O que está acontecendo na Síria hoje?

::  ISIS: a Conexão Washington – Talmiz Ahmad: Outras Palavras 19/11/2015
O caminho que o ISIS fez, da Síria a Paris, tem origem em Washington. Em comentários públicos feitos em outubro de 2014, o vice-pesidente Joe Biden colocou o dedo na ferida. Ele reconheceu: “… na Síria, nosso maior problema foram nossos aliados na região. Estavam tão determinados a derrubar Assad e promover uma guerra entre sunitas e xiitas … [que] ofereceram centenas de milhões de dólares e dezenas, milhares de toneladas de armamentos a qualquer um que lutasse contra Assad. Não importava se estes grupos eram parte da Al-Nusra e Al-Qaeda, ou jihadistas vindos de outras partes do mundo.”

:: Na Síria, o alvo agora é a Al-Qaeda – José Antonio Lima: CartaCapital 09/01/2014
Bashar al-Assad deve estar aliviado. Desde 3 de janeiro, suas tropas desfrutam de uma inesperada trégua, provocada não pelos esforços internacionais em favor da paz na Síria, mas por um conflito entre os rebeldes – muitos deles religiosos radicais – que até pouco tempo atrás estavam unidos contra o regime de Damasco. A disputa interna entre os opositores de Assad, iniciada com ataques verbais em 2013, evoluiu para um confronto militar nos últimos dias, e a tendência é que acabe com a oposição ainda mais enfraquecida. O foco do confronto no interior da oposição síria é um grupo chamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante, conhecido pelo acrônimo em inglês ISIL. Esta facção é o braço iraquiano da rede terrorista Al-Qaeda e, desde 2013, atua na Síria. Formado por combatentes de dezenas de países diferentes, o ISIL alienou muitos rebeldes ao tentar dominar a oposição e por realizar sequestros e assassinatos contra aqueles que deveriam ser seus aliados na guerra contra Assad. Muitos desses ataques tinham como fonte uma diferença ideológica. Enquanto o ISIL deseja estabelecer um Estado islâmico no Levante (região que engloba, a grosso modo, a Síria, o Líbano, a Palestina e Israel), os outros rebeldes querem centrar suas ações na destituição do regime Assad. No fim de 2013, a relação das duas partes, que se deteriorou ao longo do segundo semestre do ano, chegou a um impasse. Na sexta-feira 3, se tornou um confronto militar. Segundo o Carnegie Endowment For International Peace, uma instituição norte-americana, três grupos diferentes realizaram ataques simultâneos contra bases e áreas dominadas pelo ISIL.

:: A Jihad europeia na Síria – Eduardo Febbro: Carta Maior 09/01/2014
Mais dois franceses se somaram esta semana à lista de europeus mortos na Síria. Não se trata de jornalistas, nem de membros de alguma ONG, mas sim de combatentes ocidentais que foram a Síria para se unir às fileiras da oposição islamista radical ao regime de Bachar Al-Assadn (…) França, Grã-Bretanha, Alemanha, Espanha, Bélgica, Dinamarca e Holanda: vários países do Velho Continente têm visto muitos jovens cidadãos, frequentemente de origem muçulmana, partir para a Síria para integrar algum bando da oposição. Em meados de dezembro de 2012, os ministros do Interior de França e Bélgica, Manuel Valls e Joëlle Milquet, revelaram que entre 1500 e 2000 europeus se deslocaram como “combatentes” para a Síria desde o mês de março daquele ano. As cifras assinalam um aumento considerável desses combatentes. Para todo o ano de 2012, a quantidade de jihadistas europeus chegou a 800, três vezes menos que em 2013. Segundo fontes da contraespionagem francesa, somente no mês de dezembro uns 14 jihadistas franceses foram lutar na Síria. Esta curva ascendente constitui uma das maiores preocupações dos serviços de inteligência dos países europeus. Manuel Valls informou que, atualmente, há uns 200 franceses na Síria, outros 70 “em trânsito” enquanto outros 100 estariam em “vias de se deslocarem”.

