa en Hch 2. Roma: Biblical Intitute Press, 1976, 217 p.

James Swetnam (1928- )
James Swetnam (1928- )

 

2. Eduardo Zurro Rodríguez, espanhol (1934-2004): Língua Hebraica

Dialnet: Eduardo Zurro Rodríguez

Necrológica: Eduardo Zurro Rodríguez

 

3. Giuseppe Bernini, italiano (1915-1991): A teologia do Antigo Testamento e seus problemas no momento atual; Jó e sua mensagem

Pontificia Università Gregoriana: Catalogo integrato della Biblioteca e dell’Archivio Storico – Fondo Giuseppe Bernini

 

Jan Alberto Soggin (1926-2010)
Jan Alberto Soggin (1926-2010)

4. Ignace de la Potterie, belga (1914-2003): O Evangelho de Lucas (cap. 3-4); João 1

Pontificio Istituto Biblico: R. I. P. Prof. R. P. Ignace de la Potterie, S. J. (1914-2003)

Wikipedia: Ignace de la Potterie

 

5. Jacques Dupont, belga (1915-1998): O discurso em parábolas (Mc 4,1-34); As parábolas da misericórdia (Lc 15)

Wikipedia: Jacques Dupont (biblista)

Camille Focant, In memoriam Jacques Dupont. Revue Théologique de Louvain, 1999, 30-1, p. 147-148

 

Juan Alfaro (1914-1993)
Juan Alfaro (1914-1993)

6. James Swetnam, norte-americano (1928- ): Grego do Novo Testamento

James Swetnam’s Thoughts on Scripture – Website

Resenha de SWETNAM, J. Gramática do grego do Novo Testamento I-II. São Paulo: Paulus, 2002, vol I: 456 p; vol. II: 336 p.

 

7. Jan Alberto Soggin, italiano (1926-2010): Observações sobre os textos do Servo de Iahweh no Dêutero Isaías; Introdução às origens de Israel

J. Alberto Soggin: 1926-2010 – Observatório Bíblico: 29.10.2010

 

8. Juan Alfaro Jiménez, espanhol (1914-1993): Curso de metodologia prática

El Pensamiento Teológico de Juan Alfaro S.J. – Carlos Ábrigo Otey: PUCV

Klemens Stock (1934- )
Klemens Stock (1934- )

Juan Alfaro – Ediciones Sígueme

Pressupostos antropológicos da Teologia de Juan Alfaro (PDF) – PUC Rio

 

9. Klemens Stock, alemão (1934- ): Evangelho de São Marcos: algumas perícopes sobre os doze; A obra inicial de Jesus: Mc 1,1-3,6

L’Aula Magna del Biblico: ricordi e attivitá – Lezione del professore Klemens Stock: 4 ottobre 2011

Wikipedia: Klemens Stock

 

 Luis Alonso Schökel (1920-1998)
Luis Alonso Schökel (1920-1998)

10. Luis Alonso Schökel, espanhol (1920-1998): A ideia de justiça no Antigo Testamento

Schökel, o biblista do amor esponsal de Deus. A Bíblia como partitura – Filippo Rizzi: IHU 17 agosto 2020

Pontificio Istituto Biblico: R. I. P. Prof. R.P. Luis Alonso Schökel, S.J. (1920-1998)

Wikipedia: Luis Alonso Schökel

Eduardo Zurro Rodríguez, In Memoriam: Luis Alonso Schökel (1920-1998) – Escritor, escriturario, espejo. Estudios Ecclesiásticos 73 (1998) 565-573

DHTE Diccionario Histórico de la Traducción en España: Alonso Schökel, Luis (Madrid, 1920–Salamanca, 1998)

 

Prosper Grech (1925-2019)
Prosper Grech (1925-2019)

11. Prosper Grech, maltês (1925-2019): Metodologia da teologia bíblica do Novo Testamento

Wikipedia: Prosper Grech

 

12. Rémi Lack, francês: Gêneros literários, formas literárias e forma estilística; O livro de Oseias: estrutura e exegese; Análise da narrativa bíblica veterotestamentária

LACK, R. La symbolique du livre d’Isaie: Essai sur l’image littéraire comme élément de structuration. Rome: Biblical Institute Press, 1973, 282 p.

