Formal sempre que possível, dinâmica sempre que necessária
Pistis & Praxis, Curitiba, v. 8, n. 1, 2016: Traduções da Bíblia
A tradução é uma intermediação. É uma importante ponte que possibilita a comunicação entre pessoas, culturas, mundos e épocas diferentes. A tradução de qualquer expressão, seja falada ou escrita, é sempre um processo bastante exigente. Porém, em se tratando da tradução de textos sagrados, considerados “Palavra de Deus”, essa intermediação torna-se ainda mais tensa e a complexidade alcança contornos extremamente acentuados. Com efeito, traduzir a Bíblia para as línguas modernas é tarefa árdua e apaixonante, atravessada por questões não só filológicas e históricas, mas também ideológicas e hermenêuticas. Como reconhecem os tradutores mesmos, trata-se de um labor cuidadoso, muitas vezes situado na estreita fronteira entre traducere (traduzir) e tradire (trair), tendo presente os textos originais, de um lado, e os interlocutores contemporâneos, de outro. Ademais, uma boa tradução é fundamental não só para uma boa exegese, mas também para uma boa leitura da Bíblia.
A importância da tradução da Bíblia, porém, contrasta com a escassez de reflexões e produção acadêmica nessa área no Brasil, apesar de termos já uma considerável caminhada em tradução e exegese da Bíblia realizada entre nós. Elegendo a Tradução da Bíblia como tema do dossiê do presente número da revista Pistis & Praxis, o Programa de Pós-Graduação “stricto sensu” em Teologia da PUCPR tem em vista quatro objetivos: 1. Estimular o intercâmbio e a discussão acadêmica sobre a tradução da Bíblia; 2. Refletir sobre os desafios apresentados aos tradutores e tradutoras da Bíblia pelas novas configurações da história de Israel e da história da redação da Bíblia, especialmente a partir das novas proposições advindas da arqueologia nas últimas décadas; 3. Evidenciar a complexidade intercultural e inter-religiosa da exegese e da tradução da Bíblia e discutir concepções teológico-doutrinárias colonialistas, preconceituosas, intolerantes e violentas, e outros problemas encontrados em algumas das traduções existentes; 4. Analisar as ferramentas impressas e eletrônicas utilizadas nesses trabalhos, como dicionários e léxicos de línguas bíblicas, entre outras.
Deste modo, esperamos contribuir para uma melhor qualificação dos trabalhos de tradução e de exegese bíblica realizados no Brasil, bem como alavancar uma maior inserção e participação da tradução e da exegese brasileiras na produção internacional de conhecimentos nesta área (do editorial).
Todos os artigos estão disponíveis para download gratuito em pdf.
Sumário
Editorial – Luiz José Dietrich, Marcial Maçaneiro
Dossiê
As dimensões temporais do verbo hebraico: desafio ao traduzir o Antigo Testamento – Matthias Grenzer
Hacia una ética de liberación para la traducción bíblica – Esteban Voth
Comprar gato por lebre O “assalto” teológico à abordagem histórico-filológica da raiz br’ entre os sáculos XVIII e XX – Osvaldo Luiz Ribeiro
As traduções da Bíblia publicadas pela Sociedade Bíblica do Brasil: breve histórico e características – Vilson Scholz
Traduções bíblicas católicas no Brasil (2000-2015) – Johan Konings
“Prostituta” ou “mulher sagrada”? A tradutologia de Antoine Berman e a tradução da Bíblia – Luiz José Dietrich Dietrich
Artigos
Religiões, cristianismo e a busca de uma terra habitável – Afonso Maria Ligorio Soares
A educação para o esporte na família – Denilson Geraldo
Alteridade e embrião humano: o rosto como exigência ética de acolhimento do outro – Marcos Alexandre Alves, Edson Sallin
Feminismo, subjetividades e pluralismo: crítica teológica feminista e os desafios da realidade social latino-americana – Claudio de Oliveira Ribeiro
Se me é permitido, partilho aqui um artigo que escrevi sobre opções de tradução da Bíblia que não honram o texto original, enviesam o entendimento do mesmo e acabam por contribuir para alimentar tradicionalismos extrabíblicos: https://vidaemabundancia.blogspot.com/2024/07/traducoes-e-tradicoes.html