:: A evolução contínua da Al-Qaeda 3.0 – Bruce Riedel: Al Monitor, em Carta Maior 05/01/2014
As organizações ligadas a Al-Qaeda e suas ideias estão prosperando em todo o mundo árabe como nunca antes, devido ao fracasso da Primavera Árabe. Há menos de três anos, a Al-Qaeda, a organização e sua ideologia, estava na defensiva, em retirada (…) No início de 2014, o quadro é muito diferente de 2011. A ascensão de filiais da Al-Qaeda tem sido mais dramática no chamado Crescente Fértil, de Beirute a Bagdá. A Al- Qaeda no Iraque, erroneamente proclamada como derrotada, reviveu com o Estado Islâmico do Iraque e a Al-Sham (ISIS) e está mais mortal do que nunca. Hoje, está lutando novamente para assumir o controle da província de Anbar. Houve também o nascimento de uma “franquia” síria, Jabhat al-Nusra, que agora participa também da disputa pelo poder na Síria. Juntos, ISIS e Jabhat al-Nusra estão tentando destruir  centenárias fronteiras da região, traçadas por Londres e Paris, após a Primeira Guerra Mundial. Milhares de jihadistas de todo o mundo muçulmano, muitos deles da Europa, reuniram-se na Síria para se juntar à luta contra o regime de Bashar al-Assad. A violência sectária entre sunitas e xiitas está se multiplicando, alimentando o fogo que a Al- Qaeda há muito cultiva. Filial da Al-Qaeda no Líbano, as Brigadas Abdullah Azzam estão tentando importar a guerra civil síria para o país.

:: O que Putin tem a dizer aos EUA sobre a Síria – Vladimir Putin: The New York Times, em Carta Maior 15/09/2013
O potencial ataque do Estados Unidos à Síria, apesar da forte oposição de vários países e de importantes líderes políticos e religiosos, o papa inclusive, resultaria em mais inocentes mortos, potencialmente alastrando o conflito além das fronteiras sírias. Tal ação causaria aumento da violência, desencadeando uma nova onda de terrorismo. A Síria não está testemunhando uma batalha por democracia, mas um conflito armado entre governo e oposição em um país multi-religioso. Há poucos defensores da democracia na Síria. Desde o princípio, a Rússia defendeu um diálogo pacífico que permita aos sírios desenvolver um plano de compromisso para seu próprio futuro. Nós não estamos defendendo o governo sírio, mas a lei internacional. O Conselho de Segurança da ONU deve ser respeitado e acreditamos que a preservação da lei e da ordem neste complexo e turbulento mundo é uma das poucas formas de fazer com que as relações internacionais não se tornem caóticas. A lei ainda é a lei, e independente de concordarmos com ela ou não, devemos segui-la. Sob a lei internacional atual, o uso da força só é permitido em autodefesa ou por decisão do Conselho de Segurança. Qualquer outra ação é considerada inaceitável sob a Carta das Nações Unidas e constituiria um ato de agressão. É alarmante que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado algo comum para os Estados Unidos. Isso faz parte de interesses a longo prazo da América? Duvido. É preciso parar de usar a linguagem da força e retornar ao caminho civilizado da diplomacia e dos acordos políticos. Uma nova oportunidade de evitar ações militares surgiu nos últimos dias.

:: A partilha da pizza? – Antonio Luiz M. C. Costa: CartaCapital 13/09/2013
Três semanas após o ataque químico nas vizinhanças de Damasco, o impasse parece caminhar para um desfecho inesperado, capaz de resultar em uma mudança duradoura nas relações geopolíticas da região e talvez o menos ruim que se poderia esperar nessas circunstâncias. Pela oposição da Rússia, pela falta de apoio interno ou por ambas as razões, Barack Obama parece a ponto de desistir do ataque à Síria e aceitar a proposta russa pela qual Bashar al-Assad entregará seu arsenal químico à ONU para ser desmantelado. Implicitamente, os EUA parecem desistir de vez de tentar forçar a vitória do Exército da Síria Livre, a facção relativamente pró-ocidental para os quais parte da mídia ocidental adotou a prática esdrúxula de chamar de “rebeldes regulares” ou mesmo “rebeldes oficiais”. Os demais, vinculados à Al-Qaeda, aos salafistas ou ao separatismo curdo, seriam “rebeldes rebeldes”? “Oficiais” ou não, a imagem dos insurgentes sofreu mais reveses nestes dias. O historiador e politólogo belga Pierre Piccinin e o jornalista italiano Domenico Quirico, libertados no domingo 8 após cinco meses de cativeiro nas mãos das Brigadas Al-Farouk (“islâmicos moderados”) revelaram ter sofrido torturas nas mãos de seus algozes e ouvido uma conversa por Skype deles com supostos membros do Exército Livre, na qual admitiam ter realizado o ataque químico em busca de uma intervenção ocidental. Agnes Mariam el-Salib, madre superiora de um convento católico sírio, apareceu na mídia russa para afirmar que os vídeos do ataque com gás foram encenados. A revista alemã Bild revelou várias mensagens interceptadas pela espionagem alemã nos últimos quatro meses, nas quais militares sírios pedem permissão para usar armas químicas várias vezes, com respostas sempre negativas. A reportagem sugere que os comandantes as usaram sem autorização de Assad, mas há outras possibilidades. Houve quem dissesse que Putin forneceu a Obama uma saída honrosa ante uma iminente derrota no Congresso, que o humilharia e poderia ser desastrosa para o restante de seu mandato.