LACK, R. Letture strutturaliste dell’Antico Testamento. Roma: Borla, 1978, 164 p.

 

Robert North (1916-2007)
Robert North (1916-2007)

13. Robert North, norte-americano (1916-2007): Arqueologia bíblica; Geografia bíblica

Faleceu o Professor Robert North – Observatório Bíblico: 09.06.2007

Diz a lenda sobre Robert North – Observatório Bíblico: 30.11.2007

Rev. Robert North, S.J. 1916-2007 – James Swetnam: SBL Forum Archive

 

14. Stanislas Lyonnet, francês (1902-1986): Exegese da carta aos Romanos

O jesuíta Lyonnet, caçador de talentos da Bíblia – Fillipo Rizzi: IHU 10 Junho 2016

J.-N. Aletti, Lyonett, Stanislaus – Enciclopedia.com

Stanislas Lyonnet (1902-1986)
Stanislas Lyonnet (1902-1986)

Wikipedia: Stanislas Lyonnet (jésuite)

 

15. Ugo Vanni, italiano (1929-2018): O Apocalipse: introdução e exegese; A escatologia pessoal em Paulo; Dissertação de Mestrado: A parábola das dez virgens (Mt 25,1-13)

Homenagem ao biblista Hugo Vanni – Observatório Bíblico: 24.11.2018

 

Ugo Vanni (1929-2018)
Ugo Vanni (1929-2018)

16. Viliam Pavlovsky, tcheco: História da época do Antigo Testamento: período dos reinos; História da época do Novo Testamento

PAVLOVSKY, V.; VOGT, E. Die Jahre der Könige von Juda und Israel. Biblica, Roma, n. 45, p. 321-347, 1964.

 

Por último é preciso lembrar que o Reitor do PIB era o italiano Carlo Martini (1927-2012) e o Diretor da Teologia da PUG era o canadense René Latourelle (1918-2017). Sobre Latourelle, cf. também aqui e aqui.

Morreu Franz Hinkelammert (1931-2023)

Morreu no dia 16 de julho de 2023, aos 92 anos de idade, Franz Hinkelammert, economista e teólogo alemão que vivia na América Latina.

Destarte, na ocasião de sua passagem, pretendi demonstrar brevemente a trajetória e o conteúdo da produção intelectual de Franz Hinkelammert, pouco conhecida e discutida nos círculos acadêmicos e nos espaços de debates das esquerdas brasileiras. Cabe recordar que enfrentamos hoje um fascismo intimamente ligado à perspectiva cristã da teologia da prosperidade, professada por grande parte da população e defendida institucionalmente pelas igrejas neopentecostais.

Nesse sentido, mostra-se profícuo recuperar os escritos e a história dos agentes da Teologia da Libertação, cujo conteúdo não é apenas reformista, mas revolucionário. A obra de Franz Hinkelammert é um excelente objeto para esse exercício e pode ser acessada virtualmente através da coleção criada pela Universidad Centroamericana José Simeón Cañas. Que o nosso professor possa enfim descansar e que seu legado permaneça vivo na história, escreve Adriana Carneiro Marinho, em Franz Hinkelammert (1931-2023), artigo publicado em A terra é redonda, 18.07.2023.

 

Na Colección Virtual Franz Hinkelammert leio, em espanhol:Franz Hinkelammert (1931-2023)

Franz Josef Hinkelammert nació el 12 de enero de 1931 en Emsdetten, un pueblo de Westfalia, cercano a la ciudad de Münster, en Alemania. Obtuvo su diploma en Economía en 1955 y luego ingresó al Instituto de Europa Oriental de la Universidad Libre de Berlín, donde se doctoró, en 1961, con una investigación sobre el proceso de crecimiento en la economía soviética.