:: ONU confirma uso de armas químicas na Síria, mas não aponta responsáveis – Redação: Opera Mundi 13/09/2013
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta sexta-feira (13/09) que o relatório dos inspetores enviados à Síria deve ser divulgado na próxima semana e confirmará o uso de armas químicas em Damasco, sem, no entanto, atribuir a culpa a nenhum dos lados do conflito.

:: O verdadeiro alvo do Ocidente é o Irã, e não a Síria – Robert Fisk: Carta Maior 02/09/2013
Antes que comece a guerra ocidental mais idiota na história do mundo moderno – eu me refiro, é claro, ao ataque à Síria que todos nós vamos ter que engolir – podemos dizer que os mísseis que esperamos ver cruzando os céus de uma das cidades mais antigas das humanidade não têm nada a ver com a Síria. Eles têm como objetivo atacar o Irã. Eles pretendem atacar a república islâmica agora que ela tem um presidente novo e vibrante – diferente do bizarro Mahmoud Ahmadinejad – e bem quando ele pode estar um pouco mais estável. O Irã é inimigo de Israel. Então o Irã é, naturalmente, inimigo dos EUA. Então dispare os mísseis no único aliado árabe do Irã.

:: “Superpotência moral”? Dá um tempo – Gideon Levy: Haaretz, em Carta Maior 02/09/2013
É impossível afirmar que os Estados Unidos, país responsável pela maior parte do derramamento de sangue desde a Segunda Guerra Mundial na Ásia, América do Sul, Afeganistão e Iraque, seja dirigido por considerações morais. O ataque a Síria seria um Iraque II. Os EUA – que nunca foram punidos pelas mentiras do Iraque I e pelas centenas de milhares de mortos em vão nessa guerra – dizem que uma guerra similar deveria ser lançada. Mais uma vez, uma cortina de fumaça.

:: Ataque à Síria é sobre poder, não sobre os civis –  José Antonio Lima: CartaCapital  31/08/2013 10:35
Sem justificativa legal para ofensiva, EUA apelam para a moralidade, a mesma que foi esquecida enquanto 100 mil pessoas morreram. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ainda não tomou sua decisão final. Parece iminente, entretanto, uma ofensiva contra a Síria, em retaliação ao aparente ataque com armas químicas realizado nos subúrbios de Damasco no último dia 21. Sem a possibilidade de obter um mandato legal para o bombardeio – bloqueado pela Rússia e pela China – Washington busca dar um verniz de legitimidade à ação. Será uma tarefa difícil esconder que o mundo não está diante da defesa da moralidade, ou do que “é certo”, mas de uma clássica disputa por poder. A opção aparentemente escolhida pelos Estados Unidos para realizar a retaliação contra Assad: ataques “limitados”, realizados a partir de destróieres, com mísseis Tomahawk, cuja capacidade de destruição é imensa e a precisão, nem tanto. Essas características do armamento têm levado o pânico a moradores de Damasco e outras cidades sírias, mesmo aqueles contrários a Assad, como mostraram algumas reportagens da imprensa internacional nos últimos dias. Os civis, aqueles que os EUA supostamente querem proteger, muito provavelmente vão sofrer ainda mais com os ataques norte-americanos. Na melhor das hipóteses, e também a mais improvável, Assad vai desistir de usar armas químicas contra a população e os guerrilheiros estrangeiros da oposição (e continuar com tanques, caças e mísseis). Na pior das hipóteses, a Síria vai promover sua própria retaliação, dando início à guerra das guerras do Oriente Médio, na qual finalmente haverá um acerto de contas entre o eixo Irã-Síria-Hezbollah e os clientes dos Estados Unidos, em especial a Arábia Saudita e os países do Golfo, a Turquia e, possivelmente, Israel. No meio termo entre esses dois desfechos extremos, os EUA vão agora castigar Assad, mas eventualmente o ditador retomará o uso de seu arsenal químico. Washington será instada a reagir uma, duas, três vezes, até aleijar todas bases do poder de Assad. Quando isto ocorrer, a Síria estará transformada numa mistura de Afeganistão com Iraque: diversos territórios controlados por pequenos senhores da guerra (entre os quais Assad), com uma divisão sectária profunda (combustível para atentados terroristas), e sem uma força internacional capaz de controlar todos esses atores. Neste estágio, uma solução política, hoje ainda possível, será impraticável. A curto, médio e longo prazo, quem pagará o maior preço pela escolha da intervenção militar em detrimento de uma intervenção política será a população síria.

:: EUA têm plano para “ataque militar limitado”; Reino Unido já movimenta seu Exército – Redação: Opera Mundi 27/08/2013
“Os tambores de guerra estão tocando ao redor da Síria”, afirmou o ministro das Relações Exteriores,Walid al Muallem. A afirmação veio nesta terça-feira (27/08) após a notícia que os EUA já preparam um ataque em represália às denúncias de utilização de armas químicas pelo Exército sírio. O plano de Washington não pretende interferir no conflito civil do país, mas, sim, “atacar instalações das Forças Armadas da Síria e impedir a produção de armas químicas”, afirmaram altos funcionários do Pentágono à mídia norte-americana e ao jornal El Pais. Mesmo sem qualquer comprovação oficial ou conclusão dos trabalhos de perícia da ONU (Organização das Nações Unidas), os EUA já estudam o ataque militar que vai ter “alcance militado” às Forças Armadas do governo Assad. Uma fonte do governo norte-americano confirmou à rede CNN e ao jornal Washington Post que o Pentágono já movimenta tropas no Mediterrâneo.

:: Intervenção militar ocidental na Síria vai tomando forma – Eduardo Febbro: Carta Maior 27/08/2013
Não há até o momento nenhuma decisão formal adotada, mas as trombetas da guerra são ouvidas nas principais capitais ocidentais cujos países são membros do Conselho de Segurança da ONU, Estados Unidos, França e Grã-Bretanha. Quanto aos outros dois membros, China e Rússia, Pequim recomendou prudência e Moscou cerrou fileiras com Damasco. Cabe assinalar que as potências ocidentais não são as únicas que promovem sanções militares contra a Síria. A Turquia também se somaria a uma eventual coalizão. Os observadores militares alegam que a operação na Síria deveria ser breve e sem deslocamento de tropas. Seu ponto de partida seria um dos quatro navios que estão no Mediterrâneo, apoiados por mísseis de cruzeiro franceses e britânicos. O esquema parece armado. Só falta quem vai apertar primeiro o gatilho.

:: Roteiro de guerra na Síria segue trama de filme B – Pedro Aguiar: Opera Mundi 26/08/2013
A trama completamente ilógica, apesar de parecer escrita por um roteirista mal pago, é a que está sendo desenhada para justificar a próxima aventura de Barack Obama e seus falcões de guerra: a intervenção ocidental na Síria. Para fazer algum sentido, os personagens desse filme de Sessão das Dez teriam no mínimo de ter objetivos retos, não tortuosos. Por que um regime que já se encontrava em vantagem no terreno iria ter o desatino de massacrar civis não combatentes, especialmente num momento em que a guerra de atrito o favorece, minando a capacidade de mobilização dos rebeldes? Por que utilizar armas não convencionais, quando o uso de armas de fogo já estava em prática há anos sem causar alarde internacional? Por que logo três dias depois da chegada dos inspetores da ONU à capital, hospedados a poucos quilômetros dali, no que seria uma afronta sem qualquer ganho político? E por que Ghouta, um subúrbio residencial, de baixa densidade e ocupação semi-rural, sem nenhum alvo estratégico militar ou político? E por que, responda Alá se puder, menos de 24 horas depois de autorizar a entrada dos inspetores da ONU no local do massacre, Assad armaria uma emboscada abrindo fogo contra eles, tudo sob os holofotes da CNN, da BBC e da Al Jazeera?