Hinkelammert viajó a Chile en 1963, para dedicarse a la investigación y la docencia en la Fundación Konrad Adenauer y la Universidad Católica de Chile. También fue uno de los fundadores del Centro de Estudios de la Realidad Nacional (CEREN) y se incorporó al Instituto Latinoamericano de Doctrina y Estudios Sociales (ILADES).

El golpe de Estado que derrocó al gobierno de Allende, en 1973, lo obligó a volver a Alemania, donde se quedó hasta 1976, fecha de su regreso a América Latina. En esta ocasión, su destino sería Centroamérica, radicándose primero en Honduras y luego en Costa Rica (1980), país en el que reside hasta la fecha.

En 1976, junto a Hugo Assman, fundó el Departamento Ecuménico de Investigaciones (DEI), donde se dedicaría a la investigación y publicación de la mayor parte de su obra.

En 2007 salió del DEI y creó, con algunos de sus discípulos, el Grupo Pensamiento Crítico, un colectivo formado por investigadores de diversos países de América Latina, que reflexionan sobre la realidad contemporánea tomando como referente su pensamiento.

Hinkelammert ha recibido importantes reconocimientos a lo largo de su trayectoria intelectual. Diversas instituciones de prestigio le han otorgado el doctorado honoris causa, como la Universidad Nacional (Heredia, Costa Rica), la Universidad UniBrasil de Curitiba, la Universidad de La Habana y la Universidad Nacional de Cuyo (Mendoza, Argentina), entre otras. Obtuvo también el Premio Nacional “Aquileo Echeverría”, que otorga el Ministerio de ultura de Costa Rica, y el Premio Libertador al Pensamiento Crítico, que le fue entregado en Caracas por el presidente de la República Bolivariana de Venezuela, Comandante Hugo Chávez Frías.

HINKELAMMERT, F. As armas ideológicas da morte. São Paulo: Paulus, 1983, 346 p. - ISBN 9788505000107.Desde la década de los sesenta, Franz Hinkelammert (nacido en 1931) ha reflexionado críticamente sobre los problemas de América Latina. En sus ideas encontramos bases importantes para un análisis de las construcciones ideológicas que usan los defensores del sistema capitalista, sobre todo en su forma extrema neoliberal.

Para este pensador, el pensamiento hegemónico no se puede comprender y criticar eficazmente si no es mediante el análisis de las relaciones entre los conceptos y creencias dominantes, y las condiciones materiales e históricas que constituyen la heterogénea realidad de América Latina, lo que viene a explicar, en parte, que su obra tenga un carácter variado y plural, combinando el análisis socioeconómico y la reflexión filosófica, así como la hermenéutica bíblica.

Para facilitar el acceso universal a la obra de Hinkelammert, la Universidad Centroamericana José Simeón Cañas, a través del Departamento de Filosofía y la Biblioteca “P. Florentino Idoate, S.J.”, pone a disposición de los interesados esta Colección Digital, que garantiza la disponibilidad del contenido de manera gratuita.

Leia também: Franz Hinkelammert (1931-2023) – IHU: 19 Julho 2023

Morreu Carlos Rodrigues Brandão (1940-2023)

O professor Carlos Rodrigues Brandão morreu no dia 11 de julho de 2023 aos 83 anos de idade.

Trabalhamos juntos na Teologia da PUC-Campinas por alguns anos na década de 80, quando ele foi, temporariamente, substituir o Luiz Roberto Benedetti.Carlos Rodrigues Brandão (1940-2023)

Já sabíamos um do outro através da Ana Lúcia da Silva, da UFG, minha amiga e companheira de trabalho no Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro a partir de 1977.

Quando o conheci, já era, portanto, seu amigo.

Ele veio a Ribeirão Preto falar sobre Folia de Reis para nossos alunos do CEARP, em um dos simpósios que eu, então, organizava.