:: Do impasse sírio à guerra regional –  Alain Gresh/Le Monde Diplomatique, em Opera Mundi 03/08/2013
A situação militar recente na Síria foi marcada pela vitória das tropas oficiais, apoiadas pelo Hezbollah, em Qusayr, e pela decisão dos Estados Unidos de armar os insurgentes. Nada prenuncia o fim dos enfrentamentos. Pelo contrário: o conflito toma um rumo confessional e se espalha para toda a região. Como explicou um oficial norte-americano no relatório extremamente completo que publicou o ICG (International Crisis Group) “uma guerra síria com dimensões regionais está se transformando em uma guerra regional no entorno da Síria”. Uma nova “guerra fria” divide o Oriente Médio, similar à que, nos anos 1950 e 1960, tinha visto o enfrentamento entre o Egito nasseriano aliado dos soviéticos e a Arábia Saudita parceira dos Estados Unidos. Mas os tempos mudaram: o nacionalismo árabe diminuiu, os discursos confessionais se espalharam, e nos perguntamos inclusive a respeito da perenidade dos Estados e das fronteiras que tiveram origem na Primeira Guerra Mundial.

:: Síria: a guerra na televisão – Robert Fisk: Carta Maior 03/09/2012
Na hora mais sombria da Síria, um pouco de verdade real aflorou à superfície. Há um par de noites, Al Assad concedeu sua entrevista mais importante em meses – seguirá lutando, disse, e a batalha da Síria está muito longe de terminar – ao canal privado Dunia. Carros-bomba, corpos esquartejados, vítimas gritando, fazem parte hoje do cotidiano das notícias vespertinas. O canal de televisão especializado em dramas perdeu atrativo nos últimos meses. Agora que há um drama verdadeiro nas ruas, quem vai se interessar pela versão teatral?

:: “Fazer alguma coisa” na Síria – José Manuel Pureza: Carta Maior 03/08/2012
A História não é uma realidade em preto e branco. É um embuste a sua apresentação como enfrentamento entre anjos e patifes. As revoltas democráticas no mundo árabe foram sequestradas pelos jogos geopolíticos: na guerra síria joga-se porventura menos a democracia do que a fragilização do Irã por Israel e pela Arábia Saudita. A urgência de “fazer alguma coisa” tem décadas de resultados desastrosos, armando até aos dentes os aliados de agora que serão os patifes de amanhã.

:: Guerra de mentiras – Robert Fisk: Carta Maior 01/08/2012
Já se viu no Oriente Médio uma guerra em que impera tamanha hipocrisia? Uma guerra de tamanha covardia, de moral malvada, com tamanha falsa retórica e vergonha pública? Não me refiro às vítimas físicas da tragédia na Síria. Refiro-me às mentiras e à falsidade dos nossos governantes e da nossa opinião pública – tanto no Oriente como no Ocidente –, em ambos os casos dignas de risos: não são senão uma horrível pantomima mais característica de uma sátira de Swift do que de Tolstói ou de Shakespeare.

:: A falácia da intervenção “humanitária” na Síria – Larissa Ramina: Carta Maior 29/07/2012
A questão internacional central, e também o principal embate da encruzilhada síria, está na perigosa articulação do conceito de “intervenção humanitária”. O intelectual e escritor belga Jean Bricmont, em recente fala na Unesco, chama a atenção para o que rotulou de “noção falaciosa de guerra humanitária”, e denuncia um condicionamento ideológico proveniente das mídias, que segundo ele visam a tornar uma intervenção militar na Síria aceitável aos olhos da opinião pública mundial.

:: Insurgência contra regime sírio é sustentada pelo Ocidente – Luiz Alberto Moniz Bandeira: CartaCapital, reproduzido em Ópera Mundi 26/03/2012
EUA e União Europeia pretendem assumir o controle do Mediterrâneo e isolar politicamente o Irã.

:: Ocidente equipa serviços de espionagem de países que condena – Eduardo Febbro: Carta Maior 26/03/2012
As democracias ocidentais têm grandes dificuldades para esconder o rabo do diabo. As potências que no interior do Conselho de Segurança da ONU promovem resoluções em defesa dos Direitos Humanos ou para condenar o regime sírio, egípcio, líbio ou iraniano são as mesmas que venderam a esses regimes – e a outros – o material tecnológico necessário para vigiar e reprimir a oposição. A hipocrisia é uma regra de ouro: a comunidade internacional invoca os valores por um lado e, pelo outro, entrega com chaves nas mãos os instrumentos tecnológicos usados para submeter os povos.

:: As revoluções árabes, um ano depois – Samir Amin: Carta Maior 12/03/2012
O regime de Bashar al-Assad não é nem mais nem menos do que um estado policial que acompanha a submissão às exigências do “liberalismo” globalizado. A legitimidade da revolta do povo sírio é indiscutível. Mas a destruição da Síria é o objetivo dos três parceiros, que são os Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita, que mobilizam para isso a Irmandade Muçulmana e lhe fornecem armas. A sua eventual vitória – com ou sem a intervenção externa – resultará no desmembramento do país, massacre dos alauitas, drusos e cristãos. Mas não importa. O objetivo de Washington e seus aliados não é libertar a Síria do seu ditador, mas destruir o país, como não era para libertar o Iraque de Saddam Hussein, mas para o destruir.

:: Síria: agonia do regime e o nascimento de uma nova nação – Reginaldo Nasser: Carta Maior 07/03/2012
Os altos custos econômicos e sociais do conflito relacionam-se cada vez mais à luta travada entre as grandes potências e os poderes regionais sobre o futuro do país. Historicamente, nos momentos em que a Síria encontra-se unida e estável, ela representa um importante ator regional, mas quando está dividida, como agora, torna-se uma arena para a luta de forças externas, muito embora a revolta tenha se originado exclusivamente no seio de sua sociedade.

:: Oposição síria assume militarização do movimento contra governo – Eduardo Febbro: Carta Maior 01/03/2012
Os opositores sírios estão ingressando em um caminho turvo. O Conselho Nacional Sírio (CSN) assume pela primeira vez a militarização do movimento de contestação contra o regime de Bashar Al Assad que iniciou há um ano. O presidente do CNS, Burhan Ghaliun (foto), esteve em Paris no mesmo dia em que o rumo da guerra interna tomava outra direção. Ghaliun modificou a linha inicial deste movimento ainda impreciso e anunciou a criação de um “bureau militar” para organizar o fornecimento de armas.

:: O arabesco sírio – Francisco Carlos Teixeira: Carta Maior 01/03/2012
Na Síria a Primavera árabe encontrou uma situação diversa, complexa e com resistências sedimentadas. Para infelicidade do povo sírio e dos verdadeiros democratas que iniciaram, com o custo de suas vidas, a oposição ao regime Assad, o que se joga hoje na Síria é um brutal jogo de poder estratégico regional e global. Num nível local alinham-se os poderes xiitas minoritários, com o Irã/a maioria xiíta iraquiana/ a Síria e a minoria xiita do Líbano, representada pelo Hizbollah, contra as “potências” sunitas, representadas pela Arábia Saudita/Qatar/Kuait, com apoio da Turquia e a intervenção brutal da Al-Qaeda. A este nível global do xadrez se juntam os EUA e a União Europeia e Israel, visando manter o controle da região e impedir a emergência de um Irã como potência regional e enfraquecer ao máximo a Síria como opositor de Israel. Do outro lado, alistam-se China e Rússia, dispostas a evitar a completa hegemonia americana e, tendo como corolário e justificativa, a limitação da soberania das nações em nome do princípio da intervenção humanitária (RtoP). Eis uma parte do arabesco sírio.

:: A nova Guerra Fria já começou na Síria – Robert Fisk: Carta Maior 29/02/2012
Foi bom saber, pelo secretário de Relações Exteriores britânico, que “não estamos apoiando a ideia de alguém atacar o Irã neste momento”. Talvez mais tarde, então. Ou talvez depois de o presidente Assad cair, privando o Irã de seu único – e valioso – aliado no Oriente Médio. É disso que se trata, eu suspeito, esse monte de rugidos vociferando contra Assad. Livre-se de Assad e você estará cortando parte do coração do Irã. Se isso vai levar Ahmadinejad a transformar suas usinas nucleares em fábricas de leite, bem, isso já é outro assunto.