Um intelectual extraordinário e uma pessoa extremamente humana.

Diz o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp:

Morre o professor emérito Carlos Rodrigues Brandão – 12 Julho 2023

É com imenso pesar que informamos o falecimento de nosso professor emérito Carlos Rodrigues Brandão, que deixa a toda a comunidade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) um legado de trabalho, luta e generosidade.

Brandão, como era carinhosamente conhecido, foi professor permanente da Unicamp de 1976 até 1997, desenvolvendo pesquisas na área de cultura e educação popular, antropologia rural e questões ambientais, em diferentes regiões do país. No Departamento de Antropologia, ministrou disciplinas na graduação e na pós-graduação em áreas como religião, cultura popular e teoria antropológica. Participou da criação do Centro de Estudos Educação e Sociedade (Cedes) na Faculdade de Educação (FE) e do Centro de Estudos Rurais (Ceres) no IFCH. Foi também vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam).

Brandão formou uma legião de estudantes não somente na teoria, mas também na prática, nas inúmeras viagens de campo que organizou, especialmente no interior de São Paulo e Minas Gerais. Invariavelmente, esses estudantes se tornaram não só qualificados pesquisadores e colegas, mas, sobretudo, estimados amigos. Com eles, compartilhou o trabalho, o gosto pelo sertão, seu sítio Rosa dos Ventos, as delicadezas do cotidiano e da vida. Autor de inúmeros livros sobre comunidades tradicionais, sobre populações rurais e de literatura (contos e poesia), Brandão se definia como um “militante ativista”, para quem ensinar e aprender são ações coletivas e indissociáveis.

Depois de aposentado, continuou a atuar como professor colaborador nos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e do Doutorado em Ciências Sociais da Unicamp. Foi ainda professor visitante de inúmeras universidades, pesquisador do Instituto Paulo Freire e recebeu vários prêmios, sempre compreendendo as homenagens como algo plural, de reconhecimento a um coletivo. Em 1998, foi contemplado com o título de Comendador do Mérito Científico pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e de Professor Benemérito do Centro de Memória da Unicamp (CMU). Em 2006, foi agraciado com a medalha Roquette Pinto da Associação Brasileira de Antropologia. Em 2008 e 2010, recebeu os títulos de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Uberlândia e pela Universidade Federal de Goiás. Em 2015, foi a vez de receber o título de Professor Emérito pela Unicamp.

Em nome da direção do IFCH, manifestamos nossa solidariedade a seus familiares e amigos/as e rendemos nossas homenagens a esse grande professor e educador popular. Brandão seguirá vivo e presente entre nós!

 

Sobre Brandão, recomendo a leitura de:

Carlos Rodrigues Brandão (1940-2023) por ele mesmo – Frei Betto: IHU – 19 Julho 2023

“Em 2011, Carlos Rodrigues Brandão me enviou originais de um novo livro. Pediu-me que opinasse sobre o conteúdo e indicasse editoras. É um texto autobiográfico, ainda inédito. Selecionei alguns textos para que todos tenham ideia de quão digno, profundo e competente foi este querido amigo e parceiro em muitas trincheiras, da pastoral à educação popular”, escreve Frei Betto, escritor e educador popular, autor, entre outros, de “Por uma educação crítica e participativa”.

Carlos Rodrigues Brandão. In Memoriam. Tuitadas – Por Rudá Ricci

Bom dia. Farei um fio em homenagem ao Carlos Rodrigues Brandão, que nos deixou ontem. Psicólogo e antropólogo, Brandão foi um dos maiores expoentes da educação popular. Farei um fio com a fala de Ciço.

Carlos Rodrigues Brandão e o sonho da educação popular – Ana Luísa D’Maschio: Porvir –  11 de julho de 2023

Autor de mais de cem livros, boa parte sobre educação popular e método Paulo Freire, Brandão deixa um legado inestimável para a construção de uma escola mais justa e igualitária.