:: Sobre a Síria – Jean Bricmont: Carta Maior 29/02/2012
A lição que devemos extrair não consiste em apressar-se em outra guerra na Síria, como fizemos na Líbia, sustentando que desta vez estamos no lado bom, defendendo a população contra os ditadores, mas reconhecer que já é hora de deixar de pensar que temos de controlar o mundo árabe. Na alvorada do século XX, a maioria do mundo se encontrava sob o controle europeu. O Ocidente acabará perdendo o controle sobre essa parte do mundo, como perdeu na Ásia Oriental e está perdendo na América Latina.

:: Sobre a Síria: a batalha de propaganda e outras batalhas – Alain Gresh: Carta Maior 28/02/2012
A revolta na Síria, que vai em breve entrar no seu segundo ano, levanta questões dramáticas para as quais não existem respostas simplistas – para não se fazer a política do quanto pior melhor. A batalha pela Síria é também uma batalha de propaganda. O regime perdeu-a há muito, tanto que as suas afirmações são frequentemente grotescas, as suas mentiras óbvias e as suas práticas bárbaras. No entanto, as informações que se multiplicam 24 horas sobre 24 em todas as cadeias de rádio e de televisão, e que frequentemente têm uma única fonte, a oposição no exterior do país, são verdadeiras?

:: “A maioria do povo sírio quer que o clã Assad saia” – Tariq Ali: Carta Maior 28/02/2012
O escritor e ativista diz que uma intervenção externa na Síria seria desastrosa e conduziria a um enorme banho de sangue, muito pior do que ocorreu na Líbia. Para Tariq Ali, China e Rússia estão numa posição forte para conseguir uma mudança sem ações violentas. “E é preciso que a pressão se mantenha internamente. É preciso dizer a Assad, em termos claros, que ele tem de ir embora, que o pai dele derramou muito sangue na Síria, ele está a fazer o mesmo”, defende.

:: O impasse sírio – Immanuel Wallerstein: Carta Maior 28/02/2012
Não creio que num ano ou dois assistamos à saída de Assad do poder, ou à mudança substancial do seu regime. Por mais que seja elevado o volume da retórica e por mais terrível que seja a guerra civil, ninguém quer realmente que Assad saia. Arábia Saudita, Estados Unidos, Israel, Turquia e França, nenhum destes países quer intervir diretamente no conflito sírio. Posso imaginar o suspiro de alívio de Washington, quando a Rússia vetou a resolução da ONU sobre a Síria. Por isso, com todas as probabilidades, Assad vai ficar.

Teologia precisa desenvolver tolerância às diferenças

Ao ministrar a aula inaugural do Bacharelado em Teologia da Faculdades EST, ontem à noite, o professor Dr. Gmainer-Pranzl argumentou que o ensino e a pesquisa teológica devem ter perspectiva global, na medida em que uma “teologia mundial” tem muito a aprender a partir de formas seculares de viver e pensar.

Micael Vier B.
Terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Teologia e igreja não se tornam relevantes pelo fato de despejarem respostas religiosas sobre todos, mas por levarem a sério as pessoas com suas questões e seus problemas concretos”, disse o diretor do Centro de Teologia Intercultural e Estudos das Religiões na Universidade de Salzburg.

A atuação da igreja e da teologia, analisou, não deveria estar voltada somente àqueles com os quais elas têm intimidade, mas também aos estranhos, aos incômodos, aos críticos e até aos adversários. “Isso significa reconhecer que estamos inseridos num mundo culturalmente plural e conflitivo, no qual convivemos com pessoas crentes, com pessoas que têm um credo diferente e com pessoas que não creem”, assinalou.

Diante de estudantes e professores, o palestrante afirmou que uma teologia capaz de dizer algo ao mundo será sempre uma teologia comunicativa, participativa e missionária. A capacidade de diálogo representada pela teologia intercultural, destacou Pranzl, não serve para encobrir as diferenças, mas para desenvolver uma tolerância à ambiguidade a partir da qual se torna possível uma práxis de comunicação da fé capaz de passar por cima das fissuras culturais e sociais.

Pranzl admira o trabalho de dom Erwin Kräutler, bispo católico do Xingu. Ele contou que Kräutler, ao solicitar aos moradores da região que lhe dessem um conselho por ocasião de sua investidura no cargo, o povo pediu que fosse um “bispo que ouve”. A afirmativa do povo amazônico indica que a responsabilidade da fé não acontece mediante o ensinamento de uns pelos outros, mas como intercâmbio recíproco no qual todos contribuem com algo ao terem a oportunidade de ouvir, mas também de se pronunciar.

Fonte: ALC – Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

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